Eron Ulisses Donadello

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TEN.-CEL.

QOPM ERON ULISSES DONADELLO

0 ATENDIMENTO POLICIAL MILITAR A MULHER


ViTIMA DE VIOLENCIA DOMESTICA

Monografia apresentada por exigencia


curricular do Curso de Especializac;ao
Superior de Policia Militar em convenio com a
Universidade Federal do Parana, para
obtenc;ao do titulo de Especialista em
Estrategias em Seguranc;a Publica.

Orientador: Americo Augusto Nogueira Vieira,


D.Sc.

CURITIBA
2007
iii

Voce sabe o que e ter urn amor, meu senhor


Ter loucura por uma mu/her
depois encontrar este amor, meu senhor
Nos braqos de urn tipo qua/quer
Voce sabe o que e ter urn amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontra-lo em urn braqo
Que nenhum pedaqo do seu pode ser
Ha pessoas com nervos de aqo
Sem sangue nas veias e sem coraqao
Mas nao sei se passando o que passo
Talvez nao /he venha qua/quer reaqao
Eu nao sei se o que trago no peito
E ciume, despeito, amizade ou horror
Eu s6 sei e que quando eu a vejo
Me da urn desejo de morte ou de dor

Nervos de A~o
1
LUPICiNIO RODRIGUES

1
Lupicinio Rodrigues nasceu em Porto Alegre, RS, em 19 de setembro de 1914. Foi o criador do
termo "dor-de-cotovelo". Este termo, ao contrario do que se propagou como inveja, se refere a
pratica, comum nos bares, do homem ou mulher que se senta ao balcao, crava os cotovelos no
mesmo, pede urn whisky duplo e chora o amor que perdeu.
AGRADECIMENTOS

Ao Cel. QOPM Nemesio Xavier de Franc;a Filho, Comandante

Geral da Polfcia Militar do Parana, amigo e autoridade que concedeu a realizac;ao

deste Curso Superior de Polfcia.

Ao Cel. QOPM Altair Mariot, Diretor de Ensino da PMPR, amigo

e pela oportunidade e pelo exemplo a ser seguido.

Ao Cel. QOPM Celso Jose Mello, Comandante do Policiamento

do Interior e Orientador de conteudo, amigo e Mestre no direito e exemplo no

comando, por aceitar este desafio e pela paciencia assentida.

Ao Professor Doutor America Augusto Nogueira Vieira,

orientador metodol6gico, novo amigo, pela engenharia do conhecimento no

descortinar epistemol6gico desta monografia.

Aos amigos do CSP 2007, professores, colegas e funcionarios,

amigos para todas as ocasi6es, pelo ano de 2007 que transcorreu proffcuo grac;as a
sua colaborac;ao.
v

Conta uma lenda que no principia do mundo,


quando Deus decidiu criar a mulher,
viu que havia esgotado todos os materiais s6/idos no homem
e nao tinha mais do que dispor.
Diante deste dilema e depois de uma profunda meditar:;ao, fez isso:
Pegou a forma arredondada da lua,
as suaves curvas das ondas,
a terna aderencia das bromelias,
o tremulo movimento das folhas,
a forma esbelta da palmeira,
a nuance delicada das flares,
o amoroso olhar do cervo,
a alegria do raio de so/ e as gotas do choro das nuvens,
a inconstancia do vento e a fidelidade do cao,
a timidez da tartaruga e a vaidade do pavao,
a suavidade da pena do cisne e a dureza do diamante,
a dor:;ura da pomba e a crueldade do tigre,
o ardor do fogo e a frieza da neve.
Misturou ingredientes tao diferentes,
formou a mulher e deu ao homem.
Depois de uma semana, veio o homem e /he disse:
Senhor, a criatura que voce deu me faz desgostoso,
quer toda minha atenr:;ao,
nunca me deixa sozinho,
fa/a sem parar,
chora sem motivo,
diverte-se em me fazer sofrer e venho a devolve-/a porque Nii.O POSSO VIVER
COM ELA.
"Bem", respondeu Deus e pegou a mulher.
Passou-se outra semana, o homem voltou e /he disse:
Senhor, encontro-me muito sozinho desde que eu devolvi a criatura que fizeste para
mim, ela cantava e brincava ao meu /ado.
0/hava-me com temura e o seu olhar era uma carfcia,
ria e seu riso era musica,
era bonita de se ver e suave ao tato.
Devolva-me, porque Nii.O POSSO VIVER SEM ELA.

A Gisele Bet, que faz tudo ter sentido, sem a qual nao posso viver.
vi

( .... )
Sem muitas palavras ... ,
mas com lagrimas nos olhos,
a minha filha Leticia,
que Deus jamais permita
ser eta, vitima de tal crueldade.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APMG -Academia Policial Militar do Guatupe;


BPM - Batalhao Policial Militar;
Cel- Coronel;
CF- Constituic;ao Federal;
CNJ - Conselho Nacional de Justic;a;
CPM - C6digo Penal Brasileiro;
CPPM - C6digo de Processo Penal Brasileiro;
DARE- Drug Abuse Resistance Education (Educac;ao para Resistencia as
Drogas e Violencia Escolar;
DDM - Delegacia de Defesa da Mulher;
ECA- Estatuto da Crianc;a e do Adolescente;
IML - Institute Medico legai;
OEA - Organizac;ao dos Estados Americanos;
OMS - Organizac;ao Mundial da Saude;
ONG- Organizac;ao nao governamental;
ONU - Organizac;ao das Nac;oes Unidas;
PMPR - Polfcia Militar do Parana;
PPMM- Polfcias Militares;
PM - Polfcia Militar;
pm - policial-militar;
QOPM - Quadro de Oficiais Policiais Militares;
RPMon - Regimento de Polfcia Montada;
RR - Reserva remunerada;
Sinarm - Sistema Nacional de Armas;
TEN.-CEL.- Tenente-coronel;
UEL - Universidade Estadual de Londrina;
UFPR- Universidade Federal do Parana.
Resumo da Monografia apresentada a Universidade a
Federal do Parana e
Academia Policial Militar do Guatupe, como parte dos requisites necessaries a
obtenc;ao do titulo Especialista em Estrategias em Seguranc;a Publica.

0 ATENDIMENTO POLICIAL MILITAR A MULHER VJTJMA DE VIOLENCIA


DOMESTICA

Eron U Jisses Donadello

Outubro/2007

Orientador: Americo Augusto Nogueira Vieira, D.Sc.

Programa: Curso Superior de Pollcia, PMPR - APMG/UFPR.

Este trabalho desenvolve, a partir de pesquisa documental e bibliografica, o impacto


da Lei Maria da Penha no atendimento a violemcia domestica e familiar, que s6 a
mulher pode ser vltima, demonstrando que a agilidade e a pronta resposta do policial
militar frente a questao ocorrera se houver o ciclo completo de polfcia, medida
essencial para o eficaz combate a violemcia domestica e familiar, nos termos da Lei
11.340. 0 exercfcio da cidadania, a garantia dos direitos humanos, de igualdade, e
alteracao da situacao de fragilidade da mulher numa sociedade dominada pelo
homem, ainda impoe outras medidas praticas, lastreadas no policiamento
comunitario, enquanto se aguarda inovagoes legislativas que garantam o
cumprimento integral da Lei ora em comento.

Palavras-chave: Violencia de Genero. Atendimento a Mulher. Polfcia Militar.


ix

Abstract of Monograph show to the Accounts Department, of the Sector of Applied


Social Sciences, of the Universidade Federal do Parana, (Federal University) as
requisite to the attainment of the heading of Specialist in Strategy in Public Security.

THE MILITARY POLICE TO TAKE CARE OF TO THE VICTIM OF


DOMESTIC VIOLENCE (WOMAN).

Eron Ulisses Donadello

October /2007

Advisors: America Augusto Nogueira Vieira, D.Sc.

Program: UFPRIPMPR (Academia Policial Militar do Guatupe) accord.

This monograph develops from research registers and bibliographical the


impact of the Law "Maria da Penha", (Law 11.340, August, 7, 2006) in the attendance
the domestic and familiar violence that woman to only be victim demonstrating that
agility, to the question will occur will have the complete "cycle of the police", essential
measure for the efficient combat the domestic and familiar violence, in the terms of
Law 11.340. The exercise of the citizenship, the guarantee of the human rights, of
equality, and alteration of the situation of fragility of the woman in a society
dominated for the man still imposes other practical measures, lastreadas in the
communitarian policing, while it waits legislative innovations that guarantee the
integral fulfilment of the Law however in comment.

Key-words: Law of the Family. Domestic Violence. take care to woman.


SUMARIO

1 INTRODUCAO ......................................................................................................... 1
2 VIOLENCIA CONTRA A MULHER OU VIOLENCIA DOMESTICA? ...................... 3
2.1 CONGE ITO ........................................................................................................... 4
2.1.1 A Origem da Violencia Domestica ...................................................................... 6
2.1.2 As organizac;oes nao governamentais (ONGs) feministas ................................. 7
3 A NORMA LEGAL ................................................................................................... 9
3.1 LEI MARIA DA PENHA: LEI N° 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006 ................ 11
3.1.1 Criac;ao dos juizados de violencia domestica e familiar ................................... 12
3.1.2 Pronasci ........................................................................................................... 12
4 CICLO COMPLETO DE POLiCIA ......................................................................... 13
4.1 A ORIGEM E A EVOLU<;A.o DA POLlCIA NO MUNDO ..................................... 14
4.2 MODELO POLICIAL CONTEMPORANEO MUNDIAL ........................................ 15
4.2.1 Breves comentarios sabre a origem e evoluc;ao hist6rica da polfcia no Brasil. 16
4.2.2 A estrutura da polfcia no Brasil a luz da Constituic;ao Federal de 1988 ........... 19
4.2.3 0 subsistema policial na Constituic;ao .............................................................. 20
4.2.4 0 lnquerito Policial ........................................................................................... 21
50 QUE PODEMOS FAZER ................................................................................... 24
5.1 POLICIAMENTO COMUNITARI0 ....................................................................... 24
5.2 POLICIAMENTO ESCOLAR COMUNTARI0 ...................................................... 26
5.2.1 Prevenc;ao a pedofilia ....................................................................................... 28
5.3 ATENDIMENTO POLICIAL ................................................................................. 29
5.4 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGENCIA .................................................. 30
5.4.1 Das medidas protetivas de urgencia que obrigam o agressor ......................... 30
6 CONCLUSAO ........................................................................................................ 36
REFERENCIAS ..............................................................................................········ ... 40
ANEXO I ...................................................................................................................43
CAPiTULO 1

"Quem ama nao mata"2

1 INTRODUCAO

No Brasil, urn dos casas mais emblematicos de violencia domestica envolve


Maria da Penha Maia, uma biofarmaceutica, que lutou durante 20 anos para ver seu
agressor condenado.
Em 1983, seu entao marido, o professor universitario Marco Antonio
Herredia - o que mostra que a violencia domestica nao e exclusividade das classes
baixas au menos aculturadas - tentou mata-la duas vezes. Na primeira vez, deu-lhe
urn tiro, deixando-a paraplegica. Na segunda, tentou eletrocuta-la. Na ocasiao, ela
tinha 38 anos e tres filhas, entre 6 e 2 anos de idade.
A condenagao de Marco Antonio Herredia sobreveio somente oito anos ap6s
as fatos, cominando-se-lhe oito anos de prisao. Contudo, Marcos Herredia usou de
recursos jurfdicos para protelar o cumprimento da pena. Cumpriu dais anos em
regime fechado e logo foi posto em liberdade.
Maria da Penha foi incansavel na busca da condenagao de seu agressor.
Seu caso teve tanta repercussao que em abril de 2001, a Organizagao dos Estados
Americanos (OEA) condenou o Brasil a definir uma legislagao adequada a esse tipo
de violencia. Sobreveio, entao, a Lei 11.3403 , de 7 de agosto de 2006, publicada no
Diario Oficial de 8 de agosto de 2006, que teve sua alcunha langada como "Lei Maria
da Penha", como "homenagem" a laboriosa luta de uma mulher que nao se calou
ante as agressoes, e lutou par Justiga!
Se sairmos do cenario atual e deitarmos os olhos sabre a hist6ria humana,
veremos que o predomfnio do homem sabre a mulher, com base em sua superior
forga ffsica, e praticamente a regra, havendo apenas lendarias excegoes. 4

2
Em 30 de dezembro de 1976, Angela Diniz foi morta por Doca Street, de quem ela desejava se
separar. A morte de Angela e a libertac;ao de seu assassino levantaram um forte clamor das mulheres
gue se organizaram em torno do lema: "quem ama nao mata".
3
Na integra em anexo a presente monografia.
4
Ha teses pouco provaveis de existencia do matriarcado, e tese da existencia de tribos de mulheres
amazonas.
2

E de bem pouco tempo o respeito a mulher enquanto ser presente, enquanto


parceira e partfcipe da chefia da famflia (em parceria como marido), como decisora
dos destines politicos de uma na<;ao5 .
Na hist6ria judaico-crista, Labao compensou Jac6 com Leia pelos primeiros
sete anos de servi<;o e depois com Raquel par mais sete anos. 6
Quem nao ouviu falar de dote, de testa de 15 anos e de outros eventos
exibit6rios da mulher como "prenda do homem?" Todos ouvimos! lsso faz parte de
nosso passado a ser superado, pais a dignidade humana nao tern genero, e para
todos - homens e mulheres.
Esta monografia vasculhara nossa "intimidade social" abordando alga que
envergonha enquanto sociedade: a violencia domestica.
No presente trabalho demonstraremos que no atendimento, pela PM, de
mulher vftima de violencia domestica, em face de nao haver na Corpora<;ao o ciclo
complete de polfcia, tal atendimento nao contribui de forma pratica, seja no sentido
do atendimento efetivo, seja no sentido do amparo psfquico, a busca da solu<;ao e
prote<;ao que a mulher vftima necessita e a sociedade, em coro, exige.
Para alcan<;armos nosso objetivo acima delineado, iremos inicialmente re-
visitar os conceitos de violencia contra a mulher e de violencia domestica, rever o
amparo legal das mesmas em nosso ordenamento jurfdico, rever o conceito de "ciclo
complete de polfcia" e verificar de que forma o fechamento deste ciclo pela PM
poderia de fato contribuir no atendimento de quem, violada em seu lar, violada em
seu ultimo asilo, busca, em desespero, o amparo do Estado Brasileiro.

5
Mesmo nos Estados Unidos da America, nao faz 100 (cern) anos do inicio do voto feminino.
6
Genesis 29, 15-27.
CAPiTULO 2

0 que bern evidencia o carater de um homem e o modo como trata as mulheres.


