Motricidade Humana

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MOTRICIDADE HUMANA: UMA PROPOSTA

DE INTERVENÇÃO PARA ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA


EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Elinéia Silva de Oliveira


Profª da Rede Pública Estadual – Núcleo Regional de Apucarana –
Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos “Cecília Meireles”
Ana Maria Pereira
Profª Drª da Universidade Estadual de Londrina

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo propor possíveis orientações na
Educação de Jovens e Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana. Estas
reflexões fizeram parte do programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),
implantado pelo Governo do Estado do Paraná com a finalidade de realizar
uma Formação Continuada dos Professores Estaduais em parceria com as
Universidades do Estado. Este projeto destacou a concepção de uma nova
ciência: cuja preocupação é o homem em sua totalidade, globalidade e
complexidade, a Ciência da Motricidade Humana, em consonância com uma
práxis transformadora, no sentido de contribuir no ato educativo e na formação
de nossas crianças, jovens e adultos. Num primeiro momento fiz-se um estudo
teórico para entender e dimensionar a crise que passa a Educação Física e
como superar a visão fragmentada e meramente física assumida no âmbito
escolar, que à luz de uma nova ciência possamos tentar mudar nossas atitudes
e metodologias, nos questionamos: Qual o contributo da Ciência da
Motricidade Humana na Educação de Jovens e Adultos? Como seria a
intervenção, a práxis, no ensino Educação Física na Educação de Jovens e
Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana? Em um segundo
momento,houve a intenção ressignificar a tradicional Educação Física com a
colaboração dos professores da Rede Pública, por meio de um programa on
line. Em seguida houve a produção do material didático, nomeado “Folhas”. E
por fim, implementamos a intervenção nas aulas sob a égide da Ciência da
Motricidade Humana. Os alunos da Educação de Jovens e Adultos tiveram a
oportunidade de vivenciar uma metodologia que contribuiu para a sua formação
humana.

Palavras-chave: Ciência da Motricidade humana, PDE, Educação de Jovens e


Adultos, intervenção.

ABSTRACT
The present work has as objective to propose possible orientations in the
Education of Youths and Adults to the light of the Science of Human Motion.
These reflections were part of the program of Education Development (PDE),
introduced by the Government of the State of Paraná with the purpose of
accomplishing a continuous formation of the state teachers in partnership with
the Universities of the State. This project highlighted the design of a new
science: whose concern is the man in full, the Science of Human Motion, in line
with a practice processing, to contribute to the educational act and in our
children's formation, youths and adults, for believing in the materialization of the
principles and assumptions that guide this new science, In a first moment we
did a theoretical study to understand and assess the crisis that passes the
Physical Education and how to overcome the fragmented vision and merely
physics commitment in school , that to the light of a new science might change
our attitudes and methodologies, we questioned ourselves: What does the
Science of Human Motion in the Education of Youths and Adults? How would
be the intervention, the practice, teaching Physical Education in the Education
of Youths and Adults to the light of the Science of Human Motion? In a second
moment, re-mean the traditional Physical Education with the collaboration of
teachers of the Public Education through an on-line program. Then, there was
the production of the teaching material, nominated "FOLHAS". And finally, we
implemented the intervention in the classes under the aegis of the Science of
Human Motion. The students of the Education of Youths and Adults had the
opportunity to live a methodology that contributed to their training human.

Keywords: Physical Education, practice, Youths and Adults Education

1. O que é o Programa de Desenvolvimento Educacional?

A Secretaria de Estado da Educação, do Estado do Paraná, em


parceria com a Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
instituiu o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Este programa
faz parte de uma política educacional inovadora de Formação Continuada em
Serviço, dos professores e professoras da Rede Pública Estadual.
O PDE se constitui numa política pública que tenta estabelecer o
diálogo entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica,
por meio de atividades teórico-práticas orientadas e tem com objetivo a
produção de conhecimento visando às mudanças qualitativas na prática
escolar da escola pública paranaense. O objetivo desse Programa é propiciar
aos professores da Rede Pública Estadual subsídios teórico-metodológicos,
tendo em vista o aprimoramento de ações educacionais sistematizadas,
redimensionando a sua práxis pedagógica.
Participam desse Programa professores e professoras que exercem
o magistério na Rede Estadual de Ensino, que foram selecionados por meio de
uma prova pública. Esses professores têm garantido o direito a afastamento
remunerado de 100% de sua carga horária efetiva no primeiro ano de formação
continuada (ano de 2007) e de 25% no segundo ano do Programa (2008).
Os professores que estão em formação continuada devem criar as
condições efetivas, no interior da escola com seus parceiros de trabalho, para o
debate e promoção de espaços de construção compartilhada dos saberes e
dos fazeres da práxis pedagógica da área que estudam e pesquisam.
O Programa de Desenvolvimento Educacional está atento às reais
necessidades de enfrentamento de problemas ainda presentes na diferentes
modalidades da Educação Básica. O Programa contempla vários conteúdos
curriculares, sendo um deles a Educação Física. No que se refere à
organização do trabalho pedagógico em Educação Física, de acordo com as
diretrizes curriculares do Estado do Paraná, o empenho foca-se na construção
do projeto político pedagógico, no reconhecimento social da disciplina, na
unidade dialética entre teoria e prática, com vistas à superação do trabalho
fragmentado.
Como atividades desse Programa, o professor PDE1, sob a
orientação dos professores-orientadores das Universidades Estaduais, realizou
as seguintes ações:
a) Elaboração do Plano de Trabalho, que se constituiu de um
documento escrito, elaborado individualmente pelo Professor PDE, sob a
orientação de seu professor orientador, contendo revisão de literatura sobre o
tema, bem como possibilidades de resolução dos problemas levantados no
cotidiano escolar na disciplina de Educação Física.
b) Acompanhamento dos Grupos de Trabalho em Rede, GTR2, pela
internet. O GTR constitui-se numa atividade do Programa de Desenvolvimento
Educacional caracterizada pela interação virtual entre o Professor PDE e os
demais professores da Rede Pública Estadual, e buscou efetivar o processo de
Formação Continuada. O Professor PDE foi denominado Tutor de um Grupo
de Trabalho em Rede, composto de até 37 professores do Quadro Próprio do
Magistério, conforme sua disciplina ou área de seleção no Programa.

