Disserta o Mestrado Leonardo Pires Reis de Melo
Disserta o Mestrado Leonardo Pires Reis de Melo
Disserta o Mestrado Leonardo Pires Reis de Melo
Belo Horizonte
2013
ANÁLISE COMPARATIVA DE METODOLOGIAS DE
PREVISÃO DE INUNDAÇÃO DECORRENTE DA
RUPTURA DE BARRAGENS DE REJEITOS:
CASO HIPOTÉTICO DA BARRAGEM TICO-TICO
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2013
Melo, Leonardo Pires Reis de.
M528a Análise comparativa de metodologias de previsão de inundação
decorrente da ruptura de barragens de rejeitos [manuscrito] : caso
hipotético da Barragem Tico-Tico/ Leonardo Pires Reis de Melo. – 2013.
xi, 183 f., enc.: il.
CDU: 628(043)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a seus prepostos por manterem a ordem no universo e por sustentarem leis
naturais tão sábias que sequer conseguimos revelar uma ínfima parte.
Ao engenheiro Robson Santos que confiou aos meus cuidados o primeiro estudo de ruptura de
barragem de rejeitos que realizei. E aos seus sucessores, Anderson Silva e Marcus Cruz pela
continuidade no apoio e retaguarda.
Ao apoio direto dos amigos Aloysio Saliba, Eder Teixeira, Rodrigo França, José Mário,
Henrique Alves, Lucas Faria e Felipe Rocha.
Ao engenheiro geotécnico César Alves por disponibilizar os dados para a realização do estudo
de caso.
Aos meus pais, avós e irmãos pelo suporte emocional e motivação. Ao meu avô Alvimar que
partiu esse ano deixando saudades, força e coragem.
Em especial, agradeço imensamente à minha esposa Viviane e ao meu filho Levi (a quem
dedico esse trabalho) por suportarem minha ausência com bravura, compreensão e carinho.
i
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
RESUMO
Realizou-se, para tanto, uma breve revisão da literatura e um resgate dos principais modelos
que simulam a propagação de inundações provocadas por barragens de rejeitos considerando
suas características de resistência ao cisalhamento e viscosidade.
ii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
ABSTRACT
Since the publication of the Dam Safety National Policy and the regulation of its legal
instruments, the risk management of Brazilian dams associated with high potential damage
must make Emergency Action Plans (EAP) available. Associated with the EAPs, the
hypothetical failure studies assist in the definition of mitigation actions of downstream
damage.
In November 2012, during the seminar "Tailings Dam Safety and Risk Management," a
presentation of the Brazilian experience in studies of tailings dams failures frustrated owners
of dams that have, on occasion, expressed legitimate demands for dam break studies that
consider the rheological characteristics of tailings flow.
In this context, the lack of criteria that delimit the dam break studies, including the tailings
dams, led to the preparation of this work, which aims to compare and analyze the different
methodologies of predicting impacts.
Therefore, a brief review of the literature was undertaken, as well as a review of the main
models that simulate tailings floods, considering their characteristics of shear strength and
viscosity.
Simplified models of tailings flow and force equilibrium have been applied to the case study
of a hypothetical failure of the Tico-Tico dam, and compared to the hydrological and
hydrodynamic models.
The analysis of the results showed the difficulty of generalization of simplified models for
valleys with varied geometry and steep slopes. In addition, the inconsistency of the flood
parameters that resulted from these models made it impossible to delimit the flood boundaries
that could assist in defining the extent of impacts.
The insipience of simplified models gave the edge to the hydrodynamic models in terms of
commitment to results and support for the EAP guidelines, although in some cases the flood
in the valley can be overestimated.
iii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
SUMÁRIO
v
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 – Curva tensão-deformação típica de areias fofas em condições não drenadas........ 8
Figura 3.2 – Esquema do desenvolvimento da falha da barragem de Merriespruit relatado por
testemunhas oculares ................................................................................................................ 10
Figura 3.3 – Comportamento dos fluidos submetidos a tensões de cisalhamento ................... 13
Figura 3.4 – Elevação da inundação devido à ruptura de Buffalo Creek ................................. 15
Figura 3.5 – Vista aérea da extensão da inundação após a ruptura da barragem de rejeitos de
gesso, Texas – EUA.................................................................................................................. 18
Figura 3.6 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Jupille ................................. 22
Figura 3.7 – Vista aérea do fluxo de rejeitos após o acidente em Aberfan .............................. 23
Figura 3.8 – Configuração da barragem de rejeitos no vale do córrego Middle, afluente do rio
Buffalo, antes do acidente ........................................................................................................ 24
Figura 3.9 – Perspectiva da inundação do vale a jusante, um dia após o acidente de Buffalo
Creek......................................................................................................................................... 25
Figura 3.10 – Detalhe da cunha de ruptura em Bafokeng ........................................................ 26
Figura 3.11 – Vista aérea da ruptura da barragem Bafokeng ................................................... 27
Figura 3.12 – Vista aérea do arranjo geral das barragens de Stava .......................................... 27
Figura 3.13 – Vista aérea (antes e depois) da ruptura da barragem de rejeitos de Stava ......... 28
Figura 3.14 – Cicatriz deixada pela ruptura da Barragem de Fernandinho .............................. 29
Figura 3.15 – Vista aérea da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a ruptura
.................................................................................................................................................. 30
Figura 3.16 – Vista aérea da inundação provocada pela ruptura da barragem Merriespruit .... 31
Figura 3.17 – Vista aérea da cicatriz no reservatório da barragem de Merriespruit................. 31
Figura 3.18 – Perspectiva da brecha na barragem São Francisco............................................. 32
Figura 3.19 – Inundações provocadas em Miraí pela ruptura da barragem São Francisco ...... 33
Figura 3.20 – Ensaios de ruptura – laboratoriais e de campo – para análise da formação da
brecha por galgamento.............................................................................................................. 36
Figura 3.21 – Ensaios de ruptura de campo para análise da formação da brecha por piping ... 36
Figura 3.22 – Domínio discreto de solução x-t para o esquema de Preissmann ...................... 43
Figura 3.23 – Perfis de escoamento permanente e armazenamento entre seções..................... 48
Figura 3.24 – Perfil do escoamento Bingham-Plástico para rejeitos pós-liquefeitos ............... 54
Figura 3.25 – Geometria idealizada para análise de equilíbrio de forças pós-ruptura ............. 55
Figura 3.26 – Ábaco de parametrização da solução de estabilidade ........................................ 57
Figura 3.27 – Esquema típico da solução geométrica pelo método do equilíbrio de forças .... 59
Figura 3.28 – Diagrama de classificação do risco da inundação .............................................. 62
Figura 4.1 – Localização da barragem Tico-Tico e região analisada ....................................... 65
Figura 4.2 – Seção típica do projeto de alteamento da Barragem Tico-Tico ........................... 66
Figura 4.3 – Fotografia do talude de jusante da Barragem Tico-Tico ...................................... 67
Figura 4.4 – Curva cota-volume da Barragem Tico-Tico......................................................... 67
Figura 4.5 – Perspectiva do vale do córrego dos Machados a jusante da Barragem Tico-Tico
.................................................................................................................................................. 68
Figura 4.6 – Principais parâmetros de uma brecha típica ......................................................... 69
Figura 4.7 – Evolução temporal de uma brecha típica ............................................................. 72
Figura 4.8 – Traçado das seções hidráulicas sobre o modelo digital de elevação adotado ...... 75
Figura 4.9 – Variação do tempo de chegada da vazão de pico em função da variação do
coeficiente de rugosidade de Manning: estudo de caso da ruptura de Buffalo Creek .............. 76
Figura 4.10 – Resultados gráficos do ensaio de palheta realizado no furo 03 a 13 m de
profundidade ............................................................................................................................. 79
vi
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 4.11 – Regressão matemática para estimativa da resistência residual de solos
liquefeitos ................................................................................................................................. 84
Figura 4.12 – Comparação entre modelos digitais de elevação de resoluções distintas em áreas
urbanas...................................................................................................................................... 87
Figura 4.13 – Rio Paraopeba nas proximidades da confluência com o córrego dos Machados
.................................................................................................................................................. 89
Figura 4.14 – Bacia hidrográfica e localização da estação fluviométrica Ponte Nova do
Paraopeba.................................................................................................................................. 91
Figura 4.15 – Curva-chave do rio Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba. .......................... 92
Figura 4.16 – Distribuição de probabilidades teórica Gumbel para as vazões do rio Paraopeba
em Ponte Nova do Paraopeba ................................................................................................... 92
Figura 4.17 – Hidrograma da cheia de janeiro de 2012 do rio Paraopeba registrado em Ponte
Nova do Paraopeba ................................................................................................................... 93
Figura 5.1 –Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de Von
Thun e Gillette (1990) .............................................................................................................. 96
Figura 5.2 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de
Froehlich (2008) ....................................................................................................................... 96
Figura 5.3 – Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de Xu e
Zhang (2009) ............................................................................................................................ 96
Figura 5.4 – Comparação dos hidrogramas de ruptura resultantes da simulação dos modelos
de brecha paramétricos ............................................................................................................. 97
Figura 5.5 – Localização das seções notáveis selecionadas para a comparação dos resultados
.................................................................................................................................................. 97
Figura 5.6 – Elevação máxima atingida pela inundação para diversos cenários...................... 98
Figura 5.7 – Perfil da inundação máxima para os cenários 3a e 3b.......................................... 99
Figura 5.8 – Perfil da inundação máxima para os cenários 4a e 4b.......................................... 99
Figura 5.9 – Inundação estática máxima atingida para diversos cenários .............................. 100
Figura 5.10 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1a............................. 101
Figura 5.11 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 1b ............................ 102
Figura 5.12 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2a............................. 102
Figura 5.13 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2b ............................ 103
Figura 5.14 – Comparação das vazões de pico após a propagação dos hidrogramas............. 103
Figura 5.15 – Comparação entre o hidrograma da cheia de janeiro de 2012 e o hidrograma
propagado até a Seção O no cenário 2b, no rio Paraopeba..................................................... 104
Figura 5.16 – Comparação entre os tempos de chegada da frente de onda em cada seção .... 105
Figura 5.17 – Comparação entre as velocidades máximas atingidas em cada seção ............. 105
Figura 5.18 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “E”..................... 106
Figura 5.19 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “H” .................... 106
Figura 5.20 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “K” .................... 107
Figura 6.1 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de rupturas
diversas, classificada por tipo de rejeitos ............................................................................... 112
Figura 6.2 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de rupturas
diversas, classificada por modos de falha ............................................................................... 113
vii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE TABELAS
viii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ix
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#$ Taxa de deformação para fluido Bingham-Plástico
ℎ Espessura da lâmina líquida ou profundidade hidráulica do escoamento
ℎ Parâmetro adimensional de elevação do escoamento
% Altura final da brecha
% Altura remanescente a jusante da cunha de ruptura
%& Altura de rejeitos remanescente à montante após a ruptura
%' Desnível geométrico da cunha de ruptura
ℎ( Elevação correspondente à posição (
%) Altura do volume armazenado no reservatório no início da ruptura
% Altura da barragem
*+ Índice de fragilidade
*' Afluências no tempo
ICOLD Comitê Internacional de Grandes Barragens
, Fator de condução da seção
- Coeficiente de ajuste em função do modo de falha
. Comprimento total cunha de ruptura
. Contribuição da quantidade de movimento de tributários
.& Distância do pé do talude da barragem para o interior do reservatório
.' Distância atingida à jusante do pé do talude da barragem
/ Razão adimensional entre posição e tempo
MDE Modelo Digital de Elevação
01 Viscosidade dinâmica ou aparente
02 Viscosidade plástica
3 Coeficiente de rugosidade de Manning
Fator de correção de para solos com presença de finos
Parâmetro adimensional de estabilidade da massa rompida
Valor padronizado para correção dos resultados de ensaios SPT
realizados sob condições de energia diferentes
4' Defluências no tempo
5 Ângulo geral do talude de jusante da barragem
6 Perímetro molhado
PAE Plano de Ações Emergenciais
PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens
x
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Vazão
Contribuição de vazão específica lateral
7 Parâmetro adimensional de viscosidade
7& Número de Reynolds
78 Raio hidráulico
Parâmetro adimensional de resistência
Declividade média a jusante
e Coeficientes de sinuosidade em função de ℎ
& Perda de carga localizada, por efeitos de contração/expansão
9 Declividade da linha de energia
' Armazenamento entre duas seções de referência
: Resistência residual ao cisalhamento não drenado
; Resistência ao cisalhamento ao longo da base da cunha de ruptura
Variável independente relativa ao tempo
′ Parâmetro adimensional do tempo
9 Tempo de formação total da brecha
=9 Resistência do cisalhamento de pico
= Resistência do cisalhamento de residual
=> Tensão de escoamento
? Velocidade média do escoamento
?′ Parâmetro adimensional de velocidade
@) Velocidade da onda
A9 Volume de rejeitos liberados por unidade de brecha
A) Soma do volume de água e rejeitos no instante inicial da ruptura
W Peso total da massa escoada por metro linear de brecha
B9 Resistência do vento na superfície de escoamento
Variável independente relativa à posição longitudinal
Parâmetro adimensional de posição do escoamento
( Local de ocorrência da velocidade máxima
C Coeficiente de declividade lateral
D' Altura máxima de tensão no estado ativo
xi
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
1 INTRODUÇÃO
Não obstante a polêmica discussão que versa em torno da ética das motivações políticas e
econômicas para a implantação de barragens, é evidente que essas estruturas trazem consigo
benefícios diretos e indiretos à população. A movimentação de recursos para a execução da
obra e o usufruto advindo dos múltiplos usos possíveis durante a vida útil da barragem,
atestam o progresso oriundo dessa tecnologia e, porque não dizer, dessa obra de arte.
