Isolamento e Preservação Dos Locais de Crime Com Cadáver
Isolamento e Preservação Dos Locais de Crime Com Cadáver
Isolamento e Preservação Dos Locais de Crime Com Cadáver
CADÁVER
a) Considerações iniciais
Um dos grandes e graves problemas das perícias em locais onde ocorrem crimes, é
a quase inexistente preocupação das autoridades em isolar e preservar
adequadamente um local de infração penal, de maneira a garantir as condições de
se realizar um exame pericial da melhor forma possível.
No Brasil, não possuímos uma cultura e nem mesmo preocupação sistemática com
esse importante fator, que é um correto isolamento do local do crime e respectiva
preservação dos vestígios naquele ambiente.
Os exames periciais realizados nos locais onde ocorreram as infrações penais, são
tão variados e complexos que exigem dos peritos criminais uma série de cuidados e
precauções, no sentido de bem desempenharem essa importante função.
O local de crime pode ser definido, genericamente, como sendo uma área física
onde ocorreu um fato - não esclarecido até então - que apresente características
e/ou configurações de um delito.
Mais especificamente, local de crime é todo espaço físico onde ocorreu a prática de
infração penal. Portanto, entende-se como local de crime qualquer área física, que
pode ser externa, interna ou mista.
"Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas por
terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de mãos
imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os
dados preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos."
Os tipos de delitos que podem ocorrer nos locais de crime são inúmeros. No
entanto, para fins de facilidade no fluxo de realização dos exames periciais,
procura-se fazer três divisões básicas: crimes contra a pessoa; acidente de tráfego;
e, crimes contra o patrimônio.
O estudo e metodologia dos exames periciais nos locais onde ocorreram esses tipos
de crimes, fazem parte de estudo autônomo em face da sua complexidade e
cuidados que devem ser observados pelos peritos criminais. Como aqui nos
interessa, nesta fase, somente apresentar os aspectos gerais sem aprofundarmos
esse assunto, uma vez que voltaremos ao tema mais adiante.
Acidente de tráfego
Gostaríamos de chamar a atenção de todos para um cuidado que devemos ter nas
ocorrências de trânsito. Tradicionalmente dentro da Polícia e da própria Perícia,
costuma-se generalizar essas ocorrências, nominando-as com a expressão
"acidente de trânsito".
Além dos crimes tradicionais e mais comuns ocorridos contra o patrimônio, nesta
classificação estarão todos os demais exames periciais externos, excetuando-se os
de acidente de tráfego e os de crimes contra a pessoa.
b) O isolamento e a preservação
Um dos requisitos essenciais para que os peritos possam realizar um exame pericial
de maneira satisfatória, é que o local esteja adequadamente isolado e preservado,
a fim de não se perder qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos atores da
cena do crime.
Este é um problema que os peritos encontram quase sempre nos locais de crime,
pois não há no Brasil uma tradição de isolarmos e preservarmos o local de infração
penal. Esta falta de tradição é da própria população que, ao passar por um local,
acaba se aproximando de tal maneira que se desloca por entre os vestígios. Da
população, em princípio, é até compreensível a curiosidade natural em olhar tais
fatos, no entanto, as dificuldades são maiores quando a própria polícia, que é a
responsável por esse mister, na grande maioria das situações não cumpre a sua
obrigação prevista em lei.
Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das
coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica
dos fatos.
É preciso ficar muito claro para todos nós o quanto é importante se preservar
adequadamente os vestígios produzidos pelos atores (vítima e agressor) da cena do
crime, como única forma de reunirmos condições para chegar ao esclarecimento
total dos delitos.
A área a ser isolada nos casos de crimes contra a pessoa compreenderá, a partir do
ponto onde esteja o cadáver ou de maior concentração dos vestígios até além do
limite onde se encontre o último vestígio que seja visualizado numa primeira
observação. Essa área terá formato irregular, pois dependerá da disposição dos
vestígios e também não se poderá estabelecer tamanhos ou espaços prévios.
Porém, isso não é regra sempre, pois qualquer policial que for comunicado de um
possível fato delituoso, deverá de imediato tomar as providências para averiguar a
ocorrência.
b.2.1) Responsabilidade do primeiro policial
Quando o primeiro policial chega num local de infração penal, ele terá que observar
uma rotina de procedimentos, a fim de não prejudicar as investigações futuras.
Num local onde existam vítimas vivas no local, a primeira preocupação do policial
deverá ser em providenciar o respectivo socorro, a fim de encaminhar para o
hospital de atendimento de emergência. Tomadas as providências de socorro, o
policial deve isolar o local e garantir a sua preservação, não permitindo nenhum
acesso ao interior daquela área. Deve ainda, sempre que possível, rememorar a
sua movimentação na área do delito, a fim de informar aos peritos quando do
exame pericial, no sentido de colaborar com eles para que não percam tempo
analisando possíveis vestígios (ilusórios) deixados pelo policial e que nada terá a
ver com os vestígios do crime, mas que demandará tempo de análise por parte dos
peritos até chegarem a essa conclusão.
Falamos isso porque existem casos reais em que os policiais não fizeram tal
averiguação e, somente quando os peritos chegaram ao local é que, ao checarem,
verificaram que a vítima ainda estava viva.
Porém, para adentrar no local onde está a vítima deve fazê-lo mediante
deslocamento em linha reta. Chegando junto à vítima, fará as verificações para
constatar o óbito. Caso esteja viva, deverá providenciar o socorro o mais urgente
possível, deixando de se preocupar – naquele momento - com possíveis
preservações dos vestígios, pois o mais importante é aquela vida que deve ser
salva. No entanto, constatado que a vítima está morta, deve então se preocupar
exclusivamente com a preservação dos vestígios.
Neste caso, não deverá movimentar o cadáver e nem tocá-lo por qualquer motivo,
pois, a partir daquele momento, somente os peritos é que devem trabalhar naquele
local, até a sua liberação à autoridade policial. Assim, deve voltar de maneira mais
lenta pelo mesmo trajeto feito quando da entrada e, ao mesmo tempo, observar o
seu percurso para verificar o acréscimo ou adulteração de qualquer vestígio que ele
tenha produzido naquela sua movimentação. Guardará essas informações para
repassar aos peritos quando chegarem ao local.
A seguir vamos dar um exemplo, em gráfico, de uma área delimitada pelo primeiro
policial que chega ao local do crime, com a sua respectiva entrada até a vítima para
verificação e confirmação do óbito.
Assim, em muitos casos a autoridade policial não poderá se deslocar até a área
onde ocorreu o delito, porém, nessas situações, deve tomar providências e
determinar que um agente seu compareça e realize aquelas tarefas em seu nome.
Portanto, o fato de - mesmo justificadamente - não puder comparecer ao local do
crime, não o exime da responsabilidade legal.
Porém, a partir dessa obrigação decorre uma outra, qual seja, a de que é ele o
responsável por todo esse processo operacional. E, em sendo, deverá ter o controle
dos fatos ocorridos antes da sua (ou de seu agente) chegada ao local do crime.
Essa falta de preocupação por parte de populares nós ainda vamos conviver por
muito tempo, uma vez que não temos no Brasil nenhum trabalho de campanha
educativa nesse sentido. Este fator é também agravado porque a grande maioria
dos policiais (civis ou militares) não tiveram uma formação adequada nas
Academias, ressaltando a importância do isolamento e preservação de local,
acarretando erros primários provocados por aqueles que deveriam ser o exemplo
para a população.