Guia de Urbanismo Social - 2023
Guia de Urbanismo Social - 2023
Guia de Urbanismo Social - 2023
SOCIAL
Correalização:
Núcleo de Urbanismo Social do Laboratório Arq.Futuro de
Cidades do Insper e Diagonal
Organização:
Carlos Leite, coordenador do Núcleo de Urbanismo Social
Vários colaboradores.
ISBN 978-65-86205-34-3
V
A Diagonal é uma consultoria pioneira em Gestão Social, que apoia
empresas, organizações e governos a elevarem seu padrão ESG
(governança ambiental, social e corporativa) e a gerarem impacto
socioambiental positivo para a sociedade.
VI
_APRESENTAÇÕES
UMA CONTRIBUIÇÃO EM FAVOR DE
CIDADES DESENVOLVIDAS, JUSTAS,
INCLUSIVAS E SUSTENTÁVEIS
Sendo um país que tem cerca de 85% dos seus habitantes morando
em cidades, e quase um quarto deles em situação de pobreza, o Brasil
precisa cada vez mais do urbanismo social (e, de fato, já o adotou,
com êxito, em algumas localidades). Daí a pertinência e a importância
de uma obra como esta que o Laboratório Arq.Futuro de Cidades do
Insper traz agora ao público, em uma correalização com a empresa
Diagonal. Trata-se do primeiro livro do gênero nessa área lançado no
país. Sua ambição é falar de perto a todos os agentes envolvidos nas
questões das populações periféricas brasileiras, fornecendo-lhes
conhecimento teórico e indicações de práticas bem-sucedidas para
ajudá-los a superar as dificuldades que assolam tais territórios.
VII
O presente Guia, que inaugura a nossa “Coleção Urbana”, é outra
iniciativa pioneira do Laboratório, que, em 2020, criou o primeiro
curso de pós-graduação lato sensu em urbanismo social do Brasil,
já em sua terceira turma.
Tomas Alvim
Coordenador-Geral
Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper
VIII
PELA TRANSFORMAÇÃO PREMENTE DA REALIDADE
SOCIOAMBIENTAL DE UMA IMENSA PARCELA DA
POPULAÇÃO DO PAÍS
IX
A perspectiva do urbanismo social vem lançar luz sobre a im-
portância do acolhimento das diversas necessidades sociais dos
bairros. Realça a relevância do planejamento territorial a partir de
uma compreensão mais abrangente da questão social, buscando
articular, no tempo, intervenções estruturantes com outras de ca-
ráter pontual, mas igualmente importantes para a melhoria da vida
cotidiana desses bairros. Sua ênfase na implementação de planos
locais integrados, a partir de processos de participação delibera-
tivos, também induz à necessidade de articulação desses planos
locais com uma agenda de planejamento global do município para
que não surjam descolados do orçamento geral da cidade. Nesse
sentido, a experiência da Diagonal tem mostrado a importância de
uma liderança capaz de articular políticas sociais, possibilitando
resultados satisfatórios no atendimento holístico das demandas
das comunidades em vulnerabilidade.
Kátia Mello
Copresidente da Diagonal
X
_PREFÁCIOS
O TERRITÓRIO IMPORTA: SUPERANDO AS
DESIGUALDADES COM INTERSETORIALIDADE,
CONTINUIDADE E PROTAGONISMO LOCAL
XII
URBANISMO SOCIAL: O GRANDE DESAFIO DO
FUTURO DE NOSSAS CIDADES
XIII
Na América Latina têm sido realizados programas específicos no
âmbito do urbanismo social. As experiências de Projetos Urbanos
Integrais (PUIs), como as desenvolvidas no Rio de Janeiro, caso do
programa Favela-Bairro; modelos como o de Medellín; as iniciativas
em Iztapalapa, no México, e as ações que vêm sendo realizadas no
Recife (os Centros Comunitários da Paz — Compaz) e estão come-
çando na capital paulista são, entre outras, as apostas para assumir
o desafio de transformar os territórios de maior vulnerabilidade. No
entanto, de acordo com minha experiência em vários países, elas
muitas vezes não constituem uma política pública integral; não
representam uma decisão dos governantes das cidades.
XIV
_SUMÁRIO
_APRESENTAÇÕES 7
_PREFÁCIOS 11
1.4_ O contexto
AUTORES
17
Guia de Urbanismo Social
18
Capítulo 01 : Sumário Executivo
▸ Fundação João
Pinheiro, 2021. Déficit
Existem diversos termos para favelas no Brasil: comunidades, territó- habitacional no Brasil.
rios de vulnerabilidade social, territórios periféricos, bairros informais,
assentamentos precários (usada pelos governos, assim como favelas),
"áreas degradadas, ocupadas desordenadamente e sem infraestrutura",
aglomerados subnormais (IBGE) e outros. Optou-se no Guia pela utilização
do termo favela por ser o mais comumente utilizado e provavelmente o de
maior aceitação pelas comunidades desses territórios. Obviamente não
se deve impor ao termo nenhum tipo de significado pejorativo ou precon-
ceituoso, muito pelo contrário: trata-se, sobretudo, do reconhecimento do
termo junto à sua população, com seus desafios e potencialidades, como
se mostra ao longo do Guia.
20
Capítulo 01 : Sumário Executivo
1.3_
COMO ORGANIZAMOS AS
DIMENSÕES DO URBANISMO
SOCIAL E O GUIA?
INSTITUCIONAL E GOVERNANÇA
21
Guia de Urbanismo Social
TERRITORIAL
SOCIOECONÔMICA E CULTURAL
SUSTENTABILIDADE URBANA
▸ O Capítulo 6,
principalmente, e
As dimensões ambiental e de sustentabilidade abordam a melhoria também o 5 abarcam
do padrão de vida em todos os espaços da cidade por meio de uma aspectos dessa
dimensão.
22
Capítulo 01 : Sumário Executivo
FINANCEIRA
(FORMAS DE FINANCIAMENTO)
▸ O Capítulo 10 aborda
Refere-se ao potencial ou formato de investimentos público e/ou de
aspectos dessa agências multilaterais de financiamento (Banco Mundial, BID, CAF
dimensão.
etc.), assim como àqueles derivados da política fundiária, utilizados
para viabilizar os programas de urbanismo social. A depender das
estruturas organizacionais, normas legais e interesses políticos, as
formas de viabilização do projeto podem ser distintas e, por vezes,
inovadoras para o investimento público.
23
Guia de Urbanismo Social
24
Capítulo 01 : Sumário Executivo
1.4_ O CONTEXTO
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Guia de Urbanismo Social
26
Capítulo 01 : Sumário Executivo
27
Guia de Urbanismo Social
CAPÍTULO AUTORES
28
Capítulo 01 : Sumário Executivo
CAPÍTULOS AUTORES
Tópicos em formas de
10 financiamento
Andressa Capriglione e Deise Coelho
29
Guia de Urbanismo Social
AGRADECIMENTOS
30
02_
URBANISMO SOCIAL: CONCEITOS
2.2_Medellín: contexto e
singularidade (o que é replicável e o
que é específico)
AUTORES
33
Guia de Urbanismo Social
!
pirações no urbanismo social e abordagens específicas, pode-se
citar os programas Rede CUCA (Centros Urbanos de Cultura, Arte,
PARA SABER MAIS, VER: Ciência e Esporte) em Fortaleza, Vida Nova nas Grotas, em Maceió,
▸ Artigo Medellín: e Mais Vida nos Morros, em Recife.
inspiração para resgatar
as cidades brasileiras.
Outras Palavras, 2022. Aqui já se anota, então, um elemento particular dos programas de
▸ Os diversos webinários urbanização social que o diferencia dos programas de urbanização
e publicações na página de favelas — o foco na atuação em territórios de maior violência,
do Laboratório Arq.
com robustas ações modeladas para sua redução — e que teve
Futuro de Cidades do
Insper. no Brasil uma experiência pioneira, mesmo que infelizmente de
curta duração na sua concepção original abrangente, o programa
UPP Social (Unidades de Polícia Pacificadora), criado no Rio de
Janeiro em 2010 e que chegou a implantar alguns equipamentos-
âncora inspirados nas Bibliotecas-parque de Medellín, as Praças
do Conhecimento, pontos de referência dos serviços públicos nos
bairros pacificados.
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Guia de Urbanismo Social
36
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
37
Guia de Urbanismo Social
38
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
▸ Atualmente Alejandro Ainda: não é a obra em si que transforma o território, mas o tecido
Echeverri é Diretor social de confiança institucional e comunitária consolidado no
da Urbam EAFIT em
Medellín, professor exercício cidadão e participativo ao longo do processo de trans-
convidado em diversas formação física e social e após sua conclusão.
universidades e
membro do Conselho do
Laboratório Arq.Futuro
de Cidades do Insper.
39
Guia de Urbanismo Social
▸ Participação social deliberativa da comunidade local nas diversas etapas do projeto (desenho,
planejamento, implementação e pós-implementação) e controle social visando a uma gestão
democrática da cidade na escala local;
▸ Planos integrados de ação local: ações de curto, médio e longo prazo e processo incremental
contínuo: “Nada se faz, em qualquer setor ou secretaria da administração pública, sem que não
esteja no PUI”, como se dizia — e fazia — em Medellín;
▸ Equipamentos-âncora públicos com alta qualidade dos projetos arquitetônicos e das obras e com
formas de autogestão ou cogestão junto à comunidade e à sociedade civil organizada;
▸ Atuação prioritária em territórios com indicadores de grande violência por meio da adoção de
abordagens sociais e urbanas integradas às de cultura e educação como estratégia de ação (em
contraposição à postura policial repressora);
▸ Monitoramento e avaliação das intervenções no território por meio de evidências: ações que
efetivamente não impactem em melhoria na qualidade de vida nos territórios devem ser revistas.
40
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
!
comunidades e a gestão pública, que deverá perdurar ao longo de
todo o projeto, sendo essencial nas diferentes etapas.
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Adiante a seção a
CONVERGÊNCIA E VISÃO
respeito dos PUIs e o
Capítulo 3, sobre Planos COMPARTILHADA DO PROJETO
de Ação Local.
41
Guia de Urbanismo Social
APROXIMAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
DO TERRITÓRIO E PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO ABERTO E INCLUSIVO
COM A POPULAÇÃO
42
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
Por sua vez, a população local deve utilizar esse espaço de diálogo
para apresentar suas demandas, percepções e contrapontos sobre as
propostas dos técnicos e do poder público. Também é uma oportuni-
dade para construir conhecimento a respeito de temas que afetam a
vida da comunidade, como a interdependência entre os problemas, e
sobre os processos políticos existentes na produção e implementação
de projetos. Usar esse espaço participativo, no qual a contribuição de
▸ Capítulo 5, sobre a
GOVERNANÇA COMPARTILHADA NOS
Dimensão Territorial.
TERRITÓRIOS DE INTERVENÇÃO
43
Guia de Urbanismo Social
▸ Capítulo 4, sobre
LIDERANÇA E COORDENAÇÃO
Governança.
POLÍTICA COMO CHAVE PARA
INTEGRAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS
em relação ao poder público podem fazer a diferença no encami- ▸ Item 2.2, sobre o caso
nhamento das várias etapas de tramitação que a política pública de Medellín.
44
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
ASPECTOS FINANCEIROS E
JURÍDICOS PARA MANUTENÇÃO E
CONTINUIDADE DOS PROJETOS
▸ Capítulo 8, a respeito
dos Tópicos em Outros dois grandes dilemas enfrentados em quaisquer políticas
Regulação Urbana. públicas são (i) a manutenção e (ii) a continuidade de projetos
implementados durante uma gestão pelos seus sucessores. O
ciclo eleitoral é, claro, parte do processo democrático, assim como a
alternância no poder. Prefeitos vêm e vão; entretanto, como garantir
a continuidade dos projetos ao longo dos anos e das gestões? Pro-
jetos socialmente considerados positivos e cujo valor é percebido e
compartilhado com a população têm mais chances de sobrevida. A
comunidade e os processos (e espaços) de participação e controle
social são dois elementos cruciais. Muitas vezes a realização de
45
Guia de Urbanismo Social
46
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
47
Guia de Urbanismo Social
ENTREGAS RÁPIDAS DE
AÇÕES CONCRETAS
48
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
49
Guia de Urbanismo Social
2.2_
MEDELLÍN: CONTEXTO E
SINGULARIDADE (O QUE É
REPLICÁVEL E O QUE É ESPECÍFICO)
EMPRESA DE DESENVOLVIMENTO
URBANO (EDU)
6 Mariana Wilderom em LEITE, Carlos et al. Social Urbanism in Latin America: Cases
and Instruments of Planning, Land Policy and Financing the City Transformation with
Social Inclusion. Cham: Springer Nature, 2020.
