Globalização e Mudança

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Universidades Lusíada

Barracho, Carlos José Bernardo da Silva, 1954-


Os Recursos humanos e os desafios da actual
gestão num contexto global em constante
mudança
http://hdl.handle.net/11067/1369

Metadata
Issue Date 2014
Abstract Devido às alterações económicas e sociais dos últimos anos a Gestão de
Pessoas teve de se adaptar, deixando de actuar em áreas exclusivamente
funcionais, para desempenhar um novo papel, enquanto parceira
estratégica empresarial. É desta forma que aparece a Gestão Estratégica
de Pessoas, com uma perspectiva mais holística. Devido também à
competitividade dos novos mercados ela é forçada a completar sinergias
e a procurar um constante alinhamento interno-externo. Já não basta ter
políticas e práti...
Keywords Gestão de pessoal
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Peer Reviewed No
Collections [ULL-FCEE] LEE, n. 18 (2014)

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http://repositorio.ulusiada.pt
OS RECURSOS HUMANOS
E OS DESAFIOS DA ACTUAL GESTÃO
Num Contexto Global em Constante Mudança

Carlos José Barracho


Universidade Lusíada de Lisboa
Academia Militar (Lisboa)

Lusíada. Economia & Empresa. Lisboa, n.º 18/2014 173


Os recursos humanos e os desafios da actual gestão. Num contexto global em ..., pág. 173-184

Resumo: Devido às alterações económicas e sociais dos últimos anos a


Gestão de Pessoas teve de se adaptar, deixando de actuar em áreas exclusivamente
funcionais, para desempenhar um novo papel, enquanto parceira estratégica
empresarial. É desta forma que aparece a Gestão Estratégica de Pessoas, com
uma perspectiva mais holística. Devido também à competitividade dos novos
mercados ela é forçada a completar sinergias e a procurar um constante
alinhamento interno-externo. Já não basta ter políticas e práticas de Gestão
de Pessoas consonantes entre si, é também necessário que elas integrem
outras políticas, objectivos e estratégias empresariais, para se atingir um bom
desempenho.
Procura com esta nossa exposição reflectir sobre os desafios da Gestão
de Pessoas numa perspectiva a vários níveis, assumindo assim um papel
fundamental na integração dos diferentes níveis organizacionais. Reflectimos
ainda sobre uma importante problemática da actualidade. Quais as melhores
práticas de Gestão de Pessoas: deverão ser um conjunto de práticas singulares e
universais ou serem constituídas pelas mais diversas variáveis do contexto?
Finalmente lançam-se ideias com o intuito de perceber qual o papel que a
Gestão de Pessoas terá de enfrentar num futuro próximo, num quadro crescente
de estratégias de internacionalização por parte das empresas, onde é necessário
conciliar a universalidade global com a adaptabilidade inerente ao contexto onde
se integram.

Palavras-chave: gestão estratégica; mudança; adaptação; competitividade.

Abstract: Due to economic and social changes occurred in the last few years,
People Management had to adapt to a new role as strategic business partner.
Consequently, Strategic People Management emerges with a more holistic
perspective. On the other hand, because of the new markets competitiveness,
it is forced to complete a constant search for synergies and internal-external
alignment. It’s not enough to have policies and practices of Personnel Management
consonant between them, it is also necessary that they incorporate other policies,
objectives and business strategies to achieve good performance.
We seek to reflect on the challenges of Managing People in an interdisciplinary
perspective by integrating different organizational levels. We also reflect on a
topical issue. To know which are the best practices of Personnel Management:
should they be a set of natural and universal practices or they must be constituted

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by several context variables?


Here we present some ideas in order to understand what role the People
Management will face in the near future, in a growing cadre of internationalization
strategies made by companies, where it is necessary to reconcile the global
universality with the adaptability inherent to the context where they fit.

Keywords: strategic management; change; adaptation and competitiveness.