ICOLD (2001) apresentou acervo com registros de 221 incidentes envolvendo barragens de
rejeitos, cujos impactos atingiram até 120 quilômetros de extensão.
Segundo Davies (2002), nos últimos 30 anos, a frequência de ruptura de barragens de rejeitos
foi aproximadamente 10 vezes maior do que a frequência de ruptura de barragens de
contenção de água. Fato que evidencia a carência de uma boa gestão de risco dessas
estruturas.
A complexidade da gestão de risco e segurança das barragens de rejeitos pode ser atribuída a
diversos fatores (DAVIES, 2002; BLIGHT, 2010):
1
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
• Os estados de tensões da estrutura estão em constante alteração;
• São operadas por uma sucessão de profissionais, nem sempre comprometidos com a gestão
da segurança, nem sempre cientes dos riscos envolvidos na operação da barragem;
• Por não apresentarem perspectiva de geração de receita, as barragens de rejeito têm sido
frequentemente concebidas com alternativas tecnológicas estritamente necessárias ao
atendimento de requisitos mínimos, como uma condicionante à explotação mineral, e não
como um investimento de capital.
Não é sem razão que a lista de barragens de rejeito que sofreram ruptura é consideravelmente
extensa e que os depósitos de rejeitos são considerados perigosos, principalmente se não
forem respeitados e tratados como tal (BLIGHT, 2010).
Pouco mais tarde, segundo Lauriano (2009), as rupturas das barragens de rejeitos da
Mineração Rio Verde, em 2001, e da Indústria de Papel Cataguases, em 2003, impulsionaram
ações mais incisivas do Governo Federal no tocante à segurança de barragens que culminaram
com um projeto de lei para o estabelecimento da Política Nacional de Segurança de
Barragens, também em 2003.
2
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Igarapé/MG. Cientes da carência de investigações sobre os fenômenos de ruptura de
barragens de rejeitos, ambas as empresas autorizaram a utilização dos dados desses estudos
como fomento à essa pesquisa.
1.1 Justificativa
A Política Nacional de Segurança de Barragens aplica-se a barragens destinadas à acumulação
de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de
resíduos industriais que apresentem pelo menos uma das seguintes características:
• Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior ou igual a
15 m;
Quanto à categoria de dano potencial associado, a PNSB define que as barragens serão
classificadas segundo critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH).
Em julho de 2012, o CNRH publicou a Resolução nº 143 (BRASIL, 2012a) que estabelece
critérios, não apenas para classificação quanto à categoria de dano potencial associado, mas
também para a classificação por categoria de risco.
3
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
• Existência de unidades habitacionais ou equipamentos urbanos ou comunitários;
• Volume reservado.
Depreende-se dos critérios da Resolução nº143 que as categorias de dano potencial são
definidas baseadas apenas na existência de ocupações importantes a jusante, sem levar em
consideração se a inundação provocada por uma eventual ruptura irá atingir essas benfeitorias.
De acordo com a Portaria nº416 as barragens com alto dano potencial associado devem dispor
de um Plano de Ações Emergenciais, documento que direciona as respostas em situação de
emergência e define procedimentos para gerenciamento do risco tanto para a estrutura da
barragem quanto para a planície de inundação.
É nesse cenário, caracterizado por um arcabouço legal cada vez mais coeso e rigoroso, que se
observam os crescentes esforços para a regularização das condições construtivas e
operacionais das barragens, focados também na elaboração do PAE. Ora, desde que o PAE se
afirme como uma ferramenta de auxílio à mitigação de riscos e danos que possam acometer a
sociedade civil, forçoso se faz que esses danos estejam, o quanto antes, bem definidos.
4
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execução desses estudos dificulta o julgamento de suas validades e, não raro, subtraem-lhes a
credibilidade.
Para Rico et al. (2007), a diversidade das características das barragens de rejeitos torna
meramente especulativa qualquer tentativa de generalização da previsão dos impactos de uma
eventual ruptura.
Esse trabalho está estruturado em oito capítulos, dentre os quais o primeiro (Capítulo 1)
introduz a pesquisa no contexto acadêmico e tecnológico, abrindo precedentes para a
declaração dos objetivos expostos no Capítulo 2.
Conta-se ainda com apresentação de desenhos e mapas temáticos apresentados nos apêndices
e com os ensaios geotécnicos dos rejeitos da Barragem Tico-Tico apresentados em anexo.
5
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
2 OBJETIVOS
Os objetivos específicos foram aqui definidos como subsídio da pesquisa em quatro itens:
• Avaliar a sensibilidade dos resultados obtidos frente à variação dos resultados dos modelos
de brecha;
6
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
3 REVISÃO DA LITERATURA
• Caso algum modo de falha se estabeleça e provoque a abertura de uma brecha, o rejeito
confinado no reservatório irá escoar e em que proporção para as áreas a jusante?
• Durante o escoamento dos rejeitos, qual será o sistema dinâmico que melhor representará o
comportamento dos fluidos?
Segundo os ensaios conduzidos por Castro (1969), o comportamento típico das areias fofas
não coesivas pode ser representado tal como na Figura 3.1, em que o solo atinge a resistência
de pico (=9 ) para deformações muito pequenas (usualmente menores que 1%) experimentando
uma redução marcante da resistência ao cisalhamento para inexpressivos acréscimos de
deformação.
Nos limites da deformação verificados nos ensaios, as amostras atingem suas resistências
residuais (= ), momento no qual se estabelece a “estrutura de escoamento”.
FIGURA 3.1 – Curva tensão-deformação típica de areias fofas em condições não drenadas
Fonte: Adaptado de CASTRO, 1969
Ao analisar o comportamento dos solos representado pela Figura 3.1, Bishop (1973) propõe
que o potencial para o escoamento pós-ruptura pode ser relacionado à razão entre as
resistências de pico e residual. A partir dessa relação, Bishop (1973) apresentou o conceito de
“Índice de Fragilidade” (*+ ), definindo-o pela equação:
FG HFI
*+ E FG
(3.1)
8
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Segundo Bishop (1973), materiais que apresentam altos índices de fragilidade (*+ ) são mais
susceptíveis ao escoamento por liquefação.
Highter e Tobin (1980) relacionaram o índice de fragilidade em condições não drenadas para
rejeitos de minério de ferro, zinco e granada. Segundo esses autores, o índice de vazios inicial
é o parâmetro que governa os valores do índice de fragilidade. Os resultados dos ensaios
realizados por Highter e Tobin (1980) indicaram que, para as amostras dos três tipos de
rejeitos, a possibilidade de escoamento devido à aplicação de carregamentos pode ser evitada
se a compactação inicial do solo atingir valores acima de 80% da densidade seca máxima
referente ao Proctor Modificado.
Os principais modos de falha associados à ruptura de barragens de rejeitos citados por ICOLD
(2001) são:
• Galgamento;
• Terremoto;
• Instabilidade de taludes;
• Falhas na fundação; e
• Falhas estruturais.
A classificação categórica dos modos de falha deve ser flexibilizada à medida que se percebe
a influência de um sobre outro.
Por exemplo, no caso da ruptura da barragem de Merriespruit (item 37 da Tabela 3.3), Blight
(2010) relata o desenvolvimento da ruptura como consequência de múltiplos fatores. Ao rever
as análises de estabilidade do talude na região da brecha, compará-la com registros
9
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piezométricos e com testemunhos locais, Bligth (2010) sugere que a provável sequência da
ruptura de Merriespruit tenha sido:
• Após a ruptura local, a abrasão conferida pela ação erosiva da veia líquida instaurada pelo
galgamento provocou grave ravina que rapidamente evoluiu para a plenitude da brecha;
Dessa forma, a formação da brecha nos maciços das barragens opera como um gatilho para o
início de um processo de escoamento ou liquefação dos rejeitos armazenados, uma vez
iniciadas as súbitas deformações promovidas pela perda de suporte da massa de solo adjacente
à brecha. Instaurado o escoamento pela brecha, o processo dinâmico somente se estabilizará
quando da formação de um perfil de superfície no interior do reservatório compatível com a
redução da resistência ao cisalhamento dos rejeitos supramencionados. De outro modo, todo o
material armazenado irá afluir pela brecha (BLIGHT e FOURIE, 2005).
As considerações de Blight e Fourie (2005) vão ao encontro dos resultados obtidos por Castro
(1987), que conclui que escorregamentos são desencadeados por terremotos quando as
deformações acumuladas atingem níveis suficientemente altos para superarem a resistência de
pico (=9 ) do solo, resultando em escoamentos consideráveis condicionados pela resistência
residual não drenada (: ).
Por outro lado, ICOLD (2001) pondera que o método de alteamento por montante é o método
mais tradicional e comumente utilizado na construção de barragens de rejeitos. E, ainda que
os registros de acidentes de barragens alteadas por linha de centro seja pequeno, o número de
barragens dessa categoria é também menor do que o número de barragens alteadas por
montante.
Além das tensões ordinárias, atribuídas à viscosidade e turbulência nos fluidos Newtonianos,
a interação entre água e sedimentos, o atrito das partículas com os limites do canal e a colisão
de materiais suspensos (tensão dispersiva) constituem fatores que se contrapõem ao
movimento. Adicionalmente, a eventual presença de partículas de argila com potenciais
coesivos elevados modifica os processos físicos que governam o escoamento (JULIEN e
O’BRIEN, 1997).
Para a mecânica dos fluidos clássica, a tensão necessária para produzir determinada
deformação em um fluido é proporcional à taxa de deformação (J?/JL). Para um fluido real
em movimento, as tensões cisalhantes – que existem apenas em condições dinâmicas –
desenvolvem-se em função de uma taxa de deformação angular. Apresentam-se na Figura 3.3
diferentes relações entre tensões cisalhantes e deformações.
