Ensino Inclusivo Ou Ensino Insersivo
Ensino Inclusivo Ou Ensino Insersivo
Ensino Inclusivo Ou Ensino Insersivo
ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv7n1-546
RESUMO
A inclusão escolar é um tema muito discutido entre os profissionais da educação e pela
sociedade em geral. A constituição de 88 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação –
LDBB asseguram a todos o direito de um ensino inclusivos no qual seja respeitada as
individualidades dos sujeitos, porém essas garantias legais ainda não são suficientes
para que se tenha um ensino de caráter inclusivo. O presente artigo traz o relato de uma
experiência docente, em que o contexto do ensino remoto (imposto pela pandemia do
novo coronavírus) desnuda uma realidade do ensino presencial. Como acontece o
trabalho pedagógico com as crianças com necessidades especiais na sala de aula? Será
que as mesmas estão efetivamente incluídas ou apenas inseridas? Esse relato esta
fundamentado nos pressupostos teóricos de Matias (2000), Mazola (2008), Nector
(2013) dentre outros autores. A metodologia consta de uma revisão literária sobre a
temática abordada seguida da análise das experiências de conflitos entre inserção e
inclusão nas práticas pedagógicas remotas de alguns professores. Ao final desse
trabalho acredita-se ter despertado entre a classe docente uma reflexão de reconstruir
seus conceitos de inclusão escolar e ensino inclusivo.
ABSTRACT
School inclusion is a widely discussed topic among education professionals and society
in general. The constitution of 88 and the Law of Directives and Bases of Education -
LDBB guarantee everyone the right to an inclusive education in which the individualities
of the subjects are respected, however these legal guarantees are still not enough to have
an inclusive education . This article presents an account of a teaching experience, in which
the context of remote education (imposed by the new coronavirus pandemic) reveals a
reality of face-to-face education. How does pedagogical work happen with children with
special needs in the classroom? Are they actually included or just inserted? This report is
based on the theoretical assumptions of Matias (2000), Mazola (2008), Nector (2013)
among other authors. The methodology consists of a literary review on the subject
addressed followed by the analysis of the experiences of conflicts between insertion and
inclusion in the remote pedagogical practices of some teachers. At the end of this work,
it is believed to have aroused among the teaching class a reflection on reconstructing their
concepts of school inclusion and inclusive teaching.
1 INTRODUÇÃO
Falar em inclusão escolar é perceber a educação como um direito de todos como
bem estabelece a constituição de 88 e a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação.
Porém o que se observa nas salas de aula é na verdade uma inserção travestida de inclusão.
Os muitos anos no trabalho docente evidenciam, em nossa percepção, que o que
muitos chamam de inclusão, na verdade é uma simples inserção, ou seja, o aluno com
necessidades especiais é inserido na sala regular (porque a lei lhe assegura esse
direito) no entanto não lhe é dado a condição de interagir com os demais alunos.
A experiência com aulas remotas na escola em que trabalhamos deixa isso bem
claro: tarefas iguais para todos os alunos, sendo que na turma existem alunos com
deficiências intelectuais sem a menor condição de realizar tais atividades e, a professora
no entanto não pensou em uma adaptação para esses alunos.
A observação de situações como essa justificam esse artigo, que tem por objetivo
suscitar entre a classe docente uma reflexão acerca dos conceitos de inserção e inclusão
escolares, possibilitando ao mesmos uma renovação em suas práticas pedagógicas no
sentido de contribuir para um ensino efetivamente inclusivo.
A metodologia aqui empregada consta de uma revisão literária sobre a questão em
discussão e uma análise de situações vivenciadas na escola que colocaram em questão os
conceitos de inclusão e inserção escolar a partir das aulas remotas. As experiências são
apresentadas e analisadas à luz dos teóricos tendo como consequência uma ampla reflexão
dos conceitos de inserção e inclusão escolar
5 RESULTADO E DISCURSSÃO
A constituição brasileira de 88 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB
Nº 9394/96 representaram um grande avanço no que se refere à educação como um direito
de todos, ou seja, esses documentos legais asseguram a todos o acesso às escolas regulares
independente das diferenças e necessidades especiais que o aluno venha a ter.
Muitas são as defesas em torno da educação para todos e de uma escola inclusiva,
porém um questionamento é pertinente: Até que ponto o que denominamos de escola
inclusiva, ou ensino inclusivo é verdadeiramente um ensino inclusivo?
Será que garantir o acesso à escola para todos, consequentemente é garantir a
inclusão para todos? Montoan (2006) nos responde essa questão ao defender que inserir
não se confunde com incluir. Inserir é permitir o acesso ao passo que, incluir e criar as
condições de permanência.
