Motricidade Humana
Motricidade Humana
Motricidade Humana
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo propor possíveis orientações na
Educação de Jovens e Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana. Estas
reflexões fizeram parte do programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),
implantado pelo Governo do Estado do Paraná com a finalidade de realizar
uma Formação Continuada dos Professores Estaduais em parceria com as
Universidades do Estado. Este projeto destacou a concepção de uma nova
ciência: cuja preocupação é o homem em sua totalidade, globalidade e
complexidade, a Ciência da Motricidade Humana, em consonância com uma
práxis transformadora, no sentido de contribuir no ato educativo e na formação
de nossas crianças, jovens e adultos. Num primeiro momento fiz-se um estudo
teórico para entender e dimensionar a crise que passa a Educação Física e
como superar a visão fragmentada e meramente física assumida no âmbito
escolar, que à luz de uma nova ciência possamos tentar mudar nossas atitudes
e metodologias, nos questionamos: Qual o contributo da Ciência da
Motricidade Humana na Educação de Jovens e Adultos? Como seria a
intervenção, a práxis, no ensino Educação Física na Educação de Jovens e
Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana? Em um segundo
momento,houve a intenção ressignificar a tradicional Educação Física com a
colaboração dos professores da Rede Pública, por meio de um programa on
line. Em seguida houve a produção do material didático, nomeado “Folhas”. E
por fim, implementamos a intervenção nas aulas sob a égide da Ciência da
Motricidade Humana. Os alunos da Educação de Jovens e Adultos tiveram a
oportunidade de vivenciar uma metodologia que contribuiu para a sua formação
humana.
ABSTRACT
The present work has as objective to propose possible orientations in the
Education of Youths and Adults to the light of the Science of Human Motion.
These reflections were part of the program of Education Development (PDE),
introduced by the Government of the State of Paraná with the purpose of
accomplishing a continuous formation of the state teachers in partnership with
the Universities of the State. This project highlighted the design of a new
science: whose concern is the man in full, the Science of Human Motion, in line
with a practice processing, to contribute to the educational act and in our
children's formation, youths and adults, for believing in the materialization of the
principles and assumptions that guide this new science, In a first moment we
did a theoretical study to understand and assess the crisis that passes the
Physical Education and how to overcome the fragmented vision and merely
physics commitment in school , that to the light of a new science might change
our attitudes and methodologies, we questioned ourselves: What does the
Science of Human Motion in the Education of Youths and Adults? How would
be the intervention, the practice, teaching Physical Education in the Education
of Youths and Adults to the light of the Science of Human Motion? In a second
moment, re-mean the traditional Physical Education with the collaboration of
teachers of the Public Education through an on-line program. Then, there was
the production of the teaching material, nominated "FOLHAS". And finally, we
implemented the intervention in the classes under the aegis of the Science of
Human Motion. The students of the Education of Youths and Adults had the
opportunity to live a methodology that contributed to their training human.
1
Doravante,usaremos a expressão professor PDE para designar os professores selecionados por concurso
para participarem do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.
2
Daqui para frente, neste texto, usaremos a expressão professores GTR, para designar os professores
participantes dos Grupos de Trabalho em Rede.
Nos Grupos de Trabalho em Rede, foram compartilhados e
socializados os conhecimentos adquiridos pelo professor PDE nos Seminários
e Cursos oferecidos pela Secretária de Educação do Estado e pela Instituição
de Ensino Superior. Conforme o PDE prevê, a carga horária dos Grupos de
Trabalho foi de sessenta (60) horas, efetuada em rede on line, à distância, de
modo virtual, com apoio da Plataforma Moodle.
Moodle é uma plataforma de acompanhamento e integração em
rede, de modo informatizado, que esteve inserida no Portal Dia-a-dia Educação
do Governo Estadual do Paraná, no período de 10/09/2007 à 30/06/2008.
