Dendrocronologia
Dendrocronologia
Dendrocronologia
Piracicaba
2013
Alejandro Danilo Venegas González
Engenheiro Florestal
Orientador:
Prof. Dr. MARIO TOMAZELLO FILHO
Piracicaba
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
DIVISÃO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP
CDD 634.97338
V455d
“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte -O autor”
3
Albert Einsteint
4
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a meus pais, pelo apoio sempre presente ao longo da minha
vida, entregando grandes valores.
A Carla, colega, parceira e amor da minha vida pelo apoio em todo. Agradeço por
acompanhar nesta aventura.
Ao professor Mario Tomazello Filho, por acreditar em mim sem me conhecer, além da
confiança, orientação, aprendizagem e amizade.
Aos professores Fidel A. Roig, Claudio S. Lisi, Paulo C. Botosso, Pedro Brancalion,
Silvio Ferraz, Edson Vidal e Ricardo R. Rodrigues, pela oportunidade de discussão e de
aprendizagem.
Aos amigos da Mata da Pedreira, Ricardo Gomes César, Vanessa Jó Girão e Felipe
Mello.
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................................... 9
ABSTRACT .................................................................................................................................. 11
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 15
Geral 15
Específicos ..................................................................................................................................... 15
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 17
3.1 Características gerais das espécies ................................................................................... 17
3.1.1 Tectona grandis................................................................................................................. 17
3.1.2 Pinus caribaea var. hondurensis...................................................................................... 18
3.2 Características anatômicas do lenho ................................................................................ 19
3.2.1 Tectona grandis................................................................................................................. 19
3.2.2 Pinus caribaea var. hondurensis...................................................................................... 21
3.3 Dendrocronologia.............................................................................................................. 22
3.3.1 Dendrocronologia das árvores de Tectona grandis ........................................................ 23
3.3.2 Dendrocronologia das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis ............................. 28
3.4 A densitometria de raios X aplicada na análise do lenho e dos anéis de crescimento . 29
3.5 Análise dos elementos de vaso nos anéis de crescimento do lenho das árvores ........... 31
3.6 Análise da flutuação da densidade intra-anéis de crescimento do lenho das árvores ... 33
3.7 Presença de lianas como indicador de áreas florestais degradadas................................ 34
4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 37
4.1 Caracterização da Mata da Pedreira................................................................................. 37
4.2 Espécies florestais selecionadas ....................................................................................... 39
4.3 Caraterização das árvores ................................................................................................. 42
4.4 Metodologia de análise do lenho das árvores das espécies florestais ............................ 45
4.4.1 Coleta e preparo das amostras do lenho .......................................................................... 45
4.4.2 Avaliação da estrutura anatômica do lenho e dos anéis de crescimento ....................... 46
4.4.3 Caracterização e aplicação da análise dos anéis de crescimento: dendrocronologia .... 47
4.4.4 Influencia das lianas no crescimento radial do tronco das árvores: Dendroecologia ... 48
4.4.5 Efeito das variáveis climáticas no crescimento das árvores: dendroclimatologia ........ 49
4.4.6 Determinação da densidade do lenho e dos anéis de crescimento ................................. 51
8
4.4.7 Acúmulo de biomassa e carbono fixado no lenho e nos anéis de crescimento ............. 53
4.4.8 Análise dos vasos no lenho/anéis de crescimento das árvores de Tectona grandis ..... 53
4.3.9 Análise dos anéis de crescimento anuais falsos no lenho das árvores de Pinus caribaea
var. hondurensis ........................................................................................................................... 55
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 59
5.1 Caracterização anatômica do lenho e dos anéis de crescimento das árvores ................ 59
5.1.1 Árvores de Tectona grandis ............................................................................................. 59
5.1.2 Árvores de Pinus caribaea var. hondurensis .................................................................. 61
5.2 Dendrocronologia das árvores das duas espécies ........................................................... 63
5.3 Dendroecologia das árvores das duas espécies ............................................................... 66
5.3.1 Influência das lianas no crescimento radial do tronco das árvores ................................ 66
5.3.2 Resposta das árvores às variações de clima, com a presença das lianas ....................... 72
5.4 Densidade aparente do lenho das árvores........................................................................ 74
5.4.1 Densidade aparente do lenho das árvores........................................................................ 74
5.4.2 Influencia das lianas na densidade do lenho do tronco das árvores .............................. 78
5.4.3 Incremento de biomassa e massa de carbono no lenho das árvores .............................. 79
5.5 Dendroclimatologia das árvores das espécies ................................................................. 82
5.5.1 Influencia do clima local .................................................................................................. 82
5.5.2 Influencia do clima a grande escala ................................................................................. 87
5.6 Análise dos vasos no lenho das árvores de Tectona grandis ......................................... 92
5.6.1 Efeito das lianas nas dimensões dos vasos no lenho das árvores .................................. 92
5.6.2 Correlação das variáveis climáticas e os vasos no lenho das árvores ........................... 95
5.7 Análise dos anéis de crescimento falsos do lenho das árvores de Pinus caribaea var.
hondurensis.................................................................................................................................. 102
5.7.1 Efeito das lianas na formação dos anéis de crescimento falsos ................................... 102
5.7.2 Relação do clima e a formação de anéis de crescimento falsos ................................... 105
6 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 109
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 111
ANEXO ....................................................................................................................................... 129
APÊNDICES ............................................................................................................................... 135
9
RESUMO
ABSTRACT
The trees of Tectona grandis (Verbenaceae) and Pinus caribaea var. hondurensis
(Pinaceae) are used in dendroecological and dendroclimatologal studies by formation the
annual growth rings. For these reasons, the study aimed to examine the tree-rings of the two
species planted in Mata da Pedreira in Campus ESALQ/USP to climatic and ecological
studies. We selected eight T. grandis trees (4 with and 4 without lianas occupying the trees
canopy) and 10 P. caribaea trees (8 live - 4 with and 4 without lianas- and 2 dead). With the
use Pressler increment borer was extracted 2-6 wood samples/tree of two species to analyze
their trees-rings growth. Were applied: i) anatomical characterization macro and microscopic
of trees-rings; ii) dendrochronology studies, by dating and evaluation of the trees radial
growth; iii) evaluating the density of the wood by X-ray densitometry for determination of
tree-rings density, biomass and carbon increment; iv) evaluating of influence of local climate
and large-scale on tree-rings; v) Analysis of the vessel in T. grandis trees and false rings in
P.caribaea trees. The main results showed that the anatomical characteristics of trees-rings of
the both species coincide with those described in the literature; the series of trees-rings
showed significant correlation with respect to the synchronization of trees-rings in the two
species. The unfavorable effect of lianas in the canopy of trees T. grandis and P. caribaea was
confirmed by the reduction of the tree-rings width in period 2000-2011 and 1976-2011,
respectively. . The apparent density average of tree-rings (T. grandis: 0,64 g/cm3 e de P.
caribaea: 0,60 g/cm3) allowed us to calculate the increase of carbon mass, resulting that trees
without lianas had higher carbon stocks than those with lianas. The climatological analysis
showed that P. caribaea showed positive correlations with water availability in the soil in the
dry season; T. grandis trees showed positive correlations with period of highest rainfall,
temperature of spring and AAO of fall in the current growing season, and negative correlation
with El Niño event (TNI) in the fall. The ocupation of lianas on T. grandis trees caused the
increase of the vessels area; the earlywood vessels (and frequency) had a significant
correlation with the tree-rings, allowing build of chronologies of these parameters and
evaluate the influences climate in the trees. The ocupation of lianas on P. caribaea trees
induced a decrease in false rings, which are formed primarily by the increase of the previous
July and current summer (DJF). The results of this study showed that the tree-rings analysis of
the two species has great potential to ecological and climatical studies in Brazil.
1 INTRODUÇÃO
A literatura relata estudos dos anéis de crescimento das árvores dessas espécies, sendo
os de Tectona grandis utilizados em sua área de ocorrência natural para reconstruções
climáticas pela correlação significativa com a precipitação e índices climáticos
(PUMIJUMNONG et al., 1995; RAM et al., 2008; BORGAONKAR et al., 2010), além dos
estudos realizados no Brasil (CARDOSO, 1991; SOUZA et al., 2011; OLIVEIRA, 2011;
CASTRO, 2011). As árvores de Pinus caribaea var. hondurensis têm sido estudadas com
objetivo dendrocronológico nas florestas tropicais da Venezuela (WORBES, 1999;
MELANDRI et al., 2007) e também para as reconstruções de incêndios (MILLER, 2007),
com as pesquisas no Brasil principalmente enfocadas nas características anatômicas e de
densidade do lenho (VASQUEZ CORREA, 1995; OLIVEIRA et al., 1997, FERREIRA;
TOMAZELLO FILHO, 2009; CASTRO, 2011).
Pelo exposto, no presente estudo aplica-se o estudo dos anéis de crescimento formados
no lenho das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis da plantação
da Mata da Pedreira como biomonitores ambientais, visando responder às seguintes
perguntas: 1) a presença das lianas nas árvores produz um efeito prejudicial na anatomia do
lenho? 2) existe uma influência do clima na formação dos anéis de crescimento? Foram
consideradas as seguintes hipóteses: i) existe um maior incremento radial do tronco das
árvores sem lianas; ii) a aplicação da densitomeria de raios X evidencia um maior acúmulo de
massa de carbono nas árvores sem lianas, iii) existe uma diferença nas dimensões dos
elementos condutores em T. grandis e na formação de anéis de crescimento falsos em P.
caribaea induzidos pela ocupação das lianas nas árvores; iv) existe uma relação entre os anéis
de crescimento no lenho das árvores com a variabilidade climática local e de grande escala.
15
2 OBJETIVOS
Geral
Específicos
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As árvores de teca são caducifólias, de copa redondeada, folhas grandes, fuste liso,
cilíndrico (20-50 m altura) e com base do tronco expandida e reforçada em função do
desenvolvimento das raízes (PANDEY; BROWN, 2000). As folhas são de disposição oposta
a verticilar, em grupos de 3, coriáceas, com 30-60 cm de comprimento e 20-35 cm de largura.
A floração e frutificação das árvores de teca iniciam-se entre 5-8 anos e suas sementes
apresentam, geralmente, latência, requerendo tratamento de escarificação para a germinação
(CHAVES; FONSECA, 1991); as flores são pequenas, branco-amareladas, dispondo-se em
panículas; a polinização é por feita por insetos, citando-se também o vento (Figura 1)
(WEAVER, 1993).
18
B)
A) C)
Figura 1 - Características das árvores de T. grandis: (A) áspecto árvore; (B) flores e folhas; (C)
frutos. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Tectona_grandis
B) C)
A) D)
Figura 2 - Características das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis: (A) árvore; (B) estróbilos
masculinos e acículas; (C) estróbilos femininos; (D) cones. Fonte:
http://herbario.up.ac.pa/Herbario/herb/vasculares/view/species/5624
O lenho das árvores de Tectona grandis não mostra uniformidade radial (medula-casca)
com o lenho inicial dos primeiros anos de menor massa específica, menor comprimento de
fibra e maior ângulo microfibrilar; os anéis de crescimento do lenho adulto têm maior massa
específica e estrutura anatômica característica (MOYA et al., 2009).
Castro (2011) dividiu o lenho das árvores de Tectona grandis em posição 1 (anéis de
crescimento iniciais, posição 2 (anéis de crescimento 50% do raio) e posição 3 (anéis de
crescimento finais do lenho); na posição 1 os anéis de crescimento são mais largos, com lenho
inicial de maior largura que o tardio; na posição 2 os anéis de crescimento são mais estreitos,
lenho inicial-tardio de largura similar; na posição 3 os anéis de crescimento têm largura
constante, lenho inicial mais estreito em relação ao tardio.
21
A) B) C)
3.3 Dendrocronologia
Os anéis de crescimento das árvores são influenciados pela sazonalidade das estações
climáticas – alternância das condições favoráveis e desfavoráveis – afetando a atividade
cambial. O câmbio vascular, responsável pelo crescimento em diâmetro do tronco das árvores,
alterna períodos de maior atividade e de latência, induzindo diferenças nas dimensões das
células que constituem os anéis de crescimento. No período de maior atividade, o câmbio
vascular produz células de maior lume e parede celular delgada; no de menor atividade (ou
latência), o câmbio vascular origina células de parede mais espessa e lume reduzido (FRITS,
1976; WORBES, 1995).