12
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
FIGURA 3.3 – Comportamento dos fluidos submetidos a tensões de cisalhamento
Fonte: Adaptado de O’BRIEN e JULIEN, 1984
Tal como representado pela Figura 3.3, os escoamentos Newtonianos respeitam uma relação
linear entre a tensão cisalhante e a taxa de deformação definida pelo gradiente de viscosidade
0 . Ainda na figura, verifica-se que os escoamentos do tipo Bingham-Plástico diferenciam-se
dos escoamentos Newtonianos por associarem à relação tensão-deformação uma tensão de
escoamento (=> ) que precisa ser superada a fim de que ocorra algum movimento.
Para O’Brien e Julien (1984) e Phillips (1988), modelos que assumem a hipótese de
escoamento segundo o comportamento Bingham-Plástico podem apresentar bons resultados
na representação de escoamentos de lama, desde que condicionados a canais prismáticos de
declividades suaves para as quais o regime de escoamento seja parcialmente turbulento e os
efeitos de perda de carga por rugosidade sejam desprezíveis.
Segundo Jeyapalan, et al. (1983a), os escoamentos de rejeitos liquefeitos são muito bem
caracterizados pelo modelo Bingham-Plástico. Na concepção de seu modelo, Jeyapalan, et al.
13
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
(1983a) afirmaram que, quando liquefeitos, a maioria dos rejeitos – com exceção dos rejeitos
de fosfato – escoam sob regimes laminares.
Lucia (1981) declara que rejeitos de fosfato, que apresentam partículas muito finas e teores de
umidade elevados, escoam tal como se água fossem.
Essa hipótese foi bastante criticada por Vick (1984), que considera as propriedades dos
rejeitos bastante complexas para serem premeditadamente utilizadas na simplória
classificação dos escoamentos entre laminares (maioria dos rejeitos) e turbulentos (rejeitos de
fosfato).
Segundo Vick (1984), as características dos rejeitos in-situ, proporcionadas pela variação dos
sistemas de disposição nos reservatórios, pelas diferentes granulometrias dos materiais
segregados e pelo adensamento natural conferido pelo peso próprio do volume reservado são
determinantes do comportamento dinâmico após uma eventual ruptura.
Vick (1984) defende ainda que as diferentes intensidades de sismos que induzem a liquefação
podem impactar sobremaneira na velocidade inicial do movimento e, consequentemente, na
classificação do regime dos escoamentos em laminar ou turbulento.
Dessa forma, Vick (1984) conclui que regimes de escoamento turbulentos ou laminares
podem ser atribuídos a quaisquer depósitos de rejeitos, desde que instauradas condições de
contorno para tanto.
14
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FIGURA 3.4 – Elevação da inundação devido à ruptura de Buffalo Creek
Fonte: FREAD e LEWIS, 1998
Jeyapalan, et al. (1983b) observam que, como no caso de Buffalo Creek, as características dos
escoamentos de rejeitos não dependem apenas da natureza do material, mas também da
quantidade de água envolvida no movimento.
Concentração
Característica do
Volumétrica Descrição
Escoamento
(Cv)
15
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Concentração
Característica do
Volumétrica Descrição
Escoamento
(Cv)
Conforme constatado pela classificação da Tabela 3.1, para concentrações de sólidos na polpa
de rejeitos (Cv) de até 20% em volume, o escoamento comporta-se como um líquido
semelhante à água. Por exemplo, considerando rejeitos com massa específica dos grãos igual
a 3,00, estas condições equivalem a rejeitos com até 43% de sólidos em massa, que
correspondem à maioria de rejeitos bombeados no Brasil.
Para Cv variando entre 20% e 40 % em volume – o que corresponderia a uma polpa de rejeitos
com 43% a 67% de sólidos em massa para rejeitos com massa específica dos grãos igual a
3,00 – os escoamentos apresentam alta fluidez com propagação de ondas por distâncias
consideráveis. Estes valores encontram-se na faixa das polpas de rejeitos espessados.
Segundo Julien e O’Brien (1997), as corridas de lama (Cv < 40%) caracterizam-se como
turbulentas e com resistência ao escoamento dependente das condições de contorno externas.
16
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Somente para valores de Cv acima de 45% em volume é que as forças coesivas e as tensões
intrínsecas passam a prevalecer como indutoras da alta plasticidade e resistência ao
escoamento. Para rejeitos com massa específica dos grãos igual a 3,00, essas condições
equivalem a rejeitos com concentração de sólidos em massa de cerca de 71% (típicas de
rejeitos em pasta). Nessas condições, raras no Brasil, os rejeitos depositados liberam pouca
água e apresentam baixa propensão ao escoamento.
Conforme relatado na introdução, segundo Rico et al. (2007), a diversidade das características
das barragens de rejeitos torna meramente especulativa qualquer tentativa de generalização da
previsão dos impactos de uma eventual ruptura.
Aliás, pouca relação entre causa e efeito tem sido estabelecida quando se observam os casos
históricos de rupturas de barragens.
17
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FIGURA 3.5 – Vista aérea da extensão da inundação após a ruptura da barragem de
rejeitos de gesso, Texas – EUA
Fonte: JEYAPALAN, 1983b
Blight (2010) apresentou uma lista com as 19 maiores falhas ocorridas entre os anos de 1928
e 2000 que, somadas, ceifaram 1080 vidas humanas. Dentre as quais, 1065 ocorreram entre os
anos de 1965 e 1996 – uma média de 34 vidas por ano.
Davies (2002) apresentou breve descrição estatística dos casos de ruptura de barragens de
rejeitos ocorridos entre os anos de 1970 e 2001, inclusive. Período no qual, segundo este
autor, ocorreram em média pelo menos 2 a 5 acidentes por ano. Essa frequência de acidentes
foi associada por Davies (2002) a um inventário de 3.500 barragens, resultando em uma
probabilidade de falha anual de 1/700 a 1/1750 por barragem. Valores elevados que implicam
em riscos raramente admitidos na gestão de segurança dessas estruturas.
18
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Não obstante a merecida atenção que deve ser dispensada a todos os casos de rupturas
registrados pela história, elegeram-se nesse trabalho apenas aquelas cujas distâncias atingidas
foram relatadas.
Com o intuito de ilustrar a grande variabilidade dos parâmetros envolvidos e das extensões
das inundações provocadas por rupturas de barragens de rejeitos, apresenta-se na Tabela 3.3
uma breve compilação de casos coletados no cenário mundial.
Na Tabela 3.2 apresenta-se uma legenda para auxiliar a interpretação da Tabela 3.3
TABELA 3.3 – Casos de ruptura de barragens de rejeitos com distância atingida registrada
(continua)
19
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Dados técnicos da barragem
Modo Rejeitos Distância
nº Ano Identificação / Local Tipo de minério Altura Volume de liberados atingida
Método falha (m³) (m)
Material máxima armazenado
Construtivo
(m) (m³)
Ollinghouse / Nevada /
31 1985 ouro B S 5 120.000 PE 25.000 1.500
EUA
20
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Dados técnicos da barragem
Modo Rejeitos Distância
nº Ano Identificação / Local Tipo de minério Altura Volume de liberados atingida
Método falha (m³) (m)
Material máxima armazenado
Construtivo
(m) (m³)
chumbo / zinco /
39 1996 Sgurigrad / Bulgaria M R 45 1.520.000 I 220.000 6.000
cobre / prata
zinco / chumbo /
40 1998 Los Frailes / Espanha B E 27 15.000.000 F 6.800.000 40.000
cobre
São Francisco / Miraí /
41 2007 bauxita B S 32 - G 2.000.000 92.000
Brasil
Castle Dome / Arizona /
42 - cobre M R - - PE 150.000 100
EUA
Fonte: Adaptado de ICOLD, 2001; BLIGHT, 2010; BISHOP, 1973; LUCIA, 1981, RICO et al, 2007; e
CBDB, 2012
Alguns casos apresentados na Tabela 3.3 foram relatados com um pouco mais de detalhe nos
itens subsequentes.
Apresenta-se na Figura 3.6 uma vista aérea do local após o acidente, a partir da qual se
identificam a cicatriz da ruptura no depósito e o poder destrutivo do material transportado em
alta velocidade.
22
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O aterro foi construído a partir da descarga de rejeitos de carvão. O depósito final assumiu
uma geometria semelhante a um tronco de cone com declividades de taludes correspondentes
ao ângulo de repouso característico do material (BISHOP, 1973).
Apresenta-se na Figura 3.7 uma vista aérea da devastação provocada pelo fluxo de rejeitos
decorrente da ruptura do Depósito nº 7 em Aberfan.
23
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3.1.4.3 Barragem de Buffalo Creek – Estados Unidos (1972)
A barragem de Buffalo Creek localizava-se na Virgínia do Oeste, no vale encaixado de
Middle Fork, configurando uma sequência de estruturas tal como representado na Figura 3.8.
24
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A ruptura teve seu início na barragem nº 3 que apresentava cerca de 15 m de altura,
desencadeando a ruptura e o transporte dos rejeitos armazenados também nos reservatórios
imediatamente a jusante. Estima-se que foram liberados cerca de 170.000 m³ de rejeitos
transportados por 27 km (LUCIA, 1981).
O acidente ocasionou a perda de 118 vidas e deixou cerca de 4.000 desabrigados. Apresenta-
se na Figura 3.9 uma fotografia de montante para jusante da aérea – antes ocupada pela
comunidade de Saunders – um dia após o acidente. Estima-se que a inundação tenha atingido
6 m de altura nessa região (USDA, 1972).
Apresenta-se na Figura 3.11 uma vista aérea do acidente de Bafokeng que provocou a perda
de 12 vidas.
26
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FIGURA 3.11 – Vista aérea da ruptura da barragem Bafokeng
Fonte: LUCIA, 1981
27
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Quando a segunda barragem (montante) atingiu a elevação de 29 m, uma condição de
instabilidade, provavelmente provocada por uma elevada percolação, resultou em um
escorregamento rotacional que provocou a abertura da brecha dessa estrutura. O deslocamento
repentino de energia provocou a ruptura da barragem a jusante. O somatório dos volumes
efluentes em decorrência da falha das estruturas provocou uma onda de rejeitos que atingiu
velocidades de 17 m/s, percorrendo cerca de 8 km (ICOLD, 2001).
Apresenta-se na Figura 3.13 uma vista antes e depois da ruptura no vale de Stava e Tesero.
FIGURA 3.13 – Vista aérea (antes e depois) da ruptura da barragem de rejeitos de Stava
Fonte: WISE-URANIUM, 2013
28
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3.1.4.6 Fernandinho – Brasil (1986)
A barragem de rejeitos da Mina de Fernandinho, de propriedade da Itaminas Comércio de
Minérios S/A, localizava-se no município de Itabirito. A ruptura dessa estrutura ocorreu no
ano de 1986 e é narrada por Parra e Lasmar (1987).
Segundo esses autores, baseados em relatos de testemunhas, a ruptura teria ocorrido em duas
etapas. Na primeira, houve uma movimentação lenta próximo à ombreira direita, envolvendo
o lago do reservatório e levando máquinas e operadores que trabalhavam no local.
Posteriormente, ocorre o colapso total do maciço (vide Figura 3.14) associado à formação de
uma onda de lama.
Os sinais deixados pelo acidente impressionaram pela rapidez com que se desenvolveu, pela
velocidade alcançada e pelo alto grau de fluidez da massa envolvida. Em gargantas situadas a
jusante, irregularidades do terreno que poderiam ter aprisionado parte da massa em
movimento ficaram vazias, evidenciando o caráter de reduzidas viscosidades do fluido.
(PARRA e LASMAR, 1987).