Essa plataforma teve o objetivo de proporcionar a integração entre os
professores PDE e os professores do GTR, no sentido de compartilhar
conhecimentos e construir coletivamente uma possibilidade de intervenção.
c) Produção Didático-pedagógica caracterizada pela produção de
Material didático Folhas pertinente ao objeto de estudo, de acordo com sua
área/disciplina.O Folhas é um projeto de Formação Continuada que favorece
ao profissional da educação a reflexão sobre sua concepção de ciência,
conhecimento e disciplina, que pode propiciar mudanças na prática docente. O
Folhas integra o Projeto de Formação Continuada e valorização dos
profissionais da Educação da Rede Estadual do Paraná, instituído pelo Plano
Estadual de Desenvolvimento Educacional. O Folhas, nesta dimensão
formativa, é a produção colaborativa, elaborada pelos profissionais da
educação, de textos com conteúdos pedagógicos que constituíram material
didático para os alunos e apoio ao trabalho docente.
O material didático Folhas elaborado para fazer parte da intervenção
pedagógica na presente Formação Continuada teve como tema a Dança Afro-
descendente, intitulado: Dança: uma possibilidade para a Educação de Jovens
e Adultos.
d) Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,
visando principalmente enfrentar e contribuir para a superação das fragilidades
e problemas apontados pelo Professor PDE na escola de atuação. Nossa
intervenção ocorreu no Centro de Educação Básico para Jovens e Adultos
“Cecília Meireles”, Município de Jandaia do Sul, Estado do Paraná.
Para instaurarmos o novo, efetivar as mudanças necessárias e,
ainda, trabalharmos em convergência aos objetivos das diretrizes curriculares,
assumimos neste projeto, a Ciência da Motricidade Humana.
A organização desse programa de formação continuada em serviço
favorece a comunicação do mundo vida do professor da instituição de ensino
superior articulado com o mundo vida do professor da realidade da educação
básica. Esse diálogo possibilitou a construção de ações de intervenção de
forma compartilhada e consistente, de modo a diminuir a distância entre a
ciência e o real escolar.
2.1 Introdução
3
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa.2006. 382 p.
Dissertação (Doutorado) – Universidade da Beira Interior, Portugal. p.36.
4
SILVA, João Bosco da. Educação Física, esporte, lazer: aprender fazendo. Londrina:
Lido,1995. p.58.
A Educação Física Escolar vem solicitando mudanças. Estamos
mergulhados num processo de transição, rumo à transformação, em que se
busca romper com a prática educativa fundamentada no paradigma cartesiano
tradicional, caracterizada pela dicotomia corpo/mente, presa ao físico tão-só e
a métodos rígidos, porque [...] não podemos ser somente educadores de
físicos/de movimento humano e sim, fazemos parte de um processo de
formação/educação de humanos que se movimentam.5
Portanto, para superar a educação meramente do físico,
apresentamos uma nova ciência do homem: a Ciência da Motricidade Humana,
que considera o homem como ser complexo e inteiro, que se movimenta com
intencionalidade, transcendendo em busca de ser mais, ser melhor.
Preocupado em ultrapassar esta visão fragmentada da Educação
Física, e sustentado com o tema: A Motricidade Humana e a práxis educativa,
o presente trabalho põe em evidência os seguintes questionamentos: Qual o
contributo da Ciência da Motricidade Humana na Educação de Jovens e
Adultos? Como seria a intervenção, a práxis, no ensino da Educação Física na
Educação de Jovens e Adultos à luz da Ciência da Motricidade Humana?
Com base nestes questionamentos e tendo em vista o nosso objeto
de estudos, o presente artigo, articulado com o Plano de Trabalho pretende
contribuir para incorporar às práticas pedagógicas na Educação de Jovens e
Adultos e os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana.
Num primeiro momento contextualizamos, a Educação de Jovens e
Adultos, aliados ao desafio de relacionamos os pressupostos da Ciência da
Motricidade Humana a esta modalidade de ensino.
5
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. 2006, 382
p. Dissertação (Doutorado) – Universidade da Beira Interior, Portugal. p. 123-124.
e mente6, para um paradigma emergente, que é a nova ciência do homem: a
Ciência da Motricidade Humana.
A Educação Física reclama mudanças, e há algum tempo busca
respostas às necessidades exigidas para sua legitimação. Como explica
Feitosa (1993) [...] a Educação Física entra em crise quando entra em crise a
visão cartesiana do homem7.
Para que as mudanças se efetivassem no âmbito da EJA precisou
romper com a concepção dualista de homem que visa o físico tão-só,
assumindo um novo paradigma que contempla à complexidade humana, que
considere o homem indivisível em sua totalidade e complexidade, [...] corpo-
mente-desejo-natureza-sociedade [...]8.