1
Doravante,usaremos a expressão professor PDE para designar os professores selecionados por concurso
para participarem do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.
2
Daqui para frente, neste texto, usaremos a expressão professores GTR, para designar os professores
participantes dos Grupos de Trabalho em Rede.
Nos Grupos de Trabalho em Rede, foram compartilhados e
socializados os conhecimentos adquiridos pelo professor PDE nos Seminários
e Cursos oferecidos pela Secretária de Educação do Estado e pela Instituição
de Ensino Superior. Conforme o PDE prevê, a carga horária dos Grupos de
Trabalho foi de sessenta (60) horas, efetuada em rede on line, à distância, de
modo virtual, com apoio da Plataforma Moodle.
Moodle é uma plataforma de acompanhamento e integração em
rede, de modo informatizado, que esteve inserida no Portal Dia-a-dia Educação
do Governo Estadual do Paraná, no período de 10/09/2007 à 30/06/2008.
Essa plataforma teve o objetivo de proporcionar a integração entre os
professores PDE e os professores do GTR, no sentido de compartilhar
conhecimentos e construir coletivamente uma possibilidade de intervenção.
c) Produção Didático-pedagógica caracterizada pela produção de
Material didático Folhas pertinente ao objeto de estudo, de acordo com sua
área/disciplina.O Folhas é um projeto de Formação Continuada que favorece
ao profissional da educação a reflexão sobre sua concepção de ciência,
conhecimento e disciplina, que pode propiciar mudanças na prática docente. O
Folhas integra o Projeto de Formação Continuada e valorização dos
profissionais da Educação da Rede Estadual do Paraná, instituído pelo Plano
Estadual de Desenvolvimento Educacional. O Folhas, nesta dimensão
formativa, é a produção colaborativa, elaborada pelos profissionais da
educação, de textos com conteúdos pedagógicos que constituíram material
didático para os alunos e apoio ao trabalho docente.
O material didático Folhas elaborado para fazer parte da intervenção
pedagógica na presente Formação Continuada teve como tema a Dança Afro-
descendente, intitulado: Dança: uma possibilidade para a Educação de Jovens
e Adultos.
d) Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,
visando principalmente enfrentar e contribuir para a superação das fragilidades
e problemas apontados pelo Professor PDE na escola de atuação. Nossa
intervenção ocorreu no Centro de Educação Básico para Jovens e Adultos
“Cecília Meireles”, Município de Jandaia do Sul, Estado do Paraná.
Para instaurarmos o novo, efetivar as mudanças necessárias e,
ainda, trabalharmos em convergência aos objetivos das diretrizes curriculares,
assumimos neste projeto, a Ciência da Motricidade Humana.
A organização desse programa de formação continuada em serviço
favorece a comunicação do mundo vida do professor da instituição de ensino
superior articulado com o mundo vida do professor da realidade da educação
básica. Esse diálogo possibilitou a construção de ações de intervenção de
forma compartilhada e consistente, de modo a diminuir a distância entre a
ciência e o real escolar.

2. Tema de Estudo do Programa de Desenvolvimento Educacional: A


Motricidade Humana e a práxis educativa: uma proposta de intervenção
para Educação de Jovens e Adultos

2.1 Introdução

Nas últimas décadas, a Educação Física, como já pudemos


perceber enquanto professores exercendo magistério, e a partir de estudos
realizados, vive uma grave crise de identidade. Tem dificuldade de definir e
legitimar seu objeto de estudo, desse modo empresta das outras áreas do
conhecimento, como a medicina e a biologia, a sua fundamentação teórica,
científica e pedagógica.
A Educação Física se consolidou sob o amparo do paradigma
cartesiano racionalista, em que o dualismo é evidente baseado na razão e na
certeza, que separa o corpo da mente, o sujeito do objeto, a teoria e a prática
com uma visão simplista e do senso comum. Pereira (2006) afirma que [...] a
doutrina de Descartes sustentou o argumento do funcionamento do corpo,
separado do espírito, como uma estrutura maquinal que se move com
princípios mecânicos próprio, comparando-o como um relógio3.
Silva (1995) elucida que se priorizou: [...] um homem fragmentado,
puramente físico, um corpo máquina, que não pensa, não vive intensamente,
preocupado apenas em reproduzir o movimento que lhe é determinado. 4

3
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa.2006. 382 p.
Dissertação (Doutorado) – Universidade da Beira Interior, Portugal. p.36.
4
SILVA, João Bosco da. Educação Física, esporte, lazer: aprender fazendo. Londrina:
Lido,1995. p.58.
A Educação Física Escolar vem solicitando mudanças. Estamos
mergulhados num processo de transição, rumo à transformação, em que se
busca romper com a prática educativa fundamentada no paradigma cartesiano
tradicional, caracterizada pela dicotomia corpo/mente, presa ao físico tão-só e
a métodos rígidos, porque [...] não podemos ser somente educadores de
físicos/de movimento humano e sim, fazemos parte de um processo de
formação/educação de humanos que se movimentam.5
Portanto, para superar a educação meramente do físico,
apresentamos uma nova ciência do homem: a Ciência da Motricidade Humana,
que considera o homem como ser complexo e inteiro, que se movimenta com
intencionalidade, transcendendo em busca de ser mais, ser melhor.
Preocupado em ultrapassar esta visão fragmentada da Educação
Física, e sustentado com o tema: A Motricidade Humana e a práxis educativa,
o presente trabalho põe em evidência os seguintes questionamentos: Qual o
contributo da Ciência da Motricidade Humana na Educação de Jovens e
Adultos? Como seria a intervenção, a práxis, no ensino da Educação Física na
Educação de Jovens e Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana?
Com base nestes questionamentos e tendo em vista o nosso objeto
de estudos, o presente artigo, articulado com o Plano de Trabalho pretende
contribuir para incorporar às práticas pedagógicas na Educação de Jovens e
Adultos e os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana.
Num primeiro momento contextualizamos, a Educação de Jovens e
Adultos, aliados ao desafio de relacionamos os pressupostos da Ciência da
Motricidade Humana a esta modalidade de ensino.