Nas margens havia sinais de grandes desníveis nas alturas alcançadas pela onda de lama. Toda
a vegetação e o solo superficial foram removidos pela força da massa em movimento,
deixando uma superfície com aspecto desértico. Apresenta-se na Figura 3.15 uma vista aérea
da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a ruptura.
29
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FIGURA 3.15 – Vista aérea da barragem de Fernandinho e do talvegue a jusante após a
ruptura
Fonte: PARRA e LASMAR, 1987
30
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enquanto paredes tombavam e coberturas ruíam. A corrida de lama invadiu as ruas do vilarejo
(Figura 3.16), percorrendo cerca de 4 km (BLIGHT, 2010).
Apresenta-se na Figura 3.17 uma vista aérea da cicatriz formada no reservatório após a
ruptura da barragem de Merriespruit.
FIGURA 3.16 – Vista aérea da inundação provocada pela ruptura da barragem Merriespruit
Fonte: BLIGHT, 2010
31
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3.1.4.8 Barragem São Francisco – Brasil (2007)
Sob a responsabilidade da empresa Mineração Rio Pomba Cataguases Ltda., a Barragem São
Francisco destinava-se à contenção de rejeitos provenientes do beneficiamento da bauxita.
Não obstante a preservação de todas as vidas humanas, em função de ações diligentes para a
evacuação da população ribeirinha, estima-se que a inundação tenha atingido 92 km de
extensão, passando pelos municípios de Miraí, Muriaé e Lage do Muriaé (CBDB, 2012).
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FIGURA 3.19 – Inundações provocadas em Miraí pela ruptura da barragem São Francisco
Fonte: MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007 apud CBDB, 2012
Analisando casos de ruptura de barragens de rejeitos, Rico et al. (2007) encontraram apenas
três registros de vazão máxima. Ainda assim, Rico et al. (2007) propuseram uma formulação
empírica para a previsão da vazão de pico efluente a partir da reconstituição das vazões
proposta por outros autores. Com exceção desse trabalho, não se identificou na literatura
qualquer menção a modelos de brecha específicos para barragens de rejeitos.
33
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Essa premissa, por vezes conservadora, resulta na efluência completa de todo material
armazenado, ignorando qualquer possibilidade de interrupção do movimento no interior do
reservatório.
Nos estudos apresentados por Lucia (1981), o volume de rejeitos usualmente liberado foi
consideravelmente menor do que o volume total armazenado. Todavia, para alguns casos,
especialmente quando os rejeitos apresentaram-se extremamente fluidos, todo o reservatório
foi esgotado. Na ausência de evidências contrárias, Lucia (1981) defende a hipótese de que
100% do volume de rejeitos irá escoar pela brecha.
Ao que tudo indica, parece haver um consenso de que, para efeitos de definição de impactos,
a hipótese de aplicação de modelos de brecha desenvolvidos para barragens de água é, ainda,
a mais razoável.
Saliba (2009) identifica duas fases distintas que marcam o desenvolvimento dos estudos dos
mecanismos de ruptura de barragens. A primeira, até a década de 70, quando predomina o
conceito de ruptura abrupta dos maciços e a segunda fase, a partir da década de 80, quando os
registros de casos reais de ruptura apontam a necessidade de avaliação da resistência dos
maciços.
Na perspectiva dos maciços em solo, Ponce e Tsivoglou (1981) apud Saliba (2009) apontam o
desenvolvimento gradual de uma brecha pela ação erosiva do escoamento como mecanismo
principal a ser avaliado. Afirmativa consoante com os resultados de brecha analisados por
Singh e Scarlatos (1988), os quais apresentam alta sensibilidade diante da variação da classe
de erodibilidade do material.
34
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Ao atuar como o principal mecanismo de formação da maioria das brechas, a erosão
provocada pelo cisalhamento da água em contato com o solo evolui na medida em que se
aumentam a carga hidráulica e a velocidade do escoamento sobre a brecha. Após iniciado,
esse movimento deflagra-se continuamente até que as tensões cisalhantes se equiparem com a
resistência do solo, momento no qual se instaura o equilíbrio morfodinâmico do processo.
A difusão de distintas metodologias para previsão da brecha de ruptura nos maciços das
barragens permite que elas sejam classificadas em quatro grupos: (i) modelos fisicamente
embasados, (ii) modelos paramétricos, (iii) equações de previsão e (iv) análise comparativa.
Na vanguarda efetiva desses modelos destaca-se o NWS BREACH (FREAD, 1991) pela sua
adesão e difusão como modelo fisicamente embasado. Apesar de sua vasta utilização a
simplicidade do modelo NWS BREACH não permite a representação da variabilidade dos
materiais constituintes do maciço, trabalha com a premissa de progressão uniforme e contínua
da brecha e apresenta por vezes resultados pouco satisfatórios (MORRIS et al., 2009a).
35
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FIGURA 3.20 – Ensaios de ruptura – laboratoriais e de campo – para análise da formação
da brecha por galgamento
Fonte: Adaptado de MORRIS, 2009a; 2009b
FIGURA 3.21 – Ensaios de ruptura de campo para análise da formação da brecha por piping
Fonte: ASCE/EWRI, 2011
36
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Se por um lado os modelos fisicamente embasados buscam a fidelidade da representação
fenomenológica, por outro, eles tendem a se tornarem extremamente complexos e a
demandarem uma intensidade de dados que podem inviabilizar sua utilização.
Segundo Wahl et al. (2008), em razão das simplificações a que são constrangidos, a maioria
desses modelos têm se revelado inconsistentes quando seus resultados são contrastados com
os mecanismos de brecha observados em estudos de caso e ensaios laboratoriais.
A função primária dos modelos paramétricos é a definição dos parâmetros da brecha em seu
estado inicial e final. Aos parâmetros estimados, atribui-se uma função de progressão que irá
guiar o desenvolvimento geométrico da brecha durante o tempo 9 .
Dentre os autores que propuseram modelos paramétricos, os mais citados e comparados pela
literatura são MacDonald e Langridge-Monopolis (1984), Von Thun e Gillette (1990) e
Froehlich (1995a; 2008).
Esses e outros modelos foram submetidos a estudos de casos e comparados por Wahl (1998;
2004), Gee (2009) e Rocha et al. (2010). Em todas as análises a dispersão dos resultados
chamou atenção.
37
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Ao tentar reconstituir o hidrograma de ruptura registrado na Barragem de Orós (Ceará,
Brasil), Gee (2009) demonstrou que todos os modelos testados (inclusive o modelo NWS
BREACH) superestimaram os valores observados.
Os estudos desenvolvidos por Rocha et al. (2010) para o caso hipotético da Barragem do
Aproveitamento Múltiplo Manso (Mato Grosso, Brasil) evidenciaram a discrepância dos
resultados e apontaram a dificuldade de convergência dos modelos paramétricos quando
aplicados para barragens cujas dimensões extrapolam os dados utilizados nas regressões
matemáticas.
Rocha et al. (2010) também aplicou o modelo de Xu e Zhang (2009), que ascende entre os
modelos paramétricos por utilizar um bom banco de dados e por permitir variações nos
parâmetros de brecha para susceptibilidades à erosão diferenciadas.
38
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Comumente os mesmos autores que desenvolvem modelos paramétricos, também propõem
equações de previsão direta da vazão de pico. A grande desvantagem desse método é que a
forma do hidrograma é definida arbitrária e empiricamente, sem qualquer relação com a taxa
de progressão da brecha e com os volumes armazenados no reservatório.
Ressalta-se a equação de previsão de Rico et al. (2007), ateriormente citada, pelo fato de ter
sido ajustada a casos de ruptura de barragens de rejeitos e escorregamentos de terra.
Reiterando, contudo, a fragilidade do banco de dados utilizado e o erro atribuído à restituição
das vazões de pico a partir de curvas-chave usualmente aplicadas para escoamento de água.
Mais uma vez, Rocha et al. (2010) compararam o desempenho das equações de previsão para
o estudo de caso do APM Manso encontrando um valor médio de vazão de pico de
~122.000 m³/s com um desvio padrão de ~114.000 m³/s.
Vick (1991) estabelece duas categorias de modelos utilizados para a simulação de impactos
decorrentes de ruptura de barragens de rejeitos. Na primeira, encontram-se os modelos de
escoamento, que se submetem ao desafio de representarem o processo dinâmico de
escoamentos não-Newtonianos hiperconcentrados. Na segunda classe, identificam-se os
modelos simplificados de equilíbrio de forças, que definem os impactos de uma eventual
ruptura por meio do balanço das forças atuantes no volume de controle simulado. Vick (1991)
ressalta que ambas as categorias somente são aplicáveis para reservatórios de rejeitos privados
de quantidades significantes de água no momento que antecede à ruptura. Caso contrário,
acrescenta Vick (1991), a propagação dos impactos a jusante deve ser simulada por modelos
convencionais usualmente aplicados para barragens de água.
39
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Em novembro de 2012 o Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) promoveu o Seminário
“Gestão de Riscos e Segurança de Barragens de Rejeitos”. Na oportunidade, Brasil e Rocha
(2012) defenderam que o estado da arte em previsão de inundações provocadas por ruptura de
barragens de rejeitos também circunscreve-se à aplicação do modelo matemático de Saint-
Venant, alimentado pelo hidrograma de ruptura resultante de modelos paramétricos de
formação da brecha.
MN: MN
+ M' E 0; [conservação da massa]
MO
(3.2)
M: M: M8
+ ? MO + " MO E "R − 9 T; [conservação da quantidade de movimento]
M'
(3.3)
Nas quais:
é o tempo (s);
40
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" é a aceleração da gravidade (m/s²);
Cunge et al. (1980) destacam que para a dedução das equações de Saint-Venant, assumiram-
se as seguintes hipóteses:
• Os efeitos de turbulência e atrito são análogos àqueles considerados nas leis de resistência
ao escoamento em regime permanente;
No entanto, os resultados das retroanálises realizadas por Fread e Lewis (1998) – apresentada
na Figura 3.4 – e por Yochum et al. (2008) demostram a acurácia desse modelo para
avaliação de inundações provocadas por ondas de ruptura de barragens.
41
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Fread (1992) apresentou as equações de Saint-Venant em uma versão estendida, sob sua
forma conservativa, explicitando termos para considerações dos efeitos de
expansão/contração e sinuosidade do canal. As equações 3.4 e 3.5 são, dessa forma,
reapresentadas para a lei de conservação da massa:
MU MVW NXNY
+ − E 0
MO M'
(3.4)
Nas quais:
é a vazão (m³/s);
Por não permitirem solução analítica aplicável na maioria dos casos práticos, as equações de
Saint-Venant somente foram empregadas com o advento dos computadores, que
impulsionaram o processamento de dados, possibilitando a execução de métodos numéricos
para grandes distâncias (FREAD, 1981).
42
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Dentre as diversas técnicas de diferenças finitas utilizadas para solucionar as equações 3.4 e
3.5, a mais difundida e recomendada é o esquema implícito de quatro pontos ponderados de
Preissmann (FREAD, 1992).
Como representado na Figura 3.22, a rede de pontos é determinada pela interseção das linhas
paralelas aos eixos e . Aquelas paralelas ao eixo do tempo representam a localização das
43
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seções transversais espaçadas pelo intervalo ∆, conquanto as paralelas ao eixo das distâncias
definem as linhas de tempo intercaladas pelo intervalo ∆.
Ao contrário do que sugere a Figura 3.22 os intervalos (∆ e ∆) não precisam ser iguais,
embora sua variação seja limitada em prol da estabilidade numérica do modelo.