51
Guia de Urbanismo Social
52
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
No âmbito físico
▸ Intervenções concretas em infraestrutura, equipamentos de uso
coletivo, saneamento e habitação, com priorização das zonas mais
conflituosas das comunas, criando ambientes seguros contra os
diversos riscos;
No âmbito social
▸ Reconhecimento das lideranças e agentes locais dos territórios,
estabelecendo atores-chave para a comunicação e o desenvolvimento
das etapas subjacentes;
No âmbito institucional
▸ Articulação com agentes estabelecidos nos territórios, de maneira
a consolidar parceiros locais, fortalecendo a gestão institucional e
ampliando os laços com a comunidade;
54
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
PROGRESSIVA DESCONTINUIDADE
DAS AÇÕES E PROGRAMAS APÓS
TRÊS GESTÕES
56
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
57
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
58
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
2.3_
PROGRAMAS DE URBANIZAÇÃO DE FAVELAS
E URBANISMO SOCIAL: SEMELHANÇAS E
COMPLEMENTARIDADES
61
Guia de Urbanismo Social
62
Capítulo 02 : Urbanismo Social — Conceitos
!
PARA SABER MAIS, VER:
63
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
64
03_
PLANO DE AÇÃO LOCAL
3.1_
Plano de Ação Local
3.2_
Contribuições para a metodologia
do Plano de Ação Local
AUTORES
3.1.1_ INTRODUÇÃO
67
Guia de Urbanismo Social
de estratégias para projetos de urbanismo social em algumas áreas ▸ Pacto pelas Cidades
Justas. Produto 5:
da cidade de São Paulo, através de uma metodologia estabelecida
Relatório Final.
pelo Plano de Ação Local.
68
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
▸ Planejamento;
▸ Formulação;
▸ Implementação e Gestão;
▸ Avaliação e Monitoramento.
69
Guia de Urbanismo Social
70
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
71
Guia de Urbanismo Social
Serão apresentadas a seguir três contri- deflagra uma sequência de ações e impac-
buições metodológicas para a construção tos desfavoráveis à condição humana nesse
de Planos de Ação Local no que tange às hábitat. Essa realidade constantemente
questões de governança e participação co- produzida e reproduzida em territórios de
munitária. A primeira dá relevância ao olhar vulnerabilidade dá lugar a grandes espaços
metodológico para a desigualdade, para as de precariedade. Nesse sentido, é neces-
questões de nível macro e micro das polí- sário olhar para o território em questão
ticas públicas no combate às duas formas fundamentando-se minimamente em dois
de desigualdade, a territorial e a social. A princípios básicos: a abordagem integrada
segunda realça a inclusão dos processos de e interdisciplinar e a participação e o pro-
mobilização, organização e fortalecimento tagonismo das comunidades.
social relacionados à elaboração de Planos
de Ação Local. A terceira contribuição lança o Estão ancoradas na abordagem integrada e
olhar para a leitura e análise das instituições interdisciplinar dois procedimentos: a leitura
e organizações locais, como um instrumento territorial integrada das desigualdades e as
relevante para o planejamento dos processos estratégias globais de combate a elas. Os
de governança e participação, englobando esquemas a seguir ilustram esses dois as-
os desafios relacionados à prática da gestão pectos de leitura e planejamento das ações
participativa e a necessidade de considerar a junto às áreas em condição de vulnerabilidade.
interdependência entre plano global e local, No primeiro, ressalta-se a importância do
com exemplos de práticas desenvolvidas cruzamento de ambas as dimensões da vulne-
pela Diagonal. rabilidade de uma comunidade — a territorial
e a social — e a necessidade da focalização e
da universalização das políticas públicas no
3.2.1_ OLHAR INTEGRADO DAS território, entendidas como um direito. No
DESIGUALDADES segundo, enfatiza-se a relevância de consi-
derar os dois níveis de ações que intervêm no
Favelas, de forma geral, se confundem planejamento territorial: o macro, que orienta
com áreas urbanas degradadas, pois são as ações globais e estruturantes da organiza-
o reflexo de uma construção humana pau- ção do território, e o micro, que olha e articula
tada pela necessidade, recursos escassos as ações locais dentro das especificidades
e busca de uma localização urbana para de cada área, em uma perspectiva de outra
morar. São um produto social contraditório, temporalidade, visando ao atendimento de
no qual a ocupação do núcleo de vivência demandas históricas e urgentes.
72
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
INFOGRÁFICO 01:
LEITURA TERRITORIAL INTEGRADA DAS DESIGUALDADES
Precariedade
Desigualdade Social
Territorial
Qualidade de vida:
capacidade de
subsistência-renda,
qualidade ambiental
VULNERABILIDADES
Contradição;
(água, esgoto, lixo),
Gera uma cadeia para a PRECARIEDADE DESIGUALDADE qualidade dos
cidade inteira; TERRITORIAL SOCIAL domicílios, propriedade;
deslocamentos nas
Crescimento geográfico ruas, ofertas de
desigual. serviços básicos (saúde,
educação, transporte
público, lazer).
Fonte: Diagonal.
73
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 02:
ESTRATÉGIAS GLOBAIS DE ATAQUE
Fonte: Diagonal.
74
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
INFOGRÁFICO 03:
FLUXOGRAMA DOS PLANOS DE AÇÃO LOCAL EM FAVELAS
PROCESSO 1 PROCESSO 2
AÇÕES INICIAIS E PLANO DE TRABALHO DIAGNÓSTICO
Estudos sobre
Discussão do papel
Tendência da Terra;
da comunidade
e definição do
modelo de gestão Estudos Urbanísticos e
participativa. Ambientais.
Fonte: Diagonal.
75
Guia de Urbanismo Social
▸ Objetivos;
▸ Serviços prestados;
▸ Capacidade de atendimento;
76
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
PESQUISAS QUALITATIVAS
Com o intuito de exemplificar as perspec-
tivas de uma análise integrada das orga-
A pesquisa qualitativa procura, junto às
nizações sociais, demonstra-se a seguir
lideranças e a atores de referência, indivi-
uma das possibilidades de avaliação das
dualmente ou em grupo, resgatar a história
organizações visando à governabilidade dos
das comunidades, coletando suas principais
planos e as atenções para capacitação e
reivindicações, mobilizações e formas de
ações participativas, incluindo as estratégias
lutas. Com as informações coletadas, junto
a serem adotadas.
a essas lideranças e aos moradores mais
antigos, é possível situar num contexto his-
Exemplos de aspectos a serem considerados
tórico o processo de ocupação das áreas, as
para a construção da Matriz de Avaliação
etapas mais importantes do desenvolvimento
das Organizações/Instituições Comunitárias:
das comunidades e os traços marcantes da
dinâmica das relações sociais internas e ex-
VARIÁVEIS DE ANÁLISE
ternas, inclusive no que diz respeito ao poder.
▸ Mobilidade para mudança e resistência;
O roteiro utilizado é semiestruturado em
▸ Organização e representatividade;
torno das seguintes referências básicas:
▸ Formalidade ou informalidade;
▸ Histórico de ocupação;
▸ Relações políticas (institucionais/partidárias);
▸ Organizações comunitárias: processos
▸ Reivindicações por grau de necessidade;
de lutas e reivindicações;
▸ Situação fundiária;
▸ Participação em conselhos e movimentos
populares; ▸ Pontos críticos.
retângulo
As informações obtidas, somadas aos cadas-
tros, fornecem quadros das relações sociais
que permitem o planejamento de diversas
frentes de trabalho, ações conjuntas e de-
finição de estratégias com menor margem
de erro. Descrever em cada comunidade as
análises e marcar os pontos facilitadores e
dificultadores colabora muito para a iden-
tificação e priorização de ações de acordo
com as especificidades dos grupos locais.
77
Guia de Urbanismo Social
78
Capítulo 03 : Plano de Ação Local
79
04_
DIMENSÃO GOVERNANÇA
4.1_
Processos de governança no
urbanismo social
4.2_
Diretrizes para construção de um
modelo de governança territorial
para o urbanismo social
4.3_
Eixos para construção de uma boa
governança territorial
4.4_
Diagnóstico dos principais
problemas de governança
4.5_
Diretrizes para a modelagem de
uma boa governança territorial
AUTORES
4.6_
4.1_ Carlos Mario Rodrigues (Instituto
Objetivos, instâncias e instrumentos
Tecnologico de Monterrey);
4.2_ a 4.7_ Pedro Marin e Andrelissa
4.7_
Ruiz (Fundação Tide Setubal);
Mobilização e protagonismo
[Box A Maré que Queremos] Núcleo
comunitário
Mulheres e Territórios;
[Box Ações cooperativas academia-
-comunidade-escola pública no Jardim
Ângela] Vera S. Luz (PUC-Campinas) e
Antonio Fabiano Jr. (FAU-Mackenzie).
Capítulo 04 : Dimensão Governança
81
Guia de Urbanismo Social
O QUE É GOVERNANÇA?
83
Guia de Urbanismo Social
2 PIERRE, Jon; PETERS, Guy. Governing complex societies: trajectories and scena-
rios. Houndmills, Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2005. ISBN 978-0-230-51264-1.
84
Capítulo 04 : Dimensão Governança
▸ Planejamento compartilhado;
85
Guia de Urbanismo Social
!
atual em cada território. Com base nos levantamentos conduzidos
pela equipe do Pacto pelas Cidades Justas nos três territórios que
foram objeto de intervenção na cidade de São Paulo, foi possível PARA SABER MAIS, VER:
BAIXA RESPONSIVIDADE ÀS
DEMANDAS LOCAIS
86
Capítulo 04 : Dimensão Governança
BAIXO NÍVEL DE
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA
DESCONTINUIDADE
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
87
Guia de Urbanismo Social
COORDENAÇÃO INTERSETORIAL
COMPARTILHAMENTO DA GOVERNANÇA
COM A SOCIEDADE CIVIL
89
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 01:
PROBLEMAS E DIRETRIZES PARA GOVERNANÇA LOCAL
PROBLEMAS DIRETRIZES
retângulo retângulo
INTEGRAÇÃO DAS POLÍTICAS LOCAIS COORDENAÇÃO INTERSETORIAL
Dificuldade de engajar funcionários da ponta em Criar instâncias de coordenação intersecretarial na
torno de objetivos comuns. escala territorial e central em torno de temas de
natureza intersetorial (ex: primeira infância).
retângulo retângulo
PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA FOMENTO À MOBILIZAÇÃO E CENTRALIZAÇÃO
Baixo nível de participação social, fragmentação e DAS INSTÂNCIAS PARTICIPATIVAS
baixo grau de institucionalidade das instâncias de
Criar incentivos para a mobilização comunitária e
participação social.
concentrar recursos institucionais para fortalecer
um fórum participativo que de fato seja reconhecido
no território.
retângulo retângulo
DESCONTINUIDADE GOVERNANÇA COMPARTILHADA
Descontinuidade político-administrativa relacionada Estabelecer parceria com a sociedade civil para atuar
aos ciclos eleitorais. como guardiã do planejamento e como responsável
por seu monitoramento.
retângulo
Fonte: Pacto pelas Cidades Justas. retângulo
90
Capítulo 04 : Dimensão Governança
INFOGRÁFICO 02:
OBJETIVOS, INSTRUMENTOS E INSTÂNCIAS DE
COORDENAÇÃO DO MODELO DE GOVERNANÇA
retângulo
IMPLEMENTAÇÃO
PLANEJAMENTO
COERENTE E ACCOUNTABILLITY
COMPARTILHADO
COORDENADA
retângulo retângulo
▸ Unificar e integrar ▸ Implementar as ▸ Monitoramento
o planejamento para políticas previstas no participativo da imple-
intervenções no território. planejamento de forma mentação do plano.
integrada. ▸ Garantir a
OBJETIVOS ▸ Garantir a priorização
pelas diversas pastas ▸ Implementação do responsabilidade continuada
em seus respectivos planejamento pactuado do Poder Público pelos
planejamentos físicos e sem descontinuidade. objetivos pactuados, mesmo
orçamentários. com mudanças políticas.
