Inclusão Escolar Ou Segregação

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Brazilian Journal of Development 73114

ISSN: 2525-8761

Inclusão escolar ou segregação? um estudo de caso em escolas de


Aracaju-SE

School inclusion or segregation? a case study in schools in Aracaju-SE

DOI:10.34117/bjdv7n7-472

Recebimento dos originais: 09/06/2021


Aceitação para publicação: 21/07/2021

Taiana do Vale Figueiredo da Conceição


Pós - graduanda em Psicopedagogia Institucional e Clínica
EMEF Professora Mercedes Carvenalli Klein
Rua Icatu, n° 390, Bl 01, apartamento 1307. Bairro: Parque Industrial. São José dos
Campos – SP CEP: 12235-649
[email protected]

Kátia Regina Lopes Costa Freire


Doutora em Educação
Professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Rua: Adeodato José dos Reis, 1275, cond. Aquarelle Bleu 1304. Bairro: Nova
Parnamirim
Parnamirim-RN CEP: 59152-820
[email protected]

RESUMO
Este artigo apresenta reflexões sobre o processo inclusivo dos alunos com deficiência em
duas escolas: uma pública e uma particular, buscando compreender as necessidades de
formação dos docentes, suas posturas, metodologia, avaliação e possíveis projetos
desenvolvidos pelas instituições. Para isso, foram realizadas entrevistas com professores
e equipe gestora e observações para coleta de dados, consistindo a pesquisa em um Estudo
de Caso. Observou-se posturas e metodologias divergentes, alguns discursos
contraditórios e suspeita de segregação de alunos com deficiência em uma das escolas
pesquisadas. A Educação Inclusiva é garantida por vasta legislação, apesar de na prática
continuar distante do ideal almejado, sobretudo pela falta de efetivação das políticas
públicas.

Palavras-chave: Educação; Formação docente; Inclusão escolar.

ABSTRACT
This paper presents reflections on the inclusive process of students with disabilities in
two schools: one public and one private, seeking to understand the needs of teachers'
training, their attitudes, methodology, assessment and possible projects developed by
the institutions. To this end, interviews were conducted with teachers and management
team and observations were made to collect data, consisting of a Case Study. We
observed divergent postures and methodologies, some contradictory speeches and
suspicion of segregation of students with disabilities in one of the schools surveyed.
Inclusive Education is guaranteed by vast legislation, although in practice it remains far

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from the desired ideal, especially due to the lack of effectiveness of public policies.

Keywords: Education; Teacher Training; School Inclusion.

1 INTRODUÇÃO
O presente artigo consiste em atualização do resultado de pesquisa desenvolvida
para trabalho monográfico do curso de pedagogia que teve como objetivo refletir sobre o
processo de inclusão escolar dos alunos com deficiência, em uma escola particular e outra
pública na cidade de Aracaju -SE.
Urge reconhecer os avanços conquistados, mais especificamente com relação às
legislações vigentes no Brasil, mas, ressalta-se que continuamos distantes do ideal de
educação de qualidade para todos.
As instituições de ensino devem fazer todas as adaptações necessárias para o
acesso, permanência e ascensão dos estudantes com deficiência, aos diferentes níveis de
ensino. As dificuldades de acessibilidade para toda e qualquer criança com deficiência,
em primeira instância, é de responsabilidade governamental, seguindo de
responsabilidades dos pais e das instituições, sejam elas públicas ou privadas.
Neste processo, tão importante quanto as adaptações para acessibilidade dos
estudantes é a atitude acolhedora de toda equipe escolar. A acessibilidade atitudinal é o
que de fato irá garantir que o processo de inclusão seja bem sucedido e, para isso,
conhecimento é fundamental. Aí entra a importância da formação continuada dos
profissionais da educação acerca da inclusão escolar dos estudantes com deficiência.
Com isso, a pesquisa desenvolvida pretendeu a analisar o processo de inclusão em
duas unidades escolares: uma da rede privada e uma da rede pública, com relação a
metodologia, acessibilidade e acolhimento nas salas de ensino regular. As questões
norteadoras foram: qual a metodologia utilizada para as crianças com deficiência? A
instituição adapta o currículo, materiais e estrutura física para seus alunos com
deficiência? É ofertada ao docente algum tipo de capacitação? O capítulo encontra-se
embasado teoricamente em Mantoan (2003), Stainback & Stainback (1999), Freire e
Lima (2021), Carvalho (2016) e Silva (2014).
Diante desses questionamentos, foi desenvolvido um Estudo de Caso através de
observações e entrevistas com os professores e equipe gestora das escolas pesquisadas. O
foco foi o processo de inclusão na sala de aula regular, uma vez que as Salas de Recursos
constituem em Atendimento Educacional Especializado nas quais seu atendimento deve

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ocorrer em horários opostos as aulas, com a função de trabalhar as necessidades


específicas de cada deficiência, mediando e facilitando a aprendizagem dos conteúdos
abordados em sala de aula. Todo o processo metodológico de pesquisa, bem como seus
resultados serão abordados no segundo tópico deste capítulo que, antes, traz um breve
histórico sobre o movimento da inclusão no Brasil e os principais conceitos envolvidos.

