Análise E Diagnóstico Do Sistema de Drenagem Com Vant E Integração Ao Planejamento de Mina

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Escola de Engenharia

Programa De Pós-Graduação Em Engenharia De Minas,


Metalúrgica e de Materiais (PPGE3M)

ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE DRENAGEM COM VANT E INTEGRAÇÃO AO

PLANEJAMENTO DE MINA

Felipe Dille Benevenuti

Dissertação para obtenção do título de

Mestre em Engenharia

Porto Alegre, RS

2021
1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Escola de Engenharia

Programa De Pós-Graduação Em Engenharia De Minas,


Metalúrgica e de Materiais (PPGE3M)

ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE DRENAGEM COM VANT E INTEGRAÇÃO AO

PLANEJAMENTO DE MINA

Dissertação realizada no Laboratório de Pesquisa Mineral e Planejamento Mineiro da

Escola de Engenharia da UFRGS, dentro do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de

Minas, Metalúrgica e de Materiais (PPGE3M), como parte dos requisitos para a obtenção do

Título de Mestre em Engenharia.

Área de Concentração: Tecnologia Mineral, Ambiental e Metalurgia Extrativa

Porto Alegre, RS

2021

2
À minha esposa Bruna pelo
apoio e parceria. E aos meus pais
pelo incentivo e dedicação para
com a minha educação.

3
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Rodrigo de Lemos Peroni por todo o suporte e apoio ao


desenvolvimento do estudo e do estudante.
À minha esposa Bruna Marques da Silva, por compartilhar as alegrias e
dificuldades encontradas ao longo do caminho.
Aos meus pais, que nunca permitiram que faltassem condições para minha
formação como profissional e pessoa, e sempre incentivaram o caminho do estudo.
Aos meus irmãos e minha vó, pelos exemplos de dedicação e princípios.

4
RESUMO
A presença de água meteórica em minas a céu aberto é uma das mais frequentes
causas de transtornos de ordem operacional como as más condições de rodagem nas pistas
e demanda por bombas hidráulicas cada vez mais potentes. Estes transtornos geram uma
série de ineficiências nas operações unitárias, como o aumento no tempo de
carregamento, no tempo de transporte, no número de veículos necessário para manter a
taxa de produção, no custo de manutenção dos caminhões, na necessidade de manutenção
da pista de rodagem e no risco de acidentes, além da redução da vida útil dos pneus.
Para fazer frente a estes problemas operacionais, propõe-se neste documento uma
metodologia de planejamento de sistema de drenagem. Esta metodologia toma como base
as cavas operacionais intermediárias da mina, bem como a cava operacional final. A partir
delas, propõe a criação de um direcionamento da água superficial para os elementos
hidráulicos, que passam a ser previamente posicionados e dimensionados em harmonia
com o avanço da lavra. Esta metodologia é aplicada a uma mina teórica, cujas águas
superficiais passam a ser direcionadas para os devidos elementos hidráulicos,
minimizando problemas e custos operacionais ao longo da vida útil da mina.
Além de uma metodologia de planejamento de drenagem associada ao
planejamento de mina, propõe-se uma metodologia de diagnóstico de sistema de
drenagem. Esta metodologia tem como base o levantamento de dados com VANT
(Veículos Aéreos Não-Tripulados) e o posterior processamento. São utilizadas
ferramentas de geoprocessamento que permitem a detecção das regiões de acúmulo e
fluxo de água na área da mina. Através destas detecções, seria possível intervir de maneira
preventiva, reduzindo as consequências danosas das chuvas sobre a cava e estradas de
acesso.
Através do estudo de caso da metodologia de planejamento de drenagem de mina,
estimou-se que é possível reduzir a entrada de água da chuva na cava, na ordem de 17%.
Já a metodologia de diagnóstico de sistema de drenagem resultou na criação de uma
sequência de passos que podem ser implementados na rotina da mina para inspecionar o
sistema de drenagem de maneira ágil.
Conclui-se que é possível associar o planejamento do sistema de drenagens de
minas ao planejamento de mina de longo prazo. Além disto, é possível diagnosticar a
implementação do sistema de drenagem utilizando o levantamento por VANT.

5
ABSTRACT
The presence of rainwater in open pit mines is one of the most frequent causes of
operational problems such as poor running conditions on haul roads and the demand for
increasingly powerful hydraulic pumps. These operational problems generate a series of
inefficiencies in mining operations, such as an increase in loading time, in transportation
time, in the number of vehicles needed to maintain the production rate, in the cost of
maintaining trucks, in the need to maintain the haul roads and in the risk of accidents, in
addition to reducing tire life cycle.
Intending to face these operational problems, this document proposes a drainage
system planning methodology. This methodology is based on the intermediate operational
pit of the mine, as well as the final operational pit surface. From them, it proposes the
creation of a diversion of surface water so it is conducted to the hydraulic elements, which
are previously positioned and dimensioned, in harmony with the progress of the mine.
This methodology is applied to a theoretical mine, whose surface waters are now directed
to the appropriate hydraulic elements, minimizing problems and operational costs over
the life of the mine.
In addition to a drainage planning methodology associated with mine planning, a
drainage system diagnostic methodology is proposed. This methodology is based on UAV
(Unmanned Aerial Vehicles) data collection and further processing. Geoprocessing tools
are used, which allow assessing the surface conditions and identifying surface water
accumulation and water flow in the mine area. Through these assessments, it would be
possible to intervene in a preventive manner, reducing the damaging consequences of the
rains on the operation.
Through the case study of the mine drainage planning methodology, it was
estimated that it is possible to reduce the amount of rainwater into the pit, by 17%. The
drainage system diagnostic methodology resulted in the creation of a sequence of steps
that can be implemented in the mine routine to inspect the drainage system in a quickf
manner.
It is concluded that it is possible to associate the planning of the mine drainage
system with the long-term mine planning. In addition, it is possible to diagnose the
implementation of the planed system using the UAV survey and further geoprocessing
techniques.

6
Índice
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 11
1.1. Relevância do Tema.......................................................................................................................12
1.2. Justificativa .......................................................................................................................................12
1.3. Meta .....................................................................................................................................................13
1.4. Objetivos ............................................................................................................................................13
1.5. Metodologia ......................................................................................................................................13
1.6. Estrutura da Dissertação .............................................................................................................14
2. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE .................................................................................................... 15
2.1. Planejamento de Mina ..................................................................................................................15
2.1.1. Introdução ................................................................................................................................15
2.1.2. Objetivos ...................................................................................................................................15
2.1.3. Projetos......................................................................................................................................16
2.1.4. Modelos .....................................................................................................................................18
2.1.5. Operacionalização de cava .................................................................................................21
2.1.6. Sequenciamento de Lavra ..................................................................................................22
2.2. Projeto Geométrico de Estradas na Mineração ..................................................................23
2.2.1. Introdução ................................................................................................................................23
2.2.2. Inclinação transversal da estrada ...................................................................................24
2.2.3. Largura das Pistas .................................................................................................................25
2.2.4. Berma de Segurança. ............................................................................................................26
2.2.5. Super-elevação .......................................................................................................................26
2.2.6. Raio de curvatura ..................................................................................................................26
2.3. Pluviometria .....................................................................................................................................27
2.3.1. Distribuição temporal da precipitação..........................................................................27
2.3.2. Frequência de ocorrência de chuvas intensas ............................................................28
2.4. Hidrologia ..........................................................................................................................................30
2.4.1. Separação das águas .............................................................................................................30
2.4.2. Distribuição temporal da vazão .......................................................................................32
2.5. Hidráulica ..........................................................................................................................................34
2.5.1. Método das Convoluções ....................................................................................................34
2.5.2. Método Racional ....................................................................................................................35
2.5.3. Método do Hidrograma Sintético ....................................................................................37
2.5.4. Elementos hidráulicos .........................................................................................................38
2.6. Drenagem na Mineração ..............................................................................................................48
2.7. Mapeamento com VANT ..............................................................................................................50
7
3. PLANEJAMENTO DE SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL .......................................... 53
3.1. Apresentação da Metodologia ...................................................................................................53
3.2. Análise das condições locais ......................................................................................................54
3.3. Projeto de drenagem .....................................................................................................................55
3.3.1. Estudo de Caso ........................................................................................................................56
3.3.2. Macro-drenagem ....................................................................................................................57
3.3.3. Micro-drenagem .....................................................................................................................60
3.3.4. Cava final contemplando o projeto hidráulico ...........................................................62
3.3.5. Dimensionamento de elementos hidráulicos .............................................................63
4. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE DRENAGEM ATRAVÉS DE MAPEAMENTO COM VANT
79
4.1. Introdução .........................................................................................................................................79
4.2. Coleta de dados ...............................................................................................................................80
4.3. Processamento de dados .............................................................................................................81
4.4. Acúmulo de água ............................................................................................................................84
4.5. Fluxo de água ...................................................................................................................................86
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................. 87
5.1. Conclusões sobre a drenagem ao longo do planejamento de mina ............................87
5.2. Conclusões sobre o diagnóstico de drenagem de mina a partir de mapeamento
com VANT ......................................................................................................................................................89
5.3. Conclusões finais ............................................................................................................................90
5.4. Estudos futuros associados ........................................................................................................91
6. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 92

8
Lista de Figuras
Figura 1 – Exemplo de Modelo de Blocos .................................................................................................19
Figura 2 – Exemplo de modelo geomecânico ...........................................................................................20
Figura 3 - Exemplo de Cava Ótima ............................................................................................................20
Figura 4 - Exemplo de Cava operacional.................................................................................................21
Figura 5 - Exemplo de cavas aninhadas ......................................................................................................23
Figura 6 - Inclinação de pista – Tipo Crown .............................................................................................25
Figura 7 – Inclinação de pista – Tipo Cross-Slope ..................................................................................25
Figura 8 - Exemplo de Hietograma ..............................................................................................................27
Figura 9 - Exemplo de Curva IDF. Fonte: Tucci (1993) ........................................................................29
Figura 10 - Hidrograma de bacia radial x alongada. Fonte: Tucci, 1993. .........................................33
Figura 11 - Hietograma x Hidrograma ........................................................................................................33
Figura 12 - Parâmetros do hidrograma. Fonte: Tucci (1993) ...............................................................34
Figura 13 - Convolução dos hidrogramas horários ..................................................................................35
Figura 14 – Hidrograma Sintético. Fonte: Tucci (1993) ........................................................................37
Figura 15 - Perfil de canal trapezoidal.........................................................................................................40
Figura 16 - Seleção família de bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013) ..............................................45
Figura 17 - Seleção do diâmetro de rotor da bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013) ....................45
Figura 18 - Potência da bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013) ...........................................................46
Figura 19 – Elementos construtivos de um bueiro. Fonte: Pinheiro, 2011. ......................................47
Figura 20 - Tipos de escoamento nas escadas hidráulicas (CHANSON, 2002)..............................47
Figura 21 – Quadro geral da água em cava a céu aberto. ......................................................................49
Figura 22 – Fluxo de água em cava a céu aberto. Fonte: Pinheiro, 2011..........................................50
Figura 23 – Representação do SfM ..............................................................................................................51
Figura 24 – Fluxograma do planejamento do Sistema de drenagem ..................................................54
Figura 25 – Apresentação da topografia da área de mineração antes e depois da cava ................57
Figura 26 – Análise de macro-drenagem da configuração final de cava, vista em planta. ..........58
Figura 27 – Configuração final de cava com projeto de canais periféricos. .....................................59
Figura 28 – Análise de micro-drenagem da configuração final de cava tradicional Fonte: Auoria
própria ...................................................................................................................................................................60
Figura 29 – Exemplo de alteração na linha de pé de talude Fonte: Autoria própria ......................61
Figura 30 – Análise de macro-drenagem da cava final hidráulica, vista em planta. ......................62
Figura 31 – Análise de micro-drenagem na cava final hidráulica .......................................................63
Figura 32 – Exemplo de cálculo semi-automático de área de contribuição e maior caminho
percorrido dentro da microbacia....................................................................................................................64
Figura 33 – Posição das Escadas Hidráulicas na Cava Final Hidráulica ...........................................66
Figura 34 – Divisão das estradas da mina com diferente canal superficial lateral . .......................68
Figura 35 - Apresentação dos canais superficiais auxiliares (AC1 e AC2) ......................................69
Figura 36 – Posicionamento dos tanques nos fundos de cava em configuração final ...................70
Figura 37 - Volumes de água no tanque “Sump A” ................................................................................71
Figura 38 - Volumes de água no “Sump B”...............................................................................................72
Figura 39 - Seleção da bomba hidráulica. Fonte: KSB, 2013 ...............................................................73
Figura 41 – Divisão das áreas de contribuição e seus destinos ............................................................74
Figura 40 – Elementos hidráulicos em planta ...........................................................................................74
Figura 42 – Apresentação da configuração intermediária de cava analisada ...................................75
Figura 43 – Divisão da cava intermediária em configuração final e operacional ...........................76
Figura 44 – Elementos hidráulicos definitivos presentes na configuração intermediária de cava
analisada ...............................................................................................................................................................77
Figura 45 – Elementos hidráulicos provisórios e definitivos presentes na configuração
intermediária de cava analisada .....................................................................................................................78
Figura 46- Fluxo da metodologia de diagnóstico de drenagem com VANT....................................80
9
Figura 47 – Exemplos de produtos de Mapeamento com VANT........................................................82
Figura 48 – Representação do algoritmo Flow Direction ......................................................................82
Figura 49 – Representação do algoritmo Flow Accumulation .............................................................83
Figura 50 – Representação do algoritmo Fill Sinks.................................................................................83
Figura 51 – Estimativa de acúmulo de água x mapeamento de campo .............................................84
Figura 52 – Comparação das estimativas de acúmulo de água com diferentes níveis de
tolerância de ruído .............................................................................................................................................85
Figura 53 – Estimativa de Fluxo de Água x Mapeamento de Campo ................................................86
Figura 54 – Comparação da análise de macro-drenagem com e sem canais periféricos ..............88
Figura 55 – Comparação da análise de micro-drenagem com e sem planejamento de drenagem
.................................................................................................................................................................................89

Lista de Tabelas
Tabela 1 – Super-elevação indicada conforme velocidade e raio da curva. Fonte: Thompson et
al., 2019 ................................................................................................................................................................26
Tabela 2 - Correção da curve number (CN). Fonte: Tucci (1993) ......................................................32
Tabela 3 - Coeficientes de Escoamento Superficial ................................................................................36
Tabela 4 – Coeficiente de rugosidade (n) ...................................................................................................40
Tabela 5 – Parâmetros de Entrada - Dimensionamento das Escadas Hidráulicas ..........................66
Tabela 6 – Parâmetros de Saída – Dimensionamento de Escadas Hidráulicas................................67
Tabela 7 – Dimensionamento de canais superficiais nas laterais das estradas ................................68
Tabela 8 - Dimensionamento de Canais Superficiais Auxiliares.........................................................69
Tabela 9 – Parâmetros de dimensionamento de tanque e bomba exemplificados ..........................71

10
1. INTRODUÇÃO

A presença de água meteórica em minas a céu aberto é uma das mais frequentes
causas de transtornos de ordem operacional e, consequentemente responsável pela
redução de desempenho das operações de lavra. Em determinadas regiões, problemas
como acúmulo de água em frentes de lavra, más condições de rodagem nas pistas e
demanda por bombas hidráulicas cada vez mais potentes são agravados pela concentração
das chuvas anuais em uma estação definida. Estes problemas geram uma série de
ineficiências nas operações unitárias como os aumentos no tempo de carregamento, no
tempo de transporte, no número de equipamentos de transporte necessário para manter a
taxa de produção, no custo de manutenção dos caminhões, na necessidade de manutenção
da pista de rodagem, além do aumento de risco de acidentes e na redução da vida útil dos
pneus. Todos estes problemas costumam ser tratados de forma individual, enquanto a
drenagem não é planejada de maneira integrada com os demais elementos do
planejamento de mina.
Destoando dos demais projetos de engenharia, os projetos de mina são, por vezes,
carentes de elementos fundamentais ao bom funcionamento do empreendimento. É o caso
do projeto de drenagem, o qual não costuma fazer parte de um projeto de mina, muito
menos da sua sequência de avanços de forma sistemática e planejada. Os softwares
amplamente utilizados de planejamento de mina costumam lidar com tarefas como a
criação de cava ótima, pushbacks, sequenciamento matemático dos blocos de lavra,
cálculos de VPL (Valor Presente Líquido), etc. No entanto, a execução dos planos gerados
pode ser comprometida pela presença de uma quantidade de água não prevista pelo
planejamento de lavra.
Verifica-se ainda, que a maioria dos projetos de mina não contém um projeto de
drenagem. Por isto, garantir o funcionamento da operação, mesmo sem a existência de
um plano de drenagem de longo prazo, torna-se atribuição dos setores de curto prazo e
operação da mina. Estes, por sua vez, podem fazer uso de tecnologias emergentes como
o mapeamento com VANTs (Veículos Aéreos não Tripulados) para analisar as condições
da superfície da mina e prever sua resposta a condições meteorológicas adversas. A
abordagem apresentada nessa dissertação traz uma proposta analítica e preventiva para a
questão da construção de um sistema eficiente de drenagem, evitando consequências
críticas das chuvas intensas. Estas, costumeiramente são percebidas somente quando é
tarde demais para ações preventivas, restando apenas alternativas remediativas e tardias,
as quais possuem alto custo e baixa eficiência.

11
1.1. Relevância do Tema

A mineração é uma indústria de alta relevância na sociedade. Por isto, manter as


operações com altos índices de desempenho, e reduzir os riscos associados é de alto valor
tanto para a empresa mineradora quanto para a sociedade como um todo.
Uma das principais fontes de ineficiências em minas a céu aberto é a má gestão
das águas. Isto traz uma série de problemas de operação e segurança, os quais reduzem a
produtividade e aumentam o custo por tonelada extraída. Com custos elevados e
produtividade reduzida, as empresas do setor que não executam boas práticas de
planejamento de drenagem acabam perdendo competitividade.
Em adição às questões econômicas, a presença de água aumenta os riscos para
pessoas e equipamentos. As condições de rodagem das estradas internas de mina são
prejudicadas devido à presença de regiões de acúmulo e fluxo de água sobre pistas.
Setores inteiros de minas podem ser alagados, gerando riscos aos trabalhadores. Até
mesmo a estabilidade de taludes pode ser comprometida, considerando a possibilidade de
o fluxo de águas gerar erosão, que pode ser causa de descontinuidades, além do aumento
das tensões devido à presença de uma massa significativa de água em maciços rochosos
ou terrosos (pressão hidrostática).
Portanto, planejar o comportamento da água superficial na operação de maneira
sistematizada e integrada às demais atividades do planejamento e operação de mina é
fundamental para garantir a competitividade da empresa mineradora, e para melhorar as
condições de trabalho e segurança dos seus colaboradores, bem como da sociedade como
um todo.