92
Capítulo 04 : Dimensão Governança
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Guia de Urbanismo Social
94
Capítulo 04 : Dimensão Governança
95
Guia de Urbanismo Social
96
Capítulo 04 : Dimensão Governança
MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA E
PLANEJAMENTO TERRITORIAL: REFLEXÕES
A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO
JARDIM LAPENA
97
Guia de Urbanismo Social
A Maré que Queremos é um conjunto de mo- 3_ Regularização das Ruas: Propõe-se a ga-
vimentos que buscam articular ações estrutu- rantir o reconhecimento dentro do processo
rantes a partir da mobilização, do envolvimento de urbanização dos espaços e territórios do
e do fortalecimento de agentes atuantes no conjunto de 16 favelas da Maré e incidir, de
contexto territorial das dezesseis favelas do maneira política, na garantia e na efetivação de
Complexo da Maré e que impactam de modo uma gestão pública que promova a regularização
direto na qualidade de vida dos moradores. Ele das comunidades. Desse modo, é incentivada a
se baseia em três iniciativas estruturantes que inclusão urbana definitiva em equilíbrio com a
caminham juntas: natureza e o meio ambiente, junto com projeto
Maré Verde. Em julho de 2021, o Programa de
1_ Fórum das Associações dos Moradores/ FAM:
Engenharia Ambiental (PEA-UFRJ) convidou a
Reúne-se mensalmente, desde 2010, visando à
comunidade para participar do seminário “Segun-
melhoria da qualidade de vida dos moradores da
das Ambientais”, a partir do trabalho realizado
região nas mais diferentes áreas, especialmente
pelo Maré Verde — Campanha Climão.
no âmbito da política urbana, direito socioam-
biental, educação, saúde e segurança pública. As metodologias das ações do projeto Maré que
Em tais encontros, são identificadas e debatidas Queremos envolvem produções de diagnósticos
diferentes reivindicações da população local, e conhecimento, mobilização e formação de dife-
promovendo o fortalecimento de lideranças rentes grupos, coletivos, iniciativas e atores locais
comunitárias e iniciativas do território, aproxi- estratégicos na articulação de diferentes redes de
mando-as dos representantes do poder público. parcerias, incidência política e práticas.
2_ Missão em Foco: Busca apoiar jovens, suas Abordar as realidades mareenses a partir de uma
iniciativas e fazeres, que pensam no desenvolvi- perspectiva de interseccionalidade implica que
mento territorial da Maré. A partir dessa articu- as políticas públicas considerem os impactos
lação em rede e de processos de formação — o distintos que são gerados em relação ao terri-
que inclui ferramentas para o desenvolvimento tório, classe social, etnia e meio ambiente, entre
de projetos e gestão de equipes —, o propósito é outros. Além disso, que levem ao reconhecimento
contribuir para que tais ações sejam ainda mais territorial e ao direito à cidade, possibilitem e
potentes e próximas do que almejam. A iniciativa condicionem as práticas de desenvolvimento.
é do Itaú Social, Redes da Maré e Projeto Maré Assim, figuram no radar do diálogo: informação,
que Queremos. O último Missão em Foco ocorreu participação e mobilização, urbanismo, susten-
em 2020 e, no momento (outubro de 2022), não tabilidade, regularização urbana, equipamentos
há previsão de abertura de novas inscrições para comunitários, integração ambiental e gestão
o processo de mentoria. comunitária, entre outros temas.
98
Capítulo 04 : Dimensão Governança
ii) instalação de duas faixas desse material sobre tecidos de chita atirantados para
do forro da cobertura;
99
Guia de Urbanismo Social
100
05_
DIMENSÃO TERRITORIAL
5.4_ Identificação de
potencialidades
RECONHECIMENTO E PERTINÊNCIA:
UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR
E PARTICIPATIVA SOBRE O TERRITÓRIO
103
Guia de Urbanismo Social
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Capítulo 05 : Dimensão Territorial
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Capítulo 05 : Dimensão Territorial
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Capítulo 05 : Dimensão Territorial
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Guia de Urbanismo Social
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Capítulo 05 : Dimensão Territorial
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Guia de Urbanismo Social
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Capítulo 05 : Dimensão Territorial
INFOGRÁFICO 01:
QUAIS DIRETRIZES DE TRABALHO PODEMOS DESTACAR A PARTIR DA ANÁLISE DE
ALGUMAS BOAS PRÁTICAS DE MAPEAMENTO DE TERRITÓRIOS INVISIBILIZADOS?
DADOS PARA O BEM trabalho cada vez mais vinculados à era do Big Data e orientados a dados (data-
(DATA FOR GOOD) driven), porém, mais que isso, são intrinsecamente relacionadas ao propósito de
retângulo
Boas práticas de mapeamento e diagnóstico socioespacial em territórios
retângulo
DADOS ABERTOSAbertos. Há um intenso esforço de compartilhar, além dos métodos e
retângulo procedimentos de tratamento de dados, os dados em si.
retângulo
Soluções em análises de dados em territórios populares são fortemente
retângulo
retângulo
113
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 02:
QUAIS HIPÓTESES DE TRABALHO SÃO SUGERIDAS PELA ANÁLISE DE ALGUMAS
BOAS PRÁTICAS DE MAPEAMENTO DE TERRITÓRIOS INVISIBILIZADOS?
retângulo retângulo
Apostar que instituições atuantes em territórios
organizada no território produz melhor trabalho para fins de mapeamento é algo preferível
retângulo retângulo
Processos e atividades de mapeamento que já estão
intervenções de mapeamento.
retângulo retângulo
Tecnologias de fronteira — sobretudo no campo da
retângulo retângulo
Para uma solução de mapeamento que alinhe atores
H4: É preferível iniciar com um trabalho e que seja, ao mesmo tempo, replicável
específico.
retângulo retângulo
114
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
H5: O mapeamento deve ser integrado da realidade social desses territórios, é desejável
a um Plano de Ação Local para garantir que, em vez de pensar problemas em separado, o
retângulo retângulo
Por fim, cabe ressaltar a mais crítica e mais simples das hipóteses: a
conscientização acerca do fato de que há uma importante trajetória
de aprendizado sendo construída por essas e outras iniciativas, que
pode (e deve) ser fortalecida e priorizada pelas partes interessadas
no desenvolvimento territorial local. Não há necessidade nem
serventia de pensarmos esse processo como algo que parte de
uma folha em branco, o que nos leva a ter como questão primordial
pensar primeiramente em caminhos que promovam a integração e o
aprimoramento metodológico dos bons processos de mapeamento
que estão em curso.
115
Guia de Urbanismo Social
5.4_ IDENTIFICAÇÃO DE
POTENCIALIDADES
116
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
INFOGRÁFICO 03:
CATEGORIAS DE ANÁLISE INTEGRADA SOBRE AS
POTENCIALIDADES DA COMUNIDADE
retângulo retângulo
Abrange não somente o tamanho de sua
população como também a existência, a
POTENCIAL
quantidade e a distribuição no território das
SOCIAL
instituições públicas e privadas e suas redes
de equipamentos e serviços.
retângulo retângulo
É refletido pela existência de uma
adequada infraestrutura urbana e
ambiental que possibilite um padrão de
vida digno para a população. Nesse quesito
entram os dados sobre infraestrutura de
POTENCIAL mobilidade e acessibilidade, saneamento,
URBANO energia etc., além das condições
habitacionais (dos domicílios, conjuntos,
bairros), da regularização jurídico-
fundiária e da segurança urbana, por meio
dos serviços nessa frente, do controle das
áreas de risco etc.
retângulo retângulo
117
Guia de Urbanismo Social
118
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
119
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 04:
CAMADAS TERRITORIAIS INTER-RELACIONADAS
A análise das formas de uso e ocupação do solo deve contemplar, quando possível ou
aplicável, questões como:
▸ Caracterização tipológico-funcional das zonas habitacionais, industriais, de comércio e
serviços da área em estudo e sua articulação com os sistemas de mobilidade e transportes;
retângulo
▸ Mobilidade e acessibilidade;
retângulo
INFRAES-
TRUTURA ▸ Energia elétrica etc.
Compreende recolher informações necessárias à descrição dos diversos componentes dos
sistemas, caracterizando, segundo as diversas modalidades e níveis hierárquicos implicados,
as deficiências e pendências, limitações e potencialidades de desempenho técnico e funcio-
nal das redes e serviços existentes. Implica ainda analisar as demandas atuais e futuras.
retânguloretângulo ▸ Relevo-geomorfologia;
▸ Geologia;
▸ Cobertura vegetal;
120
retângulo retângulo
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
▸ Capítulo 15
(Casos Referenciais).
121
Guia de Urbanismo Social
122
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
123
Guia de Urbanismo Social
!
Por fim, ações de urbanismo tático têm ajudado na implementação
de áreas de trânsito calmo, definidas com o objetivo de melhorar
a segurança de usuários vulneráveis por meio de medidas como PARA SABER MAIS, VER:
exigência de baixa velocidade no entorno de uma escola, com ▸ WRI. Guia para áreas
de trânsito calmo. 2022.
priorização dos pedestres nas vias em detrimento dos veículos.
124
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
CARACTERÍSTICAS DO
URBANISMO TÁTICO
▸ Inspiração para projetos estruturantes: as ▸ Convocatória: nesse modelo, é mais fácil
mudanças concretas, e especialmente físicas, despertar a percepção sobre necessidades
embora temporárias, servem de modelo de ou possibilidades de mudança que estavam
transformação a longo prazo. São projetos pilotos passando em branco. Para os moradores da
que permitem trazer para o presente propostas região pode ser uma oportunidade para que
para o futuro e, com isso, avaliar os impactos e grupos alheios ao projeto experimentem
planejar melhor o que será feito e até mesmo fisicamente um espaço de maneira distinta. O
visibilizar outras mudanças. engajamento comunitário com resultados físicos
concretos no entorno é um bom caminho para
▸ Equipamentos seguros: os equipamentos,
trazer setores do poder público para a conversa.
especialmente aqueles considerados “âncora”, e
o seu entorno são importantes porque geram vida ▸ Processo Bottom-up: o urbanismo tático é uma
pública e comunitária, sendo também chamarizes ferramenta valiosa para incorporar práticas de
para frequentadores. baixo para cima, em oposição ao planejamento
tradicional de cima para baixo (Top-Down).
▸ Coleta de dados: o urbanismo tático apresenta
um momento inovador no processo tradicional ▸ Processo pedagógico: uma cidade
de planejamento: o de acertar os indicadores educadora é um lugar que potencializa todos
baseados numa ação real. Ao mesmo tempo, os espaços físicos e aspectos subjetivos, como
é uma oportunidade para conhecer melhor a oportunidades de aprendizagem. O urbanismo
localidade, a partir de dados quantitativos ou tático permite passar da teoria à prática e da
qualitativos, como o nível de participação e a prática ao desenho, ao mesmo tempo que traduz
aceitação do projeto. estratégias complexas em transformações
concretas e visíveis.
▸ Ampliação da participação social: o
engajamento comunitário é complexo e ▸ Capital social: o desenvolvimento do capital
precisa se apoiar não apenas em dinâmicas social entre os cidadãos e a construção da
de planejamento. As ações concretas criam capacidade organizacional entre instituições
ânimo de mudança, assim como estabelecem públicas/privadas, organizações do terceiro setor
novos pontos de partida ao longo dos e a população local são indissociáveis do modelo
processos participativos. Como o urbanismo de urbanismo tático.
tático trata de transformações físicas nos
espaços, principalmente, comunitários, é uma
oportunidade para atrair diferentes atores.
125
Guia de Urbanismo Social
126
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
127
Guia de Urbanismo Social
Toda cidade deve ter uma rede de equipamen- de "entregas rápidas", ou seja, das primeiras
tos públicos equitativamente distribuída pelas de porte nos processos de urbanismo social.
suas diversas regiões e bairros, de modo que Isso porque, além de cumprirem suas fun-
a população possa acessar, de modo equâni- ções essenciais, fizeram também o papel de
me, as oportunidades de saúde, transporte, acelerar as transformações nos territórios,
esportes e lazer, cultura etc. Infelizmente, essa gerando importantes locais de encontro
não é uma realidade no Brasil, onde as favelas da comunidade e propiciando o desejável
e territórios periféricos são os que menos processo de credibilidade da comunidade
possuem equipamentos públicos. em relação ao programa.
128
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
129
Guia de Urbanismo Social
130
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
132
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
PROMOVENDO MOBILIDADE E
ACESSIBILIDADE NAS FAVELAS
!
melhorem a caminhabilidade e a convivência entre diferentes
modos de transporte. A capital paulista já conta com um manual
PARA SABER MAIS, VER: que especifica soluções para vielas e becos.
▸ PMSP, Secretaria
Municipal de Mobilidade ▸ Plano diretor de mobilidade para favelas: para além da gestão
e Transportes. Manual do sistema viário, seria interessante ter um verdadeiro plano de
de Desenho Urbano e
mobilidade urbana para favelas, contendo diretrizes para o viário,
Obras Viárias de São
Paulo, que contempla mas também para implantação de soluções ciclísticas. Além
diretrizes para vielas e disso, a gestação desse plano, desde que ele seja construído
becos em contextos de
favelas. com a participação da comunidade, pode identificar com muito
mais eficiência as rotas prioritárias que conectam as residências
às escolas, creches, unidades de saúde e pontos de ônibus mais
próximos. Identificadas as rotas prioritárias, devem elas receber a
atenção primeira do poder público com intervenções que melhorem
133
Guia de Urbanismo Social
134
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
135
Guia de Urbanismo Social
137
Guia de Urbanismo Social
138
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
!
