Dist-Equil Acido Basico
Dist-Equil Acido Basico
Dist-Equil Acido Basico
(Interpretação da gasometria)
O perfeito equilíbrio entre ácidos e bases depende de uma série de reações que
procuram corrigir os desvios da homeostase.
A manutenção da concentração de hidrogênio nos líquidos do organismo dentro da
estreita faixa de normalidade é essencial para o pleno desenvolvimento das funções
biológicas, uma vez que o rendimento das reações bioquímicas depende do pH; esse
objetivo é alcançado graças à contribuição de sistemas e órgãos diferentes atuando de
maneira conjunta.
Para a melhor compreensão do equilíbrio ácido-base, o conhecimento dos seguintes
conceitos faz-se necessário:
Ácido e base:
Ácido é uma substância doadora de íons hidrogênio (H+); base é uma substância receptora
de íons H+
pH:
Representa o logaritmo negativo da concentração de H+ e é expresso em moles por litros de
solução. O seu valor normal varia de 7,35 a 7,45.
Sistemas tampões, regulação renal e respiratória:
Para a manutenção do pH em níveis normais, o organismo recorre aos referidos
mecanismos. Como isso acontece?
Os sistemas tampões (químicos) que neutralizam ácidos e bases, produzidos ou
introduzidos no organismo.
O mecanismo respiratório regula a concentração de CO2.
O mecanismo renal corrige o excesso de ácidos e bases.
CO2 + H2O
Assim, os ácidos não voláteis são tamponados evitando grandes desvios no pH até
que haja a excreção renal de ácidos e regeneração dos tampões (vide à frente sobre o
mecanismo renal na regulação do pH).
Devido à importância do bicarbonato e do CO2 na regulação do pH, o pH sanguíneo
depende da relação bicarbonato/ácido carbônico no plasma e no líquido extracelular. Em
condições normais, a relação bicarbonato/ácido carbônico é 20/1 e o pH é 7.4
A determinação do pH do sangue é assim feita:
EQUAÇÃO DE HENDERSON-HASSELBALCH
pH = pK + log [ HCO3- ]
[H2CO3-]
(500) (1)
2- Regulação Respiratória do pH
Inicialmente, vejamos o que vem a ser pCO 2 (lê-se: pressão parcial do CO2) : é
a pressão que este gás exerceria se ocupasse sozinho todo o recipiente em que se encontra:
as ações químicas e fisiológicas de um gás dependem da pressão que este gás exerce.
PaCO2 (baixa)
PaCO2
pH
INFLUENCIAM
pH = pK + log [ HCO3- ]
paCO2 X 0.03
HCO3
CENTRO RESPIRATÓRIO
Movimentos respiratórios
Freqüência ou profundidade
RESULTADO
pH SE MANTÉM
CENRO
HCO3RESPIRATÓRIO
HCO3
Movimentos respiratórios
Freqüência ou profundidade
RESULTADO
A relação HCO3-/H2CO3
se mantém
O pH SE MANTÉM
NOTAS:
Como a PaCO2 e teor de H2CO3 no sangue diminuem a despeito de se manter
inalterada a freqüência respiratória? A pressão parcial de um gás é inversamente
proporcional ao volume em que esteja contido; o volume do pulmão pode aumentar por
meio de respirações profundas e, portanto, teremos diminuição da PaCO 2 a despeito de
inalterada a freqüência respiratória.
O declínio da PaCO2 é predicto pela fórmula : 1.5 X HCO 3- plasmático + 8.( para
cada 1 mEq/l na diminuição do HCO3plasmático , a PaCO2 diminui 1 a 1.3 mmHg).
Para cada aumento de 1 mEq/l no HCO3plasmático, a PaCO2 aumenta 0.7-0.8
mmHg.
Para cada 10 mmHg de aumento na PaCO 2, o HCO3 -diminui de 1(caso agudo) a
3.5 mEq/l (caso crônico).
Para cada 10 mmHg de diminuição da PaCO2 , o HCO3 -aumenta de 2 (caso agudo)
a 4 mEq/l (caso crônico).
ENQUANTO
O pH SERÁ
MANTIDO
Em resumo:
A pressão parcial de CO2 alveolar (PACO2), a pressão parcial de CO2 arterial (PaCO2) e o
ácido carbônico estão sempre em equilíbrio. Assim, se houver alteração em um deles, a
equação se ajusta e haverá alterações nos demais, sempre buscando um equilíbrio. Levando
em consideração um valor de PaCO2 ideal em torno de 40 mm de Hg temos que: se a
concentração de ácido carbônico se elevar, haverá aumento de PaCO2 que, por sua vez vai
estimular o centro respiratório produzindo hiperventilação. Tal fato ocasionará queda da
PaCO2 por maior eliminação do CO2.
