ATLS
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A aparência externa da ferida penetrante não determina a extensão das lesões internas. É
importante definir a trajetória de uma ferida penetrante e considerar todas as lesões internas
possíveis. A mortalidade associada ao trauma abdominal penetrante está relacionada aos
órgãos intra-abdominais lesionados, sendo o choque hemorrágico refratário a principal causa
da morte.
Lesões no estômago, intestino delgado e colorretais ocorrem com mais frequência após um
trauma abdominal penetrante do que após um traumatismo contuso.
O intestino delgado é o órgão mais comumente lesionado por trauma abdominal penetrante.
O trauma abdominal contuso é causado por dois tipos de força: força de cisalhamento e força
de tração.
As lesões por tração são aquelas relacionadas à compressão ou expansão diretos de um tecido.
O fígado, o baço e o pâncreas geralmente sofrem lesões durante impactos frontais, enquanto
o rim é afetado no caso de impacto direto ao flanco. A compressão direta do abdome também
está associada a um aumento da pressão abdominal, potencialmente acarretando fraturas
pélvicas ou ruptura do diafragma.
À medida que um corpo estranho atravessa uma parte do corpo, ele sofre desaceleração,
transferindo desta forma energia aos tecidos vizinhos. A extensão da lesão tecidual está
relacionada à velocidade a ao tamanho do corpo estranho. Ferimentos por armas de fogo de
alta velocidade trazem mais danos teciduais em torno da trajetória da bala que os causados
por armas de fogo de baixa velocidade.
O trauma abdominal penetrante envolve uma área de tecido menor que o trauma abdominal
contuso. Os órgãos afetados pelo trauma abdominal penetrante dependem do caminho
percorrido pelo corpo estranho à medida que ele atravessa o corpo. É importante entender
que o caminho de uma bala é imprevisível, devido a sua tendência de ricochetear nos ossos. A
trajetória também pode ser enganosa em decorrência de mudanças na posição do corpo desde
o instante da lesão até o instante do exame. As balas também podem se fragmentar ao atingir
os ossos, criando, assim, múltiplas lesões inesperadas.
As lesões penetrantes criam cavitações ao longo de seu percurso e podem levar com elas
material estranho (ou seja, pedaços de roupa). Essas cavitações correm o risco de se
infeccionarem alguns dias após a lesão.
Lesões no estômago, intestino delgado e colorretais ocorrem com mais frequência após um
trauma abdominal penetrante do que após um traumatismo contuso. O intestino delgado é o
órgão mais comumente lesionado por trauma abdominal penetrante. Existe uma alta
incidência de lesão diafragmática no traumatismo toracoabdominal penetrante.
Pacientes com choque hemorrágico grave, sugerido por hipotensão extrema e estado mental
gravemente comprometido (ou seja, coma), necessitam de transfusão sanguínea imediata sem
prova cruzada. Dispositivos para manutenção da pressão arterial e aquecimento do sangue
podem ser úteis em situações de hemorragia profunda. Com transfusões de grande volume, a
coagulação pode ser afetada, devendo ser monitorada e tratada com plasma fresco congelado
e plaquetas, conforme necessário. Esses pacientes necessitam de, pelo menos, dois acessos
intravenosos periféricos funcionais de grosso calibre, para a administração de fluidos, e de um
cateter de Foley, para permitir o monitoramento rigoroso do débito urinário. Se for difícil
estabelecer acesso periférico, recomenda-se inserção de um cateter central curto e de grosso
calibre na veia femoral ou subclávia. Acessos centrais longos de duplo ou triplo lúmen devem
ser evitados, pois o fluido não pode ser infundido rapidamente através destes cateteres.
As diretrizes recomendam que pacientes que se apresentam com choque hemorrágico e uma
origem de sangramento não identificada (como pode ocorrer no traumatismo contuso) sejam
submetidos imediatamente a avaliação por ultrassonografia na avaliação do traumatismo
(FAST).
O exame FAST usa um aparelho de ultrassonografia à beira do leito para fornecer imagens do
quadrante superior direito, do quadrante superior esquerdo e da pelve para avaliar a presença
de hemorragia intra-abdominal.