A análise dos anéis de crescimento originou uma ciência, que possibilita a datação das
árvores de espécies arbóreas e de peças de madeira, denominada de dendrocronología (do
grego: dendro = árvores, chronos = tempo e logus = estudo). A dendrocronologia baseia-se no
princípio no qual as árvores que se desenvolvem em condições ecológicas similares
apresentam sincronismo na largura dos anéis de crescimento formados no seu tronco,
permitindo a determinação da sua idade e a sincronização dos anos de formação de cada anel
de crescimento (BROWN, 2003). No início do século XX a dendrocronologia se consolidou
como ciência, principalmente, pelas pesquisas realizadas por Andrew E. Douglass, pioneiro
no desenvolvimento de metodologias para a análise da relação das séries temporais dos anéis
de crescimento e as variáveis do clima (FRITS, 1977; SCHWINGRUBER 1988, 1996).
A metodologia de extração das amostras do lenho do tronco das árvores pode ser
dividida em método destrutivo e não destrutivo. O primeiro, compreende a aplicação de
métodos convencionais para a extração das amostras do lenho, considerando o corte das
árvores. O método não destrutivo consiste extração de amostras do lenho do tronco das
árvores utilizando sondas metálicas manuais ou acopladas a equipamentos motorizados,
permitindo a análises das propriedades e características do lenho, tendo como principal
vantagem a manutenção da integridade da árvore em seu ecossistema natural ou plantio
(ROSS et al., 1998; CASTRO, 2011).
Estudos com outras espécies de Pinus de distribuição tropical têm, também, apresentado
excelentes resultados na datação exata da idade das árvores e sua relação com o clima.
Chernavskaya et al. (1999) construíram séries cronológicas de anéis de crescimento do lenho
de árvores de Pinus tropicalis de duas florestas de Cuba, obtendo uma associação do
crescimento do tronco das árvores com a precipitação. Van der Burgt (1997) e Speer et al.
(2004) analisando árvores de Pinus occidentalis indicaram o seu potencial
dendroclimatólogico pela boa correlação dos anéis de crescimento com a temperatura e
permitindo a datação da ocorrência de incêndios no passado; os autores indicaram a
complexidade da construção das cronologias pela quantidade de anéis de crescimento falsos
formados no lenho das árvores destas espécies de Pinus.
Em geral, em regiões tropicais existem menos estudos com as árvores de pinus do que
em relação às latifoliadas devido, principalmente, à presença de resina que dificulta o limite
dos anéis de crescimento afetando a medição exata de sua largura e formação de anéis de
crescimento falsos e, em consequência, a sincronização do crescimento em diâmetro entre as
árvores (Pumijumnong, 2013). Emfim, as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis formam
anéis de crescimento falsos, dificultando os estudos de dendrocronologia sendo, desta forma,
o presente trabalho um dos únicos realizados no Brasil, indicando o potencial dos anéis de
crescimento falsos para os estudos ecofisiológicos.
A densidade do lenho das árvores é uma das propriedades físicas mais estudadas nas
áreas de ciência e tecnologia pela sua relação com as demais propriedades da madeira,
incluindo a caracterização dos anéis de crescimento (SCHINKER et al., 2003),
proporcionando a Polge (1965) o desenvolvimento de uma metodologia de análise da
densidade aparente dos lenhos inicial-tardio dos anéis crescimento pela análise de filme
radiográfico.
30
Ferreira e Tomazello Filho (2009) utilizaram esta técnica para a caracterização dos anéis
de crescimento de árvores de Pinus caribaea var. hondurensis, evidenciando a demarcação do
limites do anéis de crescimento, com os anéis de crescimento falsos ocorrendo nos lenhos
inicial e tardio em resposta às variações climáticas e com a densidade aparente mostrando
relação com o diâmetro do tronco das árvores.
31
3.5 Análise dos elementos de vaso nos anéis de crescimento do lenho das árvores
inicial. Os autores, concluíram que (ambos) mostram correlação com o clima; em árvores de
C. sativa a correlação foi mais significativa para os vasos da primeira linha, em relação aos
dos anéis porosos; ao contrário do observado para as árvores de Q. petraea.
Influência
externa
Brotação
Formação do
lenho: Hormônios
Disp onibilidade divisão
da água e de
celular e crescimento
nutrientes diferenciação
Dimensões
dos vasos
Atividade
das raízes
Figura 6 - Interação dos fatores externos e internos na formação dos vasos dos anéis de crescimento
porosos do lenho das árvores (ECKSTEIN, 2004, adap.)
maior contraste e nitidez (RIGLING et al., 2001; CAMPELO et al., 2006; DE LUIS et al.,
2011; DE MICCO et al., 2007; HOFFER; TARDIF, 2009; MARCHAND; FILION, 2012).
No Brasil, ainda não existe estudos de anéis de crescimento falsos, pelo que este estudo
seria pioneiro na área e pode ser uma base para próximas pesquisas na área da
dendrocronologia utilisando IADFs.
Figura 7 - Seção transversal do lenho de árvore de conífera indicando as flutuações de IADFs, com
anéis de crescimento falsos (setas) (ROZAS et al, 2011; adap.)
As plantas de lianas são caracterizadas por uma copa bastante dinâmica e distante de
suas raízes em até 100 m e com elevada capacidade de vigorosa rebrota (VIDAL et al., 1997),
35
4 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 8 - Localização da Mata da Pedreira e das árvores de Tectona grandis e Pinus caribaea var.
hondurensis
Balanço hidrico
120
60
mm
40
20
-20
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
1
IVI = Dominância + Densidade Relativa + Frequência Relativa
39
As árvores vivas foram localizadas com equipamento GPS na Mata da Pedreira para o
posterior georefenciamento no mapa da Mata da Pedreira (Figura 8). As árvores de Tectona
grandis e de Pinus caribaea var. hondurensis foram classificadas na Mata Atlântica, de
acordo com a declividade do terreno, visando relacionar o desenvolvimento das árvores de
acordo com a disponibilidade de água ao longo da declividade (maior escoamento) do terreno,
de 0 a >25%, estratificadas a cada 5%. Verificou-se que 62,5% das árvores de Tectona
grandis encontram-se em declividade maior do que 25% enquanto que 75% das árvores de
Pinus caribaea em declividade menores que 25%, distribuída em categoria de 15-20% e 20-
25%) (Figura 12).
Com
lianas Sem
lianas
A) B)
Figura 10 - Árvores de Tectona grandis: com (A) e sem (B) lianas na copa
41
Com
lianas
Sem
lianas
A) B)
C) D)
Figura 11 - A) Árvores de P. caribaea sem (à esquerda) e com (à direita) lianas; B) Detalhe das
lianas colonizando a árvore desde o tronco; C) Árvore morta em pé (C) e no solo (D),
sendo cortada seção transversal do lenho na base do tronco.
42
Figura 12 - Distribuição espacial das árvores de Tectona grandis e Pinus caribea var.
hondurensis
As árvores de Pinus caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis têm 48,4 e 29,6 cm
de DAP médio, respectivamente. Foi descrita a intensidade das lianas nas árvores,
mensurando seu diâmetro (GERWING et al., 2006), calculando sua área basal e biomassa
(SCHNITZER et al., 2006), quando se teve acesso. As medições das lianas foram realizadas
no seu caule principal e não nos ramos. A presença ou ausência de lianas nas árvores foi
realizada por observações a olho nu, seguindo o critério de indicados por Fonseca e Rodrigues
(2000):
0 = Ausência de lianas;
1 = 1-25% da copa coberta;
2 = 26-50% da copa coberta;
3 = 51-75% da copa coberta;
4 = 76-100% da copa coberta.
43
As árvores das 2 espécies foram caracterizadas pelo crescimento das lianas no seu
tronco e copas. A avaliação visual indicou que nas árvores de P. caribaea as lianas mostraram
um processo de colonização e ocupação das copas mais intenso e mais agressivo. As árvores
das 2 espécies, sem a ocupação das lianas apresentaram-se com desenvolvimento normal, sem
sintomas de ataque de insetos ou patógenos.
As árvores de P. caribaea apresentaram 76-100% das suas copas ocupadas pelas lianas,
sendo colonizadas a partir da base do seu tronco por 1-4 caules de lianas, não considerando os
seus ramos. A área basal do caule das lianas que ocupam a copa das árvores da espécie varia
2,9-97,5 cm2 e a biomassa acima do solo de 1,5-137,1 Kg (Figura 13A, Tabela 2).
A) B)
Figura 13 - Características do crescimento e da ocupação das lianas no tronco e na copa das árvores
(A) Pinus caribaea var. hondurensis e (B) Tectona grandis
44
Tabela 2 - Características das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis
A extração das amostras do lenho das árvores foi feita através de método não destrutivo,
que consiste na retirada de cilindros do lenho com a sonda de Pressler (5,15 mm de diâmetro)
no DAP do tronco das árvores (1,30 m) até atingir a região da medula (Figura 14). Para a
análise dos anéis de crescimento (dendrocronologia) e para a caracterização da estrutura
anatômica macro e microscópica do lenho e dos anéis de crescimento foram retiradas 2-6
amostras do lenho/árvore das 2 espécies, totalizando 65 amostras (32 amostras de teca e 33 de
pinus) sendo utilizadas, no entanto, para a cronologia 47 amostras (23 amostras de teca e 24
de pinus). Para a obtenção dos perfis radiais de densidade do lenho foi retirada 1 amostra do
lenho/árvore (com e sem lianas) das 2 espécies, totalizando 16 amostras do lenho, com sonda
de Pressler. As amostras do lenho foram identificadas, acondicionadas em tubos de plástico e
transportadas para o Laboratório de Anatomia, Anéis de Crescimento e de Densitometria de
Raios X em Madeiras, do Departamento de Ciências Florestais ESALQ/USP. No laboratório,
as amostras do lenho foram (i) coladas em suporte de madeira, com as fibras dispostas no
sentido vertical, para a análise dos anéis de crescimento (Figura 14) e (ii) fixadas entre 2
suportes de madeira, com as fibras dispostas no sentido horizontal para que, posteriormente,
serem seccionadas no sentido transversal (1,7 mm de espessura) em equipamento de dupla
serra circular (Figura 15) e armazenadas em sala de climatização (20°C; 50% UR; 12 horas),
para posterior análise por densitometria de raios X (ZUMAETA et al., 2009).
A) B) C)
Figura 14 - Preparo das amostras do lenho. Análise dos anéis de crescimento: coleta (A);
acondicionamento (B) e lixamento (C) das amostras do lenho das árvores
46
Figura 15 - Preparo das amostras do lenho. Análise dos anéis de crescimento por densitometria de
raios X: colagem (A) das amostras entre suportes de madeira e corte transversal (B) das
amostras; amostra do lenho de Tectona grandis (C) e de Pinus caribaea var. hondurensis
(D)
Para a análise dos anéis de crescimento do lenho das árvores das 2 espécies, as amostras
do lenho foram coladas em um suporte de madeira (fibras na orientação vertical), com a sua
seção transversal polida em uma série de lixas de granulometria crescente (80-600
grãos/mm2 ) para destacar os anéis de crescimento (Figura 14C). As amostras do lenho foram
analisadas sob microscópio estereoscópico acoplado a sistema de iluminação de fibra ótica,
possibilitando a visualação dos anéis de crescimento. Em seguida, as amostras do lenho foram
digitalizadas em scanner HP Scanjet 3800 (resolução 1200 dpi), com uma escala de
referência. A demarcação, a contagem e a mensuração da largura dos anéis de crescimento
foram determinadas pelo software Image Pro-Plus (Figura 16), com os valores da largura dos
anéis de crescimento exportados e analisados pelo software Excel e construídas as séries
cronológicas dos anéis de crescimento para cada amostra do lenho; em seguida foi feita a
datação-cruzada das árvores (“cross dating”), que consiste na identificação de padrões de
crescimento que podem ser sincronizados entre as amostras de uma mesma árvore e entre
árvores possibilitando a construção de uma série cronológica de anéis de crescimento datados
no ano exato de sua formação. Desta forma, é realizada a construção das cronologias da
largura ou outra variavél dos anéis de crescimento do lenho das árvores das espécies. Após a
datação-cruzada dos anéis de crescimento do lenho, procedeu-se ao teste da qualidade da
sincronização do crescimento entre as amostras de cada espécie, utilizando o software
COFECHA, obtendo-se a série média – denominada de série máster – a partir de todas as
séries cronológicas (HOLMES et al., 1986). Após o uso do programa COFECHA foi estimada
a padronização do crescimento com o software TURBO ARSTAN 2.07, o qual ajusta uma
função de regressão aos dados da largura dos anéis de crescimento para construir os índices
cronológicos para cada uma das espécies (COOK; HOLMES, 1984). Segundo Chagas (2009),
a padronização corrige a heterogeneidade da variância dos dados de largura do anel de
crescimento, uma vez que o desvio padrão dos índices deixa de ser função da média, como
ocorria antes da padronização, pelo que este processo tem 2 objetivos (i) remover as
tendências não climáticas, relacionadas com a idade das árvores e (ii) permitir que os valores
48
padronizados das árvores individuais, com diferentes taxas anuais de crescimento, sejam
calculados juntos em uma função média. Neste método, utilizou-se a opção de ARSTAN que
realiza um ajuste das curvas da largura de anéis de crescimento a uma exponencial negativa
ou a uma regressão linear.