Emerson

2 VIOLENCIA CONTRA A MULHER OU VIOLENCIA DOMESTICA?

A violencia contra a mulher e banal, BLAY, inicia seu estudo:

AGREDIR, matar, estuprar uma mulher ou uma menina sao fatos que tem
acontecido ao Iongo da hist6ria em praticamente todos os pafses ditos civilizados e
dotados dos mais diferentes regimes econ6micos e politicos. A magnitude da
agressao, porem, varia. E mais freqoente em pafses de uma prevalecente cultura
masculina, e menor em culturas que buscam solugoes igualitarias para as diferengas
de genera. [2003, p. 1]

Embora seja diffcil definir a cultura brasileira, o Brasil tem se mostrado


bastante mis6gino. Gilberta DIMENSTEIN na obra Democracia em peda~os,

direitos humanos no Brasil, ao tratar da violencia contra a mulher, faz um paralelo


entre a ditadura militar em seu caminho para a abertura, parando pela distensao
lenta e gradual, e o despertar da consciencia da mulher brasileira quanta a sua
propria condigao, sua cidadania e seus direitos, ate que com a chegada do ana de
1985: "A violencia contra a mulher deixou de ser categoria do direito penal au mera
descric;ao de epis6dios da vida diaria e se converteu em signa politico, sua realidade
latente passou a atravessar classes sociais, grupos religiosos, etnicos, culturais e
etarios". [1996, p. 209]
Finalmente os crimes contra a honra deixariam de ser punidos com a morte,
uma longa sina de violencia e opressao parecia chegar ao fim, pais a mulher deixaria
de ser propriedade do homem, como exemplifica o trecho a seguir de Dam
Casmurro:

Tudo isto me era agora apresentado pela boca de Jose Dias, que me denunciara a
mim mesmo, e a quem eu perdoava tudo, o mal que dissera, o mal que fizera, e o
que pudesse vir de um e de outro. Naquele instante, a eterna Verdade nao valeria
mais que ele, nem a eterna bondade, nem as demais virtudes eternas. Eu amava
Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andavam, desandavam, estacavam,
tremulas e crentes de abarcar o mundo. Esse primeiro palpitar da seiva, essa
revelagao da consciencia a si propria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe
fosse comparavel qualquer outra sensa9ao da mesma especie. Naturalmente por ser
minha. Naturalmente tambem por sera primeira. [ASSIS, M., 1957. p. 41-42]
4

2.1 CONCEITOS

Existem conceitos diferenciados de violencia que atingem a mulher, ora


classificados como violencia, ora como crime.
Viollmcia contra a mulher: Forma especffica de violencia interpessoal,
perpetrada pelo homem e dirigida a mulher.
Na definigao da Convengao de Belem do Para (Convengao lnteramericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violencia Contra a Mulher, adotada pela OEA em
1994), a violencia contra a mulher e "qualquer ato au conduta baseada no genera,
que cause morte, dana au sofrimento fisico, sexual au psicol6gico a mulher, tanto na
esfera publica como na esfera privada".
Declaragao sabre a Eliminagao da Violencia contra as Mulheres, Resolugao
da Assembleia Geral das Nag6es Unidas, dezembro de 1993. "A violencia contra as
mulheres e uma manifestar;ao de relar;oes de poder historicamente desiguais entre
homens e mulheres que conduziram a dominar;ao e a discriminar;ao contra as
mulheres pelos homens e impedem o plena avanc;o das mulheres ... "
A Conferencia das Nag6es Unidas sabre Direitos Humanos (Viena, 1993)
reconheceu formalmente a violencia contra as mulheres como uma violagao aos
direitos humanos. Desde entao, as governos dos pafses-membros da ONU e as
organizag6es da sociedade civil tern trabalhado para a eliminagao desse tipo de
violencia, que ja e reconhecido tambem como um grave problema de saude publica.
Segundo a OMS (Organizagao Mundial da Saude), apud o portal Ser Mulher:
"as conseqOencias do abuso sao profundas, indo a/em da saude e da felicidade
individual e afetando o bem-estar de comunidades inteiras."
Vioh~ncia de Genero: Diz respeito aos papeis sociais impastos a homens e
mulheres, reforgados par culturas patriarcais, que estabelecem relag6es de violencia
entre as sexos e nao as diferengas biol6gicas entre as homens e as mulheres que
determinam o emprego da violencia contra a mulher.
Violencia familiar: violencia que acontece dentro da famflia, au seja, nas
relag6es entre as membros das comunidades familiares, formadas par vfnculos de
parentesco natural (pai, mae, filha etc.) au civil (marido, sogra, padrasto au outros),
par afinidade (par exemplo, o prima au tio do marido) au afetividade (amigo au amiga
que morena mesma casa).
5

Violfmcia fisica: agao au omissao que coloque em risco au cause dana a


integridade ffsica de uma pessoa.
Violencia institucional: tipo de violencia motivada par desigualdades (de
genera, etnico-raciais, econ6micas etc.) predominantes em diferentes sociedades.
Essas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizag6es
privadas e aparelhos estatais, como tambem nos diferentes grupos que constituem
essas sociedades.
Violencia intrafamiliar: acontece dentra de casa ou unidade domestica e
geralmente e praticada par urn membra da famflia que viva com a vftima. As
agress6es domesticas incluem: abuso ffsico, sexual, psicol6gico, a negligencia e o
abandono.
Violencia moral: agao destinada a caluniar, difamar au injuriar a honra au a
reputagao.
Violencia patrimonial: ato de violencia que implique dana, perda,
subtragao, destruigao ou retengao de objetos, documentos pessoais, bens e valores.
Violencia psicol6gica: agao au omissao destinada a degradar au controlar
as ag6es, comportamentos, crengas e decis6es de outra pessoa par meio de
intimidagao, manipulagao, ameaga direta au indireta, humilhagao, isolamento au
qualquer outra conduta que implique prejufzo a saude psicol6gica, a
autodeterminagao au ao desenvolvimento pessoal.
Violimcia sexual: a<;ao que obriga uma pessoa a manter cantata sexuai,
ffsico au verbal, au a participar de outras relag6es sexuais com usa da forga,
intimidagao, coergao, chantagem, suborno, manipulagao, ameaga au qualquer outro
mecanismo que anule au limite a vontade pessoal. Considera-se como violencia
sexual tambem o fato de o agressor obrigar a vftima a realizar alguns desses atos
com terceiros.
Consta ainda do C6digo Penal Brasileiro: a violencia sexual pode ser
caracterizada de forma ffsica, psicol6gica au com ameaga, compreendendo o
estupra, a tentativa de estupra, a sedugao, o atentado violento ao pudor e o ato
obscene.
Violencia Domestica: E aquela que acontece no ambito da casa, e pode
ocorrer entre homens e mulheres, pais/maes e filhos/as e entre jovens e pessoas
idosas.
6

Na apostila Atendimento Policial a vitimas de viol£mcia domestica7 se


resume:

E certo que a violemcia contra a mulher significa agressao psicol6gica e fisica ou


sexual que pode se dar em espago publico ou privado, par pessoa com quem a
vitima se relaciona ou se relacionou afetivamente. Em virtude do elevado fndice
dessa modalidade de viol€mcia ocorrer no espago privado passou a ser conhecida
com violencia domestica [ SENASP, 2007, p. 03]

2.1.1 A origem da violencia domestica

Segundo a apostila Atendimento Policial a vitimas de violemcia


domestica; "E urn vicio de formac;ao, E cultural e sua existencia remonta a origem
da familia. Pode ser considerada urna doenc;a social que acomete a maioria das
sociedades patriarcais."
A violencia domestica acontece porque na sociedade brasileira existe sensa
comum que o melhor jeito de resolver um conflito e a violencia e que os homens sao
mais fortes e superiores as mulheres. E assim que, muitas vezes, os maridos,
namorados, pais, irmaos, chefes e outros homens acham que tern o direito de impor
suas vontades as mulheres.
Existem, e clara, outros agravantes: o alcool e drogas ilegais que
potencializam a agressividade latente no homem e mesmo a situac;ao possessiva
onde o ciume e apontado como fator que desencadeia a violencia contra a mulher.
Na raiz de tudo, porem, esta a maneira como a sociedade da mais valor ao
papel masculine, o que par sua vez se reflete na forma de educar os meninos e as
meninas. Enquanto os meninos sao incentivados a valorizar a agressividade, a forc;a
ffsica, a ac;ao, a dominagao e a satisfazer seus desejos, inclusive os sexuais, as
meninas sao valorizadas pela beleza, delicadeza, sedugao, submissao,
dependencia, sentimentalismo, passividade e o cuidado com os outros. Os
preconceitos estao inseridos na moral tradicional da maioria das sociedades no
mundo todo. Religiosos, cientistas, fil6sofos, escritores e politicos que ao Iongo dos
tempos s6 fizeram enfatizar a dominac;ao dos homens sabre as mulheres.
Todos esses fatores, par 6bvio, nao sao privilegio dos incultos e de baixo
nfvel econ6mico, sendo a violencia domestica um comportamento bastante
democratico, perpassando todos os nfveis culturais e econ6micos.

7
fornecida pela SENASP, a quem realiza o Curso Mulher Vitima de Violencia Domestica, de 2005
com apendice em 2007 para a Lei 11340/2006.
7

E necessaria uma profunda reflexao sabre estes conceitos introjetados na


cultura humana, para que se possa entender e acolher com sensibilidade as
ocorrencias desse jaez, sob pena de nos surpreendermos (n6s policiais) repetindo
conceitos distorcidos que integram a nossa propria formagao.

2.1.2 As organizag6es nao governamentais (ONGs) feministas

Slay (2003, p. 4-6), relata que ao Iongo das decadas de 60 e 70, feministas
de classe media, militantes polfticas contra a ditadura militar, e intelectuais foram
somando a sindicalistas e trabalhadoras de diferentes setores unindo uma visao
democratica e igualitaria dos direitos da mulher que suplantava diferengas
partidarias e ideol6gicas. Era o infcio de um movimento unido de mulheres, se
considerarmos que o inimigo era comum.
Ao movimento feminista se aglutinou uma serie de grupos que atuaram
cotidianamente a favor dos direitos a melhores condig6es de vida, pela anistia, pela
igualdade de direitos entre homens e mulheres. A formagao de entidades voltadas a
abrigar mulheres vftimas de violencia domestica nao tardou a se formar. Por todo o
Brasil grupos de ativistas, voluntarias, procuravam enfrentar todos os tipos de
violencia: estupros, maus tratos, incestos, perseguigao a prostitutas, e infindaveis
violag6es dos direitos humanos de mulheres e meninas. Diferentemente das
decadas de 1910 e 1920, as denuncias destes crimes escondidos pela familia
tornaram-se publicos. Recebidos inicialmente com descredito e sarcasmo pela mfdia
em geral, aos poucos foram reconhecidos.
Slay destaca as principais conquistas: os Conselhos da Condigao Feminina
e as Delegacias de Defesa da Mulher.
Para a estudiosa, com a anistia de 1979, a eleigao direta de governadores
em 1982 e a reorganizagao partidaria, o cenario feminista se fortaleceu, mas se
segmentou em grupos partidarios.
A autora relata que a criagao do primeiro Conselho Estadual da Condigao
Feminina, em Sao Paulo, em 1983, e dais anos depois, em 1985, a primeira
Delegacia de Defesa da Mulher.
Para Slay (2003, p. 7), na sociedade civil, vigoravam varies grupos
feministas de apoio as mulheres vftimas. Intense trabalho, quase sempre com
escassos recursos e muito voluntariado, tentava suprir uma lacuna que,
timidamente, comegava a ser encampada pelo Estado.
8

Nos anos anteriores, as mulheres que recorriam as Delegacias em geral sentiam-se


ameac;.:adas ou eram vitimas de incompreensao, machismo e ate mesmo de violencia
sexual. Com a criac;.:ao das Delegacies de Defesa da Mulher (DDM) o quadro
comec;.:ou a ser alterado. 0 servi<;.:o nas DDMs era e e prestado por mulheres, mas
isto nao bastava, pois muitas destas profissionais tinham sido socializadas numa
cultura machista e agiam de acordo com tais padroes. Foi necessario muito
treinamento e conscientiza<;.:ao para former profissionais, mulheres e homens, que
entendessem que meninas e mulheres tinham o direito de nao aceitar a vioh~ncia
cometida por pais, padrastos, maridos, companheiros e outros. Esta tarefa de
reciclagem deve ser permanente, pois os quadros funcionais mudam e tambem os
problemas. [Biay, 2003, p. 7]

A criac;ao das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) foram as primeiras


iniciativas para que o poder publico comec;asse a tamar consciencia do problema da
violencia domestica.
CAPiTULO 3

"0 casamento parece uma tesoura, cujas laminas sao tao ligadas que nao podem ser separadas;
freqoentemente etas se movem em diregoes opostas, mas sempre castiga quem se coloca entre etas."
8
Sydney Smith

3 A NORMA LEGAL

A partir da Constituic;ao da Republica Federativa do Brasil, em seus artigos


3° e 226, que delineiam uma polftica cidada e de protec;ao a famflia:
Art. 3°- Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidaria;

II- garantir o desenvolvimento nacional;

Ill - erradicar a pobreza e a marginalizagao e reduzir as desigualdades socials e


regionais;

IV - promover o bern de todos, sem preconceitos de origem, raga, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminagao.

Art. 226 -A familia, base da sociedade, tern especial protegao do Estado.

§ 1°-0 Casamento e civile gratuita a celebragao.

§ 2°- 0 casamento religiose tern efeito civil, nos termos da lei.

§ 3° - Para efeito da protegao do Estado, e reconhecida a uniao estavel entre o


homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversao em
casamento.

§ 4° - Entende-se, tambem, como entidade familiar a comunidade formada por


qualquer dos paise seus descendentes.

§ 5° - Os direitos e deveres referentes a sociedade conjugal sao exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6° - 0 casamento civil pode ser dissolvido pelo div6rcio, ap6s previa separagao
judicial por mais de um ano nos casas expressos em lei, ou comprovada separagao
de fato por mais de dois anos.

§ 7° - Fundado nos princfpios da dignidade da pessoa humana e da paternidade


responsavel, o planejamento familiar e livre decisao do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e cientfficos para o exercicio desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituigoes oficiais ou privadas.