1.2. Justificativa

Dada a importância da indústria da mineração, bem como a abundância de chuvas


intensas concentradas em estações definidas, faz-se fundamental desenvolver maneiras
de planejar e gerir de maneira adequada a presença de águas meteóricas em minas a céu
aberto. Por isto, esta dissertação busca propor abordagens que agreguem rigor técnico,
contribuam para a eficiência operacional das minas e reduzam os riscos às pessoas
presentes nestas operações.

12
1.3. Meta

Desenvolver uma metodologia de diagnóstico da condição presente da superfície


da mina, contemplando a previsão de comportamento hidrológico, que permita antecipar
problemas relacionados a águas superficiais e que possa ser incorporado ao projeto de
drenagem de minas à céu aberto.

1.4. Objetivos

Para atingir a meta proposta, propõem-se os seguintes objetivos:


1) Estudar maneiras de quantificar chuvas intensas e prever sua frequência;
2) Investigar e testar ferramentas capazes de analisar o comportamento da superfície da
cava frente solicitações hídricas;
3) Dimensionar e incorporar os elementos hidráulicos compatíveis;
4) Desenvolver uma metodologia de inclusão do sistema de drenagem ao longo do
planejamento de mina;
5) Analisar a aplicabilidade do mapeamento com VANT no diagnóstico de problemas
relacionados a águas superficiais em mina à céu aberto;
6) Desenvolver processos que permitam a detecção rápida de focos de irregularidades
na superfície da mina através de mapeamento com VANT.

1.5. Metodologia

Foram desenvolvidas duas metodologias. A primeira, de planejamento do sistema


de drenagem, consiste em analisar as condições pluviométricas e hidrográficas do local
da mina e projetar, com base nas cavas operacionais, elementos hidráulicos adequados
para os cenários de avanço da lavra. A segunda metodologia, de diagnóstico do sistema
de drenagem, propõe o uso de VANT para modelar a superfície do terreno em uma
resolução alta o suficiente para permitir o apontamento de áreas de acúmulo e linhas de
fluxo de água na mina.
Ambas metodologias partem de estudos bibliográficos e foram aplicadas em
estudos de caso, sendo a primeira metodologia implementada em um estude de caso
teórico, e a segunda implementada em uma área real de mineração. Através destes estudos
de caso, as metodologias tiveram seus resultados avaliados, e podem ser implementados
em minas a céu aberto em geral.

13
1.6. Estrutura da Dissertação

Esta dissertação está organizada da seguinte maneira.


O capítulo 1 introduz a problemática estudada, abordando a sua significância, e
uma breve citação dos avanços relacionados à área de conhecimento. Além disto, são
demonstradas quais as contribuições este estudo pretende fornecer para a comunidade
científica e indústria da mineração.
O capítulo 2 faz uma revisão geral dos conteúdos relacionados à drenagem de
mina ao longo das fases do planejamento de mina, bem como à sua inspeção e
monitoramento com VANTs.
O capítulo 3 apresenta estudos que contribuem para a criação de uma metodologia
de inclusão do planejamento drenagem de águas superficiais ao planejamento de mina de
longo prazo.
O capítulo 4 aborda a aplicação do mapeamento com VANT ao diagnóstico e
previsão de problemas hidráulicos em ambiente de mineração.
O capítulo 5 apresenta conclusões sobre as metodologias desenvolvidas, bem
como sobre suas aplicações nos estudos de caso apresentados. Além disto, sugere
desenvolvimentos futuros relacionados à temática da gestão de águas na mineração e
referencia os estudos que foram utilizados como base teórica para esta dissertação.
Destaca-se que todas as figuras sem a citação da fonte, são de autoria própria.

14
2. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE

2.1. Planejamento de Mina

2.1.1. Introdução

A mineração é uma atividade econômica bastante importante para a sociedade.


Nas últimas décadas, esta atividade econômica vem se tornando cada vez mais pautada,
não somente na maximização do lucro corporativo, mas sim nos pilares de ESG
(EcoAmbiental, Social, Governança). Através deste conceito, as mineradoras passam a
ter a sustentabilidade de seus negócios como missão junto à sociedade na qual atuam,
além de primar pelo respeito ao meio-ambiente, à sociedade e ao uso dos recursos
humanos, naturais e financeiros. O planejamento de mina, por sua vez, é a etapa em que
elementos técnicos como as tecnologias disponíveis, parâmetros operacionais, legais,
ambientais e sociais são integrados, em linha com a orientação estratégica da empresa,
dando origem ao projeto (“design”) de mina. Neste sentido, o planejamento é o elo entre
a viabilidade técnico-econômica de um empreendimento e as partes que o realizam e
fiscalizam.

2.1.2. Objetivos

O projeto de mina possui três objetivos básicos, são eles:


 Definir como e quando explotar uma jazida mineral, satisfazendo os objetivos dos
responsáveis pelo empreendimento;
 Reduzir as incertezas e conhecer os riscos associados ao empreendimento, e;
 Manter a flexibilidade do empreendimento frente às variáveis do projeto.

Para atender ao primeiro objetivo, utiliza-se um conjunto de técnicas as quais,


agrupadas, recebem o nome de planejamento estratégico de mina. Este projeto parte do
completo entendimento dos objetivos da empresa e traça as premissas para a realização
dos trabalhos futuros. Na maioria dos casos, como o proprietário do projeto é uma
empresa de capital privado, os objetivos do projeto são a maximização de benefícios,
minimização de custos, estabelecimento de competitividade no mercado e minimização
de riscos. No entanto, há casos, sobretudo de mineradoras estatais, em que os objetivos
podem ser outros, como a geração de emprego e renda para a população do país, a
soberania nacional ou a maximização do aproveitamento dos recursos minerais.

15
Para reduzir as incertezas e conhecer os riscos associados ao empreendimento, o
projeto estratégico de mina inclui uma série de estudos com vistas a determinação e
conhecimento dos limites técnicos de operação, como ângulos de taludes, taxa de
produção, etc. Estes estudos ganham crescente detalhamento à medida que o projeto
avança de acordo com as etapas do planejamento de mina.
Manter a flexibilidade do empreendimento frente às variáveis do projeto é
fundamental visto que existe uma enormidade de fatores incertos em qualquer projeto de
mineração. Os preços de venda podem variar para cima, fazendo com que o teor de corte
da mina diminua, ou variar para baixo, causando o efeito inverso. Novas tecnologias
podem reduzir os custos de operação, enquanto novas regulamentações mais restritivas
podem inviabilizar a lavra econômica de parcelas do depósito mineral que anteriormente
eram consideradas lucrativas. Isto é, diversos players podem impactar na execução de um
empreendimento mineiro. Por isto, o planejamento não pode contar com a execução exata
de um plano determinado com antecedência, mas sim manter-se flexível o suficiente para
permitir adaptações ao longo do percurso. Na prática, isto resulta na criação de diversos
projetos de mina, cada um apropriado a um cenário.

2.1.3. Projetos

O planejamento de qualquer empreendimento requer uma série de dados e


informações. No caso específico do planejamento de mina, há necessidade de dados e
informações de diversas naturezas, já que a mineração é, necessariamente, uma atividade
multidisciplinar. Alguns dos fatores modificadores que compõem o planejamento de mina
são:

 Estudos de Mercado - Um projeto de mina parte do princípio de que há demanda pelo


produto produzido. Esta demanda pode variar devido a diversos fatores como o
surgimento de uma tecnologia que utiliza a commodity ou variação na taxa de
crescimento de um país consumidor, por exemplo. Tanto estes fatores, relacionados
à demanda pelo produto da mina, quanto fatores relacionados às taxas locais que
incidem sobre a produção mineral, devem ser conhecidos com profundidade, sob pena
de aumento de risco de inviabilidade financeira do empreendimento. O conhecimento
destes parâmetros é fundamental para a criação do modelo econômico, que compõe o
planejamento de mina.

16
 Dados Geológicos – A mineração tem valor uma vez que gera uma commodity a partir
de jazidas minerais. Para que isso possa ocorrer, é necessário conhecer muito bem a
jazida explorada. Dados geológicos são classificados como hard data quando provém
de métodos diretos e de alta acurácia, como sondagens, ou como soft data quando
provém de métodos indiretos e de baixa acurácia como os métodos geofísicos e
geoquímicos. O conhecimento deste parâmetro é fundamental para a criação do
modelo geológico e geoestatístico, que compõem o planejamento de mina.

 Geomecânica – A geomecânica é responsável por quantificar e qualificar a


competência do material a ser explorado assim como do material vizinho, no qual as
operações de lavra também atuarão. Informações como a disposição espacial dos
planos de fraturas e falhas da jazida, resistência dos maciços geológicos e a
geomorfologia do depósito mineral devem ser mapeadas e compreendidas já que são
a base para a criação do modelo geomecânico que compõe o planejamento de mina.

 Estrutura de custos – Conhecer os custos do empreendimento a ser realizado é


fundamental para estimar o lucro resultante. A estrutura de custos de um projeto de
mineração é formada pelo CAPEX (Capital Expenditure) e pelo OPEX (Operational
Expenditure). O primeiro é composto pelos investimentos iniciais e intermediários
para compra de equipamentos, construção de instalações industriais e civis, aquisição
de imóveis, etc. Já o OPEX consiste nos custos de produção, tais como salários dos
colaboradores, compra de insumos e materiais necessários para operar o
empreendimento e produzir o produto. O conhecimento da estrutura de custos é
fundamental para a criação do modelo econômico, que compõe o planejamento de
mina.

 Insumos – A mineração é uma atividade industrial que demanda o consumo de uma


série de materiais que possibilitam a realização das tarefas ao longo de toda a cadeia
produtiva. Para realizar o desmonte de rochas precisa-se de explosivos, para
transportar material precisa-se de combustíveis e pneus, para manutenção das estradas
precisa-se de água, para beneficiar precisa-se de aditivos, etc. Exemplos não faltam
de produtos consumidos ao longo do processo. Em muitos casos, a disponibilidade de
insumos básicos como água e energia podem impor dificuldades intransponíveis à
viabilidade técnico-econômica do projeto. A boa estimativa acerca dos insumos
necessários e de seus custos é imprescindível para a criação do modelo econômico, o
qual compõe o planejamento de mina.
17
 Capacidade de disposição de rejeitos – A exploração de jazidas minerais costuma
obrigar as empresas a extraírem uma quantidade significativa de material que não
oferece benefício econômico. Este material precisa ser lavrado para permitir o acesso
ao minério. Assim sendo, nasce a necessidade de dispor este rejeito em algum local
onde ele crie impacto ambiental aceitável, sem que os custos inviabilizem a lavra
econômica do minério. A existência, ou possibilidade de criação de um local apto
para receber o rejeito da mina pode ser um parâmetro chave para criação do modelo
econômico do empreendimento e para o modelo geomecânico das pilhas de estéril,
os quais compõem o planejamento de mina.

 Orientação estratégica da empresa – Diferentes empresas fazem uso de diferentes


estratégias para atingirem seus objetivos, os quais também diferem de uma empresa
para outra. Há empresas que tratam o lucro como objetivo principal, enquanto outras
são baseadas no conceito de ESG (EcoAmbiental, Social, Governança), que buscam,
além de resultados financeiros, a sustentabilidade de seus empreendimentos.
Conhecer a orientação estratégica da empresa é fundamental para criação do modelo
econômico que compõe o projeto de mina.

 Recuperação e diluição do processo – Alguns depósitos minerais são extremamente


puros e contínuos. Neste caso, ocorre pouca diluição na operação de lavra enquanto
o beneficiamento pode chegar a ser desnecessário, sendo a recuperação do processo
considerada 100%. Em outros casos, a disposição espacial do minério pode tornar a
lavra seletiva inviável, e o beneficiamento mineral em grande escala pode ser
ineficiente, tornando a recuperação do elemento de interesse muito baixa. Estes
fatores técnicos tem impacto direto no modelo econômico do projeto, o qual faz parte
do planejamento de mina.

2.1.4. Modelos

Todos os parâmetros descritos na seção 2.1.3 consistem em dados ou


interpretações acerca de fatores que tem consequências sobre o projeto de mina. De posse
de todos estes parâmetros, são criados os seguintes modelos, os quais devem ser
construídos de maneira integrada. O objetivo é que a composição destes modelos forme
um conjunto, chamado de projeto de mina.

18
 Modelo geológico e de teores – A avaliação e modelagem dos parâmetros geológicos
(litologias ou tipologias), deve gerar um modelo que representa as características do
depósito mineral a ser explorado. Atualmente, utilizam-se ferramentas
computacionais para criação deste modelo. Existem diversas maneiras de criar um
modelo geológico de um depósito mineral, o mais utilizado deles é a criação de
sólidos ou superfícies que representam as zonas (rochas ou domínios) do depósito e
que, posteriormente, permitam a estimativa de teores. A representação do modelo
geológico se dá através de um modelo de blocos. Neste tipo de representação, divide-
se a jazida em um grande número de blocos de dimensões e posições finitas e
definidas. A cada um destes blocos são atribuídos parâmetros como litologia, teor de
minerais de interesse, teor de contaminantes, classificação (recurso/reserva), etc.
Visualmente, os modelos geológicos podem ser apresentados em seções (vertical ou
horizontal), o que costuma facilitar a análise e visualização. A Figura 1 demonstra um
exemplo de uma seção vertical em um depósito representado pelo modelo de blocos
colorido segundo a legenda de teores de ouro (Au em g/t).

Figura 1 – Exemplo de Modelo de Blocos

 Modelo Geomecânico – Os modelos geomecânicos são resultado da interpretação de


testes e avaliações dos engenheiros geotécnicos. A produção deste modelo depende
da análise de parâmetros geológicos, estruturais, hidrogeológicos e mecânicos. Como
resultado, o modelo geomecânico tem a função definir a geometria que assegure a
estabilidade dos taludes de cada região da mina. A Figura 2 apresenta um exemplo
de setorização de cava a céu aberto, contemplando as características geotécnicas
importantes para o projeto de mina, tais como altura de bancada possível e ângulos
de talude.

19
Figura 2 – Exemplo de modelo geomecânico
 Modelo Econômico – A análise integrada dos parâmetros que exercem influência
sobre os custos e receitas do projeto deve gerar uma estimativa do parâmetro chamado
de teor de corte. Este valor numérico consiste no limiar entre as parcelas de material
considerada minério (que geram lucro) e as parcelas considerada estéril (que não
geram lucro). De posse deste fator e dos demais parâmetros, calcula-se a chamada
função benefício, representada pela diferença entre a receita e o custo associado à
produção de cada parcela do depósito mineral. O resultado disto é a estimativa do
benefício gerado pela mineração de cada bloco, possibilitando o sequenciamento e
criação de um fluxo de caixa estimado para o empreendimento.

Considerando os modelos gerados, utiliza-se algoritmos matemáticos como o


algoritmo de Lerchs & Grossmann para geração de cavas otimizadas, também chamadas
de cavas matemáticas. Estes modelos são matematicamente ótimos, pois maximizam o
valor presente do projeto, considerando o valor da função benefício de cada bloco. A
Figura 3 exemplifica uma cava ótima.

Figura 3 - Exemplo de Cava Ótima

20
 Modelo Hidrogeológico – O comportamento da água em uma jazida mineral pode ser
simulado através de modelos hidrogeológicos. Este tipo de modelo é construído com
base em parâmetros litológicos ou pedológicos como a porosidade, a condutividade e
transmissividade hidráulicas, as descontinuidades da jazida, etc. Com base na
interpolação e análise detalhada destas informações, cria-se o modelo hidrogeológico
que permite compreender o comportamento da água na jazida mineral e, a partir disto,
construir elementos hidráulicos para aproveitar a presença de água da melhor maneira
possível, evitando seu impacto prejudicial sobre as operações unitárias.
Destaca-se que este modelo é de alta importância para compreender o
comportamento da água em sub-superfície. No entanto, ao longo das seções 3 e 4 deste
documento, são consideradas somente as águas superficiais e, portanto, não foi
considerada a interação de águas superficiais com águas subterrâneas.

2.1.5. Operacionalização de cava

Apesar da cava matemática ser calculada através de um algoritmo de otimização,


sua exequibilidade é apenas teórica. Isto porque a cava matemática não considera
premissas operacionais como a necessidade de estradas, áreas de manobra, drenagem,
taludes, bermas e outros.
Portanto, após a criação de uma cava ótima, determina-se um projeto de cava
operacional, o qual passa a incorporar os parâmetros operacionais projetados. Para isto,
softwares comercialmente disponíveis como o Datamine Studio OP®, Surpac®,
MinePlan® e Deswik® podem ser utilizados. Esses programas já possuem rotinas e
processos que facilitam a criação de projetos contendo estradas, rampas, taludes e
switchbacks. A Figura 4 exemplifica uma cava operacionalizada.

400
m
N

Figura 4 - Exemplo de Cava operacional

21
2.1.6. Sequenciamento de Lavra

2.1.6.1 Restrições técnicas

O sequenciamento é responsável por definir a ordem temporal na qual cada


parcela do depósito mineral será lavrada, respeitando as restrições técnicas ao longo do
desenvolvimento do projeto. Esta ordem temporal possui alto impacto na performance
econômica do empreendimento uma vez que ela permite que a operação tenha sua
continuidade garantida ao longo do tempo, evitando variações de produção e teores.
Na maioria dos projetos, busca-se a maximização do VPL do projeto como um
todo. Neste sentido, o sequenciamento sempre busca adiantar a lavra dos blocos de
minério que oferecem maior receita e postergar a lavra dos blocos estéreis. No entanto,
impõe-se a limitação técnica de que o acesso seguro aos blocos de alto teor de minério,
muitas vezes, só é possível mediante a lavra de blocos de baixo teor ou de estéril que os
sobrepõem. Neste caso, o sequenciamento leva em consideração os taludes
operacionalmente praticáveis, segundo o modelo geomecânico do depósito. Portanto, o
sequenciamento de lavra maximiza a função VPL, dadas as restrições técnicas.
Além dos aspectos geomecânicos, o sequenciamento de lavra também tem a
função de uniformizar o teor do minério que chega à usina de beneficiamento. Isto porque
as usinas são projetadas para um intervalo bastante específico de teor, e, por isto, o
beneficiamento apresenta alta performance quando o teor de entrada está neste intervalo.
A performance, no entanto, dada pela recuperação metalúrgica e pelo teor do produto
concentrado, é drasticamente reduzida quando o teor de alimentação se encontra fora da
faixa projetada. Por isto, na interface entre os setores de lavra e beneficiamento, costuma-
se realizar a operação de blendagem, na qual mistura-se minérios de diferentes origens da
mina, em proporções definidas, na intenção de entregar à planta de beneficiamento um
material semelhante ao que ela foi projetada para receber.
Outro parâmetro considerado durante o sequenciamento de mina é o Striping
Ratio, também chamado de Relação Estéril-Minério (REM). Este termo mede a relação
da quantidade de minério e de estéril lavrado. No sequenciamento de mina, é importante
que se planeje uma certa uniformidade no decorrer da vida útil da mina (LOM). Caso
contrário, os algoritmos que maximizam o VPL farão com que, no início das operações,
lavre-se somente o minério superficial, deixando as operações de lavra de estéril para o
final, o que produz problemas de ordem operacional, como a flutuação de investimentos
na frota de equipamentos, gerando um desequilíbrio técnico e econômico do
empreendimento.

