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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Jéssyca da Rosa Santos Barcellos

FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS:


UM ESTUDO SOBRE OS CURRÍCULOS DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
EM PORTO ALEGRE E REGIÃO METROPOLITANA

Porto Alegre
2016
2

Jéssyca da Rosa Santos Barcellos

FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS:


UM ESTUDO SOBRE OS CURRÍCULOS DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
EM PORTO ALEGRE E REGIÃO METROPOLITANA

Trabalho apresentado como requisito


parcial para a conclusão do Curso de
Graduação em Psicologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul
Orientadora: Raquel da Silva Silveira

Porto Alegre
2016
3

JÉSSYCA DA ROSA SANTOS BARCELLOS

FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS:


UM ESTUDO SOBRE OS CURRÍCULOS DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
EM PORTO ALEGRE E REGIÃO METROPOLITANA

Trabalho final, apresentado a


Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, como parte das exigências para a
obtenção do título de Bacharel em
Psicologia.

Porto Alegre, 06 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

______________________________
Profª. Drª Raquel da Silva Silveira (UFRGS) - Orientadora

_______________________________
Prof. Drª Paula Sandrini Machado (UFRGS) – Convidada para comentar
4

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir a importância de estudos acerca


da temática racial nas graduações de psicologia. Entendendo o racismo através de um
aporte teórico histórico, enquanto sofrimento psíquico que acomete pessoas negras e
também enquanto estrutura social que hierarquiza e influencia na subjetividade de todas
as raças. Foi feita uma análise de currículos das graduações de Psicologia situadas na
cidade de Porto Alegre e Região Metropolitana, podemos observar a recorrência de
disciplinas que abordam a temática racial. Durante o período de análise, março de 2016
a junho do mesmo ano, foram encontradas 19 instituições que oferecem a graduação de
psicologia, sendo que 1 foi excluída da pesquisa por não permitir acesso ao currículo do
curso. Dos 18 currículos analisados, 6 apresentam a temática racial em alguma de suas
disciplinas, sendo que em 5 currículos a temática aparece de forma optativa/eletiva. O
que mostra a negligência sobre a temática na maioria das instituições analisadas.

Palavras-chaves: Relações raciais, temática racial, racismo, raça, análise de currículos,


graduação em psicologia, sofrimento psíquico.
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SUMÁRIO

_____. _____. Atlas Socioeconômico Rio Grande do Sul. Região Metropolitana de Porto Alegre –
RMPA. 2013 Disponivél em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/conteudo.asp?
cod_menu_filho=807&cod_menu=805&tipo_menu=POPULA&cod_conteudo=1396>.....................19

1. APRESENTAÇÃO
Sei que a cela é monitorada
24 horas por dia.
TORPEDO Contudo, diz a ela
Irmão, quantos minutos por dia Que alguns exercícios devem ser feitos
I tua identidade negra toma sol Para que não perca completamente
Nesta prisão de segurança máxima? A ginga
Depois de cada nova sessão de tortura.
E o racismo em lata
Quantas vezes por dia é servido a ela Irmão, espero que esta mensagem
Como hóstia? Alcance as tuas mãos.
O carcereiro que eu subornei para te levar o
Irmão, tua identidade negra tem direito presente
Na solitária Me pareceu honesto
A alguma assistência médica? E com algumas sardas de solidariedade.

Ouvi rumores de que ela teve febre alta Irmão, sei que é difícil sobreviver
Na última semana Neste silencioso inferno
E espasmos Por isso toma cuidado
– Uma quase overdose de brancura – Com a técnica de se fingir de morto
E fiquei preocupado. Porque muitos abusaram
E entraram em coma.
Irmão, diz à tua identidade negra
Que ela lhe mandou um celular Fica esperto!
Para comunicar seus gemidos E não esquece o dia da rebelião
E seguem também Quando a ilusão deve ir pelos ares.
Os melhores votos de pleno restabelecimento
E de muita paciência Um grande abraço
Para suportar tão prolongada pena Deste teu irmão de presídio
De reclusão. Assinado:
Diz ainda que continuamos lutando Zumbi dos Palmares.
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza
Contra os projetos de lei
Edições, 2007.136 p.
Que instauram a pena de morte racial
E que ela não tema
Ser a primeira no corredor
Da injeção letal.

Irmão, sem querer te forçar a nada


Quando puderes
Permite à tua identidade negra
Respirar, por entre as mínimas grades
Dessa porta de aço
Um pouco de ar fresco.
6
7

O poema de Cuti revela muito como eu, e muitos outros se sentiram e se sentem
durante a graduação. Presa em um mundo branco onde tudo que podia fazer era tentar
ser aceita. Aceitar que nunca pertenceria por completo àquele lugar. Cheguei a desistir.
Desistir de tudo, aceitar o lugar que me foi dado, lugar que definitivamente não era a o
ensino superior, e tentar seguir outro caminho, um caminho menos doído, que fizesse
mais sentido para alguém como eu.
Tudo que eu queria era não me sentir excluída, mas meus pais, jamais me
deixariam abandonar aquele lugar, lugar que eles sabiam que era meu por direito, e já
que insistiam em dizer que não, eu devia toma-lo para mim. Mas como? Como tomar
um lugar, que deveria ser seu, mas não é, para si? Um lugar que sempre lhe foi negado?
Passei por diversas estratégias para amenizar o sofrimento. Embranqueci, ou tentei.
Andava na maioria das vezes com pessoas brancas, mesmo me sentindo melhor com
pessoas negras. Comecei a me negar, já não me emocionava tanto com o samba, me
afastei do hip hop, o que escutei minha adolescência toda. A religião, Aforumbandista,
era mais uma obrigação do que o conforto e a alegria que uma fez foi. Me aproximei do
pop, que apesar do Rei, Michael Jackson, ser negro, é uma cultura em sua maioria
branca, o próprio Michael tinha diversos problemas com sua raça, e tentou
embranquecer de diversas formas. Tentei diversos outros movimentos, para me
embranquecer. Até que pensei: Fui aceita! Fui aceita?
Então, porque tinha o mesmo sentimento de vazio? O mesmo sentimento de
exclusão e não pertença de sempre.
Cortei os cabelos! Chega de liso! Agora sim! Sou negra! (Como se antes eu não
fosse). Agora tenho cabelo crespo e TUDO vai mudar! Quem dera que o racismo
sumisse de acordo com a estética. Assuma seus traços e o sofrimento some. Admito que
ajuda, se olhar no espelho sem a obrigação de seguir o padrão e se gostar dessa maneira
ajuda sim, mas não resolve.
Então o que mudou? Comecei a perceber que alguns elogios, por melhor
intencionados que fossem, me incomodavam, me exotificavam, e mais ainda,
continuavam a me excluir. “Nossa, que negra linda! ” Era o mesmo que: “é bonita para
uma negra, mas uma branca é mais bonita”. “A Jéssyca deve ter mil homens a seus pés”.
Hoje percebo como esses comentários reforçam os discursos de hiperssexualização da
raça. Esses elogios me doíam, pois não me sentia assim, não era bonita, nem “gostosa”,
nem sexy, nem inteligente, muito menos tinha homens aos meus pés. Eu estava sempre
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sozinha, no máximo, eu me sentia como uma pessoa legalzinha. Sempre tentei exaltar
como eu sou divertida, e como sou uma amiga leal. Não que não fossem boas
qualidades, que ainda gosto de exaltar, mas era um sentimento que seria isso e mais
nada.
Foi quando percebi que aquele mundo não era meu, não porque eu não deveria
estar ali, como o sentimento anterior, mas porque ele não falava de mim. As teorias não
falavam de mim, nem da minha constituição, nem do meu sofrimento, nem de nada
sobre mim. As teorias nunca pensaram em mim enquanto Ser. As teorias foram
ampliadas para me incluir (e notem que falei ampliada, pois nem adaptadas foram),
dizendo que eu era igual aos outros, quando cada parte do meu eu gritava que eu era
diferente. Procurei, agora sim, meus iguais. Sim, éramos poucos na época, mas éramos.
Cada um de nós lutando e buscando formas de sobreviver àquele mundo. Comecei
devagar, lendo alguns blogs, indo a alguns encontros promovidos pelo coletivo
Negração1 (coletivo de estudantes negros da UFRGS) que também estava em seu início.
Comecei a ver que não estava sozinha, e que muitos passaram e passavam pelo
mesmo que eu. Me aproximei de novas teorias (novas para mim pelo menos), questionei
as clássicas. E depois de muita luta interna, aqui estou, viva, viva neste mundo que tenta
me eliminar diariamente. Posso hoje dizer que sou aceita. Aceita por mim! Hoje tenho
condições de fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso questionando exatamente o
que me fez sofrer tanto, questionando a falta de estudos raciais nos cursos de graduação
de Psicologia. Questionar o porquê de não facilitar a vivência do negro nesse mundo
branco, e quando falamos de ensino superior, mais branco ainda.
Ainda há muito a ser feito e não podemos nos contentar com pouco. Mas hoje
vamos comemorar, pois uma das milhares de batalhas foi vencida, existe mais uma preta
no mundo que se ama como preta, que está disposta a lutar. A guerra não acabou, nem a
interna, nem a externa, mas hoje, só hoje me deixa sambar.