2.2 Fundamentação Teórica:

O presente trabalho abordou a Educação de Jovens e Adultos (EJA),


numa tentativa de abandonar o “velho” paradigma, no ensino da Educação
Física, em que restringia o homem apenas a [...] duas unidades distintas: corpo

5
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. 2006, 382
p. Dissertação (Doutorado) – Universidade da Beira Interior, Portugal. p. 123-124.
e mente6, para um paradigma emergente, que é a nova ciência do homem: a
Ciência da Motricidade Humana.
A Educação Física reclama mudanças, e há algum tempo busca
respostas às necessidades exigidas para sua legitimação. Como explica
Feitosa (1993) [...] a Educação Física entra em crise quando entra em crise a
visão cartesiana do homem7.
Para que as mudanças se efetivassem no âmbito da EJA precisou
romper com a concepção dualista de homem que visa o físico tão-só,
assumindo um novo paradigma que contempla à complexidade humana, que
considere o homem indivisível em sua totalidade e complexidade, [...] corpo-
mente-desejo-natureza-sociedade [...]8.
Por esse motivo a Ciência da Motricidade Humana provocou um
corte epistemológico em relação à Educação Física. Conforme Pereira (2006) a
que:
Houve necessidade de superar a Educação Física por mudança de
concepção paradigmática. Portanto, há de efetivar e consolidar o
corte epistemológico, porque essa área de conhecimento não pode
mais ser conivente com o passado clássico e com a continuidade do
império da razão absoluta fundada num racionalismo (Galileu,
Descartes, Newton, Kant e outros), pois a ciência do nosso tempo
eclode em uma outra perspectiva e exige uma nova ordem científica,
9
sistémica, aleatória e incerta.

A referida ciência resgata o sentido da própria vida, para isso


procura transcendência e superação focada no fenômeno da Motricidade
Humana. Para Sérgio (1994) o grande desafio é [...] proporcionar espaço e
tempo ao movimento da transcendência a um ser consciente das suas
limitações e que, ao superá-las encontra o sentido da vida10.

2.3 A Educação de Jovens e Adultos e a Motricidade Humana


A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de Ensino da
Educação Básica que possui características próprias, por estar direcionada a

6
BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister,1992. p. 71.
7
FEITOSA, Anna Maria. Contribuições de Thomas Khun para uma epistemologia da
motricidade humana, 1993. p. 51
8
SÉRGIO, Manuel. Alguns olhares sobre o corpo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003b. (Coleção
Epistemologia e Sociedade) p.15.
9
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. Op. cit.
p.126.
10
SÉRGIO, Manuel. Motricidade Humana: contribuições para um paradigma emergente,Lisboa.
Instituto Piaget, 1994.p.128
formação de alunos que não cursaram a escola em tempo normal. Como
determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº
9394/96, em seu artigo 37, prescreve que [...] a educação de jovens e adultos
será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudo no
ensino fundamental e médio na idade própria11.
Ao retornarem para completar sua escolarização, observa-se, a
partir da experiência vivenciada, que estes alunos regressam, para a escola,
desejosos, para melhorar suas vidas. Em sua maioria, eles estão motivados
pela esperança de ter, na educação formal, uma chance de competir no
mercado de trabalho, por melhores cargos e salários, ou pela possibilidade de
transformar sua realidade social e cultural. De acordo com as Diretrizes
Curriculares Estaduais (DCE) os educandos quando [...] procuram a Educação
de Jovens e Adultos têm a necessidade da escolarização formal; seja pelas
necessidades pessoais, seja pelas exigências do mundo do trabalho12.
Todavia, a Educação de Jovens Adultos tem como objetivo, de
acordo com as DCE, proporcionar a [...] formação humana e com acesso à
cultura geral, de modo a que os educandos venham a participar política e
produtivamente das relações sociais13, considerando a realidade na qual o
educando está inserido e os conhecimentos por ele adquiridos ao longo de sua
vida, que muitas vezes não são conseguidos de maneira formal, mas pelas
experiências do meio em que vive.
O educador deverá ser mediador entre os saberes do conhecimento
popular (senso comum) e o conhecimento erudito (científico), procurando
compartilhar os conhecimentos necessários à transformação da realidade
social do educando a construção da sua autonomia. Para Kuenzer (2000) a
educação deve dirigir-se para [...] a formação na qual educandos-trabalhadores
possam: aprender permanentemente; refletir criticamente; agir com
responsabilidade individual e coletiva14.
Ensinar é ajudar o educando, por meio dos conteúdos da Educação
Física, a ser uma pessoa que busque sua própria emancipação e
11
PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares, da educação
de jovens e adultos no Estado do Paraná, (versão preliminar). 2005. p. 28.
12
Idem, Ibidem. p. 33.
13
Idem, Ibidem. p. 30.
14
KUENZER, Acácia Zeneide. Ensino médio: construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2000. p. 40.
transcendência, não somente na aquisição dos conhecimentos da aula, mas
também para além dos muros da escola, ou seja, na vida.
Importante acrescentar, pela experiência vivida, que o educando da
EJA, na maioria das vezes, já possui um conceito da disciplina de Educação
Física, por tê-la vivenciado na escola. Se a experiência foi positiva, lhe deu
prazer ao executá-la, o aluno irá ter boas lembranças. Ao contrário, se era uma
prática seletiva, antidemocrática, em que os bons alunos jogam e os ruins, os
gordinhos, e outros, sentam, possivelmente, este educando traz na memória
lembranças não tão agradáveis da disciplina.
Ressalta-se neste momento a importância do educador, que tem
papel primordial em fomentar uma nova significação às aulas, ou seja, um novo
sentido afastando a idéia de que o movimento deva estar voltado apenas ao
gesto motor, a competitividade exacerbada, a exclusão de alunos menos
habilidosos nas aulas de Educação Física.
Interessante se faz mencionar estudos de Pereira (2006) que elucida
[...] Educar pela Motricidade é [...] educar para a criticidade, para a autonomia,
para a liberdade e para a transcendência15, da vida humana. E é isso que
almejamos para a Educação de Jovens e Adultos.
O acesso desses alunos, no universo da motricidade humana, passa
pela compreensão, pois educar […] para uma disciplina determinada é uma
coisa; educar para a compreensão humana é outra16. Para que a compreensão
de mundo se concretize, faz-se necessário olhar para além do movimento em
função da técnica mecânico e repetitivo. É pela Motricidade Humana, que tem
como princípio a constante evolução do ser humano, que o aluno da Educação
de Jovens e Adultos, pode ter condições para ser autor e protagonista de sua
própria história.
Superando a visão do físico tão só
A Ciência da Motricidade Humana defendida pelo português Manuel
Sérgio efetiva um corte epistemológico com a tradicional Educação Física. Isso
significa que a intervenção pedagógica na Educação de Jovens e Adultos, à luz
dessa ciência, não aceita mais a visão dualista, que separa corpo e alma,