22
2.1.6.2 Ferramentas

Dada uma cava ótima, existem inúmeras maneiras através das quais um projeto
de mina pode se desenvolver para atingir o estágio final. O sequenciamento de mina,
busca o melhor caminho, respeitando as restrições que se impõem. Com esta intenção,
são utilizadas ferramentas de sequenciamento de lavra. Algumas delas são algoritmos
computacionais como o método de programação linear e a análise de fluxo de rede, ambos
com pouca aplicabilidade em casos reais. Outras, como o conjunto de cavas aninhadas,
consistem na modelagem de cavas ótimas geradas a partir da variação de parâmetros de
projeto como o custo operacional, a taxa de desconto ou o preço de venda do minério.
Esta ferramenta apresentam maior aplicabilidade em casos práticos, e está demonstrada
na Figura 5. Nela, o avanço projetado da mina a cada ano, por exemplo, é representado
pelas superfícies demonstradas em seção. Cada uma das superfícies representa uma “fase”
de lavra, mas ainda puramente matemática,

Figura 5 - Exemplo de cavas aninhadas

2.2. Projeto Geométrico de Estradas na Mineração

2.2.1. Introdução

O projeto geométrico de estradas prevê a construção de vias de acesso a áreas


dentro e fora do depósito mineral. Este projeto deve observar questões relativas à
segurança, especialmente de pessoas e equipamentos na mina. Assim sendo, o projeto
geométrico de estradas na mineração deve considerar, segundo Vagaja (2010):
 A interação da estrada com seu usuário;
 O controle de velocidade;
 Layout das estradas, incluindo potenciais áreas de conflito;
 Sinalização
 Áreas de estacionamento
 Áreas de pedestre
23
Além de permitir o trânsito seguro de pessoas e materiais, as estradas devem ser
projetadas de maneira a maximizar o lucro da mina, minimizando custos como consumo
de combustíveis e desgaste de pneus, e maximizando parâmetros relacionados à
produtividade, como a velocidade média durante o ciclo de transporte. Por isto, é
importante que o projeto geométrico das estradas esteja integrado ao planejamento de
mina.
Segundo Thompson et al. (2019), o processo construção do projeto geométrico de
uma estrada, pode ser descrito pela seguinte sequência simplificada:
 Escolha de pontos de início e final da estrada;
 Decisão dos parâmetros geométricos da estrada (largura, drenagem, bermas de segurança,
posição de switchbacks, etc);
 Traço de uma rota para a estrada, considerando a topografia local;
 Determinação das inclinações da estrada;
 Verificação dos alinhamentos verticais e horizontais, levando em consideração os pontos
de visada dos equipamentos a serem utilizados;
 Verificação de intersecções e áreas de acesso às estradas, e;
 Criação de plano de drenagem.

2.2.2. Inclinação transversal da estrada

É importante que as estradas apresentem uma inclinação ao longo de sua seção


transversal para promover a drenagem de forma eficiente. A inclinação longitudinal não
deve exercer esta função pois ela não retira a água da estrada, mas sim conduz a água ao
longo de sua trajetória, promovendo o fluxo de água em alta velocidade e consequente
erosão. Duas configurações de inclinação transversal são possíveis: a inclinação central
(“Crown”) e a inclinação lateral plena (“Cross Slope”).
Na chamada inclinação “Crown”, o ponto mais alto da seção transversal localiza-
se no centro da estrada e os pontos mais baixos, nas extremidades. Neste caso, parte da
água escoa para o canal de drenagem interno, e parte para o canal externo do talude,
conforme demonstrado na Figura 6. Esta configuração de pista apresenta a desvantagem
de sobrecarregar sempre os mesmos pneus, já que, em vias de mão dupla que utilizam a
mão inglesa, por exemplo, os pneus do lado esquerdo do caminhão serão os mais
solicitados por absorverem maior parte da carga.

24
2% 2%

Figura 6 - Inclinação de pista – Tipo Crown

Na inclinação “Cross-Slope”, o ponto mais alto da seção transversal localiza-se


na extremidade externa do talude, conforme demonstrado na Figura 7. Desta forma, só há
necessidade de construção de um canal de drenagem paralelo à pista de rodagem, para
onde toda a água escoa por gravidade. Esta configuração geométrica da estrada apresenta
a vantagem de não sobrecarregar um dos lados do caminhão, já que uma parcela maior
da carga é depositada em diferentes lados do caminhão, dependendo do sentido do
deslocamento. Por outro lado, apresenta menor nível de segurança, especialmente em
estradas construídas em encostas de morro ou em situações onde a estabilidade de taludes
pode ser um ponto crítico da construção da estrada. Outro aspecto é o tempo de
permanência da água na superfície, uma vez que deve escoar por toda a extensão da
largura da pista até cair no dreno lateral.

2%

Figura 7 – Inclinação de pista – Tipo Cross-Slope

2.2.3. Largura das Pistas

De acordo com Thompson et al. (2019), a largura das pistas depende da largura
do maior equipamento (entenda-se caminhão) que será usado na operação, bem como da
quantidade de pistas paralelas no trecho. A largura total da estrada é dada pela Equação 1.
𝐿 = (1,5 ∗ 𝑉 + 0,5) ∗ 𝑋 Equação 1

25
Onde:
 L representa a largura da estrada;
 V representa a largura do maior veículo que transitará sobre a estrada, e;
 X representa o número de vias paralelas.
2.2.4. Berma de Segurança.

As bermas de segurança devem ser utilizadas na extremidade externa da pista por


motivos de segurança. Elas são projetadas para parar equipamentos que colidirem, bem
como desviar equipamentos que desviem sua rota, invadindo a extremidade da pista.
Assim sendo, é recomendado que a altura da berma seja igual a dois terços do diâmetro
da roda do maior caminhão.
2.2.5. Super-elevação

Assim como em estradas públicas, aplica-se super-elevação em curvas de estradas


de mineração para reduzir os efeitos da força centrífuga sobre equipamentos de transporte.
A super-elevação deve variar com a velocidade dos equipamentos no trecho e com o raio
da curva conforme a Tabela 1, extraída de Mining Haul Roads: Theory and Practice. Ao
projetar a super-elevação, além de respeitar as relações proporcional com a velocidade e
a inversamente proporcional com o raio da curva, é importante não exceder os limites que
podem levar ao tombamento de equipamentos quando estes não estiverem sob ação de
força centrífuga. Por isto, super-elevações superiores à 5% devem ser acompanhadas de
medidas extra de segurança, e superiores à 10% não são recomendadas.
Raio da Velocidade (km/h) e super-elevação (m/m)
Curva 15 20 25 30 35 40 45 50 55
50 0,035 0,060 0,090
75 0,025 0,045 0,070 0,090
100 0,020 0,035 0,050 0,075 0,090
150 0,020 0,025 0,035 0,050 0,065 0,085
200 0,020 0,020 0,025 0,035 0,050 0,065 0,800
300 0,020 0,020 0,020 0,025 0,035 0,045 0,055 0,065 0,800
400 0,020 0,020 0,020 0,020 0,025 0,035 0,040 0,050 0,060
500 0,020 0,020 0,020 0,020 0,020 0,025 0,030 0,040 0,040

Tabela 1 – Super-elevação indicada conforme velocidade e raio da curva. Fonte:


Thompson et al., 2019

2.2.6. Raio de curvatura

Todas as curvas devem ser projetadas com o maior raio possível. No entanto,
curvas de raio menores de 200m costumam ser necessárias. Neste caso, o raio de
curvatura mínimo (R) deve respeitar a Equação 2.
R = Vo² / (127 (Umin + e)) Equação 2

26
Onde:
 Vo = Velocidade do equipamento de transporte (km/h)
 Umin = Coeficiente de fricção (depende do tipo de terreno)
 e = Super-elevação (m/m)

Assim sendo, o planejamento de mina deve considerar os efeitos da criação de


switchbacks e curvas de raio pequeno sobre a velocidade de transporte de material, pois
ela pode tornar necessária a criação de limites de velocidade mais restritivos para regiões
de curvas acentuadas. O projeto geométrico inicial de uma estrada deve ser cuidadoso
quando não há dados disponíveis acerca do material da estrada.

2.3. Pluviometria

A pluviometria é a ciência que estuda a quantificação de chuvas. Assim sendo,


para efeitos de projetos de engenharia, ela se divide em duas áreas: a discretização de
eventos pluviométricos, e a relação da incidência de chuvas intensas com a sua frequência
de ocorrência.

2.3.1. Distribuição temporal da precipitação

Chuvas não ocorrem de maneira uniforme, e sua distribuição temporal é fator


crítico em projetos hidráulicos. Sendo assim, é necessário quantificar e representar a
distribuição temporal das precipitações. O hietograma é o gráfico que demonstra a
distribuição de um evento pluviométrico em função do tempo. Para sua construção,
realizam-se medidas de chuva acumulada em determinados intervalos de tempo, e os
resultados são demonstrados em gráficos de barras, como demonstrado na Figura 8.
25
Intensidade de chuva (mm/h)

20

15

10

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5
Tempo (h)

Figura 8 - Exemplo de Hietograma

27
Um hietograma de projeto consiste no gráfico que demonstra a distribuição
temporal de uma chuva intensa, de tempo de retorno Tr, para qual o dimensionamento
dos elementos hidráulicos será realizado.

2.3.2. Frequência de ocorrência de chuvas intensas

No estudo e dimensionamento de sistema de drenagem de mina, deve-se


considerar as condições pluviométricas do local planejado do empreendimento. Neste
sentido, é importante que as condições pluviométricas conhecidas em detalhe digam
respeito aos momentos de chuvas intensas, já que estas serão os pontos críticos do
funcionamento do sistema de drenagem. Chuvas intensas, também chamadas de chuvas
extremas, são aquelas que apresentam grandes lâminas precipitadas em pequenos
intervalos de tempo Araújo et al. (2008). Segundo Cecílio et al (2009), por causar grandes
escoamentos superficiais, as chuvas intensas são capazes de provocar prejuízos tanto em
áreas urbanas quanto em áreas rurais, como inundação de terras, erosão do solo,
assoreamento, dentre outros. Por isto, a sua quantificação, bem como o conhecimento da
forma como se distribui temporal e espacialmente são de extrema importância em estudos
relacionados a dimensionamentos de projetos hidráulicos, como de irrigação, drenagem,
disponibilidade de água para abastecimento, obras de controle de inundação e erosão do
solo, etc. Cecílio et al. (2009); Rodrigues et al. (2008); Santos et al. (2010).
A medida quantitativa dessas chuvas pode ser realizada através da utilização de
uma equação de chuvas intensas, conhecidas como curvas ou equações intensidade-
duração- frequência (Equação IDF), as quais relacionam a duração de uma chuva de
determinada intensidade com o seu período de retorno, o qual é inverso da sua frequência
de ocorrência Damé et al. (2008). Segundo Villela (1975), a equação que melhor se adapta
às curvas IDF é a Equação 3.

aTrb
I = (t+c)d Equação 3

Onde:
 I representa a intensidade máxima média da chuva (mm/h),
 t representa o tempo de duração da chuva (min),
 Tr representa o tempo de retorno (anos), e
 a, b, c e d são coeficientes de ajustamento que variam conforme o local.

28
O ajuste dos parâmetros das curvas IDF é realizado a partir do tratamento
estatístico de medidas empíricas de dados pluviométricos para cada estação e local. A
Figura 9 demonstra um exemplo de Curva IDF de Porto Alegre, obtido na estação do IPH
(UFRGS). Pfaststertter (1957) foi pioneiro nesta área, ao estabelecer 98 equações de
chuvas intensas para diversas estações pluviométricas no país.

Figura 9 - Exemplo de Curva IDF. Fonte: Tucci (1993)

Outros estudiosos da pluviometria também propuseram outras maneiras de


quantificar a ocorrência de chuvas intensas. Alguns destes estudos podem ser encontrados
nas obras de Bell (1969), Ueahara(1980) e Chen (1983).
No Brasil, a CPRM disponibiliza equações IDF ajustadas para determinadas
localidades, através dos Atlas Pluviométricos do Brasil, disponíveis no seu endereço
eletrônico. Além disto, Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos do Departamento de
Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa desenvolveu um software
chamado Plúvio 2.1, que contém um banco de dados de parâmetros da curva IDF para
diversas localidades do país. Desta forma, é possível obter informações pluviométricas
acerca do local planejado da mina, as quais serão utilizadas para dimensionar um sistema
de drenagem adequado para cada situação.
Além disto, a ANA (Agência Nacional de Águas), disponibiliza em seu endereço
oficial (www.ana.gov.br) um banco de dados pluviométricos que cobre todo o território
nacional. De acordo com o “Denver Criteria Manual”, medidas pontuais de precipitação
podem ser utilizadas para estimar o índice de chuva de áreas de até 25km². Dado que este
valor dificilmente é superado por empreendimentos de mineração, é possível utilizar
medidas pontuais de precipitação para estimar a precipitação em áreas de mineração.

29
2.4. Hidrologia

Dado uma determinada condição pluviométrica, passa-se a estudar a interação das


chuvas com o meio físico. Assim sendo, sabe-se que as águas das chuvas se separam,
podendo ter diferentes destinos (infiltração, interceptação ou escoamento), e que os
escoamentos superficiais gerados possuem distribuições temporais importantes para o
dimensionamento de elementos hidráulicos. Portanto, este são temas abordados nos itens
2.4.1 e 2.4.2.

2.4.1. Separação das águas

Uma vez em contato com a superfície, as condições locais determinam se o


destino de cada parcela de água proveniente da chuva será a interceptação, a infiltração
ou o escoamento superficial.
A interceptação consiste na retenção de parte da precipitação acima da superfície
do solo (Blake, 1975). Este processo inclui a absorção de parte da precipitação pela flora
da região e faz parte do balanço hidrológico e ciclo hídrico da bacia hidrográfica. Além
disto, faz parte do processo de interceptação o acúmulo de água nas depressões do solo.
Esta água acaba não gerando escoamento superficial pois retorna ao ar através do
processo de evaporação ou infiltra, passando a fazer parte do escoamento subsuperficial
ou subterrâneo. Os processos de evaporação e evapotranspiração consistem na
transformação de água na fase líquida para vapor, transferindo a água para a atmosfera.
A infiltração é o processo de passagem de água da superfície do solo para as
camadas de subsuperfície e subterrânea. O processo depende de um gradiente não só
gravitacional, mas também de saturação dos espaços intersticiais do solo ou falhas da
rocha. Caso a superfície que recebe a precipitação encontre-se mais saturada do que o
subsolo, ocorre o fluxo de água da superfície para o meio subterrâneo, chamado de
infiltração, o qual retira uma parcela da precipitação da superfície, reduzindo o
escoamento superficial.
Para dimensionar sistemas de drenagem, é desejável que todos os processos de
infiltração e interceptação possam ser quantificados de maneira a determinar a
porcentagem de precipitação convertida em escoamento superficial (precipitação efetiva).
Para determinação desta porcentagem, existem duas metodologias: a utilização das
equações de infiltração (Equações de Horton e Green Ampt), como descrito por Sokolov
et al (1976) e a utilização das relações funcionais.

30
As relações funcionais baseiam-se nos estudos desenvolvidos por Koehler et
al (1962), bem como SCS (1957) e consistem em três etapas:
1a: Determinar o curve number (CN), com base no enquadramento das
características da superfície em uma das listadas da tabela SCS-CN, disponível na obra
de Mishra et al. (2003). Nesta tabela, não foi descrita uma superfície típica de cava de
mina. No entanto, pode-se encontrar a descrição de superfícies com material exposto, o
que é uma das características das cavas de mina. Assim sendo, as superfícies de cava de
mina podem receber os seguintes CNs, dependendo do material que a reveste:
 77 para superfícies altamente absorventes de água, como solos arenosos
profundos;
 86 para superficies moderadamente absorventes de água, como solos
arenosos pouco profundos;
 91 para superficies levemente impermeáveis, como solos levemente
argilosos;
 94 para superficies altamente impermeáveis, como solos argilosos
profundos ou rocha sã exposta.

2a: Aplicar uma correção ao parâmetro CN baseado na condição prévia de


humidade do solo. Isto é necessário, uma vez que superfícies de mesma composição
apresentam permeabilidades diferentes, dependendo da abundância ou falta de
precipitações prévias. Esta correção é feita através do enquadramento da área de estudo
em uma das seguintes condições:
 Condição A: Superfície seca. Precipitações acumuladas nos últimos 5 dias
inferior à 13mm.
 Condição B: Humidade natural da superfície.
 Condição C: Superfície saturada devido a precipitações consideráveis nos
dias anteriores.
Após a classificação da condição de umidade da superfície, o parâmetro CN
previamente estimado é reduzido, caso a condição de umidade seja a Condição A, ou
aumentado, caso a condição de umidade seja a Condição C. Esta modificação ocorre de
acordo com a Tabela 2.

31
Tabela 2 - Correção da curve number (CN). Fonte: Tucci (1993)
CONDIÇÃO DE UMIDADE
A B C
100 100 100
87 95 98
78 90 96
70 85 94
63 80 91
57 75 88
51 70 85
45 65 82
40 60 78
35 55 74
31 50 70
26 45 65
22 40 60
18 35 55
15 30 50
12 25 43
9 20 37
6 15 30
4 10 22
2 5 13

3 ª: Multiplicar a CN corrigida pela precipitação total medida ou estimada, para


obter a precipitação efetiva, conforme Equação 4.

Pef (mm/h) = P (mm/h) x CN Equação 4


Onde:
 Pef representa a precipitação efetiva (mm/h),
 P representa a precipitação total (mm/h), e
 CN representa o curve number, obtido através da Tabela 2.