§ 8° - 0 Estado assegurara a assistencia a familia na pessoa de cada um dos que a


integram, criando mecanismos para coibir a viol€mcia no ambito de suas relagoes.
[BRASIL, 1988)

8
Sydney Smith (3 de junho de 1771 - 22 de fevereiro de 1845), escritor e clerigo ingles.
10

Encontra-se, tambem, na legislagao ordinaria, outros exemplos a partir do


C6digo Penal Brasileiro (Decreta-Lei n° 2.848, de 07/12/1940).
Se uma pessoa deixa de ter direitos porque e mulher, ela deve denunciar
estar sendo vftima do crime de discriminagao par motive de sexo.
A Lei n° 10.224, de 15/05/01 (assedio sexual no trabalho), que altera o
Decreta-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - C6digo Penal, para dispor sabre
o crime de assedio sexual e da outras providencias.
Lei no 10.455, de 13/05/02 (afastamento do agressor), que define que, em
caso de violencia domestica, o juiz podera determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicflio ou local de convivencia com a vftima.
Lei n° 10.714, de 13/08/03 (telefone para denuncias de violencia), que
autoriza o Poder Executive a disponibilizar, em ambito nacional, numero telef6nico
destinado a atender denuncias de violencia contra a mulher.
Lei n° 10. 778, de 24/11/03 (notificagao compuls6ria pelos servigos de
saude), que estabelece a notificagao compuls6ria, no territ6rio nacional, do caso de
violencia contra a mulher que for atendida em servigos de saude publicos ou
privados.
Lei n° 10.886, de 17/06/04 (tipifica a violencia domestica), acrescenta os
paragrafos ao art. 129 do Decreta-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - C6digo
Penal, criando o tipo especial denominado "Violencia Domestica".
Lei n° 11.106/2005, de 28/03/05 (altera o C6digo Penal), que modifica os
arts. 148, 215, 216, 226, 227, 231 e acrescenta o art. 231-A ao Decreta-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (C6digo Penal Brasileiro).
A Lei n° 11.489, de 20 de junho de 2007, que institui o dia 6 de dezembro
como o Dia Nacional de Mobilizagao dos Homens pelo Fim da Violencia contra as
Mulheres.
Norma Tecnica do Ministerio da Saude sabre Prevengao e Tratamento dos
Agravos Resultantes da Violencia Sexual contra Mulheres e Adolescentes.
0 Conselho Nacional de Justiga, atraves de recomendagao para criagao de
juizados de violencia domestica. Estes, urn desdobramento da Lei 11.340, de
09/08/06, considerado o principal avango na polftica de protegao integral a mulher.
[SENASP, 2007, p. 7-10J
11

3.1 LEI MARIA DA PENHA: LEI N° 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006

Esta lei veio atender ao clamor contra a sensac;ao de impunidade


despertada, em muitos, pela aplicac;ao da Lei do Juizado Especial Criminal, aos
casas de violencia domestica e familiar praticada contra a mulher.
As condutas criminosas consideradas como violencia deixaram de ser de
menor potencial ofensivo ap6s 20 de setembro de 2006, como previa a Lei 9.099, de
26 de setembro de 1995 e o procedimento apurat6rio deixou de ser por Termo
Circunstanciado e passou a ser o comum, por meio de lnquerito Policial - e o que
estabelece a chamada Lei Maria da Penha, Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006,
que criou mecanismos para coibir e prevenir a violencia domestica e familiar contra a
mulher. A lei tambem disp6e sabre a criac;8o dos Juizados de Violencia Domestica e
Familiar contra a Mulher e, ainda, estabelece medidas de assistencia e protec;ao as
mulheres em situac;ao de violencia domestica e familiar. Regulamenta o art.220,
paragrafo so da Constituic;ao Federal e insere no ordenamento jurfdico interno os
preceitos estabelecidos na Convenc;ao sabre a Eliminac;Bo de Todas as Formas de
Violencia Contra a Mulher, na Convenc;ao lnteramericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violencia Contra a Mulher e em outros tratados internacionais ratificados
pelo govemo brasileiro. No art. 5°, a lei conceitua violencia domestica e violencia
familiar contra a mulher e ainda estabelece que ela e assim considerada
independentemente da orientac;ao sexual da vftima ou do autor da violencia. Estao
estabelecidas no art. S0 , as integrac;6es operacionais do Poder Judiciario, Ministerio
Publico e da Defensoria Publica com as areas da seguranc;a publica (polfcias),
assistencia social, saude, educac;ao, trabalho e habitac;ao, com o objetivo de
estabelecer-se urn conjunto articulado de ac;6es entre a Uniao, os Estados-
Federados, o Distrito Federal e os Municfpios, alem de ac;6es de organizac;6es nao
governamentais. Esse artigo tambem estabelece todas as diretrizes das polfticas
publicas que objetivam prevenir a violencia domestica e familiar.
A Lei Maria da Penha altera o C6digo de Processo Penal, o C6digo Penal e
a Lei de Execuc;ao Penal e trata com maior rigor as infrac;Oes penais praticadas
contra a mulher, quando violentas: nos ambitos domestico e familiar.
Quando nao for violencia domestica, ainda que haja violencia contra a
mulher, incidirao as especies normativas gerais. [SENASP, 2007, p. 9]
12

3.1.1 Criagao dos juizados de violencia domestica e familiar

Enquanto norma eminentemente programcHica, a Lei Maria da Penha


estabelece que os Juizados de Violencia Domestica e Familiar poderao ser criados
pela Uniao, no Distrito Federal enos Territ6rios, e pelos Estados, para o processo, o
julgamento e a execuc;ao das causas decorrentes da pratica de violencia domestica
e familiar contra a mulher. A competencia destes Juizados abarcaria quest6es cfveis
e criminais.
Ademais, criou um leque variado para o foro competente para julgamento de
suas quest6es, sempre no intuito de facilitar o acesso ao Judiciario por parte das
mulheres. Sendo assim, determinou que, por opc;ao da ofendida, seria competente o
foro: I - do seu domicflio ou de sua residencia; II - do Iugar do fato em que se baseou
a demanda; Ill- do domidlio do agressor.
Algumas medidas criminais, para que sejam apuradas, demandam a
representac;ao expressa da ofendida. Nas ac;6es penais publicas condicionadas a
representac;ao da ofendida, s6 sera admitida a renuncia a representac;ao perante o
Juiz, em audiencia especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denuncia e ouvido o Ministerio Publico.
E vedada a aplicac;ao, nos casos de violencia domestica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta basica ou outras de prestac;ao pecuniaria, bem como a
substituic;ao de pena que implique o pagamento isolado de multa. [BRASIL, 2006]

3.1.2 Pronasci

0 Programa Nacional de Seguranc;a Publica com Cidadania (Pronasci),


lanc;ado em agosto de 2007, destina-se a prevenc;ao, controle e repressao da
criminalidade, atuando em suas rafzes s6cio-culturais, alem de articular ac;6es de
seguranc;a publica com polfticas sociais por meio da integrac;ao entre uniao, estados
e municfpios. Especificamente sobre a violencia domestica apresenta:

Lei Maria da Penh a I Protec;ao a mulher


A Lei Maria da Penha, sancionada em agosto do ano passado, ganhara mais forc,;a
no Pronasci. Serao construfdos centros de educac,;ao e reabilitac,;ao para os
agressores. Os espac,;os servirao como local de combate a impunidade e promoc,;ao
da cultura de paz. Vao ser erguidos 53 centros nas 11 regioes metropolitanas
atendidas pelo Programa. [Pronasci, p. 9 e 10]
CAPiTULO 4

Nao temos a ambiqao de ensinar nada aos outros. N6s, que passamos muito tempo ouvindo dizer o que
e
deverfamos fazer, acabamos por conc/uir que perda de tempo ensinar aos povos como devem agir. Em
e
primeiro Iugar, porque a vida quem se encarrega de fazer com que alteremos nos so modo de pensar.
Gorbachev, em seu livro Perestroika,

4 CICLO COMPLETO DE POLiCIA

A seguranga publica, uma das necessidades fundamentais do ser humano, e


um dos pilares do exercfcio da democracia e da plena cidadania, passa por enormes
questionamentos.
A comunidade brasileira merece servigos publicos que lhe oportunizem
aumento de sua qualidade de vida. Esta melhor condigao, s6 sera conquistada com
o esforgo de todos os setores da sociedade.
Por mandamento constitucional, no ambito estadual, a Polfcia Militar
incumbe a atividade de polfcia ostensiva e preservagao da ordem publica, enquanto
que a Polfcia Civil cabem as fungoes de polfcia judiciaria e apuragao das infrag6es
penais. Portanto, aplicando o dispositive constitucional a pratica diuturna do
encaminhamento dos procedimentos policiais, verificamos que o atendimento da
mesma ocorrencia e realizado, no ambito estadual, por duas instituig6es de polfcia,
numa dicotomia de atribuig6es.
Especificamente por parte da Polfcia Militar, as infrag6es penais sao
encaminhadas a outra instituigao policial (Polfcia Civil), ensejando evidentes
prejufzos a satisfagao do cidadao usuario e aos pr6prios conceitos de cidadania. 0
profissional de Polfcia Militar, neste contexte, torna-se um mero "despachante" de
ocorrencias. Assim, a Polfcia Militar ao atuar nos cases de violencia domestica,
resta-lhe apenas a condugao das partes a delegacia de polfcia a princfpio, quando
nao houver antes a necessidade do envolvimento medico-assistencial.
Gada polfcia estadual realiza suas atribuig6es isoladamente, num
inconcebfvel "meio ciclo". Em verdade, o servi<;o de cada uma e realizado pela
metade, numa posigao extremamente comoda para ambas, contudo causando
grandes transtornos ao cidadao, mais especificamente ao atendimento a mulher
vftima de violencia domestica.
14

A dicotomia de atribui<;6es entre as Polfcias Militares e Civis que ocorre no


Brasil, onde nenhum dos organismos policiais estaduais realiza plenamente a
atividade policial, tem proporcionado graves transtornos ao cidadao-cliente.

4.1 A ORIGEM E A EVOLU<;AO DA POLiCIA NO MUNDO

Desde que se formaram os primeiros nucleos sociais, apareceu com eles a


necessidade de vigilancia e de conservagao indispensaveis a sua existemcia e a sua
evolugao.
Assim e que vemos os povos antigos, com suas normas simples e
rudimentares, ja provendo os meios concernentes ao bem social, a defesa, a ordem
e a seguranga de suas comunidades, das autoridades e dos poderes institufdos que
se referiam ao seu grupamento social.
Sem estas provisoes impostas pela lei da necessidade e pelo interesse
geral, tornar-se-iam impossfveis as vidas em comum, a existencia dos agrupamentos
humanos, a formagao dos povos primitives e o desenvolvimento da humanidade.
Dessa forma, entre as populag6es antigas dos grandes centres nos quais a
civilizagao se desenvolveu, sobretudo entre os romanos, surgiu uma vigilancia
exercida em proveito da comunidade e uma repressao praticada contra toda e
qualquer perturbagao da ordem e da paz, punindo aqueles que atacassem a
seguranga e a ordem social.
A respeito da origem e significado do termo polfcia, assinala Bismael (1986,
p. 9) que: "A palavra polfcia, no sentido mais Jato significa o regulamento da cidade,
e sabido e que a cidade e o Estado".
MONET (2001, p. 20) apresenta que etimologicamente a palavra polfcia, tem
seu primeiro registro a partir dos pensadores gregos: Arist6teles e Platao com o
termo politeia". Os Romanos latinizaram o termo grafando-o como politia. Em Roma,
o praefectus urbis - o prefeito da cidade - disp6e tanto do poder de editar
regulamentag6es referentes a todos os aspectos da vida social quanta da autoridade
sabre corpos de polfcia especializados. Ja em Roma e possfvel observar toda a
ambiguidade da fungao de polfcia: administrativa em sua forma e coercitiva em sua
agao.
A nogao de polfcia s6 ressurge no fim da ldade Media, curiosamente o
perfodo de ausencia de uma "polfcia" mesmo que rusticamente organizada, levou a
15

humanidade ao perfodo mais conturbado das rela96es sociais, au seja, a ldade


Media.
Na Fran98 de 1700 a polfcia tern a missao de assegurar a execu9ao das leis
e regras administrativas, e nao a regulamenta9ao social au judiciaria de conflitos
entre particulares.
A partir do seculo XIX, a grande epoca da racionaliza9ao do direito criminal e
da extensao do aparelho judiciario, "polfcia" remete diretamente aquele ramo da
organiza9ao administrativa encarregada de reprimir as infra96es as Leis e aos
regulamentos e de impedir movimentos coletivos que agitam com frequencia cada
vez maior o proprio cora9ao das cidades em plena expansao.
Em 1914, Raymond Fosdick (apud MONET, 2001, p. 24), conceitua:
"Entendemos par policia a primeira forc;a, de natureza constitucional, destinada a
assegurar a protec;ao dos direitos /ega is dos indivfduos".
Tal defini9ao, par mais concisa que seja, restitui perfeitamente as tres
dimensoes da fun98o policial nas quais as cidadaos de hoje estao acostumados e
que fazem da policia ao mesmo tempo uma fun9ao social, uma organiza98o jurfdica
e urn sistema de a9ao cujo recurso essencial e a for9a.
A polfcia, como se compreende modernamente, au seja, no sentido de
institui9ao social, inserida nos contextos dos Estados e dos Governos, para servir ao
cidadao, e produto au obra do seculo XVIII. A sua origem remonta a lnglaterra que a
entendeu como uma organiza9ao necessaria e util para zelar pela ordem geral e
desvencilhar a sociedade dos obstaculos ao seu progresso.
A Fran9a, com as ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, fruto da
Revolu98o Francesa (1789), deu a polfcia uma nova fei9ao, moldando-a as
necessidades de urn novo conceito de na9ao que emergia. Desde entao, a
organizat;ao policial surgiu em outras bases, mais compatfveis aos fins sociais e em
harmonia com as direitos dos indivfduos.
A partir daf, todas as na96es do mundo passaram a instituir corpos policiais,
com estrutura e finalidade mais au menos aproximadas as que hoje se conhece.

4.2 MODELO POLICIAL CONTEMPORANEO MUNDIAL

Atualmente, urn conceito social mais amplo das funt;6es da polfcia esta
sendo considerado como resultado de uma ideologia mais positiva dos servi9os
policiais. A ideia que se tern da polfcia como for9a opressora esta mudando para que
16

seja considerada como garantia dos direitos individuais, 6rgao de defesa da


cidadania e do Estado Democratico de Direito.
Modernamente, a polfcia se estruturou e se desenvolveu de diversas formas,
variaveis de acordo com as peculiaridades regionais e as diretrizes polfticas de cada
pals. Entretanto, dois aspectos apresentam-se na maioria dos pafses: (a) o
pluralismo de organismos policiais em cada organizagao polftica e (b) a realizagao,
por cada organismo policial, do ciclo completo de polfcia.
0 primeiro aspecto destacado, qual seja, a existencia de mais de uma
polfcia em cada Estado-nagao, e uma constante, embora nao haja urn modelo
padronizado. Em cada organizagao polftica, as polfcias sao estruturadas de forma
diferente, mas a tonica e que o sistema de polfcias seja pluralizado, ora
geograficamente, ora por divisao de esferas de competencia.
0 segundo aspecto e aquele onde a polfcia que inicia o atendimento de uma
ocorrencia policial realiza todos os procedimentos dela decorrentes, ate o
encaminhamento ao Poder Judiciario, ou em alguns casas, ao Ministerio Publico.
Exerce, portanto, as fungoes de polfcia administrativo-preventiva, repressiva,
investigat6ria, inclusive abrangendo a realizagao de perfcias, e judiciaria, sem que
haja cisao de atribuigoes dentro do aparelho policial, fato que nao se verifica no
modelo atual de polfcia, e nao permite, nos casas de violencia domestica, a
realizagao do ciclo completo de polfcia, principalmente pela Polfcia Militar que
normalmente e a primeira organizagao policial envolvida.

4.2.1 Breves comentarios sabre a origem e evolugao hist6rica da polfcia no Brasil

A Polfcia brasileira passou por numerosas alteragoes no decorrer dos anos.