1 Coletivo de Estudantes Negros da UFRGS, criado em 20/07/2012, através da reivindicação da errata no


hino sulriograndense para“Povo que não tem virtude acaba por escravizar”.
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2. INTRODUÇÃO

“O que te traz aqui? ”

Pergunta clássica, feita nos primeiros encontros entre terapeuta e paciente. É


questionada a razão pela qual determinada pessoa busca a psicologia para auxiliá-la de
alguma forma. As respostas podem ser inúmeras, podendo trazer diversos motivos pela
causa do sofrimento atual. Durante a graduação é ensinado a futuros profissionais da
psicologia que devem atentar aos detalhes ditos pelo/a paciente, para assim, junto com
ela/ele, poder aliviar o sofrimento.

O motivo causador deste sofrimento, que impede o sujeito de seguir com sua
vida, pode ser qualquer um. Por isso, é estudada a constituição do sujeito psíquico e
como é produzida, de forma geral, a psique do ser humano. É estudado também o
contexto familiar e social em que este sujeito está inserido/a, o que contribui para sua
formação, e pode corroborar para maiores ou menores sofrimentos psíquicos.

E quando o/a paciente relata ter sofrido racismo? Quando relata não seguir em
frente, pois não há representações positivas a seu respeito? Quanto relata não ser feliz
em sua pele e que se sente inferiorizado perante uma pessoa branca?

Na primeira sessão de psicoterapia, sentiu a necessidade de falar sobre as


diversas situações em que sofreu racismo, contando de sua infância
trabalhando como empregada doméstica e babá sob o pretexto de que estava
‘brincando com a filha da patroa’, até casos mais recentes, em que fora
seguida dentro de lojas onde fazia compras. Ao final, a psicóloga – que era
branca – afirmou que Lopes precisaria mudar o comportamento de ‘se
vitimizar e transformar acontecimentos normais em racismo.

Em busca de sua segunda psicóloga, Lopes chegou a fazer cinco sessões de


psicoterapia, quando finalmente começou a falar do racismo que lhe causava
sofrimento. ‘A psicóloga ficou visivelmente impaciente e desconfortável e
me perguntou se eu achava mesmo que racismo ainda existia nos tempos de
hoje’, relata Lopes. ‘Saí de lá arrasada, estava pagando muito caro por cada
consulta e nunca imaginei que uma profissional fosse questionar a veracidade
do meu sofrimento, do racismo, daquela forma. Nunca mais voltei a procurar
terapia, hoje ainda luto contra a depressão e apenas faço uso de
medicamentos’, completa (Arraes, Jarid, 2015).

Estes são relatos retirados do texto Meu Psicólogo Disse que Racismo não
Existe, por Jarid Arraes. Estes depoimentos mostram o despreparo de profissionais da
área da psicologia em lidar com pacientes que sofrem racismo. Mesmo com resoluções
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como a RESOLUÇÃO CFP N.º 018/2002, que estabelece normas de atuação para
psicólogas e psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial, e a
RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1/2004, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico e Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
brasileira e Africana (2004), nas instituições de ensino superior (IES), em 2015 (data da
reportagem) ainda se têm relatos como os citados acima. Estas mesmas diretrizes vão
frisar que para o combate ao racismo e a discriminação deve haver:

Inclusão de discussão da questão racial como parte integrante da matriz


curricular, tanto dos cursos de licenciatura para Educação Infantil, os anos
iniciais e finais da Educação Fundamental, Educação Média, Educação de
Jovens e Adultos, como de processos de formação continuada de professores,
inclusive de docentes no Ensino Superior (BRASIL, 2004 p. 21).

Mesmo com diversas leis que lutam para a eliminação do racismo e da


discriminação racial, no Brasil é comum utilizar estratégias para silenciar o racismo, é
comum não falar sobre, e, assim, fingir que ele não existe. O que acontece é falar do
racismo de outra forma, como por exemplo, em relação à classe social. Ao colocar-se as
diferenças sócio-econômicas como principal fator de discriminação e desigualdades
sociais, acaba-se por minimizar o racismo em nossa sociedade. Lia Vainer, Sylvia Nunes
e Eliane Costa (2015, p. 1) trazem que “circunscrever desigualdades raciais às de classe
é uma forma de escamotear o racismo, já que ponderar sobre ele significa revelar a
faceta pouco harmoniosa de nossa sociedade, a qual engendra e mantém profundas
desigualdades sociais”.

Diante desse processo de silenciamento sobre o racismo brasileiro, este trabalho


propôs-se a investigar se o racismo e o estudo das relações raciais tem sido ou não
silenciados nas formações de graduação em psicologia, principalmente em virtude da
existência das resoluções citadas acima. As resoluções não só falam da atuação do/a
psicólogo/a como profissional, mas também de sua formação. Quando é referido no Art.
1º da resolução 018/2002 do CFP que o/a psicólogo/a contribuirá com seu conhecimento
para uma reflexão sobre o preconceito e a eliminação do racismo, se pressupõe que este
conhecimento exista. A segunda resolução citada vem em encontro à lei 10.639/2003
que posteriormente passa a valer como lei 11.635/2008. Ou seja, IES tem por obrigação,
de acordo com o Conselho Nacional de Educação, construir, identificar, publicar e
distribuir material didático e bibliográfico sobre questões relativas à educação das
relações étnicos e raciais para todos os cursos de graduação.
11

No curso de psicologia da UFRGS, considerando o período de agosto de 2009


(posterior a todas as leis e resoluções citadas até então) até junho de 2016, foi estudado
sobre questões raciais em apenas uma disciplina optativa, em 2011. De acordo com
Kabengele Munanga (2002), a psicologia é considerada uma graduação com muito a
contribuir sobre o racismo e suas consequências, devido as suas especificidades, seria
um curso que poderia auxiliar as demais áreas sociais a entender o fenômeno do
racismo, com enfoque nos efeitos do mesmo sobre a psique dos indivíduos, tanto dos
que sofrem, como dos que praticam racismo. No campo dos estudos da psicologia, Lia
Vainer, Sylvia Nunes e Eliane Costa (2015) também corroboram essa compreensão,
apontando ser o racismo uma forma de violência e desigualdade política que pode ser
precursor de grande sofrimento psíquico vivenciado por negros/as, e, portanto, afirmam
que a psicologia tem grande potencial no combate contra o racismo. O que retoma a
questão inicial deste estudo: profissionais psicólogos/as, com base na sua formação de
graduação, podem se considerar preparados/as para lidar com o racismo?

Em um estudo sobre os currículos do ensino superior brasileiro após a


implementação das ações afirmativas, Joana Passos, Tatiane Rodrigues e Ana Cruz
(2016, p. 9) problematizam as transformações que ocorreram com essa maior
democratização ao acesso as instituições de ensino superior, tendo tornado o público
discente mais heterogêneo. Essas mudanças tem feito com que estas instituições sejam
questionadas em seu todo, inclusive em seus currículos e “os conhecimentos que têm
sido considerados legítimos de serem ensinados e pesquisados”. Para essas autoras, os
currículos escolares são considerados “como uma questão de cultura e poder” (Passos,
Joana, Rodrigues, Tatiane e Cruz, Ana, 2016, p. 14). Os currículos devem ser vistos
como pertencentes aos jogos de poder, pois é através deles que se enxerga o que deve ou
não ser ensinado, ou que pelo menos é explicitado de forma pública. Os currículos estão
vinculados às formas de organização da educação e consequentemente da sociedade.

