Disserta o Mestrado Leonardo Pires Reis de Melo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO,


MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS

ANÁLISE COMPARATIVA DE METODOLOGIAS


DE PREVISÃO DE INUNDAÇÃO DECORRENTE
DA RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS:
CASO HIPOTÉTICO DA BARRAGEM TICO-TICO

Leonardo Pires Reis de Melo

Belo Horizonte
2013
ANÁLISE COMPARATIVA DE METODOLOGIAS DE
PREVISÃO DE INUNDAÇÃO DECORRENTE DA
RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS:
CASO HIPOTÉTICO DA BARRAGEM TICO-TICO

Leonardo Pires Reis de Melo


Leonardo Pires Reis de Melo

ANÁLISE COMPARATIVA DE METODOLOGIAS DE


PREVISÃO DE INUNDAÇÃO DECORRENTE DA
RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS:
CASO HIPOTÉTICO DA BARRAGEM TICO-TICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação


em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

Área de concentração: Recursos Hídricos

Linha de pesquisa: Modelagem Física e Matemática em


Hidráulica

Orientador: Carlos Barreira Martinez

Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2013
Melo, Leonardo Pires Reis de.
M528a Análise comparativa de metodologias de previsão de inundação
decorrente da ruptura de barragens de rejeitos [manuscrito] : caso
hipotético da Barragem Tico-Tico/ Leonardo Pires Reis de Melo. – 2013.
xi, 183 f., enc.: il.

Orientador: Carlos Barreira Martinez.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais,


Escola de Engenharia.

Apêndices e anexos: f.123-183.


Bibliografia: f.116-122.

1. Engenharia Sanitária – Teses. 2. Recursos hídricos –


Desenvolvimento - Teses. 3. Barragens e açudes – Segurança – Teses.
4. Barragens de Rejeitos – Teses. I. Martinez, Carlos Barreira. II.
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia. III. Título.

CDU: 628(043)
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a seus prepostos por manterem a ordem no universo e por sustentarem leis
naturais tão sábias que sequer conseguimos revelar uma ínfima parte.

Ao Professor e orientador de todas as horas Carlos Barreira Martinez, pela paciência ao


tolerar e conduzir meu gênio estabanado até o último segundo.

Aos professores do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG


pelos ensinamentos ministrados e pelos valorosos conhecimentos compartilhados.

Ao engenheiro Robson Santos que confiou aos meus cuidados o primeiro estudo de ruptura de
barragem de rejeitos que realizei. E aos seus sucessores, Anderson Silva e Marcus Cruz pela
continuidade no apoio e retaguarda.

Ao apoio direto dos amigos Aloysio Saliba, Eder Teixeira, Rodrigo França, José Mário,
Henrique Alves, Lucas Faria e Felipe Rocha.

Pela compreensão, disponibilização de recursos e auxílios da equipe técnica e diretoria da


VOGBR.

Ao apoio e recursos financeiros do CNPQ.

Ao engenheiro geotécnico César Alves por disponibilizar os dados para a realização do estudo
de caso.

Às revisões e traduções do amigo Connor McGinn.

Ao acolhimento providencial do amigo Samuel e familiares, por abrirem as portas de sua


casa, onde escrevi a melhor parte desse trabalho.

Aos meus pais, avós e irmãos pelo suporte emocional e motivação. Ao meu avô Alvimar que
partiu esse ano deixando saudades, força e coragem.

Em especial, agradeço imensamente à minha esposa Viviane e ao meu filho Levi (a quem
dedico esse trabalho) por suportarem minha ausência com bravura, compreensão e carinho.

i
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
RESUMO

A partir da publicação da Política Nacional de Segurança de Barragens e da regulamentação


de seus instrumentos legais, a Gestão de Riscos das barragens brasileiras de alto dano
potencial associado deverá dispor de Planos de Ações de Emergência (PAE). Consorciados ao
PAE, os estudos de ruptura hipotética auxiliam nas análises de risco e na definição das ações
de mitigação dos danos a jusante.

Em novembro de 2012, durante o Seminário “Gestão de Riscos e Segurança de Barragens de


Rejeitos” a apresentação da experiência brasileira em estudos de ruptura de barragens de
rejeitos frustrou os proprietários de barragens que manifestaram, na ocasião, demandas
legítimas por estudos de ruptura que considerassem as características reológicas dos
escoamentos de rejeitos.

Nesse contexto, a carência de critérios que delimitem os estudos de ruptura de barragens,


inclusive as de rejeitos, motivou a elaboração desse trabalho que tem por objetivo a
comparação e análise de diferentes metodologias de previsão de impactos.

Realizou-se, para tanto, uma breve revisão da literatura e um resgate dos principais modelos
que simulam a propagação de inundações provocadas por barragens de rejeitos considerando
suas características de resistência ao cisalhamento e viscosidade.

Os modelos simplificados de escoamento de rejeitos e equilíbrio de forças foram aplicados ao


estudo de caso da ruptura hipotética da Barragem Tico-Tico e comparados com os modelos
hidrodinâmico e hidrológico.

A análise dos resultados demostrou a dificuldade de generalização dos modelos simplificados


para vales com geometria variada e elevadas declividades. Além disso, a inconsistência dos
parâmetros de inundação resultantes desses modelos impossibilitou a delimitação de
envoltórias de inundação que pudessem auxiliar na definição dos impactos.

A insipiência dos modelos simplificados, colocou os modelos hidrodinâmicos à frente, no


quesito compromisso com os resultados e auxílio às diretrizes do PAE, ainda que em alguns
casos a inundação no vale possa ser superestimada.

ii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
ABSTRACT

Since the publication of the Dam Safety National Policy and the regulation of its legal
instruments, the risk management of Brazilian dams associated with high potential damage
must make Emergency Action Plans (EAP) available. Associated with the EAPs, the
hypothetical failure studies assist in the definition of mitigation actions of downstream
damage.

In November 2012, during the seminar "Tailings Dam Safety and Risk Management," a
presentation of the Brazilian experience in studies of tailings dams failures frustrated owners
of dams that have, on occasion, expressed legitimate demands for dam break studies that
consider the rheological characteristics of tailings flow.

In this context, the lack of criteria that delimit the dam break studies, including the tailings
dams, led to the preparation of this work, which aims to compare and analyze the different
methodologies of predicting impacts.

Therefore, a brief review of the literature was undertaken, as well as a review of the main
models that simulate tailings floods, considering their characteristics of shear strength and
viscosity.

Simplified models of tailings flow and force equilibrium have been applied to the case study
of a hypothetical failure of the Tico-Tico dam, and compared to the hydrological and
hydrodynamic models.

The analysis of the results showed the difficulty of generalization of simplified models for
valleys with varied geometry and steep slopes. In addition, the inconsistency of the flood
parameters that resulted from these models made it impossible to delimit the flood boundaries
that could assist in defining the extent of impacts.

The insipience of simplified models gave the edge to the hydrodynamic models in terms of
commitment to results and support for the EAP guidelines, although in some cases the flood
in the valley can be overestimated.

iii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................................... VI


LISTA DE TABELAS ...................................................................................................................................... VIII
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ................................................................................. IX
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 1
1.1 JUSTIFICATIVA............................................................................................................................................. 3
1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................................................................................... 5
2 OBJETIVOS .................................................................................................................................................. 6
2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................................................... 6
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................................. 6
3 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................... 7
3.1 RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS ....................................................................................................... 7
3.1.1 Mecanismo de ruptura ...................................................................................................................... 7
3.1.2 Modos de falha.................................................................................................................................. 9
3.1.3 Reologia dos escoamentos de rejeitos ............................................................................................ 12
3.1.4 Histórico de casos de ruptura de barragens de rejeitos................................................................. 18
3.1.4.1 Jupille – Bélgica (1961) ................................................................................................................. 21
3.1.4.2 Aberfan, Depósito nº 7 – Reino Unido (1966) .................................................................................. 22
3.1.4.3 Barragem de Buffalo Creek – Estados Unidos (1972) ....................................................................... 24
3.1.4.4 Bafokeng – África do Sul (1974) .................................................................................................... 25
3.1.4.5 Stava – Itália (1985) ...................................................................................................................... 27
3.1.4.6 Fernandinho – Brasil (1986) ........................................................................................................... 29
3.1.4.7 Merriespruit – África do Sul (1994) ................................................................................................ 30
3.1.4.8 Barragem São Francisco – Brasil (2007) .......................................................................................... 32
3.2 ESTUDOS DE RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS ................................................................................. 33
3.2.1 Formação da brecha ....................................................................................................................... 33
3.2.1.1 Modelos fisicamente embasados ..................................................................................................... 35
3.2.1.2 Modelos paramétricos .................................................................................................................... 37
3.2.1.3 Equações de previsão..................................................................................................................... 38
3.2.2 Propagação do potencial de inundação ......................................................................................... 39
3.2.2.1 Modelo hidráulico distribuído – Saint Venant .................................................................................. 40
3.2.2.2 Modelo hidrológico ou de armazenamento – Puls Modificado ........................................................... 46
3.2.2.3 Modelo simplificado de escoamento de rejeitos ................................................................................ 48
3.2.2.4 Modelo simplificado de equilíbrio de forças..................................................................................... 54
3.2.3 Mapeamento da inundação............................................................................................................. 60
4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................................ 64
4.1 ESTUDO DE C ASO: BARRAGEM DE R EJEITOS TICO-TICO........................................................................... 64
4.1.1 Descrição da barragem .................................................................................................................. 64
4.1.2 Descrição da região a jusante ........................................................................................................ 68
4.2 ESTUDOS DE DESENVOLVIMENTO DA BRECHA........................................................................................... 69
4.3 ESTUDOS DE PROPAGAÇÃO DO POTENCIAL DE INUNDAÇÃO....................................................................... 73
4.3.1 Modelo hidráulico distribuído – Saint Venant................................................................................ 73
4.3.1.1 Modelo Geométrico ....................................................................................................................... 75
4.3.1.2 Condições de contorno................................................................................................................... 76
4.3.1.3 Intervalo de tempo computacional................................................................................................... 77
4.3.2 Modelo de armazenamento – Puls Modificado............................................................................... 77
4.3.3 Modelo simplificado de escoamento de rejeitos ............................................................................. 78
4.3.4 Modelo de equilíbrio de forças ....................................................................................................... 81
4.4 MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO ............................................................................................................... 85
4.5 MAPEAMENTO DAS INUNDAÇÕES .............................................................................................................. 87
4.6 CENÁRIOS DE RUPTURA ............................................................................................................................. 88
4.7 CRITÉRIO DE INTERRUPÇÃO DA SIMULAÇÃO ............................................................................................. 89
4.8 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS .............................................................................................................. 94
5 RESULTADOS ............................................................................................................................................ 95
iv
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
5.1 FORMAÇÃO DA BRECHA E HIDROGRAMA DE RUPTURA .............................................................................. 95
5.2 SEÇÕES NOTÁVEIS ..................................................................................................................................... 97
5.3 ELEVAÇÃO MÁXIMA DA INUNDAÇÃO ........................................................................................................ 98
5.4 PROPAGAÇÃO DO HIDROGRAMA DE RUPTURA ......................................................................................... 101
5.5 TEMPO DE CHEGADA DA FRENTE DE ONDA .............................................................................................. 104
5.6 VELOCIDADES MÁXIMAS DA INUNDAÇÃO ............................................................................................... 105
5.7 CURVA-CHAVE RESTITUÍDA .................................................................................................................... 106
6 DISCUSSÃO .............................................................................................................................................. 108
6.1 BRECHA DE RUPTURA .............................................................................................................................. 108
6.2 PROPAGAÇÃO DA INUNDAÇÃO ................................................................................................................ 109
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 114
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 116
APÊNDICES ....................................................................................................................................................... 123
APÊNDICE A-1: ELEVAÇÃO MÁXIMA DA INUNDAÇÃO NAS SEÇÕES NOTÁVEIS ......................... 124
APÊNDICE A-2: COMPARAÇÃO DAS ENVOLTÓRIAS DE INUNDAÇÃO MÁXIMA .......................... 129
APÊNDICE A-3: MAPEAMENTO DA INUNDAÇÃO ESTÁTICA MÁXIMA DO CENÁRIO 1B............. 139
APÊNDICE A-4: EVOLUÇÃO TEMPORAL DA MANCHA DE INUNDAÇÃO DO CENÁRIO 1B .......... 149
APÊNDICE A-5: MAPEAMENTO DO RISCO HIDRODINÂMICO DOS CENÁRIOS 1B E 2B ................ 159
APÊNDICE A-6: MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO .............................................................................. 162
ANEXO 1: RESULTADOS DOS ENSAIOS GEOTÉCNICOS DOS REJEITOS DA BARRAGEM TICO-
TICO (OU B1-AUXILIAR) ............................................................................................................................... 164

v
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Curva tensão-deformação típica de areias fofas em condições não drenadas........ 8
Figura 3.2 – Esquema do desenvolvimento da falha da barragem de Merriespruit relatado por
testemunhas oculares ................................................................................................................ 10
Figura 3.3 – Comportamento dos fluidos submetidos a tensões de cisalhamento ................... 13
Figura 3.4 – Elevação da inundação devido à ruptura de Buffalo Creek ................................. 15
Figura 3.5 – Vista aérea da extensão da inundação após a ruptura da barragem de rejeitos de
gesso, Texas – EUA.................................................................................................................. 18
Figura 3.6 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Jupille ................................. 22
Figura 3.7 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Aberfan .............................. 23
Figura 3.8 – Configuração da barragem de rejeitos no vale do córrego Middle, afluente do rio
Buffalo, antes do acidente ........................................................................................................ 24
Figura 3.9 – Perspectiva da inundação do vale a jusante, um dia após o acidente de Buffalo
Creek......................................................................................................................................... 25
Figura 3.10 – Detalhe da cunha de ruptura em Bafokeng ........................................................ 26
Figura 3.11 – Vista aérea da ruptura da barragem Bafokeng ................................................... 27
Figura 3.12 – Vista aérea do arranjo geral das barragens de Stava .......................................... 27
Figura 3.13 – Vista aérea (antes e depois) da ruptura da barragem de rejeitos de Stava ......... 28
Figura 3.14 – Cicatriz deixada pela ruptura da Barragem de Fernandinho .............................. 29
Figura 3.15 – Vista aérea da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a ruptura
.................................................................................................................................................. 30
Figura 3.16 – Vista aérea da inundação provocada pela ruptura da barragem Merriespruit .... 31
Figura 3.17 – Vista aérea da cicatriz no reservatório da barragem de Merriespruit................. 31
Figura 3.18 – Perspectiva da brecha na barragem São Francisco............................................. 32
Figura 3.19 – Inundações provocadas em Miraí pela ruptura da barragem São Francisco ...... 33
Figura 3.20 – Ensaios de ruptura – laboratoriais e de campo – para análise da formação da
brecha por galgamento.............................................................................................................. 36
Figura 3.21 – Ensaios de ruptura de campo para análise da formação da brecha por piping ... 36
Figura 3.22 – Domínio discreto de solução x-t para o esquema de Preissmann ...................... 43
Figura 3.23 – Perfis de escoamento permanente e armazenamento entre seções..................... 48
Figura 3.24 – Perfil do escoamento Bingham-Plástico para rejeitos pós-liquefeitos ............... 54
Figura 3.25 – Geometria idealizada para análise de equilíbrio de forças pós-ruptura ............. 55
Figura 3.26 – Ábaco de parametrização da solução de estabilidade ........................................ 57
Figura 3.27 – Esquema típico da solução geométrica pelo método do equilíbrio de forças .... 59
Figura 3.28 – Diagrama de classificação do risco da inundação .............................................. 62
Figura 4.1 – Localização da barragem Tico-Tico e região analisada ....................................... 65
Figura 4.2 – Seção típica do projeto de alteamento da Barragem Tico-Tico ........................... 66
Figura 4.3 – Fotografia do talude de jusante da Barragem Tico-Tico ...................................... 67
Figura 4.4 – Curva cota-volume da Barragem Tico-Tico......................................................... 67
Figura 4.5 – Perspectiva do vale do córrego dos Machados a jusante da Barragem Tico-Tico
.................................................................................................................................................. 68
Figura 4.6 – Principais parâmetros de uma brecha típica ......................................................... 69
Figura 4.7 – Evolução temporal de uma brecha típica ............................................................. 72
Figura 4.8 – Traçado das seções hidráulicas sobre o modelo digital de elevação adotado ...... 75
Figura 4.9 – Variação do tempo de chegada da vazão de pico em função da variação do
coeficiente de rugosidade de Manning: estudo de caso da ruptura de Buffalo Creek .............. 76
Figura 4.10 – Resultados gráficos do ensaio de palheta realizado no furo 03 a 13 m de
profundidade ............................................................................................................................. 79

vi
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 4.11 – Regressão matemática para estimativa da resistência residual de solos
liquefeitos ................................................................................................................................. 84
Figura 4.12 – Comparação entre modelos digitais de elevação de resoluções distintas em áreas
urbanas...................................................................................................................................... 87
Figura 4.13 – Rio Paraopeba nas proximidades da confluência com o córrego dos Machados
.................................................................................................................................................. 89
Figura 4.14 – Bacia hidrográfica e localização da estação fluviométrica Ponte Nova do
Paraopeba.................................................................................................................................. 91
Figura 4.15 – Curva-chave do rio Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba. .......................... 92
Figura 4.16 – Distribuição de probabilidades teórica Gumbel para as vazões do rio Paraopeba
em Ponte Nova do Paraopeba ................................................................................................... 92
Figura 4.17 – Hidrograma da cheia de janeiro de 2012 do rio Paraopeba registrado em Ponte
Nova do Paraopeba ................................................................................................................... 93
Figura 5.1 –Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de Von
Thun e Gillette (1990) .............................................................................................................. 96
Figura 5.2 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de
Froehlich (2008) ....................................................................................................................... 96
Figura 5.3 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de Xu e
Zhang (2009) ............................................................................................................................ 96
Figura 5.4 – Comparação dos hidrogramas de ruptura resultantes da simulação dos modelos
de brecha paramétricos ............................................................................................................. 97
Figura 5.5 – Localização das seções notáveis selecionadas para a comparação dos resultados
.................................................................................................................................................. 97
Figura 5.6 – Elevação máxima atingida pela inundação para diversos cenários...................... 98
Figura 5.7 – Perfil da inundação máxima para os cenários 3a e 3b.......................................... 99
Figura 5.8 – Perfil da inundação máxima para os cenários 4a e 4b.......................................... 99
Figura 5.9 – Inundação estática máxima atingida para diversos cenários .............................. 100
Figura 5.10 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1a............................. 101
Figura 5.11 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1b ............................ 102
Figura 5.12 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2a............................. 102
Figura 5.13 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2b ............................ 103
Figura 5.14 – Comparação das vazões de pico após a propagação dos hidrogramas............. 103
Figura 5.15 – Comparação entre o hidrograma da cheia de janeiro de 2012 e o hidrograma
propagado até a Seção O no cenário 2b, no rio Paraopeba..................................................... 104
Figura 5.16 – Comparação entre os tempos de chegada da frente de onda em cada seção .... 105
Figura 5.17 – Comparação entre as velocidades máximas atingidas em cada seção ............. 105
Figura 5.18 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “E”..................... 106
Figura 5.19 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “H” .................... 106
Figura 5.20 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “K” .................... 107
Figura 6.1 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de rupturas
diversas, classificada por tipo de rejeitos ............................................................................... 112
Figura 6.2 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de rupturas
diversas, classificada por modos de falha ............................................................................... 113

vii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Caracterização de escoamentos em função da concentração de sólidos (continua)


.................................................................................................................................................. 15
Tabela 3.2 – Legenda para auxílio na interpretação da Tabela 3.3 .......................................... 19
Tabela 3.3 – Casos de ruptura de barragens de rejeitos com distância atingida registrada
(continua) .................................................................................................................................. 19
Tabela 3.4 – Número esperado de vidas em função do tempo de aviso ................................... 63
Tabela 4.1 – Equações de previsão da largura média da brecha de ruptura ............................. 70
Tabela 4.2 – Equações de previsão do tempo de formação da brecha ..................................... 71
Tabela 4.3 – Parâmetros de entrada para previsão da brecha ................................................... 73
Tabela 4.4 – Resumo de parâmetros de escoamento típicos de rejeitos liquefeitos ................. 78
Tabela 4.5 – Resultados dos ensaios de palheta executados em 2013 no reservatório da
barragem Tico-Tico .................................................................................................................. 80
Tabela 4.6 – Relação entre a retroanálise da resistência residual das areias e o número de
golpes SPT para o mesmo material .......................................................................................... 82
Tabela 4.7 – Correção de finos para avaliação da resistência por meio de ensaios SPT.......... 83
Tabela 4.8 – Resultados de (N1)60 extraídos dos ensaios de CPTu .......................................... 83
Tabela 4.9 – Resultados dos ensaios de caracterização e granulometria.................................. 84
Tabela 4.10 – Definição dos cenários simulados no estudo de caso da Barragem Tico-Tico.. 88
Tabela 4.11 – Dados da estação fluviométrica Ponte Nova do Paraopeba (Código 40800001)
.................................................................................................................................................. 90
Tabela 5.1 – Resultados dos parâmetros da brecha de ruptura................................................. 95

viii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

 Área ativa da seção transversal ao escoamento


 Área inativa da seção transversal, destinada apenas ao armazenamento
ANA Agência Nacional de Águas
ASTER/GDEM Modelo digital de elevação global ASTER
 Largura molhada correspondente à área ativa 
 Largura da base inferior da brecha
 Largura média da brecha
 Coeficiente de ajuste em função do material constituinte do maciço
 Coeficiente de ajuste em função do modo de falha
 Coeficiente de ajuste em função da erodibilidade do material
Coeficiente de Boussinesq para correção da distribuição de velocidades
Coeficiente de perda de carga de Chézy
Parâmetro adimensional da celeridade

 Coeficiente de ajuste em função do volume armazenado


 Número de Courant
CNES Centro Nacional de Estudos Espaciais (França)
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CPRM Serviço Geológico do Brasil
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
∆ Intervalo de tempo computacional
∆ Distância entre seções transversais
EUA Estados Unidos da América
   Valor de   em solos com finos correspondente ao mesmo  
para areias (“Equivalent Clean Sand”)
 Força de resistência à tração
 Força propulsora do escoamento
 Coeficiente de atrito
 Qualquer variável entre: ,  ,  , ,  , , ℎ.
! Ângulo formado com a horizontal
" Aceleração da gravidade
# Peso específico

ix
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
#$ Taxa de deformação para fluido Bingham-Plástico
ℎ Espessura da lâmina líquida ou profundidade hidráulica do escoamento
ℎ Parâmetro adimensional de elevação do escoamento
% Altura final da brecha
% Altura remanescente a jusante da cunha de ruptura
%& Altura de rejeitos remanescente à montante após a ruptura
%' Desnível geométrico da cunha de ruptura
ℎ( Elevação correspondente à posição  (
%) Altura do volume armazenado no reservatório no início da ruptura
% Altura da barragem
*+ Índice de fragilidade
*' Afluências no tempo 
ICOLD Comitê Internacional de Grandes Barragens
, Fator de condução da seção
- Coeficiente de ajuste em função do modo de falha
. Comprimento total cunha de ruptura
. Contribuição da quantidade de movimento de tributários
.& Distância do pé do talude da barragem para o interior do reservatório
.' Distância atingida à jusante do pé do talude da barragem
/ Razão adimensional entre posição e tempo
MDE Modelo Digital de Elevação
01 Viscosidade dinâmica ou aparente
02 Viscosidade plástica
3 Coeficiente de rugosidade de Manning
 Fator de correção de   para solos com presença de finos
 Parâmetro adimensional de estabilidade da massa rompida
  Valor padronizado para correção dos resultados de ensaios SPT
realizados sob condições de energia diferentes
4' Defluências no tempo 
5 Ângulo geral do talude de jusante da barragem
6 Perímetro molhado
PAE Plano de Ações Emergenciais
PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens
x
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
 Vazão
 Contribuição de vazão específica lateral
7 Parâmetro adimensional de viscosidade
7& Número de Reynolds
78 Raio hidráulico
 Parâmetro adimensional de resistência
 Declividade média a jusante
 e  Coeficientes de sinuosidade em função de ℎ
& Perda de carga localizada, por efeitos de contração/expansão
9 Declividade da linha de energia
' Armazenamento entre duas seções de referência
: Resistência residual ao cisalhamento não drenado
; Resistência ao cisalhamento ao longo da base da cunha de ruptura
 Variável independente relativa ao tempo
′ Parâmetro adimensional do tempo
9 Tempo de formação total da brecha
=9 Resistência do cisalhamento de pico
= Resistência do cisalhamento de residual
=> Tensão de escoamento
? Velocidade média do escoamento
?′ Parâmetro adimensional de velocidade
@) Velocidade da onda
A9 Volume de rejeitos liberados por unidade de brecha
A) Soma do volume de água e rejeitos no instante inicial da ruptura
W Peso total da massa escoada por metro linear de brecha
B9 Resistência do vento na superfície de escoamento
 Variável independente relativa à posição longitudinal
 Parâmetro adimensional de posição do escoamento
( Local de ocorrência da velocidade máxima
C Coeficiente de declividade lateral
D' Altura máxima de tensão no estado ativo

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1 INTRODUÇÃO

Não obstante a polêmica discussão que versa em torno da ética das motivações políticas e
econômicas para a implantação de barragens, é evidente que essas estruturas trazem consigo
benefícios diretos e indiretos à população. A movimentação de recursos para a execução da
obra e o usufruto advindo dos múltiplos usos possíveis durante a vida útil da barragem,
atestam o progresso oriundo dessa tecnologia e, porque não dizer, dessa obra de arte.