Nasceu incipientemente no ano de 1530, nas Ordenagoes Manoelinas, quando D.
Joao Ill instituiu os sistemas de Capitanias Hereditarias, conferindo aos donatarios o
direito de administrar, promover a justiga e organizar o servigo de ordem publica.
A vinda da famflia real para o Brasil, em 1808, trouxe modificag6es para a
Polfcia. Entre outras iniciativas, D. Joao VI criou a Divisao Militar da Guarda Real de
Polfcia, em 13 de maio de 1809, origem das atuais Polfcias Militares. Assim justificou
o soberano, em seu Decreta, conforme transcreve MENEZES (1998, p.12):

Sendo de absoluta necessidade prover a seguran<;:a e tranqOilidade desta her6ica e


mui leal cidade de Sao Sebastiao do Rio de Janeiro, cuja popula<;:ao e trafego
consideravelmente se aumentara todos os dias pela afluencia de neg6cios
inseparaveis das grandes capitais; e havendo mostrado a experiencia que o
17

estabelecimento de uma Guarda Militar de Policia e o mais proprio nao s6 para


aquele fim de boa ordem e sossego publicos, mas ainda para obstar danosas
especula<;i'ies de contrabando que nenhuma outra medida nem as mais rigorosas
leis proibitivas tem podido coibir.

E continua o decreta imperial:

Sou servido a criar uma Divisao Militar da Guarda Real da Policia desta Corte, com a
posslvel semelhan<;a daquela que tao reconhecida vantagens reconheci em Lisboa,
a qual se organizara na conformidade do plano que este abaixo assinado pelo
Conde Linhares, do meu Conselho de Estado, Ministro Secretario de Estado dos
Neg6cios Estrangeiros e de Guerra.

Com a proclamagao da lndependencia do Brasil se delinearam mais


claramente as fungoes policiais, especialmente com a promulgagao do C6digo
Criminal Brasileiro, em 1830 (primeira codificagao em materia penal no Brasil), e do
C6digo de Processo Criminal, em 1832. Nestes dais diplomas legais foram inseridos
varies dispositivos que regulamentavam as fum;oes policiais.
Em relac;ao a polfcia, o C6digo Criminal Brasileiro criou o cargo de Chefe de
Polfcia, cujas fungoes deveriam ser desempenhadas por urn dos Jufzes de Direito
das cidades populosas (tit. I, cap. I, art. 6°). Determinava tambem que as atribuigoes
da polfcia administrativa e judiciaria seriam exercidas par Jufzes de Paz, os quais
poderiam processar, pronunciar, julgar e aplicar penas.
Assinala NORONHA (1981, p. 67) que esses dais diplomas eram excelentes
e magnificos para a epoca e de Indole liberal. Foram tambem os primeiros na
America Latina a serem elaborados com autonomia e independencia em relagao aos
pafses colonizadores.
Ainda durante o Imperio, foram introduzidas varias modificagoes e inovagoes
nas atribuigoes cometidas aos organismos policiais. A Lei n° 261, de 3 de dezembro
de 1841, atribuiu cumulativamente fungoes policiais e jurisdicionais aos
Desembargadores e Jufzes de Direito, escolhidos como Chefes de Polfcia, e
Delegados (tft. I, cap. II, art. 12 e §§). Ao mesmo tempo, retirou dos Jufzes de Paz
varias fungoes que desempenhavam no contexte policial.
Outras legislagoes editadas na epoca imperial dispuseram sabre o assunto.
Neste perfodo hist6rico, como caracterfstica marcante, as fungoes policiais e
atinentes ao Poder Judiciario eram realizadas pelo mesmo agente do Poder Publico.
Somente em 20 de setembro de 1871, com a promulgagao da Lei n° 2.033
ocorreu a separagao da polfcia e da judicatura, cujas esferas de agao, ate entao,
18

muitas vezes se confundiam e anulavam. Por este mandamento legal, se tornaram


incompatfveis os cargos de polfcia com os cargos do Poder Judiciario.
Ja na decada de 30, anotava CRUZ (1932, p. 40), capitao da Forga Publica
do Estado de Sao Paulo:

Enquanto assim vemos as modifica<;,;6es porque tem passado a polfcia em sua


organiza<;,;ao para satisfazer as necessidades sociais, notamos que tambem a par
destas modificag6es, outras vem se dando quanto as suas atribuigoes quer se
manifeste como policia administrativa, quer como polfcia judiciaria ou repressiva.

Razao por que a polfcia judiciaria, para nos referirmos somente a ela, tivera
na sua organizac;ao, de conformidade com o C6digo de Processo Criminal, a Lei n.
261 e o Regulamento de 1842, atribuic;6es judiciarias, podendo as autoridades
policiais processar, pronunciar e julgar os crimes que as leis enumeram.
Conforme o mesmo autor, com o passar do tempo, as atribuic;6es da polfcia
judiciaria foram se restringindo. As func;6es policiais passaram a compreender
apenas o preparo do processo, oportunizando a alegac;fio dos direitos das partes,
analisando as pegas que compunham o mesmo e emitindo parecer fundamentado,
com posterior remessa ao Poder Judiciario, a quem cabia a competencia exclusiva
para a pronuncia e o julgamento.
E de se destacar que a epoca, como iria ocorrer ate 1969, as atribuic;6es de
polfcia administrativa e judiciaria eram desempenhadas principalmente por
organismos de regime jurfdico civil. As milfcias estaduais, Polfcias Militares entao
existentes, nao se destinavam precipuamente a propiciar seguranc;a aos cidadaos.
Possufam finalidade diversa da atual, constituindo-se em especies de "exercitos
estaduais". As atribuic;6es concernentes a seguranc;a do cidadao eram realizadas de
forma subsidiaria, e tidas somente como missao auxiliar do Poder Judiciario ou do
6rgao civil de seguranc;a.
A Revoluc;ao de 1964 montou urn novo quadro para a Seguranc;a Pubica,
subordinado-a a Doutrina de Seguranc;a Nacional. A partir de 1969, com o Decreta
Lei n° 667, foram reorganizadas as Polfcias Militares do Brasil. 0 mesmo texto legal
extinguiu a Guarda Civil, outra instituic;ao policial entao existente. Esse diploma,
ainda, atribuiu exclusivamente as corporac;6es militares estaduais a execuc;ao do
policiamento ostensive e a manutenc;ao da ordem publica, sistema que se mantem,
com poucas alterac;6es, ate os dias atuais.
-- -----------------·

19

4.2.2 A estrutura da polfcia no Brasil a luz da Constituigao Federal de 1988

Com a abertura democratica e a redemocratizagao houve a promulgagao da


Constituigao Federal, em 05 de outubro de 1988, e a missao das Polfcias Militares
estaduais obteve status constitucional, consolidando sua posigao junto ao modele de
seguranga publica brasileiro.
0 art. 144, nos seus incises e paragrafos, dispoe que a seguranga publicae
dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para a
preservagao da ordem publica e da incolumidade das pessoas e do patrim6nio.
Compoe-se dos seguintes 6rgaos: Polfcia Federal9 , Polfcia Rodoviaria Federal,
Polfcia Ferroviaria Federal, Polfcias Civis, Polfcias Militares e Guardas Municipais.

4.2.2.1 Polfcia Federal

A Polfcia Federal e institufda par lei como 6rgao permanents, estruturado em


carreira, destinando-se a: (a) apurar infragoes penais contra a ordem polftica e social
au em detrimento de bens, servigos e interesses da Uniao au de suas entidades
autarquicas e empresas publicas, assim como outras infragoes cuja pratica tenha
repercussao interestadual au internacional e exija repressao uniforme, segundo a lei;
(b) prevenir e reprimir o trafico ilfcito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando
e o descaminho, sem prejufzo da agao fazendaria e de outros 6rgaos publicos nas
respectivas areas de competencia; (c) exercer as fungoes de polfcia marftima, aerea
e de fronteiras; (d) exercer com exclusividade as fungoes de polfcia judiciaria da
Uniao.
Assim sendo, as ocorrencias policiais, incidindo nas hip6teses previstas no
texto constitucional, serao de responsabilidade exclusiva da Polfcia da Uniao, que
realizara todos as procedimentos concernentes ao seu atendimento e posterior
encaminhamento ao Ministerio Publico e Poder Judiciario, porem foge as atribuigoes
da Polfcia Federal o atendimento a mulher vftima de violencia domestica.

9
E de se relevar que a Policia Federal e o unico organismo policial brasileiro que exerce o ciclo
completo de policia. 0 diferencial que a mesma apresenta em rela~;ao aos demais 6rgaos de Pollcia
se relaciona com suas atribui~;oes, especfficas em razao da materia.
--------------------

20

4.2.2.2 Polfcia Rodoviaria Federal

A Polfcia Rodoviaria Federal e 6rgao permanente, estruturado em carreira,


destinando-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensive das rodovias federais.

4.2.2.3 Polfcia Ferroviaria Federal

A Polfcia Ferroviaria Federal e 6rgao permanente, estruturado em carreira,


destinando-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensive das ferrovias federais.

4.2.2.4 Guardas Municipais

As Guardas Municipais sao organizadas pelos municfpios. Sua atuac;ao e


limitada exclusivamente a protec;ao dos bens, servic;os e instalac;6es municipais.

4.2.2.5 Polfcias Civis

As Polfcias Civis sao dirigidas por Delegados de Polfcia de carreira. A elas


incumbem, ressalvada a competencia da Uniao, as fungoes de polfcia judiciaria e a
apurac;ao de infrac;6es penais, exceto as militares.

4.2.2.6 Polfcias Militares

As Polfcias Militares incumbe a polfcia ostensiva e a preservac;ao da ordem


publica. Os Corpos de Bombeiros Militares, alem das atribuig6es definidas em lei,
destinam-se a execuc;ao de atividades de defesa civil.
Por ser o brac;o mais visfvel do Estado e de acesso mais facilitado, bastando
para tanto apenas urn acenar de maos ao Policial Militar, ou mesmo urn simples
telefonema, e a Polfcia Militar, normalmente, quem dara o primeiro atendimento nos
casas de violencia domestica, sendo que em razao do modele atual de polfcia,
repassara a ocorrencia a Polfcia Civil Uudiciaria) para prosseguimento dos fates.

4.2.3 0 subsistema policial na Constituic;ao

Diante do exposto, conclui-se que o problema da execuc;ao do ciclo


complete de polfcia se restringe as Polfcias Estaduais, que efetivamente atuam nos
casas de violencia domestica, pais a unica polfcia que o possui, nao atua nos caso
21

de violencia domestica, e ainda possui um efetivo inexpressive em relac;ao a


grandiosidade do Brasil (territorial e populacional).
A adoc;ao do ciclo complete de policia no Brasil poderia permitir o
aperfeic;oamento do funcionamento do sistema de persecugao penal. Os
procedimentos seriam tornados de forma harmonica, agil, desburocratizada e nao
estanque, com o envolvimento de todos as organismos que integram o modele de
seguranc;a publica. Os reflexes desse novo modo de agir se dariam em todas as
esferas, modificando substancialmente o paradigma que hoje impera.
BRANDAO (1984, p.63), quando relaciona o trabalho policial com o regime
jurfdico castrense assim se pronuncia:

Podemos deduzir que o status de militar do Policial Militar nao o torna hfbrido ou
incompatlvel com a funQao policial do cargo, pois, acreditar em contrario, levaria
aquela indagaQaO se 0 policial civil e policial OU civil, quando e certo que 0 seu status
que e de servidor publico civil, diferentemente do Policial Militar que e servidor
publico militar.

Ainda, seguindo o raciocfnio o mesmo autor se expressou:

As instituiQ6es policiais na Europa e America, nos denominados pafses


desenvolvidos, ou sao militares ou altamente militarizados (quando do status civil
que gozam seus integrantes). Elas, de um modo geral, exercem indistintamente as
atividades pr6prias de polfcia administrativa (preventiva) e judiciaria (repressiva).

Em pafses como a Espanha, a Franc;a e a ltalia, as suas instituic;6es policiais


integram ate mesmo as Forc;as Armadas, merecendo peculiar interesse a conhecida
Guarda Civil Espanhola, que, apesar de sua denominac;ao "Civil", e parte integrante
dos Ministerios Militares.

4.2.4 0 lnquerito Policial

0 principal 6bice que se coloca para que se implemente o ciclo completo de


Polfcia e a existencia do inquerito policial no direito processual penal brasileiro. Este
mecanisme e a pec;a entravadora de um modelo que possibilite contemplar que a
mesma polfcia proceda a todos os atos concernentes ao atendimento de uma
ocorrencia policial.
Nao se acredita, em termos praticos, que tal procedimento tenha sua
permanencia como alga imutavel, pais o inquerito policial e instrumento burocratico e
meramente informative, e, com a atual demanda, em razao da "Lei Maria da Penha",
aumentou ainda mais o encargo burocratico nas delegacias de polfcia, face o
significative acrescimo de inqueritos policiais instaurados pelas representagaes de
22

vftimas de violencia domestica, criando uma situa<;ao ca6tica e de diffcil resolu<;ao,


pois, 0 que se observa na pratica e a incompatibilidade do numero de funcionarios
nas delegacias de polfcia e o numero de inqueritos policiais.
0 inquerito policial e instrumento processual penal que nasceu na Europa,
durante a inquisi<;ao. Posteriormente, o direito penal frances o utilizou e daf difundiu-
se para alguns pafses do mundo, inclusive o Brasil, que o adotou em 1870.
Entretanto, todos os pafses onde foi implantado o aboliram, inclusive a Fran<;a, em
diferentes perfodos hist6ricos, com exce<;ao do Brasil.
Sobre o assunto, o renomado antrop61ogo LIMA (1994, p. 31) assinala:

A divergencia entre polfcia, de um lado, e a institui9ao do juri e os magistrados


eleitos, de outro, levou, na decada de 1870, a um interessante acordo: o sistema do
duplo inquerito. Este sistema consta de um inquerito policial preliminar seguido de
um inquerito judicial ou instru9ao judicial.

Se naquele perfodo hist6rico esta op<;ao pudesse ser justificavel, o mesmo


nao se vislumbra nos dias atuais. Ja houve varias tentativas de supressao do
inquerito policial.
LAZZARINI (1986) sustenta a seguinte posi<;ao:

[ ... ] a premente necessidade de suprimir-se o anacr6nico inquerito policial, com o


que se agilizara a a9ao da Justi9a, em beneffcio da comunidade, pois, com maiores
garantias, o infrator podera ser apresentado, diretamente, pelo policial que atendeu
a ocorrencia ao Juiz da lnstruQao competente, sem os entraves que se verificam
hoje em dia em rela9ao a aludida pe9a policial meramente informativa. Ora,
considerando que o inquerito policial e mero procedimento administrative
preparat6rio e informative da a9ao penal, caracterizando-se pela unilateralidade,
vertente inquisitorial e inexistencia de contradit6rio, todas as provas durante seu
intercurso produzidas devem ser repetidas em Jufzo para adquirir validade e
eficacia. [p. 4-5]

Neste sentido, surgiram reiteradas decisoes dos tribunais patrios, sendo de


se destacar o voto do Ministro do Supremo Tribunal Federal CELSO DE MELLO:

0 inquerito policial constitui mero procedimento administrative, de carater


investigat6rio, destinado a subsidiar a atuaQao do Ministerio Publico. Trata-se de
pe9a informativa cujos elementos instrut6rios - precipuamente destinados ao 6rgao
da acusa9ao publica - habilita-lo-ao a instaurar a persecutio criminis in judicio. -A
unilateralidade das investiga96es desenvolvidas pela polfcia judiciaria na fase
preliminar da persecu(:ao penal (informatio delicti) e o carater inquisitive que assinala
a
a atUa(:aO da autoridade policial nao autorizam, SOb pena de grave ofensa garantia
constitucional do contradit6rio e da ampla defesa, a formulaQao de decisao
condenat6ria cujo unico suporte seja a prova, nao reproduzida em jufzo,
consubstanciada nas pe9as do inquerito [Mello, 1992, p. 12.227].