15
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. Op. cit. p.
267.
16
MORIN, Edgar. Sete saberes necessários à educação do futuro. 9 ed. São Paulo: Cortez
Editora. Brasília, DF: UNESCO, 2000. p. 93.
refuta a concepção mecânica do movimento, da prática pela prática, ou seja,
da simples educação do físico, uma vez que educamos pessoas.
É justamente o que propõe a Motricidade Humana, porque trata da
totalidade humana, do individuo global inserido na sociedade, como sujeito-
agente e crítico, tendo como objetivo romper com a antiga e tradicional
Educação Física, que tinha suas aulas atreladas ao físico, ao mero fazer, sem
as reflexões/compreensões necessárias à sua prática.
Trabalhamos para que as mudanças se efetivem quanto à
intervenção nas aulas Educação Física, na EJA, visando por meio dos
conteúdos da Dança, Luta, Jogo, Ginástica e Esporte levar o educando a uma
formação emancipatória e crítica. Precisamos criar novas metodologias que
favoreça possibilidades de autonomia, humanização deste educando.
Defendemos uma motricidade intencional do ser humano, que é
inteiro e complexo. Vislumbramos mudança de hábitos e atitudes, no sentido
de consolidar de uma autêntica práxis, que contribua para a formação humana.
Apresentar uma proposta, que considera corporeidade o mesmo que
motricidade constitui numa necessidade urgente, visto que vivemos num
momento de transição/transformação, rumo a uma práxis libertadora, que
explora os movimentos com intencionalidade, legitimada pela Ciência da
Motricidade Humana.
Segundo o contemporâneo filósofo Manuel Sérgio:
A motricidade humana é o corpo em movimento intencional,
procurando a transcendência, a superação, em nível integralmente
humano e não do físico tão-só, [...] seu corpo próprio é ser
17
consciência e ser consciência é ser movimento .

Como se pode notar, a Motricidade possibilita a superação, pela


tomada de consciência, pela intencionalidade, pela reflexão, e se converte no
materializar aquilo que foi pensado e idealizado, numa autêntica práxis
pedagógica, que pode favorecer e contribuir para a formação dos alunos
Educação de Jovens e Adultos.

2.4 A práxis da Educação de Jovens e Adultos: Motricidade e


Complexidade

17
SÉRGIO, Manuel, apud, Pereira, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis
educativa.op. cit. p. 151.
O objetivo primordial do ensino em Educação Física escolar é
promover a aprendizagem dos conteúdos de uma cultura corporal de
movimento. Os objetivos do fazer pedagógico, revelados numa ação
intencional do professor, que pretende a formação do ser humano, devem se
assentar numa base sólida de conhecimento visando, sobretudo, ensinar nosso
aluno [...] a como aprender.18 É necessário, porém, sensibilidade para
reconhecer que não precisamos de manuais explicativos com etapas a ser
seguidas, mas de um princípio de conhecimento, que oriente nossa ação num
mundo em processo de transformação acelerada e que requer uma pedagogia
e uma escola capazes de [...] encontrar maneiras de preparar para a
transformação constante, para a reconversão e aprofundamento intermináveis,
para a crítica e reconstrução permanentes.19

Pereira defende que [...] a prática sobreposta à teoria não é capaz


de consolidar um autêntico processo educacional20. Para tanto, é
indispensável à compreensão da teoria e da prática, bem como a relação
dialética entre ambas, traduzida numa práxis, que é à busca da unidade,
complexidade, teoria, prática.
Para Evandro Ghedin (2002), no que se refere à formação de
professores, práxis:

[...] é um movimento operacionalizado simultaneamente pela reflexão


e ação, [...] uma ação final que traz, no seu interior, a
inseparabilidade entre “teoria e prática”; [...] a consciência-práxis é
aquela que age orientada por uma dada teoria e tem consciência de
21
tal orientação .

Espera-se que este distanciamento entre os saberes teóricos e


fazeres práticos diminuam, tendo em vista sua operacionalização. E, assim,
trilhar o caminho para a educação e formação do ser humano complexo.
As aulas orientadas pelos pressupostos da Motricidade Humana tem
como desafio na Educação de Jovens e Adultos, gerir e promover as relações

18
CARREIRO DA COSTA, Francisco. Formação de Professores: objectivos, conteúdos e
estratégias. In: Formação de Professores em Educação Física: concepções, investigação,
prática. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana, 1996. p. 17.
19
VALENTE, Bartolomeu apud FEITOSA, Anna Maria. Contribuições de Thomas Kuhn para
uma epistemologia da motricidade humana, op. cit., p. 155.
20
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit. p.
254
21
GHEDIN, Evandro. Professor reflexivo; da técnica à autonomia da crítica. In: Pimenta, Selma
Garrida & Ghedin, Evandro (Org.). São Paulo: Cortez, 2002. p. 133.
ação/reflexão, reflexão/ação, não ficando apenas no nível de meras
transmissões de idéias e de elocuções teóricas, mas que está práxis esteja
relacionada à vivência do educando a que ele pertença, havendo uma
autêntica intervenção mediada por um agir crítico e consciente do professor.
Como ressalta Pereira (2006):
a práxis é a condição de existência humana, que se revela na
corporeidade , ou seja, o mesmo que dizer, na motricidade! E radica
numa complexidade que envolve, simultaneamente: o ser-no-mundo;
o sensível e o inteligível; a natureza e a cultura; a ação e a reflexão, a
linguagem do sentido e do significado; a compreensão e o critério
22
crítico; e ainda a liberdade de criação e de expressão .

Pereira ainda nos aponta que a [...] práxis só se efetiva na dialética


23
entre teoria e prática, mediada por um agir crítico e consciente . Diante disso,
entendemos que toda práxis está associada a uma reflexão. São inseparáveis,
indissolúveis, ligados ao mundo que permeia o ser humano.
A intervenção comprometida com a práxis transformadora, para a
educação da pessoa humana, requer do educador muito mais que a mediação
para uma ação motora eficiente e/ou uma explicação dela, pois mais eficiente
que a explicação é a compreensão. Para Manuel Sergio (2003), [...] a
explicação só tem credibilidade [...] quando integra a compreensão na
experiência complexa do vivido,24 dando a ela significação que, segundo Morin
(2000), [...] ligará por todos os fenômenos humanos, a explicação à
compreensão25, isto é, a transcendência para alcançar o movimento
intencional.
Como nos lembra Freire a educação:
Como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática da
dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto.
Desligado do mundo, assim também na negação do mundo como
realidade ausente do homem. A reflexão que propõe, por ser
autêntica, não é sobre este homem abstrato nem sobre este mundo
26
sem homem, mas sobre os homens em relação com o mundo .