Figura 16 - Análise dos anéis de crescimento do lenho de Tectona grandis demarcados pelo software
Image Pro-Plus
4.4.4 Influencia das lianas no crescimento radial do tronco das árvores: Dendroecologia
O IRA representa o incremento total do tronco das árvores, sendo calculado pela
somatória dos valores da largura dos anéis de crescimento anuais de cada série para as árvores
das espécies, diferenciando-as (i) com e (ii) sem presença das lianas desenvolvendo em suas
copas. O IRMA representa o crescimento médio do tronco por ano das árvores das 2 espécies,
sendo calculado a partir dos valores do IRA, dividindo-se pelo número de anos de cada série
cronológica de anéis de crescimento. Da mesma forma, foi realizada uma estatística descritiva
para analisar a influencia da ocupação das lianas na copa das árvores, no seu crescimento em
49
Os índices da cronologia dos anéis de crescimento anuais do lenho das árvores das 2
espécies determinados pelo programa ARSTAN foram comparados com os valores mensais
de variáveis climáticas, através da correlação de Pearson, realizando uma regressão entre os
índices cronológicos (variável dependente) e os parâmetros climáticos (variável
independente), resultando em uma função de resposta para cada cronologia (BLASING et al.,
1984) que expressa a relação independente da largura dos anéis de crescimento anuais e o
clima. Foram comparados sete períodos de meses, de acordo com a estação climática do ano,
iniciando-se pela primavera (ano anterior do crescimento) até o período final de crescimento
do tronco das árvores (outono do ano ocorrente ou ano atual de crescimento), totalizando um
período de 21 meses. A estação do crescimento foi considerada para os meses com
precipitação acima de 60 mm (WORBES, 1995). Cabe destacar que o ano do crescimento do
tronco das árvores (ano biológico) não coincide com o ano calendário (ano civil)
considerando que, no hemisfério sul, as árvores iniciam os seu crescimento e
desenvolvimento no final do período do inverno e/ou início do período da primavera até ano
seguinte (Figura 17). Diferentemente, no hemisfério norte, onde o início e o término do
crescimento do tronco das árvores (ou do anel de crescimento anual) ocorrem dentro do
período de um ano, compreendendo os meses de janeiro a dezembro.
50
Ano calendario
2000 2001 2002 2003
Tabela 3 - Parâmetros climáticos analisados com os anéis de crescimento do lenho das árvores de
Tectona grandis e de Pinus caribaea var. hondurensis
Parâmetros climáticos Período Fonte
1971-
Temperatura Estação Meteorológica/ESALQ/USP
2011
1971-
Precipitação Estação Meteorológica/ESALQ/USP
2011
1971-
Índice Seca de Palmer (PDSI) Sansígolo (2004)
2001
1971-
Índice de Precipitação (SPI) Sansígolo (2012)
2011
1971-
Índice de Oscilação Sul (SOI) Trenberth e Caron (2000)
2010
1971-
Índice Trans-Nino (TNI) Trenberth e Stepaniak (2001)
2011
Índice de Satisfação de 1978-
Anexo A
Necessidade por Água (ISNA) 2011
1976-
Oscilação Antártica (AAO) Thompson e Wallace (2000)
2002
Para analisar como afeita a disponibilidade de água no solo no crescimento das árvores,
foi feita a correlação entre o crecimento radial das duas espécies, segundo a declividade, e o
ISNA. Finalmente, para determinar a relação do crescimento radial do tronco das árvores de
Tectona grandis e de Pinus caribaea var. hondurensis e (i) padrões de circulação associados
às diferenças de pressão e (ii) os eventos ENSO, foi construído um Mapa de Correlação entre
a cronologia residual dos anéis de crescimento e a média mensal da altura geopotencial de 850
hPa e a temperatura da superfície do mar (resolução 2.5°×2.5°). Os dados foram coletados da
base do National Oceanic and Atmopheric Administration (NCEP-NCAR Reanalysis)
(KALNAY et al., 1996).
2
Clóvis Sansígolo, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos, Divisão de Meio Ambiente e Clima. Comunicação pessoal. 26 de julho de 2012.
52
1,0
0,8
g/cm3
0,6
0,4
0,2
0 35 70 105 140
Distância desde medula (mm)
E)
Figura 18 - Determinação da densidade do lenho/anéis de crescimento das árvores. (A) equipamento
de raios X; (B, C) suporte metálico e encaixe das amostras do lenho; (D, E) seção do
lenho e perfil de densidade aparente (monitor e gráfico)
Image Pro-Plus foram (i) projetadas as curvas de crescimento do tronco e (ii) calculada a
massa de lenho anual, de carbono anual e total acumulada do lenho das árvores (vide item
4.3.7)
4.4.8 Análise dos vasos no lenho/anéis de crescimento das árvores de Tectona grandis
Na análise dos vasos no lenho dos anéis de crescimento das árvores de Tectona grandis
foram utilizadas as mesmas amostras do lenho das análises dendrocronológicas. Foram
selecionadas as amostras do lenho das árvores com e sem liana, selecionando entre 1-2 por
árvore raios com melhor correlação com a série máster de COFECHA, totalizando 12
54
amostras das 8 árvores. A seção transversal das amostras do lenho das árvores de teca foi
digitalizada em scanner HP Scanjet 3800 (resolução 4800 dpi, maior que a utilisada para à
mediçãos dos anéis de falsos) e, posteriormente, analisados os vasos utilizando o programa
Image Pro-Plus pelo desenho do limite dos vasos e, na sequencia, calculando a sua área.
Na secção transversal da amostra do lenho, para cada anel de crescimento anual, foi
delimitada uma área (2 mm de largura x comprimento do anel de crescimento) para a
avaliação dos vasos sendo analisada a (i) área média do total de vasos (AT), (ii) área média
dos vasos do lenho inicial (ALI), (iii) área média dos vasos do lenho tardio (ALT), (iv) área
média dos vasos da 1ª linha do lenho inicial (A1L), (v) área média dos vasos da transição
entre lenho inicial/tardio (ATr) e (vi) a frequência dos vasos (Figura 19).
Realizou-se uma análise de componentes principais (PCA) para avaliar que variavéis de
vasos tem maior relação com a largura dos anéis de crescimento anuais das árvores de teca.
As variáveis que apresentaram correlação significativa foram transformadas em índices pela
metodologia do TURBO ARSTAN (vide, Item 4.3.3) para, posteriormente, correlaciona-las
com os parâmetros do clima (BLASING et al., 1984).
ALI
ATr
2 mm
ALT
A1L
Figura 19 - Análise dos vasos em cada anel de crescimento das árvores de Tectona grandis
demarcados por o software Image Pro-Plus
55
4.3.9 Análise dos anéis de crescimento anuais falsos no lenho das árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis
Como não estão presentes a mesma quantidade de árvores em todos os anos foi feito o
ajuste desta diferença utilizando o método proposto por Osborn et al. (1997) para melhorar a
estabilidade da variância:
A formação de IADFs em um ano dado foi testada usando a equação binominal adotada
por Edmondson (2010) e Barbosa (2011), qual calcula o intervalo de confiança de 95% (IC)
da proporção de anéis falsos em um ano determinado:
Sendo p = proporção de árvores datada com IADFs em um ano; n = numero total de árvores
datado no ano.
Para que a frequência de IADFs seja significativa, p-IC deve exceder a frequência
aleatória (random background frequency) de ocorrência de IADF. O valor de frequência
56
A) B) C)
Figura 20 - Anéis de crescimento anuais falsos (vide setas) no lenho das árvores de Pinus caribaea
var. hondurensis. Escala (A,B) 1 mm; (C) 0,1 mm
Foi realizada uma análise estatística descritiva das variáveis anatômicas do lenho das 2
espécies e uma ANOVA não paramétrica (teste Kruskal-Wallis p<0,05) para avaliar a
influencia da cobertura da copa das árvores pelas lianas no: i) incremento corrente acumulado
(ICA), ii) densidade aparente, iii) variáveis de vasos em Tectona grandis (ATr, ALT e
frequência de vasos) e iv) anéis falsos em Pinus caribaea var. hondurensis. Foi utilizada uma
análise não paramétrica devido a que os valores não têm uma distribuição normal segundo o
57
teste de Shapiro-Wilks (ZAR, 1999). No caso das variáveis de vasos AT, ALI e A1L
aprovaram a prova de normalidade, pelo que a diferencia estatística significativa entre suas
médias foi analisada através do teste de comparação de Tukey (p<0,05). O Software
INFOSTAT (versão 2012) foi utilizado para as análises estatísticas e SIGMAPLOT (versão
10.0) para os gráficos.
58
59
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Além dos anéis de crescimento anuais, verifica-se no lenho das árvores de teca a
predominância de anéis de crescimento falsos do Tipo I, com 1 linha de parênquima associada
a vasos de maior diâmetro (Figura 21C). De acordo com Priya e Bhat (1998) os anéis de
crescimento falsos em árvores de teca são classificados em 4 tipos, sendo Tipo I (no lenho
inicial, com 1ou mais linhas de parênquima, vasos grandes, fibras de parede fina, precedidas
por fibras de parede espessa), o tipo II (com mudança abrupta da espessura fina da parede das
fibras do lenho inicial para uma faixa de fibras de parede mais espessa com parênquima e
vasos difusos); Tipo III (no lenho tardio, com 1 ou 2 linhas de parênquima, vasos pequenos)
60
A) 1 mm
B)
1 mm
Anel de
crescimento
Anel falso de
crescimento
C)
Parênquima
axial
Vasos
0,1 mm
Parênquima
Fibras radial
D)
0,1 mm 0,1 mm
100
%Árvores/anéis falsos
75
50
25
0
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Ano
Figura 22 - Porcentagem de árvores com anéis de crescimento falsos no lenho das árvores de Tectona
grandis (período 1976-2011)
A exemplo das árvores de teca, verifica-se, ainda, no lenho das árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis uma elevada frequência de anéis de crescimento falsos; no entanto,
as árvores de pinus apresentaram um número significativamente maior de anéis de
crescimento falsos em todo o período de crescimento das árvores. Neste contexto, os anéis
falsos podem ser muito interessantes para estudos ecológicos e climáticos, alem da
observação se existe uma influencia das lianas na formação dessas anamolias no crescimento.
Essa reação das árvores de pinus à ocupação das suas copas pelas lianas relaciona-se com a
62
A)
1 mm
Anel de
crescimento
B) 1 mm
Anel falso de
crescimento
C)
0,1 mm
D) Parênquima
radial Canal de resina
Traqueídes
0,1 mm 0,1 mm
Figura 23 - Características anatômicas do lenho das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis.
