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Escola psicológica: teoria behaviorista

Objetivos de aprendizagem

• Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:


Identificar a contribuição da escola behaviorista para a psicologia como ciência
humana.
• Analisar o processo de construção behaviorista e a sua influência no estudo do
comportamento.
• Reconhecer os conceitos behavioristas relativos à aprendizagem
comportamental.

Introdução
Compreender o comportamento humano é uma das grandes questões da psicologia.
Nesse sentido, o behaviorismo tem uma grande importância para a psicologia, devido
à sua perspectiva prática e concreta. Watson e Skinner, dois expoentes da escola,
entre outros, contribuíram sobremaneira com a noção de comportamento que
possibilitou à psicologia o status de ciência que tem hoje.
Neste capítulo, você aprenderá sobre a contribuição da escola behaviorista para a
psicologia como ciência humana, analisará o processo de construção behaviorista e a
sua influência no estudo do comportamento, bem como aprenderá a reconhecer os
conceitos behavioristas sobre a aprendizagem comportamental.

A contribuição da escola behaviorista para a psicologia como ciência


humana
O termo behaviorismo começou a ser utilizado pelo americano John Broadus Watson
(1879–1958), remetendo a behavior, do inglês comportamento, sendo, por isso,
também conhecido como comportamentalismo.
A ideia principal da escola behaviorista é a de que é possível uma ciência do
comportamento, ou seja, uma ciência que tenha como objeto de estudo o próprio
comportamento humano (BAUM, 2019).
Para compreender o desenvolvimento da escola behaviorista e sua contribuição para a
psicologia enquanto ciência, faz-se necessário uma retomada histórica dos seus
principais conceitos, principalmente no que se refere ao behaviorismo metodológico,
que tem como principal estudioso o supracitado Watson, e o behaviorismo radical,
desenvolvido principalmente por Burrhus Frederic Skinner (1904–1990) (BAUM, 2019).
Sendo assim, neste escopo do capítulo, você verá essa breve retomada histórica do
desenvolvimento da escola behaviorista, com ênfase na compreensão dos
behaviorismos metodológico e radical.

Behaviorismo metodológico e as principais contribuições de Watson


para a psicologia
A versão inicial do behaviorismo, conhecida como behaviorismo metodológico, baseia-
se na compreensão de realismo, ou seja, se opõe à concepção mentalista que era
vigente na época. A concepção mentalista, até então adotada, compreende que o
objeto de estudo da psicologia é a consciência, sendo assim, está associado a algo
interno à pessoa, não visível, o que fazia o foco da psicologia estar voltado para os
processamentos internos, mentais, em um movimento introspectivo. Já a escola
behaviorista tem uma compreensão bastante diferente. O behaviorismo, como dito
anteriormente, compreende que o objeto de estudo da psicologia é o próprio
comportamento humano, ou seja, essa visão tem como foco a causa real, exterior e
separada do mundo interno e subjetivo da pessoa. Essa forma de compreender o
objeto de estudo da psicologia, fortemente utilizada pelo behaviorismo, ficou
conhecida como realismo (BAUM, 2019).
Tendo como base a compreensão realista, o behaviorismo metodológico, também
conhecido como behaviorismo antigo, tem enfoque no método, por acreditar que o
único caminho possível para o desenvolvimento da ciência sob uma perspectiva
realista é o mundo objetivo, isto é, o que é observável por outra pessoa. Por essa
razão, e pela ênfase no que é observável, o behaviorismo metodológico também ficou
conhecido como psicologia do outro (BAUM, 2019).
No entanto, a ênfase no comportamento observável começou a apresentar algumas
lacunas para a compreensão de comportamento do behaviorismo metodológico. Isso
ocorre quando se tenta explicar alguns comportamentos que não são possíveis de
serem observados, como, por exemplo, o fato de alguém sentir sede ou medo. Na
concepção do behaviorismo metodológico, esses comportamentos deveriam ser
descritos da forma mais real possível, o que fez a metodologia se aproximar bastante
da fisiologia, devido, principalmente, à dificuldade de se observar alguns
comportamentos (MATOS, 1995).
Com a expressão dessas lacunas, o behaviorismo metodológico começou a se
aproximar cada vez mais da fisiologia, na tentativa de explicar comportamentos que
não eram observáveis por outras pessoas. Entretanto, ainda assim, muitas lacunas
permaneceram em aberto, como, por exemplo, a compreensão das razões que fazem
alguém se comportar da forma como se comporta. Essas lacunas fizeram a escola
behaviorista ter a necessidade de se transformar e de evoluir sua compreensão de
comportamento. Essa transformação foi ocorrendo principalmente a partir das
contribuições de Skinner e do desenvolvimento do behaviorismo radical, como você
verá adiante (BAUM 2019).