22
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
180.
23
Idem, ibidem. p.180
24
SÉRGIO, Manuel. Alguns olhares sobre o corpo, op cit., p. 91.
25
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, op. cit., p.
93.
26
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p. 81.
Ao nos questionarmos como poderia se operacionalizar as ações
que consolidam esta práxis pedagógica, nas aulas de Educação Física, faz-se
necessário dizer que não será possível apresentar soluções mágicas,
imediatas, nem receitas ou manuais. Freire diz que […] ensinar não é transferir
conhecimentos, mas criar oportunidades para a sua própria produção ou a sua
construção27. Espera-se que a escola possa ser responsável por uma práxis
pedagógica comprometida com a formação do educando, na construção do
processo de educação para a cidadania.
Nesse Processo de Formação Continuada PDE a nossa intenção
não foi de oferecer receitas, mas sim proporcionar um conjunto de princípios
orientadores à luz da Motricidade Humana deu respaldo à práxis-pedagógica
das aulas de Educação Física no ensino de jovens e adultos do Centro de
Educação Básica para Jovens e Adultos “Cecília Meireles”.
A Motricidade Humana, à luz da complexidade, nos indicou um
caminho a trilhar. Caminho cheio de dúvidas e incertezas, mas que ajuda a
construir a nossa práxis.
- Como fazer essas mudanças acontecerem no ambiente de ensino
da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos?
Trabalhamos com os princípios, do paradigma da complexidade.
Esses abaixo orientaram nossa intervenção:
- A dúvida e a certeza constituem os primeiros passos para a
transcendência.
- A reflexão da ação, a auto-observação, a auto-crítica favorecem a
auto-organização e auto-transformação que não podem ter fim.
- O método é um caminho que se constrói, se inventa e se
experimenta.
- O contexto dos contextos: O todo interage com as partes. A aula é
parte do todo educacional e o que compõe a aula é a parte do todo
da aula.
- Para além do linear e da simples relação causa e efeito.
- O equilíbrio entre o que foi construído culturalmente e a construção
28
do presente perspectivando mudanças .

São justamente estes princípios acima citados, da complexidade


defendida por, Edgar Morin que a Ciência da Motricidade Humana apropriou-

27
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29 ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2004. (coleção Leitura). p. 47.
28
Pereira, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
238
se. E ainda, foram eles que subsidiaram a nossa intervenção do dia-a-dia da
sala de aula.
Silva (1995) explica que a:
necessidade de se instaurar a pedagogia da incerteza, em que os
profissionais não mais aceitam o “racional e objetivo” como verdades
absolutas e passam à assumir, com coragem e determinação o fato
de que o conhecimento nasce da pergunta, da crítica, da dúvida, da
incerteza, dos antagonismos, problemas e contradições e também do
29
respeito aos valores humanos .

A nossa intervenção, do cotidiano das aulas da EJA, favoreceu um


enlace entre um saber e fazer crítico, que se traduz numa práxis
transformadora, segundo Pereira (2000):
Promover uma autêntica práxis pedagógica em Educação Motora,
ramo da Ciência da Motricidade Humana,[...] significa fazer
diagnósticos, que nada mais são interpretar os sinais de uma
apurada leitura da realidade, no intuito de desvelar o estado do
contexto em que será realizada a intervenção, para a partir daí
conjecturar hipóteses e definir estratégias, no sentido de pôr em
prospectiva as mudanças e as transformações, levando em
consideração a organização de conteúdos e a respectiva seriação, as
metodologias de ensino-aprendizagem e os processos de
30
avaliação .

A Educação de Jovens e Adultos, como já mencionado, é uma


modalidade de ensino, que contempla adolescentes, jovens e adultos e, por
essa especificidade, há necessidade do professor PDE conhecer o contexto
deste educando, objetivando conhecer a realidade em que está inserido, para
disponibilizar estratégias, definir conteúdos pertinentes a uma ação pedagógica
voltada à superação e à construção da formação humana.
Dessa forma, acreditamos, enquanto educadores, nossas aulas
podem favorecer aos alunos uma educação que leve a reflexão crítica, para um
agir consciente, de modo que isso se reverta em princípios, valores, práticas
com compromisso individual e social. Tudo isso levando em conta os
pressupostos da Motricidade Humana.

3- Construindo um caminho...

29
SILVA, João Bosco da. Educação Física, esporte, lazer: aprender fazendo, op. cit. p. 64
30
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
226.
Nosso primeiro contato, como Professor PDE, com a Instituição de
Ensino Superior foi por meio de Encontro de Área com professores da
Universidade Estadual de Londrina da área/disciplina de atuação.
Em seguida nos dividimos em grupos, sob a orientação dos
professores da Universidade que iriam nos orientar nos trabalhos relativos a
esta formação continuada.
A escolha de uma teoria que vislumbrasse nossos anseios foi feita
junto com o professor-orientador para que redimensionássemos a concepção
de Educação Física, e que oferecesse possíveis respostas aos problemas
encontrados nas aulas.
Iniciamos sob a orientação do professor-orientador, seleção e estudo
teórico acerca do objeto de estudos: Motricidade Humana: Educação,
Educação Física e Intervenção Pedagógica.
A partir dos referenciais teóricos, e com o objeto de estudo definido,
construímos o Plano de Trabalho, visando viabilizar mudanças efetivas e
concretas para a intervenção da Educação Física no âmbito escolar.
Ao mesmo tempo, com a finalidade de redimensionar a concepção
de educação, a Secretaria de Educação em parcerias com as Universidades
Estaduais proporcionou Cursos, Seminários, Encontros de Área, estas
formações aconteceram no primeiro e no segundo semestre de 2007, e
Encontros de Orientação durante os dois anos de duração do PDE.
Em cumprimento ao programa PDE, partilharmos os conhecimentos
adquiridos e construímos coletivamente a intervenção nas escolas, com o
Professor GTR. Nosso contato com estes professores ocorreu via on line, e
tínhamos como tarefa enviar textos disponibilizados nos seminários, cursos e
outros. Socializar também Plano de Trabalho e, compartilhar a construção do
Material Didático.
Elaboramos o Material Pedagógico Folhas, a partir do referencial
objeto de estudos Motricidade Humana: a Práxis Pedagógica. Este material nos
auxiliou na intervenção na EJA, com a implementação da proposta na escola
de atuação do Professor PDE.