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Os recursos humanos e os desafios da actual gestão. Num contexto global em ..., pág. 173-184

1. Introdução

A revolução da globalidade tem originado grandes desafios e oportunidades,


e tem feito com que a vantagem competitiva das organizações resida no
conhecimento e não no capital, nem na terra, nem no trabalho, o que põe em
evidência a importância dos valores patrimoniais imateriais das organizações.
Autores como Senge (1990) e Garvin (1993) consideram que é fundamental a
gestão do conhecimento, como complemento da gestão financeira, dos recursos
humanos e da Logística, entre outras. Foi a partir da década de 90 do século
passado que se destacou o conhecimento e a aprendizagem como estratégia
primordial nas empresas, o que significou uma renovada atenção à gestão de
pessoas. Assim, para além do aumento de valor para a empresa, da-lhe também
uma maior liberdade, maior longevidade e maior independência financeira. Além
disso, este sentimento tem consequência sobre os indivíduos que percepcionam
os seus conhecimentos e práticas, bem como as suas limitações provocadas pela
eventual não actualização das suas competências. Mas, a conjugação destas visões
traz também consequências positivas e directas para a sociedade, nomeadamente
ao nível da criação de empregabilidade e, acima de tudo, do trabalho.
Portanto, a globalização originou novas estratégias da Gestão de Pessoas,
que por sua vez implicam mudanças na estrutura da organização, nomeadamente
no capital humano, que é, nos dias de hoje, a principal base na globalização.
Desta forma, é imperioso que as empresas promovem o aprendente, pois que
as maiores mudanças passam pela formação do novo paradigma que, por sua
vez, passa pela valorização dos trabalhadores que consiste na aprendizagem
organizacional.

2. Globalização e mudança

Uma enorme vaga de mudanças estão a acontecer neste planeta, não só ao


nível das nossas vidas pessoais, como também ao nível do trabalho. Há uma
revolução global em curso no modo como pensamos sobre nós, como formamos
laços e ligações com outros e como pensamos o trabalho que fazemos. É uma
revolução que avança de forma desigual em diferentes regiões e culturas e
que encontra resistências de vária ordem. Consideramos que é uma mudança
verdadeira, uma vez que ocorre ao nível dos comportamentos das pessoas,

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enquanto reflexos de mudanças de atitudes, crenças e valores pessoais. De facto, é


no modo como as pessoas se identificam com novos modelos de comportamento,
contando histórias diferentes, passando o tempo de maneira diversa, fazendo
coisas diferentes daquelas que faziam que podemos verdadeiramente falar de
mudança. É um género de mudança que leva anos a acontecer, mesmo que se
trate de uma alteração do tipo revolucionário, e não apenas incremental ou nas
subculturas existentes. Segundo Cardoso e Monteiro (2010), é uma mudança ao
nível dos rituais organizacionais, que por sua vez se estendem às combinações
simples de comportamentos colectivos, repetitivos e breves que, de forma mais
ou menos automática e sem grande reflexão, procuram dar significado aos
símbolos inerentes às interações sociais, que vão desde o simples aperto de mão,
conversa telefónica ou utilização das novas tecnologias, até às mais complexas
cerimónias institucionais.
A era que vivemos, de globalização, tem tendência em intensificar-se e
pode ser caracterizada pelas profundas mudanças que se verificam e que são
reconhecidas no meio pessoal, profissional, científico e empresarial. Angola
não foge a estas alterações. Também a alteração do comportamento do agente
económico, que apresenta um nexo de causa-efeito com aquele movimento de
ruptura civilizacional, comporta grandes implicações ao nível do comportamento
das organizações, do seu desempenho e dos coloaboradores. Esta era de
globalização, acompanhada pela revolução da informação, obriga a que os
trabalhadores, com muita deligência se adaptem à nova realidade económica e
social, que, globalmente, poderão ser caracterizadas da seguinte forma:
• liberalização económica e abertura dos mercados ao nível global;
• desenvolvimento acelerado e contínuo das tecnologias de informação e
de comunicação;
• dinamismo e facilidade no acesso aos meios de transporte,
• tendência para o consumo de massa;
• aumento do conhecimento e da consciência dos compradores face à
qualidade dos produtos a obter, às alternativas possíveis, e aos seus
direitos enquanto cidadãos;
• dinamizam dos mercados (bens, serviços e capitais) com o consequente
aumento e alcançe dos impactos de qualquer mudança gerada, em
qualquer parte do planeta.

Na sociedade de massa é difícil delimitar o campo de acção da mudança


económica e social, da velocidade da informação, da turbulência dos mercados,
da incerteza quanto à produção e seus resultados e flexibilidade. São também
variáveis fulcrais, neste ambiente, factores desconhecidos e não controláveis pelas
organizações, passando ainda pela pulverização dos mercados e o incremento da
concorrência, quer entre organizações, quer entre os colaboradores. Desta forma,
a problemática do desenvolvimento das pessoas é tida hoje como uma actividade
estrategicamente posicionada e situa-se no contexto do Desenvolvimento dos