Por via de regra, as características geométricas das barragens, ao permitirem o acúmulo de


massa a montante de sua estrutura, resultam na formação de um reservatório com alto
potencial energético. Por vezes, essa energia potencial gravitacional é convertida por usinas
hidrelétricas e distribuída na forma de energia elétrica. Em outros casos, como na mineração,
as barragens destinam-se também à contenção de rejeitos e sedimentos, não raro perigosos.

No entanto, as imensas cargas hidrostáticas acumuladas nos grandes volumes reservados


constituem também fatores de risco que merecem atenção.

A despeito da remota probabilidade de falha, conferida pelos rigorosos critérios de projeto e


implantação, a severidade dos danos consequentes de um acidente com barragens fomenta
discussões voltadas ao estabelecimento de ações que visam à mitigação do risco a que se
submete o vale a jusante.

ICOLD (2001) apresentou acervo com registros de 221 incidentes envolvendo barragens de
rejeitos, cujos impactos atingiram até 120 quilômetros de extensão.

Segundo Davies (2002), nos últimos 30 anos, a frequência de ruptura de barragens de rejeitos
foi aproximadamente 10 vezes maior do que a frequência de ruptura de barragens de
contenção de água. Fato que evidencia a carência de uma boa gestão de risco dessas
estruturas.

A complexidade da gestão de risco e segurança das barragens de rejeitos pode ser atribuída a
diversos fatores (DAVIES, 2002; BLIGHT, 2010):

• As barragens de rejeitos estão em constante processo construtivo, por pelo menos 5 a 10


anos, podendo esse prazo ser estendido para além dos 50 anos;

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• Os estados de tensões da estrutura estão em constante alteração;

• São operadas por uma sucessão de profissionais, nem sempre comprometidos com a gestão
da segurança, nem sempre cientes dos riscos envolvidos na operação da barragem;

• Frequentemente, os funcionários alocados na operação da estrutura não estão habilitados a


reconhecerem situações potencialmente perigosas, tampouco conhecem um fluxo de ações
a serem tomadas em uma emergência;

• Por não apresentarem perspectiva de geração de receita, as barragens de rejeito têm sido
frequentemente concebidas com alternativas tecnológicas estritamente necessárias ao
atendimento de requisitos mínimos, como uma condicionante à explotação mineral, e não
como um investimento de capital.

Não é sem razão que a lista de barragens de rejeito que sofreram ruptura é consideravelmente
extensa e que os depósitos de rejeitos são considerados perigosos, principalmente se não
forem respeitados e tratados como tal (BLIGHT, 2010).

A disseminação da cultura de gestão de risco e segurança de barragens no Brasil recebeu uma


grande contribuição com a publicação do Manual de Segurança e Inspeção de Barragens (MI,
2002). Nesse documento, encontram-se normas de construção, operação e manutenção, bem
como indicação de procedimentos em casos de emergência.

Pouco mais tarde, segundo Lauriano (2009), as rupturas das barragens de rejeitos da
Mineração Rio Verde, em 2001, e da Indústria de Papel Cataguases, em 2003, impulsionaram
ações mais incisivas do Governo Federal no tocante à segurança de barragens que culminaram
com um projeto de lei para o estabelecimento da Política Nacional de Segurança de
Barragens, também em 2003.

No entanto, somente em setembro de 2010 é que a Política Nacional de Segurança de


Barragens (PNSB) foi finalmente estabelecida com a publicação da Lei nº 12.334 (BRASIL,
2010).

Em atendimento às regulamentações que sucederam à PNSB, a equipe de geotecnia da


empresa MMX Mineração e Metálicos S/A contratou a consultoria da VOGBR Recursos
Hídricos e Geotecnia Ltda. para a elaboração de estudos de ruptura hipotética e do Plano de
Ações Emergenciais da barragem de rejeitos da mina Tico-Tico, localizada no município de

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Igarapé/MG. Cientes da carência de investigações sobre os fenômenos de ruptura de
barragens de rejeitos, ambas as empresas autorizaram a utilização dos dados desses estudos
como fomento à essa pesquisa.

1.1 Justificativa
A Política Nacional de Segurança de Barragens aplica-se a barragens destinadas à acumulação
de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de
resíduos industriais que apresentem pelo menos uma das seguintes características:

• Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior ou igual a
15 m;

• Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000 m³;

• Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas aplicáveis;

• Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos econômicos, sociais,


ambientais ou de perda de vidas humanas.

Frequentemente as barragens em ambientes de mineração apresentam maciços maiores do que


15 m ou volumes reservados acima de 3 Mm³. Em alguns casos, o lançamento de efluentes
químicos associados aos rejeitos podem se incompatibilizar com o padrão de lançamento dos
corpos de água da bacia hidrográfica, exigindo ensaios laboratoriais para a classificação do
nível de periculosidade do material.

Quanto à categoria de dano potencial associado, a PNSB define que as barragens serão
classificadas segundo critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH).

Em julho de 2012, o CNRH publicou a Resolução nº 143 (BRASIL, 2012a) que estabelece
critérios, não apenas para classificação quanto à categoria de dano potencial associado, mas
também para a classificação por categoria de risco.

Os critérios estabelecidos para a classificação quanto ao dano potencial associado são


(BRASIL, 2012a):

• Existência de população a jusante com potencial de perda de vidas humanas;

3
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• Existência de unidades habitacionais ou equipamentos urbanos ou comunitários;

• Existência de infraestrutura ou serviços;

• Existência de equipamentos de serviços públicos essenciais;

• Existência de áreas protegidas definidas em legislação;

• Natureza dos rejeitos ou resíduos armazenados;

• Volume reservado.

Depreende-se dos critérios da Resolução nº143 que as categorias de dano potencial são
definidas baseadas apenas na existência de ocupações importantes a jusante, sem levar em
consideração se a inundação provocada por uma eventual ruptura irá atingir essas benfeitorias.

Como consequência da classificação quanto ao dano potencial associado, os proprietários de


barragens de mineração podem ser obrigados a elaborarem um Plano de Ações Emergenciais.

Os Planos de Ações Emergenciais (PAE) estão inseridos no âmbito do Plano de Segurança da


Barragem, instrumento da PNSB regulamentado para barragens de mineração pela Portaria
nº416 (BRASIL, 2012b) publicada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM).

De acordo com a Portaria nº416 as barragens com alto dano potencial associado devem dispor
de um Plano de Ações Emergenciais, documento que direciona as respostas em situação de
emergência e define procedimentos para gerenciamento do risco tanto para a estrutura da
barragem quanto para a planície de inundação.

É nesse cenário, caracterizado por um arcabouço legal cada vez mais coeso e rigoroso, que se
observam os crescentes esforços para a regularização das condições construtivas e
operacionais das barragens, focados também na elaboração do PAE. Ora, desde que o PAE se
afirme como uma ferramenta de auxílio à mitigação de riscos e danos que possam acometer a
sociedade civil, forçoso se faz que esses danos estejam, o quanto antes, bem definidos.

Nesse contexto, os estudos de ruptura de barragens e a consequente propagação da onda pelo


vale a jusante auxiliam na definição de diretrizes operacionais mais assertivas. Todavia, em se
tratando de barragens de rejeitos, a carência de critérios que subsidiem as condições de

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execução desses estudos dificulta o julgamento de suas validades e, não raro, subtraem-lhes a
credibilidade.

Para Rico et al. (2007), a diversidade das características das barragens de rejeitos torna
meramente especulativa qualquer tentativa de generalização da previsão dos impactos de uma
eventual ruptura.

Portanto, encontra-se nesse contexto motivação suficiente para a elaboração de pesquisa e


estudos que auxiliem na compreensão e análise dos fenômenos de ruptura de barragens de
rejeitos e do impacto da aplicação de diferentes metodologias na geração dos parâmetros de
inundações.

1.2 Estrutura do trabalho

Esse trabalho está estruturado em oito capítulos, dentre os quais o primeiro (Capítulo 1)
introduz a pesquisa no contexto acadêmico e tecnológico, abrindo precedentes para a
declaração dos objetivos expostos no Capítulo 2.

No Capítulo 3, realiza-se uma breve revisão da literatura sobre os fenômenos de ruptura de


barragens de rejeitos, incluindo a descrição sucinta de alguns casos históricos e a apresentação
de alguns modelos matemáticos de propagação do potencial de inundação por ocasião de
ruptura da barragem.

No Capítulo 4, descrevem-se os cenários de simulação e apresentam-se os materiais e a


metodologia aplicada nos estudos da ruptura hipotética da Barragem Tico-Tico, apresentada
no início do capítulo em conjunto com uma breve descrição do vale a jusante.

No Capítulo 5 são apresentados os resultados das simulações posteriormente discutidos no


Capítulo 6.

Finalmente, no Capítulo 7 apresentam-se as conclusões do trabalho acrescentadas por


recomendações e possibilidades de pesquisas deflagradas desse estudo.

Conta-se ainda com apresentação de desenhos e mapas temáticos apresentados nos apêndices
e com os ensaios geotécnicos dos rejeitos da Barragem Tico-Tico apresentados em anexo.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Essa pesquisa tem como objetivo geral a comparação de diferentes metodologias de previsão
de parâmetros de inundação decorrentes da ruptura de barragens de rejeitos.

2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos foram aqui definidos como subsídio da pesquisa em quatro itens:

• Analisar diferentes metodologias de previsão do hidrograma de cheia decorrente da ruptura


hipotética da Barragem Tico-Tico;

• Analisar diferentes metodologias de propagação de ondas provenientes da ruptura


hipotética da Barragem Tico-Tico;

• Avaliar a sensibilidade dos resultados obtidos frente à variação dos resultados dos modelos
de brecha;

• Avaliar a aplicabilidade das metodologias no auxílio às diretrizes do Plano de Ações


Emergenciais.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Ruptura de barragens de rejeitos


Ao analisar as rupturas de barragens de rejeitos, três grandes questões são comumente
elaboradas:

• Caso algum modo de falha se estabeleça e provoque a abertura de uma brecha, o rejeito
confinado no reservatório irá escoar e em que proporção para as áreas a jusante?

• Se for instaurado o fenômeno de liquefação, qual o percentual da massa armazenada no


reservatório irá de fato escoar pela brecha?

• Durante o escoamento dos rejeitos, qual será o sistema dinâmico que melhor representará o
comportamento dos fluidos?

Fatores importantes como a escala da ruptura, a influência do método construtivo e dos


materiais constituintes, a sistemática de disposição dos rejeitos no reservatório, os modos de
falha e desenvolvimento da brecha, o percentual do volume do reservatório liberado, as
velocidades iniciais do movimento, o regime de escoamento do fluido, a geomorfologia do
terreno a jusante e as condições hidrológicas antecedentes, constituem variáveis determinantes
do comportamento fenomenológico da ruptura de barragens de rejeitos, e ainda não se
consagraram respostas para nenhuma delas.

3.1.1 Mecanismo de ruptura

Invariavelmente, o fenômeno de escoamento de rejeitos está intimamente vinculado à


propensão do solo (rejeito) à liquefação (BISHOP, 1973).

Os variados mecanismos que envolvem o fenômeno de escoamentos de rejeitos por liquefação


são ainda pouco compreendidos. Muitas das variáveis somente foram investigadas por
métodos de inferência (indiretos), prescindindo de medições diretas durante o fenômeno
(VICK, 1991).

Obviamente, a postura preventiva tem motivado o desenvolvimento de pesquisas para


fomentar a compreensão dos fatores que conduzem à liquefação dos solos (LUCIA, 1981). No
entanto, pouca atenção tem sido dispensada para a compreensão do comportamento dos solos
após a instauração da liquefação e início do movimento.
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Sob a orientação de Arthur Casagrande, Castro (1969) delimitou o comportamento de solos
granulares pós-liquefeitos em laboratório. Em seus estudos, defende o desenvolvimento de
uma “estrutura de escoamento” do solo, para a qual a relativa posição dos grãos em constante
alteração provê uma resistência mínima ao movimento da massa total.

Segundo os ensaios conduzidos por Castro (1969), o comportamento típico das areias fofas
não coesivas pode ser representado tal como na Figura 3.1, em que o solo atinge a resistência
de pico (=9 ) para deformações muito pequenas (usualmente menores que 1%) experimentando
uma redução marcante da resistência ao cisalhamento para inexpressivos acréscimos de
deformação.

Nos limites da deformação verificados nos ensaios, as amostras atingem suas resistências
residuais (= ), momento no qual se estabelece a “estrutura de escoamento”.

FIGURA 3.1 – Curva tensão-deformação típica de areias fofas em condições não drenadas
Fonte: Adaptado de CASTRO, 1969

Ao analisar o comportamento dos solos representado pela Figura 3.1, Bishop (1973) propõe
que o potencial para o escoamento pós-ruptura pode ser relacionado à razão entre as
resistências de pico e residual. A partir dessa relação, Bishop (1973) apresentou o conceito de
“Índice de Fragilidade” (*+ ), definindo-o pela equação:

FG HFI
*+ E FG
(3.1)

8
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Segundo Bishop (1973), materiais que apresentam altos índices de fragilidade (*+ ) são mais
susceptíveis ao escoamento por liquefação.

Highter e Tobin (1980) relacionaram o índice de fragilidade em condições não drenadas para
rejeitos de minério de ferro, zinco e granada. Segundo esses autores, o índice de vazios inicial
é o parâmetro que governa os valores do índice de fragilidade. Os resultados dos ensaios
realizados por Highter e Tobin (1980) indicaram que, para as amostras dos três tipos de
rejeitos, a possibilidade de escoamento devido à aplicação de carregamentos pode ser evitada
se a compactação inicial do solo atingir valores acima de 80% da densidade seca máxima
referente ao Proctor Modificado.

Apesar de indicar a propensão ao escoamento, os estudos acerca da influência do Índice de


Fragilidade não fornecem subsídios para a definição do tipo de escoamento e da extensão dos
impactos provenientes de um evento de ruptura.

3.1.2 Modos de falha

Os principais modos de falha associados à ruptura de barragens de rejeitos citados por ICOLD
(2001) são:

• Galgamento;

• Terremoto;

• Percolação seguida por piping;

• Instabilidade de taludes;

• Falhas na fundação; e

• Falhas estruturais.

A classificação categórica dos modos de falha deve ser flexibilizada à medida que se percebe
a influência de um sobre outro.

Por exemplo, no caso da ruptura da barragem de Merriespruit (item 37 da Tabela 3.3), Blight
(2010) relata o desenvolvimento da ruptura como consequência de múltiplos fatores. Ao rever
as análises de estabilidade do talude na região da brecha, compará-la com registros

9
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piezométricos e com testemunhos locais, Bligth (2010) sugere que a provável sequência da
ruptura de Merriespruit tenha sido:

• As falhas operacionais negligenciaram a formação de um lago, não previsto em projeto,


nas adjacências do talude norte da barragem;

• A permanência do lago elevou os níveis de poropressão, resultando na eminência de uma


ruptura circular da berma estabilizante sobreposta ao pé da barragem;

• A contínua progressão do nível de água resultou no galgamento do talude norte e na


ruptura circular por cisalhamento em um trecho da berma estabilizante;

• Após a ruptura local, a abrasão conferida pela ação erosiva da veia líquida instaurada pelo
galgamento provocou grave ravina que rapidamente evoluiu para a plenitude da brecha;

• O aumento repentino das tensões de cisalhamento estimulado pela supressão do dique de


contenção do reservatório provocou a liquefação de parte dos rejeitos reservados que
escaparam pela brecha.

Apresenta-se na Figura 3.2 um esquema do momento crucial do desenvolvimento da brecha


em Merriespruit, quando o galgamento sobre o talude provocou uma ravina na região de
ruptura da berma estabilizante.

FIGURA 3.2 – Esquema do desenvolvimento da falha da barragem de Merriespruit relatado


por testemunhas oculares
Fonte: Adaptado de BLIGHT, 2010
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Verifica-se, portanto, que diversos modos de falha concorreram para a ruptura de
Merriespruit; percolações subestimadas elevaram os níveis de poropressão no maciço
promovendo problemas de instabilidade na face de jusante que se associaram às ações
erosivas do galgamento (elegido como causa principal).

Blight e Fourie (2005) comentam sobre a possibilidade de fenômenos de piping atuarem no


rebaixamento da crista e serem sucedidos por galgamento; ou ainda, sobre processos erosivos
provocados por galgamento serem responsáveis pela redução do fator de segurança e
consequente ruptura por cisalhamento.

Saliba (2009) identifica sequências de rupturas decorrentes de processos erosivos, acentuando


a declividade do talude, e rupturas por instabilização ao mecanismo de formação da brecha
em taludes de barragens de solo compactado submetidas a galgamento.

Não se encontraram na literatura evidências da influência do modo de falha na gravidade dos


impactos da ruptura. E, de fato, a principal causa do fluxo intenso de rejeitos está aliada ao
estado de tensões, que durante a ocorrência de um fenômeno inesperado (galgamento, piping,
terremoto), pode ser alterado a ponto de iniciar um movimento de massa.

Dessa forma, a formação da brecha nos maciços das barragens opera como um gatilho para o
início de um processo de escoamento ou liquefação dos rejeitos armazenados, uma vez
iniciadas as súbitas deformações promovidas pela perda de suporte da massa de solo adjacente
à brecha. Instaurado o escoamento pela brecha, o processo dinâmico somente se estabilizará
quando da formação de um perfil de superfície no interior do reservatório compatível com a
redução da resistência ao cisalhamento dos rejeitos supramencionados. De outro modo, todo o
material armazenado irá afluir pela brecha (BLIGHT e FOURIE, 2005).

As considerações de Blight e Fourie (2005) vão ao encontro dos resultados obtidos por Castro
(1987), que conclui que escorregamentos são desencadeados por terremotos quando as
deformações acumuladas atingem níveis suficientemente altos para superarem a resistência de
pico (=9 ) do solo, resultando em escoamentos consideráveis condicionados pela resistência
residual não drenada (: ).

Outros autores tentam correlacionar o modo de falha a aspectos construtivos e inerentes às


características locais.
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Para Bishop (1973) o modo de falha de aterros de rejeitos é controlado pelo comportamento
das camadas naturais da fundação e pelas propriedades dos materiais depositados.

Tem sido observado, no entanto, que a possibilidade de ocorrência de rupturas em barragens


de rejeitos pode se vincular de alguma forma ao método construtivo utilizado durante a
operação da estrutura. Reconhecendo-se, adicionalmente, que o método de alteamentos por
montante aumenta sobremaneira o risco de acidentes nessas barragens (JEYAPALAN et al.,
1983a; ICOLD, 2001).

Por outro lado, ICOLD (2001) pondera que o método de alteamento por montante é o método
mais tradicional e comumente utilizado na construção de barragens de rejeitos. E, ainda que
os registros de acidentes de barragens alteadas por linha de centro seja pequeno, o número de
barragens dessa categoria é também menor do que o número de barragens alteadas por
montante.

3.1.3 Reologia dos escoamentos de rejeitos

A presença de altas concentrações de sedimentos induz a complexos processos de dissipação


de energia durante o escoamento da mistura de água e rejeitos.

Além das tensões ordinárias, atribuídas à viscosidade e turbulência nos fluidos Newtonianos,
a interação entre água e sedimentos, o atrito das partículas com os limites do canal e a colisão
de materiais suspensos (tensão dispersiva) constituem fatores que se contrapõem ao
movimento. Adicionalmente, a eventual presença de partículas de argila com potenciais
coesivos elevados modifica os processos físicos que governam o escoamento (JULIEN e
O’BRIEN, 1997).

Portanto, os escoamentos de sedimentos em estados hiperconcentrados dependem do


estabelecimento de complexas funções para a caracterização das interações entre água e
sedimentos e das condições de contorno reológicas do sistema.

Para a mecânica dos fluidos clássica, a tensão necessária para produzir determinada
deformação em um fluido é proporcional à taxa de deformação (J?/JL). Para um fluido real
em movimento, as tensões cisalhantes – que existem apenas em condições dinâmicas –
desenvolvem-se em função de uma taxa de deformação angular. Apresentam-se na Figura 3.3
diferentes relações entre tensões cisalhantes e deformações.
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FIGURA 3.3 – Comportamento dos fluidos submetidos a tensões de cisalhamento
Fonte: Adaptado de O’BRIEN e JULIEN, 1984

Tal como representado pela Figura 3.3, os escoamentos Newtonianos respeitam uma relação
linear entre a tensão cisalhante e a taxa de deformação definida pelo gradiente de viscosidade
0 . Ainda na figura, verifica-se que os escoamentos do tipo Bingham-Plástico diferenciam-se
dos escoamentos Newtonianos por associarem à relação tensão-deformação uma tensão de
escoamento (=> ) que precisa ser superada a fim de que ocorra algum movimento.

Os escoamentos de sedimentos em estados hiperconcentrados correspondem a escoamentos


não-Newtonianos cujas tensões de cisalhamento não são linearmente proporcionais à taxa de
deformação (O’BRIEN e JULIEN, 1984). As concepções teóricas para fluidos viscoplásticos
e Bingham-Plásticos têm sido constantemente aplicadas para a descrição dos fenômenos de
escoamentos hiperconcentrados.

Para O’Brien e Julien (1984) e Phillips (1988), modelos que assumem a hipótese de
escoamento segundo o comportamento Bingham-Plástico podem apresentar bons resultados
na representação de escoamentos de lama, desde que condicionados a canais prismáticos de
declividades suaves para as quais o regime de escoamento seja parcialmente turbulento e os
efeitos de perda de carga por rugosidade sejam desprezíveis.