Assim, decidi tomar como objeto de estudo os currículos de graduação em


psicologia, para verificar de que forma a temática do racismo tem sido tratada. Nesse
sentido, o objetivo deste trabalho foi investigar se há estudos sobre questões raciais em
instituições de ensino superior, em graduações em psicologia. Para tanto, foram
analisados currículos de graduações em psicologia de Porto Alegre e Região
Metropolitana, com fins de identificar o quanto já tem sido estudado sobre o assunto. O
presente trabalho também propõe uma discussão relacionada à natureza das disciplinas
12

existentes sobre a temática racial, se as mesmas são de natureza obrigatória ou


optativa/eletiva.

3. ENTENDENDO O RACISMO: CONSIDERAÇÕES SOBRE SEU


SURGIMENTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PSIQUÍCAS

Não podemos falar sobre análise de currículos nas instituições de ensino superior
e a necessidade de se estudar relações raciais durante a formação sem falar de racismo.
Existe uma crescente produção científica sobre a temática das relações raciais e do
racismo, mas ainda se tem dificuldades para se falar do assunto. Trabalhos acadêmicos
sobre racismo de forma geral, tem crescido. Com o simples descritor, racismo, se
encontra mais de 300 trabalhos na base de dados do SciIELO. Porque então é tão
delicado trazer o assunto em sala de aula, ou em rodas de conversa?

O racismo está presente na produção de subjetividade contemporânea, e continua


a produzir graves violações de direitos humanos. Maria Helena Rodrigues Navas
Zamora (2012, p. 564) vai entender subjetividade como:

(...) formas de viver que podem ser prescritas e proscritas; que podem ser
tanto individuais quanto coletivas; homogêneas e aprisionadas; mas também
podem ser singulares e experimentar novos territórios de existência. A
subjetividade é algo modelado, produzido por processos coletivos,
institucionais, sociais, que atravessam os indivíduos.

Para melhor ser compreendido como o racismo vai produzir subjetividades e


verdades acerca das raças, é importante mostrar como a questão se desenvolveu
historicamente. Carlos Moore (2012), em seu livro Racismo e Sociedade, apresenta
argumentos históricos sobre a construção do racismo, demonstrando sua genealogia
antes mesmo da existência do conceito racismo. Ele afirma que “o racismo em sua
realidade histórica era pautado no social e cultural do fenótipo exclusivamente, bem
antes de ser um fenômeno político” (Moore, Carlos, 2012, p. 19). Segundo o autor, a
sistematização do racismo enquanto ideias e valores do europeu perante outras raças e
culturas dos povos diferentes ocorreu a partir do século XV.

Para Moore (2012 p. 23), o racismo “legitima e consolida a posição do segmento


racial dominante, mediante um discurso e práticas conscientemente orientados para a
13

manutenção do status quo”. Ou seja, o racismo opera através de discursos e práticas -


sejam científicas, religiosas ou culturais -, os quais são fixados no imaginário social a
fim de que se mantenha a ideia de superioridade de uma raça sobre as outras.

Durante seu trabalho, Carlos Moore (2012) apresenta estudos históricos que
comprovam que o primeiro ser humano nasceu na África. Esta informação é importante
para que haja o reconhecimento de que durante muito tempo só existiram povos
melanodérmicos. Provando assim que toda a humanidade descende de africanos, e que
as mudanças fenotípicas nada mais são que mudanças evolutivas para melhor adaptação
e sobrevivência do ser Humano em outras localizações e condições climáticas. Assim,
pode ser repensada a premissa de uma raça superior à outra.

Em sua teorização sobre racismo, Carlos Moore (2012), vai trazer que o racismo
surge a partir da xenofobia, fazendo que povos de determinada região que em contato
com povos diferentes, acreditavam serem superiores. Fazendo com que o novo povo
perdesse e usufruto dos recursos da sua própria região. Como aconteceu com os índios
no Brasil. Para esse autor, o racismo surge com a fenotipazação das diferenças, ou seja,
ele deixa de ser xenofóbico, a partir do momento em que o mais importante são as
características físicas de determinado povo, e não necessariamente de onde eles vieram.
Carlos Moore (2012) também discute as dinâmicas que ajudaram a criar o racismo, das
quais ele destaca a simbolização, as estruturas sistêmicas e as ideologias. A humanidade
quando entra em contato com algo que foge a sua compreensão, se sente ameaçada pelo
inexplicável, e busca através do extra-racional, religião por exemplo, as respostas para
neutralizar tal temor, dando abertura para o processo de simbolização. É comum “que
processos de sacralização ou demonização gerem mecanismo que conduzem,
ulteriormente, a um processo de simbologização” (Moore, Carolos 2012, p. 200). No
sentido que simbolizar seria ligar algo a um símbolo, o racismo liga as ideias extra-
racializadas, das características fenotípicas de um povo especifico de forma negativa. As
estruturas sistêmicas mostram como as sociedades multirraciais foram criadas através da
miscigenação violenta, criando assim castas, que baseado em suas características
fenotípicas, classifica os seres. Fazendo assim que os mestiços tendam a se identificar
mais com o grupo dominante do que com o dominado, fragilizando cada vez mais a
busca por resistências.

O racismo implica na seguinte situação: a supremacia total de um segmento


humano que se autodefine como raça sobre outro segmento humano
14

percebido como outra raça. (...) O racismo confere, vantagens e privilégios


exclusivos segundo a posição que ocupe na hierarquia de uma ordem
racializada. Mas para que tudo isso aconteça sem que os seguimentos
subalterizados reivindiquem a partilha do poder, faz-se necessária a
estruturação de toda uma ordem filosófico-moral sustentadora desse
privilégio: a Ideologia” (Moore, 2012 p. 204 - 205).

Lia Vainer, Sylvia Nunes e Eliane Costa (2015, p. 2) trazem que “a construção
social da raça e do racismo são os principais organizadores das desigualdades”,
influenciando nos modos de subjetivação e socialização de todas as raças. Estruturando
todas as formas de relações sociais, afetando as possibilidades das raças consideradas
inferiores de atingirem ascensão social e satisfazerem suas necessidades. Da mesma
forma que mantém e cria privilégios para a raça considerada superior.

Esta construção social faz parte das Ideologias racistas que formam um Pacto
Social que permite a manutenção do racismo, fazendo que o próprio povo subalterno
negue a existência do racismo, “essa característica de poder de ‘negar a si mesmo’ que
confere tal plasticidade e resistência aos esforços de mudança. ” (Moore, Carlos 2012,
p. 205)

Segundo Lia Vainer (2010), o conceito de raça vai surgir na modernidade como
uma ideologia necessária para justificar o processo de escravidão dos povos africanos,
bem como para justificar a ideia de pureza racial. Nesse sentido, as instituições das
ciências biológicas trataram de defender a sociedade dos perigos das raças inferiores
(não brancas), produzindo discursos que alegavam que a mistura de raças poderia causar
danos a raça branca. A diferenciação da raça, serve também, para desumanizar os
negros, justificando assim as ações escravistas, como relata Caio Maximino de Oliveira
(2002, p. 35) “sempre que o homem deseja degradar, explorar, oprimir ou matar o
Outro, declara que este não é "realmente" humano”.

A partir da hierarquização das raças surge o conceito de racismo. Durante muito


tempo a ciência biológica tentou provar a inferioridade das raças não brancas, criando
uma correlação entre fatores que poderiam prejudicar a humanidade com características
genéticas de determinada raça, dita como inferior. As bases científicas vêm a corroborar
ideias sociais prévias de raça e racismo, como vimos na discussão de Carlos Moore
(2012). O conceito de raça enquanto cientifico surge na modernidade, mas o fato da
hierarquização das raças, a escravidão, e a crença da inferiorização natural de um povo,
e a negação de sua humanidade, já existia desde os tempos mais remotos da
15

Antiguidade. Para esse autor, o discurso social da Antiguidade corroborou para que
fosse criado o racismo científico, onde diversas teorias, tentavam encontrar explicações
para a inferioridade de raças não-brancas, permitindo assim, ações discriminatórias,
com intuito de preservação da raça superior (brancos).