Cada ponto da rede retangular pode ser identificado por um índice subscrito `, que designa a
posição , e por um índice sobrescrito a, que designa o instante .
ghi ghi g g
Md df Xdfhi Hdf Hdfhi
≃
M' ∆'g
(3.6)
Na qual:
ghi ghi g g
Md k^dfhi Hdf _ Hk^dfhi Hdf _
≃ +
MO ∆Of ∆Of
(3.7)
Enfim, as demais variáveis podem ser aproximadas ao ponto b por meio do mesmo fator de
ponderação no mesmo instante para o qual a derivada espacial é avaliada:
ghi ghi g g
k^df Xdfhi _ Hk^df Xdfhi _
≃ +
(3.8)
44
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Ao substituir as funções derivadas e demais variáveis das equações 3.4 e 3.5 pelos operadores
de diferenças finitas apresentados nas equações 3.6, 3.7 e 3.8, obtém-se as equações implícitas
de diferenças finitas:
ghi ghi g g
Ufhi HUf Ufhi HUf
j − jmnX + 1 − j − 1 − jmn +
lOf lOf
ghi
VW f NXNY ghi XVW
ghi
NXNY ghi
fhi HVW
g
NXNY gf HVW g NXNY gfhi
f f f f
E0
l'g
(3.9)
+ "̅mnX r
ghi ghi
RVZ f Uf T XRVZ f Ufhi T HRVZ f Uf T HRVZ f Ufhi T R[U\ ⁄NTfhi HR[U\ ⁄NTf 8fhi H8f
+jp +
log ∆Of ∆Of
Nas quais:
̅m E f fhi
N XN
(3.11)
s9 E
wf \ Uuf |Uuf | Uu|Uu |
\ uuuu {⁄| E uuuu \
Nf̅ y
(3.12)
m zf } W
f
um E f f hi
U XU
(3.13)
uu
7uu
N̅ N̅
8 m E ~u ≃ +u (3.14)
um E f fhi
+ X+
(3.15)
Nas quais:
45
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6 é o perímetro molhado (m);
Segundo Fread (1981), a despeito de sua simplicidade, o modelo de armazenamento foi muito
utilizado como alternativa de análise de transientes diante da dificuldade de solução das
equações completas de Saint-Venant até os anos 80 (século XX).
46
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Descreve-se na sequência, segundo USACE (2000), o modelo de armazenamento – também
conhecido como modelo de Puls Modificado.
MU MN
+ M' E 0
MO
(3.17)
*s' − 4
uuu' E ∆V
∆'
(3.18)
Na qual:
uuu
4' é a defluência média entre os tempos e − 1 (m³/s);
Por meio de um esquema de diferenças prévias, a equação 3.18 pode ser rearranjada a fim de
se isolarem suas incógnitas.
V X Vi i
^∆' + _ E ^ i _+^ − _
∆'
(3.19)
47
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A função que correlaciona volumes e descargas em um trecho pode ser definida com auxílio
de perfis de linha de água extraídos de simulações de escoamentos em regime permanente, tal
como representado pela Figura 3.23.
Na Figura 3.23, as seções representadas pelas letras a , espaçadas por ∆, definem
volumes de controle discretos no espaço. O perfil da linha de água previamente estimado para
uma faixa de vazões que varia entre as ordenadas (mínima e máxima) do hidrograma afluente,
definem as curvas-chave de cada seção.
Dessa forma, para todo intervalo ∆, é possível que a equação 3.19 seja solucionada por
procedimentos de tentativa e erro.
48
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O procedimento de análise proposto por Blight et al. (1981) adota a hipótese de escoamento
permanente para a previsão da profundidade da inundação. Nesse modelo, a massa escoada é
tratada como um fluido Newtoniano.
Todavia, Vick (1991) ressalta que os ensaios de viscosidade em rejeitos somente são
exequíveis para amostras com elevado volume de água. Dessa forma, para a definição dos
valores do potencial de viscosidade a ser desenvolvido pelo solo disposto nas diversas
camadas adensadas a diferentes profundidades do reservatório seria necessário a extrapolação,
nem sempre assertiva, dos resultados ensaiados.
Já o modelo proposto por Jeyapalan et al. (1983a) deriva-se da teoria da dinâmica dos fluidos
para a determinação da distância, duração e profundidade da inundação. Nesse modelo,
considera-se que os rejeitos comportam-se como um fluido tipo Bingham-Plástico
apresentando viscosidade plástica e resistência ao cisalhamento.
As equações utilizadas por Jeyapalan et al. (1983a) são resolvidas para canais prismáticos
pelo modelo computacional TFLOW, apresentando bons resultados quando aplicados na
retroanálise das rupturas de Aberfan e da Barragem de Gesso (itens 14 e 13 da Tabela 3.3).
Jeyapalan et al. (1983a) propõem também a solução das equações de movimento para
superfícies planares; modelo matemático descrito na sequência.
Antes da descrição do modelo, convém ressaltar que Jeyapalan et al. (1983a) assumem a
hipótese de que o escoamento dos rejeitos (com exceção dos rejeitos de fosfato) ocorre sob
regimes laminares.
Para efeitos de avaliação do modelo proposto por Jeyapalan et al. (1983a) apresenta-se a
equação que define o número de Reynolds (7& ).
49
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:yz
7& E
(3.20)
Na qual:
O limite aproximado para o número de Reynolds em regimes laminares é de até 2000. Dessa
forma, o escoamento dos rejeitos no modelo de Jeyapalan et al. (1983a) apresenta, por
premissa, números de Reynolds inferiores a esse limite.
Na concepção teórica de seu modelo, Jeyapalan et al. (1983a) propõem a utilização das
equações de conservação da quantidade de movimento (equação 3.21) e conservação da
massa (equação 3.22) sob o seguinte formato (HENDERSON, 1966):
M: M: M
+ ? MO + 2 + "R9 − T E 0
M' MO
(3.21)
M: M M
+ 2 M' + 2? MO E 0
MO
(3.22)
:\
9 E \8 (3.23)
Na qual:
50
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Por sua vez, o coeficiente de Chézy pode ser expresso em função do coeficiente de atrito
para fluidos Newtonianos me regime laminar através da equação de Hagen-Poiseuille:
Ey (3.24)
Utilizando as equações 3.20 e 3.24, a equação 3.23 pode ser reescrita da seguinte forma:
:
9 E 8\
(3.25)
F
01 E 02 + $
(3.26)
Na qual:
:
#$ E 8
(3.27)
Utilizando as equações 3.26 e 3.27, o gradiente de perda de carga 9 da equação 3.25 assume
a forma:
: F
9 E + 8
8\
(3.28)
51
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M: M: M : F
+ ? MO + 2 + + − "3!
M' MO 8\ 8
(3.29)
Na qual:
M: M M
′ MO + 2 M' + 2?′ MO E 0 (3.30)
M: M: M : V
+? +2 + 7 { + \ − 3! E 0
MO MO MO
(3.31)
Nas quais:
O
E (3.32)
Y
8
ℎ E (3.33)
Y
E (3.34)
Y
:
?′ E (3.35)
Y
′ E (3.36)
Y
7 E 202 Y
(3.37)
Y
F
E (3.38)
Y
52
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Nas equações 3.31, 3.37 e 3.38, 7 e representam parâmetros adimensionais de viscosidade e
resistência, respectivamente.
Em seu trabalho, Jeyapalan et al. (1983a) apresentam a solução das equações adimensionais
3.30 e 3.31, determinando as variáveis ?′ e ′ em função de ′, t′, R e .
? , , 7, E 1 + / +
&w' V' Xy' y' &w' V'
− H\ − + H| − ^ − +
H{
y'
_ ^ − _
(3.39)
, , 7, E 2 − / −
&w' V' Xy' y' &w' V'
− + + H| − ^ − +
H{
y'
_ ^ − _
(3.40)
Nas quais:
O
/E '
(3.41)
A profundidade adimensional pode ser definida para qualquer posição ′ pela relação:
ℎ , E ′ , , 7, (3.42)
Para a definição do perfil de inundação final, é necessária a correção de valores de altura para
as posições a jusante daquela onde ocorre a velocidade máxima. O esquema da Figura 3.24
representa o perfil típico do escoamento Bingham-Plástico descrito pelos rejeitos após a
liquefação.
Conforme indicação da Figura 3.24, para posições a montante daquela onde ocorre a
velocidade máxima a altura da inundação é obtida pela equação 3.25.
ℎ E ′ % (3.43)
OHO
ℎ E ℎ( ^OHO _ (3.44)
53
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Na qual:
54
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Por meio da retroanálise de 14 casos de ruptura em barragens de rejeitos, Lucia (1981)
calculou a resistência média ao cisalhamento da massa escoada. Em se tratando de um
parâmetro estático calculado ao final do movimento, essa resistência ao cisalhamento também
incorpora os efeitos de viscosidade e inércia, ainda que implicitamente.
Apresenta-se na Figura 3.25 a geometria idealizada por Lucia (1981) para caracterização da
dispersão do volume de rejeitos liberado após a liquefação do material.
V I
D' E
(3.45)
Na qual:
55
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E 12 #D' (3.46)
Nas quais:
Na extremidade de jusante, solos com alguma coesão são capazes de sustentar um altura (% ).
V I
% E
(3.48)
Em condições de equilíbrio estático, o somatório das forças atuantes sobre o plano de ruptura
proposto por Lucia (1981) é:
Na qual:
V ¢
; E £
I
(3.50)
Na qual:
56
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¤\ ¥ ¤ V ¢
\ ¡! + \ 3! − i \ ¡! − \ £ E0
(3.51)
Na qual:
A equação 3.51 pode ser solucionada em função do parâmetro adimensional , definido
como:
E V I
(3.52)
Lucia (1981) propõe um ábaco, apresentado na Figura 3.26, com a definição dos valores de
para variados ângulos de repouso e declividades do terreno.
100,0
N0
0º 1º
2º 4º
1,0
0,1 1,0 10,0
α - Ângulo de Repouso do Material (º)
Lucia (1981) aplicou a solução para realizar a retroanálise do parâmetro : no contexto
dos registros históricos que havia recolhido. Ao dispor de informações sobre a declividade do
terreno, desnível geométrico da ruptura (%' ) e de uma aproximação do peso específico,
57
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apresentou resultados de resistência residual não drenada que variaram de 0,72 kPa a
21,6 kPa.
¦Y V I
%' E
(3.53)
Definida a declividade média a jusante, constrói-se uma relação entre %' e §, denominada por
Lucia (1981) de “Curva de Resistência”. Dessa forma, para os parâmetros do solo
previamente informados, a solução pode se posicionar, a priori, sobre todos os pontos da
Curva de Resistência.
¨ H^ W '_XW ª W
A9 E © ©
(3.54)
Na qual:
58
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Finalmente, a solução geométrica da massa envolvida na ruptura é definida pelo ponto em que
se interceptam as curvas de “Resistência” e “Volumétrica”. Apresenta-se na Figura 3.27 um
esquema típico de solução encontrada pelo método do equilíbrio de forças.
FIGURA 3.27 – Esquema típico da solução geométrica pelo método do equilíbrio de forças
Fonte: LUCIA, 1981
A solução representada pela Figura 3.27 fornece a condição estável para o par (%' , §), a partir
do qual se determinam as distâncias atingidas:
HW
.E '«
(3.56)
¬
.& E G + '
Y
(3.57)
Y
Nas quais:
59
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Como expectativa inicial, a revisão dos casos históricos demonstraram que rejeitos liquefeitos
compostos ordinariamente por partículas de tamanho areia e silte apresentaram pequenas
resistências residuais, e consequentes ângulos de repouso variando entre 1º e 4º (LUCIA,
1981).
Especulação confrontada pelos relatos de Parra e Lasmar (1987) que evidenciaram o alto grau
de fluidez e a reduzida viscosidade dos rejeitos da barragem de Fernandinho, também
compostos por areia fina siltosa.