2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Para que atualmente a inclusão seja realidade nas escolas brasileiras, mesmo que
ainda distante do que seria o ideal, um longo percurso de lutas e conquistas foi trilhado.
Freire e Lima (2021), em seu texto “Da exclusão à inclusão: a trajetória da educação
inclusiva”, afirmam que a inclusão se caracteriza “pelo direito de todos a uma sociedade
que transcenda os preconceitos, discriminações e barreiras impostas pelas diferenças
sociais, econômicas, de gênero, credo, cultura ou etnia” (2021, p. 10). Entretanto,
convencionou-se associar ao termo inclusão as questões que envolvem as pessoas com
deficiência, exemplo disto é o fato de a Lei Brasileira de Inclusão ser denominada de
“Estatuto da pessoa com deficiência”. Segundo os autores:

[...] a Educação Inclusiva consiste no desafio de oferecer uma educação de


qualidade a todos, inclusive às pessoas com deficiência. Incluir não é apenas
garantir o acesso à educação através de legislações específicas é, sobretudo,
promover o desenvolvimento pleno das habilidades e capacidades, respeitando
suas limitações, afim de que esse indivíduo tenha condições de prosseguir na
sua formação pessoal e profissional. (FREIRE E LIMA, 2021, p.10).

Assim, para que a inclusão ocorra faz-se necessário um somatório de fatores,


dentre eles a Educação Especial que consiste em “modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais” (BRASIL, 1996). A Sala de Recursos Multifuncionais é o locus
da Educação Especial no Brasil, assim como os Centros de Referência e serviços
prestados por Organizações Não Governamentais (ONGs), mas não foi sempre assim.
Historicamente, a Educação Especial consistia na única possibilidade de acesso à escola,
fosse através de Salas separadas, as famosas “salas especiais” já numa tentativa de
integração, ou, segregados, nas instituições especializadas em cada deficiência, como por
exemplo a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). De acordo com Freire
e Lima (2021):

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apesar da idade moderna e da idade contemporânea terem sido


marcadas pelo movimento da segregação, ou seja, da reclusão das pessoas com
deficiência e transtornos mentais em casas de internação ou nos porões e sótãos
das residências, ainda assim aconteceram fatos de exclusão. Um exemplo foi
o extermínio de pessoas com deficiências físicas, intelectuais e sensoriais pelos
nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Estes eram considerados
improdutivos, doentes e, portanto, inferiores, de acordo com os padrões
impostos pela Eugenia e por uma suposta superioridade ariana e, da mesma
forma que algumas etnias, foram mortos nos campos de concentração.
(FREIRE E LIMA, 2021, p. 13).

Em suma, os movimentos que antecederam a inclusão da pessoa com deficiência


foram a exclusão, a segregação e a integração, sendo esta última uma tentativa de integrar
os estudantes com deficiência ao ambiente escolar, porém sem os esforços e adaptações
necessários por parte das instituições. A partir da constatação de que apenas “aceitar” os
alunos com deficiência nas instituições escolares não lhes garantia a aprendizagem,
iniciou em meados da década de 1980 toda a discussão acerca da inclusão.
Assim, para concretização do processo inclusivo as escolas devem promover
oportunidades adequadas, o que, segundo Silva (2014, p. 35), isso ainda não foi
concretizado e, pior, “[...] a corroboração de outros estudiosos, insinua que há grande
probabilidade de um grande número de pessoas com deficiência continuarem excluídas
por muitos anos e outras morrerem na situação de exclusão.”
Sendo assim, pesquisadores da área de inclusão estão sempre revisitando
conceitos e refletido sobre práticas desenvolvidas e sobre a própria legislação, com vistas
a aprimorar os conhecimentos e ultrapassar as barreiras ainda existentes. Os relatos de
professores que ainda não se sentem capacitados para atuar na área ou até mesmo uma
certa resistência em dar aulas para alunos com deficiência, é realidade nas escolas
brasileiras, nos diferentes níveis de ensino. De acordo com Carvalho (2016):

Os professores alegam (com toda razão) que, em seus cursos de formação, não
tiveram a oportunidade de estudar a respeito, nem de estagiar com alunos de
Educação Especial. Muitos resistem, negando-se a trabalhar com esse alunado
enquanto outros os aceitam para não criarem áreas de atrito com a direção das
escolas. Felizmente, há muitos que decidem enfrentar o desafio e descobrem a
riqueza que representa o trabalho na diversidade. (CARVALHO, 2016, p.29).