Segundo Jeyapalan, et al. (1983a), os escoamentos de rejeitos liquefeitos são muito bem
caracterizados pelo modelo Bingham-Plástico. Na concepção de seu modelo, Jeyapalan, et al.

13
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(1983a) afirmaram que, quando liquefeitos, a maioria dos rejeitos – com exceção dos rejeitos
de fosfato – escoam sob regimes laminares.

Lucia (1981) declara que rejeitos de fosfato, que apresentam partículas muito finas e teores de
umidade elevados, escoam tal como se água fossem.

Essa hipótese foi bastante criticada por Vick (1984), que considera as propriedades dos
rejeitos bastante complexas para serem premeditadamente utilizadas na simplória
classificação dos escoamentos entre laminares (maioria dos rejeitos) e turbulentos (rejeitos de
fosfato).

Segundo Vick (1984), as características dos rejeitos in-situ, proporcionadas pela variação dos
sistemas de disposição nos reservatórios, pelas diferentes granulometrias dos materiais
segregados e pelo adensamento natural conferido pelo peso próprio do volume reservado são
determinantes do comportamento dinâmico após uma eventual ruptura.

Vick (1984) defende ainda que as diferentes intensidades de sismos que induzem a liquefação
podem impactar sobremaneira na velocidade inicial do movimento e, consequentemente, na
classificação do regime dos escoamentos em laminar ou turbulento.

Dessa forma, Vick (1984) conclui que regimes de escoamento turbulentos ou laminares
podem ser atribuídos a quaisquer depósitos de rejeitos, desde que instauradas condições de
contorno para tanto.

A exemplo dessa afirmação, Fread e Lewis (1998) apresentaram resultados da retroanálise da


inundação provocada pela ruptura de Buffalo Creek (item 18 da Tabela 3.3). Nessa simulação
foi utilizado o modelo matemático de Saint-Venant, para fluidos Newtonianos em regime de
escoamento não-permanente e turbulento, com o intuito de representar o escoamento de
rejeitos de carvão.

Os resultados de elevação da retroanálise representados pela Figura 3.4 atestam a


possibilidade de adoção da hipótese de ocorrência de escoamento turbulento (e Newtoniano)
para a definição de inundações provocadas por escoamento de rejeitos – que não apenas
rejeitos de fosfato.

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FIGURA 3.4 – Elevação da inundação devido à ruptura de Buffalo Creek
Fonte: FREAD e LEWIS, 1998

Jeyapalan, et al. (1983b) observam que, como no caso de Buffalo Creek, as características dos
escoamentos de rejeitos não dependem apenas da natureza do material, mas também da
quantidade de água envolvida no movimento.

De fato a presença da água é definitiva na caracterização do escoamento. Hutchinson e


Bhandari (1971) estudaram as causas das corridas de lama e movimentos de massa e
concluíram que o acúmulo de poropressões elevadas constitui causa primária desses
movimentos.

O’Brien e Julien (1984) apresentaram relações de concentração de sedimentos como diretriz


qualitativa para avaliação da propensão ao escoamento (vide Tabela 3.1).

TABELA 3.1 – Caracterização de escoamentos em função da concentração de sólidos


(continua)

Concentração
Característica do
Volumétrica Descrição
Escoamento
(Cv)

0,53 a 0,90 Não há escoamento


Escorregamento
0,50 a 0,53 Deformações internas e movimento lento devido às tensões

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Concentração
Característica do
Volumétrica Descrição
Escoamento
(Cv)

Escoamento evidente, apesar de lento / Deformações


0,48 a 0,50
plásticas sem espraiamento sobre as superfícies adjacentes
Lama plástica
Início de espraiamentos, apesar da atuação de forças
0,45 a 0,48
coesivas
Mistura-se com facilidade / Apresenta fluidez na
deformação alastrando-se sobre superfícies horizontais /
0,40 a 0,45 Durante movimento a superfície do fluido apresenta
considerável declividade / Aparecimento de ondas com
dissipação rápida

Acentuada sedimentação / Alastra-se quase por completo


sobre superfícies horizontais / Identificação de duas fases
0,35 a 0,40
Corrida de Lama (fase líquida aparece) / ondas se propagam por distâncias
consideráveis

Separação de água na superfície / ondas propagam-se com


0,30 a 0,35
facilidade / decantação de partículas granulares

Ação de ondas distinta / Superfície fluida / todas as


0,20 a 0,30
partículas foram decantadas

Inundação provocada por propagação de onda no estado


Escoamento aquoso < 0,20
líquido com de carga de sedimentos suspensos

Fonte: Adaptado de O’BRIEN e JULIEN, 1984

Conforme constatado pela classificação da Tabela 3.1, para concentrações de sólidos na polpa
de rejeitos (Cv) de até 20% em volume, o escoamento comporta-se como um líquido
semelhante à água. Por exemplo, considerando rejeitos com massa específica dos grãos igual
a 3,00, estas condições equivalem a rejeitos com até 43% de sólidos em massa, que
correspondem à maioria de rejeitos bombeados no Brasil.

Para Cv variando entre 20% e 40 % em volume – o que corresponderia a uma polpa de rejeitos
com 43% a 67% de sólidos em massa para rejeitos com massa específica dos grãos igual a
3,00 – os escoamentos apresentam alta fluidez com propagação de ondas por distâncias
consideráveis. Estes valores encontram-se na faixa das polpas de rejeitos espessados.

Segundo Julien e O’Brien (1997), as corridas de lama (Cv < 40%) caracterizam-se como
turbulentas e com resistência ao escoamento dependente das condições de contorno externas.

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Somente para valores de Cv acima de 45% em volume é que as forças coesivas e as tensões
intrínsecas passam a prevalecer como indutoras da alta plasticidade e resistência ao
escoamento. Para rejeitos com massa específica dos grãos igual a 3,00, essas condições
equivalem a rejeitos com concentração de sólidos em massa de cerca de 71% (típicas de
rejeitos em pasta). Nessas condições, raras no Brasil, os rejeitos depositados liberam pouca
água e apresentam baixa propensão ao escoamento.

Reitera-se que as classificações propostas a partir da concentração volumétrica são apenas


qualitativas e não podem ser utilizadas como condição sine qua non, tampouco definitivas.

Para Vick (1991), a inexistência de correlação entre parâmetros reológicos e indicadores de


propriedades dos rejeitos antes da ruptura demonstra a insipiência da atribuição de parâmetros
de escoamento a partir de ensaios laboratoriais e, ou, a partir de retroanálises feitas após o
estado de equilíbrio.

Todos os esforços dispensados à promoção do conhecimento acerca da reologia que governa


os escoamentos de rejeitos e sedimentos possibilitaram, até o momento, a conspiração de
diversas teorias. Não obstante as ponderações legítimas registradas na literatura, não se
encontrou ainda um modelo que apresentasse solução de continuidade para a definição da
extensão dos impactos decorrentes da ruptura de barragens de rejeitos.

Conforme relatado na introdução, segundo Rico et al. (2007), a diversidade das características
das barragens de rejeitos torna meramente especulativa qualquer tentativa de generalização da
previsão dos impactos de uma eventual ruptura.

Aliás, pouca relação entre causa e efeito tem sido estabelecida quando se observam os casos
históricos de rupturas de barragens.

De fato, os registros históricos de ruptura de barragens de rejeitos evidenciam a amplitude dos


impactos de inundação que, ora limitam-se a poucos metros da brecha (como no caso da
barragem de contenção de rejeitos de gesso apresentada na Figura 3.5), ora percorrem grandes
distâncias (vide o acidente nº 17 na Tabela 3.3 onde 120 quilômetros de extensão foram
atingidos pela ruptura da barragem de fosfato em 1971 no estado da Flórida, EUA).

17
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
FIGURA 3.5 – Vista aérea da extensão da inundação após a ruptura da barragem de
rejeitos de gesso, Texas – EUA
Fonte: JEYAPALAN, 1983b

3.1.4 Histórico de casos de ruptura de barragens de rejeitos

Os registros de acidentes envolvendo barragens de rejeitos evidenciam os riscos elevados


associados a esse tipo de obra. Segundo Davies (2002), nos últimos 30 anos, a frequência de
ruptura de barragens de rejeitos foi aproximadamente 10 vezes maior do que a frequência de
ruptura de barragens de contenção de água.

Blight (2010) apresentou uma lista com as 19 maiores falhas ocorridas entre os anos de 1928
e 2000 que, somadas, ceifaram 1080 vidas humanas. Dentre as quais, 1065 ocorreram entre os
anos de 1965 e 1996 – uma média de 34 vidas por ano.

Davies (2002) apresentou breve descrição estatística dos casos de ruptura de barragens de
rejeitos ocorridos entre os anos de 1970 e 2001, inclusive. Período no qual, segundo este
autor, ocorreram em média pelo menos 2 a 5 acidentes por ano. Essa frequência de acidentes
foi associada por Davies (2002) a um inventário de 3.500 barragens, resultando em uma
probabilidade de falha anual de 1/700 a 1/1750 por barragem. Valores elevados que implicam
em riscos raramente admitidos na gestão de segurança dessas estruturas.

18
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Não obstante a merecida atenção que deve ser dispensada a todos os casos de rupturas
registrados pela história, elegeram-se nesse trabalho apenas aquelas cujas distâncias atingidas
foram relatadas.

Com o intuito de ilustrar a grande variabilidade dos parâmetros envolvidos e das extensões
das inundações provocadas por rupturas de barragens de rejeitos, apresenta-se na Tabela 3.3
uma breve compilação de casos coletados no cenário mundial.

Na Tabela 3.2 apresenta-se uma legenda para auxiliar a interpretação da Tabela 3.3

TABELA 3.2 – Legenda para auxílio na interpretação da Tabela 3.3

Método Construtivo Material Modo de falha

M - Alteamento por Montante R – Rejeitos T – Terremoto

J - Alteamento por Jusante S – Solo G – Galgamento

B - Barragem Convencional C - Rejeito Ciclonado I - Instabilidade do Talude

P - Ponta de Aterro E – Enrocamento F - Falha na Fundação

G – Barragem de Gravidade EM - Estéril de Mina ES - Falha Estrutural

A – Alvenaria PE – Percolação / Piping

TABELA 3.3 – Casos de ruptura de barragens de rejeitos com distância atingida registrada
(continua)

Dados técnicos da barragem


Modo Rejeitos Distância
nº Ano Identificação / Local Tipo de minério Altura Volume de liberados atingida
Método falha (m³) (m)
Material máxima armazenado
Construtivo
(m) (m³)

Aberfan Tip nº 4 / Wales /


1 1944 carvão P - 46 17 (Mt) - - 700
Reino Unido
0, 15
2 1961 Jupille / Belgica pozolana P - 46 0,6 (Mt) I 600
(Mt)

3 1961 Tymawr / Reino Unido carvão - - - - - - 800

4 1965 Bellavista / Chile cobre M R 20 450.000 T 70.000 2.500

5 1965 Cerro Negro nº 3 / Chile cobre M R 20 500.000 T 85.000 5.000

6 1965 El Cobre New Dam / Chile cobre J C 19 350.000 T 350.000 12.000

19
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Dados técnicos da barragem
Modo Rejeitos Distância
nº Ano Identificação / Local Tipo de minério Altura Volume de liberados atingida
Método falha (m³) (m)
Material máxima armazenado
Construtivo
(m) (m³)

7 1965 El Cobre Old Dam / Chile cobre M R 35 4.250.000 T 1.900.000 12.000

8 1965 Hierro Viejo / Chile cobre M R 5 - T 800 1.000

La Patagua New Dam /


9 1965 cobre M R 15 - T 35.000 5.000
Chile

10 1965 Los Maquis nº 3 / Chile cobre M - 15 43.000 T 21.000 5.000

11 1965 Tymawr / Reino Unido carvão - - 12 - G - 700

12 1966 Derbyshire / Reino Unido carvão J - 8 - F 30.000 100

Não Identificado / Texas /


13 1966 gesso M R 16 - PE 130.000 300
EUA
Aberfan Tip nº 7 / Wales / 0,109
14 1966 carvão P - 39 0.43 (Mt) PE 600
Reino Unido (Mt)

15 1968 Hokkaido / Japão - M R 12 300.000 T 90.000 150

16 1970 Maggie Pye / Reino Unido caolin M R 18 - I 15.000 35

Não Identificado / Florida /


17 1971 fosfato B S 15 12.340.000 - 9.000.000 120.000
EUA

18 1972 Buffalo Creek / EUA carvão M - 14 a 18 500.000 G-PE 600.000 27.000

Não Identificado / Sul dos


19 1973 cobre M S 43 500.000 I 170.000 25.000
EUA

20 1974 Bafokeng / Africa do Sul platina M R 20 17.000.000 PE 3.000.000 45.000

21 1974 Deneen Mica Yancey / EUA mica M EM 18 300.000 I 38.000 30

22 1974 Galena Mine / Idaho / EUA prata M EM 9 - G 3.800 610

23 1978 Mochikoshi nº 1 / Japão ouro M R 28 480.000 T 80.000 32.000

24 1978 Mochikoshi nº 2 / Japão ouro M R 19 480.000 T 3.000 150

Arcturus / República do 1,7 a 2,0 0,039


25 1978 ouro M R 25 G 300
Zimbábue (Mt) (Mt)
Church Rock / Novo
26 1979 urânio B S 11 370.000 F 370.000 110.000
México / EUA
Phelps-Dodge / Novo
27 1980 cobre M C 66 - I 2.000.000 8.000
Méximo / EUA

28 1981 Balka Chuficheva / Russia ferro M C 25 27.000.000 I 3.500.000 1.300

Bonsal / Carolina do Norte /


29 1985 agregados B S 6 38.000 G 11.000 800
EUA

30 1985 Cerro Negro nº 4 / Chile cobre M C 40 2.000.000 T 500.000 8.000

Ollinghouse / Nevada /
31 1985 ouro B S 5 120.000 PE 25.000 1.500
EUA

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Dados técnicos da barragem
Modo Rejeitos Distância
nº Ano Identificação / Local Tipo de minério Altura Volume de liberados atingida
Método falha (m³) (m)
Material máxima armazenado
Construtivo
(m) (m³)

32 1985 Stava / Itália fluorita M C 29 300.000 I 190.000 8.000

33 1985 Veta de Agua nº 1 / Chile cobre M R 24 700.000 T 280.000 5.000

34 1985 Quintette / Marmot / Canada carvão - - - - - 2.500.000 2.500

Fernandinho / Minas Gerais


35 1986 ferro G A 30 - ES 100.000 12.000
/ Brasil

36 1989 Stancil / Maryland / EUA agregados M S 9 74.000 I 38.000 100

37 1994 Merriespruit / Africa do Sul ouro M R 31 10 (Mt) G 2,5 (Mt) 4.000

38 1996 Marcopper / Filipinas cobre - - - - ES 2,4 (Mt) 25.000

chumbo / zinco /
39 1996 Sgurigrad / Bulgaria M R 45 1.520.000 I 220.000 6.000
cobre / prata
zinco / chumbo /
40 1998 Los Frailes / Espanha B E 27 15.000.000 F 6.800.000 40.000
cobre
São Francisco / Miraí /
41 2007 bauxita B S 32 - G 2.000.000 92.000
Brasil
Castle Dome / Arizona /
42 - cobre M R - - PE 150.000 100
EUA
Fonte: Adaptado de ICOLD, 2001; BLIGHT, 2010; BISHOP, 1973; LUCIA, 1981, RICO et al, 2007; e
CBDB, 2012

Alguns casos apresentados na Tabela 3.3 foram relatados com um pouco mais de detalhe nos
itens subsequentes.

3.1.4.1 Jupille – Bélgica (1961)


A estrutura localizava-se em Jupille, município de Liège na Bélgica e rompeu na tarde do dia
3 de fevereiro de 1961 provocando um fluxo de material que resultou na perda de 11 vidas.

O depósito de pozolana de aproximadamente 600.000 toneladas de material foi construído


sem controle de compactação a partir do lançamento de finos por caminhões, tal qual uma
ponta de aterro. O aterro apresentava uma altura máxima aproximada de 46 m e uma umidade
estimada em 25% (BISHOP, 1973).

Antes da ruptura as camadas inferiores do aterro apresentaram elevada umidade (58%). A


análise do evento aponta que o movimento iniciou sobre um gradiente de declividade de 18º e
transportou um volume entre 100.000 m³ a 150.000 m³ por uma extensão de 600 m. Estima-se
21
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que o fenômeno de transporte atingiu elevadas velocidades, possivelmente acima de 30 m/s
(BISHOP, 1973).

Apresenta-se na Figura 3.6 uma vista aérea do local após o acidente, a partir da qual se
identificam a cicatriz da ruptura no depósito e o poder destrutivo do material transportado em
alta velocidade.

FIGURA 3.6 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Jupille


Fonte: BISHOP, 1973

3.1.4.2 Aberfan, Depósito nº 7 – Reino Unido (1966)


No dia 21 de outubro de 1966, em Aberfan (Wales, Reino Unido), ocorreu uma ruptura
repentina no aterro do depósito de rejeitos de carvão nº 7, resultando na destruição de uma
escola infantil e residências, somando-se 144 vidas perdidas.

22
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O aterro foi construído a partir da descarga de rejeitos de carvão. O depósito final assumiu
uma geometria semelhante a um tronco de cone com declividades de taludes correspondentes
ao ângulo de repouso característico do material (BISHOP, 1973).

Na ocasião da ruptura o aterro apresentava uma elevação máxima de 39 m. Antes do acidente,


o material do aterro indicava relativos sinais de baixa compactação e uma densidade aparente
seca de cerca de 1600 kg/m³ (LUCIA, 1981).

Uma percolação não controlada adveio da fundação saturando as camadas inferiores do


depósito. O deslocamento do material foi atribuído à uma falha na fundação do aterro.
Estima-se que 107.000 m³ de rejeitos foram deslocados a velocidades entre 4,5 m/s a 9 m/s.
Do volume total de rejeitos transportados, cerca de apenas 40.000 m³ atravessaram um aterro
de ferrovia existente a montante da vila. O fluxo de material atingiu uma distância de
aproximadamente 600 m (BISHOP, 1973).

Apresenta-se na Figura 3.7 uma vista aérea da devastação provocada pelo fluxo de rejeitos
decorrente da ruptura do Depósito nº 7 em Aberfan.

FIGURA 3.7 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Aberfan


Fonte: BISHOP, 1973

23
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3.1.4.3 Barragem de Buffalo Creek – Estados Unidos (1972)
A barragem de Buffalo Creek localizava-se na Virgínia do Oeste, no vale encaixado de
Middle Fork, configurando uma sequência de estruturas tal como representado na Figura 3.8.

O único dispositivo de descarga consistia de uma tubulação de 600 mm de diâmetro


posicionada acerca de 2,5 m abaixo da crista (BISHOP, 1973).

Apesar da ocorrência de galgamento em função da capacidade de descarga reduzida da


tubulação, outros modos de falha como piping e sobrelevação da freática devido à percolação
também se aliam às possíveis causas atribuídas ao acidente (BISHOP, 1973).

FIGURA 3.8 – Configuração da barragem de rejeitos no vale do córrego Middle, afluente do


rio Buffalo, antes do acidente
Fonte: DAVIES et al., 1972 apud BISHOP, 1973

Sob a responsabilidade da empresa Buffalo Mining Company, a barragem rompeu em 26 de


fevereiro de 1972 após a incidência de um evento de precipitação entre 50 mm e 180 mm nas
72 horas antecedentes (BISHOP, 1973).

24
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A ruptura teve seu início na barragem nº 3 que apresentava cerca de 15 m de altura,
desencadeando a ruptura e o transporte dos rejeitos armazenados também nos reservatórios
imediatamente a jusante. Estima-se que foram liberados cerca de 170.000 m³ de rejeitos
transportados por 27 km (LUCIA, 1981).

O acidente ocasionou a perda de 118 vidas e deixou cerca de 4.000 desabrigados. Apresenta-
se na Figura 3.9 uma fotografia de montante para jusante da aérea – antes ocupada pela
comunidade de Saunders – um dia após o acidente. Estima-se que a inundação tenha atingido
6 m de altura nessa região (USDA, 1972).

FIGURA 3.9 – Perspectiva da inundação do vale a jusante, um dia após o acidente de


Buffalo Creek
Fonte: USDA, 1972

3.1.4.4 Bafokeng – África do Sul (1974)


Na manhã do dia 11 de novembro de 1974 a barragem de rejeitos nº 1 da mina de platina de
Bafokeng, localizada nas proximidades do município de Rustenburg (África do Sul), rompe
desencadeando consequências desastrosas (BLIGHT, 2010).

Durante a madrugada verificou-se a ocorrência de uma precipitação de 50 anos de tempo de


retorno, suficiente para preencher o reservatório. Suspeita-se que a elevação do nível de água
induziu fenômenos de percolação que teriam levado a estrutura à falha (LUCIA, 1981).
25
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Apresenta-se na Figura 3.10 uma perspectiva da cunha de ruptura formada no interior do
reservatório como consequência do fluxo de material a jusante.

FIGURA 3.10 – Detalhe da cunha de ruptura em Bafokeng


Fonte: BLIGHT, 2010

O reservatório de Bafokeng continha 17 Mm³ de rejeitos acondicionados em uma barragem de


20 m de altura, cuja área ocupada aproximava-se a 85 ha. Desse volume, cerca 3 Mm³
escoaram através da brecha que desenvolveu-se rapidamente para larguras finais de 120 m a
140 m (BLIGHT, 2010).

Nos primeiros 4 km a lama efluente espraiou-se atingindo elevações de 10 m e larguras de


0,8 km. Não obstante a presença de pronunciadas planícies a jusante da barragem, a
dissipação da onda de cheia não interrompeu o avanço da lama que percorreu cerca de 45 km
após misturar-se ao fluxo natural do rio Kwa-Leragana, acomodando-se no reservatório da
barragem de água de Vaalkop (BLIGHT, 2010).

Apresenta-se na Figura 3.11 uma vista aérea do acidente de Bafokeng que provocou a perda
de 12 vidas.

26
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FIGURA 3.11 – Vista aérea da ruptura da barragem Bafokeng
Fonte: LUCIA, 1981

3.1.4.5 Stava – Itália (1985)


No início da tarde do dia 19 de julho de 1985, ocorreu a ruptura de duas barragens de rejeitos,
construídas para a operação de uma mina de fluorita. O número de 268 vidas perdidas entre as
vilas de Stava e Tesero, no norte da Itália, marcou esse evento como um dos mais
catastróficos da história.

As duas barragens justapostas no vale (Figura 3.12), apresentavam rejeitos suficientemente


granulares para serem alteadas por montante. O sistema de descarga da barragem de montante
atravessava o interior de seu maciço e desembocava no reservatório da barragem a jusante
(ICOLD, 2001).

FIGURA 3.12 – Vista aérea do arranjo geral das barragens de Stava


Fonte: WISE-URANIUM, 2013

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Quando a segunda barragem (montante) atingiu a elevação de 29 m, uma condição de
instabilidade, provavelmente provocada por uma elevada percolação, resultou em um
escorregamento rotacional que provocou a abertura da brecha dessa estrutura. O deslocamento
repentino de energia provocou a ruptura da barragem a jusante. O somatório dos volumes
efluentes em decorrência da falha das estruturas provocou uma onda de rejeitos que atingiu
velocidades de 17 m/s, percorrendo cerca de 8 km (ICOLD, 2001).