PARA SABER MAIS, VER:
139
Guia de Urbanismo Social
140
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
141
Guia de Urbanismo Social
142
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
143
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ CAU-BR.
▸ Levantamento revela que mais de (ou apenas...) 20 cidades brasileiras têm leis
ATHIS;
144
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
145
Guia de Urbanismo Social
146
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
O EXEMPLO DA MARÉ
O bairro Maré, no Rio de Janeiro, é uma expressão concreta não só dos
limites das representações tradicionais sobre as favelas como também
da necessidade de se construírem novas interpretações sobre complexos
territórios, que levem em conta a pluralidade, a riqueza da vida cotidiana e
de sua estrutura material. Ao longo da consolidação das dezesseis favelas
na região da Maré, foram se formando diferentes movimentos sociais em
torno de lutas para a efetivação dos direitos mais básicos da população
que ali chegava. As associações de moradores tiveram, e, ainda têm, papel
determinante na organização e conquista do conjunto de equipamentos e
serviços públicos existentes até o momento. Foi nesse contexto que a Redes
da Maré surgiu, sendo alguns de seus fundadores parte do processo histórico
de lutas empreendidas nas favelas daquela localidade.
REDES DA MARÉ
147
Guia de Urbanismo Social
SEGURANÇA E JUSTIÇA
O Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré
busca fortalecer a concepção justamente sobre segurança pública e justiça a
partir de uma lógica de direitos humanos. Para tanto, as ações desenvolvidas
se organizam em três grandes áreas:
!
PARA SABER MAIS, VER:
148
Capítulo 05 : Dimensão Territorial
149
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
150
06_
DIMENSÃO SUSTENTABILIDADE
URBANA
6.1_ Introdução
AUTORES
6.1_ INTRODUÇÃO
1 Ver ALIER, Joan Martinez. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e lingua-
gens de valoração. São Paulo: Contexto, 2009
153
Guia de Urbanismo Social
154
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
INFOGRÁFICO 01:
DIMENSÃO SUSTENTABILIDADE URBANA: ELEMENTOS E ASPECTOS QUE
COMPÕEM A INFRAESTRUTURA AMBIENTAL DE UM TERRITÓRIO URBANIZADO
ELEMENTOS ASPECTOS
retângulo retângulo
retângulo
SISTEMA DE COLETA E DISPOSIÇÃO DOS
retângulo
Faz uso da superfície do solo como agente recep-
retângulo retângulo
Importante instrumento de difusão do cuidado
retângulo retângulo
156
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL:
TÉCNICO-TERRITORIAL
157
Guia de Urbanismo Social
158
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
!
Mutirões para conservação e plantio de arborização nos espaços
livres e calçadas, implantação de hortas comunitárias, tetos e
PARA SABER MAIS, VER: paredes verdes, viveiros de mudas, entre outras, são experiências
▸ Exemplo de que podem ser mostradas como estímulo à ação.
organização social
Mulheres do GAU (Zona
Leste de São Paulo) — ▸ Saneamento básico
Viveiro Escola União de
Vila Nova. Dentre os grandes desafios atuais postos ao urbanismo social, a
superação do déficit e das desigualdades no acesso aos serviços
de saneamento pode ser incluída como uma questão fundamental
colocada para toda a sociedade e, em particular, para os profis-
sionais e instituições atuantes no setor. A resposta sobre como
é possível planejar e gerir de uma maneira mais adequada a
prestação desses serviços ainda não foi plenamente apresentada,
159
Guia de Urbanismo Social
6 Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que uma criança
morra no mundo a cada 2,5 minutos por causa de água não potável, saneamento e
higiene deficientes.
160
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
INFOGRÁFICO 02:
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL: ASPECTOS TÉCNICOS DO SANEAMENTO BÁSICO
TEMAS ASPECTOS
retângulo retângulo
▸ Intermitências no sistema;
ABASTECIMENTO DE
▸ Ligações clandestinas;
ÁGUA
▸ Perda de água;
retângulo
retângulo
▸ Mapeamento da rede de esgotos instalada;
retângulo
retângulo
RESÍDUOS SÓLIDOS ▸ Pontos de descarte irregular;
162
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
163
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 03:
DIAGNÓSTICO DE RISCOS: PRINCIPAIS PONTOS A CONSIDERAR
NA VISTORIA EM CAMPO
retângulo retângulo
▸ Declividade;
▸ Estrutura do solo;
ENCOSTAS ▸ Presença de blocos rochosos e matacões, paredões rochosos;
retângulo
NAS MARGENS DE
CURSO D’ÁGUA
retângulo ▸ Distância da moradia à margem;
164
retângulo retângulo
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
retângulo retângulo
▸ Sarjetas e redes de drenagem pluvial;
retânguloVEGETAÇÃOretângulo
▸ Presença de árvores, vegetação rasteira ou área desmatada;
▸ Áreas de cultivo.
retângulo retângulo
retângulo
retângulo
O diagnóstico de riscos deve ser feito, obrigatoriamente, em campo.
Isso não significa que sistemas de informação geográfica e outras
ferramentas remotas não devem ser utilizados para dar suporte
ao trabalho. Também é importante considerar aspectos funcio-
nais — como o viário local, principais vias de acesso, localização
de equipamentos públicos —, aspectos de conforto ambiental —
como o material construtivo, densidade construtiva e conformação
espacial das edificações —, e aspectos legislativos — como lei de
uso e ocupação do solo, zoneamento, plano diretor, ZEIS.
165
Guia de Urbanismo Social
INFOGRÁFICO 04:
DIMENSÕES PARA O ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE
DIMENSÕES ELEMENTOS
retângulo retângulo
167
retângulo retângulo
Guia de Urbanismo Social
168
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
169
Guia de Urbanismo Social
170
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
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Guia de Urbanismo Social
172
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
173
Guia de Urbanismo Social
174
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
175
Guia de Urbanismo Social
entidades locais, no plano institucional, da viário. Essas ações estão voltadas à quali-
sociedade e do sistema produtivo, devem ficação paisagística e de conforto térmico,
ser envolvidas para que se possa criar uma mas também visam explorar a multifun-
Rede de Difusão do projeto. Da mesma cionalidade desses espaços, abrigando,
forma, é importante identificar e trazer para quando possível e adequado, soluções de
o processo aquelas entidades que podem infraestrutura verde ligadas à drenagem
abrir seus espaços para também constituir sustentável. Dentre elas, destacam-se as
uma Rede Operativa, tais como templos biovaletas, jardins de chuva e grade verde.
religiosos, escolas, mídia, associações co-
munitárias, entre outras. Das soluções baseadas na natureza para
melhorar as condições microclimáticas dos
O papel da mulher no planejamento, imple- espaços de mobilidade, a de maior relevân-
mentação, gestão, utilização e manuten- cia é a arborização, pois é ela que interfere
ção das infraestruturas de abastecimento positivamente na redução da emissividade
de água e saneamento; tem se mostrado de calor das superfícies urbanas, trazen-
necessário. De fato, a mulher é a grande do condições climáticas mais amenas aos
protagonista desse setor; ela sempre está passeios públicos. Atua também como um
à frente de suprir as necessidades básicas importante refrigerador climático ao impul-
de sua família, sendo a água uma neces- sionar os processos de evapotranspiração
sidade vital para a vida. A escola também que umidificam o ar. Em áreas tropicais
deve ser um espaço de destaque para esses serviços ambientais são fundamentais
promover a importância de ter um serviço para promover ainda mais o uso público dos
adequado de saneamento. espaços abertos.
176
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
177
Guia de Urbanismo Social
178
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
179
Guia de Urbanismo Social
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Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
Resíduos sólidos:
▸ Coleta seletiva: sensibilização e apoio à implementação de
coleta seletiva e óleo de cozinha, bem como aproveitamento de
material orgânico para compostagem, e material reciclável para
arte-artesanato;
181
Guia de Urbanismo Social
6.4_
RESILIÊNCIA URBANA E JUSTIÇA
AMBIENTAL EM TERRITÓRIOS
PERIFÉRICOS
182
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
183
Guia de Urbanismo Social
184
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
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Guia de Urbanismo Social
186
Capítulo 06 : Dimensão Sustentabilidade Urbana
187
Guia de Urbanismo Social
188
07_
DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA E
CULTURAL
7.1_ A dimensão socioeconômica e o
urbanismo social
AUTORES
191
Guia de Urbanismo Social
192
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
O Observatório das Favelas, por exemplo, ▸ Forte presença de relações sociais e de vi-
propõe uma outra maneira para caracterizar zinhança, com uma sociabilidade que valoriza
as favelas que congrega aspectos urbanos, os espaços comuns como lugar de encontro;
sociais e políticos e que procura romper com
▸ Alta concentração de negro(a)s e pardo(a)s;
193
Guia de Urbanismo Social
▸ Índices de violência, sobretudo a letal, acima e caracterizar essas comunidades com suas
da média do observado na cidade “formal”. distintas condições. E deve-se buscar reco-
nhecer e valorizar as ações lá existentes,
Ao destacar aspectos sociais, econômicos,
quase sempre desenvolvidas sem apoio ou
políticos e culturais que caracterizam esses
financiamento públicos.
territórios, abrimos espaço para quebrar
concepções negativas e preconceituosas de
▸ Componente social
espaços periféricos e de suas populações.
Entender como está a educação, a primeira
A consideração dos interesses dos benefici- infância, a saúde e a segurança ajuda a
ários ou afetados (por qualquer intervenção construir insumos para a construção de
urbana) é necessária para garantir que um equipamentos que acolham essas neces-
processo de decisão seja justo e democrá- sidades. Trata-se de conhecer os aspectos
tico e não gere injustiças e/ou reproduza sociais e culturais para que os componentes
um processo de dominação por padrões físicos possam abrigar essas relações que
hegemônicos. Uma comunidade informada já existem no território e não desenvolver o
e empoderada também sustenta a manu- projeto primeiro de maneira desconectada.
tenção e continuidade do projeto. Para que São as dinâmicas próprias locais que darão
isso se concretize, podemos articular ações valor aos projetos sendo desenvolvidos.
em termos de quatro componentes cruciais:
▸ Componente econômico
▸ Componente comunicacional
Investigar e buscar entender quais são as
Implementar uma linguagem comum com fortalezas da economia local e como forta-
espaços de troca entre técnicos, gestores lecê-las. Como vinculá-las com a economia
e a comunidade, para que “aprendam a falar da cidade como um todo? Essas economias
a mesma língua”. Construir essa linguagem internas ao território geram e mantêm a eco-
comum proporciona a criação de estratégias nomia local viva e são fontes de valor para
de comunicação mais eficazes. produzir relações econômicas importantes
e positivas com a cidade como um todo. Em
▸ Componente cultural inúmeras favelas do país existem ações de
empreendedorismo local.
Lembrar que nem sempre os projetos são
replicáveis de maneira literal nos territórios.
Portanto, o urbanismo social estimula pro-
Realizar leituras dos territórios a partir dos
jetos que respeitam e integram em seu
valores sociais e culturais da comunidade
desenho as preexistências do território e
é fundamental. Importante também é com-
a cultura local. Assim, é importante levar
preender como os territórios constroem
em consideração e integrar aos projetos de
laços, assim como seus conflitos internos,
urbanização as lógicas urbanas, sociais e
194
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
195
Guia de Urbanismo Social
196
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
!
PARA SABER MAIS, VER:
197
Guia de Urbanismo Social
198
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
199
Guia de Urbanismo Social
EXPERIÊNCIAS E INICIATIVAS DE
EMPREENDEDORISMO EM FAVELAS
201
Guia de Urbanismo Social
202
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
Criada em 2009, a Thrive — que em inglês significa crescer, prosperar — é uma organização mul-
tifacetada que se dedica a iniciativas relacionadas à reciclagem e ao gerenciamento de resíduos.
Operando a partir de uma instalação de resíduos urbanos na fronteira entre um assentamento
informal (Imizamo Yethu) e condomínios de alto padrão (Hout Bay), sua localização escancara a
desigualdade existente na paisagem pós-apartheid na Cidade do Cabo e evidencia um forte desejo
comum de mudança. É gerida pela cooperativa comunitária de reciclagem Hout Bay Recycling
(HBR), contemplada pela licitação governamental para reciclagem na área. Trabalhando com
materiais descartados, onze membros recuperam itens reutilizáveis, além de classificar e vender
materiais recicláveis.