Behaviorismo radical e as principais contribuições de Skinner para a


psicologia
Após o início da escola behaviorista, desenvolvida principalmente por Watson, o mais
importante behaviorista, sem dúvida, foi Skinner (1904–1990). Skinner desenvolveu a
linha de estudo que ficou conhecida como behaviorismo radical, em 1954, e tem
influenciado muitos psicólogos ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos
e em países fortemente influenciados pela psicologia norte-americana, como é o caso
do Brasil (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
Mesmo sendo uma evolução do behaviorismo metodológico, o behaviorismo radical,
diferentemente do anterior — que tinha como base a compreensão realista —, tem
como base uma outra compreensão de ciência: a compreensão pragmática. O
pragmatismo entende que a validade de uma ciência não está apenas na busca pela
verdade, como defende o realismo, pois considera que qualquer verdade pode ser
questionada ao longo do tempo, e uma nova perspectiva pode ser considerada válida.
Nesse sentido, o behaviorismo radical entende que a busca pela verdade, de acordo
com a visão pragmática, é uma busca pela potencial explicação de um fenômeno
(considerando, como dito, que essa verdade poderá ser questionada e substituída por
uma outra verdade no futuro). Para o pragmatismo, o desenvolvimento da ciência
ocorre justamente nessa evolução do pensamento, na construção de verdades e no
questionamento e na revisão destas (BAUM, 2019).

Assim, tendo como base o pragmatismo, o behaviorismo radical defende que o que
existe para o indivíduo, mesmo que não possa ser observado por outras pessoas, pode
ser considerado quando se trata de comportamento. Essa compreensão difere
bastante do behaviorismo metodológico radical, visto que, no anterior, era
considerado comportamento apenas o que era visível para outras pessoas (ideia de
comportamento público, na busca pelo que é essencialmente “verdadeiro”), já no
behaviorismo radical entende-se que o próprio sujeito pode servir como medida para
todas as coisas. Sendo assim, a compreensão de que o comportamento precisa ser
externo e observável por outra pessoa não é mais determinante no behaviorismo
radical (MATOS, 1995).
Contudo, é importante compreender que o behaviorismo radical também se opõe ao
mentalismo, por isso é preciso ter cuidado para que sua compreensão não seja
resumida ao subjetivismo. Para um comportamento ser considerado, de acordo com
Skinner, é necessário que se demonstre evidências de que ele está ocorrendo. Essas
evidências são alcançadas por meio da observação de outras pessoas ou, em
comportamentos não observáveis, a partir do relato da experiência de quem as
descreve. Dessa forma, Skinner consegue desenvolver uma ciência em que mesmo
eventos privados ou internos (p. ex., sentir fome ou sede) passam a ser
compreendidos de maneira mais objetiva, o que se configura como uma importante
característica para o desenvolvimento da ciência psicológica (BAUM, 2019).
Por fim, vale destacar a compreensão de comportamento defendida pelo
behaviorismo radical, visto que essa compreensão embasa toda a escola behaviorista.
De acordo com Lopes (2008), a definição de comportamento dentro da escola
behaviorista não é algo simples, apesar de parecer bastante óbvio. Para o autor, pode-
se entender comportamento, sob essa ótica, como a relação entre organismo e
ambiente. Ou seja, para o behaviorismo radical, comportamento é o que ocorre no
fluxo interacional entre esses dois elementos (organismo e meio, sendo encontrado,
na mesma medida, tanto no organismo quanto no ambiente, já que se configura
justamente na relação entre ambos).
Como visto, o desenvolvimento da escola behaviorista contribuiu muito para a
psicologia enquanto ciência humana. Isso ocorreu, principalmente, devido à definição
do objeto de estudo da ciência, que passa a ser o comportamento humano, atribuindo,
assim, um caráter mais objetivo à psicologia, distanciando--se do mentalismo
predominante na época e propondo uma concepção mais realista para a ciência. Além
disso, como visto, ao longo do desenvolvimento da escola behaviorista, a concepção
essencialmente realista dá espaço à concepção pragmática de comportamento, que se
torna mais complexa, mais abrangente e contempla também comportamentos não
observáveis por outras pessoas, mas que também possuem um viés objetivo, por
serem acessados por meio dos relatos do próprio sujeito e das evidências que podem
ser identificadas no ambiente (BAUM, 2019; LOPES, 2008; MATOS, 1995).
Para dar continuidade à compreensão do desenvolvimento da escola behaviorista, sua
influência no estudo do comportamento e suas contribuições para o desenvolvimento
da psicologia enquanto ciência humana, no tópico a seguir você analisará o processo
de construção behaviorista e sua influência no estudo do comportamento humano.