0 sistema processual penal brasileiro, ultrapassado e sem conseguir atingir


uma rapida e eficiente solu<;ao dos conflitos na esfera da persecu<;ao criminal,
23

obsecra solug6es que conduzam a uma "desformalizagao" do processo, tornando-o


mais simples, mais rapido, mais eficiente, mais democratico e mais proximo da
sociedade.
Nesse contexto, e que se insere o ciclo completo de polfcia como forma de
atingir esse objetivo. Em suma, a adogao desse sistema consistiria em que uma s6
polfcia, a mesma que inicialmente atende a ocorrencia, realizasse todos os demais
procedimentos tendentes a completar o ciclo de persecugao policial, ate o
encaminhamento final ao Ministerio Publico e ao Poder Judiciario.
As vantagens daf decorrentes sao evidentes, porque desburocratizaria o
procedimento, eliminando a dicotomia de atribuig6es na esfera policial e judicial, com
a supressao do vetusto e desnecessario inquerito policial. Para as partes envolvidas
nos casas de violencia domestica, o processo seria agilizado e veriam na Justiga urn
confiante amparo.
0 conceito de polfcia vern se alargando substancialmente e, a par de suas
atividades principais, para a qual foi criada, desenvolve outras no sentido de atingir o
bem-comum. Este eo objetivo e a razao de ser dos organismos estatais.
0 problema nao esta somente na morosidade da justiga, mas nos tramites
legais que deveriam ser mais ageis, o primeiro policial que tamar conhecimento da
ocorrencia envolvendo violencia domestica ou familiar deve agir, deve ter a
competencia de tanto agir administrativamente, quanta nos atos preparat6rios para a
condenagao efetiva do agressor; a impunidade e o combustfvel que vern queimando
vidas e marcando com traumas o convfvio familiar.
Homicfdios de mulheres fazem parte da realidade e do imaginario brasileiro
ha seculos, como mostra variada literatura de carater jurfdico, hist6rico, sociol6gico,
revistas, notfcias de jornal, alem da dramaturgia, teledramaturgia, literatura de
cordel, novelas de radio, musica popular e sites da internet, mas antes do homicfdio
houve uma agressao, houve urn sinal, as autoridades que tomarem conhecimento
desta agressao devem agir, eo status atual da polfcia estadual nao pode mais tolher
a agao protetiva e necessaria.
CAPiTULO 5

Quando me virei, xingando-a, ja estava atirando. Disparei varias vezes de maneira mecanica. Nao lembro de
ouvir os tiros, estava louco, transtornado.
Raul Fernando do Amaral Street10

5 0 QUE PODEMOS FAZER

A legislat;ao e confusa, recente e nao adequada a demanda de crimes


envolvendo violencia domestica e familiar, a estrutura da Seguran<;a Publica e
policial e antiga, insuficiente e burocratica 0 Sistema Policial nao preve ciclo
completo e nem responsabilidade objetiva aos agentes da lei.
Existe pouca instru<;ao tecnico-jurldica-profissional, e a maioria dos policiais
brasileiros (nas PPMM o efetivo feminino e aproximadamente 7% do total) quase
sempre homens, desconhecem as inova<;6es da Lei Maria da Penha
A mulher vftima de violencia domestica quando solicita o concurso da polfcia
pretende muito mais uma solut;ao para sua vida pessoal do que a punit;ao de seu
agressor. Destarte e preciso entende-la a fim de orienta-la e encaminha-la lsto
demanda muita sensibilidade e aten<;ao. Ouvir essa mulher, de modo a permitir que
ela adquira confiant;a em seu Interlocutor, e lndispensavel para se sinta respeitada e
acolhida, pais, afinal, nesse momenta, ela revela toda sua intimidade, o que, talvez,
nao se encoraje a fazer, nem as pessoas pr6ximas.
Esta caracterfstica de "saber ouvir'', de trabalhar com medi<;ao e resolu<;ao
pacffica de conflitos, e uma das principais caracterfsticas presentes no policiamento
comunitario.

5.1 POLICIAMENTO COMUNITARIO

Preocupado que a mfdia nao distor<;a o que vern a ser o policiamento


comunitario, Trojanowicz e Bucqueroux, 1994, definiram:

E uma filosofia e uma estrategia organizacional, que proporciona uma nova parceria
entre a populac;:ao e a polfcia. Baseia-se na premissa de que a polfcia e a

10
Doca Stret, assassino confesso de Angela Diniz. 0 caso Angela Diniz foi um marco jurfdico. Em um
primeiro julgamento, em 1979, Doca Street entrou no forum aplaudido por uma multidao e saiu em
liberdade - depois que o jurista Evandro Lins e Silva recorreu a tese da legftima defesa da honra,
vasculhou o passado de Angela e a classificou em termos como "prostituta da Babilonia" e "venus
lasciva". Um ano depois, em um segundo juri, Doca entrou no forum sob vaias de feministas, saiu
condenado a 15 anos de prisao e virou sfmbolo de uma virada hist6rica, em que caiu por terra a
alega<;ao de que um homem pode matar uma mulher para salvar sua honra.
25

comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar, e resolver problemas


daquele bairro e assim melhorar a qualidade de vida na area. Exige o
comprometimento do policial, desafia a encontrar meios para a resposta e soiU<;ao
dos problemas, explora profundamente as iniciativas preventivas, antes que os
problemas ocorram ou se agravem. Cada Policial comunitario e um mini chefe, que
goza de autonomia e liberdade para trabalhar e solucionar problemas da
comunidade, o desafio e tornar este local melhor para trabalhar, morar e viver.[p. 4 e
5]

Para completar o conceito, os autores definiram 9 "P" 11 e 10 prindpios 12,


sendo destaque para a presente monografia o primeiro "P", Filosofia (philosofhia):
Crem;a que a Polfcia fornega um servigo completo, sempre com envolvimento da
comunidade, porem implica na mudanga de procedimentos.
E os princfpios "6" e "7" Extensao do mandata policial: 0 policiamento
comunitario acrescenta o elemento preventive e amplia o papel da polfcia nas
transformag6es que venham ao encontro das promessas de tornar a comunidade
mais segura. Ajuda para as pessoas com necessidades especificas: 0
policiamento comunitario prioriza o atendimento as pessoas mais vulneraveis,
mulheres, jovens, velhos, minorias pobres, deficientes, sem teto. Assimilando e
ampliando o alcance dos esforgos. [p. 6 a 13]
Em sendo efetivamente proativa a atuagao da polfcia no policiamento
comunitario, nao cabe as polfcias ficarem reclamando, opondo 6bices, mas devem
compensar as condig6es nao ideais com um atendimento integrado, buscando no
judiciario e promotoria apoios legais e integrar-se a conselhos de defesa e da
condigao feminina, ONGs de Direitos Humanos, departamentos de saude e
educagao, na sociedade civil organizada e nos lares, procurando evitar ocorrencias
dessa natureza, com ajuda de igrejas que promovem cursos de conscientizagao
para a vida em famflia e movimentos leigos que valorizarao a fungao da famflia na
estruturagao da sociedade.

11
Filosofia (Philosofhia):Personalizac;ao, Policiamento, Patrulhamento, Permanencia, Posto,
Prevenc;ao, Parceria, Resoluc;ao de Problemas (Probleman Resolution)
12
1.Filosofia e Estrategia Organizacional; 2.Comprometimento com a Concessao de Poder a
Comunidade; 3. Policiamento Descentralizado e Personalizado; 4.Resoluc;ao Preventiva de
Problemas a Curto e Longo Prazo; S.Etica, Legalidade, Responsabilidade e Confianc;a; 6.Extensao do
Mandato Policial; 7.Ajuda para as Pessoas com Necessidades Especificas; 8.Criatividade e Apoio
Basicos; 9.Mudanc;a lnterna;10.Construc;ao do Futuro;
26

5.2 POLICIAMENTO ESCOLAR COMUNITARIO

No Parana, a filosofia de polfcia comunitaria alcangou grande sucesso


atraves dos programas de policiamento no ambiente escolar.
No ana de 1994 a Polfcia Militar do Parana, sensfvel ao problema da
educagao e, consciente da sua responsabilidade para com a comunidade Curitibana,
atraves do projeto Gralha Azul, buscou minimizar o problema da violencia nas
escolas, implementando para tanto, uma agao direcionada especificamente para a
seguranga das escolas da rede estadual e municipal de ensino.
A agao de polfcia ostensiva preconizada, objeto desse projeto, denominava-
se "Patrulha Escolar'', constitufda par duplas de Policiais Militares Femininas, as
quais desenvolviam suas atividades atraves do patrulhamento motorizado e de
permanencia, em locais de maior potencial de risco, complementando com visitas
programadas aos estabelecimentos de ensino da Capital, com a finalidade de
ampliar a sensagao de seguranga e protegao as criangas e adolescentes de nossas
escolas.
A partir de 1997, foi necessaria incrementar a Patrulha Escolar, objetivando
proporcionar a seguranga junto as Escolas Publicas Estaduais, localizadas nos
Munidpios de Curitiba, Colombo, Pinhais, Piraquara, Almirante Tamandare e Quatro
Barras, em ag6es integradas, no sentido de prevenir e evitar ag6es delituosas, bem
como, atuar na rede das Escolas Municipais e Particulares, ficando subordinada aos
Comandantes dos Batalh6es de Polfcia de Area, sendo divididas e aplicadas nas
areas do 12° BPM, 13° BPM e RPMon em Curitiba e, ficando o servigo de
patrulhamento nas Escolas dos Municfpios da Regiao Metropolitana, a cargo do
policiamento do 17° BPM.
No ano de 2000, a PMPR estabeleceria sua Diretriz Basica de Planejamento
e Emprego, n° 004/2000, que, em relagao ao policiamento escolar, determina:

Na medida do posslvel, deve ser escalado policiamento ostensivo junto as escolas e


co!E§gios, onde os problemas de seguranga publica tem-se avolumado, com
incidencia crescente de reclamagoes e ocorrencias diversas, fonte geradora de
inseguranga e apreensao para os pais, alunos e professores.

Atengao especial deve ser dada ao trafico e uso illcito de drogas nas proximidades
das escolas.

Deverao ser estabelecidas normas no sentido de incentivar o relacionamento entre


educandarios e Unidades de Area (filosofia da Pollcia Comunitaria), proporcionando
maior conscientizagao dos alunos atraves de projetos, palestras ou debates
coordenados pela Polfcia Militar, para o fomecimento de informagoes que
27

possibilitem a detectagao e extingao dos fatores que causam risco a seguranga do


corpo docente e discente.

Destaca-se desta atividade, a oportunidade aos policiais militares, da


Patrulha Escolar Comunitaria (PEC), em detectar sintomas de possfveis desajustes
de origem familiar, e que podem, a partir da aproximagao da equipe com o
estudante, ser o infcio de uma solugao, mesmo que par vias judiciais, dos crimes
relacionados a viol€mcia domestica.
No mesmo ana, a Diretriz 006/2000, iniciou no Parana a atuagao do
PROERD, 0 Programa Educacional de Resistencia as Drogas e a Violencia, que se
constitui numa forma de atuagao da Polfcia Militar voltada para a prevengao contra o
usa indevido de drogas, as agoes de vandalismo, a formagao de gangues entre
criangas e a violencia em geral;
A presenga de Policiais Militares nas escolas para a aplicagao do programa
procura na sua genese diminuir os inumeros problemas afetos a Seguranga Publica
interagindo na sociedade com os cidadaos, fortalecendo o trin6mio: a POLlCIA, a
ESCOLA e a COMUNIDADE;
0 PROERD tern por base o Projeto "DARE", inicialmente desenvolvido e
aplicado pelo Departamento de Polfcia e o Distrito Escolar Unificado da cidade de
Los Angeles/EUA. Esse grandioso programa e aplicado em todos OS Estados dos
Estados Unidos da America e em mais de cinquenta pafses, inclusive o Brasil com
as adaptagoes necessarias a nossa realidade cultural. 13
Com o somat6rio destes programas as criangas nas escolas passam a
contar com policiais, na maioria do sexo feminino, sempre preparados para receber
denuncias, e habilitados para, atraves de palestras, atuarem como educadores
sociais, e como assessores de seguranga para os diretores, professores, pais e
funcionarios.
Possuidores de tais habilitagoes, os policiais militares integrantes da
Patrulha Escolar Comunitaria e do PROERD, integrados na comunidade escolar,
realizam trabalhos excepcionais, que resultam agoes proativas, no combate a
violencia domestica.

13
Embora nao seja obrigat6rio o genero, ambos os programas iniciaram com as policiais femininas, e
seguem, no Parana com as mulheres a frente.
28

5.2.1 Prevenc;ao a pedofilia

0 PROERD vai muito alem do seu "predecessor" americana. De forma


dinamica, o programa participa ativamente no combate as drogas, nos conselhos
estaduais e municipais, e possui assento nos principais 6rgaos responsaveis pela
polftica publica relativa as drogas, alem do seu papel fundamental na prevenc;ao
primaria ao abuso de drogas. 0 PROERD age proativamente em relac;ao a viol€mcia
infanto-juvenil, e no Parana, vern tornando-se referenda nacional no combate a
pedofilia, sendo destaque a Educadora Social Sargento Tania Mara Guerreiro, que
tern uma experiencia de 25 anos no combate a pedofilia e desaparecimento de
crianc;as.
Recentemente a educadora palestrou no Centro de Ciencias Humanas na
UEL 14 e na cidade de Palotina, a pedido do CO MAD - Conselho Municipal Anti
Drogas15 .
Um exemplo do excelente trabalho da sargento Guerreiro e o release
distribuldo pela agencia estadual de noticiais que divulgou a palestra no Colegio
Felipe de Sousa Miranda, destacando:
16
Escola- Segundo a Sargento Guerreiro , caso a crian9a nao tenha abertura para
contar aos pais, um caminho e o professor, que pode ajudar, mas que tera de
ganhar a confian9a da crian9a. "Em sala de aula aparece de forma mais evidente
que a crian9a esta sofrendo a agressao. A crian9a vai sentar na ultima carteira, vai
ter relutancia em voltar para casa, nao vai ter amigos, nao vai lanchar junto com os
colegas. 0 professor pode perceber a diferen9a entre uma crian9a que nao enfrenta
o problema e a crian9a vftima do ped6filo por acompanhar diariamente as crian9as",
disse.