Por esse motivo a Ciência da Motricidade Humana provocou um
corte epistemológico em relação à Educação Física. Conforme Pereira (2006) a
que:
Houve necessidade de superar a Educação Física por mudança de
concepção paradigmática. Portanto, há de efetivar e consolidar o
corte epistemológico, porque essa área de conhecimento não pode
mais ser conivente com o passado clássico e com a continuidade do
império da razão absoluta fundada num racionalismo (Galileu,
Descartes, Newton, Kant e outros), pois a ciência do nosso tempo
eclode em uma outra perspectiva e exige uma nova ordem científica,
9
sistémica, aleatória e incerta.
6
BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister,1992. p. 71.
7
FEITOSA, Anna Maria. Contribuições de Thomas Khun para uma epistemologia da
motricidade humana, 1993. p. 51
8
SÉRGIO, Manuel. Alguns olhares sobre o corpo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003b. (Coleção
Epistemologia e Sociedade) p.15.
9
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. Op. cit.
p.126.
10
SÉRGIO, Manuel. Motricidade Humana: contribuições para um paradigma emergente,Lisboa.
Instituto Piaget, 1994.p.128
formação de alunos que não cursaram a escola em tempo normal. Como
determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº
9394/96, em seu artigo 37, prescreve que [...] a educação de jovens e adultos
será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudo no
ensino fundamental e médio na idade própria11.
Ao retornarem para completar sua escolarização, observa-se, a
partir da experiência vivenciada, que estes alunos regressam, para a escola,
desejosos, para melhorar suas vidas. Em sua maioria, eles estão motivados
pela esperança de ter, na educação formal, uma chance de competir no
mercado de trabalho, por melhores cargos e salários, ou pela possibilidade de
transformar sua realidade social e cultural. De acordo com as Diretrizes
Curriculares Estaduais (DCE) os educandos quando [...] procuram a Educação
de Jovens e Adultos têm a necessidade da escolarização formal; seja pelas
necessidades pessoais, seja pelas exigências do mundo do trabalho12.
Todavia, a Educação de Jovens Adultos tem como objetivo, de
acordo com as DCE, proporcionar a [...] formação humana e com acesso à
cultura geral, de modo a que os educandos venham a participar política e
produtivamente das relações sociais13, considerando a realidade na qual o
educando está inserido e os conhecimentos por ele adquiridos ao longo de sua
vida, que muitas vezes não são conseguidos de maneira formal, mas pelas
experiências do meio em que vive.
O educador deverá ser mediador entre os saberes do conhecimento
popular (senso comum) e o conhecimento erudito (científico), procurando
compartilhar os conhecimentos necessários à transformação da realidade
social do educando a construção da sua autonomia. Para Kuenzer (2000) a
educação deve dirigir-se para [...] a formação na qual educandos-trabalhadores
possam: aprender permanentemente; refletir criticamente; agir com
responsabilidade individual e coletiva14.
Ensinar é ajudar o educando, por meio dos conteúdos da Educação
Física, a ser uma pessoa que busque sua própria emancipação e
11
PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares, da educação
de jovens e adultos no Estado do Paraná, (versão preliminar). 2005. p. 28.
12
Idem, Ibidem. p. 33.
13
Idem, Ibidem. p. 30.
14
KUENZER, Acácia Zeneide. Ensino médio: construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2000. p. 40.
transcendência, não somente na aquisição dos conhecimentos da aula, mas
também para além dos muros da escola, ou seja, na vida.
Importante acrescentar, pela experiência vivida, que o educando da
EJA, na maioria das vezes, já possui um conceito da disciplina de Educação
Física, por tê-la vivenciado na escola. Se a experiência foi positiva, lhe deu
prazer ao executá-la, o aluno irá ter boas lembranças. Ao contrário, se era uma
prática seletiva, antidemocrática, em que os bons alunos jogam e os ruins, os
gordinhos, e outros, sentam, possivelmente, este educando traz na memória
lembranças não tão agradáveis da disciplina.