Desta maneira, imagina-se que o professor que fosse melhor preparado poderia
desenvolver habilidades e comportamentos mais positivos referente às pessoas com
deficiência em sala de aula, uma vez que, estariam capacitados para desenvolver tais
habilidades, propiciando um processo de ensino e aprendizagem de qualidade. Apesar
dos avanços com relação à criação de componentes curriculares voltados à Educação

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Inclusiva nos cursos de Licenciatura, ações de formação continuada para os professores


continuam escassas.
Na grande engrenagem necessária para que a inclusão de fato ocorra, a efetivação
das políticas públicas inclusivas é a mola propulsora, é o que coloca a engrenagem em
movimento. Apesar do vasto arcabouço legal que garante os direitos das pessoas com
deficiência no Brasil, é notória a distância existente entre a realidade e o que está no papel.
Dessa forma, apesar dos avanços e conquistas alcançados nas últimas décadas, muitos
foram também os retrocessos. O Estatuto da Pessoa com deficiência (2015) apresenta um
novo paradigma ao afirmar que as sociedades é que são deficientes quando não incluem
à todos, sem distinção, mas enquanto a garantia de oportunidades equitativas não for
realidade, continuaremos dando passos para trás.

3 O ESTUDO DE CASO
As observações ocorreram em 2018, envolvendo duas escolas da cidade de
Aracaju, capital sergipana. A escolha por uma escola da rede pública e outra da rede
privada ocorreu pelo fato de, a partir de um Estudo de Caso e com as generalizações
cabíveis, fazer um comparativo entre estas realidades. Além das observações foram feitas
entrevistas semi estruturadas com as professoras e coordenação das escolas. De acordo
com Stake (1995), os pesquisadores do estudo de caso qualitativo são concebidos como
intérpretes e coletores de interpretações. Dessa forma, pretende-se neste tópico
compartilhar as interpretações apreendidas durante a coleta de dados e, da mesma forma,
o “como” a questão da inclusão é interpretada pelos docentes e gestores pesquisados.
Com relação aos dados coletados na escola particular, foram constatadas algumas
contradições. Inicialmente, ao apresentar a pesquisa à coordenação da escola e solicitar
permissão para acessar as dependências e fazer as entrevistas, a recepção foi bastante
calorosa, o que deu a falsa sensação de que tudo transcorreria da maneira conforme
planejado. Entretanto, no dia marcado para a entrevista, esta não pôde ser realizada como
planejado, ou seja, a coordenação pediu para responder às questões do roteiro como a um
questionário e informou que o mesmo deveria ser feito pela professora. Além disso, foi
permitido o acesso a apenas a uma turma denominada “com inclusão”, os demais espaços
foram observados de longe, ao caminhar pela instituição, mas sem ter o acesso permitido.
Foi questionado a professora sobre a recepção e atividades desses alunos e a
resposta dada foi que eles eram tratados com atenção para que os mesmos sentissem estar
sendo tratados com igualdade em sala de aula, as atividades eram adaptadas às suas