Na mesma materia, a educadora fez um resumo das caracterlsticas das


crianc;as vltimas de violencia sexual:

- Torna-se retrafda e isola-se das outras crian9as;

- Apresenta mudan9a repentina de comportamento como tirar a roupa ou tocar


outras crian9as nos 6rgaos genitais;

- Apresenta repentina mudan9a de humor;

- E mais agressiva, apresenta depressao, angustia ou apatia;

14
Dias 16 e 17 de abril de 2007 [FOLHA DE LONDRINA, 16 Abril de 2007]
15
06 do 06, COMAD, assessoria de imprensa, lmpunidade e a grande vila da pedofilia.
16
A sargento Guerreiro atua no Proerd (Programa Educacional de Resistencia as Drogas e a
Violencia), mantido pela Policia Militar do Parana, e que ensina crianc;as de 9 a 11 anos como
aumentar a auto-estima e nao se envolver em situac;oes de drogas e outros tipos de violencia. Ela
tambem e ligada ao Movimento Nacional em Defesa da Crianc;a Desaparecia do Parana.
29

-Tern baixo rendimento escolar;

- Apresenta lesoes na area genital e dificuldades para urinar ou defecar;

Providemcias a serem tomadas;

- Propicie um ambiente seguro, tranqOilo e reservado para conversar com a crianc;a;

- Procure nao perguntar diretamente os detalhes da vioh§ncia sofrida, nem fazer a


crianc;a repetir a hist6ria varias vezes, pais isto podera fazer aumentar o sofrimento;

- Proteja a crianc;a e reitere que ela nao tern culpa pelo que aconteceu,
especialmente nos casas de abuso sexual e diga-lhe que ao contar ela agiu
corretamente;

- Anote o mais cedo posslvel tudo o que foi dito e seja fiel as declarac;oes da crianc;a;

- Mantenha sigilo das informac;oes e s6 relate o caso as pessoas que precisam estar
informadas, para agir e apoiar a crianc;a;

- Ouc;a-a com atenc;ao e leve a serio tudo o que a crianc;a disser.

5.3 ATENDIMENTO POLICIAL

Com base nas determinat;6es da Lei n° 11.340 a mulher que seja vftima de
violencia domestica ou que esteja amerce de ser violentada, podera socorrer-se ao
departamento policial mais proximo. A autoridade policial que tomar conhecimento
dos fatos tomara, entre outras medidas, as seguintes:
a) dara garantia de prote<;ao a mulher;
b) encaminhara a ofendida ao hospital, ou Institute Medico Legal, inclusive
para realizat;ao de exame de corpo de delito;
c) fornecera transporte para abrigo seguro;
d) se necessaria, acompanhara a ofendida para assegurar a retirada de seus
pertences do local da ocorrencia ou do domicflio familiar;
Assim, a prote<;ao a mulher ja come<;a desde a seara policial, sendo que a
autoridade, alem daquelas providencias ja ditas, devera tambem adotar os
procedimentos preliminares, lavrando o boletim de ocorrencia e tomando a
representa<;ao da ofendida, colhendo as provas necessarias para futura at;ao penal,
ouvindo o agressor e a vftima. A autoridade policial devera encaminhar a solicita<;ao
de medidas protetivas, ao Juiz, no prazo de 48 horas.
Ap6s esses expedientes, devera remeter os autos do inquerito a autoridade
Judicial e ao Ministerio Publico.
30

5.4 DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGENCIA

No intento de garantir melhor prote9ao a mulher vftima de situa9ao de risco,


a Lei garantiu ao Juiz que possa tomar medidas de offcio e, clara, mediante
requerimentos do Ministerio Publico e da propria vftima.
Alias, o Juiz podera decretar ex-officio, em qualquer fase do inquerito ou do
processo criminal, a prisao preventiva do acusado de agressao, desde que
verificadas situa96es comprovadas da necessidade da medida para preserva9ao do
bem-estar da mulher agredida.
17
ALMEIDA JUNIOR tern o entendimento, e acompanhado da melhor
jurisprudencia, que a segrega9ao preventiva s6 e de rigor se houver fundada
situa98o devidamente comprovada que a justifique. E indispensavel que o juiz
mencione os fatos que o convenceram da necessidade da prisao, nao bastando a
simples men980 de que "a prisao e necessaria a proteqao da mu/her' ou que ela "e
conveniente para a instruqao criminal'.
Sim, "a prisao provis6ria e medida de extrema exceqao. S6 se justifica em
casas excepcionais, onde segregaqao preventiva, embora um mal, seja
indispensavel. Deve, pais, ser evitada, porque e uma puniqao antecipada".
[ALMEIDA JUNIOR 18 , 2006, p 4]
A experiencia tern mostrado que o agressor e recorrente nos seus atos.
lmagine-se, entao, o desejo de vingan9a que nutrira contra a ofendida caso venha a
ser preso preventivamente. Tao logo colocado em liberdade podera novamente
tentar ou consumar nova violencia contra a mulher. Oeste modo, para que a vftima
nao fique desprevenida, "a ofendida devera ser notificada dos atos processuais
relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e a safda da
prisao, sem prejufzo da intimaqao do advogado constitufdo ou do defensor
publico. "[idem]

5.4.1 Das medidas protetivas de urgencia que obrigam o agressor

E axiomatico no sistema processual penal, sobretudo constitucional, que


ninguem sera considerado culpado enquanto nao houver o transito em julgado da

17
Professor de Direito Civil, Processual Civil e Constitucional na PUC/PR (Londrina) e Escola
Superior da Advocacia e Escola da Magistratura do Trabalho.
18
Segundo informac;oes colhidas pelo autor na (RT 531/301).
31

sentenga penal condenat6ria. E, por extensao, nao se pode impor ao reu medidas e
consequencias desta punigao, senao posteriormente ao decreta judicial
condenat6rio.
Contudo, ja se decidiu que medidas liminares, inclusive pris6es preventivas,
mesmo sem o transito em julgado de uma sentenga, nada tern de inconstitucional.
Nesta toada, a Lei em questao trata de outras medidas provis6rias que o juiz pode
decretar contra o agressor mis6gino, entre elas:
I) suspensao da posse ou restrigao do porte de armas, com comunicagao ao
6rgao competente.
0 certificado de registro de arma de fogo e a autorizagao para o porte de
arma de fogo serao expedidos pela Polfcia Federal e sera precedido de autorizagao
do Sinarm - Sistema Nacional de Armas. Uma vez havida agressao contra mulher, o
juiz podera de imediato decretar a suspensao da posse ou restringir o porte,
comunicando a Polfcia Federal e o Sinarm do ocorrido.
II) afastamento do lar, domicflio ou local de convivencia com a ofendida.
Medida de cunho estritamente civil cabera doravante ao Juiz criminal que
conduzir o processo que apure eventual agressao.
Conforme entendimento da lei 11340, o art. 22, II, determina que se o
agressor estiver residindo no local podera ser afastado e a agredida reconduzida ao
lar.
Poder-se-a, tambem, pleitear a separagao de corpos, com vistas a futura
separagao judicial ou mesmo div6rcio.
Ill) proibigao de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximagao da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando
o limite mfnimo de distancia entre estes e o agressor;
lnstituto tfpico do direito americana, o juiz podera impor ao agressor que
mantenha certa distancia da ofendida, seus familiares e testemunhas. Em havendo
descumprimento desta regra, o agressor se sujeitara as penas do crime de
desobediencia.
b) cantata com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio
de comunicagao;
c) frequentagao de determinados lugares a fim de preservar a integridade
ffsica e psicol6gica da ofendida;
32

IV - restrigao ou suspensao de visitas aos dependentes menores, ouvida a


equipe de atendimento multidisciplinar ou servic;o similar;
Eventualmente, a agressao e de tal modo que envolve inclusive os filhos,
quer porque ficam a merce ffsica dos ataques, quer porque assistem a mae ser
agredida redundando num abalo psicol6gico.
Em qualquer situac;ao, preservando-se sempre o "melhor interesse do
menor'', o juiz podera impedir que o agressor visite-o, mesmo que seja seu filho.
V - prestac;ao de alimentos provisionais ou provis6rios.
A mulher agredida podera pedir alimentos ao agressor se nao reunir
condic;oes de subsistencia condigna.
Caso essas medidas nao sejam suficientes, o juiz podera determinar
qualquer outra que seja pertinente, sobretudo as determinadas no art. 24:

I- restitui~;ao de bens indevidamente subtraidos pelo agressor a ofendida;


II - proibi<;ao temporaria para a celebra~;ao de atos e contratos de compra, venda e
loca~;ao de propriedade em comum, salvo expressa autoriza~;ao judicial;

Ill- suspensao das procura~;oes conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - presta~;ao de cau~;ao provis6ria, mediante deposito judicial, por perdas e danos


materiais decorrentes da pratica de violemcia domestica e familiar contra a ofendida.
[BRASIL, 2006]

5.4.2 Erros a serem evitados ao atender mulher vltima de violencia domestica

A Secretaria Especial de Pollticas para as Mulheres atraves da cartilha


Enfrentando a Violencia contra a Mulher - Orienta~oes Praticas para
Profissionais e Voluntaries (as) em 2005, apresentava dicas praticas sabre o
atendimento a mulher vftima de violencia domestica, embora confeccionada e
distribufda antes da Lei Maria da Penha, algumas orientag6es ainda sao validas.

a) Paternalizar

Querer solucionar os problemas pela vftima, ao inves de ajuda-la a encontrar


suas pr6prias soluc;oes.

b) lnfantilizar

Trata-la como uma crianc;a, exagerando nos diminutivos, pedindo para ela
dar "aquele sorriso", ou repetindo as explicac;oes em tom excessivamente didatico,
33

em voz alta e pausada. Uma forma tfpica de infantilizagao e a desconfianga. 0


profissional sup6e que a hist6ria narrada contem inverdades ou exageros, e comega,
sutilmente, a desautorizar a versao da vftima.
c) Culpabilizar
Expressa a impaciencia do profissional com as dificuldades alheias e sua
necessidade de produzir julgamentos: ele ou ela acaba reproduzindo a atitude crftica
do agressor e solapando os esforgos de quem tenta se desvencilhar da situagao de
violencia. Fazer perguntas inquisit6rias eo modo mais comum e insidioso de culpar
as mulheres agredidas: perguntar a vftima por que o marido a espancou, que roupas
ela vestia quando foi estuprada, se ela tentou fazer alguma coisa para ajudar o
companheiro que a agride constantemente, porque ela nao saiu de casa
imediatamente, porque nao trabalha, etc.
d) A incapacidade de escutar
A escuta e uma das ferramentas mais importantes para quem trabalha no
atendimento a mulheres e homens em situagao de violencia. Nao basta escutar
mecanicamente. E precise transmitir a(o) interlocutor( a), atraves de uma escuta ativa
e solidaria, a certeza de que esta sendo, de fato ouvido( a) em sua singularidade e
de que e possfvel construir, no momenta da interlocugao, uma relagao de confianga
mutua. A dificuldade de ouvir leva o( a) profissional a pressupor fatos e situag6es.
Com isso, ele(a) produz generalizag6es despersonalizantes e destr6i os lagos de
confianga que a vftima tenta encontrar.
e) Generalizar hist6rias individuais
E comum o profissional se mostrar desgastado com a aparente repetigao
dos casos que lhes chegam as maos diariamente. As hist6rias se parecem e, ao fim
do dia, torna-se diffcil distinguir uma da outra. 0 resultado pode ser o atendimento
despersonalizado das mulheres agredidas, que passam a ser vistas como meras
ilustrag6es de uma mesma hist6ria, cujo roteiro ja e previamente conhecido. E
fundamental, portanto, renovar permanentemente a disposigao e os conhecimentos
da equipe, atraves de reunioes peri6dicas, cursos, seminaries, leituras etc. e alternar
as fungoes que nao exijam especializagao.
f) Reforgar a vitimizagao
Algumas mulheres poderao buscar no servigo de atendimento, um espago
para despejar continuamente suas angustias e insatisfag6es, ao inves de uma fonte
de apoio para realizar mudangas e sair da situagao em que se encontram. Nesse
34

caso, estariam usando a escuta profissional como justificativa para permanecer na


posigao de vftimas e nao para supera-la. E uma reagao possfvel das mulheres em
situagao de viol€mcia. Cabe a(o) profissional, evitar a armadilha de alimentar a
autocomiseragao, e ajuda-las a veneer essa atitude paralisante.
g) Envolver-se em excesso
0 desafio e ser solidario(a) e capaz de demonstrar afetividade, sem
envolver-se demasiadamente no sofrimento alheio. Quem procura ajuda espera
encontrar no(a) interlocutor(a) exatamente a forga e a seguranga que lhe falta. Se
o(a) profissional se choca, se assusta ou se abala demais em face dos epis6dios
narrados ou do aspecto ffsico das vftimas, ele(a) transmite, pela fragilidade
demonstrada, uma falta de profissionalismo que deixa as vftimas ainda mais
inseguras e desamparadas.
h) Distanciar--se em excesso
Para defender-se do excesso de envolvimento, o(a) profissional pode acabar
assumindo uma postura puramente tecnica, tria, esvaziada dos sentimentos que
estao na base da identificagao e da solidariedade. E natural que, em algum
momenta, o(a) profissional se comova e chore junto com a vftima. Nao ha nenhum
pecado nisso. 0 choro pode ser vista, inclusive, como uma expressao sincera de
profunda comprometimento e vontade de ajudar. 0 importante e nao se deixar
fragilizar a ponto de perder a atitude profissional e a capacidade de transmitir
seguranga.
i) Emitir duplas mensagens
E comum que os profissionais alimentem sentimentos ambfguos em relagao
a situagao vivida pela vftima e acabem expressando essa ambiguidade atraves de
mensagens truncadas ou contradit6rias que confundem as mulheres e lhes
embaralham tambem os sentimentos, e a capacidade de agir. Da mesma forma, e
preciso estar atento(a) aos gestos e sinais que podem contradizer o sentido que as
palavras pretendem expressar. Um tom de voz evasivo, uma entonagao rfspida, um
olhar desconcentrado ou uma postura corporal displicente podem revelar a
indiferenga, a crftica e a irritagao que as palavras tentam esconder.
j) A ansiedade
Ha ainda o(a) profissional que nao consegue esperar o tempo natural do
processo de cada mulher. Sente-se impotente se sua intervengao nao produz efeitos
35

imediatos e acaba pressionando as vltimas, levando-as a tamar atitudes para as


quais ainda nao estao preparadas.
k) Transmissao de falsas expectativas
E preciso evitar a tentac;ao de querer consolar a vltima com falsas
promessas. Elas precisam saber, com base em informagoes realistas, as
implicagoes, os riscos e as possibilidades reais de cada gesto. Engana-las e mais
uma forma de infantiliza-las e despotencializa-las.
As dicas praticas sabre o atendimento a mulher vltima de violencia
domestica, complementados com os preceitos da Lei 11.340 sao essenciais aos
policias que atuam no enfrentamento diario desse problema.
CAPiTULO 6

Comigo nao, violao


Na cara que mamae beijou
"Ze Rue/a" nenhum bota a mao
Se tentar me bater
Vai se arrepender
Eu tenho cabelo na venta
Sou brasi/eira, guerreira
Nao to de bobeira
Nao pague pra ver
Porque vai ficar quente a chapa
Voce nao vai ter sossego na vida, seu mogo
Se me der urn tapa
Da dona "Maria da Penha"
Voce nao escapa
Musica Maria da Penha Alcione 19