Se o exame FAST não estiver disponível ou não for confiável, pode ser feita uma lavagem
peritoneal diagnóstica (LPD) para avaliação do sangramento intraperitoneal.
A LPD consiste na realização de uma pequena incisão na linha média abaixo do umbigo e no
uso de uma agulha e um pequeno cateter para aspirar o fluido intraperitoneal para determinar
a presença de sangue ou bile. Se o aspirado contém 10 mL de sangue macroscópico ou bile, é
indicada uma laparotomia exploratória. Na ausência de sangue macroscópico ou bile, a LPD
requer a infusão de 1 litro de fluido no peritônio, seguida de drenagem. O efluente deve ser
enviado para um laboratório e analisado. Os critérios laboratoriais para uma LPD positiva são:
A Eastern Association for the Surgery of Trauma faz as seguintes recomendações em relação
ao tratamento do trauma abdominal penetrante.
• Ferimentos por facada no abdome, sem sinais de peritonite ou desconforto abdominal difuso
(distante do local do ferimento) em centros com experiência cirúrgica
• Ferimentos abdominais por arma de fogo se os ferimentos forem tangenciais e não houver
sinais peritoneais
• Lesão penetrante isolada no quadrante superior direito com sinais vitais estáveis, exame
confiável e desconforto abdominal mínimo ou ausente.
• Exames físicos em série podem detectar lesões significativas de forma confiável se realizados
por médicos experientes e pela mesma equipe
• A maioria dos pacientes tratados de forma não operatória pode receber alta após 24 horas
de observação se o exame abdominal for confiável e eles apresentarem mínimo ou nenhum
desconforto abdominal.
Lesão de pâncreas
• O diagnóstico de lesões pancreáticas é notoriamente difícil em decorrência da localização
retroperitoneal do pâncreas, resultando no atraso do desenvolvimento de sinais e sintomas.
Uma dor abdominal vaga irradiada para as costas e o desconforto abdominal geralmente só
surgem algumas horas após o evento traumático. A TC abdominal é fundamental para a
elaboração do diagnóstico, já que a amilase e a lipase séricas podem se elevar somente mais
tarde. A colangiopancreatografia por ressonância magnética é recomendada para descartar
definitivamente as lesões ductais e parenquimatosas do pâncreas.
Lesão diafragmática
Lesão mesentérica
• Existe um alto índice de diagnóstico tardio de lesão mesentérica após trauma abdominal
contuso, já que os pacientes podem estar assintomáticos inicialmente e o exame de TC
apresenta um alto índice de falso-negativos. O diagnóstico tardio pode ocasionar isquemia
intestinal. É importante manter um alto nível de suspeita clínica, juntamente com o exame
FAST e TC abdominal, para assegurar que o estabelecimento do diagnóstico.
História clínica
É necessário que se faça uma tentativa dedicada para se obter a história clínica e a descrição
do evento traumático do próprio paciente, da equipe médica de emergência, da polícia ou de
familiares, na medida em que possam fornecer informações que influenciem a investigação
diagnóstica.
As histórias médica e medicamentosa anteriores são úteis para estabelecer o nível inicial da
saúde do paciente.
• É importante considerar a causa do evento traumático para evitar que uma condição clínica
subjacente não seja reconhecida e deixe de ser tratada. Por exemplo, a hipoglicemia em um
paciente diabético ou um ataque cardíaco em um paciente com doença arterial coronariana
pode ter sido o fator causador do evento traumático.
Exame físico
Embora o exame físico seja essencial na avaliação de trauma abdominal, muitos estudos têm
demonstrado que ele não é confiável em coortes de pacientes de trauma com lesão
neurológica (cérebro ou medula espinhal), naqueles que apresentam lesões dolorosas por
distração, como fraturas de ossos longos ou pélvicas, ou nos que têm álcool ou outras
substâncias intoxicantes em seus organismos.