3.1. Elaboração do Plano de Trabalho


O Plano de Trabalho compreendeu a elaboração do Projeto de
Intervenção Pedagógica e sua implementação na escola, bem como a
elaboração da Produção Didático-Pedagógica, com a orientação do Professor-
orientador da Universidade.
A construção do Plano de Trabalho oportunizou estudos para
delimitar a crise que a Educação Física vem sofrendo. Concluindo que estamos
mergulhados num processo de transição, rumo à transformação. Para superar
a educação meramente do físico, o presente trabalho evidenciou a Ciência da
Motricidade Humana.
Definiu o objeto de estudo que é: A Motricidade Humana, uma
práxis, na Educação de Jovens e Adultos.
E teve como objetivo: Elaborar conjecturas e ilações que suscitem
orientações na Educação de Jovens e Adultos à luz da Ciência da Motricidade
Humana.
Procuramos apontar princípios para a operacionalização da
intervenção nas aulas de Educação Física, sob o ponto de vista da Ciência da
Motricidade Humana, visando autêntica práxis pedagógica.
Por meio do Plano de Trabalho organizamos um plano de intenção,
um roteiro detalhado das ações a ser desenvolvido no sentido contribuir para a
superação das fragilidades e problemas apresentados nas escolas de atuação.

3.2. Orientações aos grupos de trabalho em rede


Os professores participantes deste programa de Formação
Continuada em Serviço, os Professores PDE, teriam como responsabilidade,
para além de sua própria formação, a formação de outros colegas de profissão,
considerando as suas áreas curriculares específicas da atuação. Isso significa
que eles iriam ser multiplicadores de um dado conhecimento, por isso a
denominação de Trabalho em Rede.
A formação de 37 (trinta e sete) professores da Rede, sob a
orientação dos Professores PDE, era a idéia inicial Secretaria de Educação,
dependendo para isso do interesse dos professores da Rede em participar
desta modalidade de formação.
A partir das inscrições dos Professores da Rede, feitos via on line,
se deu divisão em grupos. Esses grupos foram distribuídos por meio de
critérios da Secretaria de Educação,
Foram compartilhados e socializados os conhecimentos adquiridos
pelo Professor PDE nos Seminários e Cursos oferecidos pela Secretária de
Educação do Estado e pela Instituição de Ensino Superior. Conforme o PDE
previa, efetuada em rede on line, à distância, de modo virtual, com apoio da
Plataforma Moodle.
Moodle, como já foi explicado anteriormente, é uma plataforma de
acompanhamento e integração em rede, com o objetivo de proporcionar a
integração entre os professores PDE e os professores do GTR, no sentido de
compartilhar conhecimentos e construir coletivamente a intervenção.
Porém, este objetivo de socialização e integração não ocorreu,
houve muita desistência por parte dos Professores GTR. Foram 11 (onze)
Professores GTR que participaram da primeira etapa do programa, e nem um
deles concluiu as todas as etapas seguintes, não conseguindo assim a
certificação.
A contribuição na proposta de intervenção também ficou
comprometida, com poucas sugestões, e debatas quanto ao tema proposto.

6. Elaboração do Material Didático (Folhas)


A elaboração do material didático pedagógico consistiu na produção
colaborativa, envolvendo o professor PDE e os professores do GTR, na
construção de textos de conteúdo pedagógico, que propõe uma metodologia
específica na estruturação do Folhas que segue as orientações da Secretaria
de Educação para a elaboração deste Material Pedagógico, com base nas
Diretrizes Curriculares da Educação Básica e seus Conteúdos Estruturantes,
que neste trabalho contemplou o conteúdo Dança, servindo de material didático
para alunos e apoio ao trabalho docente.
Com o tema: Dança: uma possibilidade para a Educação de Jovens
e Adultos, o Folhas teve a finalidade de oportunizar ao aluno nas aulas de
Educação Física de experimentar por meio dos movimentos, reflexões e ações,
a possibilidade de superação de barreiras, a busca de ser mais traduzida na
transcendência.
7. Uma proposta de intervenção na escola

A intervenção, materialização da teoria estudada e implementada do


material elaborado, ocorreu na cidade de Jandaia do Sul, no Centro de
Educação Estadual para Jovens e Adultos “Cecília Meireles”, visando à
operacionalização do conteúdo Dança.
A proposta de intervenção se pauta nos princípios norteadores da
Motricidade Humana, levando-se em consideração a faixa-etária, optou-se por
iniciar as aulas com atividades expressivas, ou seja, atividades que os alunos
pudessem se expressar sem se sentirem constrangidos, uma vez que o
conteúdo Dança no senso comum lembra coreografia com passos definidos e
bem ensaiados.
Nas aulas seguintes apresentamos alguns ritmos brasileiros de
Dança: Forró, Samba e o Xote. E, por fim, a implementação do Folhas que
tinha como proposta a Dança Afro-descendente.
O Folhas têm como proposta instigar o aluno por meio de reflexões e
atividades. No caso da Educação Física as sugestões também são de
atividades práticas. Nas atividades desenvolvidas houve momentos de
questionamentos, experimentação das Danças sugeridas pelo professor,
coreografias produzidas pelos alunos, vídeos de coreografias prontas na
internet, pesquisa e debates dos temas culturas e políticos que envolvem a
cultura Afro-descendente no Brasil. Por fim a sugestão de uma atividade que
envolvessem os alunos e suas famílias a participar de um festival relacionado
à cultura Afro-descendente, com coreografias elaboradas pelos alunos em
parceria com o professor.
Para esta intervenção foram elaborados 08 planos de aula, sob a
orientação do professor-orientador, para serem aplicados em 32 horas/aulas
junto aos alunos da EJA, nas quais ministramos aulas. Era turma mista, de
idade que variavam de 18 a 55 anos. Na primeira aula explicamos a turma
sobre o trabalho a ser desenvolvido. Na seqüência implementamos os planos
anteriormente elaborados.
Das 32 horas/aulas ministradas, doze (12) foram destinada a
aplicação do material didático Folhas, o tema foi a Dança Afro-descendente, e
o título: Dança: uma possibilidade para a Educação de Jovens e Adultos.
Utilizamos 08 horas/aulas, para de Dança de salão: Samba, Xote e
Forró, os alunos vivenciaram estes ritmos, seu histórico. Pesquisaram a região
a qual estas Danças pertencem e as suas indumentárias. Dançaram livremente
estes ritmos musicais, individualmente, em duplas, em grupo. Assistiram na
internet danças coreografadas e experimentaram a passos de coreografias
prontas.
As doze (12) primeiras aulas da intervenção foram destinadas a
atividades expressivas, com a finalidade de o aluno vivenciar as possibilidades
do corpo próprio, além de ampliar, explorar e experimentar os limites de
tempo/espaço, ritmos musicais, e movimentos. Chamando a atenção para
percebessem porque temos tanta dificuldade em nos expressar pela
corporeidade, também de tocar e ser tocado.
Levamos o aluno a perceber a sua corporeidade no ambiente de
trabalho,nos momentos de prazer e ócio. Houve a tentativa de ensinar que é
pelo corpo que ocorre a possibilidade de comunicação com o mundo, visando a
superação de barreiras, aumentando a autoconfiança, ou seja, a busca de ser
mais traduzida na transcendência.
Escolhemos as aulas de atividade expressiva para relatar,
acreditando ser a atividade que melhor elucidou os princípios da Motricidade
Humana, por ter sido o primeiro contato com esta nova proposta metodológica.
Os alunos quando se sentiram confiantes em si, e no grupo, participaram com
maior entusiasmo.