Apresenta-se na Figura 3.13 uma vista antes e depois da ruptura no vale de Stava e Tesero.

FIGURA 3.13 – Vista aérea (antes e depois) da ruptura da barragem de rejeitos de Stava
Fonte: WISE-URANIUM, 2013

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3.1.4.6 Fernandinho – Brasil (1986)
A barragem de rejeitos da Mina de Fernandinho, de propriedade da Itaminas Comércio de
Minérios S/A, localizava-se no município de Itabirito. A ruptura dessa estrutura ocorreu no
ano de 1986 e é narrada por Parra e Lasmar (1987).

Segundo esses autores, baseados em relatos de testemunhas, a ruptura teria ocorrido em duas
etapas. Na primeira, houve uma movimentação lenta próximo à ombreira direita, envolvendo
o lago do reservatório e levando máquinas e operadores que trabalhavam no local.
Posteriormente, ocorre o colapso total do maciço (vide Figura 3.14) associado à formação de
uma onda de lama.

FIGURA 3.14 – Cicatriz deixada pela ruptura da Barragem de Fernandinho


Fonte: PARRA e LASMAR, 1987

Os sinais deixados pelo acidente impressionaram pela rapidez com que se desenvolveu, pela
velocidade alcançada e pelo alto grau de fluidez da massa envolvida. Em gargantas situadas a
jusante, irregularidades do terreno que poderiam ter aprisionado parte da massa em
movimento ficaram vazias, evidenciando o caráter de reduzidas viscosidades do fluido.
(PARRA e LASMAR, 1987).

Nas margens havia sinais de grandes desníveis nas alturas alcançadas pela onda de lama. Toda
a vegetação e o solo superficial foram removidos pela força da massa em movimento,
deixando uma superfície com aspecto desértico. Apresenta-se na Figura 3.15 uma vista aérea
da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a ruptura.

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FIGURA 3.15 – Vista aérea da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a
ruptura
Fonte: PARRA e LASMAR, 1987

3.1.4.7 Merriespruit – África do Sul (1994)


Durante a noite do dia 22 de fevereiro de 1994 um dos diques da barragem de rejeitos de ouro,
localizada a 300 m do vilarejo de Merriespruit, entra em colapso resultando na perda de 17
vidas.

Manobras operacionais mal direcionadas resultaram na descarga não prevista de água e


rejeitos, que somada ao volume de chuva antecedente ao evento reduziram gravemente a
borda livre da barragem para 0.3 m, deslocando a posição original do lago (mais centralizada)
para as extremidades do reservatório próximo ao talude setentrional (BLIGHT, 2010).

Segundo testemunhas oculares, às 17h00min do dia do acidente, identificou-se o fluxo de


água por sobre a crista do dique norte, momentos antes da ruptura, quando nenhuma ação
corretiva poderia ser tomada. Associado ao galgamento testemunhou-se a formação de uma
fossa no talude na região onde, posteriormente, formou-se a brecha (BLIGHT, 2010).

Imediatamente antes de atingir as primeiras edificações de Merriespruit, a onda de rejeitos


apresentava 2,5 m de altura. Algumas dessas casas foram arrancadas de suas fundações,

30
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enquanto paredes tombavam e coberturas ruíam. A corrida de lama invadiu as ruas do vilarejo
(Figura 3.16), percorrendo cerca de 4 km (BLIGHT, 2010).

Apresenta-se na Figura 3.17 uma vista aérea da cicatriz formada no reservatório após a
ruptura da barragem de Merriespruit.

FIGURA 3.16 – Vista aérea da inundação provocada pela ruptura da barragem Merriespruit
Fonte: BLIGHT, 2010

FIGURA 3.17 – Vista aérea da cicatriz no reservatório da barragem de Merriespruit


Fonte: BLIGHT, 2010

31
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3.1.4.8 Barragem São Francisco – Brasil (2007)
Sob a responsabilidade da empresa Mineração Rio Pomba Cataguases Ltda., a Barragem São
Francisco destinava-se à contenção de rejeitos provenientes do beneficiamento da bauxita.

Em março de 2006 o sistema extravasor apresentou falhas estruturais que provocaram o


vertimento de grande quantidade de lama. Esse acidente, motivou a construção de outro
sistema extravasor posicionado na crista da barragem (CBDB, 2012).

Na madrugada do dia 10 de janeiro de 2007, sob efeitos de chuvas intensas na região,


testemunhou-se o galgamento pela ombreira direita da barragem São Francisco, provocando a
abertura da brecha no maciço (Figura 3.18) devido à instalação de processos erosivos
intensos. Segundo as investigações realizadas, havia um desnível próximo a um acesso na
ombreira direita da barragem que induziu o galgamento da crista concomitantemente à adução
das afluências ao reservatório pelo sistema extravasor (CBDB, 2012).

Não obstante a preservação de todas as vidas humanas, em função de ações diligentes para a
evacuação da população ribeirinha, estima-se que a inundação tenha atingido 92 km de
extensão, passando pelos municípios de Miraí, Muriaé e Lage do Muriaé (CBDB, 2012).

Apresentam-se na Figura 3.19 imagens das inundações na região de Miraí a apenas 7 km a


jusante da barragem.

FIGURA 3.18 – Perspectiva da brecha na barragem São Francisco


Fonte: BRASIL e ROCHA, 2012

32
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FIGURA 3.19 – Inundações provocadas em Miraí pela ruptura da barragem São Francisco
Fonte: MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007 apud CBDB, 2012

3.2 Estudos de ruptura de barragens de rejeitos

3.2.1 Formação da brecha

No contexto da previsão de impactos, o objetivo dos estudos dos mecanismos de ruptura


atrelados ao desenvolvimento da brecha não é outro senão o de determinar o hidrograma
efluente a ser propagado a jusante.

Analisando casos de ruptura de barragens de rejeitos, Rico et al. (2007) encontraram apenas
três registros de vazão máxima. Ainda assim, Rico et al. (2007) propuseram uma formulação
empírica para a previsão da vazão de pico efluente a partir da reconstituição das vazões
proposta por outros autores. Com exceção desse trabalho, não se identificou na literatura
qualquer menção a modelos de brecha específicos para barragens de rejeitos.

A carência de pesquisas sobre os fenômenos de desenvolvimento de brechas em barragens de


rejeitos conduz à simplificada aplicação dos modelos desenvolvidos para barragens de água.

33
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Essa premissa, por vezes conservadora, resulta na efluência completa de todo material
armazenado, ignorando qualquer possibilidade de interrupção do movimento no interior do
reservatório.

Nos estudos apresentados por Lucia (1981), o volume de rejeitos usualmente liberado foi
consideravelmente menor do que o volume total armazenado. Todavia, para alguns casos,
especialmente quando os rejeitos apresentaram-se extremamente fluidos, todo o reservatório
foi esgotado. Na ausência de evidências contrárias, Lucia (1981) defende a hipótese de que
100% do volume de rejeitos irá escoar pela brecha.

Ao aplicarem regressões matemáticas correlacionando volumes de rejeitos armazenados com


volumes escoados, Rico et al. (2007) apresentaram uma equação que aproxima o volume de
rejeitos escoados a um terço do volume total. Nesse mesmo estudo, a envoltória superior do
volume de rejeitos liberados equivale, mais uma vez, a 100% do volume total armazenado.

Ao que tudo indica, parece haver um consenso de que, para efeitos de definição de impactos,
a hipótese de aplicação de modelos de brecha desenvolvidos para barragens de água é, ainda,
a mais razoável.

Saliba (2009) identifica duas fases distintas que marcam o desenvolvimento dos estudos dos
mecanismos de ruptura de barragens. A primeira, até a década de 70, quando predomina o
conceito de ruptura abrupta dos maciços e a segunda fase, a partir da década de 80, quando os
registros de casos reais de ruptura apontam a necessidade de avaliação da resistência dos
maciços.

A hipótese comum para as barragens de concreto é de que a ruptura ocorrerá de forma


abrupta, quase instantânea. E ainda, para as barragens em arco assume-se a ruptura total,
enquanto que para as barragens em gravidade ou contraforte a hipótese de ruptura parcial é
mais razoável (ICOLD, 1998).

Na perspectiva dos maciços em solo, Ponce e Tsivoglou (1981) apud Saliba (2009) apontam o
desenvolvimento gradual de uma brecha pela ação erosiva do escoamento como mecanismo
principal a ser avaliado. Afirmativa consoante com os resultados de brecha analisados por
Singh e Scarlatos (1988), os quais apresentam alta sensibilidade diante da variação da classe
de erodibilidade do material.
34
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Ao atuar como o principal mecanismo de formação da maioria das brechas, a erosão
provocada pelo cisalhamento da água em contato com o solo evolui na medida em que se
aumentam a carga hidráulica e a velocidade do escoamento sobre a brecha. Após iniciado,
esse movimento deflagra-se continuamente até que as tensões cisalhantes se equiparem com a
resistência do solo, momento no qual se instaura o equilíbrio morfodinâmico do processo.

A difusão de distintas metodologias para previsão da brecha de ruptura nos maciços das
barragens permite que elas sejam classificadas em quatro grupos: (i) modelos fisicamente
embasados, (ii) modelos paramétricos, (iii) equações de previsão e (iv) análise comparativa.

As análises comparativas constituem simples procedimentos de atribuição de parâmetros de


brecha e, ou, de hidrogramas de ruptura por meio de comparação das características da
barragem analisada com outra barragem cuja ruptura tenha de fato ocorrido e sido registrada.

3.2.1.1 Modelos fisicamente embasados


Os modelos fisicamente embasados preveem o desenvolvimento da brecha a partir de
modelos de erosão, transporte de sedimentos e mecânica dos solos.

Na vanguarda efetiva desses modelos destaca-se o NWS BREACH (FREAD, 1991) pela sua
adesão e difusão como modelo fisicamente embasado. Apesar de sua vasta utilização a
simplicidade do modelo NWS BREACH não permite a representação da variabilidade dos
materiais constituintes do maciço, trabalha com a premissa de progressão uniforme e contínua
da brecha e apresenta por vezes resultados pouco satisfatórios (MORRIS et al., 2009a).

Na tentativa de adentrarem na dinâmica do processo de gênese da brecha, os modelos


fisicamente embasados, não podem prescindir de ensaios de campo. ASCE/EWRI (2011),
atualizando o banco de dados de Wahl et al. (2008), contabilizou 44 citações de ensaios
realizados sob patrocínios da iniciativa pública e privada. A maioria deles (98%) realizados a
partir da década de 80.

Apresentam-se na Figura 3.20 e na Figura 3.21 fotografias de momentos específicos de


ensaios laboratoriais e de campo.

35
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
FIGURA 3.20 – Ensaios de ruptura – laboratoriais e de campo – para análise da formação
da brecha por galgamento
Fonte: Adaptado de MORRIS, 2009a; 2009b

FIGURA 3.21 – Ensaios de ruptura de campo para análise da formação da brecha por piping
Fonte: ASCE/EWRI, 2011
36
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Se por um lado os modelos fisicamente embasados buscam a fidelidade da representação
fenomenológica, por outro, eles tendem a se tornarem extremamente complexos e a
demandarem uma intensidade de dados que podem inviabilizar sua utilização.

Macchione (2008) propôs um modelo simplificado, com necessidade de calibração de apenas


um parâmetro e, portanto, de fácil aplicação.

Segundo Wahl et al. (2008), em razão das simplificações a que são constrangidos, a maioria
desses modelos têm se revelado inconsistentes quando seus resultados são contrastados com
os mecanismos de brecha observados em estudos de caso e ensaios laboratoriais.

Apesar do grande investimento efetuado para o desenvolvimento dos modelos fisicamente


embasados e do relativo avanço alcançado nesses estudos, os modelos paramétricos ainda são
os mais utilizados (WAHL et al., 2008).

3.2.1.2 Modelos paramétricos


A dificuldade de consagração dos modelos fisicamente embasados tem outorgado, até o
momento, a supremacia da previsão de brechas para os modelos paramétricos.

Pautados em casos reais de ruptura de barragens, os modelos paramétricos constituem-se de


regressões matemáticas, usualmente multivariadas, ajustadas a parâmetros geométricos e
hidráulicos medidos durante e após a abertura da brecha.

A função primária dos modelos paramétricos é a definição dos parâmetros da brecha em seu
estado inicial e final. Aos parâmetros estimados, atribui-se uma função de progressão que irá
guiar o desenvolvimento geométrico da brecha durante o tempo 9 .

Dentre os autores que propuseram modelos paramétricos, os mais citados e comparados pela
literatura são MacDonald e Langridge-Monopolis (1984), Von Thun e Gillette (1990) e
Froehlich (1995a; 2008).

Esses e outros modelos foram submetidos a estudos de casos e comparados por Wahl (1998;
2004), Gee (2009) e Rocha et al. (2010). Em todas as análises a dispersão dos resultados
chamou atenção.

37
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Ao tentar reconstituir o hidrograma de ruptura registrado na Barragem de Orós (Ceará,
Brasil), Gee (2009) demonstrou que todos os modelos testados (inclusive o modelo NWS
BREACH) superestimaram os valores observados.

Também há indícios de que os modelos paramétricos apresentem tendências de superestimar


as vazões de pico dos hidrogramas no trabalho apresentado por Chauhan et al. (2004). Esses
autores compararam os valores de vazão de pico obtidos pelas equações de previsão de
Froehlich (1995b) com os valores obtidos pelo modelo paramétrico proposto pelo mesmo
autor (FROEHLICH, 1995a). Chauhan et al. (2004) demonstraram uma tendência crescente
para a diferença dos resultados quando simulados para volumes acima de 12 Mm³.

Segundo Chauhan et al. (2004), os modelos paramétricos tendem a superestimar as vazões de


pico ao considerarem que elas coincidirão com o tempo de formação da brecha final,
conquanto modelos físicos demonstram que os processos erosivos ocorrem também quando
da passagem do ramo descendente do hidrograma.

Os estudos desenvolvidos por Rocha et al. (2010) para o caso hipotético da Barragem do
Aproveitamento Múltiplo Manso (Mato Grosso, Brasil) evidenciaram a discrepância dos
resultados e apontaram a dificuldade de convergência dos modelos paramétricos quando
aplicados para barragens cujas dimensões extrapolam os dados utilizados nas regressões
matemáticas.

Rocha et al. (2010) também aplicou o modelo de Xu e Zhang (2009), que ascende entre os
modelos paramétricos por utilizar um bom banco de dados e por permitir variações nos
parâmetros de brecha para susceptibilidades à erosão diferenciadas.

A despeito da elevada amplitude de resultados, a simplicidade dos modelos associada à base


de casos de ruptura e à facilidade de aplicação do método para a sintetização do hidrograma
efluente tornam os modelos paramétricos bastante atrativos.

3.2.1.3 Equações de previsão


As equações de previsão constituem formulações empíricas, estatisticamente embasadas por
estudos de casos reais registrados. Elas definem o pico de vazão efluente sem considerações
acerca do princípio teórico que rege a formação da brecha.

38
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Comumente os mesmos autores que desenvolvem modelos paramétricos, também propõem
equações de previsão direta da vazão de pico. A grande desvantagem desse método é que a
forma do hidrograma é definida arbitrária e empiricamente, sem qualquer relação com a taxa
de progressão da brecha e com os volumes armazenados no reservatório.

Ressalta-se a equação de previsão de Rico et al. (2007), ateriormente citada, pelo fato de ter
sido ajustada a casos de ruptura de barragens de rejeitos e escorregamentos de terra.
Reiterando, contudo, a fragilidade do banco de dados utilizado e o erro atribuído à restituição
das vazões de pico a partir de curvas-chave usualmente aplicadas para escoamento de água.

Mais uma vez, Rocha et al. (2010) compararam o desempenho das equações de previsão para
o estudo de caso do APM Manso encontrando um valor médio de vazão de pico de
~122.000 m³/s com um desvio padrão de ~114.000 m³/s.

3.2.2 Propagação do potencial de inundação

Vick (1991) estabelece duas categorias de modelos utilizados para a simulação de impactos
decorrentes de ruptura de barragens de rejeitos. Na primeira, encontram-se os modelos de
escoamento, que se submetem ao desafio de representarem o processo dinâmico de
escoamentos não-Newtonianos hiperconcentrados. Na segunda classe, identificam-se os
modelos simplificados de equilíbrio de forças, que definem os impactos de uma eventual
ruptura por meio do balanço das forças atuantes no volume de controle simulado. Vick (1991)
ressalta que ambas as categorias somente são aplicáveis para reservatórios de rejeitos privados
de quantidades significantes de água no momento que antecede à ruptura. Caso contrário,
acrescenta Vick (1991), a propagação dos impactos a jusante deve ser simulada por modelos
convencionais usualmente aplicados para barragens de água.

Wu et al. (2011) sintetizaram o estado da arte em propagação de ondas de ruptura de


barragens de água, para o qual, as metodologias unidimensionais (1D) ainda são mais
adequadas, frente às restrições de convergência numérica e processamento de dados dos
modelos 2D e 3D. Na coletânea de modelos matemático-computacionais apresentada pelo
ICOLD (1998), 74% incorporam a solução das equações completas de Saint-Venant para
fluxo unidimensional.

39
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Em novembro de 2012 o Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) promoveu o Seminário
“Gestão de Riscos e Segurança de Barragens de Rejeitos”. Na oportunidade, Brasil e Rocha
(2012) defenderam que o estado da arte em previsão de inundações provocadas por ruptura de
barragens de rejeitos também circunscreve-se à aplicação do modelo matemático de Saint-
Venant, alimentado pelo hidrograma de ruptura resultante de modelos paramétricos de
formação da brecha.

Apresentam-se na sequência quatro modelos utilizados para a propagação dos impactos


provocados pela ruptura de barragens de rejeitos, sendo que os dois primeiros foram
concebidos para o trânsito de cheias de fluidos Newtonianos.

3.2.2.1 Modelo hidráulico distribuído – Saint Venant


Fread (1981) resgatou breve histórico da teoria dos modelos de propagação de ondas.
Segundo ele, as investigações receberam significativos impulsos nos séculos XVII e XVIII de
Newton, Laplace e Lagrange, que aprofundados por diversos autores do século XIX,
culminaram com a formulação teórica unidimensional para escoamentos não-permanentes
proposta por Barré de Saint-Venant em 1871.

As equações de Saint-Venant apresentadas na sequência apoiam-se nos princípios de


conservação da massa e da quantidade de movimento, aplicando todos os seus termos
(gravidade, atrito, pressão e inércia):

MN: MN
+ M' E 0; [conservação da massa]
MO
(3.2)

M: M: M8
+ ? MO + " MO E "R − 9 T; [conservação da quantidade de movimento]
M'
(3.3)

Nas quais:

 é a área ativa da seção transversal ao escoamento (m²);

? é a velocidade média do escoamento (m/s);

 é a posição longitudinal (m);

 é o tempo (s);

40
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
" é a aceleração da gravidade (m/s²);

ℎ é a espessura da lâmina líquida (m);

 é a declividade média a jusante (m/m).

9 é a declividade da linha de energia (m/m);

Nas equações 3.2 e 3.3,  e  são as variáveis independentes e  é uma função de ? e ℎ. A


declividade da linha de energia (9 ) equivale ao termo de perda de carga e pode ser estimado
pelas formulações de Chézy e Manning para escoamentos permanentes.

Cunge et al. (1980) destacam que para a dedução das equações de Saint-Venant, assumiram-
se as seguintes hipóteses:

• O escoamento é unidimensional. A velocidade é uniforme e a elevação do nível de água é


constante ao longo de uma mesma seção;

• A distribuição de pressões é hidrostática. As curvas durante o fluxo são suaves e as


acelerações verticais desprezíveis;

• Os efeitos de turbulência e atrito são análogos àqueles considerados nas leis de resistência
ao escoamento em regime permanente;

• A declividade média do fundo do canal é pequena a ponto de o cosseno do ângulo formado


pelo canal e a horizontal ser próximo da unidade.

Aparentemente, as hipóteses que sustentam as equações de Saint-Venant não se verificam


para todas as situações de propagação de ondas de ruptura. As transições bruscamente
variadas e as elevadas acelerações verticais nas proximidades da barragem refutam a hipótese
de pressões hidrostáticas. Em trechos de seção encaixada, geralmente localizados nas
cabeceiras das bacias, as declividades excedem ao limite preconizado. Já nos trechos de baixa
declividade, as planícies pronunciam-se mais vastas e as velocidades e elevações em uma
mesma seção variam veementemente.

No entanto, os resultados das retroanálises realizadas por Fread e Lewis (1998) – apresentada
na Figura 3.4 – e por Yochum et al. (2008) demostram a acurácia desse modelo para
avaliação de inundações provocadas por ondas de ruptura de barragens.
41
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Fread (1992) apresentou as equações de Saint-Venant em uma versão estendida, sob sua
forma conservativa, explicitando termos para considerações dos efeitos de
expansão/contração e sinuosidade do canal. As equações 3.4 e 3.5 são, dessa forma,
reapresentadas para a lei de conservação da massa:

MU MVW NXNY 
+ − E 0
MO M'
(3.4)

E conservação da quantidade de movimento:

MVZ U MR[U\ ⁄NT M8


+ + " ^ M' + 9 + & _ + . + B9  E 0
M' MO
(3.5)

Nas quais:

 é a vazão (m³/s);

 e  são coeficientes de sinuosidade em função de ℎ (adimensionais);

 é a área inativa da seção transversal, destinada apenas ao armazenamento (m²);

 é a contribuição específica lateral (m³/s.m);

é o coeficiente de Boussinesq para correção da distribuição de velocidades (adimensional);

& é a perda de carga localizada, por efeitos de contração/expansão (adimensional);

. é a contribuição da quantidade de movimento de tributários (m³/s²);

B9 é a resistência do vento na superfície de escoamento (m²/s²);

 é a largura molhada correspondente à área ativa  (m).

Por não permitirem solução analítica aplicável na maioria dos casos práticos, as equações de
Saint-Venant somente foram empregadas com o advento dos computadores, que
impulsionaram o processamento de dados, possibilitando a execução de métodos numéricos
para grandes distâncias (FREAD, 1981).

42
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Dentre as diversas técnicas de diferenças finitas utilizadas para solucionar as equações 3.4 e
3.5, a mais difundida e recomendada é o esquema implícito de quatro pontos ponderados de
Preissmann (FREAD, 1992).

Segundo Fread (1992), o esquema implícito de quatro pontos permite a manipulação de


propriedades para controle da convergência e estabilidade da solução, possibilita a entrada de
intervalos desiguais no espaço e tempo, além de facilitar a aplicação de condições de
contorno.

O domínio “espaço-tempo” sobre o qual desenvolve-se o procedimento de cálculo do


esquema implícito de quatro pontos está representado pela Figura 3.22.

FIGURA 3.22 – Domínio discreto de solução x-t para o esquema de Preissmann


Fonte: Adaptado de FREAD, 1992

Como representado na Figura 3.22, a rede de pontos é determinada pela interseção das linhas
paralelas aos eixos  e . Aquelas paralelas ao eixo do tempo representam a localização das

43
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seções transversais espaçadas pelo intervalo ∆, conquanto as paralelas ao eixo das distâncias
definem as linhas de tempo intercaladas pelo intervalo ∆.

Ao contrário do que sugere a Figura 3.22 os intervalos (∆ e ∆) não precisam ser iguais,
embora sua variação seja limitada em prol da estabilidade numérica do modelo.

Cada ponto da rede retangular pode ser identificado por um índice subscrito `, que designa a
posição , e por um índice sobrescrito a, que designa o instante .

