Brakemeier, G. Sabedoria Da Fé Num Mundo Confuso
Brakemeier, G. Sabedoria Da Fé Num Mundo Confuso
Brakemeier, G. Sabedoria Da Fé Num Mundo Confuso
Sabedorias da fé
Num mundo confuso
Literatura II. Tolerância
B o rn k a m m , Günter. Anhang: Jean Paul, Rede des toten Christus v o m Welten
e religião
gebäude herab, dass kein Gott sei. (Mit einem Nachwort). In: Studien zu
A n tike und Urchristentum. München: Chr. Kaiser, 1959. p. 245-252. (Ges.
Aufsätze, Bd II).
C a t ã o , Francisco A. C. Em busca do sentido da vida. São Paulo: Paulinas, 1993.
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E i n s f e l d , Paulo Sérgio. O Jó bíblico e Viktor E. Frankl: caminhos e atalhos na
busca do sentido da vida. Estudos Teológicos, São Leopoldo: EST, ano 40, n.
3, p. 16-32, 2000.
F r a n k l , Viktor E. Em busca de sentido. 32. ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópo-
A. O desafio de um mundo plural
lis: Vozes, 2012.
H o c h , Lothar C. Perguntando pelo sentido da vida. São Leopoldo: Sinodal, 1991.
O tem a soa como tentativa de conciliar a água e o fogo. Pois, à
(Coleção Crer e Viver, 6). prim eira vista, tolerância e religião são fenômenos m utuam ente exclu-
K ilp p , Nelson. R etratos - exemplos de fé e de vida. São Leopoldo: Sinodal, 2013.
dentes. Não há nada mais intolerante do que as religiões, todas com a
O n f r a y , Michel. Contra-história da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
pretensão de oferecer a única verdade e de conduzir os fiéis à salvação.
. Tratado de Ateologia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
Aos adeptos é prom etido o céu, enquanto os dissidentes são rem etidos
ao inferno. Isso não somente no juízo final. A condenação costum a
ser antecipada em forma de demonização, perseguição e até mesmo
extermínio dos “incrédulos”. Preconizam-se as guerras santas e as bar
báries cometidas em nome do combate ao mal como obra agradável a
Deus. Religião pode ser altam ente brutal. Desde sempre a convivência
de credos divergentes tem sido difícil. São incontáveis as vítimas do
fanatismo religioso, não por últim o na história do Brasil. Fervor reli
gioso desconhece tolerância. Possui um a veia assassina.
No século 21, o assunto adquiriu particular periculosidade. En
ganou-se quem acreditava que guerra religiosa era algo do passado.
Os horrores da guerra dos trinta anos, que no século 17 devastou a
Europa e colheu um terço de sua população, aparentem ente não fo
ram suficientes para desiludir as pessoas com relação à legitimidade
de um a guerra em nom e da fé. No m undo globalizado renascem os
fundamentalismos, ameaçando a paz e espalhando o medo. O terror
que ceifa indiscrim inadam ente supostos inimigos e pessoas inocentes
possui fortes ingredientes religiosos. É praticado em boa medida por
“m ártires assassinos”, que sacrificam sua vida em favor de um a causa
dita "santa”, num a lógica completamente irracional. A atualidade en
frenta a ameaça de novos conflitos que, em razão do poderoso arsenal
bélico da era tecnológica, adquire dimensões m onstruosas. Não é por
acaso que ultim am ente o reclamo por paz tenha alcançado singular
insistência em todo o mundo.
2. Exatamente por isso se espera das religiões mais do Convivência plural exige o Estado tolerante, que garante a liber
que o em penho por coexistência estanque. O princípio da não dade de pensam ento, consciência e religião. De acordo com o artigo
interferência m útua é insuficiente para assegurar a paz. Impor XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse direito “in
ta lem brar às religiões seu m andato “pacificador”, que inclui a clui a liberdade de m udar de religião ou crença e a liberdade de m a
tentativa de entendim ento m útuo, a erradicação do preconceito, nifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e
a abstenção do juízo injusto. Tolerância exige o respeito frente pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particu
à alteridade do outro e de sua dignidade. Enfim, cabe perguntar lar”. O estado de direito vai im por restrições ao pleno exercício da ci
se não existem afinidades entre as diferenças, pontos de conver dadania apenas em casos de ação lesiva ao indivíduo, ao bem comum,
gência, causas comuns. Está aí o propósito legítimo do reclamo à dignidade humana, à saúde do corpo social. Liberdade religiosa é
por um a ética planetária, vinculante para todas as religiões e to reclamo não som ente político. Emana do próprio evangelho. A fé sofre
dos os povos. A sociedade global, m ulticultural tem necessidade prejuízo sob coação de qualquer espécie. Em consonância com isso,
de reconciliar diferenças, promover a confiança m útua e capaci as igrejas cristãs, em bora em processo histórico lento, tornaram -se
tar para o intercâm bio cultural. Portanto, tolerância não é um protagonistas da liberdade religiosa. Não se perm ite ao Estado tom ar
fim em si. E instrum ento para o objetivo maior da paz. E essa é o partido de um a só facção. Deve seguir a m eta da neutralidade em
que deverá ser a m eta conjunta das religiões. assuntos de cosmovisão e credo. Cabe-lhe a função de um a casa que