7.1 A materialização do Plano de Aula


Apresentaremos, agora, primeiramente, uma das atividades
vivenciadas no Plano de Aula, construído para o primeiro encontro e, a seguir,
um Relatório Comentado referente à aula ministrada utilizando essa proposta,
visando melhor elucidar a implementação dos princípios da Motricidade
Humana na intervenção. Esclarecemos que também algumas observações
foram feitas ao longo do relato.

A intervenção contou com a participação de 25 alunos de Ensino


Médio do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos “Cecília
Meireles”. Era uma turma de ambos os sexos com faixa etária de 18 a 55 anos.
O conteúdo estruturante foi a Dança e o tema Atividade Expressiva.
Os objetivos para esta aula foram:
- Experimentar as diversas possibilidades da atividade expressiva na
aula de Educação Física; explorar por meio das vivências o domínio do espaço
e tempo em relação ao corpo próprio; perceber os limites do corpo próprio e
vivencia a sua superação; vivenciar movimentos individualmente e em grupo.
É preciso que os jovens e adultos viva e sinta o seu corpo, seu
espaço de ação, entre os objetos, as pessoas, percebendo as possibilidades
para que ela própria experimente suas relações com o espaço, a partir do real
e vivido. Assim o aluno estará descobrindo o corpo próprio explorando o
espaço físico dominando o espaço e tempo. Também é necessário que durante
a atividade ela tenha acesso a informações da importância de pensar no
próprio corpo, discutindo e percebendo que ao se expressar estão
experimentando sensações de tocar e ser tocado, assim ela passa a ter
conhecimento daquilo que está vivenciando.
Ao iniciar a aula explicávamos o que iria acontecer no projeto ao
qual estavam participando, ou seja, que se tratava de uma intervenção sob um
novo paradigma, preocupada com o ser humano que pensa, sente, age,
questiona, não somente com os movimentos mecânicos, meramente repetitivos
preocupado com os resultados que estes possam trazer a seu executante.
Para começar a aula explicava-se ao aluno o tema e o objetivo da
aula, e relembrávamos rapidamente o que tínhamos estudado na aula
passada, em seguida o aluno relatava o que sabia sobre o tema tratado.
Comentários durante a execução das atividades:
O que pensamos quando falamos em corpo? Para que precisamos
do nosso corpo? Como estamos acostumados a perceber nossa corporeidade?
Por que temos tanta dificuldade de nos expressar corporalmente? Já pararam
para pensar que nosso corpo não é só matéria, mas emoção, sentimento, que
está tudo ligado não há divisão. E que podemos até nos comunicarmos sem a
fala?
Observação: o professor destina um tempo de aproximadamente de 05 a 10
minutos para que os alunos reflitam e falem sobre os questionamentos, o
tempo pode variar de acordo com o interesse da turma no assunto.
Comentários durante a execução das atividades:
Vamos aprender na aula de hoje que, somos um corpo que vai além
da sua existência para apenas trabalhar, sentir dor, indisposição, cansaço.
Quando pensamos em nosso corpo temos em mente as partes, aquelas que
estudamos: cabeça, tronco e membros. O corpo não é divido em partes. Na
verdade somos únicos, inteiros e indivisíveis.
O professor pede aos alunos que andem pela sala de aula por
alguns instantes. Em seguida pergunta: Como vocês se movimentaram?
Conseguiram perceber os movimentos do corpo no deslocamento? Sentiram o
corpo próprio fazendo estes movimentos?
Neste momento com o objetivo de ampliar as percepções corporais
dos alunos, o professor sugere uma atividade em que os alunos possam
perceber o próprio corpo:
- Andem bem devagar por toda sala de aula, sintam os pés no solo,
percebam como vocês andam, qual o movimento que faz os braços ao andar,
as pernas, a cabeça. Enfim, com todo corpo. Continuem andando bem
devagar, agora para trás. Andem lateralmente, ora para direita, ora para a
esquerda. Vamos tentar andar nas pontas dos pés. Continuem andando bem
lentamente, desta vez movimentando os braços bem devagar. Os braços agora
se movimentam para todas as direções. Olhando para os braços agora.
Continuem andando. Vamos agora movimentar os ombros, para frente, para
trás, sempre bem devagar. Para melhor sentirmos nossa corporeidade, vamos
repetir estes movimentos com os olhos fechados
Observação: O professor repete a seqüência dos movimentos e pede que
todos se concentrem ao fazê-lo com os olhos fechados. O professor precisa ter
a sensibilidade de mudar de atividade ao perceber que os alunos estão ficando
desmotivados com a atividade.
Comentários durante a execução das atividades:
Sintam o seu corpo quando nos locomovemos. Percebam que muitas
vezes andamos tão apressadamente nos afazeres do dia-a-dia, que não
percebemos que o ato de andar nos leva a algum lugar, e que dependendo de
como andamos representa mesmo nosso humor, nossa auto-estima, o que
estamos sentindo, ou, qual a intenção pela qual andamos. Podemos nos
locomover rumo à nossa felicidade, rumo à nossa liberdade. Reflitam sobre
isso.