As derivadas no tempo são aproximadas por um quociente de diferenças sucessivas centrado


no ponto b, entre ` e ` + 1, ao longo do eixo x:

ghi ghi g g
Md df Xdfhi Hdf Hdfhi

M' ∆'g
(3.6)

Na qual:

 = qualquer variável (,  ,  , ,  , , ℎ).

As derivadas espaciais são aproximadas ao ponto b por um quociente de diferenças


sucessivas localizado entre duas linhas de tempo, considerando ainda o fator de ponderação j:

ghi ghi g g
Md k^dfhi Hdf _ Hk^dfhi Hdf _
≃ +
MO ∆Of ∆Of
(3.7)

Enfim, as demais variáveis podem ser aproximadas ao ponto b por meio do mesmo fator de
ponderação no mesmo instante  para o qual a derivada espacial é avaliada:

ghi ghi g g
k^df Xdfhi _ Hk^df Xdfhi _
≃ +
 
(3.8)

De acordo com Fread (1992) o esquema implícito de quatro-pontos ponderados é


incondicionalmente estável para 0,5 < j < 1,0. Contudo, a adequada relação entre os
intervalos ∆ e ∆ é fundamental para a acurácia dos resultados, tão mais comprometida,
quanto maior o valor de j. Usualmente, Fread (1992) recomenda a utilização de j = 0,6.

44
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Ao substituir as funções derivadas e demais variáveis das equações 3.4 e 3.5 pelos operadores
de diferenças finitas apresentados nas equações 3.6, 3.7 e 3.8, obtém-se as equações implícitas
de diferenças finitas:

ghi ghi g g
Ufhi HUf Ufhi HUf
j − jmnX + 1 − j − 1 − jmn +
lOf lOf
ghi
VW f NXNY ghi XVW
ghi
NXNY  ghi
fhi HVW
g
NXNY gf HVW g NXNY gfhi
f f f f
E0
l'g
(3.9)

ghi ghi g g ghi ghi

+ "̅mnX r
ghi ghi
RVZ f Uf T XRVZ f Ufhi T HRVZ f Uf T HRVZ f Ufhi T R[U\ ⁄NTfhi HR[U\ ⁄NTf 8fhi H8f
+jp +
log ∆Of ∆Of

\ ⁄NTg HR[U\ ⁄NTg


s9 u TnX v + 1 − j pR[U + "̅mn r + s9 +
g g
nX 8fhi H8f n
+ & nX t + . + RB 
nX fhi f
m m m 9 m ∆Of ∆Of m

& mn t + .nm + RB9 u T v E 0


n
(3.10)
m

Nas quais:

̅m E f  fhi
N XN
(3.11)

s9 E
wf \ Uuf |Uuf | Uu|Uu |
\ uuuu {⁄| E uuuu \
Nf̅ y
(3.12)
m zf } W
f

um E f  f hi
U XU
(3.13)

uu
7uu
N̅ N̅
8 m E ~u ≃ +u (3.14)

um E f  fhi
+ X+
(3.15)

uuu E }W f X}W fhi


, m 
(3.16)

Nas quais:

3 é o coeficiente de rugosidade de Manning (m-1/3⋅s);

78 é o raio hidráulico (m);

45
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6 é o perímetro molhado (m);

, é a fator de condução da seção (m³/s).

No intuito de solucionar as equações 3.9 e 3.10, as condições iniciais ( E 0) que definem os


parâmetros do escoamento (ℎm e m ), precisam ser previamente informadas para todas as
seções (` E 1,2,3, … ). Essas definições podem ser realizadas por meio de simulações
preliminares simplificadas assumindo, por exemplo, condições de regime permanente em todo
o trecho.

No instante  E 0 + ∆ as equações 3.9 e 3.10 não podem ser solucionadas de maneira


explícita, por ainda apresentarem quatro incógnitas (mnX, ℎmnX , mX , ℎmX
nX nX
).

No entanto, se as equações 3.9 e 3.10 forem aplicadas em cada um dos retângulos ( − 1) da


grade apresentada na Figura 3.22, entre as condições de contorno de jusante e montante,
define-se um sistema com um total de (2 − 2) equações com 2 incógnitas.

Convenientemente, as prescrições das condições de contorno de jusante e montante fornecem


as duas equações necessárias para a solução do sistema. Dessa forma, todas as variáveis das
seções (` E 1,2,3, … ) são definidas simultaneamente para um mesmo instante .

Em função da não-linearidade das equações 3.9 e 3.10 com relação às variáveis  e ℎ, a


solução iterativa promovida pelo método Newton-Raphson é frequentemente utilizada para a
minimização dos erros inerentes ao método numérico.

3.2.2.2 Modelo hidrológico ou de armazenamento – Puls Modificado


Na categoria dos modelos transitórios conceituais encontram-se, dentre outros, os modelos
hidrológicos ou de armazenamento. Esses modelos são designados para descreverem análises
de propagação de ondas nas quais os efeitos de armazenamento são predominantes
(HENDERSON, 1966).

Segundo Fread (1981), a despeito de sua simplicidade, o modelo de armazenamento foi muito
utilizado como alternativa de análise de transientes diante da dificuldade de solução das
equações completas de Saint-Venant até os anos 80 (século XX).

46
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Descreve-se na sequência, segundo USACE (2000), o modelo de armazenamento – também
conhecido como modelo de Puls Modificado.

Baseado essencialmente na lei de conservação da massa o modelo de Puls Modificado é


deduzido a partir da equação da continuidade.

MU MN
+ M' E 0
MO
(3.17)

Aplicando-se às derivadas parciais técnicas de aproximações por diferenças finitas a equação


3.17 pode ser reescrita da forma:

*s' − 4
uuu' E ∆Vƒ
∆'
(3.18)

Na qual:

*s' é a afluência média entre os tempos  e  − 1 (m³/s);

uuu
4' é a defluência média entre os tempos  e  − 1 (m³/s);

' é o armazenamento entre duas seções de referência (m³).

Por meio de um esquema de diferenças prévias, a equação 3.18 pode ser rearranjada a fim de
se isolarem suas incógnitas.

V „ƒ Xƒ Vƒ†i „ƒ†i
^∆'ƒ + _ E ^ ƒ†i _+^ − _
 ∆' 
(3.19)

*'H e *' são ordenadas do hidrograma afluente (m³/s);

4'H e 4' são ordenadas do hidrograma efluente (m³/s);

No intervalo de tempo , todos os termos do lado direito da equação são conhecidos –


observando a necessidade de informação prévia da vazão defluente e do volume no instante
inicial. Nesse mesmo intervalo, a equação 3.19 possui duas variáveis: ' e 4' . Para a solução
dessa equação, necessita-se, portanto, do conhecimento da relação entre volume armazenado e
descarga.

47
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A função que correlaciona volumes e descargas em um trecho pode ser definida com auxílio
de perfis de linha de água extraídos de simulações de escoamentos em regime permanente, tal
como representado pela Figura 3.23.

FIGURA 3.23 – Perfis de escoamento permanente e armazenamento entre seções


Fonte: Adaptado de USACE, 2000

Na Figura 3.23, as seções representadas pelas letras  a ‡, espaçadas por ∆, definem
volumes de controle discretos no espaço. O perfil da linha de água previamente estimado para
uma faixa de vazões que varia entre as ordenadas (mínima e máxima) do hidrograma afluente,
definem as curvas-chave de cada seção.

As curvas-chave das seções ( e ˆ, por exemplo) determinam as elevações correspondentes


às vazões em trânsito nessas seções. Se o intervalo entre as seções (∆ for reduzido, é
possível que o perfil de linha de água seja linearizado, simplificando o cálculo do volumes.

Dessa forma, para todo intervalo ∆, é possível que a equação 3.19 seja solucionada por
procedimentos de tentativa e erro.

3.2.2.3 Modelo simplificado de escoamento de rejeitos


Modelos matemáticos embasados em princípios da mecânica dos fluidos foram propostos –
sob diferentes hipóteses e premissas – por Blight et al. (1981) e Jeyapalan et al. (1983a) para
a representação do fenômeno de escoamento de rejeitos.

48
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
O procedimento de análise proposto por Blight et al. (1981) adota a hipótese de escoamento
permanente para a previsão da profundidade da inundação. Nesse modelo, a massa escoada é
tratada como um fluido Newtoniano.

Utilizando ensaios laboratoriais de viscosidade, Blight et al. (1981) efetuaram uma


retroanálise do acidente de Bafokeng e obtiveram bons resultados.

Todavia, Vick (1991) ressalta que os ensaios de viscosidade em rejeitos somente são
exequíveis para amostras com elevado volume de água. Dessa forma, para a definição dos
valores do potencial de viscosidade a ser desenvolvido pelo solo disposto nas diversas
camadas adensadas a diferentes profundidades do reservatório seria necessário a extrapolação,
nem sempre assertiva, dos resultados ensaiados.

Já o modelo proposto por Jeyapalan et al. (1983a) deriva-se da teoria da dinâmica dos fluidos
para a determinação da distância, duração e profundidade da inundação. Nesse modelo,
considera-se que os rejeitos comportam-se como um fluido tipo Bingham-Plástico
apresentando viscosidade plástica e resistência ao cisalhamento.

As equações utilizadas por Jeyapalan et al. (1983a) são resolvidas para canais prismáticos
pelo modelo computacional TFLOW, apresentando bons resultados quando aplicados na
retroanálise das rupturas de Aberfan e da Barragem de Gesso (itens 14 e 13 da Tabela 3.3).

Jeyapalan et al. (1983a) propõem também a solução das equações de movimento para
superfícies planares; modelo matemático descrito na sequência.

Antes da descrição do modelo, convém ressaltar que Jeyapalan et al. (1983a) assumem a
hipótese de que o escoamento dos rejeitos (com exceção dos rejeitos de fosfato) ocorre sob
regimes laminares.

A classificação do regime de escoamento entre turbulento e laminar foi proposta após os


ensaios conduzidos por Reynolds (1883). Segundo Reynolds (1883), a velocidade e condições
de contorno contribuem fortemente para a definição do regime de escoamento entre laminar
ou turbulento.

Para efeitos de avaliação do modelo proposto por Jeyapalan et al. (1983a) apresenta-se a
equação que define o número de Reynolds (7& ).
49
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
‰:yz
7& E Š‹Œ
(3.20)

Na qual:

# é o peso específico do fluido (N/m³);

01 é a viscosidade dinâmica ou aparente (Pa.s).

O limite aproximado para o número de Reynolds em regimes laminares é de até 2000. Dessa
forma, o escoamento dos rejeitos no modelo de Jeyapalan et al. (1983a) apresenta, por
premissa, números de Reynolds inferiores a esse limite.

Na concepção teórica de seu modelo, Jeyapalan et al. (1983a) propõem a utilização das
equações de conservação da quantidade de movimento (equação 3.21) e conservação da
massa (equação 3.22) sob o seguinte formato (HENDERSON, 1966):

M: M: M
+ ? MO + 2 + "R9 −  T E 0
M' MO
(3.21)

M: M M
+ 2 M' + 2? MO E 0
MO
(3.22)

Nas quais é a celeridade (m/s), expressa por "ℎ.

Para regimes de escoamento permanente uniforme em superfícies planares, para as quais o


raio hidráulico equivale à altura da lâmina líquida, o gradiente da linha de energia 9 pode ser
representado pela equação:

:\
9 E Ž \8 (3.23)

Na qual:

é o coeficiente de perda de carga de Chézy (m(-1/2)/s);

ℎ é a profundidade hidráulica do escoamento (m).

50
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Por sua vez, o coeficiente de Chézy pode ser expresso em função do coeficiente de atrito 
para fluidos Newtonianos me regime laminar através da equação de Hagen-Poiseuille:


Ey (3.24)


Utilizando as equações 3.20 e 3.24, a equação 3.23 pode ser reescrita da seguinte forma:

‹Œ :
9 E ‰ 8\
(3.25)

As características de um fluido tipo Bingham-Plástico podem ser integradas à equação (3.25)


pela relação:


01 E 02 + ‰$
(3.26)

Na qual:

02 é a viscosidade plástica (Pa.s);

=> é a tensão de escoamento (Pa);

#$ é a taxa de deformação para fluido Bingham-Plástico (s-1).

O limite da taxa de deformação #$ para a máxima velocidade ? e profundidade ℎ considerando


uma distribuição de velocidades parabólica, é:

:
#$ E 8
(3.27)

Utilizando as equações 3.26 e 3.27, o gradiente de perda de carga 9 da equação 3.25 assume
a forma:

‹‘ : F
9 E + ‰8
‰ 8\
(3.28)

Apresenta-se, a seguir, a equação de conservação da quantidade de movimento reescrita a


partir das formulações propostas para  e 9 :

51
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M: M: M ‹‘ :Š F Š
+ ? MO + 2 + + − "’“3!
M' MO ‰8\ ‰8
(3.29)

Na qual:

! é o ângulo formado com a horizontal.

Utilizando um conjunto de variáveis adimensionalizadas em função da altura da barragem


(% ) as equações 3.22 e 3.29, que governam os escoamentos não permanentes, podem ser
descritas tal como nas equações 3.30 e 3.31, representando as leis de conservação da massa e
da quantidade de movimento, respectivamente.

M:” M ” M
′ MO” + 2 M'” + 2?′ MO E 0 (3.30)

M: M: M : V
+? +2 + 7  { +  \ − ’“3! E 0
MO MO MO
(3.31)

Nas quais:

O
 E• (3.32)
Y

8
ℎ E• (3.33)
Y


E (3.34)
Š•Y

:
?′ E (3.35)
Š•Y

Š
′ E –• (3.36)
Y

—
–˜
7 E 202 ‰• Y
(3.37)
Y

F
 E ‰• (3.38)
Y

52
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Nas equações 3.31, 3.37 e 3.38, 7 e  representam parâmetros adimensionais de viscosidade e
resistência, respectivamente.

Em seu trabalho, Jeyapalan et al. (1983a) apresentam a solução das equações adimensionais
3.30 e 3.31, determinando as variáveis ?′ e ′ em função de ′, t′, R e .

?  ,  , 7,  E  1 + / +
 ™&wš' ›V'” Xy' ” y' ” ™&wš' V' ”
− ›H\ − + H| − ^ − +
 H{  ›

y'   
_ ^ −  _
œ
(3.39)

 ,  , 7,  E 2 − / −
 ™&wš' ” V' ” ›Xy' ” y' ” ›™&wš' V' ”
− + + H| − ^ − +
   H{  

›y'   
_ ^ −  _
œ
(3.40)

Nas quais:

O
/E '
(3.41)

A profundidade adimensional pode ser definida para qualquer posição ′ pela relação:

ℎ  ,   E ′  ,  , 7,  (3.42)

Para a definição do perfil de inundação final, é necessária a correção de valores de altura para
as posições a jusante daquela onde ocorre a velocidade máxima. O esquema da Figura 3.24
representa o perfil típico do escoamento Bingham-Plástico descrito pelos rejeitos após a
liquefação.

Conforme indicação da Figura 3.24, para posições a montante daquela onde ocorre a
velocidade máxima a altura da inundação é obtida pela equação 3.25.

ℎ E ′ % (3.43)

Para posições a jusante de  (, a altura da inundação é definida pela equação 3.26.


OHO 
ℎ E ℎ( ^OHO _ (3.44)
Ÿ

53
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Na qual:

 ( é o local de ocorrência da velocidade máxima (m);

ℎ( é a elevação correspondente à posição  ( (m);

FIGURA 3.24 – Perfil do escoamento Bingham-Plástico para rejeitos pós-liquefeitos


Fonte: JEYAPALAN et al., 1983a

Dessa forma, a partir da solução das equações adimensionais, os parâmetros elevação e


velocidade em superfícies planares podem ser definidos para qualquer lugar no espaço () e
no tempo ().

Finalmente, Jeyapalan et al. (1983b) aplicaram o modelo anteriormente descrito em análises


laboratoriais e para a retroanálise da ruptura de algumas barragens, e obtiveram-se bons
resultados.

3.2.2.4 Modelo simplificado de equilíbrio de forças


Os Modelos de Equilíbrio de Forças aplicam a lei de equilíbrio de forças em duas dimensões
para a previsão do alcance da onda de rejeitos. Esses modelos assumem que, no momento em
que o fluxo de rejeitos entra em repouso, a resistência média ao cisalhamento da massa de
rejeitos ao longo do trecho equivale à tensão de cisalhamento necessária para o
estabelecimento do equilíbrio estático (VICK, 1991).

54
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Por meio da retroanálise de 14 casos de ruptura em barragens de rejeitos, Lucia (1981)
calculou a resistência média ao cisalhamento da massa escoada. Em se tratando de um
parâmetro estático calculado ao final do movimento, essa resistência ao cisalhamento também
incorpora os efeitos de viscosidade e inércia, ainda que implicitamente.

Apresenta-se na Figura 3.25 a geometria idealizada por Lucia (1981) para caracterização da
dispersão do volume de rejeitos liberado após a liquefação do material.

FIGURA 3.25 – Geometria idealizada para análise de equilíbrio de forças pós-ruptura


Fonte: Adaptado de LUCIA, 1981 e VICK, 1991

O caráter repentino das liquefações permite a formulação da hipótese de carregamentos não


drenados, razão pela qual admite-se a existência de tensões ativas na extremidade a montante,
cuja altura máxima de atuação é igual a D' (quando há atuação de parâmetros coesivos):

V I
D' E ‰
(3.45)

Na qual:

D' é a altura máxima de tensão no estado ativo (m);

: é resistência residual ao cisalhamento não drenado (Pa);

# é o peso específico total (N/m³).

Nesse caso, as componentes de força na extremidade a montante da ruptura são:

55
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 E 1ž2 #D'  (3.46)

 E 1ž2 #%& − D'  (3.47)

Nas quais:

 é a força de resistência à tração (N/m);

 é a força propulsora do escoamento (N/m);

%& é a altura de rejeitos remanescente à montante, após a ruptura (m).

Na extremidade de jusante, solos com alguma coesão são capazes de sustentar um altura (%Ž ).

V I
% E ‰
(3.48)

Na qual % é a altura remanescente a jusante da cunha de ruptura (m).

Em condições de equilíbrio estático, o somatório das forças atuantes sobre o plano de ruptura
proposto por Lucia (1981) é:

 ¡’! + B’“3! −  ¡’! − ; E 0 (3.49)

Na qual:

W é o peso total da massa escoada por metro linear de brecha (N/m);

; é resistência ao cisalhamento ao longo da base (N/m), calculada por:

V ¢
; E £™š
I
(3.50)

Na qual:

. é o comprimento total da massa rompida (m).

Reescrevendo a equação 3.49 em termos adimensionais, tem-se:

56
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¤\ ¥ ¤ V ¢
\ ¡’! + ‰• \ ’“3! − ‰•i \ ¡’! − ‰• \ £™š E0
‰•ƒ
(3.51)
ƒ ƒ ƒ

Na qual:

%' é o desnível geométrico da massa rompida (m).

A equação 3.51 pode ser solucionada em função do parâmetro adimensional , definido
como:

‰•ƒ
 E V I
(3.52)

Lucia (1981) propõe um ábaco, apresentado na Figura 3.26, com a definição dos valores de
 para variados ângulos de repouso e declividades do terreno.

100,0
N0

10,0 Declividades do terreno - ϕ

0º 1º
2º 4º

1,0
0,1 1,0 10,0
α - Ângulo de Repouso do Material (º)

FIGURA 3.26 – Ábaco de parametrização da solução de estabilidade


Fonte: LUCIA, 1981

Lucia (1981) aplicou a solução  para realizar a retroanálise do parâmetro : no contexto
dos registros históricos que havia recolhido. Ao dispor de informações sobre a declividade do
terreno, desnível geométrico da ruptura (%' ) e de uma aproximação do peso específico,

57
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apresentou resultados de resistência residual não drenada que variaram de 0,72 kPa a
21,6 kPa.

A partir das proposições do método de equilíbrio de forças, a geometria de repouso da massa


liquefeita pode ser estimada desde que definidos o volume liberado do reservatório, a
declividade a jusante e a resistência ao cisalhamento : ).

Os resultados da Figura 3.26, associados aos parâmetros de entrada (: e #) permitem a


definição do desnível geométrico (%' ):

¦Y V I
%' E ‰
(3.53)

Definida a declividade média a jusante, constrói-se uma relação entre %' e §, denominada por
Lucia (1981) de “Curva de Resistência”. Dessa forma, para os parâmetros do solo
previamente informados, a solução pode se posicionar, a priori, sobre todos os pontos da
Curva de Resistência.

Todavia, o volume de rejeitos liberados (A9 ) também se correlaciona com as condições


geométricas do talvegue (!) e com as declividades de repouso da massa escoada (§.

˜ †˜ ˜ †˜
¨•ƒ H^ ƒ W 'Šš_X•W ª ƒ W
A9 E ƒ—© ƒ—©

(3.54)

Na qual:

A9 é o volume de rejeitos liberados por unidade de brecha (m³/m).

Isolando-se a variável %' da equação 3.54:

•W 'ŠšH'Š«–HR¬G 'ŠšH¬G 'Š«X•W \ T


%' E 'ŠšH'Š«
(3.55)

Dessa forma, é possível se construir, a partir do volume A9 e da declividade !, uma nova


relação entre %' e do ângulo §, denominada “Curva Volumétrica”.

58
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Finalmente, a solução geométrica da massa envolvida na ruptura é definida pelo ponto em que
se interceptam as curvas de “Resistência” e “Volumétrica”. Apresenta-se na Figura 3.27 um
esquema típico de solução encontrada pelo método do equilíbrio de forças.

FIGURA 3.27 – Esquema típico da solução geométrica pelo método do equilíbrio de forças
Fonte: LUCIA, 1981

A solução representada pela Figura 3.27 fornece a condição estável para o par (%' , §), a partir
do qual se determinam as distâncias atingidas:

•ƒ H•W
.E 'Š«
(3.56)

¬ •
.& E •G + 'Š­
Y
(3.57)
Y

.' E . − .& (3.58)

Nas quais:

.& é a distância do pé do talude da barragem para o interior do reservatório (m);

5 é o ângulo geral do talude da barragem;

.' é a distância atingida a jusante do pé do talude da barragem (m).

59
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Como expectativa inicial, a revisão dos casos históricos demonstraram que rejeitos liquefeitos
compostos ordinariamente por partículas de tamanho areia e silte apresentaram pequenas
resistências residuais, e consequentes ângulos de repouso variando entre 1º e 4º (LUCIA,
1981).

Especulação confrontada pelos relatos de Parra e Lasmar (1987) que evidenciaram o alto grau
de fluidez e a reduzida viscosidade dos rejeitos da barragem de Fernandinho, também
compostos por areia fina siltosa.

3.2.3 Mapeamento da inundação

Em termos práticos, os resultados originais extraídos dos modelos de propagação não


favorecem a avaliação dos impactos de inundação, dificultando a ação eficiente da mitigação
dos danos a jusante da barragem.

Nesta etapa, tanto o pós-processamento (compilação e preparação dos resultados) quanto o


mapeamento das inundações são fundamentais para a devida representação dos impactos
avaliados.

Afinal, o mapeamento da inundação com todos os seus parâmetros (elevação, tempos e


velocidades) constitui o produto principal dos estudos de ruptura. Produto esse que facilita a
interlocução dos resultados com o PAE.

Segundo Balbi (2008), o objetivo principal do mapeamento da inundação é mostrar a extensão


e o tempo esperado de uma cheia proveniente da ruptura de barragens, auxiliando o
gerenciamento das ações de emergências por parte das autoridades e proprietários de
barragens. Balbi (2008) destaca que esses mapas devem fornecer informações para que as
autoridades do vale a jusante possam preparar os sistemas de alerta, os planos de emergência
bom como orientar o uso e ocupação ao longo do vale.