O processo de construção behaviorista e a influência no estudo do


comportamento
Como visto, a escola behaviorista, em seu processo de construção e desenvolvimento,
passou por dois momentos principais: o behaviorismo metodológico, que enfoca
bastante o método e a busca pelo que é essencialmente verdadeiro, passando pelo
crivo de outra pessoa (i.e., considerando comportamentos observáveis).
Posteriormente, a escola behaviorista entra em um outro momento, a partir de um
viés pragmático, e passa a entender que o estudo do comportamento deve abarcar
não apensas comportamentos observáveis por outras pessoas, mas também aqueles
comportamentos que podem ser descritos pelo próprio sujeito que se comporta, por
meio da análise das evidências entre organismo e ambiente. Esse segundo momento,
como visto, é conhecido como behaviorismo radical (BAUM, 2019).
Percebe-se que a concepção de comportamento foi sendo alterada ao longo do
desenvolvimento da escola behaviorista. No behaviorismo metodológico, é
considerado comportamento o que é possível ser observado de maneira objetiva.
Assim, por definição, entende-se que comportamento é o que é observável pelo outro
(de forma externa), o que torna possível contar e medir o comportamento humano
(MATOS, 1995).
Já no behaviorismo radical, como visto, um comportamento, para ser considerado, não
precisa obrigatoriamente ser observado por outras pessoas (noção de evento público),
basta ser observado pelo próprio sujeito/organismo, o que faz a noção de evento
privado também fazer parte da compreensão de comportamento. Além disso, a noção
de comportamento se amplia com essa nova perspectiva teórica, sendo entendida
como a relação entre organismo e ambiente, ou seja, entende-se que o
comportamento é o que ocorre no fluxo relacional entre esses dois elementos:
organismo-ambiente (BAUM, 2019).
De acordo com Lopes (2008), o fluxo comportamental merece destaque para a melhor
compreensão da noção de comportamento proposta pela escola behaviorista. Na
prática, o fluxo comportamental ocorre na relação entre ambos os elementos, não
podendo ser dividido. Entretanto, para melhor compreensão, pode-se dividi-lo
didaticamente para aprofundar a discussão, conforme a seguir.

• Evento comportamental: contempla as respostas que o organismo emite frente


aos eventos ambientais (chamados de estímulos).
• Estado comportamental: comtempla a probabilidade de que uma resposta
(chamada de evento comportamental) seja emitida por um organismo diante
de uma determinada situação do ambiente (chamada de estímulo).
• Processo comportamental: contempla os processos de mudança que ocorrem
no comportamento (p. ex., aprendizagem), evidenciando o caráter dinâmico do
comportamento.

A partir dessa noção de comportamento, a escola behaviorista destaca dois grandes


tipos de comportamento: respondentes e operantes. Os comportamentos
respondentes são entendidos como comportamentos reflexos ou não voluntários, ou
seja, comportamentos emitidos de maneira automática. Já os comportamentos
operantes, os quais merecem maior atenção, são os comportamentos voluntários, que
o organismo/sujeito é controlado por contingências de reforço ou de punição. Em
linhas gerais, pode-se dizer que as contingências de reforço são estímulos do ambiente
que aumentam as chances de que uma determinada resposta comportamental ocorra.
Em contrapartida, as contingências de punição são estímulos do ambiente que
diminuem as chances de que determinada resposta comportamental ocorra (BAUM,
2009; MIZUKAMI, 1986).
Tendo em vista a compreensão da relação entre estímulo e resposta comportamental,
vale destacar que, dessa forma, entende-se que, quando se atua nas contingências, ou
seja, nos estímulos que antecedem as respostas comportamentais, é possível atuar no
comportamento como um todo, aumentando as chances de que uma resposta
comportamental ocorra, ou diminuindo-as. Ou seja, a partir da compreensão de
behaviorismo, entende-se que, quando se atua no ambiente, é possível atuar no
comportamento (BAUM, 2009; BAUM, 2019; MIZUKAMI, 1986).
A partir do exposto, considera-se que a noção de comportamento construída pela
escola behaviorista é um importante avanço para a psicologia enquanto ciência e tem
um grande impacto na forma como se considera e estuda o comportamento na
atualidade. Como visto, o comportamento ocorre no fluxo comportamental, sendo
que, quando se atua no estímulo (contexto em que uma resposta comportamental é
emitida), pode-se atuar no comportamento (BAUM, 2019). A partir dessa visão,
introduz-se a noção de aprendizagem comportamental, que caracteriza a evidência
dinâmica do comportamento. A seguir, você aprenderá a reconhecer os conceitos
behavioristas relativos à aprendizagem comportamental.