Pela experiência vivenciada por esse grupo de pesquisadores em uma escola
pública municipal que atende aluno do Ensino Fundamental menor (1º ao 5º ano) e em
cujas turmas existem alunos com diversas necessidades especiais (autismo, deficiência
intelectual e paralisia cerebral) antes da pandemia, foi possível verificar o
desenvolvimento de atividades com alunos do Atendimento Educacional Especializado –
AEE e, nesse período de pandemia do coronavírus, as aulas aplicadas por meio remota,
nos revelou uma realidade da modalidade presencial que no fundo todos sabíamos,
porém ninguém se atrevia a questionar, “quando não se mexe na ferida ela parece que
está sarada”.
A ferida que nos referimos aqui é a inclusão escolar. Na modalidade presencial
os alunos com necessidades especiais estavam na sala regular, porém sem interagir com
os demais, pois não tem um currículo e um planejamento adaptados para as suas
necessidades, e muitas vezes, até existe um planejamento adaptado, mas o mesmo é
apenas uma exigência da coordenação e não se reflete na prática diária.
O professor da sala regular, bem como colocou Mazzota (2008), não se sente
responsável pelo trabalho com o aluno com necessidades especiais para ele, essa
responsabilidade é do professor de AEE.
Por muitas vezes direcionando a fala ao professor do AEE com as seguintes falas:
“Você pode ficar com esse menino aqui pra eu poder dar minha aula? ” ou “Como é que
eu posso dar aula assim?”.
Na realidade, o aluno com necessidades especiais está inserido na sala regular e
não incluído, as aulas remotas mostraram-se um retrato do que acontece na sala de aula,
ou seja, as aulas e as atividades são planejadas pensando apenas nas crianças “ditas
normais” como se as crianças com necessidades especiais não precisassem assistir a essas
aulas e muito menos realizar as tarefas propostas.
Vejamos algumas das situações observadas na escola.
A professora x tem um aluno com autismo, no nível pré- silábico. Será que a
mesma ao planejar sua aula e elaborar essa tarefa levou em consideração a necessidade
de incluir esse aluno? Com certeza não, pois essa atividade, sem uma adaptação, não é
possível ao aluno em questão realiza-la.
Diante disso as mães questionam, como meu filho irá fazer as atividades “será que
a tia não sabe das dificuldades do menino? ”.
Aquelas mães inconscientemente estão cobrando das professoras e da escola um
ensino inclusivo onde os seus filhos tivessem assegurado não só o direito de pertencer
aquela turma, mas de interagir, de participar como todos os outros.
Em sua turma a professora y tem um aluno com autismo e outro com paralisia
cerebral. Da mesma forma que na atividade proposta pela professora x é nítida a
desconsideração das limitações desses alunos e a ausência de um planejamento adaptado,
onde são respeitadas as diferenças e individualidades dos alunos.
Essas duas situações não foram situações pontuais, muito pelo contrário,
aconteceu em quase todas as turmas em que há alunos com alguma deficiência.
Após essas observações, a professora do AEE procurou junto aos professores
trabalhar a adaptação das aulas e das atividades, o fato surpreendente é a concepção dos
docentes de que cabe somente a professora do AEE o trabalho com esses alunos.
Aqui vale um questionamento: os alunos com necessidades especais são alunos
da sala regular ou não? Se é a professora de AEE que deve trabalhar com esses alunos,
consequentemente eles não fariam parte da sala regular.
Essa concepção por parte dos docentes é preocupante e confirma a situação de
simples inserção dessas crianças na sala regular, visto que as professoras não se sentem
responsáveis pelo trabalho com as mesmas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no estudo teórico acerca do paradigma inclusão x inserção no contexto
escolar, bem como nos fatos observados nas aulas remotas dos professores de uma escola
pública municipal, foi possível inferi que a construção de uma escola inclusiva no Brasil
começa a ser discutida a partir da Constituição Federal de 1988 e se intensifica com a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação de 96.
Nesse percurso houve grandes avanços, porém muito ainda se tem a percorrer. A
questão da inclusão escolar ainda se concentra no campo do discurso, da teoria, muito se
discute e pouco se realiza, o que temos de concreto é uma escola regular com práticas de
inserção transvestida de escola inclusiva, isso ficou patente nas aulas remotas citadas
aqui.
Na perspectiva da mera inserção a preocupação é apenas em garantir aos alunos
com necessidades especiais o acesso à escola regular, entretanto o acesso à escola regular
por si só não assegura a inclusão dessas pessoas ao contexto escolar.
Uma escola inclusiva exige bem mais que um prédio adaptado, exige acima de
tudo um corpo docente que pense de forma inclusiva, que em seus planejamentos
considere a existência do aluno com necessidades especiais e adapte metodologia e
atividades para possibilitar a esse aluno interação com seus pares e consequentemente,
lhe seja garantida a condição de crescimento e de desenvolvimento, só assim estaremos
caminhando rumo à construção de uma escola e de um ensino efetivamente inclusivos.
REFERÊNCIAS
BRASIL (Congresso Nacional). Redação final do projeto de lei nº 1258-C, de 1988, “que
fixa diretrizes e bases da educação nacional”. Diário do congresso Nacional, Suplemento
80, 14/05/1993.