A6 IED1 2023 Letrão
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Pontes – A6
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Os casos de bullying não são novidade na sociedade. São novos nos tribunais
judiciais brasileiros.1 A notícia de jornal citada traz matéria sobre o tema em fins do ano
de 2014. Cerca de um ano depois, seria aprovada uma lei federal, a lei 13.185/2015,
exclusivamente sobre o assunto, mas essa lei não teve por missão disciplinar a matéria
em caráter civil ou criminal, mas criar políticas de governo para conscientização de
autoridades e educadores, estimular prevenção contra o bullying em todo o país.2 Ainda
assim, a notícia joga luzes sobre alguns impasses e conceitos em torno do tema, como a
responsabilidade das escolas, onde parece ser frequente a prática do bullying entre as
crianças. Os casos que já chegaram aos tribunais mostram alguma oscilação sobre a
responsabilidade das escolas, se ela depende de culpa comprovada ou se é uma
responsabilidade que independe de culpa.3
1 https://www.conjur.com.br/2019-ago-30/estudante-vitima-bullying-indenizada-maes-alunas
http://www.conjur.com.br/2015-mai-17/colegio-condenado-indenizar-aluna-vitima-bullying
http://www.conjur.com.br/2015-mar-14/crianca-xingada-orelhuda-indenizada-35-mil
http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/31308/bullying.pdf?v=4
2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13185.htm
3 https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=16468334&cdForo=0
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Há ainda quem pense que a responsabilidade seria exclusiva dos pais do agressor;
outros defendem que nem mesmo é um caso de intervenção do Estado pela via judicial,
pois o tema envolve crianças e adolescentes protegidos pelo E.C.A., sendo um tema de
competência dos educadores quando praticado dentro da escola. O fato é que esse tema
ainda será de ampla discussão no direito brasileiro, somando-se aos casos em que as leis
dependem das interpretações e da jurisprudência após repercussão social dos conflitos,
envolvem danos morais por bullying. Talvez só depois de alguns anos poderíamos ter
uma noção científica com mais objetividade e previsibilidade.
Por enquanto, como o assunto é novo, é fácil notar como são discutíveis, amplos e
vagos os termos da “lei do bullying” (lei 13.185/2015) ao definir esse comportamento
indesejável:
Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática (bullying) quando há violência
física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação e, ainda:
I - ataques físicos
II - insultos pessoais;
III- comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;
IV - ameaças por quaisquer meios;
V - grafites depreciativos;
VI - expressões preconceituosas;
VII - isolamento social consciente e premeditado;
VIII - pilhérias.
(...)
Art. 5º - É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações
recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à
violência e à intimidação sistemática (bullying).
4 http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u105876.shtml
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direito nacional e internacional. Por isso vemos doutrinas divergentes sobre um assunto
novo ou polêmico.
Vejamos o caso do movimento antivacina. Os pais têm o direito de não vacinar seus
filhos? O assunto está em aberto porque não se pode simplesmente dizer que falamos de
deveres paternos num assunto passível de polêmica, ainda mais se há movimentos
organizados combatendo a obrigatoriedade de vacinas no Brasil e no mundo. O tema
começa a ser julgado pelos tribunais, como se lê na notícia abaixo.
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E se um(a) dos juízes/juízas que julgam casos como esse for adepto(a) do
movimento antivacina? Seria dada a mesma decisão relatada na notícia? O que a ciência
do direito pode fazer então é revelar o caráter problemático de seu objeto. Isso é o mais
sincero que podemos ser como teóricos e professores. Como os juízes, legisladores,
governadores (os poderes que fazem o direito prático e emitem os juízos de valor)
consultam os professores, os “cientistas do direito” e de outras ciências sociais, pronto:
o que os estudiosos “cientistas”, com esforço intelectual e “teórico”, descrevem sobre a
realidade do direito (juízos de realidade sobre as normas), acaba envolvendo suas
preferências subjetivas, seus valores pessoais, suas influências religiosas e, por fim,
influenciam o objeto de estudo, que é exatamente o papel dos juízos de valor. Em
conclusão: Emitimos, às vezes sem perceber, juízos de valor sobre o objeto, que são
também (no caso do direito) outros juízos de valor.
No exemplo retirado do TJSP5:
5 https://bit.ly/TJSPVAC
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Nem por isso deixaremos de afirmar que o mundo do dever-ser pode ser descrito
mediante juízos de realidade, há um esforço dos professores e estudiosos para entender
o objeto social jurídico como um todo coerente, lógico, sistematizável.
Assim, se o(a) estudante de direito for questionado se, no Brasil, é permitida pelo
direito a decisão de pais sobre a vacinação de seus filhos menores, esperamos que
tenha condições de responder que, em princípio, não:
a) pois o artigo 14, parágrafo 1º. Do E.C.A. diz:
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de
assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades
que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para pais, educadores e alunos.
§1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
recomendados pelas autoridades sanitárias.
b) E essa obrigação vem sendo confirmada pelas decisões judiciais.
c) Porém a cobertura vacinal total, inclusive de crianças, tem decrescido
sensivelmente, indicando algum risco de ineficácia social.
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No caso do Ministro das Cidades na favela Nova Brasília, preencha o quadro:
Âmbito do saber Formule o juízo estrutura lógica Descreva o nexo função descritiva ou Qual a resposta
causal ou imputativo prescritiva sobre o objeto?
Ciências Naturais / Juízo
de realidade
Ciência do direito / Juízo
de realidade (A.Comte)
Objeto da ciência do direito
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