Artigo INIC Leticia - Ultimo
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Resumo
Planos populares e comunitários ganham destaque como experiências extensionistas que ampliam o
debate sobre a moradia digna alicerçados na troca de experiências e vivências entre a comunidade e
universidade. A produção de censos populares aparece com alternativas metodológicas que
promovem a sistematização de conhecimento sobre e com as comunidades para a elaboração de
propostas que atendam às vulnerabilidades identificando as demandas e as potencialidades. Este
artigo apresenta uma proposta de censo popular comunitário para o bairro do Rio Comprido
localizado na cidade de São José dos Campos- S.P que foi elaborada como atividade extensionista
vinculada ao Projeto de extensão “Cartografias sociais e metodologias participativas: Por uma análise
técnica e comunitária” da Universidade do Vale do Paraíba- S.P. A proposta tem como objetivo
coletar, mapear e debater informações da comunidade que ali habita, dispostas em cartografias
sociais, de forma que esse levantamento seja realizado com a participação dos próprios moradores,
além de profissionais e estudantes de diferentes áreas do conhecimento.
Introdução
A presente proposta de Censo Popular é resultado das atividades realizadas no âmbito da disciplina
extensionista de Planejamento Urbano e Regional II que desenvolve suas ações vinculadas ao
Projeto de extensão “Cartografias sociais e metodologias participativas: Por uma análise técnica e
comunitária” tem atuado junto à comunidade do Rio Comprido - São José dos Campos- SP desde
2018, projeto vinculado às pesquisas do NEPACS- Núcleo de Pesquisa-ação e cartografias sociais da
UNIVAP1 Este projeto de extensão atua na elaboração de planos populares de urbanização no campo
da arquitetura e do urbanismo e das ciências sociais. Esta prática tem ganhado força e ampliado o
debate no campo do planejamento urbano e regional ao apresentar outras formas de organização e
participação na gestão dos territórios (VAINER, et al., 2013; TAVARES, FANTIM; 2019; CLARO et al.,
2018; MACIEL et al.,2021).Estas experiências têm sido interpretadas pelo viés do planejamento
conflitual, insurgente ou contra-hegemônico (HOLSTON, 1996, 2016 ; VAINER, 2013; RANDOLF,
2022; MIRAFTAB, 2009). Ao eleger a proposta de um censo popular este artigo evidencia estratégias
metodológicas que possibilitam o entendimento dos reais conflitos urbanos e das vulnerabilidades
geradas e que promovem a identificação e sistematização das demandas e das potencialidades.
O artigo apoia-se na experiência do Censo Popular Maré; um projeto que surgiu a partir de uma
iniciativa da organização da sociedade civil Redes da Maré, que tem como objetivo a mobilização dos
moradores das favelas abordadas e do Poder Público para construção de alternativas que garantam
os direitos básicos da população em questão. O censo é uma ferramenta de produção de
1. Projeto de extensão interdisciplinar e que conta com alunos de vários cursos de graduação e pós-graduação
da Univap fomentando desde 2018 pelo NEPACS Núcleo de Pesquisa-ação e Cartografias Sociais vinculado ao
Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da Univap e coordenado pelos
pesquisadores Profa. Dra. Fabiana Felix do Amaral e Silva e Profa. Dra. Lidiane Maciel e Prof. Dr. Paulo Romano
Reschilian.
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conhecimento sobre as comunidades por meio de pesquisas no território e orienta a formulação de
planos de desenvolvimento baseados nas favelas.
De acordo com os registros da instituição Redes da Maré, no último Censo Populacional (2019),
aproximadamente 129 mil mareenses foram entrevistados por uma equipe de 96 pessoas. A
participação das comunidades foi de extrema importância, contando com mais de 120 moradores que
participaram do trabalho e que foram capacitados por meio de oficinas. Outro aspecto essencial para
o desenvolvimento do projeto foi a equipe multidisciplinar, que conta com geógrafos, economistas,
assistência social, técnicos em geoprocessamento e cartografia. Os resultados geraram
representações gráficas e cartográficas com informações sobre etnia, faixa etária, gênero,
saneamento básico, educação, entre muitas outras questões secundárias. 2
O bairro do Rio Comprido, assim como os bairros atendidos pelos projetos da Rede da Maré, é um
território periférico que sofre com as vulnerabilidades de acesso ao direito à cidade. O bairro é
derivado de uma ocupação espontânea a partir de 1980 e, ainda que classificado como Zona
Especial de Interesse Social (ZEIS), enfrenta o problema da irregularidade e falta de acesso à cidade
por parte de seus moradores, seja tratando-se do próprio território, seja da sua relação com as
demais zonas da cidade de São José dos Campos.
