Intertexatualidades Espaço e Identidade País Tropical
Intertexatualidades Espaço e Identidade País Tropical
Intertexatualidades Espaço e Identidade País Tropical
O material que você tem nas mãos traz algumas ferramentas para essa
construção. De fato, ler e escrever é o que, dentre outras coisas, faz-nos
agentes participativos do mundo que nos cerca e no qual estamos
inseridos, é o que permite sermos sujeitos das ações que o futuro quer
desvendar.
Atividade
9º ano +
ESPAÇO E IDENTIDADE
Acho que você deve imaginar que é muito mais do que o documento que se leva na carteira
com seu RG, certo?
Pois é. IDENTIDADE é daquelas palavras de difícil definição... Se você for ao Dicionário, vai
encontrar significados em torno da ideia de “semelhança entre elementos”, “características de
uma pessoa ou grupo social”. A verdade é que a identidade de alguém está ligada à
compreensão que cada um tem de si (como indivíduo) diante do mundo, dos lugares e grupos
sociais que frequenta e dos quais se sente parte. Assim, pode ser uma associação do que
chamamos de autoconhecimento e sensação de pertencimento. Por exemplo, talvez exista
uma identidade entre as/os estudantes do Colégio Pedro II... Já pensou sobre isso?
Então, fica a pergunta: em que medida os ESPAÇOS em que circulamos (nossa rua, bairro,
escola, cidade, país...) constroem nossa IDENTIDADE, isto é, quem nós somos? Neste
material, você poderá refletir sobre esse tema a partir de duas MÚSICAS. Faremos um passeio
por textos diversos e voltaremos à música para que você possa desenvolver suas próprias
ideias não só sobre você mesma/o, mas sobre as diversas formas de identidade.
As questões que colocamos neste material são para conduzir sua leitura. Responda-as,
preferencialmente, com anotações para organizar o raciocínio.
E aí, vamos?
Para começar, sugerimos que você leia os textos 1 e 2 ouvindo as canções nos endereços
eletrônicos indicados:
Texto 1
OU
2
País Tropical
Moro num país tropical, abençoado por Deus
E bonito por natureza, mas que beleza!
Em fevereiro,
Tem Carnaval!
Sambaby
Sambaby
https://www.instagram.com/jorgebenjoroficial/?hl=pt-br
1. A canção de Jorge Ben Jor aborda qual assunto principal? Como o espaço é construído
nesse texto? Quais são as características marcantes do Brasil de acordo com esse texto?
2. Relembre as CLASSES DE PALAVRAS da nossa língua e pense quais delas podem ter sido
utilizadas para introduzir essa imagem de país.
substantivos, adjetivos,
pronomes, verbos, advérbios...
3. E você? Como você enxerga o seu país? Quais adjetivos você usaria para descrevê-lo?
3
4. Agora, pense em uma noção de território mais próximo de você: seu bairro, sua rua, sua
vizinhança... De que maneira esses espaços influenciam naquilo que marca quem você é,
isto é, sua IDENTIDADE?
Texto 2
Diário de um detento
(Racionais MC´s)
4
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá
Tanto faz, os dias são iguais
Acendo um cigarro, e vejo o dia passar
Mato o tempo pra ele não me matar
Homem é homem, mulher é mulher
Estuprador é diferente, né?
Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés
E sangra até morrer na rua 10
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Aí moleque, me diz, então, você quer o quê?
A vaga tá lá esperando você
Pega todos seus artigos importado
Seu currículo no crime e limpa o rabo
A vida bandida é sem futuro
Sua cara fica branca desse lado do muro
Já ouviu falar de Lúcifer?