De maneira adicional a esse escopo básico de trabalho com reciclagem, a ação do grupo criou
frentes de inovação: o TrashBack é um novo empreendimento social que consiste em um programa
de reciclagem baseado em incentivos, no qual cerca de 500 membros da comunidade adjacente são
recompensados por trazer materiais recicláveis para a HBR. As recompensas incluem vales para uma
rede de lojas e serviços da comunidade, fortalecendo a economia local. Sua ação também aumenta
a conscientização sobre o desperdício por meio de atividades escolares, apresentações e contatos
com a mídia local. Aparas descartadas como resíduos de jardinagem florescem em jardineiras feitas
de velhas telhas e em jardins cercados por pedras e pneus pintados, irrigados por um sistema de
mangueiras reutilizadas. Essa prática de jardinagem se espalhou pelos espaços subutilizados nos
terrenos vizinhos, com impacto na qualidade do espaço urbano em que ocorre. As atividades no
local se fortalecem mutuamente ao demonstrar a possibilidade de verdejar uma paisagem árida,
gerar renda e fortalecer a economia local junto à iniciativa de cashback capilarizada na comunidade.
203
Guia de Urbanismo Social
204
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
!
à ação de movimentos e organizações para encontrar formas de
ação localizadas, com base nas experiências do lugar.
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Marcos Rosa.
Urbanismo feito à mão,
2013.
205
Guia de Urbanismo Social
7.5_
A POTÊNCIA DAS COMUNIDADES
FORTALECIDAS A PARTIR DE
TECNOLOGIA SOCIAL E CÍVICA
206
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
207
Guia de Urbanismo Social
208
Capítulo 07 : Dimensão Socioeconômica e Cultural
209
08_
TÓPICOS EM POLÍTICAS
PÚBLICAS
8.1_ Urbanismo social como um
tópico de políticas públicas
AUTORES
2 SWAAN, Abram de. The sociogenesis of the Welfare State: by way of introduction.
Amsterdams Sociologisch Tijdschrift, v. 13, n. 4, p. 579-596, 1987
211
Guia de Urbanismo Social
3 LASSWELL, Harold. Politics: who gets what, when, how. Whitefish, Montreal: Li-
terary Licensing, 2012.
212
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
Cumpre ressaltar que essas decisões não são tomadas por falta de
alternativas. Em sua obra clássica, Morte e vida das grandes cidades,
publicada em 19614, Jane Jacobs (1916-2006) já chamava a atenção
para a importância da perspectiva social no planejamento urbano. O
balé das calçadas, as cidades vivas e os usos socialmente intensos
do solo consideram, para além de intervenções físicas, uma noção
da centralidade de questões socioculturais no planejamento urbano
virtuoso. Sem essas ponderações, não se planejam "cidades para
pessoas”5, mas, sim, “cidades rebeldes”6.
4 JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2011.
213
Guia de Urbanismo Social
214
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
215
Guia de Urbanismo Social
216
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
217
Guia de Urbanismo Social
hipótese arbitrária de sequencialidade se- relação aos meios como aos fins. Nesse
torial do ponto de vista do bem-estar social. sentido, as combinações entre níveis de con-
Isso significa que, por exemplo, o especialista flito e entre níveis de ambiguidade geram
na área de saúde suponha que os desafios contextos de implementação diferenciados
sanitários devam preceder os demais. O que podem ser deletérios no endereçamento
mesmo ocorre em relação aos especialis- dos desafios de fragmentação, sobreposição
tas das áreas de educação, de segurança e isolacionismo setorial.
alimentar, de transporte e assim por diante.
Desse modo, o isolacionismo setorial tende a Assim, tão importante quanto ter uma buro-
reduzir a qualidade das intervenções setoriais cracia de nível de rua mobilizada e conven-
e a enfraquecer a coordenação e integração cida sobre a importância do programa ou
das políticas públicas. política pública, e que seja capaz de identi-
ficar a população vulnerável potencialmente
Adicionalmente, há um grau de realismo beneficiária, é dispor também de um corpo
sobre os desafios de implementação sob de agentes implementadores que compre-
contexto orientado, capaz de contemplar endam a demanda social reprimida em cada
parâmetros e tensões entre os entes e território. Não basta realizar uma leitura
agentes com responsabilidade pública de apenas objetiva, informacional, do ponto de
decisão. Contexto que deve ser levado em vista técnico-científico; é preciso também
consideração, adicionando, portanto, mais executar uma escuta atenta e consequente
uma camada nesse cenário já desafiador. que dê contornos factuais à demanda.
Segundo Matland8, todo contexto de política
pública é marcado por graus diferentes de A escuta deve voltar-se não só aos indivíduos
conflito e de ambiguidade; a interdepen- e suas famílias como também à comunidade
dência entre esses dois elementos leva a e suas diversas organizações de represen-
ambientes mais ou menos propícios para tação, transformando aquele espaço em um
implementações bem-sucedidas. O conflito território humanizado. A estruturação do
pode ser caracterizado em relação aos fins processo de escuta deve estabelecer um
(atores não concordam com os objetivos da diálogo contínuo que permita a calibragem
política) e em relação aos meios (discor- do desenho das intervenções e, inclusive,
dância em relação às formas de atingir os sua discussão e revisão periódica. Diálogo,
objetivos). Já a ambiguidade, por sua vez, aliás, com marcadores temporais acordados
diz respeito ao espaço dado pela política e ritualizados. Aqui, a empiria informa a qua-
para interpretação e adaptação tanto com lidade da adequação entre as demandas dos
indivíduos e da comunidade e as ofertas de
serviços, permitindo a revisão e a correção
8 MATLAND, R. E. Synthesizing the implementation li-
terature: the ambiguity-conflict model of policy imple-
de rotas das ações com agilidade e sentido
mentation. Journal of Public Administration Research de pertinência. Isso significa que viabilizar a
and Theory, Lawrence, v. 5, n. 2, p. 145-174, abr. 1995.
218
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
219
Guia de Urbanismo Social
220
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
221
Guia de Urbanismo Social
é preciso voltar à década de 1990 do sé- intervenção integral nos bairros, que nos
culo XX: esses anos foram os das alianças permitiu conhecer e nos reconhecer em
iniciais de todos os setores da sociedade, nossos graves problemas de desigualdade,
independentemente da ideologia e filiação exclusão, pobreza, falta de oportunidades,
política. Foram anos em que assumimos falta de coesão social, violência de todos os
o desafio coletivo de construir soluções tipos, geração de gangues armadas com-
coletivas para enfrentar nossos próprios postas por crianças e jovens.
fracassos como sociedade e como cidade.
Ou seja, enfrentamos coletivamente nossas Para mim, estes são os principais "comos"
falhas coletivas. do processo de Medellín:
222
Capítulo 08 : Tópicos em Políticas Públicas
combinar diferentes saberes, diferentes Integrais. Gosto de dizer que os PUIs (Proje-
lógicas, diferentes pontos de vista. tos Urbanos Integrais) podem ser descritas
como orgias institucionais, públicas, priva-
Assumimos a participação social como das e comunitárias: os objetivos não são
essência e não apenas como ferramenta. setoriais e sim territoriais e populacionais.
Assumimos e buscamos que a participação Na verdade, acho que hoje devemos mudar
seja verdadeira, não acomodada a discursos os modelos de gestão pública para passar do
e práticas oficiais. É preciso somar ou mes- setorial para o territorial e populacional, com
mo contrapor democracias participativas e base em três grandes objetivos: equidade,
deliberativas à democracia representativa, oportunidades e convivência. Atualmente,
e é fundamental promover múltiplos espa- a construção da equidade territorial e po-
ços de controle social do cidadão, como as pulacional deve ser o principal objetivo da
Vigilâncias Cidadãs. nossa sociedade.
Escutamos — sim, é preciso ouvir muito Partimos do princípio de que as obras urba-
para poder conhecer, reconhecer, valorizar nas devem estar subordinadas ao projeto
e promover o que já se faz nos bairros de social: os governos têm suas maiores prio-
Medellín. E isso se faz sem o Estado, apesar ridades e investimentos em obras físicas,
do Estado ou mesmo contra o Estado: esse e realmente o que Medellín tem feito é dar
reconhecimento é fundamental porque nos- prioridade máxima aos projetos sociais.
sas próprias comunidades têm buscado a Nossas cidades precisam de novas agendas
saída diante dessa reiterada ausência do sociais, para aprofundar suas transforma-
Estado, e isso é algo que os governantes da ções e para que essas agendas determinem
época muitas vezes não veem por causa de que tipo de obras urbanas são necessárias.
sua arrogância ou, simplesmente, por causa Acho que a Habitat 3 errou ao definir uma
daquela "síndrome de Adão" que parece Nova Agenda Urbana Mundial, promovida
dominar a todos. pela ONU Habitat, porque a urgência é ter
uma Nova Agenda Social Mundial.
Entendemos que o Estado se faz no bair-
ro e que cada rua deve ser evidência da Aprendemos com muitas cidades, suas
presença do Estado. conquistas e seus fracassos, e transfor-
mamos Medellín em um laboratório social,
Realizamos intervenções verdadeiramente educacional, cultural e urbano, com muitas
abrangentes nos bairros, como o PRIMED, o tentativas que deram certo ou não, mas com
Programa de Melhoria Integral de Bairros, as quais aprendemos a continuar inovando
que foi o iniciador, nos anos 1990, do que na tarefa de mudar a gestão pública e no
mais tarde na primeira década deste sé- enorme desafio de nos construirmos como
culo chamamos de PUI, Projetos Urbanos uma nova sociedade.
223
Guia de Urbanismo Social
224
09_
TÓPICOS EM REGULAÇÃO
URBANA
9.1_ O papel do direito urbanístico
AUTORES
227
Guia de Urbanismo Social
1 Tais disposições se encontram especialmente nos art. 30, incs. I e VIII, e nos arts.
182 e 183.
229
Guia de Urbanismo Social
230
Capítulo 09 : Tópicos em Regulação Urbana
O ESTATUTO DA CIDADE
232
Capítulo 09 : Tópicos em Regulação Urbana
233
Guia de Urbanismo Social
234
Capítulo 09 : Tópicos em Regulação Urbana
235
Guia de Urbanismo Social
236
Capítulo 09 : Tópicos em Regulação Urbana
Tais dimensões, por sua vez, não são estanques nem isoladas, mas se
relacionam entre si e devem ser consideradas de maneira integrada
na formulação das políticas públicas e no ordenamento territorial.
237
Guia de Urbanismo Social
238
10_
TÓPICOS EM FORMAS DE
FINANCIAMENTO
10.1_ Instrumentos de recuperação
da valorização do solo
AUTORES
10.1_ INSTRUMENTOS DE
RECUPERAÇÃO DA
VALORIZAÇÃO DO SOLO
241
Guia de Urbanismo Social
CICLO DE GESTÃO DA
VALORIZAÇÃO DO SOLO
AÇÕES PÚBLICAS
[OBRAS E REGULAÇÃO]
INVESTIMENTO VALORIZAÇÃO DE
[REDISTRIBUIÇÃO] TERRENOS URBANOS
INSTRUMENTOS BASE
SOLO
[RECUPERAÇÃO DE VALOR]
242
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
! sobre uma obra de drenagem em Porto Alegre que gerou uma valo-
rização estimada em sete vezes o seu custo. O limite de recuperação
PARA SABER MAIS, VER: da contribuição de melhoria é o menor valor entre incremento de
▸ Sobre esse e outros valor e o custo da obra, ou seja, em geral, mesmo repondo o gasto,
casos, ver Estudo do
os proprietários se apropriam de parte relevante da valorização,
Banco Mundial (2020).
com um alinhamento de interesses entre os envolvidos.
243
Guia de Urbanismo Social
244
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
245
Guia de Urbanismo Social
246
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
247
Guia de Urbanismo Social
248
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
249
Guia de Urbanismo Social
250
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
251
Guia de Urbanismo Social
5 Exigido pela Lei nº 11.124, de 16 de junho de 2005, para municípios com mais de
50 mil habitantes.
252
Capítulo 10 : Tópicos em Formas de Financiamento
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ LEITE, Carlos et al. Social Urbanism in Latin America: cases and instruments of
planning, land policy and financing the city transformation with social inclusion, 2020.
9 São definidas pelo art. 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) como a entre-
ga de recursos financeiros a outro ente da federação, a título de cooperação, auxílio
ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou
os destinados ao Sistema Único de Saúde.
253
11_
TÓPICOS EM CIDADE E
CRIANÇAS
11.1_ A prioridade absoluta do direito
da criança e do adolescente à cidade
AUTORES
255
Guia de Urbanismo Social
256
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
257
Guia de Urbanismo Social
258
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
259
Guia de Urbanismo Social
classe, território, gênero e raça são alguns dos fatores que condi-
cionam a vida urbana entre crianças e adolescentes e seu acesso
a direitos. Assim, é necessário que as desigualdades na cidade
sejam levadas em consideração na definição das populações
prioritárias a serem protegidas, conforme a legislação brasileira
e internacional, que determina que, quanto mais vulnerável um
grupo de crianças ou adolescentes for, mais proteção devem
receber, em um modelo interseccional de proteção2.