A proposta do Censo Popular do Rio Comprido tem como objetivo atingir resultados semelhantes aos
observados na experiência do Censo da Maré, ou seja, atendendo às necessidades existentes pela
falta de dados isolados do território, dos habitantes e de suas relações com o tecido urbano de São
José dos Campos. Outro fator importante para esta proposta é compreender a extensão como
campo da produção do conhecimento que considera uma participação comunitária efetiva e
permanente, ou seja, é o como e com quem pensar a transformação social. Estima-se que esta
proposta quando executada venha a ser o ponto de partida para o surgimento de outros projetos e
pesquisas, que podem ter acesso a uma fonte de informações confiáveis e elaboradas de maneira
participativa, facilitando, assim, o processo de análise e diagnóstico do bairro.
Metodologia
A elaboração desse processo de cunho epistemológico teve como base de dados os resultados e
análises produzidos nas diversas oficinas de cartografias sociais com a comunidade do Rio Comprido
no âmbito do projeto de extensão “Cartografias sociais e metodologias participativas: Por uma análise
técnica e comunitária.3. Este trabalho apresenta o censo popular e comunitário como uma alternativa
de reconhecimento das demandas e das potencialidades do bairro e, portanto, capaz de repensar a
participação popular na gestão dos territórios.
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extrema importância o envolvimento de profissionais da Sociologia, do Direito, de Engenharias, como
a Ambiental e Sanitária, do Serviço Social, da História, da Geografia e da Psicologia.
A intenção da multidisciplinaridade nesse contexto é gerar resultados de maior alcance e apoiados
não só na arte, mas também nas ciências sociais. Como forma de complementar a amplitude da
ação, a metodologia participativa vem com a intenção de dar voz aos que mais podem nos transmitir
o conhecimento sobre o Rio Comprido: seus próprios habitantes com histórias, relatos e desejo de
mais oportunidades.
Para entendimento e exposição dos resultados, a cartografia social é abordada, com a elaboração de
mapas contendo os dados registrados nas entrevistas realizadas. A cartografia social é utilizada como
uma forma de exposição dos conflitos evidenciados pelos moradores do bairro. Essa forma de
elaboração de mapas é um instrumento de luta que contraria os jogos políticos evidenciados nos
mapas utilizados em propostas de novos empreendimentos. (ACSELRAD, 2013)
Cada área representada no mapa da figura 1 terá a atuação de um grupo montado durante a 1ª
etapa. A divisão das áreas foi estudada pelo levantamento prévio no Google Earth, onde foi feita uma
estimativa do quantitativo de residências por quadra do bairro, a separação dos grupos para atender
a essa divisão levou em consideração não só a separação quantitativa das residências, como
também o acesso a essas. Ou seja, casas de mais fácil acesso foram colocadas na divisão de maior
proporção, enquanto as áreas de menos pavimentação e presença de declives foram contabilizadas
em menor proporção, para que o tempo de pesquisa de campo dos grupos não tenha uma
disparidade muito grande por conta de dificuldades.