2.4.2. Distribuição temporal da vazão

Além de determinar qual parcela da precipitação se converte em escoamento


superficial (precipitação efetiva), é necessário conhecer a distribuição temporal da vazão
gerada pela precipitação efetiva. Neste sentido, sabe-se que as condições hidrológicas da
bacia hidrográficas exercem grande influência na distribuição temporal da vazão do
escoamento superficial. Por exemplo, a Figura 10 demonstra os escoamentos superficiais
gerados por uma mesma precipitação dada a geometria da bacia hidrográfica. Em bacias
radiais ou arredondadas, o tempo de concentração (tempo necessário para a água
precipitada no ponto mais distante da bacia se deslocar até o exultório da bacia
hidrográfica) é menor, o que torna o pico de vazão mais intenso e adiantado, em relação
às bacias alongadas.

32
Figura 10 - Hidrograma de bacia radial x alongada. Fonte: Tucci, 1993.

Como mostra a Figura 11, uma determinada distribuição temporal de precipitação


(tema da seção 2.3.1), representada por um gráfico chamado de hietograma, gera uma
distribuição temporal de vazão (escoamento superficial), representada por um gráfico
chamado de hidrograma.

Figura 11 - Hietograma x Hidrograma

O hidrograma informa muito sobre a distribuição temporal da vazão através dos


seus elementos, os quais estão demonstrados na Figura 12. São eles:
 O tempo de concentração (tc), que é característico da bacia hidrográfica, é o tempo
necessário para a água precipitada no ponto mais distante da bacia se desloque até o
exultório.
 O tempo de pico (tp) é o tempo transcorrido entre o centro de massa da precipitação e o
momento onde ocorre o pico de vazão.
 O tempo de recessão (tr) é o tempo necessário para a vazão diminuir até o momento em
que é cessado o escoamento superficial.
 O tempo de base (tb) é o tempo transcorrido entre o início da precipitação e aquele em
que o escoamento superficial já terminou.

33
Figura 12 - Parâmetros do hidrograma. Fonte: Tucci (1993)
Em projetos de engenharia, como a construção de canais, diques, condutos,
bueiros, bombas, escadas hidráulicas, e outros, o pico do hidrograma é o parâmetro básico
para dimensionamento dos elementos hidráulicos. Por isto, conhecer ou estimar o
hidrograma do projeto é de suma importância para o dimensionamento de um sistema de
drenagem.

2.5. Hidráulica

A hidráulica é a ciência que se dedica ao conhecimento do comportamento dos


fluidos em movimento e em repouso. Em um projeto de engenharia, é preciso conhecer
as condições pluviométricas e hidrológicas (abordadas nos itens 2.3 e 2.4) para, em
seguida, dimensionar elementos hidráulicos adequados à condução ou armazenamento de
recursos hídricos.
Todos os elementos hidráulicos são dimensionados de maneira a suprirem uma
determinada vazão, denominada vazão de projeto. Esta vazão pode ser calculada através
de três diferentes métodos: o método das convoluções, o método racional e o método do
hidrograma sintético unitário.

2.5.1. Método das Convoluções

A aplicação do método das convoluções depende da pré-existência de medições


horárias de precipitação de chuvas intensas na área onde o sistema de drenagem será
construído, o que é bastante incomum em áreas de mineração. Caso esta informação esteja
disponível, cada precipitação horária gera um hidrograma, através do emprego das
Equações 5 a 9. Estes hidrogramas são convoluídos para a criação de um hidrograma que
representa as vazões geradas por uma chuva intensa cujo pico será utilizado para
dimensionar os elementos hidráulicos. Na Figura 13, as linhas q1 a q5 representam as
vazões geradas pelas medições horárias de precipitação, enquanto a linha q6 consiste em

34
um hidrograma da bacia hidrográfica e representa a vazão resultante da precipitação como
um todo. O pico deste hidrograma pode ser utilizado para dimensionar elementos
hidráulicos.

18
16
14
Q (m³/s) 12
10
8
6
4
2
0
0 2 4 6 8 10 12
t (h)
q1 (m³/s) q2 (m³/s) q3 (m³/s)
q4 (m³/s) q5 (m³/s) q6 (m³/s)

Figura 13 - Convolução dos hidrogramas horários

2.5.2. Método Racional

O método racional estima a vazão de projeto (Q) a partir de uma única equação
(Equação 5) bastante simples, o que facilita sua utilização. Sua aplicação depende da
correta estimativa de todas as suas variáveis.
𝑄 = 0,278 𝐶 . 𝑖 . 𝐴 Equação 5

Onde:
 Q é a vazão de projeto (m³/s);
 C é o coeficiente de escoamento superficial (adimensional);
 i é a intensidade da chuva de projeto (mm/h), e;
 A é a área de drenagem (km²).

A utilização deste método leva em consideração uma série de hipóteses, as quais


geralmente são verdadeiras em bacias de até 2km² de área. São elas:
 A uniformidade espacial da precipitação na bacia;
 A uniformidade temporal da precipitação ao longo do tempo de ocorrência da chuva;
 A uniformidade do coeficiente de escoamento superficial;
 A igualdade entre a duração da chuva e o tempo de concentração da bacia.

35
A primeira variável do método racional é o coeficiente de escoamento
superficial C, que concentra todas as especificidades da bacia hidrográfica estudada. Seus
valores foram medidos de maneira empírica em diversos estudos como ASCE (1969) e
Wilken (1978). No entanto, dada a área de interesse contemplada neste documento,
recomenda-se utilizar a Tabela 3, de Pinheiro (2011).

Tabela 3 - Coeficientes de Escoamento Superficial


TIPOLOGIA DE USO DO SOLO COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Sem vegetação (solo exposto) 0,65 / 0,40
Campo natural (vegetação baixa) 0,50 / 0,30
Arbusto cerrado (vegetação média) 0,45 / 0,30
Floresta e matas densas 0,05 / 0,20
Áreas de cultivo (sem curvas de nível) 0,35 / 0,25
Cava 0,60 / 0,70
Pilhas de estéril (fase inicial, superfície
exposta) 0,60 / 0,50
Pilhas de estéril (fase final, c/cobertura vegetal) 0,50 / 0,30
Taludes de barragens gramados 0,50 / 0,30

A segunda variável do método racional é a intensidade da chuva de projeto (i),


que deve ser relativa a uma chuva com duração igual ao tempo de concentração da bacia
hidrográfica (tc). O tempo de concentração está relacionado a aspectos geométricos da
bacia hidrográfica de acordo com a Equação 6 (Equação de Kirpich).
0,385
𝐿3
𝑡𝑐 = 57 . ( 𝐻 ) Equação 6

Onde:
 tc é o tempo de concentração da bacia (min);
 L é o comprimento do maior talvegue (km), e;
 H é a diferença de elevação entre o ponto mais alto da bacia e o seu exultório (m).

Assim sendo, a intensidade utilizada para dimensionar elementos hidráulicos deve


ser determinada através da Equação IDF (Equação 3), onde a, b, c e d são coeficientes
que dependem do local analisado, Tr é o tempo de retorno definido com base no nível se
segurança necessário para o elemento hidráulico, e t=tc (determinado pela Equação 6).
E finalmente, a variável A do método racional é a área de drenagem da bacia A.

36
2.5.3. Método do Hidrograma Sintético

Quando a área da mina excede os 2km² e não há disponibilidade de medidas


horárias de precipitação, é necessário utilizar o método do hidrograma sintético. Este
método se baseia na criação de um hidrograma a partir das Equações 6 a 9, que é
representado pela Figura 14. Segundo este método, a vazão de pico, utilizada para
dimensionar elementos hidráulicos pode ser obtida através da Equação 9.
𝑡𝑝 = 0,5. 𝛥𝑡 + 0,6. 𝑡𝑐 Equação 7
𝑡𝑏 = 2,67 . 𝑡𝑝 Equação 8
2.𝑃𝑒𝑓.𝐴
𝑄𝑝 = Equação 9
𝑡𝑏

Onde:
 tc, tp e tb já foram descritos na seção 2.4.2.;
𝑡𝑐
 𝛥𝑡 é o intervalo de tempo de referência, deve-se adotar 𝛥𝑡 = ;
5

 𝑄𝑝 é a vazão de pico (m³/s)


 𝑃ef é a precipitação efetiva (mm),
 𝐴 é a área da bacia (Km²)

Figura 14 – Hidrograma Sintético. Fonte: Tucci (1993)


A precipitação efetiva depende do parâmetro S (capacidade de absorção do solo),
o qual é estimado através da Equação 10. O parâmetro P, presente na Equação 11
representa a precipitação total, em mm.
S = (25400 / CN) – 254 Equação 10
Pef = (P - 0,2*S) ² / (P + 0,8*S) Equação 11

37
2.5.4. Elementos hidráulicos

Pode-se dizer que, assim como qualquer obra de engenharia, os elementos


hidráulicos são construídos para falhar. A probabilidade de falha pode ser controlada
tendo em vista o risco assumido pela empresa de mineração. Assim sendo, cada empresa
deve estabelecer os critérios de construção e implementação destes elementos tendo em
vista que a probabilidade de falha está relacionada ao tempo de retorno da chuva para
qual o elemento foi projetado conforme a Equação 12. O tempo de retorno utilizado para
dimensionar elementos hidráulicos em minas a céu aberto é frequentemente determinado
por órgãos fiscalizadores, quando do licenciamento da obra. Quando isto não ocorre, a
empresa é livre para realizar uma análise de custo e benefício do elemento.
P = 1 – qn Equação 12
Onde:
 P = probabilidade de falha
 q = 1 – (1⁄Tr), onde Tr é o tempo de retorno da precipitação projetada
 n = vida útil projetada do elemento hidráulico

Peppers (2011) recomenda o uso de precipitações com Tr de até 25 anos para


dimensionamento de elementos hidráulicos com vida útil de até 10 anos, o que é comum
na construção de estruturas temporárias para operação de minas. Elementos que devem
ter vida útil semelhante ao LOM devem ser dimensionados projetando uma precipitação
de Tr entre 25 e 100 anos, caso de elementos necessários para paralização temporária de
minas. Já os elementos ditos permanentes, como os drenos periféricos e demais elementos
presentes no projeto de fechamento de mina, devem ser dimensionados considerando
precipitações de Tr superior a 100 anos, bem como as barragens (Tr~1000), nas quais
também se considera o conceito de PMF (probable maximun flood) para definição do Tr.

2.5.4.1. Canais

A construção de canais superficiais deve considerar fatores de segurança para que


o elemento hidráulico tenha capacidade de escoar a vazão de pico para o qual ele é
projetado, evitado transbordamento. Para isto, o método adequado para dimensionamento
de canais parte da Equação de Manning (Equação 15), que resulta da união das Equações
13 e 14. Este elemento hidráulico deve ser construído em solo consolidado ou rocha,
evitando ao máximo a construção de canais em zonas de preenchimento (material
aterrado).

38
𝑄 =𝐴∗𝑉 Equação 13
2 1
𝑘
𝑉 = (𝑛) ∗ 𝑅 3 ∗ 𝑆 2 Equação 14
2 1
𝑘
𝑄 = 𝐴 (𝑛) 𝑅 3 𝑆 2 Equação 15

Onde:
 A = área inundada do canal
 V = Velocidade de escoamento da água no canal
 k = fator de conversão de unidades (1 para métricas e 1,486 para inglesas)
 n = coeficiente de rugosidade do canal, entre 0,010 e 0,050
 R = raio hidráulico do canal
 S = inclinação do canal (na direção de escoamento) (m/m)
 Q = vazão
 A = área da seção transversal ocupada por água

Esta equação, no entanto, tem pouca aplicabilidade direta uma vez que não define
o formato do canal. A Equação 16, por outro lado, correlaciona a vazão de projeto com
os aspectos geométricos do elemento hidráulico em formato trapezoidal como
demonstrado na Figura 15.
2
3 1
𝑘 𝑊𝑏∗𝑑+ℎ∗𝑑2
𝑄 = (𝑊𝑏 ∗ 𝑑 + ℎ ∗ 𝑑2 ) ∗ (𝑛) ∗ ( 1 ) ∗ 𝑆2 Equação 16
𝑊𝑏+2∗𝑑∗(ℎ+1)2

Onde:
Wb = Largura da base do canal
d = altura d’água
k = fator de conversão de unidades (1 para métricas e 1,486 para inglesas)
n = coeficiente de rugosidade do canal, entre 0,010 e 0,050
h = relação de inclinação da parede do canal
S = inclinação do canal na direção do escoamento

39
Figura 15 - Perfil de canal trapezoidal

O coeficiente de rugosidade do canal depende fundamentalmente do material que


o reveste, sobre o qual a água escoa. Valores adequados para este parâmetro podem ser
encontrados na Tabela 4, traduzido da obra de Arcement (1989).

Tabela 4 – Coeficiente de rugosidade (n)


Material de Tamanho médio do material Valor de n
revestimento de revestimento (mm) Canal retilíneo Canal curvilíneo
Canal arenoso
0,2 0,012 -
0,3 0,017 -
0,4 0,02 -
Arenoso 0,5 0,022 -
0,6 0,023 -
0,8 0,025 -
1 0,026 -
Canal construído em material estável ou planície de inundação
Concreto - 0,012 - 0,018 0,011
Corte em
- - 0,025
rocha
Solo firme - 0,025 - 0,032 0,02
Areia grosseira 1a2 0,026 - 0,035 -
Cascalho fino - - 0,024
Cascalho 2 a 64 0,028 - 0,035 -
Cascalho
- - 0,026
grosseiro
Seixos 64 a 256 0,030 - 0,050 -
Matacões >256 0,040 - 0,070 -

O dimensionamento de canal deve respeitar os limites de velocidade de


escoamento de água. O limite inferior tem a função de evitar a deposição de sedimentos
no canal, enquanto o limite superior tem a função de evitar a abrasão do revestimento do
canal.
Regularmente, a altura do canal é determinada pelo parâmetro (d) utilizado na
Equação 16. Em caso de obras civis, costuma-se utilizar uma altura extra, chamada de
Borda Livre (BL). O cálculo da Borda Livre pode ser realizado com base no

40
CETESB (1979), que determina que a vazão de projeto seja superestimada em 30% para
efeitos de dimensionamento de altura de canais. Alternativamente, utiliza-se fórmulas
para cálculo da Borda Livre (BL) em função de variáveis características do escoamento,
como as Equações 17 e 18, propostas respectivamente pelo critério de Denver, que pode
ser encontrado em Denver (2013).
1
𝐵𝐿 = (𝑦. 𝐾)2 Equação 17
1
( )
𝐵𝐿 = 0,60 + 0,037 ∗ 𝑣 ∗ 𝑦 3 Equação 18

2.5.4.2. Reservatórios

Reservatórios, comumente chamado de tanques ou sumps, são amplamente


utilizados na mineração para armazenar água de escoamento superficial, permitir a
sedimentação do material carreado, possibilitar o funcionamento contínuo do sistema de
bombeamento, controlar o transporte de sedimentos nos canais e evitar picos de fluxo
d’água nos demais elementos hidráulicos. De acordo com o Peppers (2011), aumentar a
capacidade dos reservatórios é a maneira menos custosa de reduzir riscos relacionados à
altos níveis de pluviometria sem reduzir a eficiência do sistema de bombeamento.
Tipicamente, um reservatório recebe a vazão dos canais, de preferência na cota mais alta
possível, evitando o aumento dos custos relacionados ao bombeamento.
Os tanques podem ser localizados em fundo de cava, em uma área aberta ao longo
do pit ou próximo a um switchback da estrada da mina. Estruturas geológicas como falhas,
fraturas ou deposições estratigráficas associadas à problemas de instabilidade
geomecânica devem ser mantidas afastadas dos tanques já que eles promovem a
infiltração, que causa aumento da instabilidade geomecânica nas descontinuidades. O
dimensionamento deste elemento hidráulico deve prever que o bombeamento funcione
durante um período razoável de tempo, e que o tanque seja completamente alagado por
chuvas intensas.
A necessidade de remoção de sedimentos do tanque é comum dado que o fluxo
d’água inevitavelmente transporta este tipo de material. Porém, se a limpeza de tanque
for muito frequente, pode ser necessário colocar em prática alguma estratégia como a
redução da velocidade do fluxo d’água, ou a interceptação prévia de sedimentos por um
“pré-tanque” onde a limpeza seja mais acessível e facilitada. Por isto, é aconselhável
realizar vistorias frequentes neste elemento, especialmente antes de períodos de chuva,
na intenção de verificar se o tanque não se encontra com a sua capacidade reduzida devido
à presença excessiva de sedimentos no seu interior.

41
O dimensionamento de tanques para armazenamento de água superficial é
resultado da estimativa de uma série de parâmetros hidrológicos da sua micro-bacia, bem
como de parâmetros de projeto. Dois dos principais parâmetros são determinados por
decisão do profissional responsável pelo dimensionamento: o tempo de retorno da chuva
de projeto, parâmetro que depende da importância do elemento hidráulico e das
consequências do seu dimensionamento; e a vazão da bomba hidráulica a ser instalada.
Escolhidos estes parâmetros, é necessário medir o comprimento do maior talvegue
da água de contribuição (L) e o maior desnível dentro desta área (H). Com base nestas
medidas, estima-se o tempo de concentração da micro-bacia (tc), através da Equação de
Kiprich (Equação 6)
0,385
𝐿3
𝑡𝑐 = 57 . ( 𝐻 ) Equação 6

O tempo de concentração (tc) calculado é utilizado como duração da chuva de


projeto (t), que se une ao tempo de retorno da chuva de projeto (Tr) como parâmetro de
entrada na Equação IDF que caracteriza a região onde o tanque será instalado, para
determinação da intensidade da chuva de projeto (I).
aTrb
I = (t+c)d Equação 3

Em seguida, utiliza-se a Tabela 3 para determinar o coeficiente de escoamento


superficial (C) mais apropriado para estimar a vazão de pico da chuva de projeto (Q),
através a aplicação dos valores de intensidade de chuva de projeto (I) e da área de
contribuição da microbacia (A) na Equação 5 (Equação do Método Racional).
𝑄 = 0,278 𝐶 . 𝑖 . 𝐴 Equação 5

A estimativa da distribuição temporal da vazão de entrada de água no tanque,


deste o início da chuva até a vazão de pico, e posteriormente da vazão de pico até o fim
da entrada de água no elemento hidráulico, pode ser realizada através do Método do
Hidrograma Sintético (Equações 7 e 8).
Assim, obtém-se a vazão de saída do tanque, que consiste na vazão da bomba
(constante até o fim do bombeamento), bem como a distribuição temporal da vazão de
entrada de água no tanque. Com isto, é possível estimar a estimativa do volume de água
no tanque desde o início da chuva até o esvaziamento do taque, através da diferença de
volumes acumulados de entrada e saída de água, conforme exemplificado nas Figuras 37
e 38. O volume do tanque, sem fator de segurança extra, consiste no máximo da curva
que representa a diferença entre os volumes acumulados de entrada (chuva) e saída
(bombeamento).