Avaliação:
Ao final de aula solicitávamos um breve relato oral das atividades
vivenciadas, como “o que aprenderam hoje?”, ou, “o que gostaram o que não
gostaram?” o que sentiram dificuldade em realizar?“. Deste modo
retomaríamos o objetivo da aula e o conhecimento que estávamos ensinando.
Lembrar aos alunos que o assunto tratado fazia parte de um
conteúdo estruturante Dança da disciplina de Educação Física. Usamos como
material de apoio o livro didático da Secretaria Estadual de Educação do
Estado do Paraná na Disciplina de Educação Física, capítulo “Os Segredos do
Corpo”, para aprofundamento de conhecimentos teóricos.
Por meio das Atividades Expressivas ensinamos que o corpo próprio
é mais que aparência física, que a beleza estética, e que a nossa aula
considera a individualidade, a sensibilidade, o prazer, a manifestação corporal
como forma de externar a sensualidade, a liberdade, a alegria, garantindo um
ambiente propício para o ensino-apredizagem.
Nesta parte final da aula podemos:
- Questionar: O que aprendemos hoje?
- Ouvir os alunos levando-os a sintetizarem verbalmente o que
aprenderam e a refletirem sobre as atividades vivenciadas na aula;
- Deixar claro para o aluno que nas aulas de Educação Física há
sempre um conteúdo a ser aprendido;
- Levar o aluno a compreender para que serve a aula;
- Retomar com o aluno o objetivo daquela aula.
Observações: Quanto às vivências, destacamos que as orientações e desafios
propostos pelo professor devem permitir o fazer e o pensar, construir o
aprender.
O professor pode:
Questionar sempre, problematizando inclusive durante a execução
da atividade proposta, para que a ação motora seja sempre mediada pela
reflexão dessa mesma ação. A reflexão está presente em todo o processo da
aula, visando levar o aluno a compreender o que fez.
Explorar todos os recursos do local e, sobretudo evitar que os
alunos fiquem só olhando.
Propor desafios, considerando que nesse tipo de proposta, não há
uma resposta igual para todos os alunos, a aula é a mesma para todos e única
para cada um.
Ao longo da aula o professor vai organizando outras propostas,
outros exercícios/ ou variando a proposta inicial, alterando a dinâmica da aula,
sem perder de vista o objetivo.

Observação: O Plano de aula é flexível

7.2- Reflexões sobre a Intervenção

Ainda que intervenção focasse a Dança, priorizou-se o trabalho de


atividade expressiva nas primeiras aulas para que o aluno vivenciasse a sua
corporeidade, tendo em vista auxiliar nos trabalhos futuros sobre o ensino do
conteúdo estruturante Dança.
Percebemos ao movimentar-se, ao criar, ao expressar-se, os alunos
experimentaram sensações que seguramente enriqueceram sua vivência
corporal, pois experimentam movimentos que ainda não haviam sido
vivenciados.
Queremos ressaltar a importância dos momentos de reflexão sobre
a ação executada, quando o aluno, tendo a possibilidade de questionar, pensar
nos movimentos realizados, refletindo sobre sua vivência corporal e relatando,
enriquecendo assim as experiências vividas.
É interessante destacar, o papel da mediação do professor nos
diferentes momentos da atividade, valorizando os conhecimentos trazidos pelo
aluno e garantindo a apropriação dos saberes produzidos socialmente, o que
favorece “os processos de experimentação, de reflexão, de compreensão e,
conseqüentemente, de auto-superação”31 do aluno com vistas a novas
apropriações.

31
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
272.
8. Considerações finais num processo inacabado

“... o único conhecimento que vale é que se


nutre da incerteza...”
Edgar Morin

Nesse Processo de Formação Continuada PDE a nossa intenção


não foi de oferecer receitas, mas sim proporcionar um conjunto de princípios
orientadores à luz da Motricidade Humana, que deu respaldo à práxis-
pedagógica das aulas de Educação Física no ensino de Jovens e Adultos do
Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos Cecília Meireles.
Não há neste trabalho a pretensão de dar soluções, mas uma
proposta didático-metodológica, na intervenção da Educação Física no âmbito
escolar, mesmo porque há uma tênue linha que diferencia as aulas ministradas
na Educação Física e as propostas por essa nova concepção.
Nossa proposta no inicio do PDE foi de ultrapassar a visão
fragmentada da Educação Física, e vislumbrar um novo paradigma com o
tema: a Motricidade Humana e a práxis educativa, Educação de Jovens e
Adultos, contemplando o conteúdo estruturante Dança.
Preocupado com esta realidade fragmentada da Educação Física, o
presente trabalho colocou em evidência o contributo da Ciência da Motricidade
Humana na Educação de Jovens e Adultos. E que é possível uma intervenção,
uma práxis no ensino da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos à
luz da Ciência da Motricidade Humana.
Este novo paradigma pode trazer em sua concepção, uma ação
diferenciada para nossas aulas, que acredita na reflexão, na experimentação,
que o aluno compreenda como, porque e para que se movimenta,
compreendendo isso tenha a oportunidade da auto-superação, da
transcendência.
No entanto, acreditamos que essas reflexões serviram para
desencadear mudanças de posturas, e atitudes tornando as aulas de Educação
Física numa prática pedagógica com vistas a permitir ao aluno sobre sua
corporeidade de forma a compreender-se como um ser que não possui um
corpo, mas que é um corpo por inteiro, em sua complexidade e totalidade.
Há um longo caminho a se percorrer, mais estudos, mais acertos,
mais erros, mas com certeza os primeiros passos foram dados.
A construção do Plano de Trabalho deu suporte a todas as ações
desenvolvidas no Programa, foi árdua, porém, prazerosa, contou com a
orientação do Professor-orientador da Universidade, norteando todas as etapas
que viriam a seguir.
No que se refere ao Grupo de Trabalho em Rede, pode-se notar que
não alcançou a expectativa de capacitar trinta e sete professores da rede, este
número ficou bem abaixo do esperado. Observamos muitas dificuldades por
parte dos Professores GTR pela inexperiência, falta de capacitação, e tempo
disponibilizado pelas escolas em trabalhar na Plataforma Moodle. A falta de
participação ativa na discussão da implementação, comprometendo
significativamente o Programa no que se refere à construção coletiva do
material pedagógico. A Nossa sugestão é que seja realizado em horário
presencial, sob a orientação do Professor PDE, para que se obtenha melhores
resultados.
Em contrapartida, o Programa de Desenvolvimento Educacional,
PDE, do Estado do Paraná, na sua versão 2007/2008, foi um sucesso, e
possibilitou constatar que é um importante instrumento de qualificação
profissional, proporcionou uma aproximação da Escola Pública com as
Universidades, em que a troca de experiências e o contato com as novas
teorias propiciaram a criação de novas metodologias, proporcionando, com
certeza, mudanças significativas processo ensino-aprendizagem.
Para finalizar, deixo registrada a satisfação pessoal que este
Programa proporcionou, não apenas pela valorização profissional, mas
principalmente, pela oportunidade de superar limites, vencer obstáculos, que
em muitos momentos pareciam intransponíveis. Cada etapa foi um desafio, um
aprendizado, superado com o apoio do Professor-orientador e dos
companheiros, Professores PDE, que não mediram esforços para este
Programa fosse tão brilhantemente conduzido.
9. Referências Bibliográficas

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