Dada a importância dos estudos de inundação e seus respectivos mapeamentos, Cunge et al.
(1980) recomendam que os modelos de propagação sejam construídos sobre bases
topográficas com curvas a cada 1 m e que os mapas sejam apresentados em escala mínima de
1:10.000.
60
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A análise dos danos potenciais à jusante da barragem dependem também das características de
vulnerabilidade à inundações a que estão sujeitos os vales. Kelman e Spence (2004) elencam
os mecanismos de impactos da inundação sobre edificações e pessoas, dentre os quais,
destacam-se as ações hidrostáticas (resultantes da presença da água) e hidrodinâmicas
(resultantes do movimento da água) intensificadas pela carga de sólidos e sedimentos
transportados.
Segundo Cançado (2009), a maioria dos estudos para delimitação de inundações desconsidera
os mecanismos de produção de danos que não sejam a profundidade. No entanto, como
destacado por Green et al. (2000), a velocidade das inundações não pode ser negligenciada
uma vez que os danos tendem à aumentar com acréscimos de velocidade.
Na qual:
Sob o prisma da equação 3.59, Cançado (2009) realiza extensa revisão da literatura e
apresenta a proposta de diversos autores acerca da classificação de riscos e danos potenciais a
partir das variáveis profundidade e velocidade média da inundação. Nesse estudo, destaca-se a
proposição de Stephenson (2002) representada no gráfico da Figura 3.28.
61
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FIGURA 3.28 – Diagrama de classificação do risco da inundação
Fonte: Adaptado de STEPHENSON, 2002
Verifica-se pelo gráfico da Figura 3.28 que para um 7` ¡ %`J®¡J`3â/` ¡ ≥ 0,5 m²/s,
pessoas já se encontram em perigo.
Portanto, o tempo de aviso deve ser ponderado em função do tempo de chegada da frente de
onda após a instauração da ruptura. Daqui se deflagra a necessidade de se estabelecerem
níveis de risco para diversas adversidades a que se submete a barragem, dado que entre o
início da ruptura e a chegada da frente de onda, pode não haver tempo o suficiente para a
devida evacuação da população.
Apresenta-se na Tabela 3.4 o critério adotado por USBR (1999) para a estimativa do número
de vidas perdidas em função do tempo de aviso.
62
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TABELA 3.4 – Número esperado de vidas em função do tempo de aviso
Tempo de aviso Vidas perdidas Número esperado de vítimas (NEV)
0 a 15 minutos Significante NEV = 50% no número de pessoas em risco
15 a 90 minutos Potencialmente significante NEV = (número de pessoas em risco)0,6
Mais que 90 minutos Perda de vidas virtualmente eliminada NEV = 0,0002 x número de pessoas em risco
Fonte: USBR, 1999
Em consonância com as expectativas apontadas por USBR (1999) na Tabela 3.4, o tempo de
aviso, que ultrapassou os 90 minutos, foi suficiente para preservar todas as vidas a jusante da
barragem.
Um dos efeitos esperados dessa divulgação seria a utilização de fatores não apenas
econômicos quando da definição dos métodos de disposição e contenção de rejeitos de uma
unidade mineral, em que critérios como dificuldade de licenciamento e aceitação da
comunidade jusante passariam também a ter um peso determinante neste processo.
Rejeitos espessados ou em pasta, cuja mobilização esperada por ocasião de uma ruptura é
mais reduzida em função de suas propriedades reológicas, poderiam disputar em condições de
igualdade com os rejeitos de flotação, cujos custos de geração são significativamente
menores, nos estudos de viabilidade dos empreendimentos minerários.
63
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4 MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia desenvolvida nesse trabalho circunscreve-se a essas três etapas, para as quais
se aplicaram modelos de análise distintos, com o objetivo de se compararem o desempenho e
os resultados de cada um.
Para Cunge et al. (1980) os dados necessários para o desenvolvimento de estudos de ruptura
de barragens e mapeamento de áreas potencialmente inundáveis estão classificados em dados
topográficos, hidrológicos e hidráulicos.
64
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FIGURA 4.1 – Localização da barragem Tico-Tico e região analisada
A área está localizada no prolongamento oeste da Serra do Curral, denominada Serra das
Farofas, na porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero. O acesso é feito pela BR- 381, que liga
Belo Horizonte a São Paulo, e corta a Serra das Farofas no extremo oeste da jazida, a 63 km
de Belo Horizonte.
O dique inicial da Barragem Tico-Tico foi construído em 2007, com aterro compactado em
material argiloso e a crista na elevação 963,0 m.
Em 2008, foi executado o primeiro alteamento para jusante em aterro compactado (corpo em
solo residual de filito e face de montante em material argiloso). A crista de 5,0 m de largura
foi implantada na elevação 983,0 m.
Ao final do mês de novembro de 2010, foi iniciada a implantação do primeiro alteamento para
montante da barragem. O projeto, consistia na implantação de um dique com 5,0 m de altura,
com taludes com inclinação de 3H:1V e crista de 5,0 m de largura, executado em aterro
compactado (solo residual de filito oriundo das escavações obrigatórias para a implantação do
novo vertedouro de emergência).
Atualmente, a Barragem Tico-Tico encontra-se em franca operação com projetos para mais
um alteamento (por jusante) na elevação 1011,0 m, condição para a qual os estudos desse
trabalho foram desenvolvidos. A seção típica da barragem está esquematizada na Figura 4.2
66
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Na fotografia apresentada na Figura 4.3 identifica-se o talude de jusante da barragem.
Apresenta-se na Figura 4.4 a curva cota-volume do reservatório, que para a elevação da crista
apresenta um volume total acumulado de aproximadamente 3 Mm³.
Apresenta-se na Figura 4.5 uma perspectiva do vale caracterizado por intensa ocupação.
FIGURA 4.5 – Perspectiva do vale do córrego dos Machados a jusante da Barragem Tico-
Tico
68
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Observa-se na Figura 4.5 a situação da Barragem Tico-Tico, localizada ao fundo, na vertente
setentrional da Serra das Farofas. Ainda nessa figura, percebe-se que a garganta onde a
barragem foi implantada é sucedida a jusante por um vale mais aberto.
Portanto, adotaram-se os modelos paramétricos propostos por três diferentes autores para a
estimativa das dimensões da brecha e do hidrograma de ruptura respectivo.
69
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C é o coeficiente de declividade lateral (adimensional);
As etapas para a definição dos parâmetros apresentados na Figura 4.6, podem ser resumidas
da seguinte maneira:
Apresentam-se na Tabela 4.1 e Tabela 4.2 as equações de previsão da largura média ( ) e
tempo de formação (9 ) da brecha, respectivamente.
Autores Equação
E 2,5%) +
Von Thun e
Gillette (1990) (4.1)
70
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TABELA 4.2 – Equações de previsão do tempo de formação da brecha
Autores Equação
9 E
Von Thun e
4%) + 61,0
(4.4)
Gillette (1990)
A)
9 E 63,2¹
Froehlich
"%)
(4.5)
(2008)
,
%) , A)
9 E 0,304 r t ´ µ |X{ X¶
Xu e Zhang
15 %)
(4.6)
(2009)
Os parâmetros calculados por meio das equações 4.1 a 4.3 e demais atribuições, permitem a
definição das características geométricas finais da brecha.
A partir das equações 4.4 a 4.6, definem-se os tempos de formação que ditarão a taxa de
progressão da brecha de seu instante inicial até sua plenitude.
71
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O conceito por trás da curva senoidal é o de atribuir ao crescimento da brecha, intensidades
diferentes no tempo. Teoricamente, no início do processo de abertura da brecha o maciço da
barragem fornece maior resistência à erosão e o fenômeno de transporte de sedimentos é
menos intenso.
De acordo com a Figura 4.7, a lâmina de água sobre a barragem, assinalando a ocorrência de
um galgamento, se altera com mais austeridade quando a área de escoamento da brecha
consegue deplecionar o reservatório com maior velocidade.
72
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desse trabalho, essa simulação foi realizada pela aplicação da lei de conservação da massa
introduzida no modelo de armazenamento incorporado ao programa HEC-HMS (USACE,
2010a).
Conforme indicado por Collischonn e Tucci (1997) a utilização de modelos hidrológicos, que
desconsideram a declividade da linha de água, pode incorrer em valores de vazão afluente tão
maiores, quão mais rápida for a abertura da brecha e quão menor for a inércia volumétrica do
reservatório. Todavia a inexistência de uma topografia primitiva do reservatório impediu a
aplicação de modelos hidrodinâmicos com as devidas considerações da onda negativa,
justificando a utilização do modelo hidrológico.
O modo de falha galgamento, associado a uma lâmina de 0,10 m sobre o maciço foi adotado
para a previsão de brecha em todos os modelos.
• Identificação de estruturas que possam impor algum controle hidráulico (aterros de rodovia
e reservatórios, por exemplo);
FIGURA 4.8 – Traçado das seções hidráulicas sobre o modelo digital de elevação adotado
75
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FIGURA 4.9 – Variação do tempo de chegada da vazão de pico em função da variação do
coeficiente de rugosidade de Manning: estudo de caso da ruptura de Buffalo Creek
Fonte: FREAD e LEWIS, 1998
Conforme constatado pelo gráfico apresentado na Figura 4.6, quanto maior o valor da
rugosidade, maior o retardo do tempo de pico.
Baseado na retroanálise de Fread e Lewis (1998) aplicada para o estudo da ruptura de uma
barragem de rejeitos, e na impossibilidade de calibração dos parâmetros para um caso
hipotético, adotou-se um coeficiente de rugosidade de Manning global de 0,06.
76
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A condição inicial (, ℎ) foi previamente definida pela simulação do modelo em regime de
escoamento permanente. Para tanto, assumiu-se o trânsito da vazão média de longo termo no
rio Paraopeba.
No córrego dos Machados, a condição de vazão inicial atribuída como entrada no modelo não
foi respeitada. A mínima vazão necessária para a convergência numérica apresentou valores
superiores à condição de entrada. Essa dificuldade decorre da elevada amplitude entre o pico
do hidrograma de ruptura e os valores afluentes nas pequenas bacias hidrográficas nas áreas
de mineração.
Em outro critério, a definição do intervalo (Δ) limita-se a até uma unidade do número de
Courant ( ), representado pela equação:
l'
E @) l» ≤ 1 (4.7)
Na equação 4.7, a velocidade da onda (@)) não pode ser a priori fixada, dado os efeitos de
amortecimento da cheia ao longo do talvegue. Todavia, considerando uma velocidade média
de 7 m/s (posteriormente validada) e um espaçamento entre seções de 20 m, o intervalo de
tempo recomendado e utilizado nas simulações foi de 3 segundos.
77
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Recomendado por USACE (2010b) como alternativa para a convergência numérica em
trechos com mudança brusca de seção transversal ou singularidades, o modelo de
armazenamento, foi aplicado em toda a extensão simulada.
Com exceção das condições de contorno internas, inerentes à metodologia, todas as condições
de contorno são idênticas às apresentadas para o modelo de Saint-Venant.
No modelo de Puls Modificado as condições de contorno internas foram definidas por meio
da simulação em regime de escoamento permanente de uma faixa de vazões com amplitude
maior do que a faixa de vazões observadas no hidrograma de ruptura. Dessa forma, definiram-
se as curvas-chave de todas as seções do modelo, possibilitando a estimativa da variação do
volume entre elas com a passagem da cheia, à maneira de um modelo de ondas cinemáticas.
Os valores máximos e mínimos esperados, segundo Jeyapalan et al. (1983a), para a tensão de
escoamento, para a viscosidade plástica e demais parâmetros estão apresentados na Tabela
4.4.