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Recursos Humanos (DRH), essencial ao desenvolvimento e à tranformação das


empresas que necessitam de sobreviver e expandir as suas actividades. Assim,
dentro da Gestão de Recursos Humanos (GRH) ou, modernamente, Gestão
de Pessoas, encontramos as disciplinas do mercado de trabalho e das relações
laborais numa perspectiva holística, onde o trabalhador é visto hoje em dia
como um recurso e não como uma despesa e, por este motivo, inúmeros autores
consideram os gastos na formação como um investimento e não como um
custo. Os autores consideram por exemplo que, os trabalhadores, no sistema
de gestão japonês, são a capacidade facilitadora no processo de transformação.
Por tal motivo defendem o desenvolvimento dos colaboradores cujos resultados
tiveram repercursões sobre o desenvolvimento da organização. Já dentro
do movimento pós-modernista, Beardwell e Holden (1997) defendem outros
conceitos organizacionais, tais como a flexibilidade e a polivalência, tidos como
suportes para a descentralização e apoio na compreensão do desenvolvimento
das organizações. Nesta óptica, a linguagem e os canais de comunicação são
considerados vias de desenvolvimento organizacional e estimulam a auto-
reflexão crítica, que é também considerado com factor indespensável à gestão
do conhecimento e à construção das organizações aprendentes. Também é uma
varíavel de empenho e de comprometimento global a ideia da Gestão de Pessoas
com o objectivo de desenvolver o empenho e a lealdade no local de trabalho,
de forma a se poder alcançar um elevado padrão de excelência, questão que
foi também defendida por David McClelland (1975). Mas este percurso para
a excelência exige por sua vez que se façam mudanças nas organizações e se
dêem ao mesmo tempo alterações nas relações de trabalho. Estas não devem
estar na dependência das características organizacionais verificadas ao lomgo
dos tempos. Assim, após o início do século XX e até quase aos finais do mesmo
século, o percurso feito pode ser dividido em quatro momentos:
1. A Era da Produção em Massa (1920-1949), em que empresa detinha a
capacidade negocial e, por isso, determinava a especificação do produto,
as qualidades, os preços, as relações com os clientes e fornecedores,
passando inclusive pela relação com os demais stakeholders;
2. A Era da Eficiência (1950-1969) que se caracteriza pela preocupação da
empresa em controlar as suas operações com vista à obtenção de maiores
ganhos de produtividade. A ênfase era sobre o controlo e a empresa
continuava distante do cliente;
3. A Era da Qualidade (1970-1989) que se caracteriza pela procura constante
de satisfação para o cliente, através da filosofia da melhoria contínua dos
processos, tendo para tal desenvolvido a gestão através de equipas, em
que se procurou motivar e comprometer as pessoas para com os objectivos;
4. A Era da Competitividade (a partir de 1990) em que se procura a
sobrevivência da empresa numa economia cada vez mais globalizada e
que exige a concentração de seus esforços face a uma competitividade
cada vez mais feroz.

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Segundo Chiavenato (2000), a nova abordagem na forma como o trabalho e


as relações que dele resultam, fez com que as pessoas deixassem de ser simples
recursos organizacionais, para serem consideradas como seres únicos, dotados
de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades e expectativas
próprias. Os colaboradores transformaram-se lentamente em novos parceiros
da organização. Por outro lado, a função de Gestão de Pessoas, dentro desta
nova realidade, permitiu também a sua passagem a elementos estratégicos nos
processos de modernização administrativa.
Actualmente, as mudanças que se vão dando no mercado de trabalho e nas
relações entre os diferentes elementos económicos, abrangem todos os níveis
hierárquicos e todas as pessoas, ou seja, abrangem transversalmente todos os
colaboradores da empresa. A esse propósito, Chiavenato (1996) apresenta o
seguinte quadro de relações de características profissionais, que o mercado de
trabalho valoriza.

Características do Profissional Nas Novas Relações De Trabalho

Características em mudança Características actuais a valorizar


Trabalho por obrigação Realização Professional
Segurança e estabilidade Desafios
Mero executor Espírito empreendedor
Aposentar-se na empresa Crescer com a empresa
Vestir a camisa da empresa Participar dos negócios da empresa
Fazer o que mandam Fazer o que gosta
Trabalha por necessidade Prazer em trabalhar
Cultura técnica Cultura geral
Status Qualidade de vida
Carreira estabelecida pela empresa Planear a própria carreira
Despreocupação com o marketing pessoal Preocupação com o marketing pessoal
Despreocupação com o mercado de trabalho Constante acompanhamento do mercado de trabalho
Técnico e especialista Generalista
Conhece apenas o que faz Conhecimento dos negócios
Fonte: Adaptado de Chiavenato (1996)