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necessidades. Entretanto, observei que os mesmos não ficavam na sala de ensino regular,
visto que a reação dos demais colegas era de euforia, ao ter a criança em sala no período
em que estavam sendo observados, como se isto não fizesse parte do cotidiano da sala de
aula.
A professora não possui especialização na área nem no período de graduação e,
posteriormente, lecionando na instituição não foi ofertada nenhuma qualificação para
atender de melhor forma as crianças matriculadas. Foi questionado também a
acessibilidade para essas crianças e a mesma informou que a escola estava adaptada para
recebê-los. No quesito evento, relatou que as crianças se faziam presentes em todos.
Quando questionada sobre como avaliava a aprendizagem dos alunos, respondeu
com um simples “Bom”, não sabendo relatar com precisão qual o nível de aprendizagem
em que mesmos se encontravam ou quais métodos avaliativos utilizava.
Direcionando as respostas da coordenação, algumas informações foram dadas
provando a falta de conhecimento com relação sobre a inclusão, uma vez que tratava de
forma igual as mesmas. Como dito anteriormente, não foi possível ser questionada,
apenas respondeu a próprio punho as perguntas elaboradas previamente.
Durante o questionário foi perguntado sobre a quantidade de alunos com
deficiência matriculados na instituição e a mesma limitou-se ao que diz respeito ao Ensino
Fundamental I, pois é de conhecimento visível, pelo menos mais um com Paralisia
Cerebral, cursando a Educação Infantil.
Um dos questionamentos mais marcantes foi no que se diz respeito às adaptações
feitas na escola para dar acessibilidade às crianças com deficiência, a resposta foi a
seguinte: “Foi colocado tela na parte de cima, uma grade na sala especial por conta do
aluno autista.”. Relatou-se também que existia uma auxiliar para acompanhar as crianças
em todas as atividades. A menção à esta sala especial fez aumentar a suspeita de que os
alunos seriam encaminhados para uma outra sala de aula, “especial”, separados dos
alunos sem deficiência, na qual permaneciam durante todo o tempo.
Outra contradição diz respeito a formação continuada dos docentes: a professora
relatou não haver nenhum curso preparatório ou de capacitação, já a coordenação
informou que realizam palestras com especialistas, cursos rápidos e debates.
A coordenação relatou também não adaptar os eventos para as crianças com
deficiência o que entra em contradição com a informação prestada pela professora de que
as crianças participavam efetivamente dos eventos, sabe-se que para algumas deficiências

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se faz necessário uma adaptação para garantir a presença dessas crianças, pois, mesmo
querendo trata-las com igualdade eles necessitam de uma atenção especial.
Ao conversar informalmente com alunos da sala de aula pesquisada, estes
informaram que os colegas com deficiência são retirados da sala todas as manhãs e
levados para outro local, só retornando para a sala de aula regular no momento de voltar
para casa,
Durante a observação na escola pública foram constatadas muitas dificuldades,
sobretudo orçamentária devido às restrições de verbas governamentais, porém com toda
dificuldade percebeu-se um maior interesse dos funcionários em atender às crianças com
deficiência da melhor maneira.
Foi relatado pela mesma que a turma onde leciona é atípica, pois a maioria são
alunos com deficiência e numa turma de Educação de Jovens e Adultos. Disse também
realizarem sempre um trabalho de acolhimento e fortalecimento do respeito às diferenças.
As atividades são praticamente adaptadas em “grupos”, de acordo com as limitações
cognitivas e habilidades de cada um.
Sobre sua formação na área de inclusão, relatou ter conhecimento básico durante
a graduação e faz a diferença com busca de leituras na área e orientações da equipe
pedagógica da Sala de Recursos, completou dizendo que, foram elaboradas oficinas de
T.A. (Tecnologia Assitiva), ministrada pela secretária da escola que é mestranda na área,
para os professores da instituição.
Quanto a cursos fornecidos pela Secretaria de Educação para formação da mesma,
ela informou que poucos chegam ao seu conhecimento e ainda não teve como participar
dos cursos pois, sua jornada de trabalho não lhe permitiu ausentar-se para agregar esses
conhecimentos ofertados.
A metodologia para atender as crianças com deficiência, consiste em trabalhado
com materiais concretos, como jogos prontos ou confeccionados para determinado grupo
ou aluno, envolvendo a ludicidade e sempre a participação de todos os presentes em sala.
Quando se tratou de acessibilidade, informou que no espaço físico não havia
problemas, porém, não existe preparo para os funcionários da instituição, faltam
cuidadores e material para ser trabalhado com algumas deficiências, principalmente cegos
e baixa visão.
A relação entre os colegas diz ser respeitosa, mesmo contendo deficiências
diversas numa mesma sala, é trabalhado o amor e carinho entre eles. Os eventos