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Etapas Objetivo Metodologia Duração
Oferecer treinamento
Reuniões entre estudantes do curso
referente à abordagem e
de Rádio e TV da Universidade do 1 semana -
realização de anotações,
Vale do Paraíba para capacitação; apenas sábado
1ª: Oficinas tanto para a comunidade
moradores da comunidade; corpo e domingo,
de quanto para os participantes
docente e discente dos cursos de cada reunião
capacitação da universidade; montar
Arquitetura e Urbanismo, com duração
equipes para atenderem à
Engenharia Ambiental e Sanitária, de 2 a 3 horas.
demanda de casas conforme
Serviço Social, História e Geografia.
a separação feita na figura 1
Unir as informações
A participação dos cursos de
presentes no Google Earth
Geografia, Arquitetura e Urbanismo
ou Google Maps com o
e Engenharia Ambiental e Sanitária 2 a 3 semanas
5ª etapa: estudo territorial do bairro
e pelos moradores do bairro; por - apenas
Mapeamento para a elaboração de uma
meio de análise e demarcação do sábado e
do bairro cartografia com informações
território utilizando os programas domingo.
sobre estabelecimentos,
Google Earth e/ou Maps, será feito
residências, pavimentação e
o redesenho do bairro.
calçadas.
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Figura 2: Divisão do território – 2ª etapa Figura 3: Divisão do território – 3ª etapa
Fonte: criação das autoras (Imagem: Google Earth) Fonte: criação das autoras (Imagem: Google Earth)
Os resultados esperados do mapeamento do bairro são a atualização do desenho das ruas e vielas
existentes no território, o registro correto da numeração das casas e dos equipamentos públicos,
comerciais, culturais e de lazer, servindo de auxílio para serviços de transporte e entregas e de
orientação para moradores e visitantes.
A participação de entidades públicas e privadas foi outro instrumento somado na construção da
proposta, além da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), entra no escopo o apoio da
Assistência da Técnica de Interesse Social (ATHIS) ao disseminar informações e disponibilizar dados
já existentes e ferramentas de trabalho e capacitação.
As entidades envolvidas na última parte do projeto são o SESC e a Fundação Cultural Cassiano
Ricardo, com o objetivo de promover as manifestações artísticas e ampliar a divulgação da
exposição, para que não só o público do Rio Comprido ou da universidade tenham conhecimento do
trabalho realizado, mas sim a população de São José dos Campos como um todo.
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Conclusão
Agradecimentos
Ao Projeto de extensão “Cartografias sociais e metodologias participativas: Por uma análise técnica e
comunitária” por todo processo de aprendizagem e troca e à comunidade do Rio Comprido.
Referências
ACSELRAD, H. Cartografia social, terra e território. Rio de Janeiro, UFRJ, Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional. 2013.
CLARO, M.; CALVO, A. P.; SAITO, A.; MENDES, G. J. G. Formas de Ação e Participação: Método
para Elaboração de Plano de Bairro em Assentamento Precário na Cidade de São Paulo , III
Seminário Nacional Sobre Urbanização de Favelas - UrbFavelas Salvador - BA - Brasil, Salvador,
2018.
HOLSTON, J. Espaços de Cidadania Insurgente. Revista Do Iphan, N. 24, 1996
HOLSTON, J. Rebeliões Metropolitanas E Planejamento Insurgente No Século XXI. Revista
Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 18(2), 191-204. Https://Doi.Org/10.22296/2317-
1529.2016v18n2p191. , 2016
MACIEL, L. M.; SILVA, F.F. A.; RESCHILIAN, P.R.; ROSADO, A. M. da C. P or uma cartografia
social dos espaços de vida irregulares: um estudo de caso da reconstrução comunitária do
território em São José dos Campos (SP). Caminho Aberto: revista de extensão do IFSC, [S. l.], n.
14, p. 25–40, 2021. Disponível em:
https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto/article/view/3023. Acesso em: 28 ago. 2022.
MIRAFTAB, F. Insurgent Planning: Situating Radical Planning in the Global South. Planning
Theory, Vol.8, p. 32-50; SAGE Publications, 2009.
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TAVARES, J. C.; FANTIM, M. (org). Plano de Urbanização e Regularização Fundiária do
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VAINER, C.; BIENENSTEIN, R.; TANAKA, G. M. M.; OLIVEIRA, F. L.; LOBINO, C. O Plano Popular
da Vila Autódromo, Uma Experiência de Planejamento Conflitual, XV Encontro da Associação
Nacional de Programas de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional,
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional - ANPUR -
UFPE - 2013.
Censo Maré. Redes da Maré, 2010. Disponível em: https://www.redesdamare.org.br/br/info/12/censo-
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