Estrutura macroscópica (A, B); microscópica (C, D), evidenciando lenho inicial e tardio
dos anéis de crescimento, anéis falsos, canal de resina, traquéides com diferencia na
espessura da parede, parênquima radial
63
1,00
0,75
%Arv/AF
0,50
0,25
0,00
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Ano
Figura 24 - Porcentagem de árvores com anéis de crescimento falsos no lenho das árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis (período 1976-2011)
O controle de qualidade da largura dos anéis de crescimento anuais das árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis demonstrou que, do total de 65 amostras do
lenho extraídas de 18 árvores (10 de P. caribaea; 8 de T. grandis), 49 amostras do lenho
apresentam um sinal comum de crescimento (25 de P. caribaea; 24 de T. grandis)
evidenciado pelas correlações significativas entre as séries de crescimento. As cronologias de
anéis de crescimento indicam 41 anos para as árvores de P. caribaea var. hondurensis e de 36
anos para as de Tectona grandis (Tabela 4; Figuras 25).
A média da largura dos anéis de crescimento anuais foi de 6,82 e de 4,95 mm/ano para
as árvores de P. caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis, com maior taxa de
crescimento do tronco verificada para os primeiros anos. As cronologias de anéis de
crescimento construídas para as árvores das 2 espécies apresentam uma inter-correlação
estabelecida pelo programa COFECHA superior a 0,59 (as 2 espécies excedem o valor da
correlação critica). O valor de sensitividade média mostra que as séries de anéis de
crescimento das 2 espécies são sensíveis (>0,30) (GRISSINO-MAYER, 2001). O sinal de
expressão da população (EPS) foi maior do que 0,85 para as 2 espécies, indicativo do
tamanho adequado da amostra (WIGLEY et al., 1984; MCCARROL; LOADER, 2004)
(Tabela 4).
64
Tabela 4 - Estatística descritiva das cronologias das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis e de
Tectona grandis
Árvores ML± σ Correlação Sensib.
Espécie Período Intercor. EPS***
(séries) (mm)* crítica**
T. grandis 1976- 8 (24) 4,95±1,52 0,599 0,515 0,92 0,424
2011
P. caribaea 1971- 10 (25) 6,82±4,56 0,597 0,422 0,94 0,399
2011
*ML ± σ: média da largura dos anéis de crescimento±desvio padrão; ** Correlação crítica pelo
software COFECHA; *** Sinal de expressão da população (“Expressed population signal”)
A idade estimada foi de 37-41 e de 30-36 anos para as árvores de Pinus caribaea var.
hondurensis e de Tectona grandis (com 1 árvore c/ 22 anos), respectivamente. Na sequencia,
com a padronização da série cronológica dos anéis de crescimento das árvores das 2 espécies
removeu-se a tendência biológica do crescimento do seu tronco, permitindo que as séries de
crescimentos individuais fossem calculadas em conjunto em uma função média e, desta
forma, estabelecer as correlações com as variáveis climáticas (Figura 25).
A literatura relata que o incêndio na Mata da Pedreira afetou áreas significativas, com a
queima total da vegetação, com somente algumas árvores permanecendo em pé
(CATHARINO, 1989) e, atualmente, caracterizadas pela grande quantidade de lianas na
cobertura do solo e ocupando a copa das árvores. A ocorrência, no passado, de incêndios
florestais afetando os fragmentos florestais e induzindo a ocupação do solo e da copa das
árvores por lianas é comumente relatada na região de Piracicaba.
65
2,0
2.0
2,0 120
110
T. grandis
Tectona grandis
100
1,5
1,5
1.5 90
Tree-ring index
80
Samples
70
1,0
1,0
1.0 60
Número de Amostras
2,0 120
2,0 50
120
2,0 120110
40
110
0,5 110100
0.5
0,5 100
30
1,5 10090
ARSTAN
90
20
index
1,5
index
1,5 90 80
80
Samples
10
index
index
80 70
Samples
0 70
Samples
0,0 0
Tree-rings
Tree-ring
1,0 6060
70
index Tree-ring
2,0
1,0
2,0 120
120
Tree-ring
2.0
2,0
1,0 5050
60
110
110
P. caribaea
Pinus
Pinus caribaea
caribeae var. hondurensis
var. hondurensis 4040
50
Índice
100
100
0,5 30
40 30
1,5
0,5
1,5
1.5 9090
2020
0,5
1,5 30
Tree-ring index
80
1080
10
20
Samples
Samples
0,0 70
0070
10
Tree-ring
0,0
1,0
1,0 60
1,0
1.0
0,0 060
1960 1970 1980 1990 2000 2010 5050
Ano 40
40
0,50,5
0,5
0.5 30
30
20
20
10
10
0
0,0
0,0 00
1960
1960 1970
1970 1980
1980 1990
1990 2000
2000 2010
2010
Ano
Year
Ano
Ano
Figura 25 - Cronologias das árvores de Tectona grandis e Pinus caribaea var. hondurensis. Linha
verde índice ARSTAN, solida (standard) e ponteada (residual).
66
As árvores sem lianas tem uma melhor correlação que as árvores com lianas, nas duas
espécies. O que demonstra o efeito prejudicial das lianas no crescimento das árvores,
provocando uma menor sincronização do crescimento (Figura 26; Tabela 5).
Por outro lado, a Tabela 5 que representa a saída do programa COFECHA, onde foram
analisadas as séries cronológicas das árvores de Tectona grandis e de P. caribaea var.
hondurensis em segmento-intervalo de 16-8 e 30-10, respectivamente, indica uma diminuição
da intercorrelação das séries de crescimento das árvores com lianas. Nas árvores de P.
caribaea var. hondurensis verifica-se que, no último período de crescimento, não houve
correlação significativa sendo que, no entanto, a cronologia (1971-2011) das árvores da
espécie com lianas continua sendo significativa. Em árvores de Tectona grandis observa-se
que o efeito prejudicial das lianas ocorre nos últimos 12 anos de crescimento, representado
pela baixa sincronização entre as séries das árvores com presença de lianas, sendo suficiente
para que sua cronologia (1976-2011) não fosse significativa.
Tabela 5 - Intercorrelação das séries cronológicas de anéis de crescimento das árvores de Tectona
grandis e de Pinus caribaea var. hondurensis com a copa com lianas Segmento/intervalo
saída do Cofecha: T. grandis; Pinus caribaea (16/8; 30/10)
* Correlação não significativa ao nível de confiança 99% (r=0,574); **ao nível de 99% (r=0,422)
67
1,5
Índice
1,0
0,5
0,0
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Ano
B) 2,0 r = 0,71 r = 0,50 r = 0,32
2,0 p < 0,01 p = 0,07* p = 0,28*
1,5
1,5
Índice
Índice
1,0
1,0
0,5
0,5
0,0
0,0
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Ano
Ano
CL SL
Figura 26 - Comparação da cronologia de anéis de crescimento das árvores com presença de lianas e
períodos comuns de crescimento. (A) Tectona grandis, (B) Pinus caribaea var.
hondurensis. *coeficiente de correlação não significativo (p<0,05)
A análise do incremento corrente anual (ICA) do tronco das árvores de Tectona grandis
indica um crescimento de 5 mm/raio até 10º ano, em seguida, nas árvores com idade juvenil o
incremento é de 5-7 mm/raio de ICA até o 20º ano; na idade adulta (últimos 10 anos)
crescimento do tronco diminui para 3,75 mm/raio/ano (Figura 27A; Tabela 6). Embora o ICA
médio das árvores de teca com lianas (5,20 mm) ser maior do que o das sem lianas (4,73 mm)
verifica-se uma importante redução do IRMA nos últimos dez anos pelo efeito negativo das
lianas ocupando a copa das árvores (Figura 27B, C).
7,5
5,0
= 4,95 mm
2,5
0,0
1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
Ano
B) 10,0 Y = 2E-07x6 - 0,0019x5 + 9,6807x4 - 25780x3 + 4E+07x2 - 3E+10x + 1E+13
R² = 0,69
Largura anél (mm)
7,5
= 5,20 mm
5,0
2,5
0,0
1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
Ano
C) 10,0 Y = 4E-07x6 - 0,0044x5 + 21,778x4 - 57917x3 + 9E+07x2 - 7E+10x + 2E+13
R²=0,20
Largura anél (mm)
7,5
= 4,73 mm
5,0
2,5
0,0
1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
Ano
Figura 27 - Incremento corrente anual (ICA) das árvores de Tectona grandis. (A) todas as árvores;
(B) árvores com e sem (C) lianas. Linha verde: tendência estimada a partir de regressão
polinominal de ordem 6.; cinza é o IRMA médio
69
17,4
11,6
= 7,00 mm
5,8
0,0
1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
B) Ano
23,0 Y = -4E-08x6 + 0,0005x5 - 2,2797x4 + 6107,9x3 - 9E+06x2 + 7E+09x - 2E+12
R² = 0,84
Largura anél (mm)
17,3
11,5
= 6,52 mm
5,8
0,0
1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
C) Ano
23,0 Y = -6E-08x6 + 0,0007x5 - 3,4206x4 + 9115x3 - 1E+07x2 + 1E+10x - 4E+12
R² = 0,85
Largura anél (mm)
17,3
11,5
= 7,18 mm
5,8
0,0
1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011
Ano
Figura 28 - Incremento corrente anual (ICA) das árvores de P. caribaea var. hondurensis. (A) todas
as árvores; (B) com lianas e sem (C) lianas. Linha verde: tendência estimada a partir
regressão polinomial ordem 6; cinza é IRMA médio
Para as árvores de Tectona grandis os dados de largura dos anéis de crescimento não
foram significativos para os fatores avaliados (Apêndice A), devido aos valores serem muito
heterogêneos, sobretudo, nas árvores com presença de lianas que apresentam o menor
coeficiente de determinação no modelo de crescimento calculado (Figura 27) sendo que, além
disso, árvores tiveram menor coeficiente de variação do 5º ao 30º ano (Tabela 6).