Que veio do Inferno com moral
Um dia no Carandiru, não, ele é só mais um
Comendo rango azedo com pneumonia
Aqui tem mano de Osasco, do Jardim D'Abril,
Parelheiros, Mogi, Jardim Brasil, Bela Vista,
Jardim Ângela, Heliópolis, Itapevi, Paraisópolis
6. O texto 1 fala de um “país tropical” , já o texto 2 utiliza o nome “país das calças bege”.
Estabeleça uma comparação entre as duas canções e analise o tom de denúncia do texto 2.
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7. Repare nos versos e reflita:
“Ratatatá, mais um metrô vai passar
Com gente de bem, apressada, católica
Lendo jornal, satisfeita, hipócrita”
A pessoa que está passando de metrô está “satisfeita” lendo jornal. Levante uma hipótese
para o porquê de ela estar satisfeita.
Agora, pense na MÍDIA de modo geral (jornais e outros meios de comunicação de massa,
como a TV, a internet e o cinema). Existe uma IMAGEM do que seja “gente de bem”? Que
cidadãos estariam de fora desse ideal? Como a canção dos Racionais entende o Brasil?
Dentre outras faixas que retratam a realidade da periferia de São Paulo, “Diário de
um detento” é, certamente, a mais conhecida do disco. Para entendê-la por completo,
é preciso saber o que foi um dos eventos mais marcantes em relação à Segurança
Pública no Brasil: o caso conhecido como massacre do Carandiru, ocorrido em 1992,
no qual 111 presos foram mortos pela força policial.
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Agora é hora de ler um
Texto 3 CONTO que eu escrevi
e que tem tudo a ver
com o Racionais!
Trutas
– cadê aquele filho da puta?
Paulo havia corrido pouco antes, quando Bruno avisou
num assobio ter avistado Dona Sônia no fim da Rua Joaquim
Nabuco.
– sei não, tia.
– não sabe o que? Minha vontade é dar uma surra em
vocês!
– sem esculacho, tia.
– sem esculacho o que? vocês só querem saber de ficar sentados nessa esquina, esquina
não dá futuro pra ninguém! vocês são bandidos, são vigia? tão fazendo o que na esquina? porra!
só esculachando vocês!
– que isso, tia.
Ela voltou 20 metros, virou-se e depois berrou: - assim que ele aparecer eu quero vocês EM
CASA SEUS FILHOS DA PUTA!
Dona Sônia não era violenta, por dentro, mas todas as suas frases tinham pelo menos um
palavrão e eram ditas em Lá, na oitava de cima.
Bruno e Paulo eram amigos desde os 10 anos, quando ele e a mãe mudaram-se para Nova
Holanda, no Complexo da Maré, fugindo do marido, vindos do Cantagalo. Os dois se encontraram
na 4ª série da Escola Bahia e a amizade começou quando Paulo descobriu que Bruno havia nascido
no mesmo dia em que ele, e se convenceram de que isso deveria significar alguma coisa.
Dona Sônia estava sempre em casa, recebia pensão do marido morto e um dia abriu uma
janela na sala que dava pra rua, virando desde então empreendedora dona de bar.
Não se sabe bem quando, mas Bruno começou a passar muito tempo por lá, jogando vídeo
game, comemorando o aniversário, fazendo trabalho de casa, tomando banho, jantando, dormindo,
até que aos 14 anos Bruno tinha duas casas, duas mães e um irmão.
Também não se sabe quando, mas os dois se tornaram viciados em Racionais MC’s: torciam
para o Santos e comparavam a Maré com as favelas planas de São Paulo. Sabe-se que aos 13
anos tiveram o seguinte diálogo com Dona Sônia:
– mãe, nós mudamos de nome. meu nome agora é Brown.
– o meu é Guina.
– que porra de nomes são esses? isso foi ideia sua, Paulo?
– mãe, em algumas tribos os meninos quando se tornam homens recebem outros nomes,
escolhemos esses, a senhora agora tem que chamar a gente assim.
– que caralho de homens que vocês são?
– porra, tia, nós é sujeito homem!