A avaliação do abdome começa com a inspeção de sinais externos de lesão, como ferimentos
abertos ou contusões significativas da parede abdominal. A palpação do abdome é usada para
avaliar a sensibilidade e sinais peritoneais. Muitos pacientes com lesão abdominal, mas não
todos, se queixam de sensibilidade, podendo haver sinais peritoneais se houver lesão
intestinal. Deve ser observado se o sangue presente na cavidade peritoneal não causa
peritonite. Além do exame básico, no traumatismo penetrante é útil avaliar os ferimentos de
entrada e saída quanto à presença de sangramento ativo ou a projeção de omento ou vísceras
para o exterior. A exploração do local de um ferimento por arma branca em um paciente
hemodinamicamente estável sem sinais de peritonite é útil para avaliar a fáscia abdominal. Se
a fáscia abdominal anterior estiver intacta e o paciente permanecer estável, é seguro dar alta
ao paciente sem investigação adicional.
Avaliação do estado hemodinâmico
• Os sinais vitais não respondem à fluidoterapia intravenosa. O estado clínico desses pacientes
piora com a progressão da ressuscitação agressiva. Esses pacientes geralmente apresentam
uma grande lesão arterial intra-abdominal ou uma lesão grave de órgão sólido e necessitam de
controle cirúrgico imediato da hemorragia para evitar a morte.
Pacientes hemodinamicamente estáveis com trauma abdominal contuso e sem queixas de dor
ou sensibilidade abdominal e com um exame físico confiável (ou seja, sem lesões por distração
ou traumatismos cranioencefálicos) geralmente não necessitam de tomografia
computadorizada (TC) do abdome para investigação adicional. No entanto, a ausência de
desconforto abdominal não elimina completamente a possibilidade de lesão intra-abdominal.
Foram estudadas combinações de achados clínicos para prever a presença de lesão intra-
abdominal. Quando há outros fatores que aumentam a possibilidade de lesão intra-abdominal,
como lesão não abdominal significativa (por exemplo, fraturas femorais, pélvicas, escapulares
ou vertebrais) que sugiram um forte mecanismo de lesão, a TC abdominal é recomendada para
avaliação da lesão intra-abdominal associada.
Pacientes com desconforto abdominal, contusões na parede abdominal ou exame físico não
confiável em decorrência de traumatismo cranioencefálico, intoxicação ou outra lesão causada
por distração necessitam de investigação adicional focada por ultrassonografia na avaliação do
traumatismo (focused assessment with sonography for trauma, FAST) ou por TC abdominal
para diagnosticar uma possível lesão intraabdominal. O FAST tem a maior razão de
probabilidade para a presença de lesão intra-abdominal. A TC do abdome é altamente sensível
para o diagnóstico de lesão em órgão sólido, lesão vascular e fraturas pélvicas, e é o estudo
radiográfico de escolha para descartar lesão intra-abdominal. Ela é menos eficaz no
diagnóstico de lesões diafragmáticas ou intestinais. As desvantagens do exame de TC
abdominal são que ele expõe o paciente à radiação e ao contraste intravenoso, é caro e
relativamente demorado, além de exigir que o paciente seja transferido para um scanner.
A LPD consiste na realização de uma pequena incisão na linha média abaixo do umbigo e no
uso de uma agulha e um pequeno cateter para aspirar o fluido intraperitoneal para determinar
a presença de sangue ou bile. Se o aspirado contém 10 mL de sangue macroscópico ou bile, é
indicada uma laparotomia exploratória. Na ausência de sangue macroscópico ou bile, a LPD
requer a infusão de 1 litro de fluido no peritônio, seguida de drenagem. O efluente deve ser
enviado para um laboratório e analisado. Os critérios laboratoriais para uma LPD positiva são:
Embora a LPD em pacientes estáveis tenha utilidade limitada, ela é útil em pacientes com
outros fatores que aumentam a suspeita de lesão intra-abdominal. Se for realizada uma TC
abdominal de acompanhamento, o líquido adicional no abdome, secundário à LPD, pode
confundir a imagem. Em pacientes estáveis, a LPD consiste em um excelente estudo adjuvante
quando não puderem ser realizados exames abdominais em série. Um exemplo desse fato é o
paciente obnubilado que apresenta líquido livre na TC abdominal sem lesão de órgão sólido
identificada. No paciente consciente, exames físicos em série e a presença de sinais peritoneais
ou o agravamento da dor abdominal podem significar a necessidade de uma cirurgia.