Ressalta-se neste momento a importância do educador, que tem
papel primordial em fomentar uma nova significação às aulas, ou seja, um novo
sentido afastando a idéia de que o movimento deva estar voltado apenas ao
gesto motor, a competitividade exacerbada, a exclusão de alunos menos
habilidosos nas aulas de Educação Física.
Interessante se faz mencionar estudos de Pereira (2006) que elucida
[...] Educar pela Motricidade é [...] educar para a criticidade, para a autonomia,
para a liberdade e para a transcendência15, da vida humana. E é isso que
almejamos para a Educação de Jovens e Adultos.
O acesso desses alunos, no universo da motricidade humana, passa
pela compreensão, pois educar […] para uma disciplina determinada é uma
coisa; educar para a compreensão humana é outra16. Para que a compreensão
de mundo se concretize, faz-se necessário olhar para além do movimento em
função da técnica mecânico e repetitivo. É pela Motricidade Humana, que tem
como princípio a constante evolução do ser humano, que o aluno da Educação
de Jovens e Adultos, pode ter condições para ser autor e protagonista de sua
própria história.
Superando a visão do físico tão só
A Ciência da Motricidade Humana defendida pelo português Manuel
Sérgio efetiva um corte epistemológico com a tradicional Educação Física. Isso
significa que a intervenção pedagógica na Educação de Jovens e Adultos, à luz
dessa ciência, não aceita mais a visão dualista, que separa corpo e alma,
15
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. Op. cit. p.
267.
16
MORIN, Edgar. Sete saberes necessários à educação do futuro. 9 ed. São Paulo: Cortez
Editora. Brasília, DF: UNESCO, 2000. p. 93.
refuta a concepção mecânica do movimento, da prática pela prática, ou seja,
da simples educação do físico, uma vez que educamos pessoas.
É justamente o que propõe a Motricidade Humana, porque trata da
totalidade humana, do individuo global inserido na sociedade, como sujeito-
agente e crítico, tendo como objetivo romper com a antiga e tradicional
Educação Física, que tinha suas aulas atreladas ao físico, ao mero fazer, sem
as reflexões/compreensões necessárias à sua prática.
Trabalhamos para que as mudanças se efetivem quanto à
intervenção nas aulas Educação Física, na EJA, visando por meio dos
conteúdos da Dança, Luta, Jogo, Ginástica e Esporte levar o educando a uma
formação emancipatória e crítica. Precisamos criar novas metodologias que
favoreça possibilidades de autonomia, humanização deste educando.
Defendemos uma motricidade intencional do ser humano, que é
inteiro e complexo. Vislumbramos mudança de hábitos e atitudes, no sentido
de consolidar de uma autêntica práxis, que contribua para a formação humana.
Apresentar uma proposta, que considera corporeidade o mesmo que
motricidade constitui numa necessidade urgente, visto que vivemos num
momento de transição/transformação, rumo a uma práxis libertadora, que
explora os movimentos com intencionalidade, legitimada pela Ciência da
Motricidade Humana.
Segundo o contemporâneo filósofo Manuel Sérgio:
A motricidade humana é o corpo em movimento intencional,
procurando a transcendência, a superação, em nível integralmente
humano e não do físico tão-só, [...] seu corpo próprio é ser
17
consciência e ser consciência é ser movimento .
17
SÉRGIO, Manuel, apud, Pereira, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis
educativa.op. cit. p. 151.
O objetivo primordial do ensino em Educação Física escolar é
promover a aprendizagem dos conteúdos de uma cultura corporal de
movimento. Os objetivos do fazer pedagógico, revelados numa ação
intencional do professor, que pretende a formação do ser humano, devem se
assentar numa base sólida de conhecimento visando, sobretudo, ensinar nosso
aluno [...] a como aprender.18 É necessário, porém, sensibilidade para
reconhecer que não precisamos de manuais explicativos com etapas a ser
seguidas, mas de um princípio de conhecimento, que oriente nossa ação num
mundo em processo de transformação acelerada e que requer uma pedagogia
e uma escola capazes de [...] encontrar maneiras de preparar para a
transformação constante, para a reconversão e aprofundamento intermináveis,
para a crítica e reconstrução permanentes.19
18
CARREIRO DA COSTA, Francisco. Formação de Professores: objectivos, conteúdos e
estratégias. In: Formação de Professores em Educação Física: concepções, investigação,
prática. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana, 1996. p. 17.