Este movimento a que assistimos na actual sociedade é exigente em


conhecimento e está a fazer com que os valores imateriais se sobreponham aos materiais.
É por isso que as gerações vindouras poderão vir a encarar o conhecimento como
o principal recurso, quer na perspectiva de input quer na de ouput. Assim, ainda
segundo Chiavenato (op. cit), as organizações são cada vez mais notavelmente
diferenciadas. Neste contexto, poderão ser levantadas muitas questões relativas
à incerteza, como é o caso de Peter Drucker (2001), quando se interroga sobre o
que deve fazer a gestão para estar preparada para a próxima geração. Portanto,

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a globalização originou novas estratégias ao nível da Gestão de Pessoas, que por


sua vez produziram mudanças na estrutura organizacional e nomeadamente no
capital humano, ou seja, iniciou-se um novo paradigma.

Mudança de Paradigma

Velho Paradigma Novo Paradigma


Intensivo. Intensivo em informações e conhecimento.
Grandes unidades de produção e número de Redução no tamanho de produção e no número de
trabalhadores. trabalhadores.
Produto homogéneo de uma unidade de Diversidade de produtos.
produção.
Padornização. Customized (dirigida ao cliente).
Mix estavél de produtos. Mudanças rápidad no mix de produtos.
Plantas e equipamentos especializados. Sistemas de produção flexível.
Automação. Sistematização.
Habiliddes especializadas. Multi-habilidades interdisciplinares.
Fonte: Adaptado de Nakano (1994)

3. Novo mundo, novo paradigma e uma nova acção

As transformações ocorridas nas últimas décadas a que fizémos referência


trouxeram às organizações novas dimensões, tais como a flexibilidade, a
adaptabilidade, a inovação, a autonomia e capacidade de trabalho, numa lógica
de interdependência. Mas são todos eles considerados fundamentais para
responder às exigências de sobrevivência nos actuais mercados que se encontram
em contínua turbulência. Este novo contexto deu origem a que a Gestão de Pessoas
tenha um novo papel, um papel estratégico em termos organizacionais. A Gestão
de Pessoas deixou de actuar exclusivamente nas áreas funcionais e tradicionais,
como a selecção e recrutamento, a formação, a avaliação de desempenho, a
remuneração e a gestão carreiras, para se transformar num autêntico parceiro na
definição e acompanhamento das estratégias e objectivos das organizações. Surge
desta forma, através de Jim Walker (1980) um novo conceito, o de Gestão Estratégia
dos Recursos Humanos (GERH). Este conceito centrou-se no cruzamento entre
as motivações e desempenhos individuais com a estratégia de desenvolvimento
dos objectivos definidos. A ideia da complementaridade dos recursos, inerente à
GERH, lembra a importância das sinergias e do alinhamento interno e externo. O
primeiro diz respeito ao alinhamento entre as práticas de Gestão de Pessoas e é
uma garantia que elas sejam consonantes e consistentes entre si. O alinhamento
externo relaciona-se com o alinhamento das práticas de Gestão de Pessoas e as
restantes políticas e objectivos organizacionais, com particular importância para

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a estratégia organizacional. Assim, desta forma, a GERH influencia e promove a


