CHARTIER, Roger. Literatura e História
CHARTIER, Roger. Literatura e História
CHARTIER, Roger. Literatura e História
“Devemos romper com a atitude espontânea que supõe que todos os textos, todas as
obras, todos os gêneros, foram compostos, publicados, lidos e recebidos segundo os
critérios que caracterizam nossa própria relação com o objeto escrito.” (p. 197)
“Mas é preciso ter distanciamento em relação a esses três supostos para compreender
quais foram as razões da produção, mas modalidades das realizações e as formas das
apropriações das obras do passado. E também é preciso compreender em sua própria
historicidade e instabilidade.” (p. 198)
“Algumas obras literárias nos conduzem a construí-las não como universais mas em sua
descontinuidade e mobilidade.” (p. 198)
“Uma carta privada, um documento legal, um anúncio publicitário não têm ‘autores’. A
função-autor é o resultado de operações específicas e complexas que referem a unidade
e a coerência de uma obra, ou de uma série de obras, à identidade do sujeito
construído.” (p. 199)
“A função-autor implica portanto uma distância radical entre o indivíduo que escreveu o
texto e o sujeito ao qual o discurso está atribuído.” (p. 199)
“Aos gostos secretos que definem o indivíduo em sua irredutível singularidade se opõe
o exagero teatral das preferências exibidas pelo autor, figura pública e ostentativa.” (p.
200)
“Eu tampouco sou; eu sonhei o mundo como tu sonhaste tua obra, meu Shakespeare, e
entre as formas de meu sonho estavas tu, que és muitos e ninguém.” (p. 201)
“O ‘conto’ do espelho e da máscara, do poeta e do rei, indica assim como devemos nos
aproximar das diversas formas que regem a produção, a circulação e apropriação dos
textos, considerando como essenciais suas variações segundo os tempos e os lugares.”
(p. 205)
“O que faz Chartier ande au bord de la falaise, como ele diz, na beira do abismo entre
dois extremos, que ele evita de maneira extremamente pertinente por meio da
particularização contínua dos objetos, das categorias e, insisto, do próprio lugar de fala,
do lugar institucional de onde fala o historiador que lança mão não só de métodos da
história, mas que também vai buscar, na literatura, elementos de uma historicização de
sua prática de historiador.” (p. 208)
“Nessa história literária tradicional temos a idéia generalizada de que os textos todos
têm uma autoria e que essa autoria se identifica com a expressão subjetiva ou
psicológica do indivíduo que os produz; temos uma hipótese estética de leitura como
prazer desinteressado, que aplicamos a objetos verbais, que muitas vezes, dependendo
da circunstância dos usos, tinha outras finalidades, absolutamente práticas, por exemplo,
no seu consumo.” (p 209)