Dada a importância dos estudos de inundação e seus respectivos mapeamentos, Cunge et al.
(1980) recomendam que os modelos de propagação sejam construídos sobre bases
topográficas com curvas a cada 1 m e que os mapas sejam apresentados em escala mínima de
1:10.000.

60
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A análise dos danos potenciais à jusante da barragem dependem também das características de
vulnerabilidade à inundações a que estão sujeitos os vales. Kelman e Spence (2004) elencam
os mecanismos de impactos da inundação sobre edificações e pessoas, dentre os quais,
destacam-se as ações hidrostáticas (resultantes da presença da água) e hidrodinâmicas
(resultantes do movimento da água) intensificadas pela carga de sólidos e sedimentos
transportados.

Segundo Cançado (2009), a maioria dos estudos para delimitação de inundações desconsidera
os mecanismos de produção de danos que não sejam a profundidade. No entanto, como
destacado por Green et al. (2000), a velocidade das inundações não pode ser negligenciada
uma vez que os danos tendem à aumentar com acréscimos de velocidade.

Em inundações rápidas, como no caso da ruptura de barragens, a velocidade da frente de onda


pode ser suficientemente elevada para arrastar edificações e estruturas de construção
reforçada – haja vista os relatos de Blight (2010) sobre da ruptura de Merriespruit.

Dessa forma, para a classificação do rigor de um evento de inundação é preciso se definam,


pelo menos, as elevações do nível de água e a velocidade da cheia, que conjugados permitem
a concepção do 7`’ ¡ %`J®¡J`3â/` ¡.

7`’ ¡ %`J®¡J`3â/` ¡ E ℎ × ? (3.59)

Na qual:

7`’ ¡ %`J®¡J`3â/` ¡ é a taxa de transporte frente de inundação (m²/s);

ℎ é a profundidade do escoamento (m);

? é a velocidade média do escoamento (m/s).

Sob o prisma da equação 3.59, Cançado (2009) realiza extensa revisão da literatura e
apresenta a proposta de diversos autores acerca da classificação de riscos e danos potenciais a
partir das variáveis profundidade e velocidade média da inundação. Nesse estudo, destaca-se a
proposição de Stephenson (2002) representada no gráfico da Figura 3.28.

61
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FIGURA 3.28 – Diagrama de classificação do risco da inundação
Fonte: Adaptado de STEPHENSON, 2002

Verifica-se pelo gráfico da Figura 3.28 que para um 7`’ ¡ %`J®¡J`3â/` ¡ ≥ 0,5 m²/s,
pessoas já se encontram em perigo.

Além da severidade dos impactos, outro parâmetro primordial para o mapeamento da


inundação decorrente da ruptura de barragens, segundo USBR (1999), é o tempo de aviso. O
tempo de aviso eficaz deve permitir que pessoas e organizações se mobilizem para ações de
evacuação eficientes (BALBI, 2008).

Portanto, o tempo de aviso deve ser ponderado em função do tempo de chegada da frente de
onda após a instauração da ruptura. Daqui se deflagra a necessidade de se estabelecerem
níveis de risco para diversas adversidades a que se submete a barragem, dado que entre o
início da ruptura e a chegada da frente de onda, pode não haver tempo o suficiente para a
devida evacuação da população.

Apresenta-se na Tabela 3.4 o critério adotado por USBR (1999) para a estimativa do número
de vidas perdidas em função do tempo de aviso.

62
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TABELA 3.4 – Número esperado de vidas em função do tempo de aviso
Tempo de aviso Vidas perdidas Número esperado de vítimas (NEV)
0 a 15 minutos Significante NEV = 50% no número de pessoas em risco
15 a 90 minutos Potencialmente significante NEV = (número de pessoas em risco)0,6
Mais que 90 minutos Perda de vidas virtualmente eliminada NEV = 0,0002 x número de pessoas em risco
Fonte: USBR, 1999

A exemplo da importância do tempo de aviso, destaca-se a ruptura da barragem de São


Francisco narrada por CBDB (2012). Mesmo sem dispor de um estudo de ruptura hipotética
que definisse a extensão da inundação, a empresa responsável pela barragem acionou as
autoridades locais e se mobilizou para a evacuação das partes baixas da cidade de Miraí,
localizada a 7 km da barragem.

Em consonância com as expectativas apontadas por USBR (1999) na Tabela 3.4, o tempo de
aviso, que ultrapassou os 90 minutos, foi suficiente para preservar todas as vidas a jusante da
barragem.

No Brasil, as oposições políticas e econômicas que podem advir da exposição do potencial de


dano de uma barragem tem sido fator inibidor da apresentação dos mapas de inundação de
estudos de ruptura para a comunidade a jusante. No entanto, sem entrar no mérito da
conveniência do ato de divulgação dos mapas de inundação, a publicação da Lei nº 12.334
(BRASIL, 2010) traz em seus fundamentos a obrigatoriedade da informação e participação
(direta ou indireta) da população nas ações preventivas e emergenciais.

Um dos efeitos esperados dessa divulgação seria a utilização de fatores não apenas
econômicos quando da definição dos métodos de disposição e contenção de rejeitos de uma
unidade mineral, em que critérios como dificuldade de licenciamento e aceitação da
comunidade jusante passariam também a ter um peso determinante neste processo.

Rejeitos espessados ou em pasta, cuja mobilização esperada por ocasião de uma ruptura é
mais reduzida em função de suas propriedades reológicas, poderiam disputar em condições de
igualdade com os rejeitos de flotação, cujos custos de geração são significativamente
menores, nos estudos de viabilidade dos empreendimentos minerários.

63
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4 MATERIAL E MÉTODOS

Depreendem-se a partir das recomendações do Boletim 111 do Comitê Internacional de


Grandes Barragens (ICOLD, 1998) que os estudos de ruptura de barragens devem se
estruturar em três etapas:

• Estudos de formação da brecha e elaboração do hidrograma de ruptura;

• Propagação da onda de ruptura;

• Mapeamento dos parâmetros de inundação (extensão, tempos, velocidades);

A metodologia desenvolvida nesse trabalho circunscreve-se a essas três etapas, para as quais
se aplicaram modelos de análise distintos, com o objetivo de se compararem o desempenho e
os resultados de cada um.

Para Cunge et al. (1980) os dados necessários para o desenvolvimento de estudos de ruptura
de barragens e mapeamento de áreas potencialmente inundáveis estão classificados em dados
topográficos, hidrológicos e hidráulicos.

Como dados topográficos entende-se todo o conjunto necessário para a descrição da


geometria dos cursos de água, uso e ocupação do solo e imagem aérea.

Já os dados hidrológicos e hidráulicos constituem-se de informações sobre registros de


monitoramento de vazões, registros de cheias naturais e relações cota-volume-descarga dos
reservatórios das barragens.

Para estudos de ruptura de barragens de rejeitos, acrescentam-se a essa lista de informações, a


desejável disponibilização de ensaios geotécnicos a caracterização parâmetros in situ.

4.1 Estudo de Caso: Barragem de Rejeitos Tico-Tico

4.1.1 Descrição da barragem

A barragem B1-Auxiliar atende à demanda de contenção de rejeitos de minério de ferro do


complexo da Mina Serra Azul na unidade Tico-Tico. Renomeada nesse trabalho como
Barragem Tico-Tico, em função de uma estrutura homônima nas adjacências da mina, a
barragem localiza-se no município de Igarapé conforme ilustrado pela Figura 4.1.

64
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FIGURA 4.1 – Localização da barragem Tico-Tico e região analisada

A área está localizada no prolongamento oeste da Serra do Curral, denominada Serra das
Farofas, na porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero. O acesso é feito pela BR- 381, que liga
Belo Horizonte a São Paulo, e corta a Serra das Farofas no extremo oeste da jazida, a 63 km
de Belo Horizonte.

A Barragem Tico-Tico apresenta layout e dimensões típicas das barragens de rejeitos do


Quadrilátero Ferrífero. Localiza-se justaposta à vertente de uma serra, a bacia formada pela
65
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barragem é pequena e o volume acumulado é reduzido em relação à altura da barragem,
principalmente quando comparado com o volume de reservatórios de barragens do setor
elétrico.

O dique inicial da Barragem Tico-Tico foi construído em 2007, com aterro compactado em
material argiloso e a crista na elevação 963,0 m.

Em 2008, foi executado o primeiro alteamento para jusante em aterro compactado (corpo em
solo residual de filito e face de montante em material argiloso). A crista de 5,0 m de largura
foi implantada na elevação 983,0 m.

Ao final do mês de novembro de 2010, foi iniciada a implantação do primeiro alteamento para
montante da barragem. O projeto, consistia na implantação de um dique com 5,0 m de altura,
com taludes com inclinação de 3H:1V e crista de 5,0 m de largura, executado em aterro
compactado (solo residual de filito oriundo das escavações obrigatórias para a implantação do
novo vertedouro de emergência).

As etapas construtivas para montante foram executadas em quatro alteamentos posicionados


nas elevações 988,0 m, 993,0 m, 998,0 m e 1003,0 m.

Atualmente, a Barragem Tico-Tico encontra-se em franca operação com projetos para mais
um alteamento (por jusante) na elevação 1011,0 m, condição para a qual os estudos desse
trabalho foram desenvolvidos. A seção típica da barragem está esquematizada na Figura 4.2

FIGURA 4.2 – Seção típica do projeto de alteamento da Barragem Tico-Tico

66
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Na fotografia apresentada na Figura 4.3 identifica-se o talude de jusante da barragem.

FIGURA 4.3 – Fotografia do talude de jusante da Barragem Tico-Tico

Para a condição simulada na elevação 1011,0 m, a Barragem Tico-Tico apresenta altura


máxima de 71,0 m.

Apresenta-se na Figura 4.4 a curva cota-volume do reservatório, que para a elevação da crista
apresenta um volume total acumulado de aproximadamente 3 Mm³.

FIGURA 4.4 – Curva cota-volume da Barragem Tico-Tico


67
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4.1.2 Descrição da região a jusante

As afluências à Barragem Tico-Tico desaguam no córrego dos Machados, afluente pela


margem esquerda do rio Paraopeba. Logo à jusante da barragem, em seus primeiros 1.500 m,
o perfil do talvegue apresenta declividades médias a elevadas (~6,5%). Após esse trecho o
vale, antes encaixado, abre-se em planícies mais pronunciadas experimentando uma redução
na declividade do curso de água que se estende até a confluência com o rio Paraopeba, 12 km
a jusante da barragem.

Os vales a jusante da Barragem Tico-Tico são caracterizados por considerável adensamento


urbano devido à instalação das sedes dos municípios de Igarapé e São Joaquim de Bicas. Em
toda a região, quando não há intensa ocupação urbana, verificam-se a instalação de pequenos
condomínios, chácaras e comunidades ribeirinhas.

Além do inestimável valor atribuído às vidas instaladas a jusante do empreendimento, o vale


do córrego dos Machados é cortado pelo traçado da rodovia BR-381, principal via de ligação
entre Belo Horizonte e São Paulo.

Apresenta-se na Figura 4.5 uma perspectiva do vale caracterizado por intensa ocupação.

FIGURA 4.5 – Perspectiva do vale do córrego dos Machados a jusante da Barragem Tico-
Tico

68
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Observa-se na Figura 4.5 a situação da Barragem Tico-Tico, localizada ao fundo, na vertente
setentrional da Serra das Farofas. Ainda nessa figura, percebe-se que a garganta onde a
barragem foi implantada é sucedida a jusante por um vale mais aberto.

4.2 Estudos de desenvolvimento da brecha


Apesar dos avanços observados dos modelos fisicamente embasados, os modelos
paramétricos ainda são os mais utilizados para estudos de formação da brecha de ruptura
(WAHL, 2008; ROCHA et al., 2010).

Portanto, adotaram-se os modelos paramétricos propostos por três diferentes autores para a
estimativa das dimensões da brecha e do hidrograma de ruptura respectivo.

Pela relevância evidenciada na revisão da literatura e pela facilidade de aplicação serão


processados os modelos paramétricos propostos por Von Thun e Gillette (1990), Froehlich
(2008) e Xu e Zhang (2009).

Com poucas variações, os principais parâmetros envolvidos nesses modelos estão


apresentados na Figura 4.6.

FIGURA 4.6 – Principais parâmetros de uma brecha típica

Os parâmetros apresentados na Figura 4.6 referem-se a:

A) é a soma do volume de água e rejeitos no instante inicial da ruptura (m³);

9 é o tempo de formação total da brecha (h);

69
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C é o coeficiente de declividade lateral (adimensional);

 é a largura da base inferior da brecha (m);

 é a largura média da brecha (m);

% é a altura final da brecha (m);

%) é a altura de respectiva ao volume armazenado no reservatório no início da ruptura (m).

As etapas para a definição dos parâmetros apresentados na Figura 4.6, podem ser resumidas
da seguinte maneira:

• Definição da altura da brecha (% ), usualmente estimada como a altura máxima da


barragem, principalmente quando o material da fundação encontra-se bem consolidado;

• Definição da altura de material armazenado (%) ), fixada de acordo com as condições


hidrológicas antecedentes;

• A partir da definição da altura %) estima-se o volume A) pela relação estabelecida na


curva cota-volume do reservatório;

• Os demais parâmetros referentes à largura da brecha, tempo de formação e declividade são


calculados por equações que correlacionam, com algumas variações, a altura da brecha,
altura de material armazenado, volume armazenado e modo de falha.

Apresentam-se na Tabela 4.1 e Tabela 4.2 as equações de previsão da largura média ( ) e
tempo de formação (9 ) da brecha, respectivamente.

TABELA 4.1 – Equações de previsão da largura média da brecha de ruptura

Autores Equação

 E 2,5%) +
Von Thun e
Gillette (1990)  (4.1)

 E 0,27- A) , % ,


Froehlich
(4.2)
(2008)
 , 
 % , A) ž
E 0,787 r t ´ µ “ |X{X¶
Xu e Zhang
% 15 %)
(4.3)
(2009)

70
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
TABELA 4.2 – Equações de previsão do tempo de formação da brecha

Autores Equação


9 E
Von Thun e
4%) + 61,0
(4.4)
Gillette (1990)

A)
9 E 63,2¹
Froehlich
"%) 
(4.5)
(2008)
 ,
%) ,›› A) ž
9 E 0,304 r t ´ µ “ |X{ X¶
Xu e Zhang
15 %)
(4.6)
(2009)

Na equação 4.1  é o coeficiente de ajuste em função do volume armazenado


(adimensional).

Na equação 4.2 - é o coeficiente de ajuste em função do modo de falha (adimensional).

Na equação 4.3 % é a altura da barragem (m).

Nas equações 4.3 e 4.6:

 é o coeficiente de ajuste em função do material constituinte do maciço (adimensional);

 é o coeficiente de ajuste em função do modo de falha (adimensional);

 é o coeficiente de ajuste em função da erodibilidade do material da barragem


(adimensional);

Os parâmetros calculados por meio das equações 4.1 a 4.3 e demais atribuições, permitem a
definição das características geométricas finais da brecha.

A partir das equações 4.4 a 4.6, definem-se os tempos de formação que ditarão a taxa de
progressão da brecha de seu instante inicial até sua plenitude.

Para a definição da progressão da brecha no tempo, adota-se a relação denominada “Curva S”


ou curva senoidal.

71
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
O conceito por trás da curva senoidal é o de atribuir ao crescimento da brecha, intensidades
diferentes no tempo. Teoricamente, no início do processo de abertura da brecha o maciço da
barragem fornece maior resistência à erosão e o fenômeno de transporte de sedimentos é
menos intenso.

Na medida em que a brecha se desenvolve, seu processo de abertura é intensificado pelo


aumento das velocidades do fluxo descarregado por ela, que apresenta alto potencial de
carreamento de sólidos. Próximo ao final da ruptura, quando do esvaziamento do reservatório,
as velocidades afluentes à brecha são reduzidas assim como a carga hidráulica sobre ela.
Essas reduções desaceleram o processo de abertura, tendendo a um estado de equilíbrio entre
as tensões de arraste do escoamento e a resistência do solo.

O desenho esquemático apresentado ao lado do gráfico na Figura 4.7 reflete o


desenvolvimento gradual pela curva senoidal de uma brecha típica em barragens de solo.

FIGURA 4.7 – Evolução temporal de uma brecha típica

De acordo com a Figura 4.7, a lâmina de água sobre a barragem, assinalando a ocorrência de
um galgamento, se altera com mais austeridade quando a área de escoamento da brecha
consegue deplecionar o reservatório com maior velocidade.

Dessa forma, durante a abertura da brecha o reservatório é deplecionado e as vazões


constituintes do hidrograma efluente são calculadas considerando o estrangulamento do
escoamento, a carga hidráulica a montante e as dimensões instantâneas da brecha. No âmbito

72
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
desse trabalho, essa simulação foi realizada pela aplicação da lei de conservação da massa
introduzida no modelo de armazenamento incorporado ao programa HEC-HMS (USACE,
2010a).

Conforme indicado por Collischonn e Tucci (1997) a utilização de modelos hidrológicos, que
desconsideram a declividade da linha de água, pode incorrer em valores de vazão afluente tão
maiores, quão mais rápida for a abertura da brecha e quão menor for a inércia volumétrica do
reservatório. Todavia a inexistência de uma topografia primitiva do reservatório impediu a
aplicação de modelos hidrodinâmicos com as devidas considerações da onda negativa,
justificando a utilização do modelo hidrológico.

O modo de falha galgamento, associado a uma lâmina de 0,10 m sobre o maciço foi adotado
para a previsão de brecha em todos os modelos.

Como recomendação de Lucia (1981), na ausência de evidências contrárias, todo o volume


armazenado no reservatório será considerado para o cálculo do hidrograma efluente.

Apresentam-se na Tabela 4.3 os dados de entrada considerados para a estimativa dos


parâmetros da brecha.

TABELA 4.3 – Parâmetros de entrada para previsão da brecha

Elevação da crista da barragem (m) 1011,00

Elevação mínima do pé do talude de jusante (m) 940,00

Altura máxima da barragem (m) 71,00

Altura final da brecha (m) 71,00

Nível do reservatório no início da ruptura (m) 1011,10

Volume de água acima da cota de fundo da brecha (m³) 2.986.077

4.3 Estudos de propagação do potencial de inundação

4.3.1 Modelo hidráulico distribuído – Saint Venant

Adotou-se o modelo hidráulico distribuído representado pelas equações de Saint-Venant


incorporadas ao modelo computacional HEC-RAS (USACE, 2010b).
73
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Além de ser um programa gratuito, a escolha pelo HEC-RAS deveu-se à boa capacidade do
modelo em representar os fenômenos de inundação de ruptura de barragens.

Dispondo de consistentes registros de marcas de cheia e parâmetros de brecha, Yochum et al.


(2008) realizaram a retroanálise da inundação provocada pela ruptura da barragem de Big
Bay, localizada no estado do Mississipi, EUA. A acurácia dos resultados, alcançada com a
calibração dos parâmetros de brecha no HEC-RAS comprovou a competência do programa.

Ao analisar as perspectivas futuras de modelos de brecha, Walh et al. (2008) propõe o


aprimoramento de modelos de brecha acoplados aos modelos paramétricos já existentes na
plataforma da versão 4.1.0 do HEC-RAS.

Finalmente, Lauriano (2009) realizou intensiva comparação entre os modelos FLDWAV


(FREAD e LEWIS, 1998) – o mais utilizado para estudos de ruptura de barragens no século
XX – e HEC-RAS (USACE, 2010b). Nessa análise, Lauriano (2009) demonstra a
equabilidade dos resultados entre os programas e recomenda o uso do HEC-RAS pela
possibilidade de utilização do programa consorciado a plataformas de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), o que possibilita um melhor detalhamento das seções
transversais e facilita o pós-processamento dos resultados para a geração dos mapas de
inundação.

A solução das equações de Saint-Venant acopladas ao HEC-RAS requer o cuidado na


definição dos seguintes parâmetros:

• Representação da morfologia do vale a jusante da barragem por meio de seções


transversais hidraulicamente consistidas e devidamente espaçadas (Δ);

• Definição da rugosidade do leito e das planícies de inundação por meio do coeficiente de


Manning;

• Identificação de estruturas que possam impor algum controle hidráulico (aterros de rodovia
e reservatórios, por exemplo);

• Identificação de tributários significativos;

• Condição de contorno de montante representativa da ruptura da barragem;

• Condição de contorno de jusante representativa do trecho final da simulação;


74
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
• Definição das condições iniciais de vazão e elevação para todas as seções;

• Definição do intervalo de simulação computacional (Δ).

4.3.1.1 Modelo Geométrico


As informações geométricas que definem a morfologia do vale a jusante da barragem foram
incorporadas ao modelo HEC-RAS por meio de seções transversais espaçadas em intervalos
médios de 20 m. Como no exemplo da Figura 4.8, em função de sinuosidades e demais
interferências, o espaçamento e a disposição das seções sofreram distorções a fim de que o
escoamento unidimensional fosse devidamente representado.

FIGURA 4.8 – Traçado das seções hidráulicas sobre o modelo digital de elevação adotado

A partir da geomorfologia e das imagens de satélite, definiram-se os coeficientes de


rugosidade do terreno.

Em calibração realizada por Fread e Lewis (1998), o coeficiente de que rugosidade de


Manning que melhor se ajustou ao tempo de pico observado após a ruptura de Buffalo Creek
foi de 0,06 (Figura 4.6).

75
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
FIGURA 4.9 – Variação do tempo de chegada da vazão de pico em função da variação do
coeficiente de rugosidade de Manning: estudo de caso da ruptura de Buffalo Creek
Fonte: FREAD e LEWIS, 1998

Conforme constatado pelo gráfico apresentado na Figura 4.6, quanto maior o valor da
rugosidade, maior o retardo do tempo de pico.

Baseado na retroanálise de Fread e Lewis (1998) aplicada para o estudo da ruptura de uma
barragem de rejeitos, e na impossibilidade de calibração dos parâmetros para um caso
hipotético, adotou-se um coeficiente de rugosidade de Manning global de 0,06.

Todas as informações constituintes do modelo geométrico do HEC-RAS foram inseridas no


modelo com auxílio da ferramenta SIG HEC-GeoRAS (USACE, 2011) acoplada ao programa
ArcGIS 9.3.1.

4.3.1.2 Condições de contorno


A condição de contorno de montante foi definida pelas ordenadas (, ) do hidrograma
efluente do modelo paramétrico de brecha, representando o hidrograma de ruptura da
barragem.

Na extremidade de jusante, situada em trecho de planícies do rio Paraopeba, assumiu-se a


condição de contorno referente à profundidade normal de escoamento.

76
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A condição inicial (, ℎ) foi previamente definida pela simulação do modelo em regime de
escoamento permanente. Para tanto, assumiu-se o trânsito da vazão média de longo termo no
rio Paraopeba.

No córrego dos Machados, a condição de vazão inicial atribuída como entrada no modelo não
foi respeitada. A mínima vazão necessária para a convergência numérica apresentou valores
superiores à condição de entrada. Essa dificuldade decorre da elevada amplitude entre o pico
do hidrograma de ruptura e os valores afluentes nas pequenas bacias hidrográficas nas áreas
de mineração.

4.3.1.3 Intervalo de tempo computacional


O intervalo de tempo máximo recomendado por Fread (1993) e USACE (2010b), segundo
critérios empíricos, equivale ao tempo de ascensão do hidrograma dividido por 20.
Considerando que o tempo mínimo de ascensão do hidrograma de ruptura (para a primeira
seção) foi de 6 min, o intervalo de tempo da solução numérica não deveria ultrapassar os 18
segundos.