78
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Apesar das ressalvas apresentadas anteriormente por Vick (1984) quanto à separação
categórica do comportamento dos escoamentos entre rejeitos de fosfato e demais rejeitos, para
a metodologia de Jeyapalan et al. (1983a), aplicada nesse estudo, considerou que os
parâmetros de escoamentos dos rejeitos da barragem Tico-Tico, estarão compreendidos entre
a faixa de valores apresentados na Tabela 4.4 na coluna “demais tipos de rejeitos”.
Verifica-se pela Figura 4.10 que a amostra em seu estado inicial natural suporta grandes
deformações, apresentando elevados valores de resistência não drenada, com possibilidade
clara de identificação da resistência de pico do solo.
79
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Após a ruptura da amostra, aumenta-se a velocidade de rotação da haste a fim de se avaliarem
as resistências cisalhantes da amostra amolgada (ou rompida).
Apesar de não terem sido identificados estudos que correlacionassem a resistência não
drenada da amostra rompida nos ensaios de palheta com a tensão de escoamento => , essa
correlação parece razoável, uma vez que a resistência conferida pela amostra reflete um
estado dinâmico de menor inércia.
80
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Em caráter preventivo, a inexistência de parâmetros que subsidiasse a estimativa de valores
para a viscosidade plástica, justificou a atribuição do menor valor esperado apresentado na
Tabela 4.4 (0,1 kPa.s).
Para todas as simulações adotou-se uma massa específica média de 1.650 kg/m³ para o
volume total armazenado.
O modelo matemático de Jeyapalan et al. (1983a) para superfícies planares foi executado com
o auxílio de planilhas eletrônicas. Esse mesmo modelo também se encontra disponível, com
acesso gratuito na internet (WISE-URANIUM, 2013). Os resultados da planilha e do modelo
Wise-Uranium (2013) foram confrontados e validados com boas aproximações.
O modelo de equilíbrio de forças proposto por Lucia (1981) necessita da definição dos
seguintes parâmetros: (i) resistência residual ao cisalhamento não drenado, (ii) massa
específica total dos rejeitos, (iii) volume de rejeitos total por unidade de largura média da
brecha e (iv) a declividade média do trecho.
Em todas as simulações a massa específica dos rejeitos foi fixada em 1.650kg/m³. O volume
específico de rejeitos foi estimado pela razão entre o volume total armazenado e a largura
média da brecha definida pelos modelos paramétricos.
O fator foi proposto por Seed et al. (1985) para correção dos resultados de ensaios
SPT realizados sob condições de energia diferentes conforme tipo de equipamento empregado
no ensaio.
As retroanálises realizadas por Seed et al. (1987) e complementadas por de Alba et al. (1988)
estão apresentadas na Tabela 4.6.
TABELA 4.6 – Relação entre a retroanálise da resistência residual das areias e o número
de golpes SPT para o mesmo material
Retroanálise ECS (N1)60 Resistência Residual (Sur) - kPa
Caso 1 15 35,9
Caso 2 6 2,39
Caso 3 11 28,7
Caso 4 6 12,0
Caso 5 6 6,70
Caso 6 5 2,39
Caso 7 12 35,9
Caso 8 5 6,22
Caso 9 5 4,79
Caso 10 3 1,68
Caso 11 3 2,39
Caso 12 4 5,75
Caso 13 4 3,64
Caso 14 9 12,7
Caso 15 3 5,75
Fonte: SEED et al., 1987; de ALBA et al., 1988
Os valores de apresentados na Tabela 4.6 referem-se a resultados de ensaios realizados
em areias. Portanto, para a utilização dessa relação, os valores de dos rejeitos foram
corrigidos também em função do percentual de finos da amostra para a estimativa do
parâmetro “Equivalent Clean Sand” , conforme equação:
82
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Na qual:
é o valor do número de golpes SPT para solos arenosos limpos (Golpes/30cm);
é o fator de correção de para solos com presença de finos (Golpes/30cm).
TABELA 4.7 – Correção de finos para avaliação da resistência por meio de ensaios SPT
Finos (%) Nc (Golpe/30 cm)
10 1
25 2
50 4
75 5
Fonte: SEED et al., 1987
Foram realizados no reservatório da barragem Tico-Tico dois ensaios CPTu (ANEXO 1),
cujos resultados permitiram a estimativa do parâmetro mínimo, apresentado na Tabela
4.8.
A escolha do menor percentual de finos (36,1%) apresentado pelas amostras da Tabela 4.9
permitiu o cálculo do fator pela interpolação dos dados da Tabela 4.7.
Dessa forma, o valor de foi calculado pela soma de (3,4 golpes/30 cm) e
(2,89 golpes/30 cm).
83
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TABELA 4.9 – Resultados dos ensaios de caracterização e granulometria
Coordenadas % Finos
Profundidade
Furo Amostra Material passante na
N E (m)
peneira 200
AI - 1 7.776.907,40 574.516,01 7,00 a 8,00 1 Areia Siltosa 60,4
AI - 1 7.776.907,40 574.516,01 9,00 a 10,00 2 Silte Arenoso 83,6
AI - 2 7.776.923,08 574.502,37 10,50 a 11,00 1 Silte Arenoso 78,5
AI - 3 7.776.939,11 574.488,51 10,00 a 11,00 1 Areia Siltosa 46,2
AI - 3 7.776.939,11 574.488,51 14,00 a 15,00 2 Areia Siltosa 36,1
AI - 6 7.776.987,79 574.446,52 15,45 a 16,00 1 Areia Siltosa 50,5
AI - 6 7.776.987,79 574.446,52 17,45 a 18,00 2 Areia Siltosa 56,4
AI - 4 7.776.954,18 574.475,49 9,00 a 10,00 1 Silte Arenoso 68,3
Mínimo 36,1
Finalmente, a resistência residual não drenada : foi estimada pela regressão matemática
aplicada aos pares de pontos ( , : ) propostos na Tabela 4.6 e representados
graficamente na Figura 4.11.
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Por meio da equação apresentada no gráfico da Figura 4.11 e do valor de igual a
6,29, a resistência não drenada do solo utilizada no modelo de equilíbrio de forças foi de
9,14 kPa.
Toda a geometria do vale foi atribuída ao estudo de caso por meio de um modelo digital de
elevação (MDE).
Os trabalhos de geração do MDE, bem como sua consolidação com inspeções de campo,
foram realizados pela empresa Terravision Geotecnologia e Geoinformação Ltda. e
disponibilizados pela MMX Mineração e Metálicos S/A para a realização desse trabalho.
O Modelo Digital de Elevação (MDE) utilizado para as simulações foi elaborado pelo
princípio da estereoscopia aplicado às imagens de satélite coletadas da constelação Pléiades.
A estereoscopia permite a obtenção de dados tridimensionais, por meio da observação de um
par de imagens planas (estereopares) de uma mesma cena, com ângulos de incidência
distintos.
A constelação Pléiades, composta por dois satélites idênticos operados pelo Centro Nacional
de Estudos Espaciais (CNES) da França, proporciona imagens coloridas de alta resolução
(50cm). O MDE foi gerado com resolução final de 1 m com auxílio do programa
ERDAS LPS a partir das imagens Pléiades, permitindo a representação da superfície em uma
escala de até 1:2.000.
Destaca-se a relevância da qualidade desse dado, que apresenta escala inferior à recomendada
por Cunge et al. (1980). Além disso, não se identificaram trabalhos de ruptura de barragens
no Brasil que tenham adotado base topográfica com essa resolução.
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Tem sido comum a utilização de bases topográficas regionais em escalas maiores do que
1:25.000, associadas à seções topobatimétricas levantadas ao longo do curso de água
(BRASIL, 2005; LAURIANO, 2009).
Apresenta-se na Figura 4.12 a comparação entre o MDE utilizado nesse trabalho e um MDE
gerado a partir de uma base regional gratuita (ASTER/GDEM) com escala de 1:25.000 a
1:50.000.
Conforme esperado, o MDE regional (Figura 4.12b) não dispõe de resolução o suficiente para
a representação da malha urbana, por sua vez, razoavelmente representada pelo MDE
utilizado nesse trabalho (Figura 4.12a).
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FIGURA 4.12 – Comparação entre modelos digitais de elevação de resoluções distintas em
áreas urbanas
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Os perfis de escoamento simulados em cada intervalo de tempo dão origem às superfícies de
inundação cujas elevações são subtraídas das cotas altimétricas do modelo digital de elevação.
A diferença dessa operação resulta na altura de inundação para cada célula do mapa. O
contato entre cada célula dá origem à envoltória da inundação.
Para a devida caracterização dos parâmetros de inundação (tempo, altura e velocidades) serão
gerados os seguintes mapas:
Com exceção dos mapas de risco hidrodinâmico, todos os mapas foram elaborados em escala
1:5.000.
Os modelos de propagação foram alimentados por hidrogramas de ruptura gerados sob duas
hipóteses de abertura da brecha – com exceção do modelo de Jeyapalan et al. (1983a).
TABELA 4.10 – Definição dos cenários simulados no estudo de caso da Barragem Tico-Tico
Modelos de Propagação da Inundação
Modelos de Brecha Saint-Venant Puls Modificado Lucia Jeyapalan
Xu e Zhang (2009) Cenário 1a Cenário 2a Cenário 3a -
Froehlich (2008) Cenário 1b Cenário 2b Cenário 3b -
- - - - Cenário 4a
- - - - Cenário 4b
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Na Tabela 4.10, definem-se, portanto, os cenários numerados de 1 a 4. Os índices “a e b”
remetem-se às hipóteses de brecha. Dessa forma, o Cenário 1a caracteriza-se pela simulação
do hidrograma de ruptura resultante do modelo de Xu e Zhang (2009) propagado segundo o
modelo matemático de Saint-Venant, e assim por diante.
FIGURA 4.13 – Rio Paraopeba nas proximidades da confluência com o córrego dos
Machados
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Comprovada essa hipótese, a onda de cheia decorrente da ruptura hipotética da Barragem
Tico-Tico não promoveria no rio Paraopeba maiores impactos do que aqueles já provocados
pelas cheias naturais no local, justificando, portanto, a interrupção da simulação.
Para a comprovação dessa hipótese, realizou-se uma breve análise dos registros
fluviométricos da estação Ponte Nova do Paraopeba, operada pelo CPRM, cujos dados foram
disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA) por meio do canal de divulgação
HIDROWEB (www.hidroweb.ana.gob.br).
Código 40800001
Nome Ponte Nova do Paraopeba
Bacia Rio São Francisco (4)
Sub-bacia Paraopeba (40)
Rio Rio Paraopeba
Estado Minas Gerais
Município Juatuba
Responsável ANA
Operadora CPRM
Latitude 19º 56' 56'' (SUL)
Longitude 44º 18' 19'' (OESTE)
Altitude (m) 683
Área de Drenagem (km²) 5690
A escolha da estação Ponte Nova do Paraopeba justificou-se pela proximidade dessa estação
em relação à localização da confluência do córrego dos Machados com o rio Paraopeba,
identificada pela Figura 4.14.
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FIGURA 4.14 – Bacia hidrográfica e localização da estação fluviométrica Ponte Nova do
Paraopeba
Os registros de cota média diária dessa estação foram consolidados, assim como a restituição
das vazões por meio das curvas-chave utilizadas pela própria ANA.
O aspecto geral das vazões reconstituídas para essa estação pode ser verificado pela relação
cota-vazão apresentada na Figura 4.15 para a qual os pares de pontos resultantes da curva-
chave ajustam-se com boa precisão às medições de descarga líquida.
91
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FIGURA 4.15 – Curva-chave do rio Paraopeba em Ponte Nova do Paraopeba.