Conceitos behavioristas relativos à aprendizagem comportamental


A partir de agora, estudaremos os conceitos behavioristas relativos à aprendizagem
comportamental. Iniciando essa compreensão, podemos destacar duas defi nições que
introduzem as refl exões acerca do tema da aprendizagem. Em primeiro lugar, para
Feldman (2015) e Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018), a aprendizagem pode ser
compreendida, em linhas gerais, como uma mudança relativamente permanente no
comportamento humano em decorrência de uma experiência. Na mesma linha de
entendimento, em segundo lugar, Illeris (2007), atribui à aprendizagem o sentido de
processo, que leva a uma mudança permanente nas capacidade de um organismo, de
forma que não seja decorrente simplesmente do seu amadurecimento biológico.
Complementando essas definições, retoma-se a noção de comportamento para que se
possa relacionar ambos os conceitos (comportamento-aprendizagem). Como você viu
ao longo do texto, o comportamento, na visão behaviorista, está associado à noção de
fluxo comportamental. Essa noção prevê o caráter dinâmico do comportamento, ou
seja, entende que o comportamento não é algo fixo, mas sim algo que deve ser
analisado por meio da interação entre organismo/sujeito e ambiente/estímulos
ambientais (LOPES, 2008).
Esse caráter dinâmico está associado, em essência, ao processo de aprendizagem
comportamental. Dessa forma, fica evidente a importância da aprendizagem na escola
behaviorista, tendo em vista sua associação ao caráter dinâmico do comportamento.
Um dos princípios da aprendizagem nesse enfoque é a relação entre estímulos e
respostas comportamentais. Como visto acima, a resposta comportamental está
diretamente relacionada ao estímulo do ambiente. Assim, quando respostas
comportamentais são reforçadas, há maiores chances de um comportamento ocorrer
novamente. Já quando respostas comportamentais são punidas, há menores chances
de que um comportamento ocorra novamente. Essa relação entre efeito (reforço e
punição) e resposta comportamental é conhecida como lei do efeito (BAUM, 2019;
LOPES, 2008).
Nesse sentido, em essência, para a escola behaviorista, a aprendizagem ocorre a partir
da interação de três elementos, destacados por Feldman (2015):

• estímulo (que é a situação presente ou antecessora — relacionada ao


ambiente);
• resposta (ação de fato do indivíduo);
• consequência (alteração no ambiente consequente àquela resposta, incluindo
reforço e punição).
Assim, a aprendizagem comportamental ocorre em função da consequência que
determinada resposta comportamental tem no ambiente. Dessa forma, pode-se
afirmar que a aprendizagem é fruto da interação entre estímulo-resposta-
consequência. Ou seja, é a partir da relação desses três elementos que uma pessoa
aprende, ou condiciona (termo bastante usado no behaviorismo), suas respostas
comportamentais para situações futuras (FELDMAN, 2015).
O resultado da interação entre consequências (reforço ou punição) e respostas
comportamentais é conhecido como modelagem. No processo de modelagem,
entende-se que um comportamento é “moldado” a partir dos efeitos que produz no
meio. Quando um comportamento é bem-sucedido, a pessoa aprende que é
interessante repetir aquele comportamento no futuro; já quando um comportamento
é malsucedido, ou punido, a pessoa aprende que não é interessante repetir aquele
comportamento no futuro.

Ou seja, na concepção behaviorista, a aprendizagem comportamental ocorre de


maneira objetiva, em função de estímulos e consequências decorrentes de uma
resposta comportamental. Essa forma de entender a aprendizagem é coerente com
toda a compreensão de objeto de estudo do behaviorismo, que, ao ser definido como
o comportamento humano, atribui um caráter objetivo à ciência psicológica,
permitindo que esta tenha a possiblidade de investigar os processos psicológicos a
partir da mensuração, da observação e da realização de experimentos (BAUM, 2019).
Neste capítulo, você estudou sobre a escola behaviorista e suas principais
contribuições para o desenvolvimento da ciência psicológica. Como visto ao longo de
todo o texto, o behaviorismo tem uma grande importância para a psicologia em função
da sua concepção pragmática, que dá um caráter prático para a ciência. Além disso, a
concepção behaviorista de comportamento, desenvolvida ao longo dos anos, enfatiza
seu caráter relacional e processual, sendo entendido como um fluxo, que envolve
evento, estado e processo comportamental. Por fim, você também aprendeu a
reconhecer os principais conceitos dessa escola psicológica sobre a aprendizagem, a
partir da análise dos três elementos que compõem o processo: estímulo, resposta e
consequência.

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