articulação dos diversos níveis da organização, uma vez que permite a procura de
soluções integradas entre os níveis micro e macro, para que se possa atingir uma
produtividade mais elevada. Esta influência dá-se a dois níveis: (1) através das
práticas tradicionais de gestão de pessoas (as competências, os comportamentos
e as atitudes) que contribuem para o desempenho organizacional, e (2) exercendo
uma acção directa sobre o desempenho ao criar eficiência estrutural e operacional,
ao mesmo tempo que se ajudam as empresas a definirem e implementarem uma
estratégia de acordo com os objectivos traçados.
Em termos organizacionais, a Gestão de Pessoas pode ser definida tanto em
termos de conteúdo como de processo. O conteúdo diz respeito a um conjunto
de práticas que têm por missão atingir um determinado objectivo. O processo
refere-se ao modo como aquele sistema implementa e gere essas mesmas práticas
de forma a promover o desempenho organizacional. Quando as práticas não
são consistentes pode gerar-se conflito ou ambiguidade, o que vai diminuir
o desempenho, tanto ao nível individual como da própria organização. Por
isso, Schneider (1990) refere que quanto mais fortes forem os sinais enviados
pelo sistema sobre os objectivos estratégicos que devem ser atingidos e quais
os comportamentos esperados e recompensados, mais facilmente a empresa
consiguirá atingir os objectivos inicialmente propostos. Deste modo é vital
que a Gestão de Pessoas introduza práticas que promovam o desenvolvimento
das capacidades, dos conhecimentos e das motivações dos colaboradores, ao
mesmo tempo que estes tenham a possibilidade de mostrarem comportamentos
consistentes com a implementação da estratégia previamente estabelecida. Por
conseguinte, referimo-nos a todo um conjunto de práticas e processos concebidos
para influenciar e modelar as competências, comportamentos, percepções,
motivações, satisfações e compromissos. As práticas de Gestão de Pessoas
traduzem-se assim numa importante componente ao ajudarem as empresas
a tornarem-se mais efectivas e a apresentarem uma vantagem competitiva,
ao mesmo tempo que influenciam os colaboradores a adoptarem atitudes e
comportamentos colectivos desejáveis, que ajudem a empresa a atingir os seus
objectivos estratégicos.
Mas, no entanto, para existir um forte impacto das práticas de Gestão
de Pessoas no desempenho organizacional, é necessário, como referimos, que
as práticas sejam estrategicamente consonantes e consistentes entre si. Desta
forma, o valor do capital humano só é efectivo se existir complementaridade
e especificidade entre os colaboradores e alinhamento entre as finalidades e
valores dos colaboradores com os da organização, ou seja, se forem consistentes
com as opções estratégicas, processos e estrutura daquela. É no mesmo sentido
que Porter (1996) defende que é da consistência entre a estratégia, a estrutura e o
capital humano que a organização poderá obter a tão desejada competitividade.
Quando a empresa ao investe na melhoria da qualidade dos colaboradores,
as práticas de Gestão de Pessoas permitem aumentar a qualidade do capital

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humano no seu todo, que é a única fonte de vantagem competitiva difícil de


replicar, uma vez que é única, rara e não substituível. Estas competências dos
trabalhadores, assim como a sua motivação e satisfação, promovem a rapidez
e a flexibilidade que constituem imperativos básicos dos actuais mercados e
pode ser uma forma de fazer com que as empresas sejam mais competitivas nos
mercados internacionais. Por tais motivos podemos referir que não só a satisfação,
a motivação e as capacidades dos trabalhadores que constituem um factor chave
no comportamento e nas respostas no trabalho, mas também a formação e as
qualificações, pelo que indirectamente no seu conjunto contribuem todos para a
eficácia das organizações.
No entanto, segundo Yeh (2008), na actual conjuntura mundial e numa
perspectiva da GERH, o foco deixou de ser só o trabalhador individual enquanto
chave de sucesso para a efectividade organizacional. Há também que contar com
o valor a capital humano colectivo aliado a climas e culturas organizacionais
fortes. Para atingir um bom desempenho é então necessário que os trabalhadores
partilhem objectivos, valores, percepções e atitudes e que promovem a interacção
efectiva e uma orientação comum para os objectivos estratégicos. Por isso é muito
importante que as práticas de Gestão de Pessoas enviem mensagens objectivas
aos colaboradores sobre os objectivos a atingir e quais os comportamentos
esperados e recompensados, de modo que estes consigam extrair o seu correcto
sentido para o poderem comunicar entre todos.
Um dos grandes desafios da GERH é então o de gerir os vários níveis
de análise e intervenção organizacional (individual, grupal, organizacional),
articulando em permanência as práticas da Gestão de Pessoas com a estratégia
organizacional, de forma coerente e consistente. Só assim é possível que o
sistema se centre nos problemas operacionais e na implementação de uma
estratégia organizacional competitiva. Esta estratégia é a base para a aquisição,
motivação e desenvolvimento de um conjunto de especificidades intelectuais que
pode ser a fonte para uma vantagem competitiva sustentável, ao transformar-
se numa estrutura social complexa, num activo invisível, difícil de copiar pela
concorrência. Autores como Ostroff & Bowen (2000) referem que não existe um
conjunto de práticas de Gestão de Pessoas únicas e que as empresas agem de
acordo com as configurações organizacionais e com os atributos necessários para
atingir efectividade. A efectividade depende das variáveis de contexto, tais como
o tamanho, sistema produtivo e a estratégia. A conclusão de diversos estudos
(Becker & Gerhart,1996) defende que, mais importante do que uma lista de
boas práticas universais, é o facto de as práticas de Gestão de Pessoas deverem
estar articuladas entre si e implementadas de forma consistente com a estratégia
organizacional defenida previamente.

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Carlos Barracho

Referências bibliográficas

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