As alterações do bicarbonato também levam a uma alteração respiratória. Se houver
aumento da concentração de bicarbonato (por excesso de infusão por exemplo) o centro
respiratório reage com diminuição da frequência e profundidade dos movimentos
respiratórios, elevando a PaCO2 . Em conseqüência haverá um aumento do ácido carbônico
equilibrando novamente a reação. Se ocorrer o contrário e o bicarbonato diminuir, o centro
respiratório aumenta a frequência e a profundidade respiratória, levando a uma diminuição
da PaCO2 e do ácido carbônico tentando equilibrar a equação.
É importante lembrar aqui que os mecanismos compensadores respiratórios são temporários
enquanto que o mecanismo renal é mais duradouro.
H2O CO2
Diagrama da permuta de H+ pelo Na+ do bicarbonato do filtrado urinário.
A-C: anidrase carbônica.
2- ACIDIFICAÇÃO DOS SAIS TAMPÕES DE FOSFATO:
A-C
CO2 + H2O H+
H2CO3 NaHPO4 Na+
NaHCO3 HCO -
3
NaH2PO4
3- SECREÇÃO DE AMÔNIA:
INTERSTÍCIO CÉLULA TUBULAR LUZ TUBULAR
A-C
CO2 + H2O H2CO3
H+
NaCl
HCO3 Na+ CL-
glutamina NH3
NH4 Cl
NaCO3 NH4
URINA:
- pH vem a 4.5
- excreção de HCO3- diminui ou desaparece
- excreção de sais de amônio (NH4Cl) aumenta
- excreção de Na+ e K+ diminuem
Em presença de ALCALOSE, estes mecanismos reguladores diminuem ou cessam:
Após termos visto de que meios o organismo lança mão para “acalmar” H + que
não podem vagar livres pelo organismo, é importante que se frise que há um trabalho em
CONJUNTO para se conseguir tal objetivo. Acompanhe a seqüência do seguinte raciocínio:
1ª linha de defesa: sistemas tampões químicos (ação imediata célula: difusão do H + para
as células (2 a 4 horas).
2ª linha de defesa: pulmões, ajuda em 50% (10 a 30 minutos)
3ª linha de defesa: rins: depende da modificação do intracelular (1 a 2 dias)
A faixa normal do pH sanguíneo vai de 7.35 a 7.45. A faixa extrema compatível com
a vida situa-se entre 6.7 a 7.9
ALCALOSE: termo usado para definir uma concentração de íons H+ no sangue inferior
ao normal. A diminuição da concentração do H+ pode ocorrer em conseqüência de uma
alteração respiratória primária (perda de ácido carbônico): ALCALOSE RESPIRATÓRIA
ou de uma alteração metabólica primária (aumento do teor de bases ou a perda de ácidos
no organismo): ALCALOSE METABÓLICA.
ENTÃO TEMOS:
2. ACIDOSE RESPIRATÓRIA:
As principais causas no RN estão relacionadas ao pulmão, como síndrome de
aspiração meconial, doença de membrana hialina, broncoespasmo, pneumotórax,
edema pulmonar, derrame pleural, depressão do SNC
Correção: - tratar a causa básica
- NaHCO3: nos casos de acidose metabólica concomitante e com controle
das condições ventilatórias.
3.ALCALOSE METABÓLICA
No RN, as causas mais comuns são: perda de líquido gástrico pelo vômito (estenose
hipertrófica de piloro), condições que expoliam potássio (furosemide) e excesso de
NaHCO3.
Correção: tratar a causa básica; dar ao rim condições de excretar o excesso e
NaHCO3 (aporte adequado de cloreto, Na+ e K+).
4.ALCALOSE RESPIRATÓRIA:
No RN as principais causas são: encefalite, meningite, febre, doenças pulmonares,
localizadas, alterações no SNC, ventilação mecânica.
Correção: - nos casos de pH > 7.60, está indicado ventilação mecânica com o objetivo
de aumentar o espaço morto para reter CO2
- tratar a causa básica.
Quanto à relação entre pH e pCO2: para todo aumento de 20 mmHg na PaCO2, o pH
diminui 0.1 unidade; para toda diminuição de 10 mmHg na PaCO2, o pH aumenta 0.1
unidade
5. pH : 7.44
PCO2 : 65.0 Agora temos uma ALCALOSE METABÓLICA
HCO3-: 34.0 COMPENSADA.
BE : +11.0
Este caso não poderia ser uma ACIDOSE RESPIRATÓRIA
COMPENSADA ? Poderia , SE NÃO CONHECÊSSEMOS A
HISTÓRIA DO NOSSO PACIENTE. Este paciente não tem nenhum
fator pulmonar que responsabilize pela hipoventilação e, portanto, esta
HIPOVENTILAÇÃO é SECUNDÁRIA à ALCALOSE METABÓLICA
DESENCADEADA PELA HIPOPOTASSEMIA. LOGO, NUNCA SE
ESQUEÇA DOS DADOS CLÍNICOS AO ANALISAR UMA
GASOMETRIA. AS CONCLUSÕES SERÃO ERRÔNEAS e a
TERAPÊUTICA, evidentemente, um FRACASSO.
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