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Unidade II

Unidade II
5 ESCOLA DE FRANKFURT

A teoria crítica da sociedade é a denominação do conjunto de ideias desenvolvidas pela Escola


de Frankfurt. Essas ideias, embora não uniformes, têm em comum a análise crítica da realidade social
– análise que apresenta marcas tanto da reflexão filosófica quanto da reflexão sociocultural. Em
consequência dessa particularidade, é possível designar a produção desses pensadores como obras
críticas na perspectiva sociofilosófica.

Tais obras tinham como fundamento a construção de uma metodologia, de um modo de investigar
a sociedade que permitisse a efetiva realização de um conjunto teórico crítico, em que todas as ciências
sociais pudessem se integrar numa só concepção. A princípio, e por um bom período, a base da Escola
de Frankfurt foi a teoria marxista, mas uma teoria marxista vinculada aos procedimentos investigativos
das ciências sociais desenvolvidas na academia.

A teoria crítica da Escola de Frankfurt ocupa lugar de destaque em meio


às tentativas feitas entre as duas guerras mundiais de desenvolver o
pensamento marxista. O que inicialmente a distinguia não eram tanto seus
princípios teóricos, mas seus objetivos metodológicos, que resultaram de um
reconhecimento sem reservas das ciências empíricas. Uma de suas metas
básicas era a incorporação sistemática de todas as disciplinas de pesquisa
social científica numa teoria materialista da sociedade, facilitando assim
a mútua fertilização entre a ciência social acadêmica e a teoria marxista
(OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 242).

A pressuposição que fundamentava essa concepção teórico‑metodológica estava alicerçada na


possível junção dos diversos procedimentos num único modo de proceder cientificamente às análises. Tal
pressuposição e, por conseguinte, tal metodologia incorporaram o significado da interdisciplinaridade
na investigação da realidade sociocultural.

A interdisciplinaridade foi incorporada de tal modo que ficou como um dos principais legados da
Escola de Frankfurt. Isso porque pesquisar, investigar, enfim, estudar qualquer evento social ou cultural
exige a incorporação de vários campos de conhecimento, como filosofia, sociologia, antropologia,
psicologia e, por que não, política.

A ideia de uma extensão interdisciplinar do marxismo amadureceu durante


os anos 1920 no pensamento de Max Horkheimer, que reconhecia o valor
das ciências empíricas […]. Quando sucedeu a Carl Grünberg como diretor
do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, em 1930, utilizou seu discurso
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de posse para introduzir publicamente um programa de teoria crítica da


sociedade (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 242).

Foi justamente no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt que ocorreu a formação da Escola de Frankfurt:

A história da chamada Escola de Frankfurt – na qual se destacam, entre outros


pensadores, Walter Benjamin, Theodor Wiesengrund‑Adorno e Max Horkheimer
– pode ser iniciada com a fundação do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt,
sob direção de Carl Grünberg. Grünberg abria o primeiro número do Arquivo de
História do Socialismo e do Movimento Operário (publicação que fundou em 1911)
salientando a necessidade de não estabelecer privilégio especial para esta ou aquela
concepção, orientação científica ou opinião de partido (ADORNO, 1999, p. 5).

Esse instituto não estava voltado apenas para a formulação político‑partidária do marxismo, mas
também para a formulação metodológica multidisciplinar, com objetivos bem claros de crítica ao conceito
positivista de ciência. A Revista de Pesquisa Social, publicada pelo instituto, tinha as marcas do pensamento
de Marx, buscando conhecer, compreender e interpretar a sociedade capitalista pela vertente dos conceitos
e definições não só econômicos, mas principalmente filosóficos ou mesmo sociológicos.