42
2.5.4.3. Diques

Os diques são elementos hidráulicos de direcionamento e retenção de água. No


entanto, ao invés de criar um caminho preferencial para o escoamento (como os canais),
os diques criam uma limitação no caminho natural de escoamento, fazendo com que o
fluxo ocorra em outro caminho e, normalmente promovendo o acúmulo d’água em
determinadas áreas. Os diques são pouco utilizados na mineração a céu aberto, mas são
intensamente utilizados no isolamento superficial de pequenas áreas como acessos a
minas subterrâneas ou mesmo em minas que utilizam o método de lixiviação in-situ.
Assim como na construção de canais, deve-se projetar diques considerando que o fluxo
de água deve ocorrer de maneira não erosiva, portanto com velocidades condizentes com
o material (revestimento) utilizado.

2.5.4.4. Condutos afogados

Os condutos afogados são elementos hidráulicos com a função de conduzir água


de montante para jusante. Sua geometria pode ser tubular ou celular, sendo sua seção
circular, quadrada ou retangular. Segundo Pinheiro (2011), as obras hidráulicas
compostas por estruturas de condução fechada não são dimensionadas para operar em
condição afogada, sendo esta uma condição limite para teste de operação ou definição de
curvas de descarga de bueiros ou sistemas de extravasamento.
Para dimensionamento de condutos afogados, deve-se conhecer a vazão de projeto
necessária (Q), a diferença dos níveis d’água a jusante e a montante (carga hidráulica), o
comprimento do elemento (L) e um esboço dos elementos que formarão o conduto. De
posse destas informações, utiliza-se a Equação 19 para dimensionar a área A da seção
transversal do conduto, considerando que ƩK é dado pela Equação 20.
1
Ʃ𝐾 2
𝐴 = 𝑄. (2𝑔.𝛥ℎ) Equação 19
19,62.n2 .L
ƩK = (ƩKe + ƩKs + ƩKl + ( 4 ) Equação 20
𝑅3

Onde:
 ƩK representa o somatório das perdas de carga total do conduto;
 ƩKe representa o somatório das perdas de carga pontuas da entrada do conduto
(ƩKe ≅0,50);
 ƩKs representa o somatório das perdas de carga pontuas da saída do conduto
(ƩKs ≅1,00);

43
 ƩKl representa o somatório das perdas de carga pontuas localizadas ao longo do conduto,
como mecanismos de registro, mudanças de direção, variação de espessura, bifurcação,
etc.
 n representa o coeficiente de rugosidade de Manning, e;
 R representa o raio hidráulico do conduto.

2.5.4.5. Bombas hidráulicas

Os principais elementos que determinam quais bombas hidráulicas devem ser


utilizadas são a altura manométrica (H) e a vazão (Q) do projeto. Existem três categorias
principais de bombas hidráulicas. São elas: centrífugas, mistas e axiais. A grande maioria
dos sistemas de drenagem de mina utilizam bombas hidráulicas centrífugas devido a sua
flexibilidade operacional. Além disso, sabe-se que operar um conjunto de bombas em
paralelo também aumenta a flexibilidade operacional, uma vez que permite o consumo
reduzido de energia para bombear pequenas vazões, ao mesmo tempo que permite o
bombeamento de vazões mais significativas através do uso de todas as bombas de maneira
simultânea. Geralmente, as bombas centrífugas podem operar em único estágio até uma
carga de 80m, com vazões de até 400m³/s.
De posse da vazão de projeto (Q) e da altura manométrica (H), toma-se o catálogo
de fabricantes de bombas hidráulicas, os quais fornecem um gráfico que demonstra todas
as suas famílias de bombas, organizadas de acordo com a sua faixa de operação, dada
uma rotação n(rpm) fixa. Através deste gráfico, exemplificado na Figura 16, seleciona-se
a família de bomba adequada. Neste gráfico, cada família de bombas é identificada por
dois números, os quais representam, respectivamente o diâmetro nominal na entrada da
bomba e a família de diâmetros do rotor, ambos em milímetros.

44
Figura 16 - Seleção família de bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013)

Selecionada a família de bomba mais adequada aos parâmetros de projeto, utiliza-


se um segundo gráfico, também fornecido pelo fabricante, que relaciona para a família de
bombas selecionada, os parâmetros de projeto (H e Q), a eficiência da bomba ( ) e o
diâmetro do rotor (Ø). A partir deste gráfico, exemplificado pela Figura 17, determina-se
o diâmetro de rotor que proporciona a maior eficiência da bomba, dados os parâmetros
de projeto.

Figura 17 - Seleção do diâmetro de rotor da bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013)


45
Em seguida, utiliza-se um terceiro gráfico, exemplificado pela Figura 18, para
calcular a potência da bomba hidráulica escolhida. O mesmo relaciona o diâmetro do rotor
escolhido (Ø) com a vazão de projeto (Q) com a potência do equipamento (P).

Figura 18 - Potência da bomba hidráulica. Fonte: KSB (2013)

É necessário ainda, verificar o NPSH de todo o circuito hidráulico projetado na


intenção de garantir que, dada a bomba hidráulica projetada, não haverá regiões onde a
pressão absoluta será igual ou inferior a pressão de vapor do fluido, evitando assim a
possibilidade de cavitação por vaporização do líquido.

2.5.4.6. Bueiros

Bueiros são estruturas de entrada de água destinadas a promover o fluxo de água


sob estruturas como aterros, estradas ou ferrovias. Esta obra hidráulica faz parte do grupo
de elementos que compõem a drenagem de minas e cidades, podendo apresentar
geometria circular, quadrada, retangular ou mesmo formas elípticas. Como mostra a
Figura 19 de Pinheiro (2011), os elementos mais importantes para o dimensionamento de
bueiros são a declividade (So), a área da seção transversal, a carga hidráulica a montante
(Hw), e a jusante (Ht), a profundidade normal do escoamento no interior da estrutura (yN)
e a profundidade crítica (yCR).

46
Figura 19 – Elementos construtivos de um bueiro. Fonte: Pinheiro, 2011.

Dadas as suas características construtivas, os bueiros podem conduzir fluxos


d’água em regime gradualmente variado, já que sempre ocorrem perdas de carga ao longo
do elemento hidráulico.
As equações básicas para dimensionamento de bueiros podem ser encontradas na
obra de Baptista (2006), considerando que a vazão de projeto deve ser dada pelo pico dos
histogramas de cheias, com um tempo de retorno de 25 a 50 anos.

2.5.4.7. Escadas Hidráulicas

As escadas hidráulicas são estruturas responsáveis por conduzir o fluxo de água


em trechos curtos de elevada declividade. Podem ser construídas em degraus de concreto
ou gabião, ou mesmo escavadas na rocha. Sobre estas estruturas, podem ocorrer fluxo
d’água de dois tipos: em quedas sucessivas (nappe flow) ou o escoamento deslizante sobre
vórtices (skimming flow), demonstrados na Figura 20. As variáveis do dimensionamento
deste tipo de elemento hidráulico são a altura (h), o comprimento (L) do degrau e a largura
da escada hidráulica.

Figura 20 - Tipos de escoamento nas escadas hidráulicas (CHANSON, 2002)

47
As equações utilizadas para dimensionar escadas hidráulicas dependem do tipo de
escoamento e são interativas. Portanto, ao invés de um cálculo manual, recomenda-se que
estas estruturas sejam dimensionadas através da utilização de um software livre,
desenvolvido pela UFMG, chamado SiCooH.

2.6. Drenagem na Mineração

A mineração a céu aberto é uma atividade inevitavelmente sujeita às condições


climáticas, pluviométricas e hidrológicas. Sendo assim, é indispensável a implementação
de obras que controlem os efeitos hidrológicos sobre o empreendimento. O conjunto das
obras que visam solucionar este tipo de questão é chamado de sistema de drenagem. Os
sistemas de drenagem de mina a céu aberto têm três objetivos principais (Bastos, 2000):
isolar águas externas da cava do ambiente interno da cava, proteger a cava dos efeitos
prejudiciais da água na mina e remover a água do interior da cava.
As águas externas ao pit têm necessidade de tratamento reduzida, e, normalmente,
podem ser escoadas sem o apoio de sistemas de bombeamento, o que promove a redução
de custos. Já as águas internas ao pit, normalmente precisam ser bombeadas para cotas
mais altas, promovendo o aumento de custos relacionados a bombas hidráulicas,
sobretudo, ao consumo de energia. Para atingir o primeiro objetivo, utiliza-se a chamada
drenagem periférica, que consiste na criação de elementos hidráulicos que evitem a
drenagem de água para o interior da cava e que conduzam essas águas externas à cava
para a cota mais baixa, como demonstrado na Figura 21.
Em grande parte das minas, as águas retiradas das cavas de minas, bem como as
águas de drenagem periféricas podem sofrer alterações significativas nas suas
propriedades químicas. Neste caso, faz-se necessário o tratamento destas águas, o que
pode ocorrer através de tanques de decantação ou de tratamentos químicos mais
complexos.

48
Figura 21 – Quadro geral da água em cava a céu aberto.

O segundo objetivo do sistema de drenagem é proteger a cava dos efeitos


prejudiciais da água na mina, especialmente nas estradas e nas frentes de trabalho. Sendo
assim, utilizam-se elementos hidráulicos como os canais, reservatórios, diques, drenos,
bueiros, escadas hidráulicas e vertedouros, para conduzir e armazenar os recursos hídricos
em locais adequados para o desenvolvimento dos serviços da mina. Além disto, direciona-
se as águas para os elementos hidráulicos através de uma inclinação topográfica na
direção destes elementos.
Uma vez que os dois primeiros objetivos estão cumpridos, a água externa à cava
não requer mais trabalho e a água interna já foi retirada das áreas onde causaria maior
transtorno. Assim sendo, o terceiro objetivo é remover a água do interior da cava, de
maneira a possibilitar que equipamentos de desmonte, transporte e carregamento possam
operar em condições favoráveis. Para isto, utilizam-se elementos de condução,
bombeamento e vertimento de água para o ambiente externo à cava, conforme ilustrado
na Figura 22 (LGEN, 2013).

49
Figura 22 – Fluxo de água em cava a céu aberto. Fonte: Pinheiro, 2011.

Além das águas superficiais, na maioria dos casos, as águas sub-superficiais e


subterrâneas também exercem influência sobre a segurança e a performance das
operações de mina. Por isto, os elementos de drenagem de mina também devem
considerar as surgências, nascentes e demais feições hidrogeológicas que exerçam
influência sobre a jazida mineral. Desta forma, o dimensionamento e posicionamento de
elementos hidráulicos proposto neste documento são parte do sistema de drenagem de
minas, e devem ser integrados aos elementos hidráulicos próprios para as águas de origem
não-superficial.

2.7. Mapeamento com VANT

O mapeamento com VANT vem se mostrado uma ferramenta eficiente e eficaz


na modelagem de áreas para diversos fins. Na mineração, em especial, a técnica é
utilizada para reconstituir o terreno de maneira bastante fiel, oferecendo suporte à
diversos setores da mineração (Peroni, 2017). O mapeamento com VANT consiste na
utilização de dados obtidos através de um sensor embarcado em uma aeronave não
tripulada, para então modelar uma feição/área.
No Brasil, o vetor, que pode assumir diversas nomenclaturas como VANT, UAV,
UAS, RPA, etc, tem sua atuação regulamentada por força de leis e decretos pelos órgãos
de fiscalização (ANATEL, ANAC e DECEA). Existem diversos modelos de aeronaves,
as quais podem ser classificadas como VANTs de asa fixa ou multirrotores. Os VANTs
de asa fixa são indicados para mapeamento de áreas maiores do que 200ha devido a sua

50
velocidade e autonomia de voo. Já os multirrotores apresentam como vantagens um
menor custo de aquisição, facilidade de operação e segurança em pousos e decolagens.
O sensor a ser embarcado no VANT depende da finalidade do levantamento.
Pode-se utilizar sensores geofísicos, câmeras termais, multiespectrais, LiDAR, etc. No
entanto, o sensor mais comumente utilizado é a câmera fotográfica com parâmetros
apropriados para coleta de imagens RGB para fins de reconstituição do terreno.
A técnica utilizada para reconstituir um objeto tridimensional a partir de imagens
de diferentes posições do mesmo é chamada Structure from Motion (SfM), descrita por
(Ullman, 1979), como demonstra a Figura 23. Esta técnica está implementada em uma
série de softwares como o Agisoft Metashape® e funciona com ou sem controle dos
dados. Isto é, o SfM permite a reconstituição de objetos tridimensionais a partir de
imagens obtidas por sensores de diferentes resoluções, qualidades, iluminação, etc. O
único parâmetro exigido para que o SfM seja eficaz é a sobreposição entre as imagens.
Isto é, para que o objeto/terreno seja reconstituído tridimensionalmente, é necessário que
ele seja observado de diversos pontos de vista.

Figura 23 – Representação do SfM

Assim sendo, é necessário criar um plano de voo que equalize a questão da


sobreposição entre as imagens, os limites regulamentares e de segurança, os limites
tecnológicos dos equipamentos utilizados (alcance do rádio-controle, por exemplo) e os
limites da bateria do VANT. Para isto, são utilizados softwares de planejamento de
mapeamento como Pix4D®, Ground Station Pro®, DroneDeploy®, MapPilot®,
DroneHarmony® e outros.
Além das fotos, o dataset de um levantamento é composto pelos pontos de
controle e pontos de verificação, que aferem acurácia ao modelo e verificam os erros
internos do modelo (relativos), assim como seu erro posicional (absoluto).

51
Na mineração, o mapeamento com VANT já é amplamente utilizado, dado que
sua utilização já foi comprovada por estudos como o de Beretta et al. (2018), que compara
a modelagem de uma mina realizada a partir de mapeamento com VANT, com os métodos
tradicionais de topografia.
Portanto o mapeamento com VANT produz um modelo digital do terreno
mapeado (MDT), ou DEM (Digital Elevation Model) o qual pode ser representado em
formatos raster ou vetorial (através de curvas de nível). Desta forma, o modelo gerado
em um software de processamento de dados, que utilize a técnica do SfM pode ser
importado em softwares tipicamente usados nas operações de geoprocessamento e
modelagem para mineração como ArcGIS®, Datamine Studio OP®, Sirovision®,
Surpac®, Deswik® e outros.

52
3. PLANEJAMENTO DE SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL

3.1. Apresentação da Metodologia

A existência de um sistema de drenagem de mina eficaz, que evite ou reduza os


efeitos de chuvas, que possa ser utilizado por longos períodos, e que não promova
elevação demasiada de custos de obra é condicionada a um planejamento adequado.
Como a mineração promove mudanças no terreno de maneira contínua durante anos
consecutivos, o sistema de drenagem não pode ser construído de uma única vez, mas
precisa avançar em compasso com o avanço da mina. Assim sendo, torna-se adequado
planejar um sistema de drenagem de mina, que será desenvolvido ao longo do avanço da
mina, visando dois objetivos:

 O sistema de drenagem deve ser suficiente para suprir as necessidades de


desaguamento da mina em cada uma de suas etapas, e;
 O sistema de drenagem deve avançar de maneira contínua, e não mudar bruscamente
de configuração de maneira frequente, ao logo do plano de longo prazo.

Para atingir estes objetivos, desenvolveu-se uma metodologia de planejamento de


sistema de drenagem que possui quatro etapas:
1) Análise das condições locais. Nesta etapa, os dados referentes às condições
hidrológicas do local onde se planeja instalar a mina são reunidas, assim como a
caracterização dos materiais que serão expostos a obras hidráulicas. Como resultado,
espera-se conhecer a Equação IDF (Equação 3) que diz respeito à mina, bem como o
coeficiente de escoamento superficial dos materiais.
2) Planejamento de macro-drenagem. Nesta etapa, reúnem-se os dados advindos do
projeto conceitual da mina, como configuração final de cava e a disposição de recursos
hídricos na cercania da mina para planejar os elementos mais importantes para a
drenagem da mina. Como resultado, espera-se determinar o posicionamento elementos
que formam a drenagem periférica da mina, bem como a posição do(s) tanque(s), de onde
haverá bombeamento.
3) Planejamento de micro-drenagem. Nesta etapa, são analisados os aspectos
operacionais da mina, em todas as suas fases. Avalia-se o posicionamento planejado de
estradas, taludes e frentes de lavra e, com isto, espera-se posicionar os elementos
hidráulicos permanentes e provisórios.

53
4) Dimensionamento de elementos hidráulicos. Nesta etapa, utilizam-se todas as
informações reunidas, bem como as equações apropriadas, para dimensionar os elementos
hidráulicos planejados, de acordo com a sua capacidade necessária (área de contribuição
e coeficiente de escoamento superficial), bem como duração planejada (elementos
permanentes ou provisórios).
Estas etapas sistematizam o fluxo de informações para que o dimensionamento
dos elementos hidráulicos leve em consideração as necessidades futuras planejadas. O
fluxo de trabalho da metodologia encontra-se representado na Figura 24.