19
VALENTE, Bartolomeu apud FEITOSA, Anna Maria. Contribuições de Thomas Kuhn para
uma epistemologia da motricidade humana, op. cit., p. 155.
20
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit. p.
254
21
GHEDIN, Evandro. Professor reflexivo; da técnica à autonomia da crítica. In: Pimenta, Selma
Garrida & Ghedin, Evandro (Org.). São Paulo: Cortez, 2002. p. 133.
ação/reflexão, reflexão/ação, não ficando apenas no nível de meras
transmissões de idéias e de elocuções teóricas, mas que está práxis esteja
relacionada à vivência do educando a que ele pertença, havendo uma
autêntica intervenção mediada por um agir crítico e consciente do professor.
Como ressalta Pereira (2006):
a práxis é a condição de existência humana, que se revela na
corporeidade , ou seja, o mesmo que dizer, na motricidade! E radica
numa complexidade que envolve, simultaneamente: o ser-no-mundo;
o sensível e o inteligível; a natureza e a cultura; a ação e a reflexão, a
linguagem do sentido e do significado; a compreensão e o critério
22
crítico; e ainda a liberdade de criação e de expressão .
22
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
180.
23
Idem, ibidem. p.180
24
SÉRGIO, Manuel. Alguns olhares sobre o corpo, op cit., p. 91.
25
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, op. cit., p.
93.
26
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p. 81.
Ao nos questionarmos como poderia se operacionalizar as ações
que consolidam esta práxis pedagógica, nas aulas de Educação Física, faz-se
necessário dizer que não será possível apresentar soluções mágicas,
imediatas, nem receitas ou manuais. Freire diz que […] ensinar não é transferir
conhecimentos, mas criar oportunidades para a sua própria produção ou a sua
construção27. Espera-se que a escola possa ser responsável por uma práxis
pedagógica comprometida com a formação do educando, na construção do
processo de educação para a cidadania.
Nesse Processo de Formação Continuada PDE a nossa intenção
não foi de oferecer receitas, mas sim proporcionar um conjunto de princípios
orientadores à luz da Motricidade Humana deu respaldo à práxis-pedagógica
das aulas de Educação Física no ensino de jovens e adultos do Centro de
Educação Básica para Jovens e Adultos “Cecília Meireles”.
A Motricidade Humana, à luz da complexidade, nos indicou um
caminho a trilhar. Caminho cheio de dúvidas e incertezas, mas que ajuda a
construir a nossa práxis.
- Como fazer essas mudanças acontecerem no ambiente de ensino
da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos?
Trabalhamos com os princípios, do paradigma da complexidade.
Esses abaixo orientaram nossa intervenção:
- A dúvida e a certeza constituem os primeiros passos para a
transcendência.
- A reflexão da ação, a auto-observação, a auto-crítica favorecem a
auto-organização e auto-transformação que não podem ter fim.
- O método é um caminho que se constrói, se inventa e se
experimenta.
- O contexto dos contextos: O todo interage com as partes. A aula é
parte do todo educacional e o que compõe a aula é a parte do todo
da aula.
- Para além do linear e da simples relação causa e efeito.
- O equilíbrio entre o que foi construído culturalmente e a construção
28
do presente perspectivando mudanças .
27
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29 ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2004. (coleção Leitura). p. 47.
28
Pereira, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
238
se. E ainda, foram eles que subsidiaram a nossa intervenção do dia-a-dia da
sala de aula.
Silva (1995) explica que a:
necessidade de se instaurar a pedagogia da incerteza, em que os
profissionais não mais aceitam o “racional e objetivo” como verdades
absolutas e passam à assumir, com coragem e determinação o fato
de que o conhecimento nasce da pergunta, da crítica, da dúvida, da
incerteza, dos antagonismos, problemas e contradições e também do
29
respeito aos valores humanos .
3- Construindo um caminho...
29
SILVA, João Bosco da. Educação Física, esporte, lazer: aprender fazendo, op. cit. p. 64
30
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
226.
Nosso primeiro contato, como Professor PDE, com a Instituição de
Ensino Superior foi por meio de Encontro de Área com professores da
Universidade Estadual de Londrina da área/disciplina de atuação.