abriga a multicolorida vida social, protegendo os legítimos direitos de
3. E dentro desse arcabouço que se situa a posição lutera- seus cidadãos e de suas cidadãs.
na. A igreja medieval havia justificado os horrores da inquisição Se as igrejas cristãs reivindicam liberdade religiosa para si, es
com o argum ento de que heresia seria equivalente a um assas tão comprometidas a concedê-la tam bém a outros. Devem adm itir a
sinato da alma. Por isso mesmo caberiam perseguição e morte pluralidade que inevitavelmente brota da liberdade. Diversidade é um
aos e às hereges. O desvio da doutrina oficial da igreja mereceria princípio fundam ental de sociedade sustentável, assim como a bio
ser punido com a exclusão social e a pena de morte. Lutero se diversidade o é na natureza. Uniformidade religiosa sempre terá por
opôs a esse raciocínio. Já em 1520, em seu escrito “À nobreza condição a tirania, a repressão, o controle. Exatamente por isso abriga
Literatura
A m a lo d o s s , Michael. Pela Estrada da vida. Prática do diálogo inter-religioso.
São Paulo: Paulinas, 1995.
B r a n d e n b u r g e r , Egon. Frieden im Neuen Testament. Grundlinien urchristlichen
Friedensverständnisses. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn,
A. “Para nós há um só Deus...” (ICo 8.6)
1973.
G o n ç a l v e s , Antonio Baptista. A relação de intolerância religiosa com os di
“Pastor! Deus é um só em todas as religiões.” Não raro é esse o
argum ento de quem abandona sua tradicional comunidade de fé para
reitos humanos. Ciências da religião, São Paulo: Universidade Presbiteriana
Mackenzie, p. 32-60, 2012. se filiar a outra. A “troca de religião”, pois, seria um a questão apenas
G e n s i c h e n , Hans-Werner. Weltreligionen und W eltfriede. Göttingen: Vanden-
formal, não afetando o credo. A gente m udaria o rótulo, não o conteú
hoeck & Ruprecht, 1985. do. Continuam os crendo naquele Deus que é o mesm o para todas as
pessoas. E assim que se fala. Então já não faz diferença se somos cató
G u i m a r ã e s , Marcelo Rezende. Um novo mundo é possível. São Leopoldo: Sinodal.
2004. licos ou luteranos, cristãos ou budistas, espíritas ou adeptos de um a
K a u f m a n n , Thomas. Vertreiben, aber nicht töten. Luthers Umgang mit Ab
das num erosas igrejas pentecostais que se espalham pelo país. Em
weichlern war ein Impuls für allgemeine Toleranz. In: Zeitzeichen, ano 14, últim a análise, tudo daria no mesmo. E correto pensar assim?
n. 4, p. 24-26, 2013. Ora, por um lado não há como discordar. Deus de fato é um só.
K ü n g , Hans. Projeto de ética mundial. São Paulo: Paulinas, 1993.
A igreja cristã jamais admitiu o politeísmo, ou seja, a crença em muitos
P e d r e i r a , Eduardo Rosa. D o confronto ao encontro. A análise do cristianismo
deuses. Ela defende o “monoteísmo”. Trata-se de um legado recebido do
em suas posições ante os desafios do diálogo inter-religioso. São Paulo: antigo povo de Israel, que foi enfático em rejeitar o culto a outras divin
Paulinas, 1999. dades ao lado daquele Deus que o libertara da escravidão do Egito e que
Q u e i r u g a , André Torres. O diálogo das Religiões. São Paulo: Paulus, 1997.
com ele firmou um a aliança. Diz o primeiro mandamento: “Eu sou o Se
S c h u l z , Adilson. O encontro do cristianismo com o islã na casa da coexistên
nhor, teu Deus [...] Não terás outros deuses diante de m im” (Ex 20.1s).
cia - apesar do exclusivismo religioso. Estudos Teológicos, São Leopoldo: Tal formulação não deixa margem para dúvidas. Israel sempre abominou
EST, ano 42, n. 2, p. 48-67, 2002. a idolatria. O mesmo se observa no Novo Testamento. A pergunta pelo
S i n n e r , Rudolf von. Confiança e Convivência. Reflexões éticas e ecumênicas. São
principal mandamento Jesus responde citando Dt 6.4s. Ele diz: “O prin
Leopoldo: Sinodal, 2007. cipal é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor! Amarás,
T e i x e i r a , Faustino. Teologia das religiões. Uma visão panorâmica. São Paulo:
pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
Paulinas, 1995. todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.29). Que Deus
seja um só é o pressuposto indiscutível de todo o Novo Testamento e por
isso também da igreja cristã. Para ela existe “um só Deus e Pai de todos”
(Ef 4.5s). Juntam ente com o judaísmo e o islamismo, o cristianismo é
tido como uma das grandes religiões monoteístas do mundo.
Mesmo assim há fortes diferenças. Ainda que Deus seja um só,
as maneiras de adorá-lo variam. São outras as imagens de Deus aqui e