UM CASO BRASILEIRO:
O MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ
260
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
261
Guia de Urbanismo Social
262
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
263
Guia de Urbanismo Social
GUIAS DE BAIRROS
AMIGÁVEIS À PRIMEIRA
INFÂNCIA (BAPIS)
Outra iniciativa importante para a promoção do urbanismo social a partir
da dimensão das crianças são os recentes Guias de Bairros Amigáveis à
Primeira Infância (BAPIs) da Fundação Bernard van Leer em parceria com
o Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, 2021.
264
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
265
Guia de Urbanismo Social
266
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
267
Guia de Urbanismo Social
5 Conjunto de bairros que inclui: Jardim Clímax, Parque Bristol, Jardim São Savério,
Jardim Maristela, Boqueirão e Heliópolis.
268
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
269
Guia de Urbanismo Social
A análise dos mapas afetivos foi uma tarefa árdua. Afinal, ela
implicou em registrar a forma como as crianças e os adolescentes
se colocavam num determinado lugar, e até mais do que isso, como
interagiam entre si, com o meio e com os objetos neles disponíveis.
Desse modo, podemos dizer que o produto da investigação nos
ofereceu dicas de como aqueles sujeitos utilizam seus bairros,
como circulam e/ou como se relacionam com eles.
270
Capítulo 11 : Tópicos em Cidade e Crianças
271
12_
TÓPICOS EM SAÚDE URBANA
AUTORES
273
Guia de Urbanismo Social
274
Capítulo 12 : Tópicos em Saúde Urbana
O diálogo entre planejamento urbano, com Dormir bem, tanto em quantidade como em
enfoque do urbanismo social, e os setores qualidade, é extremamente importante para a
da saúde é, portanto, uma necessidade im- saúde mental. Durante o sono, são secretados
periosa, para o controle das febres urbanas. hormônios que protegem as nossas funções
cognitivas e comportamentais, como, por
12.1.2_ CIDADES E DOENÇAS exemplo, a melatonina. A secreção desses
PSIQUIÁTRICAS hormônios ocorre em sua maior intensidade
nas fases mais profundas do sono. Isso signi-
As doenças psiquiátricas como a esquizo- fica que não basta dormir bastante; há que se
frenia e a depressão são causadoras de dormir bem e profundamente. O excesso de
sofrimento, incapacidade e também de trabalho e as horas perdidas em um trânsito
significativas perdas econômicas para o mais lento subtraem horas de sono.
indivíduo e para a sociedade. Além dos
aspectos genéticos, os ambientes físico O ritmo das fases claro/escuro também é
e social contribuem para a eclosão das afetado pelo cotidiano urbano. A secreção
doenças mentais. Há uma modulação epi- de melatonina, que induz o sono e protege a
genética dos nossos genes. Fatores como saúde mental, inicia-se cerca de uma a duas
o contato mais prolongado com os pais e horas após o escurecimento. Atualmente,
um ambiente familiar mais harmonioso na o viver urbano é cada vez mais luminoso,
primeira infância são reconhecidamente seja pela iluminação interna ou pela luz que
capazes de reduzir o risco de transtornos emana das telas dos computadores, tele-
mentais nas fases posteriores da vida. visores e celulares. As lâmpadas também
275
Guia de Urbanismo Social
276
Capítulo 12 : Tópicos em Saúde Urbana
!
PARA SABER MAIS, VER:
277
Guia de Urbanismo Social
12.2_
A SAÚDE MENTAL EM
TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS:
A GRAMÁTICA SOCIAL DO
SOFRIMENTO PSÍQUICO
Quem mora nas periferias das grandes cidades do Brasil sabe que não
é simples chegar ao trabalho — uma violência cotidiana, naturalizada
e silenciada. O corpo da trabalhadora e do trabalhador periféricos é
submetido a toda sorte de hostilidade, algo que, somado à privação
de sono, além de outras formas degradantes, produz um tipo de
sofrimento que é coletivo, mas transformado — intencionalmente
— em patologia quando diagnosticado isoladamente. É o caso hoje
da síndrome de burnout. Um conjunto de sintomas psicossociais,
relacionados diretamente às extenuantes exigências provocadas
pela precarização das condições de trabalho, é tornado patologia
ao ser inserido na Classificação Internacional de Doenças — CID10.
278
Capítulo 12 : Tópicos em Saúde Urbana
279
Guia de Urbanismo Social
são legítimos, contudo parece que tem sido mais “fácil” produzir
“doenças” (diagnósticos) para explicar as mazelas da sociedade
do que transformar suas relações profundamente adoecedoras.
280
Capítulo 12 : Tópicos em Saúde Urbana
281
Guia de Urbanismo Social
282
13_
TÓPICOS EM MULHERES
E TERRITÓRIOS
13.1_ Diversidade, equidade e
inclusão: O papel do ativismo
feminino para a mudança social
AUTORES
285
Guia de Urbanismo Social
286
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
2 ESCOBAR CIRUJANO, Ana et al. In: PEREZ VIEJO, Jesús M.; HERNÁNDEZ, Ana
Montalvo (coord.). Violencia de género, prevención, detección y atención. Madrid:
Grupo 5, 2011. p. 41.
287
Guia de Urbanismo Social
As mulheres geralmente acumulam múl- Colombo, em São Paulo. Ela deixara o Rio
tiplas tarefas, e suas necessidades são Grande do Norte motivada pela busca de
esquecidas. Elas exercem o papel de cui- melhores condições para sua família. Nunca
dado diariamente, desde o trabalho com havia morado numa favela. No entanto, Maria
seus filhos, irmãos, sobrinhos, netos etc., relatou estar impressionada com a rede de
ao mesmo tempo em que são responsáveis apoio que conseguiu tão logo chegou ao
pelas tarefas domésticas. Além desses tra- Jardim Colombo: em menos de oito meses
balhos não remunerados, nas periferias e conseguira mobiliar sua casa inteira a partir
favelas a maioria das mulheres ainda atua da mobilização de moradores e familiares.
pelo sustento do lar. Seus salários são in- Assim, entendeu o verdadeiro significado de
feriores e as possibilidades de alçar novos “coletivo” em um dos momentos mais difíceis
voos profissionais são menores, visto que de sua vida. Atualmente, Maria Josiane pro-
há uma carga de afazeres que recai sobre cura apoiar outras mulheres em situações
as mulheres muito superior à de um homem. similares. Diz que, no futuro, ao lado de suas
amigas, pretende criar um aplicativo para
Nesse contexto, o que se observa são cons- facilitar a contratação de mulheres no mer-
truções de redes de solidariedade nos ter- cado da limpeza, oferecendo um salário justo.
ritórios desassistidos por uma questão de
necessidade de sobrevivência. Essas redes De acordo com Marconatto e Pedrozzo3,
adquirem diversas configurações; surgem capital social é a benevolência engendrada
na colaboração individual entre um vizinho pela interação mútua das três forças sociais
e outro, ajudando de maneira específica em (indivíduos, redes e instituições) e que pode
uma demanda pontual, ou, muitas vezes, ser utilizada por elas para facilitar a ação.
por meio da constituição de coletivos, mo- Suas fontes residem nas relações sociais
vimentos e organizações sociais para um e institucionais dos atores individuais ou
trabalho mais amplo e contínuo. No segundo coletivos, sociais ou institucionais, localiza-
caso, a atuação pode se dar em diferentes dos nos diversos níveis de um determinado
eixos, facilitando, inclusive, o diálogo entre campo. Seus efeitos ocorrem sobre os fluxos
sociedade civil e poder público. de informações e o potencial de solidarie-
dade e influência desses mesmos atores.
Para exemplificar essa condição, apresen-
ta-se aqui o caso de Maria Josiane, mãe solo
3 MARCONATTO, Diego; PEDROZO, Eugenio. Capi-
de duas meninas, que em setembro de 2022, tal social: visão integrada. Revista Brasileira de Gestão
vivia, havia dez meses, na favela do Jardim e Desenvolvimento Regional, Taubaté, v. 9, n. 2, p.154-
181, 2013.
288
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
Com o ritmo das atividades comunitárias em Um balanço do período revelou que o impacto
plena ascensão, muitas organizações tive- social nas ações elaboradas e com partici-
ram que suspender suas ações em virtude pação de quem está na linha de frente dos
da pandemia de covid-19. A nova realidade territórios desassistidos é maior. Porém, ainda
de restrições à mobilidade e à aglomeração há um árduo trabalho de conscientização,
de pessoas atingiu fortemente o país. Para confiança e fomento a projetos e políticas
além de gerar uma mudança drástica de ro- que apoiam e se utilizam dessas redes.
tina, significou um drama sem precedentes.
A refeição, garantida no âmbito escolar, já
não estava disponível, o trabalho e a renda
das famílias ficaram comprometidos, assim
como a vida de seus dependentes. Por fim,
os já desempregados, mais do que nunca,
enfrentaram dificuldades para encontrar
uma oportunidade de trabalho.
289
Guia de Urbanismo Social
290
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
5 Lei nº 11.124/2005.
291
Guia de Urbanismo Social
292
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
293
Guia de Urbanismo Social
294
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
295
Guia de Urbanismo Social
296
Capítulo 13 : Tópicos em Mulheres e Territórios
INFOGRÁFICO 01:
METODOLOGIA DESENVOLVIDA AO LONGO DA CAPACITAÇÃO
Abertura de vagas
para mulheres de 18
a 60 anos
Definição e
levantamento
técnico das moradias
Aulas teóricas +
Material didático
Aulas práticas
+ Reforma
das moradias
(acompanhadas)
Criação de grupo
de Whatsapp
para estimular o
fortalecimento do
grupo Parcerias com
empresas do setor
para inserção no
mercado de trabalho
Formatura — Entrega
de certificados
Empreendedorismo
+ Assessoria MEI
297
14_
TÓPICOS EM MONITORAMENTO
E AVALIAÇÃO
14.1_ Processos de monitoramento e
avaliação
AUTORES
299
Guia de Urbanismo Social
O QUE É MONITORAMENTO?
Monitoramento diz respeito à coleta de indicadores junto à população-alvo
ou beneficiários de determinado programa ou projeto ao longo do tempo.
300
Capítulo 14 : Tópicos em Monitoramento e Avaliação
301
Guia de Urbanismo Social
ÁRVORE DE PROBLEMAS
DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO
BENCHMARKING
302
Capítulo 14 : Tópicos em Monitoramento e Avaliação
TEORIA DA MUDANÇA
ESCOLHA DE MÉTRICAS
303
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
304
Capítulo 14 : Tópicos em Monitoramento e Avaliação
PLANO AMOSTRAL
CRONOGRAMA DE MEDIÇÃO
305
Guia de Urbanismo Social
306
Capítulo 14 : Tópicos em Monitoramento e Avaliação
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ O Danish Institute for Human Rights disponibiliza online material sobre Diretrizes
e Instrumentos para Avaliação de Impacto em Direitos Humanos (em inglês). As
diretrizes foram originalmente desenvolvidas para negócios de grande escala,
entretanto várias seções são relevantes para outros contextos e podem receber
adaptações para atender projetos menores ou diferentes tipos de atividades,
ou, ainda, serem utilizadas na integração de direitos humanos em avaliações de
impacto socioambiental.
307
Guia de Urbanismo Social
308
15_
CASOS REFERENCIAIS
AUTORES
URBANIZAÇÃO DE FAVELAS:
15.16_ “Booxhibition”: imaginando
o futuro
15.8_ Programa Favela-Bairro, Rio
de Janeiro
Guia de Urbanismo Social
15.1_ INTRODUÇÃO
312
Capítulo 15 : Casos Referenciais
PUI
MEDELLÍN
NORORIENTAL
POPULAÇÃO
2.376.337 170.000
(HAB)
313
Guia de Urbanismo Social
CONTEXTO
1 EDU – URBAM EAFIT (2012). Equipo Proyecto Urbano Integral - PUI - Zona Nororien-
tal y Equipo Proyecto de Consolidación Habitacional de la Quebrada Juan Bobo 2004-
2007, Medellín.
2 Idem.
314
Capítulo 15 : Casos Referenciais
315
Guia de Urbanismo Social
6 Op. cit.
316
Capítulo 15 : Casos Referenciais
O Metrocable (teleférico, robusto elemento de inclusão via mobilidade urbana, sempre integrado aos espaços
públicos e demais elementos do PUI.
Foto: Carlos Leite.
A promoção de acessibilidade aos territórios periféricos — aqui o famoso Comuna 13, que foi um dos lugares
mais violentos do planeta na década de 1990 — é um elemento essencial da retomada dos espaços públicos com
grande vitalidade.
Foto: Murilo Cavalcante.
317
Guia de Urbanismo Social
Os equipamentos públicos âncora são peças de transformação, qualificação e pacificação nos territórios periféricos,
de alta qualidade arquitetônica, presentes nos PUIs. Aqui, a premiada Biblioteca España, em Santo Domingo Savio.