Análise das Condições Locais Planejamento de Planejamento de


Macro-Drenagem Micro-Drenagem

Projeto
Solos
Conf. de Mina Fases de
Pluviometria
Final Lavra
Estradas

Recursos
Rochas
hídricos Taludes

Posicionamento de Tanques Posicionamento de elementos


Limites e Condicionantes hidráulicos dentro da cava
de Projeto Drenagem Periférica
Obras permanentes e
temporárias

Dimensionamento de
Elementos Hidráulicos

Figura 24 – Fluxograma do planejamento do Sistema de drenagem

3.2. Análise das condições locais

Há uma série de elementos físicos que exercem influência sobre a drenagem de


mina. Assim sendo, é importante que estes elementos sejam conhecidos e analisados
especificamente para a região onde se planeja implementar uma mina.
Em todo o Brasil, as condições pluviométricas podem ser analisadas através de
dados disponíveis no endereço eletrônico da Agência Nacional de Águas (ANA -
www.ana.org.br) ou das Equações IDF (Equação 3).
Além de medir e analisar as condições pluviométricas, é necessário delimitar a
área de abrangência de estudo. A existência de recursos hídricos de pequeno porte como
54
açudes e nascentes, bem como de grande porte como lagos, rios ou mar precisa ser levada
em conta. No Brasil, a ANA disponibiliza dados em seu endereço eletrônico acerca do
monitoramento dos recursos hídricos de maior porte na chamada Rede Fluviométrica
Oficial de Monitoramento dos Rios Brasileiros.
Durante o processo de planejamento de mina, é fundamental ter em mente os
limites impostos pela legislação local, a qual pode ser regulada pelo órgão nacional,
estadual ou municipal, dependendo do porte do empreendimento mineiro. Neste âmbito,
é fundamental consultar o Plano de Bacias da região. Este documento pode ser produzido
pelo órgão ambiental estadual, ou ANA, dependendo da região do país.
Estudos anteriores também são de grande valia como fonte de informação para o
planejamento de drenagem. No entanto, é necessário avaliar a confiabilidade das
informações antes de utilizá-las como base de projetos futuros. Por isto, é recomendável
a consulta a órgãos como a CPRM e o IBRAM, além de relatórios de pesquisa realizados
na região de interesse.
Outro elemento importante para a análise das condições locais da mina é a
topografia. Neste âmbito, a planta topográfica é o documento técnico que reúne todas as
informações necessárias. A mesma pode ser produzida com métodos tradicionais de
topografia, ou através de mapeamento com VANT, Beretta et al. (2018), dependendo da
cobertura do terreno.
Além de analisar todas as informações referentes ao local de implantação do
empreendimento mineiro, também é fundamental dispor do plano diretor da mina. Este
documento contém as premissas básicas para o projeto de mina como a localização da
cava, pilhas de estéril, barragens, usina, estoque, etc.

3.3. Projeto de drenagem

A seção 2.1.4 deste documento descreve alguns dos projetos que compõem o
planejamento de mina. Percebe-se que o projeto de drenagem não costuma fazer parte do
planejamento de mina, o que gera uma série de ineficiências, prejuízos financeiros e
operacionais. Assim sendo, propõe-se aqui uma maneira de conceber um projeto de
drenagem, integrado ao planejamento de mina.
O projeto conceitual de uma mina a céu aberto tipicamente é representado, além
de outros elementos, por um modelo digital representando uma configuração final de cava
operacionalizada (seção 2.1.). Neste estudo, propõe-se integrar esse produto normalmente
elaborado por softwares comerciais de planejamento de mina com softwares GIS

55
(Geographic Information System), para que o fluxo de água das cavas operacionais seja
analisado. A partir desta análise, é possível fazer alterações na superfície planejada e
projetar a implantação de elementos hidráulicos, de maneira que os fluxos de água
ocorram sobre os elementos hidráulicos corretamente dimensionados e posicionados. As
alterações a serem propostas na superfície variam para cada caso, mas, geralmente,
consistem em manter inclinações nas bancadas que direcionem o fluxo de água para os
elementos hidráulicos planejados (canais, diques, drenos, tanques e outros, até que por
fim esgotados por bombas hidráulicas quando necessário). Nesta proposta, considera-se
que o NA encontra-se abaixo de todo o projeto de mina, não havendo influência de águas
subterrâneas sobre o projeto.

3.3.1. Estudo de Caso

Para ilustrar a metodologia proposta, foi realizado o projeto conceitual de uma


mina a céu aberto, baseado em um conjunto de dados de campanhas de sondagens, e na
topografia regional. A partir das sondagens, foi criado um modelo de blocos, no qual
foram realizadas estimativas geoestatísticas na intenção de criar um modelo de teores do
depósito mineral. Em seguida, baseado no modelo geológico e nas premissas
geomecânicas e econômicas, bem como em algoritmos matemáticos de otimização, foi
criada uma cava ótima final (superfície matemática que maximiza o VPL do projeto),
além de superfícies intermediárias representando o desenvolvimento do projeto ao longo
do tempo (cavas aninhadas). Posteriormente, a inclusão de parâmetros operacionais
contemplando o projeto geométrico de acessos, (como largura da estrada, altura de berma
de segurança, inclinações longitudinal e transversal etc.), parâmetros geotécnicos como
ângulo de face de talude e largura de berma) são considerados para a criação das cavas
operacionais. A Figura 25a apresenta a topografia da área de interesse neste exemplo
antes da implantação da mina. Já a Figura 25b, apresenta a superfície topográfica da cava
operacional, considerada tradicionalmente a configuração final de cava de um
planejamento de mina.

56
N N

LEGENDA:
Elevação

400m 400m

25a (esquerda): Topografia prévia do terreno em planta. 25b(direita): Topografia da


configuração final da cava em planta
Figura 25 – Apresentação da topografia da área de mineração antes e depois da cava

3.3.2. Macro-drenagem

Dadas as condições locais abordadas na seção 3.1, é necessário avaliar os sentidos


de fluxos de escoamento superficial na área onde a mina será planejada. A partir da
superfície planejada da cava operacionalizada, resultante do planejamento de mina,
integrada com a topografia remanescente do entorno dessa cava, é possível avaliar quais
microbacias hidrográficas escoam para o interior da cava e quais irão escoar naturalmente
para o ambiente externo.
Em um primeiro momento, deve-se dar atenção à parcela de água que escoa para
o ambiente interno da cava e projetar canais que retirem da mesma o máximo de água
possível por gravidade. Em muitos casos, devido à inexistência de um divisor de águas
ao redor da cava, é possível direcionar todo o escoamento superficial através de canais,
evitando os custos de bombeamento. Desta forma, a água é direcionada para um
reservatório próximo à mina, para um tanque, para a barragem, uma estação de tratamento
ou dependendo da qualidade da água, diretamente para algum corpo hídrico nas cercanias
da mina, contemplando a regulamentação ambiental vigente. Para dimensionar os
57
elementos hidráulicos utilizados para escoar esta parcela do escoamento, devem ser
planejadas seções de controle, as quais dividem o fluxo hídrico em trechos. Para cada
seção, calcula-se a área de contribuição e, em seguida, a vazão de projeto.
Utilizando o software Deswik CAD 2019.4, foram analisadas as condições
hidrológicas da superfície representando a cava final do projeto, conforme apresenta a
Figura 25b. Como resultado, foram geradas delimitações de microbacias hidrográficas
(áreas de contribuição) e análises de posição e direção de fluxos de água. Esta primeira
análise, demanda que sejam feitas interpretações acerca das características hidrológicas
gerais da superfície que representa a cava operacional final. Através dela, é possível
interpretar o comportamento macro hidráulico da área influenciada pela construção da
cava, permitindo uma avaliação acerca da drenagem periférica. A Figura 26 apresenta
alguns dos elementos resultantes desta análise, dentre os quais destaca-se a existência de
duas áreas externas à cava, que, quando submetidas a precipitações, contribuem para o
escoamento superficial das águas para dentro da cava. Neste caso, portanto, são
identificadas áreas onde há necessidade de uso de elementos hidráulicos que evitem a
entrada de água na cava, atendendo ao primeiro objetivo da drenagem de mina. Estas
áreas estão representadas na Figura 26 pela cor marrom.

400m

400m

Figura 26 – Análise de macro-drenagem da configuração final de cava, vista em planta.

58
Para solucionar o problema de fluxo de água externa à cava para o interior da
mesma, apontado pela análise representada pela Figura 26, dois canais periféricos foram
projetados e estão representados na Figura 27. Os canais periféricos localizados ao norte
da cava possuem aproximadamente 300 metros de comprimento cada, e inclinação de
1%, já que a área é bastante plana. Já o canal periférico posicionado ao sul da cava possui
1.300 metros de comprimento e inclinação de 2%. A posição e inclinação destes canais
periféricos foram determinados com base na análise topográfica da superfície
representada na Figura 26. A análise do resultado da construção de canais periféricos é
apresentada juntamente com o resultado da construção dos demais elementos hidráulicos,
no capítulo de análise de resultados.

LEGENDA:
Elevação

400m

Figura 27 – Configuração final de cava com projeto de canais periféricos.

59
3.3.3. Micro-drenagem

Uma segunda análise da superfície que representa a cava final, permite a


interpretação dos fluxos de água internos à cava (micro-drenagem). Nesta análise,
demonstrada na Figura 28, o foco é exclusivamente a área interna da cava. Nela, percebe-
se a dinâmica do fluxo da água completamente desordenado, apresentando escoamento
de água sobre taludes e estradas internas. Este comportamento desordenado da água causa
uma série de problemas nas operações unitárias e reduzem a segurança e eficiência
operacional da operação como um todo.

N
LEGENDA:
Elevação

400m

(a) Vista em planta (b) Vista oblíqua de NE


Figura 28 – Análise de micro-drenagem da configuração final de cava tradicional
Fonte: Autoria própria

A partir da análise detalhada do projeto de cava final apresentada, foram feitas


interpretações. Em suma, constatou-se que:
1) Os fluxos de volumes consideráveis de água devem ocorrer sobre elementos
hidráulicos devidamente planejados (posição e dimensões), para evitar acidentes e
reduzir o impacto das águas sobre a operação da mina como um todo;
2) Deve-se evitar o fluxo de água descendo taludes, para evitar o processo de erosão;
3) Deve-se evitar o fluxo de água sobre as estradas, para reduzir o efeito nocivo das
águas sobre o desempenho das mesmas;
4) Deve-se acumular água para bombeamento nas maiores cotas possíveis, para evitar
elevados custos de bombeamento.

60
Com base nestas constatações de projeto, foram realizadas as seguintes medidas:
1) Construir elementos hidráulicos de condução, acúmulo e retirada de água dentro da
cava;
2) Construir canais, nos pés dos taludes, cuja inclinação longitudinal conduzirá a água
para escadas hidráulicas;
3) Construir escadas hidráulicas que receberão águas dos canais posicionados nos pés
dos taludes, sobre as quais ocorrerá o fluxo vertical de água por gravidade;
4) Construir canais de condução de água lateralmente justapostos às estradas da mina;
5) Alterar o projeto geométrico das estradas da mina, para que haja inclinação transversal
que faça com que a água escoe lateralmente para os canais laterais;
6) Construir dois tanques com cotas diferentes.
7) Os elementos hidráulicos de condução serão construídos de tal forma a direcionarem
o maior volume possível de água para o tanque de maior cota.

As medidas descritas foram projetadas através de alterações nas inclinações das


linhas de pé e crista, bem como nas linhas que delimitam as estradas, que, combinadas,
representam a configuração final de cava. A Figura 29 representa um exemplo de
alteração na linha de pé de um talude da cava. Nesta linha, percebe-se a existência de uma
inclinação longitudinal média de 0,2% que conduz as águas para estruturas hidráulicas
dimensionadas.

Escada Hidráulica Dreno lateral da estrada da mina

400m

29a (esquerda): Linha de pé de talude selecionada, cujo perfil de elevação é demonstrado


através do gráfico ao lado. 29b (direita): Perfil de elevação da linha de pé de talude, com
posicionamento dos demais elementos hidráulicos
Figura 29 – Exemplo de alteração na linha de pé de talude
Fonte: Autoria própria

61
3.3.4. Cava final contemplando o projeto hidráulico

Feitas as alterações propostas nos itens 3.3.2 (canais periféricos) e 3.3.3 (demais
elementos hidráulicos), foi criada uma nova superfície, a qual será chamada de cava final
hidráulica. Esta superfície permite análises qualitativa e quantitativa acerca do fluxo bem
como das áreas de acúmulo de água na cava, dadas as medidas projetadas.
A Figura 30 representa a análise da macro-drenagem da cava final hidráulica. Se
comparada com a Figura 26, percebe-se o efeito da criação de canais periféricos que
passam a escoar a água das regiões que anteriormente entravam na cava. Além disto, já
se percebe que nesta superfície há um ordenamento maior nos fluxos de água no interior
da cava, o que será melhor analisado na Figura 31 (micro-drenagem).

400m

Figura 30 – Análise de macro-drenagem da cava final hidráulica, vista em planta.

62
A Figura 31 representa uma análise de micro-drenagem da cava final hidráulica.
Em comparação com o cenário anterior (Figura 28), percebe-se o fluxo de água é
completamente ordenado, que não ocorrem mais fluxos sobre taludes e estradas internas
à cava, mas sim por regiões onde serão construídos elementos hidráulicos. A criação desta
superfície permite que sejam calculadas as áreas de contribuição de cada trecho do
sistema de drenagem, possibilitando seu correto dimensionamento.

400m

(a) Análise de micro-drenagem, em planta (b) Análise de micro-drenagem, vista oblíqua


Figura 31 – Análise de micro-drenagem na cava final hidráulica

3.3.5. Dimensionamento de elementos hidráulicos

Dada a análise do comportamento hidráulico da superfície da cava final


hidráulica, é possível dimensionar os elementos hidráulicos que serão construídos para
garantir o fluxo adequado de águas. Este procedimento tem início no conhecimento da
curva IDF (Equação 3) da região da mina. Supondo que esta mina teórica localiza-se no
município de Conceição do Mato Dentro, os coeficientes da Equação IDF (Equação 3)
são dados por Freitas et al. (2003), resultando na Equação 21.
1206,608Tr0,182
I= (t+18,394)0,756
Equação 21

A área de contribuição, fator determinante para o dimensionamento de elementos


hidráulicos, pode ser calculada semi-automaticamente através da ferramenta ENVIRO do
software Deswik®. A Figura 32 representa a delimitação da área de contribuição de um
ponto na superfície, bem como o percurso mais longo percorrido pela água na microbacia
hidrográfica formada pela área de contribuição. Neste caso, a área de contribuição (A)
63
delimitada possui 10,7ha (A=10,7ha) e o caminho mais longo percorrido pela água dentro
desta área é de L=1,7km, com variação de elevação de H=55,7m. Para dimensionamento
dos elementos hidráulicos, recomenda-se que o cálculo da área de contribuição seja feito
para cada elemento hidráulico através da análise demonstrada (Figura 32) no ponto final
de cada elemento hidráulico.

400m

Figura 32 – Exemplo de cálculo semi-automático de área de contribuição e maior


caminho percorrido dentro da microbacia

Os valores de caminho mais longo percorrido pela água dentro da área de


contribuição (L), e variação de elevação dentro da mesma (H), devem ser utilizados na
Equação de Kirpich (Equação 6) para cálculo do tempo de concentração da microbacia
(tc). Assim, o tempo de concentração da área exemplificada acima é dado por:
0,385 0,385
𝐿3 1,73
𝑡𝑐 = 57 . ( 𝐻 ) = 57 . (55,7) = 22,4 minutos

Portanto, é possível determinar a vazão de pico de cada elemento hidráulico


através dos métodos apresentados na seção 2.5. Neste caso, o método das convoluções
não se aplica devido à inexistência de medições pluviométricas detalhadas. Já o método
do hidrograma unitário não se aplica devido às dimensões da área de contribuição (menor
de 2km²), restando dimensionar a vazão de pico através do método racional.

64
Este método parte do conhecimento do tempo de concentração da bacia, que já foi
calculado (t=22,4 minutos). Este tempo deve ser aplicado na Equação IDF local
(Equação 21), juntamente com o tempo de retorno da chuva de projeto, parâmetro que
depende da importância e da vida útil do elemento hidráulico dimensionado. Para escadas
hidráulicas e canais internos permanentes, recomenda-se que o tempo de retorno
projetado seja igual à vida útil da mina, neste caso Tr=20 anos. Assim sendo, a
intensidade da chuva de projeto é dada por:
1206,608Tr0,182 1206,608 ∗ 20 0,182
I= =
(t+18,394)0,756 (22,4+18,394)0,756
= 126,1mm ̸h

A partir deste cálculo, é possível determinar a vazão de projeto pelo método


racional. O coeficiente de escoamento superficial (C) para um ambiente de cava de mina
deve estar entre 0,60 e 0,70, de acordo com a Tabela 3. Neste exemplo, será utilizado o
valor intermediário (C=0,65). Portanto, o cálculo da vazão de projeto pelo método
racional (Equação 5) do exemplo é dado por:
𝑄 = 0,278 𝐶 . 𝑖 . 𝐴 = 0,278 * 0,65 * 126,1 * (10,7 ̸ 100) = 2,4 m³ ̸ s

Seguindo este procedimento, foi realizado o dimensionamento da vazão de projeto


para cada elemento hidráulico projetado (canais periféricos posicionados junto às pistas
de rodagem e escadas hidráulicas). A Figura 33 demonstra a posição das dez escadas
hidráulicas posicionadas na cava final hidráulica, nomeadas de S1 até S10. O
dimensionamento destes elementos hidráulicos levou em consideração a vazão de pico
projetada, e os parâmetros descritos na seção 2.5.4.7, e encontra-se detalhado na Tabela 5.
Esta tabela demonstra os parâmetros de entrada utilizados no software SiCooH,
desenvolvido pela UFMG. A área de contribuição (A), o comprimento do maior talvegue
(L) e o desnível total da área de contribuição (H) são obtidos através da análise do projeto
de cava, utilizando o Deswik Enviro®. O tempo de retorno (TR) utilizado depende do
grau de risco de falha do elemento hidráulico em questão. De posse destes parâmetros,
calcula-se, através da Equação de Kirpich (Equação 6), o tempo de concentração da
microbacia. Em seguida, através da Equação IDF (Equação 3), calcula-se a intensidade
da chuva de projeto (I). Com base nisto, calcula-se a vazão de projeto (Q), e determina-
se parâmetros geométricos (largura, altura do degrau e comprimento do degrau) que, no
regime de escoamento definido, tenham vazão adequada à vazão de projeto (Q).

65
N

LEGENDA:

Elevação

400m Escada Hidráulica

Figura 33 – Posição das Escadas Hidráulicas na Cava Final Hidráulica

Tabela 5 – Parâmetros de Entrada - Dimensionamento das Escadas Hidráulicas


ESCADA
HIDRÁULICA S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10
A (ha) 7,1 5,1 1,5 3,2 8,0 19,8 4,5 2,8 0,9 3,4
L (km) 0,959 0,716 0,47 0,321 0,912 2,577 1,08 0,856 0,751 0,612
H (m) 50 34 7,3 47 82 128 82 67 32 54,8
tc (min) 12,0 10,0 11,1 3,5 9,4 26,3 11,4 9,4 10,8 6,9
TR (anos) 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
I (mm/h) 157 166 161 202 169 118 160 168 162 181
Q (m³/s) 2 2 0 1 2 4 1 1 0 1,12
Largura (m) 2,2 2 1,2 1,8 2,4 3 1,9 1 1 1,75
Altura do
degrau (m) 2,85 2,85 1,42 2,85 2,85 2,85 2,85 2,85 1,42 2,85
Comprimento
do degrau (m) 2 2 1 2 2 2 2 2 1 2

A Tabela 6 apresenta alguns dos parâmetros de saída do software de


dimensionamento de escadas hidráulicas. Nela, são especificados o regime de escoamento
da água ao longo do elemento hidráulico, bem como os demais parâmetros do
comportamento do fluxo de água no mesmo.