Tabela 6 - Estatística descritiva do ICA segundo a classe de idade e a presença das lianas das árvores
de Pinus caribaea var. hondurensis e de Tectona grandis
Pinus caribaeae Tectona grandis
Classes Lianas
CV CV
CL 10,13 3,35 32,39 3,55 0,5 1,14
1-5
SL 14,7* 5,32 19,32 4,00 3,30 82,40
CL 11,95 3,85 32,2 4,61 2,28 49,60
5-10
SL 13,76 1,19 8,62 4,79 1,31 27,31
CL 6,95 0,96 13,86 7,7 4,47 58,00
10-15
SL 6,95 1,02 14,72 6,47 2,34 36,24
CL 6,35 3,16 49,84 6,97 3,71 53,27
15-20
SL 7,91 2,84 35,83 4,76 1,24 25,98
CL 5,38 1,9 35,22 5,60 3,55 63,40
20-25
SL 4,8 1,19 24,69 4,83 1,51 31,25
CL 3,92 1,79 45,65 4,04 1,59 39,22
25-30
SL 3,83 0,76 19,85 5,11 2,39 46,73
CL 2,5 0,9 35,86 3,17 1,74 54,73
30-35
SL 2,79 0,51 18,24 4,02 2,06 46,17
CL 1,91 0,59 31,02
35-+
SL 3,10* 0,51 18,36
média CL 6,52 4,53 69,14 5,02 2,03 39,19
SL 7,18 4,88 68,01 4,73 1,40 29,73
média largura anéis de crescimento (mm); :desvio padrão; CV: Coeficiente de variação;
*Dif. sign. Kruskas-Wallis (p<0,05)
Para as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis a análise do IRA indica uma
diminuição do seu crescimento desde o início (avaliação do período comum) comprovando o
efeito negativo das lianas (Tabela 7, Figura 30). O desenvolvimento das lianas na copa das
árvores desta espécie ocorreu muito antes do que nas árvores de teca, induzindo um efeito
Tabele 7 - Incremento radial acumulado médio ± desvio padrão (mínimo-máximo) das árvores de
202,9 202,9
Pinus caribaea var. hondurensis e Tectona grandis com e sem lianas
IRA (mm)
IRA (mm)
IRA SL_suavizada
IRA CL_suavizada Média
IRA
IRA de árvores CL y = 0,0044x 3 - 26,373x 2 + 52801x - 4E+07 / R² = 0,99
CL_suavizada
CL_suavizada
160,0 160,0
75,0
80,0 80,0
IRA (mm)
0,0 0,0
1 3 550,0
7 9 11 1 13
3 155 177 199 21
1123
13251527172919312133233525372739294131 33 35 37 39 41
Idade Idade
IRA CL_suavizada
80,0
Idade
160,0
0,0 80,0
Figura 29 - Incremento radial acumulado
1 3 5 (IRA)
7 9 do11tronco
13 15 das
17 árvores
19 21 23de25Tectona
27 29 grandis
31 33 35com
37 e39sem
41
lianas (período 2000-11). Linha pontilhada: curva Idade
de crescimento das árvores; sólida:
0,0
curva de crescimento média representada por linha de tendência
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Idade
67,6 67,6
I
0,0
0,0 72 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41
Idade
270,6
270,6 Idade
Incr 1466 Incr 1467 Incr 1475 Incr 1478
320,0 320,0 Incr 1466_suavizada Incr
Incr 1467_suavizada Incr 1475_suavizada
Incr 1466_suavizada
Incr 1466 Incr
Incr 1467_suavizada
Incr1472
1467 1475_suavizada
IncrIncr
15011475 202,9
Incr 602
202,9 Incr 1478 Incr 1468
(mm)
Incr SL_suavizada
1478_suavizada IRA
Incr SL_suavizada Incr 1472_suavizada
Média de árvores SL y = 0,0022x 3
- 0,2892x 2
+ 14,545x + 6,8588 / R² = 0,99
IRA (mm)
Incr 1478_suavizada IRA
IRA SL_suavizada 1472_suavizada
IRA CL_suavizada
Incr 1472 Incr 1501 Incr 602 Incr 1468
240,0 270,6 240,0
Incr 1501_suavizada
IRA (mm)
Incr
Incr 1501_suavizada
602_suavizada Incr
Incr 602_suavizada
1468_suavizada Incr 1468_suavizada
IRA (mm)
IRA
202,9 67,6
80,0 80,0
IRA (mm)
Incr
Incr 1466_suavizada Incr 1501
Incr 1467_suavizada Incr 602
Incr 1475_suavizada
IRA CL_suavizada
IRA1478_suavizada
Incr SL_suavizada IRA CL_suavizada Incr 1472_suavizada
IRA SL_suavizada
160,0 240,0 Incr 1501_suavizada Incr 602_suavizada Incr 1468_suavizada
0,0
IRA (mm)
IRA CL_suavizada
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41
80,0
Idade160,0
0,0 80,0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41
Figura 30 - Incremento radial acumulado (IRA) do tronco das árvores de Pinus caribaea var.
0,0Idade Linha pontilhada: curva de
hondurensis com e sem lianas (período) 1971-2011.
crescimento das árvores; sólida: curva de crescimento1 média
3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 3
representada por linha de
tendência Idade
5.3.2 Resposta das árvores às variações de clima, com a presença das lianas
As árvores de Tectona grandis com lianas têm correlação negativa com a temperatura
dos meses de maior precipitação no ano corrente do crescimento (N até A +1), sendo
significativo nos meses de fevereiro (F+1) a abril (A+1). No entanto, a temperatura é
positivamente significativa no mês de fevereiro, anterior ao crescimento, enquanto as árvores
73
sem lianas, incluindo todas, são significativas no mês de março. A precipitação só foi
significativa para as árvores sem lianas e Todos, sendo significativo positivo para o
crescimento, em dezembro (D-1), novembro e fevereiro do ano corrente (N e F+1 ) (e março só
nas árvores com lianas); e significativo negativo em A+1 e S.
Em geral, as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis tem menor correlação com o
clima do que as de Tectona grandis. A temperatura tem uma correlação negativa significativa
com o crescimento radial das árvores sem lianas no mês de maio do ano prévio ao
crescimento; a precipitação tem uma correlação positiva significativa com o crescimento de
julho (árvores com lianas) e setembro (árvores com lianas).
No caso da precipitação, nas árvores de teca com lianas não apresentam uma resposta
significativa neste sinal climático, no entanto as árvores sem lianas encontram-se relacionadas
com as chuvas do verão anterior e corrente no crescimento, sendo os meses D -1, D+1, S, F+1 e
M+1 mais significativos, o que demonstra que essa espécie é sensível a precipitação
(BORGAONKAR, 2011; PUMIJUMNONG, 2013) e que as lianas tem um papel negativo no
desenvolvimento natural das árvores.
Para a determinação da densidade aparente do lenho das árvores de Pinus caribaea var.
hondurensis e de Tectona grandis foram analisados 26.006 e 16.018 pontos de densidade,
respectivamente, sendo que o coeficiente de variação de maior valor – 29,76% - foi observado
detectado para o P. caribaea pela alta flutuação da densidade dos lenhos inicial e tardio dos
anéis de crescimento (Figuras 31, 32).
apresentado por Castro (2011) (0,54 g/cm3) em uma de 20 anos na mesma região. No Brasil,
têm sido relatados valores médios de densidade aparente do lenho de 0,35-0,41 g/cm3, pelo
rápido crescimento das árvores (FRANCIS, 1992). Em plantações florestais da espécie na
Nigéria, a densidade básica variou de 0,47 a 0,68 g/cm3 (UDOAKPAN, 2013), sendo que a
procedência (genética), o sítio e manejo florestal influenciam consideravelmente no valor da
densidade do lenho (BAHUER, 1992), relatando-se que na sua região de origem, as árvores
de P. caribaea apresentam uma densidade aparente média de 0,53g/cm3 (PLUMPTRE, 1984).
1,2
Densidade madeira (cm/gm3)
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
Parâmetros Min Max Q1 Q3 n CV
Figura 31 - Variação da densidade da madeira sentido medula-casca das árvores de Pinus caribaea
var. hondurensis. Linha azul representa um suavizado mediante regressão lineal. Linha
preta representa um suavizado mediante regressão Loess
lenho de 0,65-0,73 g/cm3 em árvores jovens e adultas (KOKUTSE et al., 2004) e na Ásia a
densidade aparente do lenho variou de 0,62-0,70 g/cm3 (BAILLÈRES et al., 2000).
1,2
Densidade madeira (g/cm3)
1,0
0,8
0,6
0,4
Parâmetros Min Max Q1 Q3 n CV
0,2
0 50 100 150 200
Distância desde medula (mm)
Figura 32 - Variação da densidade da madeira sentido medula-casca das árvores de Tectona grandis.
Linha azul representa um suavizado mediante regressão lineal. Linha preta representa um
suavizado mediante regressão Loess
1,5
0,8
0,4
Figura 33 - Perfil radial da densidade aparente do lenho de Pinus caribaea var. hondurensis e o
comprimento do raio (1466-1), indicando a delimitações das regiões da madeira juvenil,
transição e adulta
1,5
0,8
0,4
0 35 70 105 140
Raio (cm)
Figura 34 - Perfil radial da densidade aparente do lenho de Tectona grandis e o comprimento do raio
(1491-1), indicando a delimitações das regiões da madeira juvenil, transição e adulta
Anteriormente, observou-se um efeito negativo das lianas (Item 5.3.1) nos últimos 10
anos do crescimento do tronco das árvores de Tectona grandis, com reflexo na densidade
aparente do seu lenho. Os resultados mostraram que, diferentemente das árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis, as árvores de teca sem a presença de lianas apresentaram maiores
valores de densidade aparente do lenho. Este efeito deve-se à menor variação da densidade
interanual do lenho das árvores de teca (MOYA et al., 2009) e, pelo fato de que, em condições
de estresse, as árvores da espécie produzem lenho com maior quantidade de parênquima,
menor teor de fibras e menor resistência físico-mecânica (BHAT; PRIYA, 2004).
79
P.caribaea T. grandis
0,80,70,8 B B
B
A
B A A
B B
0,60,60,6 B B
A
B
A A A
A
A
g/cm3
g/cm3
g/cm3
0,50,50,5
0,40,40,4 CL CLSL
CL SL SL
0,30,30,3
Juvenil
Juvenil
Juvenil Transição
Transição
Transição Adulta
Adulta
Adulta
Madeira
Madeira
Madeira
Para as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis obteve-se valor de biomassa de 590-
2525 g, considerando uma altura de 1 cm no DAP do tronco (Figura 36A). Ainda, as árvores
com e sem lianas apresentaram um acumulo similar de biomassa do lenho nos 10 primeiros
anos de crescimento do tronco. Após esta idade, árvores sem lianas apresentam maior
acumulo de biomassa comprovando o efeito negativo das lianas quanto ao acumulo de
carbono no lenho das árvores (Figura 36B, 36C). Essa tendência é observada até os 5 anos
finais das árvores, quando, neste período, as árvores com lianas apresentam maior teor de
carbono nos anéis de crescimento, similar ao das árvores sem lianas, resultado da maior
densidade do lenho dos anéis de crescimento.
ocupando a copa das árvores, vide Item 5.3.1), resultou em um incremento similar de
biomassa em todo o período analisado, diferenciando-se somente nos últimos 3 anos (3
últimos anéis de crescimento) quando as árvores sem lianas apresentaram maiores
incrementos (Figura 37B, C).
Ao longo da vida das árvores das 2 espécies houve oscilação da massa de carbono nos
anéis de crescimento anuais (Figura 36C, 37C) demonstrado que a variação do teor de
carbono depende da densidade e da largura dos anéis de crescimento. Nas árvores de Pinus
caribaea var. hondurensis verificou-se que nos anéis de crescimento de maior largura, menor
foi o teor de carbono, pela menor densidade do lenho dos anéis de crescimento na fase juvenil
(Figura 36D). Nas árvores de Tectona grandis verificou-se uma pequena tendência de que a
maior a largura do anel de crescimento implicou em maior acumulo de carbono, em um ritmo
de crescimento do tronco quase uniforme (ver Item 5.3.1, Figura 27A) indicando que a
capacidade de acúmulo de carbono foi mais influenciada pela densidade do que pela largura
do anel de crescimento anual (Figura 37D).
Essa metodologia foi aplicada por Bellote et al. (2011) na avaliação do crescimento de
árvores de Pinus taeda com objetivo de desenvolver modelos matemáticos para estimar a
quantidade de carbono acumulada nos anéis de crescimento das árvores. Os resultados
mostraram que essa técnica é adequada para estimar o acúmulo de carbono no tronco das
árvores de P. taeda sendo que, no entanto, não foi estabelecido um modelo matemático único
para estimar o acúmulo anual de carbono no lenho das árvores.
Quanto ao efeito das lianas, Phillips et al. (2002) e Schnitzer e Bongers (2002)
afirmaram que as lianas reduzem o estoque de carbono total da floresta pela interferência no
sequestro de carbono no tronco e demais partes das árvores das espécies “hospedeiras”.
Enfatize-se que o sequestro do carbono é um serviço ambiental que atende às importantes
funções importantes de manutenção da camada de ozônio, regulação dos gases GEI (Gases
Efeito Estufa) e balanço CO2 /O2, etc (DE GROOT et al., 2002). As árvores que constituem os
ecossistemas florestais manejados e em equilíbrio tem a capacidade de sequestrar maior
quantidade de carbono/ano em relação a outros ecossistemas terrestres (DIXON et al., 1994)
justificando a importância da avaliação de sequestro do carbono nesses ecossistemas
(GALLOSO; GUERRA, 2005; PERI et al., 2010). Considerando que 60% do aquecimento
global relacionam-se com o aumento da concentração de CO 2 na atmosfera e, importante que
as florestas tropicais constituam-se em significativo estoque de carbono, podendo funcionar
81
400
Biomassa (g)
como dreno de carbono (CHAMBERS et al., 300
2001) representando, portanto, grande parte do
(g)
Biomassa(g)
1000
3295
750 carbono na forma de biomassa (GRACE et al.,200
2001; LISI et al., 2009).