Em seu estudo sobre violência doméstica e relações raciais, Raquel Silveira


(2013, p.45) aponta que a aliança com as ciências biomédicas se deu no sentido de
“fortalecer os regimes de verdade, pois são as ciências biológicas que carregam
potencialidade narrativa de comprovação e sustentação nas relações de dominação
instaurados pela lógica do biopoder”. Quando o conceito de raça foi eliminado do
discurso cientifico, já havia um regime de verdade no discurso social, que continha
ideias sobre determinadas raças, que permanecem até hoje. Como coloca Caio Oliveira
(2002), a discriminação racial só se torna real através do imaginário social, a
inferioridade de uma raça não é natural, ou seja, a discriminação só é justificada hoje
através da construção social não natural que a sociedade desenvolveu sobre uma raça,
utilizando de mitos, para justificar seus preconceitos.

Os mitos e preconceitos criados e mantidos frente à população negra são tidos


como mecanismos racistas psicológicos (Zamora, Maria,2012). Esses mecanismos são
tão violentos quanto os físicos, inclusive, é a partir da violência psicológica que a
violência física é perpetuada. Maria Zamora (2012) demostra em seu artigo que a
violência psicológica do racismo é de extrema importância, e que não podemos nos
limitar a pensar o racismo única e exclusivamente a partir de ataques ao corpo físico,
mas também em ataques subjetivos. O racismo faz com que sua vítima seja
enfraquecida, e internalize a suposta inferioridade. Zamora descreve os ataques
psicológicos como assassinatos simbólicos.

Em Em Defesa da Sociedade (2005), Foucault vai discutir exatamente como


esses assassinatos tanto simbólicos como concretos são permitidos e perpetuados pelo
Estado, através do conceito de biopoder, tecnologia de poder que se organiza no século
XIX. Antes de entender como o racismo de Estado opera, é necessário entender, como
funciona o biopoder. O biopoder se dá enquanto instrumento de controle e regulação da
vida. A vida humana passa a ser mensurada, contabilizada e classificada. Dentre estas
classificações está a hierarquização das raças. O objetivo desta tecnologia é o
prolongamento da vida humana de forma a ser mais produtiva e rentável para o Estado.
16

O biopoder acaba se interessando por questões coletivas, no sentido de regular e


controlar o que é melhor para o Estado. Assumindo a tecnologia do biopoder, enquanto
tecnologia que investe na vida, como podemos falar em assassinatos permitidos e
perpetuados pelo Estado? Através do racismo de Estado. O Estado classifica a sua
população entre indivíduos biologicamente inferiores e indivíduos biologicamente
superiores, baseados no racismo cientifico. Utilizando de pensamentos evolucionistas
para tirar a vida de indivíduos visto como inferiores, e que poderiam prejudicar a
evolução da espécie. É importante frisar que Foucault traz que tirar a vida, não significa
só assassínio propriamente dito, mas o fato de expor a morte, aumentar o risco de morte
para alguns, morte política, expulsão e rejeição, também se configuram em racismo de
Estado, pois existe uma tentativa de anulação de indivíduos que são considerados
inferiores. Foucault vai trazer o nazismo, como exemplo. Pois o discurso foi, que para
benefício da raça ariana, tida como superior, deveria se eliminar a raça inferior.
(Foucault, Michel, 2005). Exemplificando o racismo do Estado brasileiro, podemos
pensar na produção das nossas periferias, que tem sua população predominantemente
negra. A população periférica em sua maioria vive de forma precária e exposta a
diversos perigos que facilitam sua morte, física e simbólica.

A partir do século XX, após a Segunda Guerra mundial, que muito utilizou o
conceito de raça para justificar o nazismo, e depois que muitos brancos morreram,
cientistas biológicos chegaram à conclusão que, os marcadores genéticos de uma
determinada raça poderiam ser encontrados em outra, caindo por terra o conceito de
raça biológica, ou seja as diferenças entre pretos, brancos, amarelos e vermelhos não
seriam suficientes para serem categorizados enquanto raças. (Vainer, Lia, 2010).

Mesmo após as conclusões das ciências biológicas, a ideia de raça continuou a


ser utilizada. A raça acaba por se tornar um conceito social, ou seja, sem bases naturais.
Baseado na ideia de raça, o social cria formas de identidade que são eficazes para
manter e produzir privilégios de um grupo em detrimento do outro. (Guimarães,
Antônio, 1999). Raça, no imaginário popular ainda é a mesma produzida pela ciência
moderna que diz que um grupo com características físicas parecidas são pertencentes a
determinada raça. Para o imaginário da população as características físicas de
determinado grupo também determinam suas características psicológica, morais,
intelectuais e estéticas (Munanga, Kabengele, 2004). O imaginário social não se limita a
mera ilusão, verdades são construídas a partir deste imaginário. (Oliveira, 2002). Lia
17

Vainer Sylvia Nunes, e Eliane Costa (2015, p. 2) vão afirmar que “isso é a constatação
de que a não existência de diferenças genéticas significativas entre negros e não negros
não anula as desigualdades sociais que há entre a população negra e a branca, nem
mesmo abole os estereótipos pejorativos atribuídos aos negros e os positivos
adjudicados aos brancos”.

Em sua Tese de Doutorado, Sueli Carneiro vai conceituar o dispositivo de


Racialidade. Este dispositivo parte do princípio que exista um padrão branco, onde o ser
humano, o ser “normal”, é o ser branco. Trazendo enquanto consequências a
inferiorizarão de tudo que se distancie do padrão. Ou seja, é criado no imaginário
popular um ser universal, este ser é branco, e todos não brancos são hierarquizados de
acordo com sua proximidade com o branco. (Carneiro, Sueli 2005). Parte-se do
princípio de um ideal branco, onde não necessariamente há uma ameaça das outras
raças, mas sim uma crença de uma superioridade natural dos brancos. O Racismo de
Estado discutido por Foucault trabalha no sentido da preservação da raça superior,
tornando a aniquilação (real ou simbólica) da raça inferior como efeito colateral da
preservação da raça superior (Foucault, Michel, 2005). Ou seja, o ponto de partida é o
branco, no sentido de preservar e melhorar sua própria raça. A morte, simbólica, política
e real dos outros povos é mera consequência. “Não é a submissão do outro, mas uma
afirmação de si” (Carneiro, Sueli 2005, p. 43).

O racismo [ou, como veremos, a supremacia branca global] é em si um


sistema político, uma certa estrutura de poder formal ou informal, de
privilégio socioeconômico e de normas para a distribuição diferencial de
oportunidades e da riqueza material, de benefícios e encargos, direitos e
deveres. (Mills apud Carneiro, 1997, p. 3).

A prática de racismo pode se dar de diversas formas, desde as mais explicitas,


como verbalizar o descontentamento de estar em um mesmo local que uma pessoa
negra, até as mais implícitas, que são atitudes de pensamento automático, como por
exemplo segurar a bolsa quando uma pessoa negra entra no recinto. Uma das formas
mais comuns é a visão dos negros em desvantagem e o branco em vantagem social pelo
simples fato de ser branco. O fenômeno de privilegiar o branco é chamado de
branquitude (Bento, Maria, 2002). É o lugar ocupado pelo branco nos estudos de
relações raciais (Santana Hellen e Castelar Marilda, 2015). A branquitude é vista de
forma natural, este privilegio, é pouco questionado pelos próprios brancos, até meados
de 1990 existiam poucos estudos que apontassem o papel do indivíduo branco nas
18

questões de relações raciais, (Moreira, Camila, 2014). A branquitude se mostra em


diversas formas, entre elas no fato de em sete (7) anos de estudos na graduação de
psicologia da UFRGS, só se falar em racismo, relações raciais e sobre como a
constituição do sujeito não branco se dá de forma diferente, ser vista somente em uma
disciplina optativa. A branquitude parte da premissa que a normalidade é de pessoas
brancas. Estes privilégios tidos como naturais, produzem ideias de superioridade em
pessoas brancas, fazendo com que se acredite que elas mereçam estes privilégios e
neguem o sofrimento de outras raças. O estudo de Hellen Santana e Marilda Castelar vai
trazer a importância de que a relação racial deva ser discutida por todas as raças:

É importante questionar as dificuldades e facilidades que as pessoas têm


diante da cor da pele. Nota-se no cotidiano o pensamento de que o negro é o
responsável pelo sofrimento que está vivenciando, sendo que esta é uma
condição imposta aos próprios. Permanece assim a noção de que o racismo
existe, mas ninguém se responsabiliza por ele, apenas o considera problema
de quem o enfrenta. Constata-se que na atualidade o racismo tem sido mais
discutido por profissionais negros da psicologia do que brancos, assunto que
diz respeito a negros e brancos, e por isto nos referimos a “relações raciais”.
(Santana Hellen e Castelar Marilda, 2015, p. 89)

No caso da graduação em psicologia da UFRGS, são estudados teóricos brancos,


que por sua vez, basearam seus estudos em pessoas brancas, normalmente pertencentes
a elite. Estas teorias de produção de subjetividade e constituição da psique foram
generalizadas para todas as pessoas. Assim, se nega a diferença de formação de sujeito
para pessoas não brancas. Em uma carta de Aimé Césaire, se desfilhando do Partido
Comunista Francês, ele critica justamente, o fato, de não serem respeitadas as diferenças
dos povos negros, e que a universalização não é a resposta, “...Há duas maneiras de se
perder: por segregação intra-muros e por diluição ‘universal’. ” Negar a raça em troca
de uma universalização não adiantaria, pois, a “universal” parte do princípio branco, o
que negaria os sofrimentos enfrentados por pessoas não brancas, justamente por não
serem brancas. (Moore, Carlos, 2010)

Como o racismo opera na constituição de sujeito negro? É o que irá trabalhar


Neusa Santos Souza em seu livro Tornar-se Negro. A autora teoriza a partir de
entrevistas, como o próprio negro se enxerga e como era possível a ascensão social no
início dos anos 1980 para o negro. Visto que, o negro, para ascender socialmente
deveria eliminar a concepção de inferior e submisso, e não tendo nenhuma ideia positiva
de si mesmo e de seus ancestrais, ele toma o branco como modelo de identidade. (Neusa
Santos Souza, 1983) Mesmo depois da abolição em 1888, as relações raciais não se
19

modificaram muito de forma geral, ou seja, o negro ainda era visto como inferior, como
subalterno, e o branco como ser superior que se devia respeito.

Como o negro poderia ter algum tipo de ascensão social pós-abolição se ainda
era visto por ele e pelo branco de forma inferiorizada? Somente pela aproximação de
um ideal branco. Neuza afirma que um “tripé formado pelo contínuo de cor, ideologias
do embranquecimento e democracia racial – sustentáculo da estrutura das relações
raciais no Brasil – produziram as condições de possibilidade de ascensão do negro. ”
(Souza, Neuza, 1983 pg. 22)

Contínuo de cor é o fato de negro e branco, não serem as únicas cores de pele no
Brasil, sendo que as inúmeras tonalidades têm significados e posições sociais diferentes,
seguindo a lógica de quanto mais branco, mais aceito a pessoa será. O fato de não ter
tido uma segregação oficial e legal no Brasil, permitiu que se falasse em democracia
racial, hoje estudada por diversos artigos como mito (Guimarães, Antônio, 2006).
Durante muito tempo o Brasil foi visto como um país livre de preconceito,
principalmente em virtude de sua miscigenação. A partir dos estudos da Unesco,
coordenados por Florestan Fernandes nos anos 1950, a democracia racial passa a ser
desmascarada enquanto mito. Vale destacar que essa crítica já vinha sendo feita pelos
movimentos negros brasileiros. Autores como Caio Maximino de Oliveira vão afirmar
que a democracia racial é “uma armadilha de urso que nos captura e não nos permite
enxergar a falta de negros nos shopping centers e sua presença quase exclusiva na
periferia” (p. 34). O mito da democracia racial ainda hoje é utilizado para amenizar
atitudes racistas. (Guimarães, Antônio, 2006)

A ideia de democracia racial associada à ideologia e políticas públicas de


embranquecimento fez com que os negros se colocassem cada vez mais em um local de
não negro, o mais próximo de branco possível. Com a ideia de embranquecimento, a
ascensão social do negro se dá de forma individualizada, pois o negro nega sua raiz,
diminuindo assim as chances de ascensão coletiva (Souza, Neuza 1983). Neuza vai
discutir que em 1980, as possibilidades de ascender no Brasil para um negro era
assimilar os padrões brancos. Negar sua identidade, “em atenção as circunstâncias que
estipulam o preço do reconhecimento ao negro com base na intensidade de sua
negação” (Souza, Neuza, 1983 p. 23). Dessa forma produz-se um discurso que assegura
que ser branco é ser melhor, e quanto mais distante do negro, melhor ainda. Já é
20

entendido desde muito cedo, que o negro deve ser duas vezes melhor, pois já é fixado
que o negro é inferior ao branco, sendo assim, para se igualar ao branco deve se esforçar
mais. A democracia racial faz com que o negro acredite na universalidade do ser, e
coloca ênfase no individuo, como se ele fosse o único responsável por suas conquistas.
A democracia racial reforça a ideia de meritocracia. (Souza, Neuza 1983).

Neuza trará o conceito de Ideal de Ego Branco. “O Ideal de Ego, é um modelo a


partir do qual o indivíduo passa se constituir – um modelo ideal, perfeito ou quase. ” (p.
33). Realizar o ideal de ego é uma exigência imposta, por nós mesmos, a partir de um
mundo externo, como idealização dos pais, ou padrões da sociedade. A tranquilidade
interna da pessoa está diretamente ligada ao quanto ele se aproxima do Ideal de Ego.
Quando falamos do Negro, falamos que a sociedade impõe para ele, que seja branco. Ou
seja, o Ideal de Ego é branco. Como atingir este Ideal? Uma das primeiras regras é a
negação. (Souza, Neuza 1983)

Então o negro nega a si mesmo e ao racismo, trabalhando com a questão da


meritocracia, mostrando que basta o esforço individual, acreditando em exceções que
confirmam a regra, negando o racismo, ao mesmo tempo que nega pertencer a
determinado grupo supostamente inferior. Frases inferiorizando o negro e se afastando
dos estereótipos ligados a raça são comuns, “Negros não gostam de estudar, mas eu sou
diferente, eu consegui estudar. ” A pessoa se coloca enquanto diferente dos negros de
forma geral, se afastando de sua raça, a discussão se torna “eles” e “eu”, onde o próprio
negro se diferencia do restante do grupo, o que também dificulta organizações coletivas.

Como se pode perceber o Ideal de Ego Branco é impossível de ser realizado. O


que fazer? Neuza vai falar de duas alternativas básicas, a primeira sendo, sucumbir as
punições vindas da não realização do Ideal de Ego, representado pela melancolia. O que
acarretará em sentimentos de inferioridade, perda da autoestima, insegurança e angustia.
Para não se sentir assim algumas pessoas negras tentam se aproximar ao máximo do
Ideal, mas sempre serão estratégias de “quase”. Um exemplo bem comum, para as
mulheres é alisar o cabelo, seria uma aproximação, mas não uma realização satisfatória.
Essas tentativas, na maioria das vezes frustradas, também podem ser chamadas de
estratégias de branqueamento. Branqueamento é exatamente este lugar imposto ao
negro, para que se torne branco, pois ser branco é a melhor forma de referência
(Santana, Hellen, e Castelar, Marilda, 2015) “No Brasil, o branqueamento é
21

frequentemente considerado como um problema do negro que, descontente e


desconfortável com sua condição de negro, procura identificar-se como branco,
miscigenar-se com ele para diluir suas características raciais” (Bento, Maria, 2002,
p.25). Nesse sentido, “instala-se a preocupação em disfarçar seus traços físicos originais
e de fazer-se ‘passar por branco’. Mas ao desejar embranquecer, o negro não se permite
existir; ele instaura o projeto de sua própria extinção”. (Zamora, Maria, 2012, p. 567).

Pessoas negras se desenvolvem em um ambiente hostil, onde suas características


são vistas de formas negativas e que devem ser negadas, devem ser transformadas em
características brancas. Maria Zamora (2012), afirma que desde cedo, crianças negras
são expostas a desvalorização de seu corpo, e a padrões de beleza não condizentes com
sua realidade. Ser negro, portanto, é algo difícil e com inúmeros obstáculos.