Foto: santiagovm, está licenciado sob CC BY-NC-ND 2.0.
A Biblioteca Parque Tomás Carrasquilla, nas Comunas 6 e 7, com o território do PIU Nororiental ao fundo
Foto: Omar Uran, está licenciado sob CC BY 2.0.
318
Capítulo 15 : Casos Referenciais
As Unidades de Vida Articulada (UVAs), equipamentos públicos multifuncionais nos territórios periféricos, muitas ve-
zes reaproveitando espaços ociosos como reservatórios de água.
Foto: Aline Cardoso.
319
Guia de Urbanismo Social
▸ Atuação de atores-chave:
320
Capítulo 15 : Casos Referenciais
321
Guia de Urbanismo Social
Formado por especialistas Gestão dos recursos, qualidade e Grupo interdisciplinar que apoia
em gestão de projetos, com tempo de execução, e supervisão o desenvolvimento do projeto e
coordenação do grupo operacional. das obras. demais atividades.
APRENDIZADOS
323
Guia de Urbanismo Social
324
Capítulo 15 : Casos Referenciais
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Capítulo 02.
▸ PUI Nororiental.
325
Guia de Urbanismo Social
CIDADE DO
IZTAPALAPA
MÉXICO
POPULAÇÃO
9.209.944 1.835.486
(HAB)
326
Capítulo 15 : Casos Referenciais
CONTEXTO
PROJETO UTOPIAS
7 (UNODC) 2021.
8 (UNODC) 2021.
330
Capítulo 15 : Casos Referenciais
O território de vulnerabilidade social de Iztapalapa, na Cidade do México, e a inserção das Utopias; assim como em Me-
dellín, equipamentos públicos são âncora de programa multifuncional e elementos de referência e vitalidade urbana.
Fotos: Laura Janka.
331
Guia de Urbanismo Social
332
Capítulo 15 : Casos Referenciais
!
PARA SABER MAIS, VER:
2 Idem.
333
Guia de Urbanismo Social
15.4_ COMPAZ
CENTRO COMUNITÁRIO DA PAZ,
RECIFE
POPULAÇÃO
1.661.017 7.703 41.164 9.634 12.629
(HAB)
Tabela: relação entre a área e a população de Recife e área de intervenção dos bairros.
Fonte: Recife: IBGE (2021) / Bairros: Prefeitura de Recife (2020).
CONTEXTO
4 Prefeitura do Recife. Recife 500 anos lança estratégias para pensar a cidade a
longo prazo. Recife: Prefeitura do Recife, 2019.
335
Guia de Urbanismo Social
▸ Prefeitura de Recife;
▸ Secretaria de Governo;
▸ Polícia Militar;
▸ Grupo Fiat;
▸ Grupo Parvi;
Os Compaz em Recife se tornaram rapidamente a maior referência no Brasil ao urbanismo social de Medellín
no que se refere à implantação nos territórios de vulnerabilidade social dos referenciais equipamentos públicos
âncora, com programas diversificados e potencializando a vitalidade urbana das comunidades locais.
Foto: Murilo Cavalcanti.
337
Guia de Urbanismo Social
RESULTADOS
!
PARA SABER MAIS, VER:
PADRE CANAÃ
AMINTAS CABANA- ANTÔNIA PARAUA- JURUNAS/ TERRA
BRUNO DOS GUAMÁ
PINHEIRO GEM CORRÊA PEBAS CONDOR FIRME
SECHI CARAJÁS
ANO DE
2021 2022 2022 2021 2022 2022 2021 2022 2023
INAUGURAÇÃO
Mapa: recorte da região metropolitana de Belém e a inserção das Usinas da Paz (laranja).
Fonte: Google Earth, edição própria.
340
Capítulo 15 : Casos Referenciais
CONTEXTO
A atuação nos Territórios pela Paz foi pautada pelo Plano de Ação
Integrada, baseado em duas etapas de ação. A primeira, intitulada
choque operacional, constitui um conjunto de operações e planos
táticos pelas polícias civil e militar, partindo de um momento de
ação mais incisiva e se diluindo até uma fase de estabilização
e policiamento preventivo. A ideia é fortalecer a relação entre
polícia e comunidade, com a mitigação de confrontos por meio
da estratégia de comunicação permanente em face das ações
externas no interior da comunidade afetada. A segunda etapa é
chamada atuação Integral. Dela participam todas as secretarias,
fundações e órgãos do estado que integram o eixo de políticas de
inclusão social, com execução coordenada pela Seac. Segundo
a apresentação do programa2, os projetos organizam-se em sete
eixos temáticos principais para a promoção do desenvolvimento
territorial, da cidadania participativa e da mediação de conflitos:
1 A Seac foi criada pela Lei nº 9.045, em 29 de abril de 2020, como órgão da Admi-
nistração Direta do Poder Executivo.
Usinas da Paz
342
Capítulo 15 : Casos Referenciais
▸ UsiPaz Parauapebas;
▸ UsiPaz Jurunas/Condor;
▸ UsiPaz Guamá.
343
Guia de Urbanismo Social
RESULTADOS
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Usinas da Paz.
COMUNIDADES 2 2 4 37 6 4 1
Tabela: comunidades e famílias impactadas pelo programa Mais Vida nos Morros
entre os anos de 2016 e 2022.
Ao todo foram 56 comunidades e 12.488 famílias, beneficiando diretamente cerca de
55 mil pessoas.
Fonte: Programa Mais Vida nos Morros.
346
Capítulo 15 : Casos Referenciais
CONTEXTO
1 PONZI, Túlio; LEITE, Carlos. Urbanismo Social com as cores do Recife. Revista
Piauí, 2021.
347
Guia de Urbanismo Social
348
Capítulo 15 : Casos Referenciais
“Se você pudesse vivenciar uma cidade a partir de 95 cm — a altura de uma criança
de 3 anos —, o que mudaria?” Esse lema do Programa Urban 95 da Fundação Ber-
nard van Leer, parceira da prefeitura no programa Mais Vida nos Morros, ganhou
escala e se tornou uma referência em termos de intervenções com entregas rápi-
das nos territórios de vulnerabilidade social — neste caso, os mais de 50 morros de
Recife —, com foco na geração de espaços públicos e na promoção da vida infantil
na cidade.
Fotos: Edson Holanda.
349
Guia de Urbanismo Social
METODOLOGIA
▸ Baixo custo;
▸ Rápida implementação;
▸ Alto impacto.
RESULTADOS
351
Guia de Urbanismo Social
DISTRITOS
POPULAÇÃO
12.396.372 281.824 107.395 93.187
(HAB)
Mapa: a inserção dos três territórios iniciais do Programa Urbanismo Social (laranja)
na cidade de São Paulo.
Fonte: Google Earth, edição própria.
352
Capítulo 15 : Casos Referenciais
CONTEXTO
353
Guia de Urbanismo Social
1 Idem.
354
Capítulo 15 : Casos Referenciais
355
Guia de Urbanismo Social
356
Capítulo 15 : Casos Referenciais
METODOLOGIA
357
Guia de Urbanismo Social
DIAGRAMA: METODOLOGIA
CARDÁPIO DE AÇÕES
(MACROTEMAS)
PRIORIZAÇÃO
(A SER DESENVOLVIDO
A PARTIR DE 2021)
Fonte: Pacto pelas Cidades Justas. Produto 5 - Relatório Final, 2020. op.cit., adaptação: Núcleo de Urbanismo Social.
358
Capítulo 15 : Casos Referenciais
→ Mobilidade e infraestrutura;
→ Vulnerabilidades sociais;
359
Guia de Urbanismo Social
Fase 2_ Planejamento
360
Capítulo 15 : Casos Referenciais
1 O Pacto pelas Cidades Justas utiliza como referência o estudo A lupa na cidade:
painel de indicadores de desenvolvimento sustentável de áreas urbanas vulnerá-
veis, desenvolvido pelo Insper Metricis (Núcleo para Medição de Impacto Socioam-
biental), sob o financiamento da Fundação Tide Setubal e do Itaú Social, 2020.
361
Guia de Urbanismo Social
Fonte: Pacto pelas Cidades Justas. Produto 5 - Relatório Final, 2020. Op.cit. Adaptação: Núcleo de Urbanismo
Social.
2 Pacto pelas Cidades Justas. Produto 5 - Relatório Final, 2020. Op. cit.
362
Capítulo 15 : Casos Referenciais
APLICAÇÃO
363
Guia de Urbanismo Social
PLANO DE BAIRRO DO
JARDIM PANTANAL: UMA
CONSTRUÇÃO COLETIVA EM
PROCESSO
364
Capítulo 15 : Casos Referenciais
mobilidade e espaços públicos, educação, saúde articulação de decisões com os órgãos que fazem
e apoio às mulheres, que passaram a trabalhar a gestão das áreas da várzea do rio Tietê; a neces-
com as principais demandas do território. Esses sidade de garantir uma área de amortecimento,
grupos, compostos pela comunidade e pelas desocupada e com vegetação de várzea, para
equipes das instituições parceiras, mapearam os respeitar o transbordamento natural do rio; a
lugares de afeto, problemas e desafios a serem prevenção de tipologias residenciais compatíveis
enfrentados, sonhos e desejos, e passaram a com áreas sujeitas a alagamentos; e a realização
debater tecnicamente as propostas e possibi- de projeto de drenagem, com intervenções no
lidades de transformação do Jardim Pantanal. sistema viário e espaços públicos para mitigar
os efeitos dos alagamentos sobre a população.
Para cada ação necessária foram identificados
os caminhos de abordagem no campo da política Os desafios relacionados à mobilidade local e
pública e da organização social da comunidade, ao uso dos espaços públicos, que se articulam
bem como os prazos de implantação, para que de forma direta com a questão ambiental, tam-
até a conclusão da segunda etapa do Plano as bém tiveram protagonismo nos debates e na
demandas do Jardim Pantanal estejam detalha- construção de diretrizes com a comunidade. O
das e pactuadas com a sociedade e com o poder Jardim Helena, onde está localizado o Jardim
público, e possam então ser implementadas. Pantanal, é o distrito com maior número de via-
gens por bicicletas do município de São Paulo,
Enfrentar o impacto das águas sobre o território
segundo a pesquisa Origem e Destino (Pesquisa
do Jardim Pantanal e sobre sua população é
OD, desenvolvido pelo Metrô). A infraestrutura
um dos maiores desafios do Plano de Bairro, e
local, no entanto, é insuficiente para que esses
estamos ainda caminhando para encontrar as
ciclistas, e também os pedestres, se locomovam
melhores soluções e as possibilidades de viabili-
com segurança e conforto, seja pela falta de
zá-las. Realizamos o monitoramento das chuvas
pavimentação e drenagem, seja pela desarticu-
com os moradores, ouvimos famílias e trabalha-
lação com o plano cicloviário municipal e com as
dores para compreender os desafios existentes,
principais redes de transporte coletivo.
conversamos com muitos grupos de pesquisa e
técnicos especializados, nos informamos com O grupo de trabalho de mobilidade, debruça-
engenheiros experientes da Escola Politécnica do sobre estes desafios, desenhou caminhos e
da Universidade de São Paulo e do programa construiu propostas conjuntas, que passam pela
Soluções para Cidades da ABCP (Associação Bra- extensão do sistema cicloviário e suas conexões,
sileira de Cimento Portland), que nos ajudaram a melhorias das ciclovias existentes, ampliação dos
elaborar as primeiras diretrizes preliminares de bicicletários e instalação de paraciclos, implan-
drenagem e mitigação dos efeitos das chuvas. tação de uma ciclorrota turística e ambiental e
Dentre elas está a necessidade de integração também ações de mobilidade relacionadas com a
entre o planejamento das obras de saneamento, necessidade de geração de trabalho e renda para
drenagem e reurbanização e regularização fun- a comunidade, como a implantação do Programa
diária para evitar a sobreposição de soluções; a Delivery Justo como política pública e a inclusão
365
Guia de Urbanismo Social
do Projeto Bike Literária junto às bibliotecas das que busca transformações no percurso. Esse
escolas do Jardim Helena. Projetos pontuais planejamento busca, sobretudo, identificar a
também foram detalhados, como a criação de articulação necessária entre os diversos setores
uma rota segura, pontos de parada e acesso de da sociedade para que ações sejam viabilizadas.
passageiros para os automóveis de aplicativos, O Plano de Bairro, quando consolidado, será
que hoje não acessam o território com receio ferramenta de trabalho e de luta para todos
das enchentes ou da insegurança, e a criação aqueles que o construíram. Acreditamos que o
de estacionamentos comunitários para que os papel não é eterno, mas as ideias são, e a vontade
moradores possam estacionar com segurança de um povo também.
sem adentrar as ruas sujeitas a alagamentos.