Biomassa
2472
500
1648 100
250
824
00 0
57 10
16 16
25 22
34 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Incremento
Incremento radial
radial (cm)
(cm) Idade
3000 1488 1491 1700 CL SL 1609
602 1466 1552
400 1492 1493
Biomassa (g)
Biomassa (g)
1467 1468
Biomassa (g)
2250 1494
1472 1495
1475 1275
300 1496
1478 1497
1501
1500 850
200
750 425
100
0 0 0
25 26 27 28 29 730 31 32 16
33 34 35 25
36 34 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41
A) Incremento
Idade radial (cm) B) Idade
66,0 50,0
CL SL
Massa C (g)
Massa C (g)
49,5 37,5
33,0 25,0
16,5 12,5
0,0 0,0
1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011 0,5 1,0 1,5 2,0
C) Ano D) Anéis de crescimento (cm)
400
Figura 36 - Árvores de Pinus caribaea var. hondurensis: biomassa acumulada em relação ao raio (A)
Biomassa (g)
e com/sem lianas em relação à idade300 (B); massa de carbono/ano com/sem lianas (C);
Biomassa (g)
1000
750 relação massa de carbono/largura anéis de
200 crescimento (D)
500
100
250
0 0
5 10 16 22 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
Incremento radial (cm) Idade
1000 1488 1491 400 CL SL 382
400 1492 1493 352
Biomassa (g)
Biomassa (g)
Biomassa (g)
0 0 0
25 26 27 28 29 530 31 32 10 16
33 34 35 36 22 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
A) Incremento
Idade radial (cm) B) Idade
50,0 50,0
CL SL
Massa C (g)
Massa C (g)
37,5 37,5
25,0 25,0
12,5 12,5
0,0 0,0
1976 1981 1986 1991 1996 2001 2006 2011 0,3 0,6 0,8 1,0
C) Ano D) Anéis de crescimento (cm)
Figura 37 - Árvores de Tectona grandis: biomassa acumulada em relação ao raio (A) e com/sem
lianas em relação à idade (B); massa de carbono/ano com/sem lianas (C); relação massa
de carbono/largura anéis de crescimento
82
Para as árvores de Tectona grandis houve uma correlação significativa positiva com a
precipitação do verão do ano ocorrente do crescimento, período com maior pluviosidade na
região (DJFa: r=0,53, p=0,002); caso haja a continuidade da precipitação nos meses seguintes
ao verão haverá aumento do crescimento do tronco das árvores (MAMa: r=0,36, p=0,03); no
entanto, houve correlação negativa da precipitação do outono anterior no crescimento
(MAMa: r=-0,34, p=0,04). Para as árvores desta espécie, a temperatura tem uma correlação
significativa com a primavera do ano ocorrente com o crescimento do tronco, indicando a
ativação do meristema cambial pelo incremento da temperatura no período (SONa: r=0,37,
p=0,03) (Figura 38A). Não foi encontrada correlação significativa entre a temperatura-
precipitação e o crescimento do tronco das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis
(Figura 38B).
83
A) Precipitação
0,550 *
0,450 Pinus caribeae Tectona grandis
Coef. correlação
*
Coef. correlação
0,300 0,450 Pinus caribeae
0,225 Tectona grandis
Coef. correlação
0,050 0,225 0,000
Temperatura Meses
B)
0,450
*
Coef. correlação
0,225
0,000
-0,225
-0,450
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
A) PDSI
0,675 PDSI *
Coef. correlação
*
0,450 Pinus caribeae Tectona grandis
Coef. correlação
0,394 0,450 Pinus caribeae
0,225 Tectona grandis
Coef. correlação
0,112 0,225
0,000
-0,169 0,000
-0,225
-0,225
-0,450 -0,450
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
-0,450
A) Meses Meses
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
B) Meses
0,650 SPI *
Coef. correlação
0,375 * *
*
0,100
-0,175
-0,450 *
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
C) 0,450 ISNA *
* *
Coef. correlação
0,225
0,000
-0,225
-0,450
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
Figura 39 - Correlação dos índices de disponibilidade de água (PDSI, ISNA, ISNA) com os anéis de
crescimento de (A) T. grandis e (B) P. caribaea var. hondurensis. Linha vertical
pontilhada: limite do crescimento prévio e atual (letras nos meses assinalam crescimento
p=prévio; a=atual). Linhas horizontais: significância estatística, (P. caribaea) e azul (T.
grandis); no caso do ISNA a linha cinza: significância estatística 2 espécies.*Período
meses com correlação significativa
Para as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis só foi significativo o índice ISNA,
com correlação com o crescimento do seu diâmetro no período de seca (junho, julho, agosto)
antes do início do crescimento. Os resultados evidenciaram que a atividade cambial inicia-se
antes nesta espécie de conífera, em comparação com a das árvores de Tectona grandis; além
disso as árvores de P. caribaea var. hondurensis não necessitam de grande quantidade de
água da precipitação para a reativação do crescimento (e atividade cambial), que ocorreu após
as primeiras chuvas do ano ocorrente. Confirma-se, portanto, que as árvores dessas espécies
podem ser utilizadas na reconstrução do ISNA para demarcar, principalmente, os anos secos
(Figura 40).
85
A) B)
2,0 2,0
1,4 1,4
ISNA
1,5 1,2 1,5 1,2
index
index
ISNA
WRSIMAM
WRSIDJF
Índice
Índice
1,0 1,0
Tree-ring
Tree-ring
1,0 1,0
0,8 0,8
MAM
DJF
0,5 0,6 0,5 0,6
Tree-ring Tree-ring
r = 0,35 p < 0,05 ISNA
WRSIDJFDJF 0,4 r = 0,44 p < 0,05 WRSI MAM
ISNA MAM 0,4
0,0 0,0
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
Year Ano
Year
C)
2,0 1,0
0,8
1,5
index
ISNA
WRSI JJA
Índice
0,6
Tree-ring
1,0
0,4
JJA
0,5
0,2
Tree-ring
r = 0,33 p < 0,05 ISNA
WRSIJJAJJA
0,0 0,0
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
Year
Figura 40 - Comparação do ISNA e índice dos anéis de crescimento no período significativo (Fig. 35)
Tectona grandis (A,B), Pinus caribaea var. hondurensis (C)
FONSECA, 1991), por isso o excesso de água no solo no outono anterior pode afetar
negativamente o crescimento do tronco no periodo corrente, deduzindo-se que a perda das
folhas pode-se retardar e induzir um desequilíbrio hormonal refletido no crescimento radial do
tronco das árvores de teca. Essa dependência das árvores de diferentes espécies em florestas
tropicais em relação às chuvas de verão tem sido relatada na literatura por inúmeros autores
(PUMIJUMNONG et al., 1995; RAM et al., 2008; BORGAONKAR et al., 2011; D’ARRIGO
et al., 2011b; DEEPAK et al., 2010).
Ao analisar os índices de crescimento das do tronco das árvores das duas espécies em
relação à declividade do terreno e os índices de aridez (Figura 41), observa-se uma influencia
direta do clima sobre o crescimento radial do tronco. Note-se que, nas três classes de
declividade, os anéis de crescimento das árvores de Tectona grandis apresentaram correlação
significativa com o período de maior precipitação na sessão de crescimento (dezembro a
maio). As árvores de teca situadas em declividade alta (> 25%) mostraram-se diretamente
dependentes da disponibilidade de água, antes ou durante a estação de crescimento, sugerindo
que as árvores que crescem nas encostas mais íngremes são afetadas pela menor retenção de
água no solo devido ao maior escoamento de água, com o aumento das chuvas favorecendo o
crescimento da árvore. Enquanto que, para as árvores de Pinus caribaea var hondurensis, foi
observado no período seco (junho, julho e agosto), antes do início do crescimento, com o
destaque de somente o índice ISNA mostrar resultado significativo. Indica-se que as árvores
da espécie apresentam maior potencial de crescimento do tronco nas áreas mais planas, com a
variação de crescimento mais importante relacionada à disponibilidade de água na estação
seca.
87
Figura 41 - Correlação dos índices com os anéis de crescimento das árvores de acordo a declividade
do terreno. (A) Pinus caribaea var. hondurensis; (B) Tectona grandis. Letras nos meses
assinalam tipo de crescimento p=prévio e a=atual. * Correlação significativa p<0,05; **
correlação significativa p< 0,01.
Muitos autores assinalam que o sinal do evento ENSO é débil na região do sudeste do
Brasil, por ser uma região de transição caracterizada por anomalias de chuva com sinais
opostos, definindo a fronteira entre a condição seca do Nordeste e chuvosa do Sul do Brasil
(GRIMM; FERRAZ, 1998; COELHO et al., 2002). No entanto observa-se, pelo resultado do
presente trabalho, um efeito negativo no crescimento do tronco das árvores com o aumento
dos valores mensais de TNI (Figura 42B). No Brasil, o sinal forte do evento do ENSO ocorre
no Rio Grande do Sul, norte do Nordeste e sudoeste da Amazônia (ROPELEWSKI;
HALPERT, 1987; GRIMM et al., 1998), sendo que na região sudeste do Brasil só aparece em
eventos fortes como o da La Niña de 1924/25 (seca intensa) e o El Niño de 1982/82 (chuva
intensa) (SANSIGOLO, 2012).
A) SOI
0,400
0,450 Pinus caribeae Tectona grandis
Coef. correlação
Coef. correlação
0,200 0,450 Pinus caribeae Tectona grandis
0,225
Coef. correlação
0,225
0,000 0,000
0,000
-0,200 -0,225
-0,225
-0,450
-0,400 SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
SONp DJFp MMAp-0,450
JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
Meses
B) TNI
0,400
Coef. correlação
0,200
0,000
-0,200
-0,400 *
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
C)
0,500 AAO *
Coef. correlação
0,250
0,000
-0,250
-0,500
SONp DJFp MMAp JJAp SONa DJFa MAMa
Meses
Figura 42 - Correlação dos índices de evento de El Niño (ENSO) SOI e TNI com os anéis de
crescimento das árvores de Tectona grandis e de Pinus caribaea var. hondurensis. Linha
vertical pontilhada=limite entre o crescimento prévio e atual (letras nos meses assinalam
tipo de crescimento p=prévio e a=atual; linhas horizontais indicam significância
estatística, vermelha (P. caribaea var. hondurensis) e azul (T. grandis).*Período de meses
com correlação significativa
Existe um incremento da temperatura média anual nas últimas décadas associado aos
valores positivos da AAO (GARREAUD et al., 2009), sendo que assinalam uma diminuição
da precipitação na fase positiva da AAO. Marshall e Connolley (2006) demostraram que um
aumento da temperatura da superfície da água do mar nas altas latitudes do Hemisfério Sul
provoca o aquecimento da atmosfera e, pelos processos termodinâmicos, ocasiona o
levantamento do centro de massa da atmosfera e aumento da altura geopotencial gerando,
assim, índices mais negativos da AAO.
das árvores de teca e o TNI e AAO, registraram-se a temperatura da água da superfície do mar
e a altura geopotencial de janeiro-agosto do ano prévio e março-maio do ano corrente,
respectivamente (Figura 42), sendo feita a análise para as árvores desta espécie pela
significância observada nesse período (Figura 43).
Desta forma, o crescimento do tronco das árvores de Tectona grandis, a nível regional,
é favorecido pelas anomalias da TSM da região Niño 1+2 e no atlântico sudeste encontram-se
abaixo e acima da média, respectivamente, durante a estação do crescimento anterior e baixas
alturas geopotenciais sobre a Antártica no outono atual. Como a pressão atmosférica e a altura
geopotencial se relacionam positivamente, um aumento da altura geopotencial significa,
também, um aumento na pressão (GARREAUD et al., 2009) neste caso na Antártida, pelo que
a maior pressão nesta região significa uma fase positiva da AAO e, portanto, uma correlação
positiva com a cronologia de Tectona grandis, em Piracicaba-SP.