Corroborando com esta ideia de que pessoas negras se encontram em um


ambiente hostil, temos Marco Antonio Guimarães e Angela Baraf Podkameni (2012),
através da teoria de Winnicoot, trabalham com os conceitos de espaço potencial e meio
ambiente suficientemente bom. Como relatam os autores, o espaço potencial é “o
exercício natural e de direito de um campo de escoamento e elaboração de tensão
psíquica” (p, 225). O espaço citado é um campo de intermédio entre o mundo interno e
a realidade externa. Ainda em Marco Guimarães e Angela Podkameni (2012), o “meio
ambiente é elemento fundamental na construção, desse campo da subjetividade (espaço
potencial), não só no início, mas também ao longo da vida” (p 225).

O meio ambiente suficientemente bom seria o ambiente que é capaz de


compreender e suprir as necessidades do indivíduo, ao mesmo tempo que impõe limites
e apresenta certas frustrações em um nível que seja tolerável para o indivíduo, fazendo
desenvolver um potencial criativo para aprender a lidar com essas frustrações. Para
pessoas negras o meio ambiente não é favorável, pois ao entrar em contato com um
meio sociocultural racista, se instauram frustrações que o sujeito não consegue suportar,
fazendo com que estas frustrações sejam elaboradas de forma não saudável.
(Guimarães, Marco e Podkameni, Angela 2012)

Voltando para Neuza Souza (1983), a autora irá trabalhar com uma segunda
alternativa para a realização do Ideal de Ego. A modificação do Ideal de Ego, o que não
é simples, pois o Ideal de Ego, seja qual for, é algo construído e imposto desde a
infância e está enraizado no sujeito. Para uma modificação de Ideal de Ego Branco deve
22

ser feito uma construção de uma identidade negra positiva. “Assim, ser negro não é uma
condição a priori. É um vir a ser, Ser negro é tornar-se negro”. (Souza, Neuza, 1983, p.
77). Para tanto, exige uma condição de negar o modelo advindo do externo. Negar a
construção de Ideal de Ego Branco, romper com esta ideia é organizar condições do
negro ter um Ideal de Ego, próprio. (Souza, Neuza 1983). É comum que a pessoa negra
encontre sua identidade negra, a partir da luta antirracista, onde ela terá que lidar com
suas questões e opressões sofridas diariamente e se identificará com pessoas que
sofreram e sofrem o mesmo. O indivíduo negro se distancia do ideal branco, quando
consegue se enxergar de forma positiva, o que não é fácil. Pois ir contra as estratégias
de branqueamento é ir contra o que é lhe imposto socialmente desde muito cedo.
(Santana, Hellen e Castelar, Marilda, 2015)

No livro, Discurso sobre a Negritude, de Aimé Césaire, é discutido como o


conceito de Negritude foi criado, e o sentido em que ele foi criado.

Ela (a Negritude) é um despertar; despertar da dignidade.

Ela é uma rejeição; rejeição da opressão.

Ela é luta, isto é, luta contra desigualdade.

Ela é também revolta (...) a Negritude foi uma forma de revolta, em princípio
contra o sistema mundial da cultura tal qual ele se constituiu durante os
últimos séculos e que se caracteriza por um certo número de preconceitos, de
pressupostos que resultam em uma hierarquia muito rígida.

A Negritude foi uma revolta contra aquilo que eu chamaria de


reduciocionismo europeu. (Césaire, Aimé 1987, pg. 109-110).

A discussão feita neste livro traz a questão de como é importante para o negro se
assumir enquanto negro. Dá visibilidade ao fato de que a universalização da raça
significa negar o racismo. E mostra que a forma de enfrentar o racismo é por uma
“afirmação racial legitimadora também global” (Moore, Carlos 2010, pg. 18). Entrando
em acordo com o que diz Neuza Santos Souza em seu livro, que o negro só conseguirá
diminuir seu sofrimento, quando se aceitar enquanto negro. É nesse sentindo que
Césaire trabalha o conceito de negritude.

A Negritude foi tudo isso: busca de nossa identidade, afirmação do nosso


direito a diferença, aviso dado a todos do reconhecimento desse direito e do
respeito à nossa personalidade coletiva. (Césaire, Aimé 1987, pg. 113).

Retomando o conceito de raça social, podemos perceber que para uma forma de
luta contra o racismo este conceito é fundamental, quando utilizado para uma
identificação com a identidade negra. A afirmação de uma raça social, hoje pode ser tida
23

como uma afirmação pessoal, uma ferramenta para que a população negra se reconheça
como tal. Permitindo que juntos sejam reivindicadas mudanças acerca das
desigualdades raciais. (Vainer, Lia, Nunes, Sylvia e Costa, Eliane, 2015).

4. METODOLOGIA

Neste trabalho foi pesquisado inicialmente quais cidades fazem parte da região
metropolitana de Porto Alegre. Sendo o total de trinta e quatro (34) cidades com sua
última atualização no ano de 2013, de acordo com o site governamental, Atlas
Socioeconômico Rio Grande do Sul. O segundo passo da pesquisa foi encontrar
instituições de ensino superior cadastradas no e-mec, ou seja, que já eram devidamente
regulamentadas pelo Ministério da Educação. Das trinta e quatro (34) cidades da Região
metropolitana de Porto Alegre, dez (10), não foram encontradas no e-mec. Das vinte e
quatro (24) restantes, quinze (15) não ofereciam o curso de graduação em psicologia.
Permanecendo nove (9) cidades para participar da pesquisa. São elas: Cachoerinha,
Canoas, Gravataí, Guaíba, Novo Hamburgo, Porto Alegre, São Jerônimo, São Leopoldo
e Taquara.

A segunda parte do estudo foi analisar cada currículo dos dezenove (19) cursos
de graduação em psicologia encontrados nas nove (9) cidades citadas. O Instituto
Brasileiro de Gestão de Negócios, IBEGEN, foi retirado da pesquisa, pois não
disponibiliza acesso ao currículo para não alunos. Os currículos avaliados foram os
disponíveis nos sites das universidades e faculdades inclusas na pesquisa. As
universidades e faculdades avaliadas foram: CESUCA Cachoeirinha, UNILASALLE
Canoas, ULBRA Canoas, ULBRA Gravataí, ULBRA Guaíba, IENH Novo Hamburgo,
FEVALE Novo Hamburgo, IPA Porto Alegre, UNIRITTER Porto Alegre, FADERGS
Porto Alegre, IBEGEN Porto Alegre, UNIFIN Porto Alegre, UFCSPA Porto Alegre,
PUCRS Porto Alegre, UNISINOS Porto Alegre, UFRGS Porto Alegre, ULBRA São
Jerônimo, UNISINOS São Leopoldo e FACCAT Taquara.

Os cursos incluídos como pertencentes ao grupo que estuda relações raciais são
aqueles que em suas disciplinas, tanto no nome da disciplina quanto na ementa,
apresentavam descritores como: Afro-brasileiros, Afrodescendentes, África, Relações
Raciais, Étnico-racial, Etnia, Cultura Negra, Negros e seus semelhantes.
24

5. UM PROBLEMA: A FALTA DE ESTUDOS SOBRE RELAÇÕES RACIAS


NAS GRADUAÇÕES EM PSICOLOGIA

De acordo com a análise feita de currículo dos dezoito (18) cursos de graduação
em psicologia, no período de março a junho de 2016, de Porto Alegre e região
metropolitana, somente seis (6) cursos apresentam disciplinas que trabalham com
questões raciais. Destes, somente um (1) apresenta o assunto em disciplina obrigatória,
os outros cinco (5) apresentam de forma optativa/eletiva. O curso que apresentava de
forma explicita e obrigatória as discussões sobre relações raciais foi o curso da
CESUCA, Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha, que apresenta logo no
primeiro semestre na disciplina de Psicologia Comunitária com a seguinte ementa “Um
olhar para a inclusão social. Desafios em psicologia social e comunitária. Noções de
Ética Profissional. Cultura Negra na formação da sociedade brasileira. Resgate da
contribuição dos negros nas esferas sociais, econômicas e políticas relativas à História
do Brasil. Educação ambiental, Direitos Humanos e pluralidade étnica racial e gênero. ”

Como podemos ver mesmo tendo um enfoque maior nas questões raciais, ainda
é uma disciplina com diversos assuntos de grande importância, o que torna difícil dar
conta de tudo em um semestre. Visto a importância dos assuntos citados acima, a
duração de um semestre fará, provavelmente, com que algum deles ou todos sejam
negligenciados. Mesmo assim este é o único curso que fala em seu currículo sobre
questões raciais de forma obrigatória.