Em outro critério, a definição do intervalo (Δ) limita-se a até uma unidade do número de
Courant (  ), representado pela equação:

l'
 E @) l» ≤ 1 (4.7)

Na qual @) é a velocidade da onda (m/s).

Na equação 4.7, a velocidade da onda (@)) não pode ser a priori fixada, dado os efeitos de
amortecimento da cheia ao longo do talvegue. Todavia, considerando uma velocidade média
de 7 m/s (posteriormente validada) e um espaçamento entre seções de 20 m, o intervalo de
tempo recomendado e utilizado nas simulações foi de 3 segundos.

4.3.2 Modelo de armazenamento – Puls Modificado

O modelo de armazenamento Puls Modificado, baseado na equação da continuidade, foi


simulado no programa HEC-RAS sobre a mesma base geométrica utilizada para as
simulações do modelo de Saint-Venant.

77
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Recomendado por USACE (2010b) como alternativa para a convergência numérica em
trechos com mudança brusca de seção transversal ou singularidades, o modelo de
armazenamento, foi aplicado em toda a extensão simulada.

Com exceção das condições de contorno internas, inerentes à metodologia, todas as condições
de contorno são idênticas às apresentadas para o modelo de Saint-Venant.

No modelo de Puls Modificado as condições de contorno internas foram definidas por meio
da simulação em regime de escoamento permanente de uma faixa de vazões com amplitude
maior do que a faixa de vazões observadas no hidrograma de ruptura. Dessa forma, definiram-
se as curvas-chave de todas as seções do modelo, possibilitando a estimativa da variação do
volume entre elas com a passagem da cheia, à maneira de um modelo de ondas cinemáticas.

4.3.3 Modelo simplificado de escoamento de rejeitos

Para a simulação do modelo simplificado de escoamento de rejeitos proposto por Jeyapalan et


al. (1983a) os principais parâmetros a serem definidos são a tensão de escoamento (=> ) e a
viscosidade plástica (02 ).

Os valores máximos e mínimos esperados, segundo Jeyapalan et al. (1983a), para a tensão de
escoamento, para a viscosidade plástica e demais parâmetros estão apresentados na Tabela
4.4.

TABELA 4.4 – Resumo de parâmetros de escoamento típicos de rejeitos liquefeitos

Rejeitos de Fosfato Demais tipos de Rejeitos


Valor mínimo Valor máximo Valor mínimo Valor máximo
Parâmetro Unidade
esperado esperado esperado esperado
Massa específica kg/m³ 1281 1602 1442 1762
Tensão de
kPa 1,92E-05 1,92E-03 1,0 7,2
escoamento
Viscosidade
kPa.s 9,58E-06 9,58E-04 0,1 4,8
plástica
Profundidade do
m 0,6 1,5 1,5 15
escoamento
Velocidade do
m/s 1,5 15 1,5 6,1
escoamento
Número de
- 40.000 200.000 10 300
Reynolds
Fonte: Adaptado de JEYAPALAN et al. (1983a)

78
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Apesar das ressalvas apresentadas anteriormente por Vick (1984) quanto à separação
categórica do comportamento dos escoamentos entre rejeitos de fosfato e demais rejeitos, para
a metodologia de Jeyapalan et al. (1983a), aplicada nesse estudo, considerou que os
parâmetros de escoamentos dos rejeitos da barragem Tico-Tico, estarão compreendidos entre
a faixa de valores apresentados na Tabela 4.4 na coluna “demais tipos de rejeitos”.

A tensão de escoamento => , que representa a tensão de resistência ao cisalhamento nos


instantes iniciais do movimento da massa de rejeitos, foi estimada com base em ensaios de
palheta (ANEXO 1) realizados em profundidades diferentes para quatro furos executados no
reservatório da barragem Tico-Tico.

Apresenta-se na Figura 4.10 o resultado gráfico de um dos ensaios de palheta realizados no


reservatório da barragem.

FIGURA 4.10 – Resultados gráficos do ensaio de palheta realizado no furo 03 a 13 m de


profundidade

Verifica-se pela Figura 4.10 que a amostra em seu estado inicial natural suporta grandes
deformações, apresentando elevados valores de resistência não drenada, com possibilidade
clara de identificação da resistência de pico do solo.

79
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Após a ruptura da amostra, aumenta-se a velocidade de rotação da haste a fim de se avaliarem
as resistências cisalhantes da amostra amolgada (ou rompida).

Apesar de não terem sido identificados estudos que correlacionassem a resistência não
drenada da amostra rompida nos ensaios de palheta com a tensão de escoamento => , essa
correlação parece razoável, uma vez que a resistência conferida pela amostra reflete um
estado dinâmico de menor inércia.

Apresentam-se na Tabela 4.5 os resultados dos ensaios de palheta utilizados para o


balizamento da tensão de escoamento => .

TABELA 4.5 – Resultados dos ensaios de palheta executados em 2013 no reservatório da


barragem Tico-Tico

Resistência não drenada p/ amostra amolgada (kPa)


ID Profundidade (m) Média Mínima
7,0 4,40 2,00
Furo 1
9,0 11,8 0,40
10,0 18,4 2,10
Furo 2
12,0 15,2 4,00
7,0 23,8 2,20
Furo 3 11,0 28,8 9,60
13,0 8,60 2,90
15,0 4,40 1,40
Furo 4 8,0 10,8 0,20
10,0 4,60 1,10
Mínimo 4,40 -
Médio - 2,59

Para a simulação do modelo de escoamento de rejeitos adotaram-se os valores de resistência


não drenada referentes ao mínimo valor entre as resistências médias e ao valor médio das
resistências mínimas, correspondentes a 4,40 kPa e 2,59 kPa, respectivamente.

Verificou-se que esses valores encontram-se dentro do intervalo de referência proposto na


Tabela 4.4.

80
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Em caráter preventivo, a inexistência de parâmetros que subsidiasse a estimativa de valores
para a viscosidade plástica, justificou a atribuição do menor valor esperado apresentado na
Tabela 4.4 (0,1 kPa.s).

Para todas as simulações adotou-se uma massa específica média de 1.650 kg/m³ para o
volume total armazenado.

O modelo matemático de Jeyapalan et al. (1983a) para superfícies planares foi executado com
o auxílio de planilhas eletrônicas. Esse mesmo modelo também se encontra disponível, com
acesso gratuito na internet (WISE-URANIUM, 2013). Os resultados da planilha e do modelo
Wise-Uranium (2013) foram confrontados e validados com boas aproximações.

Ao contrário dos modelos hidrológicos e hidráulicos, os resultados do modelo de escoamento


de Jeyapalan, não sofrem grandes alterações com a adoção de diferentes intervalos entre
espaço e tempo. Logo, os resultados em uma mesma seção e em um mesmo instante serão
sempre iguais, independente dos intervalos ∆ e ∆ utilizados. No entanto, a redução dos
intervalos espaço tempo pode oferecer uma melhor distribuição dos pontos para o traçado dos
perfis de inundação.

Considerando a escala do fenômeno analisado, adotaram-se como referência intervalos de


200 m e 60 s.

4.3.4 Modelo de equilíbrio de forças

O modelo de equilíbrio de forças proposto por Lucia (1981) necessita da definição dos
seguintes parâmetros: (i) resistência residual ao cisalhamento não drenado, (ii) massa
específica total dos rejeitos, (iii) volume de rejeitos total por unidade de largura média da
brecha e (iv) a declividade média do trecho.

Em todas as simulações a massa específica dos rejeitos foi fixada em 1.650kg/m³. O volume
específico de rejeitos foi estimado pela razão entre o volume total armazenado e a largura
média da brecha definida pelos modelos paramétricos.

O parâmetro de resistência utilizado no modelo de equilíbrio de forças, responsável pelo


estado de equilíbrio pós-ruptura, incorpora (implicitamente) os efeitos de atrito, viscosidade, e
resistências outras que se opõem ao movimento.
81
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A definição da resistência residual ao cisalhamento não drenado (: ) foi realizada por
correlações defendidas por Seed et al. (1987) entre os valores de : calculados para massas
de areias liquefeitas e valores do número de golpes do ensaio SPT ajustados para a obtenção
do fator  .

O fator   foi proposto por Seed et al. (1985) para correção dos resultados de ensaios
SPT realizados sob condições de energia diferentes conforme tipo de equipamento empregado
no ensaio.

As retroanálises realizadas por Seed et al. (1987) e complementadas por de Alba et al. (1988)
estão apresentadas na Tabela 4.6.

TABELA 4.6 – Relação entre a retroanálise da resistência residual das areias e o número
de golpes SPT para o mesmo material
Retroanálise ECS (N1)60 Resistência Residual (Sur) - kPa
Caso 1 15 35,9
Caso 2 6 2,39
Caso 3 11 28,7
Caso 4 6 12,0
Caso 5 6 6,70
Caso 6 5 2,39
Caso 7 12 35,9
Caso 8 5 6,22
Caso 9 5 4,79
Caso 10 3 1,68
Caso 11 3 2,39
Caso 12 4 5,75
Caso 13 4 3,64
Caso 14 9 12,7
Caso 15 3 5,75
Fonte: SEED et al., 1987; de ALBA et al., 1988

Os valores de   apresentados na Tabela 4.6 referem-se a resultados de ensaios realizados
em areias. Portanto, para a utilização dessa relação, os valores de   dos rejeitos foram
corrigidos também em função do percentual de finos da amostra para a estimativa do
parâmetro “Equivalent Clean Sand”    , conforme equação:

   E   +  (4.8)

82
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na qual:

   é o valor do número de golpes SPT para solos arenosos limpos (Golpes/30cm);

 é o fator de correção de   para solos com presença de finos (Golpes/30cm).

Os valores de  para diferentes percentuais de finos foram definidos empiricamente e estão


apresentados na Tabela 4.7.

TABELA 4.7 – Correção de finos para avaliação da resistência por meio de ensaios SPT
Finos (%) Nc (Golpe/30 cm)
10 1
25 2
50 4
75 5
Fonte: SEED et al., 1987

Foram realizados no reservatório da barragem Tico-Tico dois ensaios CPTu (ANEXO 1),
cujos resultados permitiram a estimativa do parâmetro   mínimo, apresentado na Tabela
4.8.

TABELA 4.8 – Resultados de (N1)60 extraídos dos ensaios de CPTu

ID Profundidade (m) (N1)60 Erro (N1)60 MÍN


7a9 9,7 3,4 6,3
Furo 3
9 a 31,35 9,7 5,7 4
7 a 16,70 6,6 3,2 3,4
Furo 4
16,7 a 22,85 15,7 4,1 11,6
Mínimo 3,4
Um resumo dos resultados de ensaios laboratoriais de caracterização e granulometria
(ANEXO 1) estão apresentados na Tabela 4.9.

A escolha do menor percentual de finos (36,1%) apresentado pelas amostras da Tabela 4.9
permitiu o cálculo do fator  pela interpolação dos dados da Tabela 4.7.

Dessa forma, o valor de    foi calculado pela soma de   (3,4 golpes/30 cm) e
 (2,89 golpes/30 cm).

83
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
TABELA 4.9 – Resultados dos ensaios de caracterização e granulometria

Coordenadas % Finos
Profundidade
Furo Amostra Material passante na
N E (m)
peneira 200
AI - 1 7.776.907,40 574.516,01 7,00 a 8,00 1 Areia Siltosa 60,4
AI - 1 7.776.907,40 574.516,01 9,00 a 10,00 2 Silte Arenoso 83,6
AI - 2 7.776.923,08 574.502,37 10,50 a 11,00 1 Silte Arenoso 78,5
AI - 3 7.776.939,11 574.488,51 10,00 a 11,00 1 Areia Siltosa 46,2
AI - 3 7.776.939,11 574.488,51 14,00 a 15,00 2 Areia Siltosa 36,1
AI - 6 7.776.987,79 574.446,52 15,45 a 16,00 1 Areia Siltosa 50,5
AI - 6 7.776.987,79 574.446,52 17,45 a 18,00 2 Areia Siltosa 56,4
AI - 4 7.776.954,18 574.475,49 9,00 a 10,00 1 Silte Arenoso 68,3
Mínimo 36,1

Finalmente, a resistência residual não drenada : foi estimada pela regressão matemática
aplicada aos pares de pontos (  , : ) propostos na Tabela 4.6 e representados
graficamente na Figura 4.11.

FIGURA 4.11 – Regressão matemática para estimativa da resistência residual de solos


liquefeitos
Fonte: Adaptado de SEED et al., 1987; de ALBA et al., 1988

84
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Por meio da equação apresentada no gráfico da Figura 4.11 e do valor de    igual a
6,29, a resistência não drenada do solo utilizada no modelo de equilíbrio de forças foi de
9,14 kPa.

4.4 Modelo digital de elevação

Toda a geometria do vale foi atribuída ao estudo de caso por meio de um modelo digital de
elevação (MDE).

Os trabalhos de geração do MDE, bem como sua consolidação com inspeções de campo,
foram realizados pela empresa Terravision Geotecnologia e Geoinformação Ltda. e
disponibilizados pela MMX Mineração e Metálicos S/A para a realização desse trabalho.

O Modelo Digital de Elevação (MDE) utilizado para as simulações foi elaborado pelo
princípio da estereoscopia aplicado às imagens de satélite coletadas da constelação Pléiades.
A estereoscopia permite a obtenção de dados tridimensionais, por meio da observação de um
par de imagens planas (estereopares) de uma mesma cena, com ângulos de incidência
distintos.

A constelação Pléiades, composta por dois satélites idênticos operados pelo Centro Nacional
de Estudos Espaciais (CNES) da França, proporciona imagens coloridas de alta resolução
(50cm). O MDE foi gerado com resolução final de 1 m com auxílio do programa
ERDAS LPS a partir das imagens Pléiades, permitindo a representação da superfície em uma
escala de até 1:2.000.

Acessoriamente, coletaram-se 15 pontos de controle em campo com GPS Geodésico de dupla


frequência L1/L2 (Modelo GTR-G2 / TechGeo), para serem utilizados na ortorretificação e
geração do MDE. Em nenhum dos pontos de controle a elevação do MDE apresentou erros
maiores do que 1,0 m.

Destaca-se a relevância da qualidade desse dado, que apresenta escala inferior à recomendada
por Cunge et al. (1980). Além disso, não se identificaram trabalhos de ruptura de barragens
no Brasil que tenham adotado base topográfica com essa resolução.

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Tem sido comum a utilização de bases topográficas regionais em escalas maiores do que
1:25.000, associadas à seções topobatimétricas levantadas ao longo do curso de água
(BRASIL, 2005; LAURIANO, 2009).

A utilização de bases topográficas regionais consistidas a partir de seções topobatimétricas


pode representar, de maneira razoável, planícies de inundação em zonas rurais. Todavia, a
representação topográfica de áreas urbanas necessita de uma precisão cartográfica maior.

Apresenta-se na Figura 4.12 a comparação entre o MDE utilizado nesse trabalho e um MDE
gerado a partir de uma base regional gratuita (ASTER/GDEM) com escala de 1:25.000 a
1:50.000.

No lado esquerdo da Figura 4.12 destaca-se a imagem de satélite de um trecho do município


de Igarapé, permeado pelo córrego dos Machados, e susceptível ao potencial de inundação
correspondente à ruptura hipotética da Barragem Tico-Tico. No lado direito da mesma figura,
apresentam-se os modelos digitais de elevação em comparação.

Conforme esperado, o MDE regional (Figura 4.12b) não dispõe de resolução o suficiente para
a representação da malha urbana, por sua vez, razoavelmente representada pelo MDE
utilizado nesse trabalho (Figura 4.12a).

O MDE completo de toda a área estudada está apresentado no APÊNDICE A-6.

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FIGURA 4.12 – Comparação entre modelos digitais de elevação de resoluções distintas em
áreas urbanas

4.5 Mapeamento das inundações

O mapeamento das inundações foi realizado com auxílio da ferramenta HEC-GeoRAS


inserida no ambiente do programa ArcGIS.

A principal função do HEC-GeoRAS é promover a interlocução do banco de dados gerado


pelas simulações do HEC-RAS com a linguagem de álgebra de mapas utilizada pelo ArcGIS.

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Os perfis de escoamento simulados em cada intervalo de tempo dão origem às superfícies de
inundação cujas elevações são subtraídas das cotas altimétricas do modelo digital de elevação.
A diferença dessa operação resulta na altura de inundação para cada célula do mapa. O
contato entre cada célula dá origem à envoltória da inundação.

Para a devida caracterização dos parâmetros de inundação (tempo, altura e velocidades) serão
gerados os seguintes mapas:

• Mapa de envoltórias máximas para comparação dos cenários de ruptura;

• Mapa de classificação da inundação estática máxima para um dos cenários escolhidos;

• Mapa da evolução temporal da mancha de inundação;

• Mapa do risco hidrodinâmico.

Com exceção dos mapas de risco hidrodinâmico, todos os mapas foram elaborados em escala
1:5.000.

4.6 Cenários de ruptura

Os cenários de ruptura foram definidos a partir dos quatro modelos de propagação da


inundação avaliados nesse trabalho.

Os modelos de propagação foram alimentados por hidrogramas de ruptura gerados sob duas
hipóteses de abertura da brecha – com exceção do modelo de Jeyapalan et al. (1983a).

Do cruzamento dos modelos de brecha com os modelos de propagação somaram-se os oito


cenários apresentados na Tabela 4.10.

TABELA 4.10 – Definição dos cenários simulados no estudo de caso da Barragem Tico-Tico
Modelos de Propagação da Inundação
Modelos de Brecha Saint-Venant Puls Modificado Lucia Jeyapalan
Xu e Zhang (2009) Cenário 1a Cenário 2a Cenário 3a -
Froehlich (2008) Cenário 1b Cenário 2b Cenário 3b -
- - - - Cenário 4a
- - - - Cenário 4b

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Na Tabela 4.10, definem-se, portanto, os cenários numerados de 1 a 4. Os índices “a e b”
remetem-se às hipóteses de brecha. Dessa forma, o Cenário 1a caracteriza-se pela simulação
do hidrograma de ruptura resultante do modelo de Xu e Zhang (2009) propagado segundo o
modelo matemático de Saint-Venant, e assim por diante.

O modelo de escoamento de rejeitos de Jeyapalan et al. (1983a) não permite a atribuição de


hipóteses de variação da condição de contorno de montante promovida por modelos de
brecha. Contudo definiram-se dois cenários de ruptura (4a e 4b) baseados em diferentes
atribuições de tensão de escoamento do material: 2,59 kPa e 4,40 kPa, respectivamente.

4.7 Critério de interrupção da simulação


A aproximadamente 12 km a jusante da barragem Tico-Tico, o córrego dos Machados
deságua no rio Paraopeba. Apesar de não apresentar nenhuma referência escalar, a fotografia
da superfície líquida do rio Paraopeba nas proximidades dessa confluência (Figura 4.13)
evidencia a elevada capacidade de transporte desse curso de água.

FIGURA 4.13 – Rio Paraopeba nas proximidades da confluência com o córrego dos
Machados

A magnitude da área de drenagem da bacia hidrográfica do rio Paraopeba nessa região


subsidiou a formulação da hipótese de que o equilíbrio morfodinâmico das margens e
planícies de inundação do rio Paraopeba tenha sido instaurado por eventos de cheia de
magnitudes tão elevadas quanto aquelas que por ali passariam quando da ruptura hipotética da
barragem.

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Comprovada essa hipótese, a onda de cheia decorrente da ruptura hipotética da Barragem
Tico-Tico não promoveria no rio Paraopeba maiores impactos do que aqueles já provocados
pelas cheias naturais no local, justificando, portanto, a interrupção da simulação.

Para a comprovação dessa hipótese, realizou-se uma breve análise dos registros
fluviométricos da estação Ponte Nova do Paraopeba, operada pelo CPRM, cujos dados foram
disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA) por meio do canal de divulgação
HIDROWEB (www.hidroweb.ana.gob.br).

Os dados cadastrais da estação fluviométrica Ponte Nova do Paraopeba, identificada também


pelo código 40800001, estão apresentados na Tabela 4.11 bem como a altitude e área de
drenagem da bacia hidrográfica.

TABELA 4.11 – Dados da estação fluviométrica Ponte Nova do Paraopeba (Código


40800001)

Código 40800001
Nome Ponte Nova do Paraopeba
Bacia Rio São Francisco (4)
Sub-bacia Paraopeba (40)
Rio Rio Paraopeba
Estado Minas Gerais
Município Juatuba
Responsável ANA
Operadora CPRM
Latitude 19º 56' 56'' (SUL)
Longitude 44º 18' 19'' (OESTE)
Altitude (m) 683
Área de Drenagem (km²) 5690

A escolha da estação Ponte Nova do Paraopeba justificou-se pela proximidade dessa estação
em relação à localização da confluência do córrego dos Machados com o rio Paraopeba,
identificada pela Figura 4.14.

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FIGURA 4.14 – Bacia hidrográfica e localização da estação fluviométrica Ponte Nova do
Paraopeba

Os registros de cota média diária dessa estação foram consolidados, assim como a restituição
das vazões por meio das curvas-chave utilizadas pela própria ANA.

O aspecto geral das vazões reconstituídas para essa estação pode ser verificado pela relação
cota-vazão apresentada na Figura 4.15 para a qual os pares de pontos resultantes da curva-
chave ajustam-se com boa precisão às medições de descarga líquida.

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FIGURA 4.15 – Curva-chave do rio Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba.

Para a análise da probabilidade de ocorrência de cheias no rio Paraopeba procedeu-se à


aplicação de metodologia de análise de frequência local de eventos máximos anuais. A série
de vazões médias diárias da estação 40800001 foi utilizada para a identificação e geração da
série hidrológica de eventos médios diários máximos anuais, aos quais se aplicaram técnicas
de extrapolação estatística para a determinação dos quantis de vazão máxima no rio
Paraopeba apresentados na Figura 4.16.

FIGURA 4.16 – Distribuição de probabilidades teórica Gumbel para as vazões do rio


Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba
92
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Pela Figura 4.16 verifica-se graficamente a boa aderência da distribuição de probabilidades
teórica de Gumbel ajustada aos registros de vazões máximas anuais, cuja posição de plotagem
foi definida pela distribuição de probabilidades empírica formulada por Gringorten e
recomendada por Naguettini e Pinto (2007).

A análise de frequência realizada resultou em quantis de vazão máxima de 1.060 m³/s a


1.170 m³/s para os tempos de retorno de 50 a 100 anos, respectivamente. Esses valores
revelam a magnitude da cheia natural ocorrida em janeiro de 2012, veiculada pela imprensa
nacional dada grande extensão dos impactos, não obstante a preservação de todas as vidas
humanas expostas pela cheia. Apresenta-se na Figura 4.17 o hidrograma da cheia de 2012
registrado pela estação fluviométrica Ponte Nova do Paraopeba, no qual se verifica um pico
de vazão pouco maior do que 1.200 m³/s.

FIGURA 4.17 – Hidrograma da cheia de janeiro de 2012 do rio Paraopeba registrado em


Ponte Nova do Paraopeba

Ressalta-se ainda que esses valores referem-se a medições de cotas médias diárias tomadas
em dois instantes do dia. Dessa forma, se forem aplicados fatores de correção para a obtenção
de valores instantâneos de vazão, esses valores seriam ainda maiores.