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proporcionados pela escola são para a participação de todos dentro da limitação que
apresentam para o proposto.
Referente a avaliação dos alunos, a professora conseguiu esclarecer com precisão
como acontece, mostrou que conhecia os alunos em sala e relatou que devido aos
comprometimentos e limitações que apresentam, o rendimento é lento, porém existe sim
a evolução de todos eles. Relatou que são tratados igualitariamente, sem privilégios ou
privações.
Em entrevista com a coordenadora, esta preferiu ser bem objetiva, atuando em
dois turnos relatou apenas algumas situações, principalmente no que se refere às
deficiências, algumas foram esquecidas ou preferiu não relatar.
A escola contém 35 (trinta e cinco) alunos com deficiência matriculados na
instituição, com deficiências variadas e para atender aos alunos com uma determinada
idade, informou ter sido necessário abrir turmas de EJA (Educação de Jovens e Adultos),
onde a maioria possui deficiência. Além dessas adaptações em turmas, ocorreu mudanças
no espaço físico da instituição, como rampas, banheiros adaptados e solicitação de
cuidadores.
Quando questionada sobre atendimento individual para essas crianças a resposta
da mesma foi: “Por lei, os alunos com deficiência têm direito ao AEE (Atendimento
Educacional Especializado). Aqueles que desejam são matriculados na Sala de Recurso e
desenvolvem trabalhos com a Psicopedagoga.”
Não existe auxiliar acompanhando as atividades dos alunos, apenas cuidadores
para direcioná-los aos banheiros e no momento da alimentação. A instituição prepara seus
funcionários através de oficinas, mas não obriga a participação dos mesmos. Relatou
possuir alunos que foram diagnosticados com deficiência após a matricula na instituição,
mas não relatou a deficiência nem mesmo o processo para o diagnóstico.
Ao ser questionada sobre o número de alunos com deficiência por sala, afirmou
estar ciente que deveriam ser dois alunos por sala, mas nas turmas de EJA existem bem
mais que o número permitido. Quanto aos projetos da instituição a mesma disse que a
instituição tem como princípio a inclusão, assim todas as atividades abarcam as crianças
com deficiência.
Com base nos relatos feitos acerca das observações e entrevistas realizadas, é
possível perceber um movimento tanto da professora, quanto da equipe da escola pública
no sentido de que a inclusão de fato ocorra. Mesmo com os desafios e entraves, a equipe
da escola buscou meios, ainda que extraoficiais, como o caso das oficinas ministradas

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pela secretária da escola, para oferecer a formação continuada. Da mesma forma, a


disposição e postura da professora da escola pública investigada foi notoriamente
inclusiva e acessível com relação ao desenvolvimento pleno dos seus alunos. Cabe
destacar que a mesma possuía uma sala de aula desafiadora em vários aspectos, tanto na
quantidade de alunos com deficiência, quanto ao fato de estarem na Educação de Jovens
e Adultos e de terem deficiências de características e níveis cognitivos diversos.
Entretanto, esses entraves não se tornaram barreiras intransponíveis ou falsos discursos
de que existe inclusão, onde de fato se quer ocorre integração.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da pesquisa alguns obstáculos tiveram que ser superados: na
instituição privada ao invés de entrevista, optaram por responder o questionário, o
resultado foi conclusivo ao final de tudo, na rede pública a observação e entrevista foram
mais acessíveis.
Como descrito anteriormente, as escolas ainda não estão preparadas para incluir,
algumas integram as crianças com deficiências enquanto outras segregam. Durante a
pesquisa bibliográfica pudemos construir um conhecimento sobre o que é a Inclusão,
como devem ser a prática dentro da escola e nas salas de ensino regular.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela professora da escola pública, sobretudo
ao fato de que seus alunos foram colocados em uma turma de Educação de Jovens e
Adultos (EJA), por já possuírem uma idade avançada para serem matriculados em turmas
de ensino regular, como mencionado, o que é considerado segregação, esta procurou
meios de vencer as dificuldades e ofertar um ensino de qualidade. Percebeu-se que a
instituição da rede pública mesmo possuindo limitações, sobretudo financeiras, tendo
uma turma quase exclusiva para alunos com deficiência, ainda buscam elaborar projetos
e encontrar meios para acompanhar as dificuldades destes alunos.
A instituição privada trouxe uma visão bastante comercial, das adaptações
sofridas na sala especial, como foi relatado pela coordenadora e quanto à elaboração de
eventos adaptados que confirmou não os realizar. Conclui-se que falta o entendimento do
real significado de inclusão, de tratar o aluno com deficiência de forma equitativa, atender
as limitações dessas crianças, não demonstrar exclusão, mas sim reconhecimento das
habilidades de cada aluno e a participação e permanência dos mesmos na instituição e
ascenção nos diversos níveis de ensino.

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Diante de todo o processo de pesquisa as observações não foram aleatórias, pois,


ao realizar as entrevistas e questionários, foi possível relatar o que seria concreto e
desejável comparando ao que havia sido respondido. Para alcançarmos a inclusão ainda
é preciso uma longa jornada, pois estamos nos deparando com o descaso dos Estados com
relação à efetivação das políticas públicas, além do desinteresse da instituição, da
coordenação, da equipe pedagógica e principalmente dos docentes. Após essa mudança
estaremos prontos para incluir, até lá no máximo estamos integrando as crianças com
deficiência, apesar de toda exigência legal.

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