91
A)
A)
B)
B)
Figura 43 - Padrões da correlação espacial entre a cronologia residual (A) temperatura da superfície
do mar (TSM) no período janeiro-agosto prévio do crescimento de 1977-2011; (B) altura
geopotencial 850 HPa de março-maio corrente do crescimento de 1978-2012. Coloração
alaranjada corresponde à área de estudo. Área com linhas vermelhas pontilhadas: região
do Niño 1+2
92
5.6.1 Efeito das lianas nas dimensões dos vasos no lenho das árvores
? 13,47
13,47 13,25
3000
Min
Mín. 0,49
0,49 0,49
Máx Mín 105,93
Máx. 105,93105,93
Máx 9,87
2000
Q1
Q1
Q3 9,87
Q1 27,44 9,43
Q3n 27,44
16.393
Q3 26,48
1000 n 16.393
97,7-105-8
49-1-57,2
32,9-41,0
41,0-39,1
57,2-65,3
65,3-73,4
73,4-81,5
81,5-89,6
89,6-97,7
16,7-24,8
24,8-32,9
8,7-16,7
0,5-8,6
No Item 5.3 observa-se o efeito negativo das lianas no crescimento do tronco das
árvores de Tectona grandis representado pela redução da largura dos anéis de crescimento
anuais nos últimos 12 anos (2000-11). Por essa razão, a análise da influência das lianas no
lenho das árvores foi realizada neste período, pela determinação da área de vasos nas 6
variáveis: AT: Área média/total de vasos; ALI: Área média dos vasos/lenho inicial; A1L:
Área média dos vasos/1ª linha lenho inicial; ALT: Área média/vasos lenho tardio; ATr: Área
média dos vasos/transição lenho inicial-tardio; Freq: Frequência dos vasos.
Os resultados da análise estatístico mostraram que, para as variáveis AT, ALI, ALT e
ATr, existem diferenças significativas entre as árvores com e sem presença de lianas no
período avaliado (AT: p<0,001; ALI: p=0,02; ALT: p<0,001; ATr: p<0,001; Frequência:
p=0,01); sendo que as árvores de teca com lianas apresentaram valor médio de AT, ALI, ALT
93
e ATr maior de 30,5, 10,3, 29,0 e 34,9%, respectivamente, em relação às árvores de teca sem
lianas. Em relação ao período (anos) observaram-se diferenças significativas do valor médio
de ALI, A1L e de ATr e os anos do período avaliado (2000-11) (ALI: p=0,002; A1L:
p=0,013; ATr: p= 0,015) revelando no ano 2002 um aumento significativo das variáveis ALI
e A1L de 26,8 e 27,6%, respectivamente, em comparação com a média dos demais anos. Para
a variável ATr observou-se no ano 2004 um incremento significativo 44% maior em
comparação com a média dos demais anos (Tabela 9).
A análise da influencia das lianas no lenho das árvores de teca para os vasos/ano
verificou-se que as árvores com lianas apresentaram maior valor significativo de AT e ATr no
ano 2001, 2002, 2003, 2004, 2006, 2007, e em ALI no ano 2000; para a frequência dos vasos
no lenho das árvores observou-se maior frequência nas árvores lianas nos últimos anos (a
exceção de 2011) destacando a significância no ano 2007 e 2010 (Tabela 9, Apêndice C).
Das 5 variáveis que avaliaram a área de vasos no lenho das árvores, 4 (AT, ALI, ALT,
ATr) foram significativas quanto à influência das lianas, sendo que as árvores com lianas
apresentaram maior valor médio para essa variável. Para compreender o significado dos
resultados é importante destacar a função dos vasos no equilíbrio da eficiência e da segurança
na condução hidráulica (ZIMMERMANN, 1983), com vasos de menor diâmetro
privilegiando a segurança; os de maior diâmetro mais eficientes na condução hidráulica
(LOCOSELLI et al., 2013).
As árvores com a copa ocupada pelas lianas têm menor área foliar e menor taxa de
fotossíntese, produzindo menor quantidade de hormônios de crescimento, com as auxinas que
têm importante papel importante na ativação e divisão das células do câmbio (SCARPELLA;
MEIJER, 2004). As lianas exercem um peso adicional no tronco e copa das árvores,
principalmente quando desenvolvidas e lignificadas, afetando o normal desenvolvimento do
tronco e a atividade cambial (ENGEL et al., 1998). Neste contexto, as células cambiais
possuem pressão mais elevada, portanto, maior pressão de turgor, afetando a plasticidade
celular e a composição das pectinas, formando vasos de maior diâmetro (MELLEROWICZ et
94
al., 2001). As análises no lenho árvores de folhosas indicam que as alterações na quantidade e
composição de pectinas têm um importante papel na expansão celular radial (CATESSON;
ROLAND, 1981; BARNETT, 1992).
Tabela 9 - Área média ± desvio padrão das variáveis dos vasos no lenho das árvores de Tectona
grandis com e sem lianas (período: 2000-11)
O crescimento das árvores é controlado pelo equilíbrio hídrico que, por sua vez, é
influenciado pela absorção e transpiração de água, que são processos fisiológicos condicionados
pelo teor de umidade do solo e pelas condições atmosféricas ( ANGELOCCI et al., 2004). A
ocupação da copa das árvores de teca pelas lianas induz maior taxa de transpiração das
95
árvores maior pressão hidráulica sobre os elementos de vaso, refletindo no aumento do seu
diâmetro. O efeito negativo da ocupação da copa das árvores de teca pelas lianas, pode ser
considerado como direto (redução da copa, massa adicional, etc.) e indiretos (aumento do
diâmetro dos vasos, não na frequência – razão dos anéis de crescimento das árvores sem
lianas serem mais largos, Item 5.3.1). Além disso, as árvores de teca com lianas apresentam
correlação negativa entre o crescimento radial do tronco e a temperatura dos meses mais
quentes, pela maior taxa de evapotranspiração no período (Item 5.4.2) e, em consequência,
pela formação de vasos de maior diâmetro no seu lenho.
Na análise dos componentes principais (PCA) das variáveis dos elementos de vasos e da
largura dos anéis de crescimento anuais do lenho de 8 árvores de teca referente ao período
comum de 1978-2011 (sem diferenciar as árvores com e sem lianas), observa-se que os 2
componentes principais multivariados representam 74% da variabilidade total (PC1=39,7;
PC2=34,3%) (Figura 45). O 1º componente indica que as variáveis mais importantes são a
área média dos vasos/lenho inicial (ALI) e a área média dos vasos/1ª linha do lenho inicial
(A1L), enquanto para o 2º componente é composto pela frequência dos vasos e a largura dos
anéis de crescimento anuais (Tabela 10).
Tabela 10 - Contribuição das variáveis no PCA (autovectores) das variáveis dos vasos/largura dos
anéis de crescimento do lenho de Tectona grandis (período:1978-2011)
Variáveis e1 e2
AT 0,346 -0,486
ALI 0,554 -0,020
ALT -0,135 0,086
A1L 0,556 0,050
Atr 0,280 -0,455
FR 0,223 0,558
LAR 0,343 0,485
AT: Área média do total de vasos; ALI: Área média dos vasos/lenho inicial; A1L: Área média dos
vasos/1ª linha do lenho inicial; ALT: Área média dos vasos/lenho tardio; ATr: Área média dos
vasos/transição lenho inicial-tardio; Freq: Frequência dos vasos; Larg: Largura dos anéis do
crescimento
5,00
Frequência
2,50 Largura
PC 2 (34,3%)
ALT A1L
0,00
ALI
AT
-2,50 Atr
-5,00
-5,00 -2,50 0,00 2,50 5,00
PC 1 (39,7%)
Figura 45 - Representação das variáveis no PCA dos vasos/largura dos anéis de crescimento do lenho
de Tectona grandis (elipses representam: maior relação das variáveis)
O resultado da correlação das variáveis (Tabela 11) indica que a largura dos anéis de
crescimento anuais correlaciona-se positiva e significativamente com a área média dos
vasos/lenho inicial (ALI, r=0,420, p=0,013), área média vasos/1ª linha do crescimento (A1L,
r=0,491, p=0,003) e a frequência/vasos (Freq, r= 0,293, p<0,001). Observa-se, além disso,
uma correlação positiva significativa entre a média da área total/vasos (AT), área média
vasos/lenho inicial (ALI, r=0,521, p=0,002) e área média vasos/transição lenho inicial-tardio
(ATr, r=0,868, p<0,001) e entre ALI e A1L (r=0,921, p<0,001). Neste contexto, Giantomasi
et al. (2008) conseguiram altas correlações altas entre a largura dos anéis de crescimento e a
frequência dos vasos (r=0,76) e a média da área total/vasos (r=0,80) no período de 65 anos.
97
As séries das variáveis ALI, A1L, frequência dos vasos e largura dos anéis de
crescimento anuais foram padronizadas com o software ARSTAN, resultando em aumento da
correlação entre as variáveis (Tabela 12, comparada com a Tabela 11) onde a relação entre as
variáveis apresentou correlação significativa positiva (sem a padronização não houve
significância estatística entre a frequência dos vasos e ALI e A1L). Destaca-se que a
correlação entre a largura do anel de crescimento anual e ALI aumentou em 10%,
aproximadamente, em termos do coeficiente de correlação.
Foram construídas cronologias da área média vasos/lenho inicial (ALI), área média
vasos 1ª linha/lenho inicial (A1L) e frequência dos vasos (Figura 46). As médias de ALI e de
A1L foram de 35,3 e de 37,1 x103µm2, respectivamente; frequência dos vasos e largura dos
anéis de crescimento anuais foi de 49,5 vasos/anel de crescimento e 5,4 mm, respectivamente.
Nessas 2 últimas variáveis nota-se um alto desvio padrão devido às oscilações da largura dos
anéis de crescimento, maiores no início do crescimento do tronco das árvores (Tabela 13).
Verifica-se (Tabela 13) que todas as variáveis (exceto ALI) têm sensitividade média
acima de 0,30 (GRISSINO-MAYER, 2001), indicando que as árvores de Tectona grandis
respondem às variações das condições ambientas referentes aos parâmetros ALI, A1L e a
frequência de vasos, variações que são evidentes no lenho de somente algumas árvores. A
sensitividade média maior para a largura dos anéis de crescimento foi relatada em outros
estudos (PUMIJUMNONG; PARK, 1999; FONTI; GARCÍA-GONZÁLEZ, 2004; TARDIF;
CONCIATORI, 2006).
98
Tabela 11 - Matriz de correlação das variáveis dos elementos de vasos e a largura dos anéis de
crescimento no lenho das árvores de Tectona grandis (período: 1978-2011)
Larg
-0,174 AT
0,420 0,521 ALI
0,491 0,395 0,921 A1L
0,078 -0,058 -0,184 -0,258 ALT
-0,111 0,868 0,277 0,251 -0,061 ATr
0,932 -0,369 0,211 0,319 0,064 -0,289 Freq
Em negrito as correlações significativas (p<0,05).
Tabela 12 - Matriz de correlação da ALI, A1L, freq. e largura dos anéis de crescimento do lenho de
Tectona grandis padronizadas com ARSTAN (período: 1978-2011)
Larg
0,51 ALI
0,52 0,89 A1L
0,79 0,45 0,53 Freq
Todas as correlações são significativas (p<0,05).
99
1,6 1,6
A)A)
1,2 1,2
Ìndice ALI
Ìndice ALI
1,0 1,0
0,8 0,8
0,6 0,6
1,2 1,2
Ìndice A1L
Ìndice A1L
1,0 1,0
0,8 0,8
0,6 0,6
0,2 0,2
C)C) 1,6 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1,6
ANO
Ìndice Largura anéis de crescimento
1,4 1,4
Frequência
1,2 1,2
Frequência
1,0 1,0
0,8 0,8
Ìndice
Índice
0,6 0,6
0,2 0,2
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
ANO
ANO
Figura 46 - A) Cronologia da área média dos vasos do lenho inicial (ALI) e largura dos anéis de
crescimento. B) Cronologia da área média dos vasos da primeira linha do lenho inicial
(A1L) e largura dos anéis de crescimento. C) Cronologia da frequência de vasos e largura
dos anéis de crescimento. Todas as cronologias são para o período 1978 e 2011
100
Tabela 13 - Estatística descritiva das ALI, A1L, Frequência de vasos e largura dos anéis de
crescimento de Tectona grandis
A área média dos vasos/lenho inicial (ALI e A1L) e a frequência dos vasos
apresentaram correlação positiva com o período de maior quantidade de chuva, demonstrando
a importância da água na condução hidráulica do lenho das árvores de Tectona grandis,
semelhante ao relatado, para a espécie, por Pumijumnong e Park (1999). As árvores de teca
teriam maior disponibilidade de água geralmente acima de sua capacidade de absorção,
resultando em altos níveis de hidratação e de maior pressão de turgor (MELLOROWICZ et
al., 2001). Quanto à temperatura, observou-se que ALI, A1L e a frequência dos vasos
mostraram correlação positiva na primavera, embora alguns autores assinalaram que a
influencia negativa da temperatura na formação e na dimensão dos vasos no lenho das árvores
de Tectona grandis (PUMIJUMNONG; PARK, 1999) e de outras espécies de folhosa com
anéis de crescimento porosos (GIANTOMASI et al., 2008; LOCOSELLI et al., 2013). No
entanto, o resultado do presente estudo foi semelhante ao de Fonti et al. (2007) com árvores
de Castanea sativa e de Fonti e García-González (2008) com árvores de Quercus petraea e de
Q. pubescens. Neste contexto, as árvores de Tectona grandis começariam a reativar sua
atividade cambial na estação da primavera induzindo a formação dos vasos do lenho inicial.