66
Tabela 6 – Parâmetros de Saída – Dimensionamento de Escadas Hidráulicas
Regime de
Escoamento
Nappe Flow
PARÂMETROS HIDRÁULICOS
Vazão unitária
(m³/s.m) 0,75 0,75 0,33 0,67 1 1,4 0,684 0,562 0,2 0,64
Profundidade
crítica 0,386 0,386 0,225 0,356 0,467 0,585 0,363 0,318 0,16 0,35
Froude Final 13,9 5,2 5,6 5 5,8 6,3 5 5,1 4,7 5
Eficiência 94% 94% 97% 98% 98% 95% 97% 98% 98% 95%
DADOS PARA DIMENSIONAMENTO
Altura da
Parede (m) 1,28 1,29 0,73 1,2 1,51 1,8 1,22 1,1 0,5 1,18
Número de
degraus 24 42 36 29 55 26 22 21 26 10
Velocidade
Final (m/s) 11,2 5,9 4,7 5,4 6,9 8,2 5,5 5,3 3,5 5,4
Desnível total
(m) 69 66 51 84 159 73 63 59 38 29,6

Foram dimensionados também os canais superficiais posicionados na lateral das


estradas da mina. Os mesmos foram divididos em 12 (doze) trechos com áreas de
contribuição significativamente diferentes conforme demonstrado na Figura 34. A área
de contribuição (A), o comprimento do maior talvegue (L), a diferença de elevação entre
o ponto mais alto da área de contribuição (H) e inclinação do canal na direção do
escoamento foram calculados através da ferramenta ENVIRO do Deswik®. Foram
adotados valores constantes de tempo de retorno (Tr=20 anos, recomendado para canais
internos de mina), e coeficiente de escoamento superficial (C=0,65) conforme
recomendado pela Tabela 3 para ambiente de cava de mina. Com base nisto, calculou-se
a vazão de pico pelo método racional. Para suportar esta vazão, foram dimensionados a
largura da base e a profundidade de cada canal, adotando uma inclinação das paredes do
canal de 45º e coeficiente de rugosidade do canal de 0,02 (valor adequado para canais
curvilíneos construídos em solo firme, de acordo com a Tabela 4, minimizando a largura
total do canal. Assim sendo, a Tabela 7 demonstra o dimensionamento destes canais,
cujas posições encontram-se demonstradas na Figura 34.

67
Tabela 7 – Dimensionamento de canais superficiais nas laterais das estradas

CANAL LATERAL HR1 HR2 HR3 HR4 HR5 HR6 HR7 HR8 HR9 HR10 HR11 HR12

A (ha) 2,2 0,7 4,7 17,1 20,9 21,1 22,2 4,0 6,7 0,2 5,5 42,7

L (km) 0,83 0,33 1.6 2,1 2,6 2,8 3 1 1,23 0,2 1,3 2,6

H (m) 50,4 39,7 116 157 200 217 302 55,5 77 15,4 110 134

tc (min) 10,2 3,8 15,7 19,2 22,3 23,6 22,5 12,1 13,6 3,1 12,6 26,1

TR (anos) 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

I (mm/h) 165 200 144 134 126 123 126 157 153 208 159 122
Coeficiente de escoamento
0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65
superficial
Q (m³/s) 0,65 0,24 1,22 4,15 4,77 4,70 5,07 1,14 1,84 0,10 1,58 9,42

Largura da base (m) 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,10 0,03 0,40

Profundidade do canal (m) 0,30 0,20 0,37 0,66 0,70 0,70 0,71 0,37 0,45 0,15 0,54 0,91
Relação de inclinação da
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
parede do canal (m/m)
Fator de conversão de
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
unidades (SI=1)
Coeficiente de rugosidade
0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02
do canal (n)
Inclinação do canal na
7% 7% 9,6% 9,6% 9,6% 9,6% 9,6% 9,6% 9,6% 8,8% 9,3% 9,5%
direção do escoamento
Largura total (m) 0,9 0,7 1,04 1,62 1,7 1,7 1,72 1,04 1,2 0,4 1,11 2,22

LEGENDA:

Elevação

400m 400m
Figura 34 – Divisão das estradas da mina com diferente canal superficial lateral
.

Além das escadas hidráulicas e canais superficiais na lateral das estradas, foram
criados dois canais superficiais auxiliares (AC1 e AC2). O canal AC1 é responsável por
reduzir a área de contribuição do tanque posicionado ao norte, conduzindo o máximo de
água possível para o tanque posicionado ao sul, cuja elevação é maior (reduzindo os
68
custos de bombeamento). Este canal é posicionado junto ao pé do talude do nível 332m.
Ele tem início recebendo as águas da escada hidráulica S10, depois recebe as águas da
escada hidráulica S1 e conduz a água até a escada hidráulica S6. Sua inclinação, na
direção do escoamento é de aproximadamente 0,2%. A Figura 35a demonstra a área de
contribuição do canal AC1 através de uma hachura verde, e a posição do canal (em azul)
na bancada 332m. O canal superficial AC2 é bem mais curto e é responsável por conduzir
a água do canal lateral da estrada HR9 até a escada hidráulica S6. A Figura 35b demonstra
a área de contribuição recebida pelo canal AC2 através de uma hachura verde, bem como
a posição do canal (em azul), localizado junto ao pé do talude de cota 292m.

N N

LEGENDA
Elevação

Escadas hidráulicas

Maior talvegue

400m 400m Área de contribuição

35a: Análise do canal superficial auxiliar AC1 35b: Análise do canal superficial auxiliar AC2

Figura 35 - Apresentação dos canais superficiais auxiliares (AC1 e AC2)

O mesmo procedimento de dimensionamento de canal superficial apresentado na


Tabela 8 foi realizado para os canais auxiliares AC1 e AC2, chegando aos valores
apresentados na Tabela 8.
Tabela 8 - Dimensionamento de Canais Superficiais Auxiliares
Canal Superficial Auxiliar AC1 AC2
Vazão de Pico (m³/s) 2,15 1,79
Largura da Base (m) 0,50 0,50
Profundidade (m) 1,05 0,61

69
Todos os elementos hidráulicos apresentados e dimensionados até aqui tem a
função de conduzir a água superficial de maneira segura até os dois tanques (sumps)
posicionados nos fundos de cava (SUL e NORTE), os quais possuem elevação 252,5m e
101,5m, respectivamente. Estes tanques possuem a função de receber as águas
superficiais, armazená-las por um período de tempo, e possibilitar o funcionamento de
um sistema de bombeamento adequado, que execute o esgotamento da água para fora da
cava, possibilitando acesso a essas áreas de lavra em épocas de chuva. A Figura 36
representa o posicionamento dos dois tanques (sump A e sump B) na configuração final
de cava em planta.

Figura 36 – Posicionamento dos tanques nos fundos de cava em configuração final


Considerando as condições pluviométricas locais (intensidade, duração e
frequência) das chuvas, as Equações 3 e 6 e os parâmetros geométricos das áreas de
contribuição de cada tanque, além do tempo de retorno (TR) da chuva de projeto e do
coeficiente de rugosidade da superfície (C), é possível dimensionar os tanques chamados,
no estudo de caso, de Sump A e Sump B. Neste exemplo, considerou-se que o efeito da
diferença de nível na área de contribuição (H), que promove a velocidade do fluxo de
água e a redução no tempo de concentração da bacia hidrográfica seja drasticamente
reduzido devido a presença de escadas hidráulicas de alta eficiência (ver Tabela 6). Por
este motivo, a diferença de nível efetiva de contribuição (Hef) foi estimada em 10% da
diferença de nível geométrica (H). A Tabela 9 apresenta os parâmetros de entrada,
utilizados para dimensionar os tanques, bem como os parâmetros de saída, que dizem
respeito ao tanque planejado para a situação crítica.

70
Além dos parâmetros de dimensionamento dos tanques, a Tabela 9 apresenta os
parâmetros utilizados para dimensionamento da vazão adequada para as bombas
hidráulicas que bombearão as águas superficiais armazenadas nestes tanques. As Figuras
37 e 38 apresentam o comportamento dos tanques “Sump A” e “Sump B”,
respectivamente, quando solicitados por uma chuva de projeto, a qual possui duração
igual ao tempo de concentração da sua área de contribuição.

Tabela 9 – Parâmetros de dimensionamento de tanque e bomba exemplificados

Tanque SUMP A SUMP B


Tempo de Retorno (anos) 5 5
Comprimento do maior talvegue (Km) 2.7 3.0
Desnível na área de contribuição (m) 154 226
Desnível efetivo da área de contribuição (Hef) em metros 15.4 22.6
Tempo de concentração da bacia (min) 62.6 61.0
Tempo de base em minutos 192.5 187.5
Tempo de pico em minutos 72.4 70.5
Intensidade da chuva de projeto (mm/h) 58.3 59.2
Coeficiente de rugosidade C 0.65 0.65
Área da bacia de contribuição (km²) 0.224 0.23
Vazão de pico da chuva de projeto (m³/s) 2.4 2.5
Vazão de pico da chuva de projeto (m³/h) 8498 8859
Duração da chuva (min) 62.6 61.0
Volume total da chuva de projeto (m³) 13,639 13,854
Vazão de bombeamento (m³/h) 700 700
Duração do esgotamento do tanque (min) 19.5 19.8
Vazão de bombeamento (m³/min) 11.670 11.661
Área do Tanque (ha) 920 920
Profundidade do tanque (m) 12.43 12.72
Capacidade do tanque (m³) 11439 11707

Volumes de água da chuva crítica - Sump A


15000

Ponto crítico do Tanque


Volume (m³)

10000

5000

0
0 180.5 360.6 540.8 721.0 901.1 1081.3
Tempo (minutos)
Acrescimo de entrada de volume (m³) Volume de entrada acumulado (m³)
Volume bombeado acumulado (m³) Volume no tanque (m³)

Figura 37 - Volumes de água no tanque “Sump A”

71
Volumes de água da chuva crítica - Sump B

15000
Ponto crítico do tanque
Volume (m³)
10000

5000

0
0 175.8 351.4 526.9 702.5 878.0 1053.6
Tempo (minutos)
Acrescimo de entrada de volume (m³) Volume de entrada acumulado (m³)
Volume bombeado acumulado (m³) Volume no tanque (m³)

Figura 38 - Volumes de água no “Sump B”

O sistema de bombeamento hidráulico, que tem a função de retirar a água dos


tanques pode ser dimensionado através, principalmente de duas informações: a vazão
requerida (Q) e a altura manométrica (H). A vazão requerida, está relacionada à vazão
com que a água chega ao tanque em uma chuva crítica, ao nível máximo de água
permitido no tanque e ao tempo de retorno da chuva de projeto. O dimensionamento deste
elemento foi exemplificado na Tabela 9 e nas Figuras 37 e 38, onde ficou definida a taxa
de bombeamento de 700m³/h para ambos os tanques.
A altura manométrica da bomba selecionada depende do destino da água, do
arranjo das bombas e, principalmente da geometria da cava. Dependendo da situação, é
possível optar por um sistema de bombeamento com uma bomba única, bombas em série
ou em paralelo. Além disto, pode-se optar por um sistema mais potente, visando retirar a
água do tanque rapidamente e assegurando a liberação ao menos parcial do fundo de cava,
ou, alternativamente, pode-se optar por um sistema de bombeamento de menor vazão,
porém mais econômico que garanta a preservação da área do fundo de cava apenas para
chuvas moderadas. Trata-se de uma questão estratégica da empresa de mineração.
Para exemplificar, foram dimensionados dois sistemas de bombeamento
independentes para cada tanque.
A altura manométrica (H) do tanque “Sump A” foi estimada em 150m,
resultantes da diferença de nível da cota 252,5m até a cota 380m, somados a perdas de
carga estimadas em 22,5m. Já a altura manométrica (H) do tanque “Sump B” foi
estimada em 350m, resultantes da diferença de nível das cotas 101,5m até a cota 380m,
somados a perdas de carga estimadas em 71,5m.
Com base nisto, definiu-se que seria necessário um sistema em série de bombas
centrífugas para atender às demandas de vazão (Q) e altura manométrica (H). Neste tipo
72
de associação de bombas, o sistema de bombeamento possui a mesma vazão de cada uma
das bombas (caso as vazões sejam iguais), enquanto a altura manométrica (H) do sistema
de bombeamento é igual à soma das alturas manométricas de cada bomba. Assim sendo,
define-se que serão utilizadas bombas de vazão Q=700m³/h, e tantas bombas quanto
forem necessárias para atingir as alturas manométricas de Ha=150m para o “Sump A” e
Hb=350m para o “Sump B”. Estes valores foram levados ao gráfico apresentado na Figura
39, a partir do qual selecionou-se a bomba hidráulica 150-400, a qual possui vazão de
Q=700m³/h e altura manométrica de H=60m.

Figura 39 - Seleção da bomba hidráulica. Fonte: KSB, 2013


Assim sendo, definiu-se que serão utilizadas três bombas para o tanque “Sump
A” e seis bombas para o tanque “Sump B”, garantindo a eficácia do bombeamento,
com certo nível de folga, uma vez que o número de bombas é levemente superior ao
necessário matematicamente (2,5 bombas para o “Sump A” e 5,8 bombas para o “Sump
B”).
Concluindo, a Figura 40 representa o posicionamento de todos os elementos
hidráulicos descritos em planta. Nesta figura, os canais superficiais posicionados na
lateral das estradas encontram-se representados por trecho de estrada, conforme o seu
dimensionamento, detalhado na Figura 34 e Tabela 8. Já a Figura 41, representa a
delimitação das áreas de contribuição, indicando o destino imediato das águas. Na
legenda, HR é uma abreviação para Haul Roads (Estradas). As escadas hidráulicas
encontram-se descritas de S1 até S10, onde S é uma abreviatura para Spillway (Escada
Hidráulica).

73
Figura 41 – Elementos hidráulicos em planta

Figura 40 – Divisão das áreas de contribuição e seus destinos

74
Além da análise da cava final, é possível analisar o comportamento de quantas
configurações intermediárias de cava quanto se queira. Para exemplificar, tomou-se uma
configuração intermediária de cava onde parte da cava já se encontra em configuração final, e
outra parte ainda está em avanço, que é um caso típico. A Figura 42a apresenta esta configuração
de cava, em comparação com a Figura 42b, que representa a configuração final de cava já
analisada.

N N

LEGENDA: LEGENDA:

Elevação Elevação

400m 400m

(a) Configuração intermediária de cava (b) Configuração final de cava


Figura 42 – Apresentação da configuração intermediária de cava analisada

75
Nesta configuração intermediária de cava, há parcelas que já se encontram em
configuração final de cava, enquanto outras ainda estão em avanço. A Figura 43 apresenta
a divisão da cava segundo este critério.

Figura 43 – Divisão da cava intermediária em configuração final e operacional

Considerando a divisão apresentada na Figura 43, a cava intermediária


apresentada já deve possuir alguns elementos hidráulicos previstos na configuração final
de cava. São eles: as escadas hidráulicas S1, S5, S8 e S10, parte das escadas hidráulicas
S6 e S7, o canal superficial auxiliar AC1, bem como os canais laterais posicionados na
lateral das estradas que já se encontram em configuração final. Todos estes elementos
encontram-se representados na Figura 44.

76
Figura 44 – Elementos hidráulicos definitivos presentes na configuração intermediária de cava
analisada

Além dos elementos hidráulicos definitivos, a configuração intermediária de cava


analisada deve contar com a presença de elementos hidráulicos provisórios. A construção
dos mesmos não precisa adotar o mesmo rigor dos elementos definitivos. Isto é, o seu
custo de construção deve ser analisado frente à sua importância para o empreendimento,
uma vez que no curto prazo, a construção de elementos hidráulicos provisórios pode
apresentar uma relação custo-benefício desfavorável. Além disto, o tempo de retorno
(TR) da chuva de projeto destes elementos pode ser reduzido, tendo em vista sua vida
útil.
Considerando estes fatores, foram criados elementos hidráulicos provisórios,
associados aos já previstos para a configuração final de cava. A Figura 45 apresenta os
elementos hidráulicos provisórios e definitivos para a configuração intermediária de cava
analisada.

77
Figura 45 – Elementos hidráulicos provisórios e definitivos presentes na configuração
intermediária de cava analisada

78
4. DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE DRENAGEM ATRAVÉS DE
MAPEAMENTO COM VANT

4.1. Introdução

Considerando a existência de um plano de drenagem, em um horizonte de longo


prazo, materializado na figura da cava final hidráulica, foi simulado o comportamento da
drenagem no cenário da cava final frente a situações de precipitação e permitindo o
correto dimensionamento de elementos hidráulicos. Adicionalmente, faz-se necessária
uma ferramenta de inspeção de campo, capaz de diagnosticar a situação hidráulica real,
permitindo a comparação da situação real com a planejada. O mapeamento de áreas a
partir de dados obtidos por VANTS (seção 2.7) é uma técnica nova, que utiliza técnicas
de aerofotogrametria para agregar agilidade e eficiência ao diagnóstico das áreas
analisadas.
No caso deste estudo, pretende-se desenvolver uma metodologia de uso de
mapeamento com VANTs para diagnóstico especificamente das características
hidráulicas da superfície do terreno. Mais especificamente, o diagnóstico proposto
pretende mapear dois comportamentos das águas superficiais na mineração: o acúmulo
de água (seção 4.1) e o fluxo de água (seção 4.2). Esta metodologia possui três etapas:
coleta de dados, processamento de dados e produção de estimativas. A metodologia
proposta foi aplicada em uma área controlada de uma mina localizada no estado do Rio
Grande do Sul. As figuras e demais resultados apresentados no capítulo 4 dizem respeito
a aplicação da metodologia neste estudo de caso.
Para validar a metodologia proposta, os resultados foram comparados com a
realidade, registrada através de um mapeamento de campo. A Figura 46 representa o fluxo
de etapas desta metodologia, com a etapa final de validação.

79
Coleta de dados com VANT

Processamento de dados

Estimativa de Fluxo Estimativa de Acúmulo

Mapeamento de fluxo em campo Mapeamento de acúmulo em campo

Figura 46- Fluxo da metodologia de diagnóstico de drenagem com VANT

4.2. Coleta de dados

A primeira etapa da metodologia consiste na coleta de dados utilizando VANT.


Assim sendo, foram executadas duas missões utilizando um VANT DJI Phantom 3 Pro®,
o qual possui uma câmera de 12Mpx, gimble triaxial e telemetria embarcada. Os
parâmetros de voo utilizados foram os seguintes:
 Altura de voo: 60m
 Sobreposição frontal: 80%
 Sobreposição lateral: 60%
 Velocidade máxima de voo: 6m/s
 Número de GCP (Ground Control Points): 24 na primeira missão e 12 na segunda.
 Tempo de voo: aproximadamente 12 minutos.