Convidamos você a pensar junto conosco cada
Essas são algumas das necessidades dos terri- uma das ações que estão sendo propostas para
tórios que foram trabalhadas com a comunidade o Plano de Bairro do Jardim Pantanal!
para serem transformadas em propostas e po-
lítica públicas. Mensurar as ações, as respon-
sabilidades, os recursos e seus prazos, desde Para conhecer o Plano de Bairro do Jardim Pan-
o início, é fundamental para a consolidação tanal – Fase 1 na íntegra, acesse o link.
de um planejamento orgânico e não estático,
!
PARA SABER MAIS, VER:
366
Capítulo 15 : Casos Referenciais
PROGRAMA PROGRAMA
RIO DE JANEIRO FAVELA-BAIRRO FAVELA-BAIRRO
(FASE I (FASE I
NÚMERO DE
763 70 88
FAVELAS
367
Guia de Urbanismo Social
368
Capítulo 15 : Casos Referenciais
DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA
369
Guia de Urbanismo Social
Seleção de favelas
Diante da dimensão do problema — de uma população de 5,5 milhões
na época, algo em torno de oitocentos mil se concentravam em
cerca de setecentas favelas, de vários tamanhos e características
geográficas distintas —, o primeiro desafio foi definir um critério
de priorização de tais conglomerados habitacionais, com base em
critérios técnicos. Para isso foi desenvolvido um sistema pontos que
consideraram três variáveis básicas: o déficit de infraestrutura, o
nível de pobreza (utilizando como proxi a percentagem de domicílios
liderados por mulheres) e uma variável estratégica que levava em
370
Capítulo 15 : Casos Referenciais
Execução integrada
Uma vez que os planos de intervenção urbanística eram completados
e validados pelas comunidades, a prefeitura efetuava a licitação
para as obras de infraestrutura e eventuais unidades habitacionais.
Um fator importante a destacar foi a orientação de que as obras
em cada favela fossem contratadas com um só empreiteiro, o que
assegurava tanto o planejamento integrado dessas ações como a
coordenação na execução das várias intervenções setoriais (redes
subterrâneas, pavimentação, iluminação pública etc.). As firmas
contratadas instalavam-se fisicamente e eram incentivadas a utilizar
a mão de obra da própria comunidade. Isso facilitava bastante a
sua operação e as relações com a população local.
Reassentamento
Um dos aspectos mais complexos dos projetos de melhoramento de
bairros se refere aos reassentamentos. As intervenções urbanas em
muitos casos requerem a abertura de vias de acesso para os serviços
públicos, como coleta de lixo, manutenção de drenagem ou mesmo
ambulâncias e bombeiros. Muitas vezes, também é necessário
realocar domicílios situados em áreas sujeitas a deslizamento de
terra e outras situações de perigo. Isso implica a necessidade de
372
Capítulo 15 : Casos Referenciais
373
Guia de Urbanismo Social
Avaliação
Várias avaliações foram efetuadas sobre o Favela-Bairro. Uma
das mais completas se baseou nos indicadores desenhados es-
pecificamente no início do programa e utilizou a metodologia
de diferenças-em-diferenças7. Esse método implica medir uma
série de indicadores nas comunidades que tiveram intervenções
do programa e em um grupo de controle, consistindo em favelas
com características similares que não tenham essas intervenções.
Esses indicadores são medidos antes e depois do programa, a
fim de comparar as diferenças entre os que integram cada grupo.
Nessa avaliação foram utilizados indicadores simples, ou seja, a
cobertura de cada um dos serviços e obras implementados pelo pro-
grama (água, esgoto, drenagem, acesso seguro etc.), e indicadores
compostos, em particular os de Integração Urbana (combinando o
acesso a serviços públicos, equipamentos urbanos e conectividade
à cidade), e o Índice de Desenvolvimento Social (acesso a serviços
de saúde, nível educacional, renda familiar etc.). Outro indicador
significativo foi o de valorização imobiliária, que representa um
proxi de benefícios ao refletir o conjunto de atributos externos
aos domicílios, que se traduzem na melhoria da qualidade do seu
entorno e, consequentemente, no aumento seu valor de mercado.
Conclusões
A metodologia aplicada ao Favela-Bairro foi sendo aperfeiçoada
e consolidada ao longo de vários projetos financiados pelo BID,
7 Para saber mais, ver DE DUREN, Nora; OSORIO, Rene. Bairro: 10 anos depois.
IABD, 2020.
374
Capítulo 15 : Casos Referenciais
375
Guia de Urbanismo Social
376
Capítulo 15 : Casos Referenciais
Contribuição do Favela-Bairro
É nesse contexto que se pode avaliar o significado e a contribuição
do Programa Favela-Bairro para a democratização da cidade do
Rio de Janeiro. E, por extensão, sua influência em outras cidades,
daqui e do exterior, sendo expressivo o caso da Colômbia, bem
como de outros países da América Latina.
377
Guia de Urbanismo Social
Um caminho inovador
Como as favelas se apresentam com grande variedade morfológica,
não seria desejável a implantação de um modelo preestabelecido;
mas, ao contrário, o caminho foi o da explicitação de uma estrutura
urbana que aflorasse do próprio assentamento e que pudesse ser
concebida em acordo com os próprios moradores. Essa estrutura
deveria buscar a interligação mais clara possível às estruturas
dos bairros do entorno, de modo a criar uma rede urbana inter-
dependente.
378
Capítulo 15 : Casos Referenciais
O poder do projeto
Neste Guia, que ressalta, com justiça, o valor do urbanismo, tenho
que destacar que o processo de projeto arquitetônico-urbanístico
foi condição essencial para o bom trabalho no Favela-Bairro.
Foram elaborados projetos completos e abrangentes de cada
favela, atitude pioneira, com ampla participação das lideranças
locais e dos moradores. Afirmamos, com convicção, que o desenho
arquitetônico-urbanístico tem papel central para a articulação
entre os diversos e eventualmente conflitantes interesses, seja
379
Guia de Urbanismo Social
Cidade e cidadania
A construção de cidades com maior equidade depende da uni-
versalização das infraestruturas e serviços públicos a partir da
realidade urbana que está posta. A urbanização das favelas é um
dos caminhos, testado, aprovado, e que, infelizmente, sofre pela
380
Capítulo 15 : Casos Referenciais
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Capítulo 2.
▸ CONDE, Luiz Paulo; MAGALHÃES, Sérgio. Favela-Bairro: uma outra história do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed. Rio Books, 2004.
381
Guia de Urbanismo Social
15.9_
PROGRAMA MANANCIAIS,
SÃO PAULO
ÁREA DE
BACIA
SÃO PAULO PROTEÇÃO DOS BACIA BILLING
GUARAPIRANGA
MANANCIAIS
POPULAÇÃO
12,3 milhões 2,3 milhões 1,16 milhões 1,14 milhões
(HAB)
DEMARCAÇÃO FAVELAS
Mapa: São Paulo e as bacias Guarapiranga e Billings (em branco), com as demarcações de favelas (em vermelho).
Fonte: Google Earth, edição própria.
382
Capítulo 15 : Casos Referenciais
383
Guia de Urbanismo Social
384
Capítulo 15 : Casos Referenciais
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Guia de Urbanismo Social
386
Capítulo 15 : Casos Referenciais
387
Guia de Urbanismo Social
388
Capítulo 15 : Casos Referenciais
▸ Planejamento social;
389
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
390
Capítulo 15 : Casos Referenciais
O projeto premiado Cantinho do Céu, parte do Programa Mananciais, desenvolvido pela Sehab da Prefeitura de
São Paulo, dá oportunidade para a comunidade local vivenciar as margens da represa, dentre vários espaços pú-
blicos de alta qualidade promovidos neste território na periferia sul da cidade.
Fotos: Heloísa Takahama.
391
Guia de Urbanismo Social
2 Idem.
À medida que vamos nos aproximando das cotas mais baixas, mais
provisórias são as construções e piores as condições sanitárias (o
córrego é um canal de esgoto a céu aberto).
393
Guia de Urbanismo Social
394
Capítulo 15 : Casos Referenciais
395
Guia de Urbanismo Social
Cabe-nos, agora, atenção em face dos desdobramentos dessa proposta quando considerado
o tempo histórico, que atribui densidade e sentido à experiência humana nos ambientes
construídos das cidades1.
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Programa Mananciais.
1 RUBANO, Lizete M. (org.). O terceiro território: habitação coletiva e cidade. São Paulo: Vigliecca & Associados, 2015.
396
Capítulo 15 : Casos Referenciais
POPULAÇÃO 1.200
1.537.704
(HAB) (estimada em 2007)
Fonte: Diagonal.
HISTÓRIA
398
Capítulo 15 : Casos Referenciais
PROJETO
399
Guia de Urbanismo Social
400
Capítulo 15 : Casos Referenciais
401
Guia de Urbanismo Social
METODOLOGIA
DIAGNÓSTICO
402
Capítulo 15 : Casos Referenciais
GERENCIAMENTO
403
Guia de Urbanismo Social
ORGANIZAÇÃO
PLANEJAMENTO
404
Capítulo 15 : Casos Referenciais
EXECUÇÃO
405
Guia de Urbanismo Social
ENTREGA
406
Capítulo 15 : Casos Referenciais
TRABALHO SOCIAL
PLANEJAMENTO
408
Capítulo 15 : Casos Referenciais
EXECUÇÃO
ENTREGA
410
Capítulo 15 : Casos Referenciais
RESULTADOS
411
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
412
Capítulo 15 : Casos Referenciais
57
413
Guia de Urbanismo Social
POPULAÇÃO
436.491 (2021) 20.251 (2010) 5.497 (2010)
(HAB)
Tabela: relação entre área e população de Boa Vista e Bairros do Programa Braços
Abertos.
Fonte: Diagonal.
414
Capítulo 15 : Casos Referenciais
APRESENTAÇÃO
CONTEXTO
415
Guia de Urbanismo Social
METODOLOGIA
416
Capítulo 15 : Casos Referenciais
INÍCIO DO PROJETO
3 O Censo de 2000, no início do governo (2001), não havia sido disponibilizado pelo
IBGE, e utilizar dados de 1991 não fazia sentido.
417
Guia de Urbanismo Social
PESQUISA CENSITÁRIA
418
Capítulo 15 : Casos Referenciais
DIAGNÓSTICO
419
Guia de Urbanismo Social
420
Capítulo 15 : Casos Referenciais
PRIMEIRAS AÇÕES
421
Guia de Urbanismo Social
GESTÃO COMPARTILHADA
422
Capítulo 15 : Casos Referenciais
RESULTADOS
423
Guia de Urbanismo Social
Projeto Reluz.
Foto: Diagonal.
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ Webinários do
Laboratório Arq.Futuro
de Cidades do Insper —
Utopias, em Iztapalapa,
México, e Programa
Projeto Reluz. Braços Abertos, Boa
Foto: Diagonal. Vista, Roraima.
424
Capítulo 15 : Casos Referenciais
425
Guia de Urbanismo Social
INTRODUÇÃO
426
Capítulo 15 : Casos Referenciais
427
Guia de Urbanismo Social
428
Capítulo 15 : Casos Referenciais
429
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
430
Capítulo 15 : Casos Referenciais
431
Guia de Urbanismo Social
432
Capítulo 15 : Casos Referenciais
433
Guia de Urbanismo Social
!
PARA SABER MAIS, VER:
435
Guia de Urbanismo Social
436
Capítulo 15 : Casos Referenciais
!
PARA SABER MAIS, VER:
437
Guia de Urbanismo Social
438
Capítulo 15 : Casos Referenciais
DESAFIOS DA URBANIZAÇÃO NA
AMÉRICA LATINA E NO CARIBE
439
Guia de Urbanismo Social
440
Capítulo 15 : Casos Referenciais
441
Guia de Urbanismo Social
442
Capítulo 15 : Casos Referenciais
!
PARA SABER MAIS, VER:
▸ KREBS, Roland, TOMASELLI, Markus (ed.). Urban Design Lab handbook. Berlin:
Jovis, 2019.
443
Guia de Urbanismo Social
15.16_ BOOXHIBITION:
IMAGINANDO O FUTURO
444
Capítulo 15 : Casos Referenciais
445
Guia de Urbanismo Social
446
O território importa. As pessoas importam.
Em um país com tantas desigualdades
sociais, é no uso dos espaços em nossas
cidades que elas se revelam — e demandam
soluções urgentes. Este Guia de Urbanismo
Social apresenta um “cardápio” amplo de
tópicos e temas sobre a pauta ao longo de
seus quinze capítulos — integração e terri-
torialização de políticas públicas, planos de
ação local e questões ligadas a, mulheres
e territórios, saúde, cidades e crianças, go-
vernança e regulação urbana, dentre outros
–, sempre com uma linguagem acessível e
preocupações de ordem prática, visando
contribuir para a melhoria da vida sobretudo
das comunidades mais vulneráveis.