101
Fonti et al. (2007) afirmaram que, antes do início da primavera, a temperatura tem influência
negativa sobre a dimensão dos vasos pela quiescência e reserva do armazenamento das
árvores; no entanto, iniciada a atividade cambial no começo da primavera a temperatura
desempenha importante papel importante na formação dos primeiros vasos no lenho das
árvores. As auxinas, ácido indolacético (AIA) e outros hormônios controlam a divisão e
diferenciação celular no lenho das árvores (MELLEROWICZ et al., 2001; SCARPELLA;
MEIJER, 2004) com destaque aos elementos vasculares de transporte ascendente de água +
sais minerais (ALONI; ZIMMERMANN, 1983).
Neste contexto, pode-se deduzir que as altas temperaturas na primavera nesta região do
estado do São Paulo influenciam mais significativamente as características anatômicas dos
vasos (A1L e frequência dos vasos) do que a largura dos anéis de crescimento anuais das
árvores de Tectona grandis. Portanto, pode ser de interesse na reconstrução da anomalia da
temperatura em pesquisas dendroclimatológicas na região. Ferreira (2012) sinala que a
anomalia da temperatura (ou precipitação) indica a proporção de variação, para mais ou para
menos, do parâmetro em questão, em relação à média do parâmetro.
102
Temperatura (SON)
Precipitação (DJF)
1,2 1,2 800
24,0
Índice ALI
Índice ALI
22,0
0,8 0,8 400
ALI ALI
r = 0,339, p = 0,05 Tem (SON) r = 0,393, p < 0,05 Pp (DJF)
0,6 20,0 0,6 200
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
ANO ANO
1,4 1000
B) 1,4 26,0
Precipitação (DJF)
Temperatura (SON)
1,2 800
1,2
24,0 Índice A1L
Índice A1L
1,0 600
1,0
22,0
0,8 400
0,8
A1L
A1L
r = 0,373, p < 0,05 Pp (DJF)
Tem (SON)
0,6 200
0,6 20,0
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
ANO ANO
Precipitação (DJF)
Índice Frequência
22,0
0,6 0,6 400
Frequência Frequência
Tem (SON) r = 0,493, p < 0,05 Pp (DJF)
r = 0,568, p < 0,05
0,3 20,0 0,3 200
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
ANO ANO
D) 12
Figura 47 - Cronologia das variáveis dos vasos x precipitação acumulada de dezembro-fevereiro e
temperatura média de setembro-novembro, período de 1978-2011: (A) ALI; (B) A1L; (C)
Amostras do lenho
5.7 Análise dos anéis de crescimento falsos do lenho das árvores de Pinus caribaea var.
hondurensis 8
na formação dos anéis de crescimento falsos no lenho das árvores de estudo – induzindo as
flutuações de densidade intra-anuais no lenho; ou IADFs: Intra-annual density fluctuations –
é muito importante. Desta forma, foram contados 573 anéis de crescimento falsos em 18
amostras do lenho de 8 árvores de Pinus caribaea var. hondurensis (extração das amostras do
lenho: método não destrutivo) no período de 1971-2011. Verificou-se que o maior número de
anéis de crescimento falsos foi formado no lenho das árvores no 15º ano, com 38 IAFDs; no
1º, 2º e 4º ano não foi observada a formação de anéis de crescimento falsos, sendo que a
média de anéis de crescimento falsos foi de 13,9 IAFDs/ano, com desvio padrão de 8,3
IAFDs/ano. Do total de anéis analisados 23 formaram falsos anéis de crescimento
significativamente (Figura 48).
Em todas as classes de idade das árvores, a presença das lianas induz menor formação
de anéis de crescimento falsos no lenho das árvores, em relação às árvores sem lianas, sendo
significativas nas últimas duas classes de idades (Figura 49B). Este comportamento parece
vinculado à influência da ocupação das lianas na copa das árvores, reduzindo a competição
por luz e afetando processos fisiológicos importantes como o fluxo de seiva elaborada e
mineral, taxa de fotossíntese, respiração, constituindo uma camada vegetal de cobertura da
copa das árvores, etc. e, desta forma, diminuindo a taxa de divisão celular na camada cambial
e a sensibilidade das árvores às variações características da sazonalidade climática; sendo que
as árvores de Pinus caribaea var. hondurensis com lianas apresentaram menor correlação
entre si e com o clima (ver Item 5.3.2). A literatura menciona, ainda, que as lianas mantêm
104
0,8
40 1,0
Numero IADF
40
30 IADF/Árvores
1,0
Numero IADF
IADF/Árvores
0,8
Proporção IADF/árvores
0,6
0,8
Proporção IADF/árvores
30
30
Numero IADF
0,6
Numero IADF
20 0,6 0,4
20 0,4
20 0,4
0,2
0,2
10 10 0,2
10
0,0
0,0
0,0
0
00
1824 10
26 11
2027 12
2128 13
14
30 15
2331 16
17
18
34 19
2635 20
21
22
38 23
2939 24
25
41 26
3142 27
32 28
33 2930
34 31
35 32
36 3334
37 35
38 36
39 3738
40 39
41 40
42 4142
0
16 1
1317 23
19 4
1520 56
7
23 89
810
911
12
1013
1114
1215
1418
1621
1722
1925
2229
2432
2533
2736
2837
3040
00
11
22
33
445
56
678
79
Ano
* * * * Ano
**** **** **** **** ** *
Idade
Figura 47 - Distribuição de frequência do IADF por idade das árvores: i) total de IADF, ii)
proporção de IADF/árvore. * Representa os anos significativos com formação de IADFs
(valor limite 0,62) A tabela representa os parâmetros estatísticos.
0,5
0,0 105
0-5
5-10
10-15
15-20
20-25
25-30
30-35
35-+
Classe de idade
A) 2,0 Com lianas Sem lianas
1,5 *
1,0
f
0,5
0,0
CL SL
B) Lianas
2,0
* *
1,5
1,0
f
0,5
0,0
0-5
5-10
10-15
15-20
20-25
25-30
30-35
35-+
Classe de idade
Figura 48 - Valor médio da frequência estabilizada de anéis de crescimento falsos (f ) no lenho das
árvores de Pinus caribaea var. hondurensis (±desvio padrão) diferenciando-se pela
presença/ausência de lianas: A) média das árvores; B) classe de idade. * Dif. sign.
Kruskas-Wallis (p<0,05)
O valor médio da frequência estabilizada dos anéis de crescimento falsos (f) formados
no lenho das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis possibilitou a construção de uma
cronologia de anéis de crescimento falsos (sem considerar a presença das lianas nas copas das
árvores) (Figura 50), analisando a influência da precipitação e da temperatura mensal na
formação de IAFDs (Figura 51). Pode-se observar que a frequência de IADFs teve uma maior
sensibilidade climática que a largura dos anéis de crescimento nesta espécie.
106
A formação de IADFs nos 23 anos significantes mostra uma maior correlação com a
precipitação acumulada que a temperatura, especialmente no período de maior chuva no ano
corrente do crescimento (DFJ: r=0,46 e MAM: r=0,42, ambos os períodos com p<0,05). Esse
resultado está influenciado principalmente pelas altas precipitações de fevereiro (r=0,54,
p<0,01) e abril (r=0,43, p<0,05). Alem disso, as chuvas no mês mais seco (julho) antes que
comece o período de crescimento das árvores de Pinus caribaea var. hondurensis, tem uma
influência positiva significativa na formação de anéis falsos (r=0,43, p<0,05).
Ainda, a análise da frequência dos anéis de crescimento falsos formados no lenho das
árvores de espécies de pinus é fundamental para a dendrocronologia pela complementariedade
em relação às metodologias que utilizam como parâmetro a largura dos anéis de crescimento,
ao definir o número e diferenciar a formação dos IADFs nos lenhos inicial e tardio dos anéis
de crescimento anuais (CAMPELO et al., 2006; DE LUIS et al., 2011). Neste contexto, as
árvores de Pinus caribaea var. hondurensis formam significativo número de anéis de
107
1,5
f
0,8
0,0
1971
1975
1979
1983
1987
1991
1995
1999
2003
2007
2011
B)
Ano
18
Árvores
12
Muestras
7
Ano
1
1971
1975
1979
1983
1987
1991
1995
1999
2003
2007
2011
Ano
Figura 49 - Cronologia ajustada dos anéis de crescimento falsos do lenho das árvores de Pinus
caribaea var hodurensis: todas as árvores (A); com lianas (B); sem lianas (C). Linha
vermelha: tendência estimada a partir das regressões polinominais
Temperatura Precipitação
0,6 **
Coef. correlação
* * *
* *
0,3
0,1
-0,2
-0,5
SEP
JJA
NOV
DEC
JUN
SON
AUG
JUL
JAN+1
FEB+1
APR+1
MAR+1
MAY 1
MAM
OCT
DJF
Período de crescimento
6 CONCLUSÕES
A influência do clima na largura dos anéis de crescimento é mais evidente nas árvores
de T. grandis do que em P. caribaea, em nível local e em grande escala, observando-se (i)
correlação positiva no período de maior precipitação (dezembro-maio), temperatura de
primavera e com a Oscilação Antártica (AAO) de outono do ano corrente; (ii) correlação
negativa com o SPI (prévio) e o evento do El Niño (TNI) em outono (corrente). Além disso, a
largura dos anéis de crescimento anuais das árvores de T. grandis e de P. caribaea mostrou
correlação significativa com os valores de ISNA mensal de SON-MAM e JJA,
respectivamente, no período de 1978-2011. Confirma-se, portanto, que as árvores das espécies
podem ser utilizadas na reconstrução do ISNA para demarcar, principalmente, os anos de
baixa disponibilidade de água no solo, sendo este um novo e importante índice de aridez a ser
utilizado na dendroclimatologia.
das 2 espécies, demonstrando que essas variavéis contém importantes sinais ecofisiológicos
para a aplicação nas análises de climatologia integrada, além da dendrocronologia clássica da
largura dos anéis de crescimento anuais e ser potenciais para aplicação em reconstruções
climáticas em regiões tropicais.
111
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Xilema, Lima, v. 1, p. 81-86, 2009.
128
129
ANEXO
130
131
Sendo:
O déficit de pressão de saturação do vapor média diária (DPV), está expressado por a
diferencia entre a pressão parcial de vapor (es) e a pressão atual de vapor (ea), onde:
132
em que Rns é o saldo de radiação de ondas curtas e Rnl o saldo de radiação de ondas longas.
O saldo de radiação de ondas curtas (Rns) é baseado na radiação solar global (Rs) e um
albedo padrão = 0,23:
O saldo de radiação solar de ondas longas é baseado na pressão parcial de vapor (ea) e a
radiação solar global (Rs), radiação solar do céu claro (Rso), radiação extraterrestre (Ra), dias
julianos (J), temperatura máxima e mínima, latitude (-0,3962 rad), insolação e dois
coeficientes locais da fração da radiação extraterrestre (a = 0,26 e b = 0,51).
133
No caso do fluxo de calor (G), Allen et al. (1998) recomenda que para períodos diários
G pode ser desprezível, o que foi adotado neste trabalho.
Evapotranspiração real (EVR): foi estimada a EVR mensal a partir do método do balanço
hídrico proposto por Thornthwaite e Mather (1955), qual considera a variação do
armazenamento de água do solo. Os cálculos foram em função das planilhas no ambiente
Excel (balanço hídrico normal) desenvolvidas por Rolim et al. (1998).
APÊNDICES
136
137