80
A primeira missão foi realizada logo após uma chuva intensa, de duração de
aproximadamente 24 h. Portanto, este é considerado o cenário úmido. Este cenário
contém o resultado das solicitações hídricas sobre a área de mineração.
A segunda missão de voo foi realizada três dias após a primeira. Considerando
que não houve precipitação no intervalo de tempo entre as missões, este cenário é
considerado o cenário seco, uma vez que praticamente não apresenta os resultados
imediatos da precipitação (acúmulo de água e fluxo superficial de água).
Além da coleta de dados com VANT, foi realizado, na mesma data da primeira
missão, um mapeamento de campo. Neste mapeamento, os acúmulos superficiais de água,
bem como os fluxos de água superficial aparentes foram registrados de maneira
georreferenciada através de um equipamento GNSS de alta precisão, com tecnologia RTK
(Real-Time Kinematic).

4.3. Processamento de dados

Os dados coletados em campo (imagens e coordenadas dos pontos de controle)


foram utilizados como input no software de fotogrametria Metashape®, da Agisoft.
Utilizando este software, foram criadas nuvens de pontos com aproximadamente 63
milhões de pontos cada. Cada cenário gerou um modelo digital de elevação (DEM) e um
ortomosaico de com pixels de 5 centímetros de resolução. Estes arquivos foram utilizados
como input em um software SIG (Sistema de Informação Geográfica). Neste software,
utilizou-se “Spatial Analyst Tools” (SAT) para criação de estimativas acerca da presença
de regiões de acúmulo de água e linhas de fluxo de água.
As operações implementadas pelas SAT foram todas baseadas no DEM de cada
cenário. A Figura 47 exemplifica os produtos ortomosaico e DEM da área levantada.

81
N

(a) Ortomosaico (b) DEM


Figura 47 – Exemplos de produtos de Mapeamento com VANT

O primeiro algoritmo utilizado, é chamado “Flow Direction”. Sua operação


consiste em olhar para cada célula de um DEM (Figura 48a) e determinar qual é direção
que aponta para a célula vizinha de menor valor. As oito possíveis direções são descritas
através de uma convenção apresentada na Figura 48b. Este algoritmo produz uma nova
matriz que representa a direção de fluxo de cada célula no DEM que a deu origem, o que
está representado pela Figura 48c.

78 72 69 71 58 49 2 2 2 4 4 8
32 64 128
74 67 56 49 46 50 2 2 2 4 4 8
59 53 44 37 38 48 1 1 2 4 8 4
16 1
64 58 55 22 31 44 128 128 1 2 4 8
68 61 47 21 18 19 2 2 1 4 4 4
8 4 2
74 53 34 12 11 12 1 1 1 1 4 16
(a) DEM (b) Convenção Flow Dir. (c) Matriz resultante
Figura 48 – Representação do algoritmo Flow Direction

O segundo algoritmo utilizado é chamado “Flow Accumulation”. Sua operação


consiste em analisar a matriz resultante do Flow Direction, e contar o número de células
que, seguindo as direções de escoamento mapeadas, são áreas de contribuição para cada
célula. A Figura 49 representa o resultado do “Flow Accumulation” para um dado DEM.

82
78 72 69 71 58 49 2 2 2 4 4 8 0 0 0 0 0 0
74 67 56 49 46 50 2 2 2 4 4 8 0 1 1 2 2 0
59 53 44 37 38 48 1 1 2 4 8 4 0 3 7 5 4 0
64 58 55 22 31 44 128 128 1 2 4 8 0 0 0 20 0 1
68 61 47 21 18 19 2 2 1 4 4 4 0 0 0 1 24 0
74 53 34 12 11 12 1 1 1 1 4 16 0 2 4 7 35 1
(a) DEM (b) Flow Direction (c) Flow Accumulation
Figura 49 – Representação do algoritmo Flow Accumulation

O terceiro algoritmo utilizado é chamado “Fill Sinks”. Sua operação consiste em


analisar o DEM e detectar áreas (composta por uma célula ou por um grupo de células
contíguas) cercadas por células de maior elevação. Matematicamente, esta área é um
mínimo local na matriz de elevação (DEM). Após detectar estas áreas, o algoritmo
aumenta seu valor de elevação, para que ele se iguale ao valor da célula de menor elevação
no entorno da área, como demonstra a Figura 50.

(a) Perfil do DEM (b) Perfil do DEM após o algoritmo Fill Sinks
Figura 50 – Representação do algoritmo Fill Sinks

Utilizando estes algoritmos, com os dados de entrada obtidos conforme descrito


no seção 4.2, foram criadas quatro estimativas: duas estimativas de regiões de acúmulo
de água (uma para o cenário úmido e outra para o cenário seco), e duas estimativas de
fluxo de água (uma para o cenário úmido e outra para o cenário seco). Estas estimativas
foram comparadas com a realidade, conforme detalhado na seção 4.4 e 4.5.

83
4.4. Acúmulo de água

As regiões de acúmulo de água são as depressões locais no terreno, tidas


matematicamente como depressões regionais. Através de uma operação de diferença
entre dois rasters (Fill Sinks e DEM), é possível estimar a localização e severidade das
depressões no terreno. Para demonstrar este resultado, o arquivo resultante da operação
de diferença, foi visualmente tratado para gerar mapas de calor, como apresentado na
Figura 51, onde as depressões mais severas estimadas são representadas em vermelho.
Além do mapa de calor, representado as estimativas de acúmulo de água, a Figura
51 apresenta o resultado do mapeamento de campo das áreas de acúmulo de água através
de pontos e polígonos. Assim sendo, uma correspondência entre o mapa de calor e os
polígonos e pontos indica a assertividade da metodologia.

(a) Estimativa baseada no cenário úmido


(b)

(b) Estimativa baseada no cenário seco


Figura 51 – Estimativa de acúmulo de água x mapeamento de campo

84
As estimativas de acúmulo de água são baseadas em diferenças de elevação de
um modelo digital de elevação de alta resolução (DEM). Consequentemente, esta
metodologia produz não somente estimativas precisas de regiões de acúmulo de água,
mas também estimativas imprecisas de pequenas regiões de acúmulo de água. Estas
estimativas imprecisas podem ser resultado de ruídos no modelo, uma consequência
negativa da sua alta resolução. Conforme descrito por Costa et al. (2018), um DEM de
alta resolução nem sempre representa o terreno melhor do que DEM de resolução mais
baixa.
Para contornar este efeito, é necessário adotar um nível de tolerância de ruído.
Esta tolerância consiste no estabelecimento de um valor, a partir do qual a estimativa é
considerada confiável. Elementos de acúmulo de água inferiores a este valor, são
consideradas ruído e, portanto, eliminados da estimativa. Baixos valores de tolerância de
ruído resultarão em estimar apenas as regiões de acúmulo de água mais profundas,
ignorando as de menor expressão. Por outro lado, altos valores de tolerância de ruído
resultarão em estimativas de todas as regiões de acúmulo de água. Porém, neste caso, as
estimativas não têm alta confiabilidade, uma vez que o ruído gera estimativas falsas. A
Figura 52 representa a comparação das diferentes estimativas geradas em função da
variação do nível de tolerância de ruído. Em termos práticos, recomenda-se o uso de
baixo nível de tolerância de ruído. Assim, a estimativa gerada ganha confiabilidade
e destaca as depressões mais profundas do terreno, as quais são, de fato, mais
importantes em operações de mineração.

(a) Alto nível de tolerância de ruído (b) Médio nível de tolerância de ruído (c) Baixo nível de tolerância de ruído
Figura 52 – Comparação das estimativas de acúmulo de água com diferentes níveis de tolerância de ruído

85
4.5. Fluxo de água

A estimativa de fluxo de água através de software SIG é vastamente utilizada para


mapear cursos de água como rios e arroios, com base em DEMs de baixa resolução, e
pode ser encontrada em trabalhos como Das et al. (2016). Trabalhos recentes como
Langhammer (2020) demonstram a aplicabilidade da modelagem hidrológica de fluxos
superficiais de água através de DEMs construídos a partir de mapeamento com VANT.
Na mineração, a disponibilidade de um DEM de alta resolução permite a estimativa de
fluxos de água em menor escala, os quais podem ser prejudiciais à operação de mina,
gerando erosões e aumentando a resistência ao rolamento das estradas.
Os algoritmos utilizados para gerar esta estimativa são o Fill Sinks e o Flow
Accumulation. Com base neles, é possível gerar linhas de fluxo que estimam o
comportamento da superfície frente a solicitações hídricas. A Figura 53 representa em
amarelo, as estimativas geradas, em comparação com as linhas de fluxo de água mapeadas
em campo, em vermelho. Nos dois cenários (seco e úmido), as estimativas de fluxo de
água correspondem aos fluxos mapeados em campo, na maioria dos casos, o que indica a
validade do método.
A grande limitação, neste caso, é a existência de cobertura vegetal em
determinadas áreas. A presença de vegetação impõe um obstáculo à estimativa de fluxo
superficial de água que não foi superado com o tipo de técnica fotogramétrica utilizada.

(a) Estimativa baseada no cenário seco (b) Estimativa baseada no cenário úmido
Figura 53 – Estimativa de Fluxo de Água x Mapeamento de Campo

86
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões sobre a drenagem ao longo do planejamento de mina

Tendo em vista os impactos negativos da interação não-planejada de chuvas com


o ambiente produtivo da mineração, foi proposta a inclusão do projeto de drenagem de
águas superficiais à rotina do planejamento estratégico de mina. Este planejamento deve
ser feito através de considerações das condições pluviométricas e hidrológicas da região
de implantação da mina e os dados tratados e modelados em softwares SIG, como o
ArcGIS®, da ESRI, e softwares de planejamento de mina, no caso específico foi utilizado
o Deswik CAD®, que possui a ferramenta ENVIRO.
Foi apresentado um estudo de caso para uma mina hipotética, baseada em um
modelo de blocos estimado de teores para avaliar a questão de projeto de drenagem e
integração com o plano de lavra. Na análise de macro-drenagem, observou-se que a
configuração final de cava (cava operacional), se executada, teria prejuízos operacionais
causados pela entrada de água externa na cava. Este problema foi solucionado através da
alocação de canais periféricos, que isolam a área da cava do fluxo de águas superficiais
externas à cava. As áreas externas, que drenavam águas para o interior da cava totalizaram
cerca de 6,4 ha, que se somam aos 45,4 ha de área da cava. Ou seja, as obras de drenagem
periférica do estudo de caso, que consistem em posicionar elementos hidráulicos que
evitem o fluxo de água das regiões em marrom (na Figura 43) para o interior da cava,
produz de imediato uma redução de volume de água no interior da cava na ordem de 14%.
A Figura 54 demonstra a comparação da análise de microbacias antes e depois da
implantação da drenagem periférica.

87
N N

LEGENDA:
Elevação

400m
Fluxo de água
Área de contribuição
400m Área de contribuição para o interior da cava
(a) Macro-drenagem sem canais periféricos (b) Macro-drenagem com canais periféricos
Figura 54 – Comparação da análise de macro-drenagem com e sem canais periféricos

Já a análise de micro-drenagem sobre a cava operacional revelou que, se o design


de mina não previsse a construção de elementos hidráulicos, nem de gradientes
previamente planejados, o fluxo de água dentro da cava poderia promover erosão nos
taludes, aumentaria a resistência ao rolamento das estradas, reduziria a produtividade da
mina, aumentaria o tempo de parada em chuvas intensas e traria riscos à segurança da
operação. Para contornar esta dificuldade, projetou-se uma superfície (chamada de cava
final hidráulica) que tem a função de simular a existência de elementos hidráulicos.
Através desta superfície, é possível prever o comportamento da água superficial sobre a
cava, bem como dimensionar os elementos hidráulicos a serem construídos. A Figura 55
representa a análise de micro-drenagem no interior da cava, comparando as simulações
de fluxo de água antes e depois do planejamento do sistema de drenagem.

88
Área Norte
N

Área Sul

Vista em planta Sem planejamento Com planejamento


Figura 55 – Comparação da análise de micro-drenagem com e sem planejamento de drenagem

Portanto, conclui-se que a criação de um plano de drenagem de forma integrada


ao planejamento estratégico de mina possibilita a correta interpretação da influência da
água superficial nas operações de mina. Além disto, este plano de drenagem possibilita o
posicionamento e dimensionamento de elementos hidráulicos que reduzem o impacto das
águas superficiais sobre estas operações.

5.2. Conclusões sobre o diagnóstico de drenagem de mina a partir de mapeamento


com VANT

O VANT é uma ferramenta tecnológica cujo uso na mineração sofreu rápido


crescimento nos últimos anos. Atualmente, o crescimento ocorre nas suas aplicações.
Longe de ser utilizado somente para agilizar levantamentos topográficos, os VANTs vem
sendo utilizados para mapeamento geológico, geofísico, temático, etc. Ainda no sentido
de aumentar a gama de aplicações desta ferramenta, o estudo apresentado no capítulo 4
demonstra a aplicabilidade do mapeamento com VANT para diagnosticar feições que
compõem o sistema de drenagem de mina identificando regiões suscetíveis ao acúmulo
bem como a antecipação das direções de fluxo superficial de água.

89
Estas feições podem ter impacto relevante na segurança e estabilidade da
operação, bem como nos custos associados. Uma vez que o trânsito de equipamentos
móveis de mina é prejudicado pelo acúmulo e fluxo impróprios de água superficial, estas
feições promovem: o corte prematuro de pneus, aumento da resistência ao rolamento de
estradas e consequente aumento do consumo de combustível, sensação de insegurança do
operador, redução de velocidade de deslocamento e consequente aumento do tempo de
ciclo, aumento da frequência de manutenção dos equipamentos móveis.
Uma vez que o acúmulo e fluxo impróprios de água superficial possuem todos
esses impactos negativos, eliminar ou mesmo reduzir a existência destas feições é de
considerável importância para a mineração. Isto pode ser feito através da implantação de
elementos hidráulicos, mas também através da manutenção das áreas de interesse, em
especial as estradas de mina. Neste sentido, o diagnóstico destas feições através do
mapeamento com VANT é o primeiro passo para a realização das atividades de
manutenção necessárias.
Portanto, utilizar VANTs para diagnosticar feições do sistema de drenagem é
viável, e possui grande impacto em operações onde há abundância de água superficial.
Além disto, avalia-se que praticidade trazida pela tecnologia do VANT agrega agilidade
e alta produtividade à equipe de manutenção de mina, possibilitando ações preventivas e
remediativas e assim reduz o impacto das águas superficiais nas operações de mina.

5.3. Conclusões finais

O planejamento de lavra é um processo complexo de combinação e avaliação de


diversas variáveis que visa determinar a melhor estratégia de lavra considerando fatores
econômicos, sociais, geológicos, ambientais e operacionais. Assim sendo, é missão dos
engenheiros de minas atuantes na área de planejamento determinar qual será o método
implementado para gerir as águas que interferem nas operações mineiras.
Na operação de mina, especialmente em minas localizadas em regiões tropicais,
as águas meteóricas impactam severamente na segurança operacional, custo de lavra e
nos índices operacionais como velocidade de transporte e tempo de ciclo. Por isto é de
alta importância que sejam utilizados métodos apropriados tanto para planejar o
comportamento das águas superficiais ao longo dos planos de lavra apresentados, quanto
para diagnosticar o comportamento da água.
Assim sendo, este estudo reúne uma revisão bibliográfica acerca dos tópicos mais
relevantes para a temática desenvolvida: planejamento de mina, projeto geométrico de

90
estradas, pluviometria, hidrologia, hidráulica, drenagem na mineração e mapeamento
com VANT. Por este motivo, considera-se que a meta, apresentado na seção 1.3, foi
atingida.
Além disto, conclui-se que os seis objetivos definidos na seção 1.4 foram
alcançados à medida que:
1) Estudou-se maneiras de quantificar chuvas intensas e prever sua frequência;
2) Foram investigadas e testadas ferramentas capazes de analisar o comportamento da
superfície da cava frente solicitações hídricas, principalmente a utilização de dados
obtidos através de VANT em software SIG;
3) Foram dimensionados os elementos hidráulicos de um estudo de caso, compatíveis
com o projeto de mina;
4) Desenvolveu-se uma metodologia de inclusão do sistema de drenagem ao longo do
planejamento de mina, representada pelo fluxograma da Figura 24.
5) Analisou-se a aplicabilidade do mapeamento com VANT no diagnóstico de
problemas relacionados a águas superficiais em mina à céu aberto, e;
6) Foi desenvolvida uma metodologia que agiliza a detecção de focos de aprimoramento
na superfície da mina através de mapeamento com VANT, a qual pode ser
representada pelo fluxograma da Figura 46.

5.4. Estudos futuros associados

As ciências hidrológicas, em sua grande maioria, partem de medidas empíricas,


as quais são generalizadas e, por isto, é necessário ter cuidado com suas aplicações. A
superfície de cava de minas possui feições bastante diferentes das utilizadas nas medidas
empíricas que geraram os teoremas e equações utilizados para dimensionar elementos
hidráulicos, por exemplo. Portanto, seria interessante contar com estudos que medissem
a relação entre chuvas e vazões em ambiente de mineração.
Sugere-se também o estudo acerca da integração entre o diagnóstico de superfície
realizado com VANT e o mapeamento hidrogeológico subterrâneo, uma vez que há
interações entre os meios superficial e subterrâneo. Através deste estudo, talvez seja
possível acrescentar acurácia à modelagem parâmetros como a recarga de aquíferos, dada
a precisão do mapeamento do comportamento das águas superficiais.
Além disto, pode ser sugerida uma linha de estudo de viés econômico para a
temática da drenagem em mina. A construção de elementos hidráulicos demanda recursos
das mineradoras, e, por outro lado, reduz custos e riscos operacionais. O balanço

91
econômico do custo e benefício da construção destes elementos ainda não foi vastamente
avaliado.
Ademais, seria interessante avaliar a possibilidade de incorporar parâmetros
geométricos de elementos hidráulicos aos pushbacks operacionalizados, bem como o
impacto técnico-econômico da presença e alocação de sistemas de tubulação de
desaguamento de mina, bem como a presença de tanques sobre a lavra de minas e o
sequenciamento dos blocos. Por fim, sugere-se a comparação de diversas técnicas de
construção de sistema de drenagem, e suas técnicas de monitoramento e manutenção,
abordando os impactos técnico-econômicos da utilização de diferentes materiais.

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