Os cinco (5) cursos restantes, trazem a temática racial de forma optativa/eletiva,


sendo que três (3) delas não disponibilizam as ementas das disciplinas para não alunos.
São elas: UNISINOS São Leopoldo, UNIFIN, IENH. As disciplinas oferecidas nestes
cursos são respectivamente Afrodescendentes na América Latina, Povos Indígenas na
América Latina Contemporânea (UNISINOS São Leopoldo), Educação em Direitos
Humanos e das Relações Étnico-Raciais e História Afro-Brasileira, Africana e Indígena,
(UNIFIN), História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (IENH).
25

O curso da faculdade FEEVALE traz a seguinte disciplina eletiva Cultura,


Identidade e Diferenças, e sua ementa: “A disciplina problematiza, a partir do campo
dos Estudos Culturais e da Psicologia Social, de que modo determinadas práticas
cotidianas e regimes de verdade produzem subjetividades, corpos e comportamentos
que forjam marcas identitárias, hierarquias, posicionamentos e exclusões, definindo
modos de ser sujeito na contemporaneidade”. Mesmo esta disciplina não contendo as
palavras chaves descritas na metodologia deste trabalho, entende-se que quando é
proposta uma discussão sobre marcas indentitárias, hierarquias, posicionamentos e
exclusões, se propõe também, que se fale sobre relações raciais. Quando se estuda
relações raciais se fala em marcas identitárias, hierarquias, regimes de verdade,
exclusões, entre outros elementos trazidos na ementa acima. A ementa é ampla, permite
que se discuta diversos tipos de preconceitos que estrutura nosso país, como o racismo,
a homofobia, machismo, etc. Sendo assim, foi importante incluir esta disciplina na
pesquisa, pela possibilidade de discussão sobre a temática deste trabalho. Ainda na
FEEVALE temos a disciplina História da África também de caráter eletivo, com a
ementa: “Analisa os aspectos pontuais de processos históricos das comunidades e
Estados africanos, considerando o período pré-colonial até a conjuntura atual. ”

Já na UFRGS foi encontrada apenas uma disciplina eletiva chamada Diversidade


e Desenvolvimento Humano, com a seguinte ementa: “Estudos das desigualdades
étnico-raciais e de gênero, diversidade cultural, violência e exclusão social,
consequências do bullying, preconceito e discriminação no contexto escolar,
institucional e social. ” Esta disciplina entra na mesma lógica da disciplina oferecida
pela faculdade CESUSA. Muitas temáticas, todas de grande importância, o que torna
fácil que alguma delas seja negligenciada. Não há como saber ao certo se algum assunto
será negligenciado, e se for, qual deles será. Depende de inúmeros fatores, como a
afinidade do professor com as temáticas, o interesse da turma, a maneira que cada
assunto é introduzido, entre outros. São detalhes que podem mudar a cada semestre,
tornando disciplinas como estas extremamente mutáveis o que não aconteceria em uma
disciplina especifica sobre relações raciais.

A disciplina especifica sobre relações étnico-raciais cursada pela autora deste


trabalho não estava sendo oferecida pela UFRGS no momento desta escrita. Esta
disciplina chamava-se Estudos em Psicologia III, com o seguinte objetivo: “Discutir
abordagens teóricas e empíricas que contribuam para a análise da produção de
26

subjetividade a partir dos marcadores sociais de diferença de raça e de etnia. Analisar


como os processos de discriminação e de violação de Direitos Humanos decorrentes das
relações raciais e étnicas institucionalizadas atravessam a produção de subjetividade.
Apresentar os embates teórico-políticos que constituem o campo de análise das relações
raciais e étnicas e seus desdobramentos em políticas públicas de enfrentamento das
desigualdades raciais e étnicas no Brasil. ”

O motivo desta disciplina ter sido alterada foi que a professora responsável pela
disciplina e que tem interesse na temática acabou não conseguindo conciliar a docência
da disciplina com suas outras responsabilidades. Sendo esta uma disciplina de
departamento, ou seja, ela é pertencente ao Departamento de Psicologia Social e
Institucional e todos os professores deste departamento podem lecionar nesta disciplina.
A temática dada será aquela com que o professor responsável tem maior identificação e
julga necessário passar estes conhecimentos aos graduandos. Hoje, a temática das
relações raciais está inclusa na disciplina obrigatória de Psicologia Social II, lecionada
pela orientadora do presente trabalho, e responsável pela disciplina de Estudos em
Psicologia Social III em 2011 quando a disciplina trabalhava a temática das relações
raciais. Mesmo a temática estando presente em uma disciplina obrigatória como
Psicologia Social II, o assunto não se encontra na ementa da disciplina. O que abre a
possibilidade de outras disciplinas obrigatórias trabalharem com a temática, mesmo não
apresentada nos currículos ou nas ementas.

Este trabalho teve a intenção de analisar os currículos, com o intuito não de


afirmar que não existam estas discussões, mas para analisar o silenciamento destas
discussões pelo fato de não se encontrarem de forma explicita na maioria dos currículos.
A análise deste trabalho vai de encontro a Hellen Santana e Marilda Castelar (2015 , p.
87) quando afirmam que:

(...) o tema das relações raciais ainda possui pouca expressão na psicologia.
Existem manifestações explícitas e implícitas do racismo. Uma dessas formas
de manifestação é a da crença de “Democracia Racial”, que oculta as
diferenças sociais e minimiza injustiças que acontecem a todo instante,
marcando as subjetividades das pessoas, e favorecendo, assim, o
encobrimento do preconceito racial, alimentando o discurso de uma relação
sem desigualdades entre brancos e negros, o que não é verdade. Dessa forma
percebe-se uma necessidade de enfrentamento do racismo que diz respeito às
relações raciais entre brancos e negros, sendo necessária a sensibilização de
profissionais e estudantes para a importância da reflexão sobre as relações
raciais em suas práticas, além das discussões para compreensão das
consequências do racismo como gerador de sofrimento psíquico.
27

Não podemos ignorar que o ensino de forma geral não é neutro. Ele vem de uma
construção histórica, cultural e política, então, os currículos expressam o interesse de
foças políticas que regem o sistema educacional em um dado momento (Joana Passos,
Tatiane Rodrigues e Ana Cruz, 2016). Os currículos analisados deste trabalho, não
podem ser considerados meros documentos de informação sobre as disciplinas
ofertadas, mas sim expressões públicas do que interessa às instituições ensinar.

Como podemos ver o estudo das relações raciais é extremamente negligenciado


pelas instituições de ensino superior analisadas neste trabalho, das dezoito (18)
instituições que foram incluídas na pesquisa apenas seis (6) trabalham de forma
explicita com relações raciais, mas somente uma (1) traz no currículo obrigatório, ou
seja, nas outras cinco (5) instituições, somente os alunos que tem interesse pela temática
irão cursar. Algumas instituições podem estudar a temática sem ter explicitado no
currículo, o que mostra que não há interesse da instituição em abordar o assunto de
forma púbica. Por que isso é um problema?

Como foi exemplificado no início deste trabalho, muitas pessoas negras sofrem
não somente com o racismo, mas também com o silenciamento dele. Se profissionais da
psicologia não tiverem condições de perceber e acolher este sofrimento, o indivíduo que
veio em busca de ajuda terá seu sofrimento aumentado. Com a falta de estudos sobre
relações raciais, também se corre o risco de reforçar estereótipos ou negligenciar
temores. Por exemplo, em uma palestra ofertada pelo COMITÊ GDC (Gerência
Distrital Centro) DA POPULAÇÃO NEGRA, realizada no auditório do 6º andar no
posto de saúde Santa Marta, em novembro de 2015, sendo uma das atividades
relacionadas ao mês da consciência negra. Naquele momento houve diversas falas em
que profissionais da saúde reforçaram estereótipos, como o da raça negra sendo mais
forte, falas de enfermeiras como “um negro deste tamanho chorando? ”, quando na
verdade se tratava de uma criança que acabava de tomar uma vacina. Este tipo de
estereótipo pode fazer com que a população negra esconda seu sofrimento por acreditar
que deve sempre se manter firme e também que seja negligenciada pela saúde pública,
pois ao entender que a raça é mais “forte”, correm o risco de não ter tanto cuidado,
como teriam com pessoas pertencentes a raça branca. Durante a palestra ministrada pela
profissional Alexandra Angélica Marques, enfermeira da ESF (Estratégia de Saúde da
28

Família) do Posto Santa Marta, também foram denunciados casos de mulheres negras
que recebiam menos anestesia no parto que mulheres brancas.