Em seguida nos dividimos em grupos, sob a orientação dos
professores da Universidade que iriam nos orientar nos trabalhos relativos a
esta formação continuada.
A escolha de uma teoria que vislumbrasse nossos anseios foi feita
junto com o professor-orientador para que redimensionássemos a concepção
de Educação Física, e que oferecesse possíveis respostas aos problemas
encontrados nas aulas.
Iniciamos sob a orientação do professor-orientador, seleção e estudo
teórico acerca do objeto de estudos: Motricidade Humana: Educação,
Educação Física e Intervenção Pedagógica.
A partir dos referenciais teóricos, e com o objeto de estudo definido,
construímos o Plano de Trabalho, visando viabilizar mudanças efetivas e
concretas para a intervenção da Educação Física no âmbito escolar.
Ao mesmo tempo, com a finalidade de redimensionar a concepção
de educação, a Secretaria de Educação em parcerias com as Universidades
Estaduais proporcionou Cursos, Seminários, Encontros de Área, estas
formações aconteceram no primeiro e no segundo semestre de 2007, e
Encontros de Orientação durante os dois anos de duração do PDE.
Em cumprimento ao programa PDE, partilharmos os conhecimentos
adquiridos e construímos coletivamente a intervenção nas escolas, com o
Professor GTR. Nosso contato com estes professores ocorreu via on line, e
tínhamos como tarefa enviar textos disponibilizados nos seminários, cursos e
outros. Socializar também Plano de Trabalho e, compartilhar a construção do
Material Didático.
Elaboramos o Material Pedagógico Folhas, a partir do referencial
objeto de estudos Motricidade Humana: a Práxis Pedagógica. Este material nos
auxiliou na intervenção na EJA, com a implementação da proposta na escola
de atuação do Professor PDE.
Avaliação:
Ao final de aula solicitávamos um breve relato oral das atividades
vivenciadas, como “o que aprenderam hoje?”, ou, “o que gostaram o que não
gostaram?” o que sentiram dificuldade em realizar?“. Deste modo
retomaríamos o objetivo da aula e o conhecimento que estávamos ensinando.
Lembrar aos alunos que o assunto tratado fazia parte de um
conteúdo estruturante Dança da disciplina de Educação Física. Usamos como
material de apoio o livro didático da Secretaria Estadual de Educação do
Estado do Paraná na Disciplina de Educação Física, capítulo “Os Segredos do
Corpo”, para aprofundamento de conhecimentos teóricos.
Por meio das Atividades Expressivas ensinamos que o corpo próprio
é mais que aparência física, que a beleza estética, e que a nossa aula
considera a individualidade, a sensibilidade, o prazer, a manifestação corporal
como forma de externar a sensualidade, a liberdade, a alegria, garantindo um
ambiente propício para o ensino-apredizagem.
Nesta parte final da aula podemos:
- Questionar: O que aprendemos hoje?
- Ouvir os alunos levando-os a sintetizarem verbalmente o que
aprenderam e a refletirem sobre as atividades vivenciadas na aula;
- Deixar claro para o aluno que nas aulas de Educação Física há
sempre um conteúdo a ser aprendido;
- Levar o aluno a compreender para que serve a aula;
- Retomar com o aluno o objetivo daquela aula.
Observações: Quanto às vivências, destacamos que as orientações e desafios
propostos pelo professor devem permitir o fazer e o pensar, construir o
aprender.
O professor pode:
Questionar sempre, problematizando inclusive durante a execução
da atividade proposta, para que a ação motora seja sempre mediada pela
reflexão dessa mesma ação. A reflexão está presente em todo o processo da
aula, visando levar o aluno a compreender o que fez.
Explorar todos os recursos do local e, sobretudo evitar que os
alunos fiquem só olhando.
Propor desafios, considerando que nesse tipo de proposta, não há
uma resposta igual para todos os alunos, a aula é a mesma para todos e única
para cada um.
Ao longo da aula o professor vai organizando outras propostas,
outros exercícios/ ou variando a proposta inicial, alterando a dinâmica da aula,
sem perder de vista o objetivo.
31
PEREIRA, Ana Maria. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa, op. cit., p.
272.
8. Considerações finais num processo inacabado