A avaliação laboratorial é útil para a obtenção do nível de hematócrito basal, pois muitos
pacientes com trauma abdominal contuso estarão hemodinamicamente estáveis, mas terão
evidências de algum sangramento intra-abdominal de órgão sólido na TC abdominal. Esses
pacientes deverão ser hospitalizados, sendo submetidos a exames abdominais em série e
avaliação dos níveis de hematócrito para observar a presença de sangramento contínuo. Se
houver diminuição constante do nível de hematócrito, poderá ser necessária uma transfusão
de sangue ou uma intervenção para controlar o sangramento. Um perfil metabólico basal é útil
para determinar a linha basal da função renal. As enzimas pancreáticas ocasionalmente são
úteis no diagnóstico de lesão pancreática, embora não constituam um estudo sensível como
parte da investigação inicial do trauma. A toxicologia pode ser útil na avaliação de um paciente
com estado mental alterado.
A maioria dos casos de trauma abdominal penetrante estão relacionados a ferimentos por
armas de fogo e armas brancas. Após a avaliação das condições das vias aéreas, da respiração
e da circulação, é importante expor o paciente por completo para identificar todos os
ferimentos.
Pacientes estáveis podem se submeter a avaliações adicionais de forma oportuna. Aqueles que
tiverem ferimentos por arma branca na parede abdominal necessitam da exploração do
ferimento para avaliar a perfuração da fáscia da parede abdominal. A exploração local do
ferimento é executada através da preparação do campo e da limpeza do ferimento e da pele
circundante. Após a injeção de anestésico local, a pele e os tecidos subcutâneos sofrem uma
incisão suficientemente grande para permitir a visualização da fáscia da parede abdominal. Se
a fáscia anterior não tiver sido acometida, pode-se presumir com segurança que os órgãos
intra-abdominais não sofreram lesão. Pacientes com ferimentos que penetram na fáscia
abdominal necessitam de avaliação adicional e observação estrita através de exames
abdominais em série, laparoscopia para descartar lesão de órgão intra-abdominal ou
laparotomia imediata.
Para lesões por arma branca no flanco ou costas, é necessário obter uma tomografia
computadorizada (TC) do abdome para descartar lesões intra-abdominais (por exemplo, lesões
colônicas, esplênicas ou renais). Geralmente, ferimentos por arma branca no flanco acarretam
lacerações renais que são geralmente tratadas de forma não cirúrgica.
As radiografias realizadas no setor de trauma são úteis para descartar hemotórax ou fratura
pélvica. O exame FAST é útil para diagnosticar rapidamente a presença de hemorragia intra-
abdominal. O exame FAST usa um aparelho de ultrassonografia à beira do leito para fornecer
imagens do quadrante superior direito, do quadrante superior esquerdo e da pelve para
avaliar a hemorragia intra-abdomina
PACIENTE COM COLAR CERVICAL TAMANHO M,EM DECÚBITO DORSAL COM PRANCHA
RÍGIDA,SANGRAMENTO EM BOCA E NARIZ MODERADA COM GAZES COMPRESSIVA FITA PELO
SAMU,LACERAÇÃO CORTO-CONTUSA FRONTO-PARIETAL DIREITA COM SINAL DE BATLLE
IPSILATERAL,ALÉM DE SINAL DO GUAXIM BILATERAL.
Batizado com o nome de um médico britânico, o sinal de Battle – também conhecido como
equimose mastóide – é um sinal físico de trauma na cabeça que pode sugerir trauma cerebral.
Equimoses são hematomas que aparecem na superfície da pele e são causados pelo escape de
sangue para os tecidos de vasos sanguíneos rompidos. O hematoma de Battle aparece atrás de
uma ou ambas as orelhas e é uma indicação de uma fratura da base do crânio causada por
trauma agudo na cabeça. O sinal de Battle normalmente se desenvolve dentro de 24 a 36
horas após o traumatismo craniano e pode ser visível por várias semanas. Uma pancada na
cabeça forte o suficiente para produzir o sinal de Battle pode causar lesões nos nervos
cranianos, tronco encefálico e levar a hemorragia intracraniana e até morte.
ATLS:
A-QUAIS A MEDIDAS INICIAIS POR ORDEM DE PRIORIDADE DEVEM SER TOMADAS NESTE
MOMENTO.JUSTIFIQUE PLEO MENOS 03.