– não quero palavrão dentro dessa casa, se não mando você pra sua mãe! – depois se
arrependeu de dizer a última parte e pela primeira vez falou uma oitava abaixo – ok, da porta pra
fora vocês podem ser o caralho a quatro, mas da porta pra dentro eu não quero saber dessa história.
Os dois ouviam Cassino e Jorge Ben e não fosse pelo Facebook, em que se chamavam
Paulo Brown e Guina da NH, as gírias e as camisas da Thug Nine, eles poderiam viver nos anos 90
na Zona Leste de São Paulo. Um dia chegaram a pensar em sugerir que Dona Sônia mudasse de
nome também, para Dona Ana, mas não tiveram coragem de falar.
Brown aos 17 era um jovem profundo, lia discursos de Malcom X, escrevia poesia aumentou
o repertório com Tom Zé, Nação Zumbi e O Rappa. Usava cabelo Black, colar de pedra energética
e compartilhava frases de Che Guevara. Guina acompanhava, sabia da sorte de ser adotado por
aquela família, morria de medo de ser mandado de volta para casa da mãe. A vida seguia seu ritmo:
escola, pré-vestibular na Redes da Maré e um cigarro no fim da tarde para ouvir “Negro Drama”.
Brown considerava sorrir uma fraqueza até conhecer Katharine. Ela era de família
evangélica, tinha os cabelos cacheados, colocados cuidadosa e milimetricamente para a lateral
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esquerda da cabeça. Ostentava na foto de perfil um sorriso que iluminava o mundo e usava um
biquíni que obteve 237 curtidas.
– “ela chega, ela olha, ela bate um flash, ela invade a pista e ninguém se mexe... ela é preta
da cor, loira no cabelo, ela é uma hora e meia em frente ao espelho, ela é...”
Guina também observava Katharine, mas cantarolava outra música quando ela passava:
– “somos Racionais, diferentes, não iguais. Mulheres vulgares, uma noite e nada mais”...
Era visível a preferência dela por Guina, que vivia um estilo cachorro: “Segunda, a Patrícia;
terça, a Marcela; quarta, a Rayssa; quinta, a Daniella...”
Todo dia 15 o bar e a casa de Dona Sônia ficavam aos cuidados dos dois, era dia buscar a
pensão. Naquela tarde ouviu-se um chamado de mulher na porta.
– Guina!
Os dias que se seguiram foram de silêncio entre os irmãos. Brown pixou o muro da Rua
Flávia Farnese com o verso “um coração ferido por metro²” e o nome de Katharine.
https://www.instagram.com/aplisboa/?hl=pt-br
9. A MÚSICA é um elemento que perpassa todo o conto de Ana Paula Lisboa. Veja como a
autora constrói a diferença entre SOM e SILÊNCIO ao longo da narrativa. O que se pode
comentar?
10. Observe como as meninas e mulheres aparecem ao longo dos três textos ficcionais: a
Tereza (texto 1), as mães (texto 2) e Katherine (texto 3). Reflita sobre como são retratadas e
qual delas de fato têm uma IDENTIDADE construída no texto.
11. Quando criamos uma IDENTIDADE com um local ou com um grupo, pode surgir uma
sensação positiva e confortável para nós, seres humanos: a sensação de PERTENCIMENTO.
Como você observa a ideia de pertencimento dos protagonistas ao longo dos textos 1, 2 e
3?
12. E você? Como você se sente na circulação do espaço do seu bairro, da sua cidade? Você
se sente pertencente aos espaços que frequenta?
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Depois de pensar um pouco sobre alguns espaços (sobre o Brasil e sobre as
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro), convidamos você a ouvir uma playlist
toda dedicada a essa ideia de ESPAÇO e IDENTIDADE:
https://open.spotify.com/playlist/1F0qVmC0v3vkebNKaA221C?si=JgEuPkREQRWyNH
iTToCS-g
“Guerras do Brasil.doc”
“Anne with an ´e´”
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