6 CONCLUSAO

Ao Iongo da presente monografia avaliou-se a violencia que ocorre no


espago privado, contra a mulher, que passou a ser conhecida como violencia
domestica. E urn vicio de formagao, E cultural e sua existencia remonta a origem da
famflia. Os preconceitos inseridos na moral, tradicionais da maioria das sociedades
no mundo todo, fazem com que sejam mais diffceis os controles dessa violencia,
mas o Brasil reagiu ao conformismo e, com a Lei 11.340, de 09/08/06, houve urn
consideravel avango na polftica de protegao integral a mulher. Chamada de LEI
MARIA DA PENHA, que veio atender ao clamor contra a sensagao de impunidade
despertada, em muitos, pela situagao existente no Brasil no seculo que findou.
0 escopo de demonstrar a aplicagao da Lei 11.340 no dia-a-dia da PMPR foi
incansavelmente perseguido.
A seguranga publica, uma das necessidades fundamentais do ser humano e
urn dos pilares do exercfcio da democracia e da plena cidadania, tern passado por
enormes questionamentos, em sua seara ampla, e mais especifica, quando o genera
mulher esta envolvido.
Por mandamento constitucional, no ambito estadual, a Polfcia Militar
incumbe a atividade de polfcia ostensiva e preservagao da ordem publica, enquanto
que a Polfcia Civil cabe a fungao de polfcia judiciaria e apuragao das infrag6es
penais. Portanto, aplicando o dispositive constitucional a pratica diuturna do
encaminhamento dos procedimentos policiais, verificamos que o atendimento da

19
lnterpretac;;ao de Alcione, letra e musica de Paulinho Resende e Evandro Lima.
------------------

37

mesma ocorrencia e realizado, no ambito estadual, par duas instituic;oes de polfcia,


numa dicotomia de atribuic;6es.
Especificamente par parte da Polfcia Militar, as infrac;6es penais sao
encaminhadas a outra instituic;ao policial (Polfcia Civil), ensejando evidentes
prejufzos a satisfac;ao do cidadao usuario e aos pr6prios conceitos de cidadania.
A menor de todas as polfcias brasileiras e a que possui a maior
responsabilidade, a Polfcia Federal, cumpre com eficiencia o seu papel.
Freqoentemente ocupa as paginas dos principais noticiarios brasileiros com
sucesso em ac;oes e operac;oes. Raramente esta sendo criticada, ou esta na mfdia
se justificando par nao cumprir alguma de suas miss6es.
Como nao lhe esta afeita a missao de combater ou prevenir a violencia
domestica, nao se tratou amiude sabre ela nesta monografia, mas a tftulo de
exemplo e oportuno lembrar que e a unica das multiplas polfcias brasileiras que
possui ciclo completo de polfcia. Ou seja, e a unica polfcia completa!
Em ambito estadual, numa alegoria, podem-se representar as polfcias civis e
polfcias militares como meia polfcia, pais cada uma tern metade da missao no
combate ao crime, uma age antes, a outra depois. Teoricamente, em cada guarnic;ao
haveria dais policiais urn para prevenir, outro para reprimir.
Antes do fato delituoso, ate durante sua execuc;ao o PM agiria, mas
consumado, caberia ao policial civil a continuidade da ocorrencia.
A competencia residual da PMPR e o born sensa dos policiais brasileiros
tern feito com que essa alegoria sirva apenas para ridicularizar o sistema, pais nao
tern vida efetiva.
0 atual perfil do policial militar, mesmo informado sabre a nova Lei
11.340/06, "Lei Maria da Penha", nao eo adequado para bern atender as mulheres
vftimas de violencia domestica, como tambem nao o eo perfil da Polfcia Civil, pais a
lei preve medidas judiciarias e administrativas, protegao a vftima in-loco,
encaminhamento, e outras que foram amiude demonstradas nesta monografia e
seguem completas no anexo que traz a integra da Lei.
Qual entao a soluc;ao? A execu~ao do ciclo completo de policia!
0 policial que receber o chamado podera cumprir escorreitamente as
determinac;6es da Lei, tanto assecurat6rias e protetivas, quanta os
encaminhamentos necessarios a apuragao, e melhor sera a resposta as vftimas de
38

violencia domestica, pois o atendimento sera mais agile satisfat6rio, seguindo direto
ao ministerio publico, sem necessidade de ser refeito no ambito judicial.
A limita<;ao da atuayao PM frente aos casas de violencia domestica, como
parcela iniciante do atendimento, sendo obrigado a repassar para outro 6rgao que
dara continuidade aos atos, e prejudicial tanto para a vftima, quanta para o sistema e
para a sociedade.
Enquanto a PM nao for detentora do ciclo completo de polfcia, a integra<;ao
com a polfcia civil e o estabelecimento de uma rede de atendimento a mulher vftima
de violencia domestica e primordial, principalmente se houver Delegacias,
Promotorias e Juizados de Violencia Domestica e Familiar.
0 exercfcio da cidadania, a garantia dos direitos humanos, de igualdade, e
altera<;ao da situa<;ao de fragilidade da mulher numa sociedade dominada pelo
homem e pela dependencia financeira, sao os principais resultados a serem
alcanyados.
Alem de buscar incansavelmente o ciclo completo de polfcia para as PPMM,
com base nos dados levantados na presente monografia, e oportuno dizer da
necessidade de empenho de toda a PMPR no combate a essa violencia insidiosa
que viceja nos lares brasileiros, de provocar discussoes sabre o tema, sem a
necessidade de que alguma mulher seja vftima como foi Maria da Penha.
Ao menos dois programas permanentes devem ser encetados pela PMPR:
a) edi<;ao de material de comunica<;ao social destinado ao publico interno (manual
de procedimentos, vfdeo, pagina na intranet, palestras e filmes institucionais) para
orientar como atuar nos casas de violencia domestica e familiar; b) um programa de
responsabilidade social prevenindo e esclarecendo sabre a violencia domestica e
familiar, da mesma forma que o PROERD vern fazendo em rela<;ao a pedofilia, uma
das formas odiosas de violencia que se esconde nos lares brasileiros.
0 assunto e vasto, e esta em constante evolu<;ao, a presente monografia
nao o esgota, outros estudos precisam ser feitos, principalmente para avaliar se o
policial militar esta suficientemente instrufdo para agir nos casas envolvendo a
violencia domestica, qual a participayao dos policiais na perpetra<;ao da violencia
domestica, pois sendo uma das profissoes mais estressantes, predominantemente
masculina e tradicional, e preciso avaliar se nossa corporayao nao e parte do
problema, quando deveria ser parte da solu<;ao, assuntos que mostram a riqueza do
tema e o quanta foram apaixonantes para a consecu<;ao desta monografia.
GLOSSARIO

Jaez- significa, em sentido figurado, tipo, "qualidade", "especie"; em sentido


denotativo, "aparelho e adorno para bestas".
Matriarcado- literalmente "o governo da mulher'', sociedade onde a mulher
assume os rumos da coletividade, as relag6es sociais e parentesco de se
desenvolvem a partir das maes, madres.
Mis6gino- adj. e s.m. Que ou quem tern aversao as mulheres.
Patriarcado -literalmente "o governo do homem", sociedade onde o homem
assume os rumos da coletividade, as relag6es sociais e parentesco de se
desenvolvem a partir dos pais, padres.
Viollmcia - Etimologicamente, violencia vern do latim vis, forga, e significa:
( 1) tudo o que age usando a forga para ir contra a natureza de algum ser (e
desnaturar); (2) todo ato de for<;a contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade
de alguem (e coagir, constranger, torturar, brutalizar); (3) todo ato de violagao da
natureza de alguem ou de alguma coisa valorizada positivamente par uma
sociedade (e violar); (4) todo ato de transgressao contra aquelas coisas e ag6es que
alguem ou uma sociedade define como justas e como urn direito. Na esfera jurfdica,
violencia significa uma especie de coagao, ou forma de constrangimento, posto em
pratica para veneer a capacidade de resistencia de outrem, ou a levar a executa-lo,
mesmo contra a sua vontade. E igualmente, ato de forga exercido contra as coisas,
na intengao de violenta-las, devassa-las, ou delas se apossar.
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43

ANEXO I

Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha)


44

Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha)

Cria mecanismos para coibir a violencia domestica e familiar contra a mulher, nos termos do
§ 8o do art. 226 da Constituic;ao Federal, da Convenc;ao sobre a Eliminac;ao de Todas as
Formas de Discriminayao contra as Mulheres e da Convenc;ao lnteramericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violencia contra a Mulher; dispoe sobre a criayao dos Juizados de
Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher; altera o C6digo de Processo Penal, o
C6digo Penal e a Lei de Execuc;ao Penal; e da outras providencias.

0 PRESIDENTE DA REPUBLICA Fac;o saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:

TITULO I

DISPOSI<;OES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violencia domestica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituiyao Federal, da Convenyao
sobre a Eliminac;ao de Todas as Formas de Violencia contra a Mulher, da Convenyao
lnteramericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violencia contra a Mulher e de outros
tratados intemacionais ratificados pela Republica Federativa do Brasil; dispoe sobre a
criac;ao dos Juizados de Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistencia e proteyao as mulheres em situac;ao de violencia domestica e
familiar.

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raya, etnia, orientayao sexual, renda,
cultura, nivel educacional, idade e religiao, goza dos direitos fundamentais inerentes a
pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem
violencia, preservar sua saude fisica e mental e seu aperfeic;oamento moral, intelectual e
social.

Art. 3o Serao asseguradas as mulheres as condic;oes para o exercicio efetivo dos direitos a
vida, a seguranya, a saude, a alimentac;ao, a educayao, a cultura, a moradia, ao acesso a
justic;a, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, a cidadania, a liberdade, a dignidade, ao respeito e
a convivencia familiar e comunitaria.

§ 1o 0 poder publico desenvolvera politicas que visem garantir os direitos humanos das
mulheres no ambito das relac;oes domesticas e familiares no sentido de resguarda-las de
toda forma de negligencia, discriminayao, explorac;ao, violencia, crueldade e opressao.

§ 2o Cabe a familia, a sociedade e ao poder publico criar as condic;Oes necessarias para o


efetivo exercicio dos direitos enunciados no caput.
45

Art. 4o Na interpreta~o desta Lei, serao considerados os fins sociais a que ela se destina e,
especialmente, as condi96es peculiares das mulheres em situa9ao de violencia domestica e
familiar.

TITULO II

DA VIOLENCIA DOMESTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CAPITULO I

DISPOSICOES GERAIS

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violemcia domestica e familiar contra a mulher
qualquer a9ao ou omissao baseada no genero que lhe cause morte, lesao, sofrimento ffsico,
sexual ou psicol6gico e dano moral ou patrimonial:

I - no ambito da unidade domestica, compreendida como o espa9o de convfvio permanente


de pessoas, com ou sem vinculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no ambito da familia, compreendida como a comunidade formada por indivfduos que sao
ou se consideram aparentados, unidos por la9os naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;

Ill- em qualquer relavao intima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabita~o.

Paragrafo unico. As rela96es pessoais enunciadas neste artigo independem de orienta~o


sexual.

Art. 6o A violencia domestica e familiar contra a mulher constitui uma das form as de viola~o
dos direitos humanos.

CAPITULO II

DAS FORMAS DE VIOLENCIA DOMESTICA E FAMILIAR

CONTRA A MULHER

Art. 7o Sao formas de violencia domestica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violencia ffsica, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saude
corporal;

II - a violencia psicol6gica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional
e diminui~o da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o plene desenvolvimento ou
que vise degradar ou controlar suas a96es, comportamentos, cren9as e decis6es, mediante
ameaya, constrangimento, humilha9ao, manipulavao, isolamento, vigilancia constante,
46

persegui~o contumaz, insulto, chantagem, ridiculariza9ao, explora~o e limita~o do direito


de ir e vir ou qualquer outre meio que lhe cause prejufzo a saude psicol6gica e a
autodetermina9ao;

Ill - a violemcia sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a
manter ou a participar de rela9ao sexual nao desejada, mediante intimida9ao, amea9a,
coa~o ou uso da for98; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impe9a de usar qualquer metodo contraceptive ou que a force ao
matrimonio, a gravidez, ao aborto ou a prostitui9ao, mediante coa~o. chantagem, suborno
ou manipula~o; ou que limite ou anule o exercfcio de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violencia patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure reten~o.

subtra9ao, destrui9ao parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos


pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econ6micos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;

V- a violencia moral, entendida como qualquer conduta que configure calunia, difama9ao ou
injuria.

TITULO Ill

DA ASSISTENCIA A MULHER EM SITUACAO DE VIOLENCIA DOMESTICA E FAMILIAR

CAPITULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENCAO

Art. So A politica publica que visa coibir a violencia domestica e familiar contra a mulher far-
se-a por meio de urn conjunto articulado de a96es da Uniao, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municfpios e de a96es nao-governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integra9ao operacional do Poder Judiciario, do Ministerio Publico e da Defensoria


Publica com as areas de seguran9a publica, assistencia social, saude, educa~o. trabalho e
habitar;ao;

II- a promo~o de estudos e pesquisas, estatfsticas e outras informa96es relevantes, com a


perspectiva de genero e de ra9a ou etnia, concernentes as causas, as consequencias e a
frequencia da violencia domestica e familiar contra a mulher, para a sistematiza9ao de
dados, a serem unificados nacionalmente, e a avalia9ao peri6dica dos resultados das
medidas adotadas;

Ill - o respeito, nos meios de comunica9ao social, dos valores eticos e sociais da pessoa e
da familia, de forma a coibir os papeis estereotipados que legitimem ou exacerbem a
violencia domestica e familiar, de acordo com o estabelecido no incise Ill do art. 1o, no
incise IV do art. 3o e no incise IV do art. 221 da Constitui9ao Federal;
47

IV - a implementa<;ao de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular


nas Delegacias de Atendimento a Mulher;

V - a promo<;ao e a realiza<;ao de campanhas educativas de preven<;ao da violencia


domestica e familiar contra a mulher, voltadas ao publico escolar e a sociedade em geral, e
a difusao desta Lei e dos instrumentos de prote<;ao aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebra<;ao de convenios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de


promo<;ao de parceria entre 6rgaos govemamentais ou entre estes e entidades nao-
govemamentais, tendo por objetivo a implementa<;ao de programas de erradica<;ao da
violencia domestica e familiar contra a mulher;

VII - a capacita<;ao permanente das Policias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo
de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos 6rgaos e as areas enunciados no inciso I
quanto as quest6es de genero e de ra<;a ou etnia;

VIII - a promo<;ao de programas educacionais que disseminem valores eticos de irrestrito


respeito a dignidade da pessoa humana com a perspectiva de genero e de ra<;a ou etnia;

IX - o destaque, nos curriculos escolares de todos os niveis de ensino, para os conteudos


relatives aos direitos humanos, a eqOidade de genero e de ra<;a ou etnia e ao problema da
violencia domestica e familiar contra a mulher.

CAPITULO II

DA ASSISTENCIA A MULHER EM SITUACAO DE VIOLENCIA DOMESTICA E FAMILIAR

Art. 9o A assistencia a mulher em situa<;ao de violencia domestica e familiar sera prestada


de forma articulada e conforme os principios e as diretrizes previstos na Lei Organica da
Assistencia Social, no Sistema Onico de Saude, no Sistema Onico de Seguran<;a Publica,
entre outras normas e politicas publicas de prote<;ao, e emergencialmente quando for o
caso.

§ 1o 0 juiz determinara, por prazo certo, a inclusao da mulher em situa<;ao de violencia


domestica e familiar no cadastro de programas assistenciais do govemo federal, estadual e
municipal.