Ressalta-se ainda que esses valores referem-se a medições de cotas médias diárias tomadas
em dois instantes do dia. Dessa forma, se forem aplicados fatores de correção para a obtenção
de valores instantâneos de vazão, esses valores seriam ainda maiores.
93
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4.8 Comparação dos resultados
Os resultados das metodologias foram comparados sempre que possível a partir dos
parâmetros de inundação extraídos de cada modelo em seções transversais e em mapas
temáticos. Portanto, as seções transversais escolhidas para representar os parâmetros de
inundação têm a mesma forma e localizam-se no mesmo eixo para todos os modelos.
• Velocidades máximas da inundação nas seções notáveis (informação ainda pouco utilizada,
mas importante para a estimativa do potencial de destruição por arraste);
• Vazões máximas ao longo das seções notáveis (parâmetro técnico importante para análise
de sensibilidade dos modelos);
94
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5 RESULTADOS
Von Thun e
Froehlich Xu e Zhang
Gillette
(2008) (2009)
(1990)
Os hidrogramas representados por cada metodologia foram comparados na Figura 5.4, na qual
se constata a grande variação dos picos de vazão, não obstante a equabilidade dos volumes.
A variação dos impactos dos modelos de brecha sobre o modelo de propagação de Lucia
(1981) foi implementada pela diferença entre os volumes liberados por unidade de largura da
brecha.
95
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FIGURA 5.1 –Deplecionamento do reservatório e hidrograma de ruptura pelo modelo de
Von Thun e Gillette (1990)
Os resultados dos parâmetros de inundação foram extraídos dos modelos para seções
transversais distribuídas ao longo do córrego dos Machados e do rio Paraobepa.
Apresentam-se na Figura 5.5 a posição das seções nomeadas pelas letras “A” a “O”.
FIGURA 5.5 – Localização das seções notáveis selecionadas para a comparação dos
resultados
97
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As seções apresentadas na Figura 5.5, arbitrariamente classificadas como seções notáveis,
foram selecionadas de modo a representarem as variações geométricas impostas pelo terreno
ao longo dos vales potencialmente atingidos pela inundação.
FIGURA 5.6 – Elevação máxima atingida pela inundação para diversos cenários
Ainda com relação à representação dos perfis da Figura 5.6, o intervalo entre as seções
notáveis não foi suficientemente reduzido para o detalhamento dos perfis de inundação dos
cenários 3 e 4, justificando, portanto, a reapresentação desses perfis na Figura 5.7 e Figura
5.8.
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FIGURA 5.7 – Perfil da inundação máxima para os cenários 3a e 3b
A inundação estática máxima, obtida pela diferença entre as cotas da inundação e as cotas de
fundo do talvegue, foi confrontada para os diversos cenários na Figura 5.9.
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FIGURA 5.9 – Inundação estática máxima atingida para diversos cenários
Posteriormente, a elevação das inundações máximas foi mapeada sobre o modelo digital de
elevação para a delimitação das envoltórias de inundação. Os mapas comparativos das
envoltórias de inundação dos cenários 1 e 2 estão apresentados no APÊNDICE A-2.
Nessa etapa, não foi possível a construção das envoltórias de inundação para os cenários 3 e
4, cujas elevações superaram as elevações dos divisores da bacia em diversos pontos,
conforme constatado pelos desenhos das seções apresentados no APÊNDICE A-1.
A inundação estática máxima foi mapeada e classificada para diferentes elevações para a
inundação simulada no cenário 1b (APÊNDICE A-3). A escolha do cenário 1b justificou-se
pelo fato desse cenário ter apresentado o menor tempo de chegada da frente de onda em todas
as seções, parâmetro fundamental para o planejamento das ações de evacuação.
100
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5.4 Propagação do hidrograma de ruptura
102
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FIGURA 5.13 – Hidrogramas propagados nas seções notáveis - Cenário 2b
A comparação do abatimento do pico dos hidrogramas foi realizada por meio do gráfico
apresentado na Figura 5.14.
FIGURA 5.14 – Comparação das vazões de pico após a propagação dos hidrogramas
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Constata-se que o maior pico de vazão resultante da propagação do hidrograma de ruptura é
semelhante ao pico da cheia de 2012 registrada na estação Ponte Nova do Paraopeba. No
entanto, quando os volumes dos hidrogramas são confrontados (Figura 6.15), o potencial de
inundação do hidrograma proveniente da ruptura da barragem é muito menor do que o
potencial de inundação da cheia natural do rio Paraopeba.
O tempo de chegada da frente de onda em cada seção notável está apresentado na Figura 5.16.
Observa-se na Figura 5.16 que o hidrograma de ruptura não apresenta tanto impacto na
diferença do tempo de chegada da frente de onda. Todavia, verifica-se uma tendência de
aumento do erro no tempo de chegada da onda para diferentes modelos de propagação.
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FIGURA 5.16 – Comparação entre os tempos de chegada da frente de onda em cada seção
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5.7 Curva-chave restituída
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FIGURA 5.20 – Comparação entre as curvas-chave restituídas para a Seção “K”
A partir da Figura 5.18, Figura 5.19 e Figura 5.20 fica evidente a superioridade do modelo de
Saint-Venant (cenário 1) no quesito representação das diferentes velocidades da onda durante
a ascensão e recessão do hidrograma. Essa constatação pode ser observada pelo laço da curva-
chave restituída a partir dos resultados de cota e vazão ao longo do tempo.
107
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6 DISCUSSÃO
Ficou evidenciado ainda, que os parâmetros geométricos da brecha exercem menor influência
na vazão de pico do que o tempo de formação. Prova disso, é que o modelo de Froehlich
(2008) apresentou uma largura média cerca de quatro vezes menor do que a largura média do
modelo de Von Thun e Gillette (1990) e uma vazão de pico duas vezes maior.
Esse resultado está coerente com a premissa de cálculo do hidrograma efluente que considera
equações de vertedouro na estimativa das descargas para além da brecha. Segundo essa
premissa, para tempos de formação menores, os acréscimos de carga hidráulica (variável de
maior peso relativo na equação de vertedouros) são mais intensos, facultando um
deplecionamento mais acelerado do reservatório.
O risco em se utilizar equações de vertedouro de soleira livre para o cálculo das vazões
efluentes sobre a brecha está na desconsideração da possibilidade de afogamento da saída a
jusante, principalmente para barragens de altura reduzida e, ou, implantadas em talvegues de
baixa declividade.
Interessante observar, que para a escala utilizada no mapeamento, as alterações dos modelos
de brecha não impactaram em grandes diferenças na extensão da mancha de inundação (vide
APÊNDICE A-2), mesmo nos primeiros quilômetros da simulação.
Assim como nos estudos de Lauriano (2009) e Fread e Lewis (1998), os hidrogramas de
ruptura de diferentes picos tendem a convergir para um mesmo ponto, demonstrando que as
elevadas velocidades e picos de vazão estão sujeitos a uma perda de energia cinética mais
intensa. Esse resultado parece indicar uma relação entre o volume liberado e uma distância a
partir da qual todas as vazões de pico se equiparam, embora a inundação ainda se pronuncie
ao longo do vale.
108
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Para o modelo de equilíbrio de forças, o impacto da variação do modelo de brecha,
introduzido pela razão entre volume sobre largura, não apresentou grandes variações na
distância atingida à jusante, apesar da diferença de até 5 m nas elevações da inundação.
A chegada da frente de onda é sempre mais rápida nos cenários 1a e 1b (Saint-Venant). Esse
resultado reflete o desprezo das componentes inerciais da equação da quantidade de
movimento resultantes da aplicação do método de Puls Modificado. Característica refletida
109
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também na magnitude das velocidades e no aspecto das curvas-chave apresentadas para as
seções “E”, “H” e “K”.
Verificou-se, em tempo, que não apenas o modelo de Saint-Venant, mas como também o
modelo de Puls-Modificado apresentaram distorções decorrentes de instabilidade numérica,
ainda que para esse último elas não tenham dificultado a convergência da simulação.
Com relação à aplicabilidade dos resultados, os modelos de Lucia (1981) e Jeyapalan et al.
(1983a) oferecem obstáculos à produção de mapas temáticos de inundação ao apresentarem
como resultados apenas o perfil da inundação. Por desconsiderarem a superfície do terreno, os
volumes resultantes do estado de equilíbrio são frequentemente maiores do que os volumes
liberados pelo reservatório. Além disso, o modelo de Lucia (1981) não fornece informações
sobre o avanço temporal da inundação, nem sobre as velocidades dos rejeitos liquefeitos.
Ainda sobre os perfis de inundação, nos cenários 3 e 4 as elevações das inundações nos
primeiros quilômetros a jusante da barragem precisam ser melhor interpretadas a fim de que
não se cometa o equívoco de validá-las sem antes avaliar as condições de contorno dadas pela
variação geométrica da topografia.
Outra observação que demonstra a fragilidade dos modelos de Lucia (1981) e Jeyapalan et al.
(1983a) é a faixa de valores de resistência ao escoamento não drenada, que além de apresentar
amplitude variada, não apresenta limites que reflitam a realidade de muitas inundações
constatadas nos históricos de ruptura.
110
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Os recursos tecnológicos e os sistemas teóricos não permitem, por enquanto, a previsão
assertiva do comportamento dos rejeitos pós-liquefação. Fato que tem motivado a aplicação
de ferramentas matemáticas e estatísticas nos estudos de ruptura de barragens de rejeitos, haja
vista os trabalhos de Vick (1991) e Rico et al. (2007).
No entanto, até para as análises estatísticas, as previsões da inundação são ainda muito
variáveis. Se a distância de propagação da inundação da Barragem Tico-Tico fosse calculada
pela metodologia de Rico et al. (2007), os impactos atingiriam uma faixa de 33 km a 274 km.
As mesmas séries (distância atingida x volume liberado) foram separadas por tipo de rejeito
(na Figura 6.1) e por modo de falha (na Figura 6.2).
111
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FIGURA 6.1 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de
rupturas diversas, classificada por tipo de rejeitos
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FIGURA 6.2 – Relação entre volumes liberados e distâncias atingidas por ocasiões de
rupturas diversas, classificada por modos de falha
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7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Além disso, as semelhanças entre os rejeitos da Barragem Tico-Tico (silte arenoso a areia
siltosa) e os rejeitos da Barragem de Fernandinho sugere que os escoamentos de uma eventual
ruptura da barragem possam também atingir elevada fluidez, percorrendo consideráveis
distâncias.
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A simples correlação entre volumes escoados e distâncias atingidas (Figura 6.1) evidenciou a
impossibilidade de classificação do regime de escoamento para cada tipo de rejeito, conforme
indicado por Vick (1984).
• Análise estatística dos casos de ruptura de barragens de rejeitos com vistas à identificação
de fragilidades, ou características frequentemente presentes no histórico de rupturas;
115
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APÊNDICES
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APÊNDICE A-1: ELEVAÇÃO MÁXIMA DA INUNDAÇÃO NAS SEÇÕES
NOTÁVEIS
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APÊNDICE A-2: COMPARAÇÃO DAS ENVOLTÓRIAS DE INUNDAÇÃO
MÁXIMA
129
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APÊNDICE A-3: MAPEAMENTO DA INUNDAÇÃO ESTÁTICA MÁXIMA DO
CENÁRIO 1B
139
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APÊNDICE A-4: EVOLUÇÃO TEMPORAL DA MANCHA DE INUNDAÇÃO
DO CENÁRIO 1B
149
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APÊNDICE A-5: MAPEAMENTO DO RISCO HIDRODINÂMICO DOS
CENÁRIOS 1B E 2B
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APÊNDICE A-6: MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO
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ANEXO 1: RESULTADOS DOS ENSAIOS GEOTÉCNICOS DOS
REJEITOS DA BARRAGEM TICO-TICO (OU B1-AUXILIAR)
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