Posteriormente, verificou-se que as maiores vazões a atingirem o rio Paraopeba pela


propagação da onda de ruptura aproximaram-se do pico do evento de 2012 validando a
interrupção das simulações nas mediações da confluência com o córrego dos Machados.

93
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4.8 Comparação dos resultados

Os resultados das metodologias foram comparados sempre que possível a partir dos
parâmetros de inundação extraídos de cada modelo em seções transversais e em mapas
temáticos. Portanto, as seções transversais escolhidas para representar os parâmetros de
inundação têm a mesma forma e localizam-se no mesmo eixo para todos os modelos.

Em linhas gerais, buscou-se a comparação dos seguintes parâmetros:

• Hidrograma de ruptura de diferentes modelos paramétricos (parâmetro de entrada dos


estudos de inundação);

• Extensão da mancha de inundação pelas envoltórias do mapa de inundação máxima


(principal produto do estudo de ruptura);

• Elevação máxima das inundações nas seções transversais notáveis;

• Tempo de chegada da frente de onda nas seções transversais notáveis (informação


fundamental para eficiência dos sistemas de alerta);

• Velocidades máximas da inundação nas seções notáveis (informação ainda pouco utilizada,
mas importante para a estimativa do potencial de destruição por arraste);

• Vazões máximas ao longo das seções notáveis (parâmetro técnico importante para análise
de sensibilidade dos modelos);

• Hidrogramas propagados nas seções notáveis;

• Curvas-chave restituídas das relações entre cota e vazão das simulações.

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5 RESULTADOS

5.1 Formação da brecha e hidrograma de ruptura


Os resultados dos parâmetros geométricos para a brecha de ruptura em seu estado final,
calculados pelas equações 4.1 a 4.6, estão apresentados na Tabela 5.1.

TABELA 5.1 – Resultados dos parâmetros da brecha de ruptura

Von Thun e
Froehlich Xu e Zhang
Gillette
(2008) (2009)
(1990)

Altura Final (m) 71 71 71

Largura Média (m) 192 50,5 87,6

Declividade Lateral (Zh:1v) 1,3 1,0 0,8

Tempo de Formação (h) 0,56 0,14 0,57

Volume total a montante (m³) 2.986.077 2.986.077 2.986.077

Volume liberado por largura de brecha (m³/m) 15.515 59.078 34.078

Vazão de pico efluente (m³/s) 5.295 10.634 4.464

A simulação do deplecionamento do reservatório, realizada por meio da taxa de crescimento


(previamente apresentada na Figura 4.7) associada aos parâmetros de tempo de formação e
geometria final da brecha, resultaram na formação dos hidrogramas apresentados na Figura
5.1, Figura 5.2 e Figura 5.3.

Os hidrogramas representados por cada metodologia foram comparados na Figura 5.4, na qual
se constata a grande variação dos picos de vazão, não obstante a equabilidade dos volumes.

Os hidrogramas resultantes dos modelos de Froehlich (2008) e Xu e Zhang (2009) foram


selecionados como condição de contorno de montante dos modelos de propagação por
apresentarem o maior e o menor pico de vazão, respectivamente.

A variação dos impactos dos modelos de brecha sobre o modelo de propagação de Lucia
(1981) foi implementada pela diferença entre os volumes liberados por unidade de largura da
brecha.
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FIGURA 5.1 –Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de
Von Thun e Gillette (1990)

FIGURA 5.2 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de


Froehlich (2008)

FIGURA 5.3 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de


Xu e Zhang (2009)
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FIGURA 5.4 – Comparação dos hidrogramas de ruptura resultantes da simulação dos
modelos de brecha paramétricos

5.2 Seções notáveis

Os resultados dos parâmetros de inundação foram extraídos dos modelos para seções
transversais distribuídas ao longo do córrego dos Machados e do rio Paraobepa.

Apresentam-se na Figura 5.5 a posição das seções nomeadas pelas letras “A” a “O”.

FIGURA 5.5 – Localização das seções notáveis selecionadas para a comparação dos
resultados

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As seções apresentadas na Figura 5.5, arbitrariamente classificadas como seções notáveis,
foram selecionadas de modo a representarem as variações geométricas impostas pelo terreno
ao longo dos vales potencialmente atingidos pela inundação.

5.3 Elevação máxima da inundação


A elevação máxima da inundação em cada seção está apresentada no perfil longitudinal da
Figura 5.6.

FIGURA 5.6 – Elevação máxima atingida pela inundação para diversos cenários

A distorção entre as escalas vertical e horizontal no perfil longitudinal apresentado na Figura


5.6, dificulta a comparação dos resultados de elevação máxima entre os cenários.

Como alternativa de análise dos resultados, as elevações da inundação foram, portanto,


plotadas em cada uma das seções transversais, conforme apresentado no APÊNDICE A-1.

Ainda com relação à representação dos perfis da Figura 5.6, o intervalo entre as seções
notáveis não foi suficientemente reduzido para o detalhamento dos perfis de inundação dos
cenários 3 e 4, justificando, portanto, a reapresentação desses perfis na Figura 5.7 e Figura
5.8.

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FIGURA 5.7 – Perfil da inundação máxima para os cenários 3a e 3b

FIGURA 5.8 – Perfil da inundação máxima para os cenários 4a e 4b

A inundação estática máxima, obtida pela diferença entre as cotas da inundação e as cotas de
fundo do talvegue, foi confrontada para os diversos cenários na Figura 5.9.

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FIGURA 5.9 – Inundação estática máxima atingida para diversos cenários

Observa-se na Figura 5.9 que os perfis de inundação referentes aos cenários 3 e 4


apresentaram elevados valores nos primeiros quilômetros a jusante. Essa constatação indica
que apesar de atingirem distâncias reduzidas, os modelos simplificados podem superestimar a
elevação da inundação para os primeiros quilômetros do vale.

Posteriormente, a elevação das inundações máximas foi mapeada sobre o modelo digital de
elevação para a delimitação das envoltórias de inundação. Os mapas comparativos das
envoltórias de inundação dos cenários 1 e 2 estão apresentados no APÊNDICE A-2.

Nessa etapa, não foi possível a construção das envoltórias de inundação para os cenários 3 e
4, cujas elevações superaram as elevações dos divisores da bacia em diversos pontos,
conforme constatado pelos desenhos das seções apresentados no APÊNDICE A-1.

A inundação estática máxima foi mapeada e classificada para diferentes elevações para a
inundação simulada no cenário 1b (APÊNDICE A-3). A escolha do cenário 1b justificou-se
pelo fato desse cenário ter apresentado o menor tempo de chegada da frente de onda em todas
as seções, parâmetro fundamental para o planejamento das ações de evacuação.

100
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5.4 Propagação do hidrograma de ruptura

Um dos resultados típicos do trânsito de cheias em canais fluviais é o abatimento do pico do


hidrograma propagado a jusante.

O fenômeno de abatimento dos hidrogramas de cheias ocorre devido ao diferencial de energia


entre o volume transportado em altas velocidades e a resistência ao escoamento promovida
por efeitos de difusão e pelas mudanças de declividade e geométricas do vale, principalmente.

Os hidrogramas propagados nos cenários 1 e 2 estão representados na Figura 5.10, Figura


5.11, Figura 5.12 e Figura 5.13.

FIGURA 5.10 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1a

Na seção C da Figura 5.10 apresentada, verifica-se uma descontinuidade na tendência de


abatimento do pico de vazão. Especula-se que essa oscilação esteja vinculada ao caráter
implícito infligido pela atribuição do valor 1 ao parâmetro j utilizado na simulação. Essa
atribuição, comumente aplicada visando a convergência numérica do modelo matemático,
pode apresentar resultados incoerentes, tais como esse verificado na seção C.

Os resultados observados na Figura 5.11 refletem o amortecimento do hidrograma de ruptura


resultante da abertura da brecha pelo modelo de Froehlich (2008) que apresenta um pico de
vazão consideravelmente maior do que no Cenário 1a.
101
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FIGURA 5.11 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1b

As oscilações encontradas no resultado da seção C da Figura 5.10 não foram verificadas na


Figura 5.11. Talvez em função da elevada amplitude entre o pico de vazão e a base do
hidrograma, o caráter implícito da solução não tenha sido capaz de provocar distorções
notáveis nos hidrogramas.

FIGURA 5.12 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2a

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FIGURA 5.13 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2b

Os hidrogramas da Figura 5.12 e Figura 5.13 apresentam oscilações atribuídas a priori à


calibração insuficiente do intervalo Δx e às relações entre cota, volume e descarga nas seções.

A comparação do abatimento do pico dos hidrogramas foi realizada por meio do gráfico
apresentado na Figura 5.14.

FIGURA 5.14 – Comparação das vazões de pico após a propagação dos hidrogramas

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Constata-se que o maior pico de vazão resultante da propagação do hidrograma de ruptura é
semelhante ao pico da cheia de 2012 registrada na estação Ponte Nova do Paraopeba. No
entanto, quando os volumes dos hidrogramas são confrontados (Figura 6.15), o potencial de
inundação do hidrograma proveniente da ruptura da barragem é muito menor do que o
potencial de inundação da cheia natural do rio Paraopeba.

FIGURA 5.15 – Comparação entre o hidrograma da cheia de janeiro de 2012 e o


hidrograma propagado até a Seção O no cenário 2b, no rio Paraopeba.

5.5 Tempo de chegada da frente de onda

O tempo de chegada da frente de onda em cada seção notável está apresentado na Figura 5.16.

Observa-se na Figura 5.16 que o hidrograma de ruptura não apresenta tanto impacto na
diferença do tempo de chegada da frente de onda. Todavia, verifica-se uma tendência de
aumento do erro no tempo de chegada da onda para diferentes modelos de propagação.

Por apresentar o menor tempo entre os resultados, dada as inconsistências posteriormente


discutidas sobre os resultados do cenário 4, a evolução temporal da mancha de inundação do
cenário 1b foi mapeada conforme apresentado no APÊNDICE A-4.

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FIGURA 5.16 – Comparação entre os tempos de chegada da frente de onda em cada seção

5.6 Velocidades máximas da inundação

As velocidades máximas atingidas em cada cenário foram graficamente comparadas na Figura


5.17. O parâmetro velocidade, utilizado para a estimativa do potencial de destruição e arraste
da onda de ruptura, foi multiplicado pela elevação da inundação para o mapeamento do Risco
Hidrodinâmico dos cenários 1b e 2b apresentado do APÊNDICE A-5.

FIGURA 5.17 – Comparação entre as velocidades máximas atingidas em cada seção

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5.7 Curva-chave restituída

Consubstanciada à propagação dos hidrogramas, a relação entre vazão transportada e elevação


apresentou variações no tempo e no espaço. Para a comparação dessa relação entre os
cenários, restituíram-se na Figura 5.18, Figura 5.19 e Figura 5.20 as curvas-chave das seções
“E”, “H” e “K” a partir dos pares de pontos (cota, vazão) processados pelo modelo na
passagem do hidrograma de cheia.

FIGURA 5.18 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “E”

FIGURA 5.19 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “H”

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FIGURA 5.20 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “K”

A partir da Figura 5.18, Figura 5.19 e Figura 5.20 fica evidente a superioridade do modelo de
Saint-Venant (cenário 1) no quesito representação das diferentes velocidades da onda durante
a ascensão e recessão do hidrograma. Essa constatação pode ser observada pelo laço da curva-
chave restituída a partir dos resultados de cota e vazão ao longo do tempo.

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6 DISCUSSÃO

6.1 Brecha de ruptura


Como esperado, a aplicação de diferentes modelos paramétricos resultou em elevadas
diferenças entre os parâmetros de formação da brecha e, consequentemente, entre as vazões
de pico dos hidrogramas de ruptura.

Ficou evidenciado ainda, que os parâmetros geométricos da brecha exercem menor influência
na vazão de pico do que o tempo de formação. Prova disso, é que o modelo de Froehlich
(2008) apresentou uma largura média cerca de quatro vezes menor do que a largura média do
modelo de Von Thun e Gillette (1990) e uma vazão de pico duas vezes maior.

Esse resultado está coerente com a premissa de cálculo do hidrograma efluente que considera
equações de vertedouro na estimativa das descargas para além da brecha. Segundo essa
premissa, para tempos de formação menores, os acréscimos de carga hidráulica (variável de
maior peso relativo na equação de vertedouros) são mais intensos, facultando um
deplecionamento mais acelerado do reservatório.

O risco em se utilizar equações de vertedouro de soleira livre para o cálculo das vazões
efluentes sobre a brecha está na desconsideração da possibilidade de afogamento da saída a
jusante, principalmente para barragens de altura reduzida e, ou, implantadas em talvegues de
baixa declividade.

Interessante observar, que para a escala utilizada no mapeamento, as alterações dos modelos
de brecha não impactaram em grandes diferenças na extensão da mancha de inundação (vide
APÊNDICE A-2), mesmo nos primeiros quilômetros da simulação.

Assim como nos estudos de Lauriano (2009) e Fread e Lewis (1998), os hidrogramas de
ruptura de diferentes picos tendem a convergir para um mesmo ponto, demonstrando que as
elevadas velocidades e picos de vazão estão sujeitos a uma perda de energia cinética mais
intensa. Esse resultado parece indicar uma relação entre o volume liberado e uma distância a
partir da qual todas as vazões de pico se equiparam, embora a inundação ainda se pronuncie
ao longo do vale.

108
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Para o modelo de equilíbrio de forças, o impacto da variação do modelo de brecha,
introduzido pela razão entre volume sobre largura, não apresentou grandes variações na
distância atingida à jusante, apesar da diferença de até 5 m nas elevações da inundação.

6.2 Propagação da Inundação


Por desconsiderarem as condições de contorno dos vales a jusante, as metodologias de
Jeyapalan et al. (1983a) e Lucia (1981) não apresentaram resultados coerentes com a
realidade. Nos cenários 3 e 4, as elevações da inundação (de até 55 m) ultrapassaram os
limites topográficos da bacia, indicando o trasbordamento de rejeitos para além dos divisores
de águas (vide APÊNDICE A-1). Limitações como essa impedem a produção de mapas de
inundação coerentes.

Além disso, as elevadas declividades do vale a jusante da barragem demandaram a


extrapolação dos resultados do modelo de equilíbrio de forças, cujo parâmetro de resistência
não foi suficiente para a necessária convergência entre a curva volumétrica e a curva de
resistência.

Questionam-se também as elevadas velocidades de escoamento para os resultados do cenário


3. Mesmo considerando elevada viscosidade e tensão de escoamento, a premissa de
escoamento laminar parece difícil de ser sustentada para valores de velocidade de 30 m/s a
35 m/s por cerca de dois quilômetros. Ressalta-se que, para o mesmo trecho, as velocidades
máximas atribuídas aos demais modelos (para fluxo turbulento e Newtoniano) foram de
10 m/s a 15 m/s.

A comparação entre as envoltórias de inundação máxima (possível apenas para os cenários 1


e 2) evidenciou a reduzida sensibilidade da extensão da inundação frente à aplicação de
diferentes métodos de propagação de vazões (vide APÊNDICE A-2).

No entanto, a evolução temporal da inundação sofre considerável alteração quando da


utilização dos métodos de Saint-Venant e Puls Modificado.

A chegada da frente de onda é sempre mais rápida nos cenários 1a e 1b (Saint-Venant). Esse
resultado reflete o desprezo das componentes inerciais da equação da quantidade de
movimento resultantes da aplicação do método de Puls Modificado. Característica refletida

109
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também na magnitude das velocidades e no aspecto das curvas-chave apresentadas para as
seções “E”, “H” e “K”.

Enquanto o modelo de Puls Modificado fixa as curvas-chave provenientes da simulação em


regime permanente como condição de contorno interna, a simulação do modelo de Saint-
Venant permite a representação mais realista do loop da curva-chave resultante da variação
não unívoca das velocidades quando da ascensão e recessão do hidrograma.

Observou-se ainda que o somatório dos erros referentes ao desprezo da quantidade de


movimento pelo método de Puls Modificado resultou em uma tendência crescente da
diferença no tempo de chegada da frente de onda, parâmetro de fundamental importância para
o gerenciamento das ações de evacuação.

Verificou-se, em tempo, que não apenas o modelo de Saint-Venant, mas como também o
modelo de Puls-Modificado apresentaram distorções decorrentes de instabilidade numérica,
ainda que para esse último elas não tenham dificultado a convergência da simulação.

Com relação à aplicabilidade dos resultados, os modelos de Lucia (1981) e Jeyapalan et al.
(1983a) oferecem obstáculos à produção de mapas temáticos de inundação ao apresentarem
como resultados apenas o perfil da inundação. Por desconsiderarem a superfície do terreno, os
volumes resultantes do estado de equilíbrio são frequentemente maiores do que os volumes
liberados pelo reservatório. Além disso, o modelo de Lucia (1981) não fornece informações
sobre o avanço temporal da inundação, nem sobre as velocidades dos rejeitos liquefeitos.

Ainda sobre os perfis de inundação, nos cenários 3 e 4 as elevações das inundações nos
primeiros quilômetros a jusante da barragem precisam ser melhor interpretadas a fim de que
não se cometa o equívoco de validá-las sem antes avaliar as condições de contorno dadas pela
variação geométrica da topografia.

Outra observação que demonstra a fragilidade dos modelos de Lucia (1981) e Jeyapalan et al.
(1983a) é a faixa de valores de resistência ao escoamento não drenada, que além de apresentar
amplitude variada, não apresenta limites que reflitam a realidade de muitas inundações
constatadas nos históricos de ruptura.

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Os recursos tecnológicos e os sistemas teóricos não permitem, por enquanto, a previsão
assertiva do comportamento dos rejeitos pós-liquefação. Fato que tem motivado a aplicação
de ferramentas matemáticas e estatísticas nos estudos de ruptura de barragens de rejeitos, haja
vista os trabalhos de Vick (1991) e Rico et al. (2007).

No entanto, até para as análises estatísticas, as previsões da inundação são ainda muito
variáveis. Se a distância de propagação da inundação da Barragem Tico-Tico fosse calculada
pela metodologia de Rico et al. (2007), os impactos atingiriam uma faixa de 33 km a 274 km.

Na tentativa de se estabelecerem alguma correlação indicativa da distância de propagação da


inundação com os volumes liberados dos reservatórios, plotaram-se os pontos disponíveis na
Tabela 3.3 nos gráficos apresentados na Figura 6.1 e na Figura 6.2.

As mesmas séries (distância atingida x volume liberado) foram separadas por tipo de rejeito
(na Figura 6.1) e por modo de falha (na Figura 6.2).

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FIGURA 6.1 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de
rupturas diversas, classificada por tipo de rejeitos

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FIGURA 6.2 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de
rupturas diversas, classificada por modos de falha

Em ambos os gráficos não foi possível o estabelecimento de qualquer relação com um


coeficiente de determinação (R²) razoável, indicando pela experiência dos casos ocorridos que
a estimativa da extensão da inundação é uma função multivariada cujos parâmetros ainda não
foram estabelecidos a priori.

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7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Realizaram-se nesse trabalho os estudos de ruptura hipotética da Barragem Tico-Tico a partir


de variadas metodologias, suficientemente processadas para a geração de resultados que
possibilitassem o atendimento aos objetivos propostos pela pesquisa.

Como conclusão da análise dos resultados e mediante a dificuldade de se defender com o


devido embasamento as metodologias de propagação que consideram as particularidades dos
rejeitos, para efeitos de produção de cenários de inundação que auxiliem as diretrizes do PAE,
conclui-se que o modelo matemático de Saint-Venant incorporado ao programa HEC-RAS é
ainda a melhor ferramenta para prognóstico de inundações. Até mesmo por representar a
metodologia mais conservadora e a que irá produzir um cenário de inundação mais
catastrófico, possibilitando a preparação das autoridades do vale para a pior situação.

Além disso, as semelhanças entre os rejeitos da Barragem Tico-Tico (silte arenoso a areia
siltosa) e os rejeitos da Barragem de Fernandinho sugere que os escoamentos de uma eventual
ruptura da barragem possam também atingir elevada fluidez, percorrendo consideráveis
distâncias.

Em análises simplificadas, quando apenas a extensão da inundação é demandada, o modelo de


Puls Modificado pode ser utilizado, desde que respeitada as semelhanças com a área e a
escala desse estudo de caso. A generalização dessa metodologia carece ainda de sua aplicação
para barragens com grandes volumes associados cuja extensão da inundação certamente
ultrapassaria os 14 km desse estudo.

A aplicação do modelo de Puls Modificado para canais aproxima essa metodologia a um


modelo de ondas cinemáticas. Portanto, os resultados da propagação são fortemente
influenciados pela distância entre as seções; procedimento não realizado nessa pesquisa.

As metodologias simplificadas de Jeyapalan et al. (1983a) e Lucia (1981) não são


recomendadas como ferramentas de previsão, pela dificuldade de definição dos parâmetros de
resistência dos rejeitos, apesar de serem bons métodos para a realização de retroanálises nos
casos em que a ruptura não atinge grandes extensões.

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A simples correlação entre volumes escoados e distâncias atingidas (Figura 6.1) evidenciou a
impossibilidade de classificação do regime de escoamento para cada tipo de rejeito, conforme
indicado por Vick (1984).

A elaboração desse trabalho contribuiu para a percepção de algumas frentes de pesquisa e


trabalhos futuros que possam vir a auxiliar na compreensão dos fenômenos de escoamentos de
rejeitos, corridas de lama e de detritos:

• Elaboração de pesquisas e modelos físicos e matemáticos para a compreensão dos modelos


de brecha específicos para barragens de rejeitos;

• Estudos de sensibilidade para avaliação da susceptibilidade aos escoamentos (pós-


liquefação) com relação aos modos de falha, piping, galgamento, terremotos, etc;

• Calibração dos coeficientes de rugosidade de Manning para a retroanálise da ruptura de


barragens de rejeitos;

• Análises estatísticas do potencial de inundação considerando a curva densidade de


probabilidade dos percentuais de volumes de rejeitos liberados por ocasião de ruptura;

• Estudos de ruptura de barragens implantadas sobre diversas configurações


geomorfológicas, com a aplicação de modelos simplificados, com vistas à análise de
sensibilidade dessas simplificações frente à variação de declividades, estreitamentos,
volumes de hidrograma, distâncias propagadas e outros.

• Análise estatística dos casos de ruptura de barragens de rejeitos com vistas à identificação
de fragilidades, ou características frequentemente presentes no histórico de rupturas;

• Análise comparativa dos estudos de ruptura de barragens desenvolvidos sobre bases


topográficas (modelos digitais de elevação) de resoluções distintas;

• Desenvolvimento de modelos e pesquisas em laboratórios para uma melhor compreensão


dos escoamentos dos rejeitos, considerando suas propriedades físicas e químicas.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A-1: ELEVAÇÃO MÁXIMA DA INUNDAÇÃO NAS SEÇÕES
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APÊNDICE A-2: COMPARAÇÃO DAS ENVOLTÓRIAS DE INUNDAÇÃO
MÁXIMA

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APÊNDICE A-3: MAPEAMENTO DA INUNDAÇÃO ESTÁTICA MÁXIMA DO
CENÁRIO 1B

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APÊNDICE A-4: EVOLUÇÃO TEMPORAL DA MANCHA DE INUNDAÇÃO
DO CENÁRIO 1B

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APÊNDICE A-5: MAPEAMENTO DO RISCO HIDRODINÂMICO DOS
CENÁRIOS 1B E 2B

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APÊNDICE A-6: MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO

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ANEXO 1: RESULTADOS DOS ENSAIOS GEOTÉCNICOS DOS
REJEITOS DA BARRAGEM TICO-TICO (OU B1-AUXILIAR)

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