§ 2o 0 juiz assegurara a mulher em situa<;ao de violencia domestica e familiar, para


preservar sua integridade fisica e psicol6gica:

1- acesso prioritario a remo<;ao quando servidora publica, integrante da administra<;ao direta


ou indireta;

II - manuten<;ao do vinculo trabalhista, quando necessaria o afastamento do local de


trabalho, por ate seis meses.
48

§ 3o A assistencia a mulher em situa~o de violencia domestica e familiar compreendera o


acesso aos beneficios decorrentes do desenvolvimento cientffico e tecnol6gico, incluindo os
servi9os de contracep9ao de emergencia, a profilaxia das Doen~s Sexualmente
Transmissfveis (DST) e da Sfndrome da lmunodeficiencia Adquirida (AIDS) e outros
procedimentos medicos necessaries e cabfveis nos casos de violencia sexual.

CAPITULO Ill

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 1o. Na hip6tese da iminencia ou da pratica de violencia domestica e familiar contra a


mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrencia adotara, de imediato, as
providencias legais cabfveis.

Paragrafo unico. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida


protetiva de urgencia deferida.

Art. 11. No atendimento a mulher em situa9ao de violencia domestica e familiar, a


autoridade policial devera, entre outras providencias:

I - garantir prote9ao policial, quando necessaria, comunicando de imediato ao Ministerio


Publico e ao Poder Judiciario;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saude e ao Institute Medico Legal;

Ill - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro,
quando houver risco de vida;

IV - se necessaria, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do


local da ocorrencia ou do domicflio familiar;

V - informar a ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os servi9os disponfveis.

Art. 12. Em todos os casos de violencia domestica e familiar contra a mulher, feito o registro
da ocorrencia, devera a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos,
sem prejufzo daqueles previstos no C6digo de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrencia e tomar a representa9ao a termo, se


apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas


circunstancias;

Ill - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o
pedido da ofendida, para a concessao de medidas protetivas de urgencia;
49

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros


exames periciais necessaries;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identifica~o do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes
criminais, indicando a existencia de mandado de prisao ou registro de outras ocorrencias
policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquerito policial ao juiz e ao Ministerio Publico.

§ 1o 0 pedido da ofendida sera tornado a termo pel a autoridade policial e de vera conter:

I- qualifica~o da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

Ill - descri9ao sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

§ 2o A autoridade policial de vera anexar ao documento referido no § 1o o boletim de


ocorrencia e c6pia de todos os documentos disponiveis em posse da ofendida.

§ 3o Serao admitidos como meios de prova os laudos ou prontuarios medicos fornecidos por
hospitais e postos de saude.

TITULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

CAPITULO I

DISPOSICOES GERAIS

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e a execu9ao das causas civeis e criminais decorrentes
da pratica de violencia domestica e familiar contra a mulher aplicar-se-ao as normas dos
C6digos de Processo Penal e Processo Civil e da legisla9ao especifica relativa a crian~, ao
adolescente e ao idoso que nao conflitarem com o estabelecido nesta Lei.

Art. 14. Os Juizados de Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher, 6rgaos da Justi9a
Ordinaria com competencia civel e criminal, poderao ser criados pela Uniao, no Distrito
Federal e nos Territories, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execu~o das
causas decorrentes da pratica de vi olen cia domestica e familiar contra a mulher.

Paragrafo unico. Os atos processuais poderao realizar-se em horario noturno, conforme


dispuserem as normas de organiza9ao judiciaria.
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Art. 15. E competente, por opyao da ofendida, para os processos cfveis regidos por esta Lei,
o Juizado:

I - do seu domicflio ou de sua residencia;

II - do Iugar do fato em que se baseou a demanda;

II I - do domicflio do agressor.

Art. 16. Nas a96es penais publicas condicionadas a representayao da ofendida de que trata
esta Lei, s6 sera admitida a renuncia a representayao perante o juiz, em audiencia
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denuncia e ouvido o
Ministerio Publico.

Art. 17. E vedada a aplica9ao, nos casos de violencia domestica e familiar contra a mulher,
de penas de cesta basica ou outras de presta9ao pecuniaria, bern como a substitui9ao de
pena que implique o pagamento isolado de multa.

CAPITULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGENCIA

Seyao I

Disposi96es Gerais

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, cabera ao juiz, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgencia;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao 6rgao de assistencia judiciaria, quando for


o caso;

II I - comunicar ao Ministerio Publico para que adote as providencias cabfveis.

Art. 19. As medidas protetivas de urgencia poderao ser concedidas pelo juiz, a requerimento
do Ministerio Publico ou a pedido da ofendida.

§ 1o As medidas protetivas de urgencia poderao ser concedidas de imediato,


independentemente de audiencia das partes e de manifestayao do Ministerio Publico,
devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2o As medidas protetivas de urgencia serao aplicadas isolada ou cumulativamente, e


poderao ser substitufdas a qualquer tempo por outras de maior eficacia, sempre que os
direitos reconhecidos nesta Lei forem amea98dos ou violados.
51

§ 3o Paden~ o juiz, a requerimento do Ministerio Publico ou a pedido da ofendida, conceder


novas medidas protetivas de urgencia ou rever aquelas ja concedidas, se entender
necessaria a protec;ao da ofendida, de seus familiares e de seu patrim6nio, ouvido o
Ministerio Publico.

Art. 20. Em qualquer fase do inquerito policial ou da instruyao criminal, cabera a prisao
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de oficio, a requerimento do Ministerio Publico
ou mediante representayao da autoridade policial.

Paragrafo unico. 0 juiz podera revogar a prisao preventiva se, no curso do processo,
verificar a falta de motive para que subsista, bern como de novo decreta-la, se sobrevierem
raz6es que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida devera ser notificada dos atos processuais relatives ao agressor,
especialmente dos pertinentes ao ingresso e a saida da prisao, sem prejuizo da intimac;ao
do advogado constituido ou do defensor publico.

Paragrafo unico. A ofendida nao podera entregar intimayao ou notificac;ao ao agressor.

Das Medidas Protetivas de Urgencia que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a pratica de violencia domestica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz podera aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgencia, entre outras:

I - suspensao da posse ou restric;ao do porte de armas, com comunicac;ao ao 6rgao


competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II- afastamento do lar, domicilio ou local de convivencia com a ofendida;

Ill- proibic;ao de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximac;ao da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite minima


de distancia entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de


comunicac;ao;

c) frequentac;ao de determinados lugares a fim de preservar a integridade fisica e


psicol6gica da ofendida;

IV - restric;ao ou suspensao de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de


atendimento multidisciplinar ou servic;o similar;
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V- presta~o de alimentos provisionais ou provis6rios.

§ 1o As medidas referidas neste artigo nao impedem a aplicac;ao de outras pre vistas na
legisla~o em vigor, sempre que a seguranc;a da ofendida ou as circunstancias o exigirem,
devendo a providemcia ser comunicada ao Ministerio Publico.

§ 2o Na hip6tese de apiica~o do incise I, encontrando-se o agressor nas condiycSes


mencionadas no caput e incises do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o
juiz comunicara ao respective 6rgao, corporac;ao ou institui~o as medidas protetivas de
urgencia concedidas e determinara a restric;ao do porte de armas, ficando o superior
imediato do agressor responsavel pelo cumprimento da determinac;ao judicial, sob pena de
incorrer nos crimes de prevaricac;ao ou de desobediencia, conforme o caso.

§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgencia, podera o juiz requisitar,
a qualquer memento, auxilio da forc;a policial.

§ 4o Aplica-se as hip6teses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos
§§5o e 6° do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (C6digo de Processo Civil).

Se~o Ill

Das Medidas Protetivas de Urgencia a Ofendida

Art. 23. Podera o juiz, quando necessaria, sem prejufzo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitario de


protec;ao ou de atendimento;

II - determinar a recondu~o da ofendida e a de seus dependentes ao respective domicflio,


ap6s afastamento do agressor;

Ill - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuizo dos direitos relatives a bens,
guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separac;ao de corpos.

Art. 24. Para a prote~o patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz podera determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras:

1- restituic;ao de bens indevidamente subtrafdos pelo agressor a ofendida;

11 - proibic;ao temporaria para a celebra~o de atos e contratos de compra, venda e locac;ao


de propriedade em comum, salvo expressa autorizac;ao judicial;

Ill - suspensao das procurac;oes conferidas pela ofendida ao agressor;


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IV - prestayao de cauyao provis6ria, mediante deposito judicial, por perdas e danos


materiais decorrentes da pratica de violencia domestica e familiar contra a ofendida.

Paragrafo unico. Devera o juiz oficiar ao cart6rio competente para os fins previstos nos
incises II e Ill deste artigo.

CAPITULO Ill

DA ATUACAO DO MINISTERIO PUBLICO

Art. 25. 0 Ministerio Publico intervira, quando nao for parte, nas causas cfveis e criminais
decorrentes da violencia domestica e familiar contra a mulher.

Art. 26. Cabera ao Ministerio Publico, sem prejufzo de outras atribuic;:6es, nos casos de
violencia domestica e familiar contra a mulher, quando necessario:

I - requisitar forc;:a policial e serviyos publicos de saude, de educayao, de assistencia social e


de seguranc;:a, entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos publicos e particulares de atendimento a mulher em


situayao de violencia domestica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas
ou judiciais cabfveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;

Ill - cadastrar os casos de violencia domestica e familiar contra a mulher.

CAPITULO IV

DA ASSISTENCIA JUDICIARIA

Art. 27. Em todos os atos processuais, civeis e criminais, a mulher em situayao de violencia
domestica e familiar devera estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art.
19 desta Lei.

Art. 28. E garantido a toda mulher em situac;:ao de violencia domestica e familiar o acesso
aos serviyos de Defensoria Publica ou de Assistencia Judiciaria Gratuita, nos termos da lei,
em sede policial e judicial, mediante atendimento especifico e humanizado.

TITULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

Art. 29. Os Juizados de Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser
criados poderao contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por
profissionais especializados nas areas psicossocial, juridica e de saude.

Art. 30. Compete a equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuic;:6es que lhe
forem reservadas pela legislayao local, fornecer subsidies por escrito ao juiz, ao Ministerio
54

Publico e a Defensoria Publica, mediante laudos ou verbalmente em audiencia, e


desenvolver trabalhos de orientayao, encaminhamento, prevenyao e outras medidas,
voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial aten9ao as crianyas e
aos adolescentes.

Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliayao mais aprofundada, o juiz podera
determinar a manifestayao de profissional especializado, mediante a indica9ao da equipe de
atendimento multidisciplinar.

Art. 32. 0 Poder Judiciario, na elabora9ao de sua proposta oryamentaria, podera prever
recursos para a cria9ao e manuten9ao da equipe de atendimento multidisciplinar, nos
termos da Lei de Diretrizes Or9amentarias.

TITULO VI

DISPOSI<;OES TRANSITORIAS

Art. 33. Enquanto nao estruturados os Juizados de Violencia Domestica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularao as competencias civel e criminal para conhecer e
julgar as causas decorrentes da pratica de violencia domestica e familiar contra a mulher,
observadas as previsoes do Titulo IV desta Lei, subsidiada pela legislayao processual
pertinente.

Paragrafo unico. Sera garantido o direito de preferencia, nas varas criminais, para o
processo e o julgamento das causas referidas no caput.

TITULO VII

DISPOSI<;OES FINAlS

Art. 34. A institui9ao dos Juizados de Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher podera
ser acompanhada pela implanta9ao das curadorias necessarias e do serviyo de assistencia
judiciaria.

Art. 35. A Uniao, o Oistrito Federal, os Estados e os Municipios poderao criar e promover, no
limite das respectivas competencias:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos


dependentes em situayao de violencia domestica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situa9ao de


violencia domestica e familiar;

Ill - delegacias, nucleos de defensoria publica, servi9os de saude e centros de pericia


medico-legal especializados no atendimento a mulher em situayao de violencia domestica e
familiar;
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IV - programas e campanhas de enfrentamento da viol€mcia domestica e familiar;

V - centros de educac;ao e de reabilitac;ao para os agressores.

Art. 36. A Uniao, os Estados, o Distrito Federal e os Municfpios promoverao a adaptayao de


seus 6rgaos e de seus programas as diretrizes e aos princfpios desta Lei.

Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei podera ser
exercida, concorrentemente, pelo Ministerio Publico e por associac;ao de atuac;ao na area,
regularmente constituida ha pelo menos urn ano, nos termos da legislac;ao civil.

Paragrafo unico. 0 requisito da pre-constituiyao podera ser dispensado pelo juiz quando
entender que nao ha outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento
da demanda coletiva.

Art. 38. As estatisticas sobre a violencia domestica e familiar contra a mulher serao incluidas
nas bases de dados dos 6rgaos oficiais do Sistema de Justiya e Seguranya a fim de
subsidiar o sistema nacional de dados e informayoes relativo as mulheres.

Paragrafo unico. As Secretarias de Seguranya Publica dos Estados e do Distrito Federal


poderao remeter suas informayees criminais para a base de dados do Ministerio da Justiya.

Art. 39. A Uniao, os Estados, o Distrito Federal e os Municfpios, no limite de suas


competencias e nos termos das respectivas leis de diretrizes oryamentarias, poderao
estabelecer dotay6es or9amentarias especfficas, em cada exercicio financeiro, para a
implementac;ao das medidas estabelecidas nesta Lei.

Art. 40. As obrigayoes previstas nesta Lei nao excluem outras decorrentes dos princfpios por
ela adotados.

Art. 41. Aos crimes praticados com violencia domestica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, nao se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995.

Art. 42. 0 art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (C6digo de Processo
Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IV:

"Art. 313 ................................................. .

IV - se o crime envolver violencia domestica e familiar contra a mulher, nos termos da lei
especifica, para garantir a execuc;ao das medidas protetivas de urgencia." (NR)

Art. 43. A alinea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940


(C6digo Penal), passa a vigorar com a seguinte redac;ao:
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"Art. 61 .................................................. .

II - ........................................................... .

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de rela~6es domesticas, de coabita~ao ou


de hospitalidade, ou com viol€mcia contra a mulher na forma da lei espedfica;

........................................................... "(NR)

Art. 44. 0 art. 129 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (C6digo Penal),
passa a vigorar com as seguintes altera¢es:

"Art. 129.................................................. .

§ 9o Se a lesao for praticada contra ascendente, descendente, irmao, c6njuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das rela~6es domesticas, de coabita~ao ou de hospitalidade:

Pena- deten~ao, de 3 (tres) meses a 3 (tres) anos.

§ 11. Na hip6tese do § 9o deste artigo, a pena sera aumentada de urn ter~o se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiencia." (NR)

Art. 45. 0 art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execu~o Penal), passa a
vigorar com a seguinte reda~o:

"Art. 152................................................... .

Paragrafo unico. Nos casos de violencia domestica contra a mulher, o juiz podera
determinar o comparecimento obrigat6rio do agressor a programas de recupera~ao e
reeduca~o." (NR)

Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias ap6s sua publica~ao.

Brasilia, 7 de agosto de 2006; 185o da lndependencia e 118o da Republica.

LUIZ INACIO LULA DASILVA

Dilma Rousseff
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Este texto nao substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006

Fonte: https://www. planalto.gov. br/ccivil_ 03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L 11340.htm

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