Na saúde, os dados epidemiológicos são eloquentes, mostrando a


diminuição da qualidade de vida e da expectativa de vida da população negra.
Em geral, este segmento apresenta níveis mais baixos de instrução, reside em
áreas com menos serviços de infraestrutura básica, tem menos acesso ao
Sistema Único de Saúde e, quando dispõe dele, depara-se com menor
qualidade. Ou seja, essa parte da população brasileira vivencia, em quase
todas as dimensões de sua existência, situações de exclusão, marginalidade
e/ou discriminação sócio econômica, o que a coloca mais vulnerável aos
agravos à saúde e a faz adoecer de doenças curáveis e morrer antes do tempo,
de mortes evitáveis. Contudo, o racismo estrutural e institucional tem sido
discutido e enfrentado na área da saúde, com a implementação de ações
concretas, enfatizando a formação dos trabalhadores.. (Zamora, Maria, 2012,
p. 571).

Uma terapeuta com pouca ou nenhuma experiência em estudos das relações


raciais pode também minimizar receios e temores de seus pacientes quando se trata de
racismo. Durante o período de estágio, entre agosto de 2015 e junho de 2016, concluído
no Serviço de Atendimento Especializado - HIV Santa Marta, no centro de Porto
Alegre, atendi2 dois casos em especial que me chamaram a atenção com enfoque na
questão racial. O foco do estágio era o HIV e como os pacientes lidavam com a doença,
mas em algumas sessões de terapia o assunto mudava para diversos outros. Uma das
pacientes atendidas, uma mulher negra de 20 e poucos anos, tinha grade medo que o
namorado a deixasse por uma mulher branca. Já o segundo caso era um homem negro,
por volta da mesma idade, que se inferioriza por ser negro, relatando que “é tudo muito
difícil para pessoas da nossa cor, tu sabe”.

No primeiro caso, através de estudos como os apresentados neste trabalho, feitos


previamente pela terapeuta/autora, conseguimos juntas trabalhar a sua autoestima,
conversamos sobre diversas questões raciais, e que é um temor real, uma mulher negra
ser trocada por uma mulher branca. O interessante neste caso foi ver a transformação
deste temor que tinha como algo dela, como se ela fosse a culpada e que se caso o rapaz
realmente terminasse com ela para namorar uma mulher branca seria porque ela era feia,
e que mulheres brancas são mais bonitas. Depois de algumas sessões ela percebeu que
este temor é do âmbito social, é algo que foi construído de forma que ela não pode
controlar, mas se caso ela realmente fosse trocada por uma mulher branca, ainda seria

2 Casos baseados em fatos reais, não totalmente verídicos.


29

extremamente sofrido, mas ela entende que esse acontecimento não seria
reponsabilidade dela, e nem se daria pelo fato de uma mulher branca ser mais bonita que
uma mulher negra, baseado única e exclusivamente na raça.

O segundo caso, infelizmente o rapaz não voltou aos encontros marcados, e não
deixou nenhuma forma de contato. Mas o fato é que desde o início da sessão ele passou
se depreciando, e mesmo trazendo fatos que negavam seus defeitos, ele não conseguia
enxergar suas qualidades, ele trouxe que era burro demais para entrar em uma
instituição de ensino superior, ao mesmo tempo que conta que desenvolveu um
aplicativo na sua casa. A questão da inferiorização da raça, junto com o HIV fez com
que ele não enxergasse nada além do preconceito que viveu e que iria viver.

Como lidar com estas questões sem estudar relações raciais? Como reagiria um
terapeuta que nunca passou por estas situações e que também não estudou sobre isso?
Talvez como as terapeutas citadas na introdução deste trabalho, minimizando e
silenciando o sofrimento destes pacientes? Algo que seria mais difícil de acontecer se os
psicólogos estudassem estas questões durante a graduação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visto anteriormente neste trabalho que o sofrimento psíquico, causado pelo


racismo em pessoas negras é imensurável, e pode causar grandes sequelas como baixa
autoestima, humilhação social, desumanidade e estigmatização, sentimentos de
inferioridade, negação de si mesmo, e até melancolia. (Santana, Hellen e Castelar,
Marilda 2015). Ainda em Hellen Santana e Marilda Castelar:

O racismo ocasiona sofrimento psíquico e desigualdades sociais,


bem como possíveis danos na vida dos indivíduos, aspectos que podem
influenciar na construção da identidade de psicólogas, refletindo, dessa
forma, sobre uma difícil vivência, onde o preconceito parece estar arraigado
no ser humano e no contexto social, fazendo pessoas negras se sentirem
incapazes e excluídas diante da condição que lhes é imposta, a de menos
valia. (p. 87)
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Já para pessoas brancas, o racismo causa sentimentos de superioridade, mantém


privilégios e faz com que o sistema sempre crie vantagens para pessoas brancas.

Quando temos uma resolução afirmando que a (o) psicóloga (o) deve utilizar
seus conhecimentos para a eliminação do racismo, afirma-se que este conhecimento
existe, e que será utilizado, para auxiliar pessoas não brancas com seus sofrimentos e
empodera-lás, para que este sofrimento seja diminuído, mas nunca desacreditado. Para
eliminar o racismo as (os) profissionais da psicologia, devem tentar que pessoas brancas
(inclusive o próprio profissional quando for o caso) entendam que são privilegiadas, e
que em uma sociedade visivelmente desigual, falar em meritocracia é no mínimo
ingênuo. Fazer entender que, para uma sociedade igualitárias, devemos eliminar os
privilégios de uma raça sobre a outra, e que isso não é retirar direitos das pessoas
brancas, mas sim igualar os direitos de todas as raças, sempre respeitando suas
diferenças.

A luta antirracista implica a adoção voluntarista de toda uma série de


ações estendidas a todos os recantos da sociedade, que atinjam tanto o
segmento que, de fato, é racialmente dominante quanto o segmento que,
historicamente, é racialmente subalternizado. (Moore, Carlos 2012, p. 199)

Nesta citação Moore mostra que para se diminuir o racismo é preciso que toda a
sociedade, independente de raça se manifeste contra o racismo. Para que isso ocorra, é
necessário que se entenda o que é o racismo e como ele opera, por isso a importância de
disciplinas obrigatórias sobre relações raciais. Sem essas disciplinas muitos podem
cometer as mesmas falhas das psicólogas citas na introdução deste trabalho, e acreditar
no mito da democracia racial. Como combater algo, se não se acredita que ele exista?

A importância que as leis de educação, que dizem que deve ser ensinado sobre a
temática das relações raciais, serem cumpridas é de trazer benefícios, para uma
sociedade mais igualitária e justa. Falar sobre racismo, não pode se limitar a pessoas
negras. Pessoas brancas são privilegiadas com o racismo, e quando falamos em
privilégios, falamos de benefícios conquistados às custas de uma opressão a um grupo.
Muitas vezes, pelo racismo já estar enraizado na sociedade, as pessoas brancas não
percebem seus privilégios. O estudo sobre relações raciais faz com se perceba a
diferença social que acomete as raças. Profissionais brancos da psicologia podem
através destes estudos entender seus privilégios e auxiliar no sofrimento de uma pessoa
negra, quando esta vier buscar ajuda em terapia.
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Os alunos negros, quando estudam a temática racial, além de ajudar outros


pacientes, vão conseguir entender o que acontece em diversos sofrimentos seus. Quando
comecei a estudar sobre o assunto, quando comecei a entender que minha baixa
autoestima, dentre outros sofrimentos psíquicos, vinha da falta de representatividade
positiva, e da imposição social para ver só o branco enquanto positivo, foi o que me
libertou, e me deixou extremamente mais segura. A inclusão da temática racial nas
graduações de psicologia, não fariam profissionais com melhor condição de atender a
maioria da população de acordo com o CENSO 2010 (50,7% da população brasileira),
mas também estes estudos ajudariam os estudantes negros das universidades, que graça
as Ações Afirmativas têm maior condições de acesso.
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