A preocupação central dos pensadores da Escola de Frankfurt era, então, estabelecer um vínculo
entre a pesquisa empírica da realidade social e a filosofia. Para isso, era necessária uma teoria da história
que desse conta tanto da realidade quanto da racionalidade dessa realidade. A princípio, eles recorreram
às concepções hegelianas da história:

A ideia fundamental da teoria crítica era lançar uma ponte sobre o


abismo que separava a pesquisa substantiva e a filosofia, fundindo esses
dois ramos do conhecimento numa única forma de reflexão modelada
na filosofia hegeliana da história. Para que isso pudesse ser alcançado,
era evidentemente necessário dispor de uma teoria da história capaz de
determinar os efetivos poderes da razão que residem no próprio processo
histórico. As pressuposições básicas de tal concepção da filosofia da história
foram extraídas, tanto por Horkheimer quanto por Herbert Marcuse, da
tradição do pensamento marxista (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 242).

A preocupação inicial de formular uma metodologia única na investigação da realidade social foi,
com o tempo, profundamente modificada. Pode‑se mesmo dizer que foi abandonada e substituída.

A ideia de pesquisa social interdisciplinar só exerceu uma influência vital e


formativa sobre o instituto até o início dos anos 1940. Os sinais de mudança
geral de orientação já estavam patentes nos ensaios que Horkheimer escreveu
para o volume final do Zeitschrift für Sozialforschung. Essa mudança afetou
não apenas as premissas da teoria crítica baseadas na filosofia da história,
mas também sua percepção a respeito de seu próprio papel e objetivos
políticos (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 243).
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A transformação ocorreu particularmente depois da ascensão do stalinismo e do fascismo. Houve uma


profunda decepção pelo fato de não ter acontecido uma oposição internacional por parte dos operários,
organizados ou não em partidos políticos. O abandono da busca de uma metodologia interdisciplinar
também foi ocasionado pela intensa produção da cultura de massa – a formação da indústria cultural
passou a ser objeto de análise dos pensadores de Frankfurt, particularmente nas obras de Theodor Adorno.

5.1 Teoria crítica da sociedade

No começo, como mencionado, os pensadores da Escola de Frankfurt estavam preocupados com


a formação de uma metodologia integradora, um instrumento que incorporasse todas as concepções
das ciências sociais. Qual era a motivação intelectual para a formação e a aplicação de um único
sistema interpretativo da realidade social? Qual era o parâmetro teórico que sustentava essa busca
teórico‑metodológica? A concepção marxista.

Os filósofos da Escola de Frankfurt tinham como objetivo a formação de um instrumental investigativo


inspirado nessa concepção de história. Para isso, procuravam pôr na mesma esfera de investigação tanto
o dado empírico, a concretude da realidade social, quanto as concepções abstratas e conceituais da
filosofia, o que permitiria a crítica da sociedade.

Lembrete

A filosofia materialista dialética desenvolvida por Karl Marx, com base


no pensamento de Hegel, concentrava‑se na análise crítica do sistema
capitalista, particularmente na exploração do trabalho pelo capital.

Portanto, as obras de Hegel, Marx e Engels formaram o paradigma teórico para os pensadores da
Escola de Frankfurt. A teoria crítica da sociedade fundamentou‑se filosoficamente na concepção do
materialismo histórico exposta por Marx e Engels.

No entanto, como vimos, a busca por uma metodologia única se alterou com o tempo, e outros
fatores influenciaram profundamente as reflexões dos componentes da Escola de Frankfurt.

5.2 Transformações no percurso da Escola de Frankfurt

De modo geral, é possível dizer que dois fatores foram determinantes para as transformações no
percurso da Escola de Frankfurt: primeiro, as práticas políticas do stalinismo e do fascismo; depois,
a enorme produção da cultura de massa do capitalismo. Consideremos o primeiro fator. O governo
totalitário de Josef Stalin (1878‑1953) na União Soviética, o de Benito Mussolini (1883‑1945) na Itália
e o de Adolf Hitler (1889‑1945) na Alemanha motivaram o declínio e o afastamento da classe operária
do ideário e do movimento revolucionário proposto pelas concepções do marxismo histórico.

Pode‑se dizer que os pensadores da Escola de Frankfurt ficaram, de certa forma, decepcionados
com a emancipação do movimento operário em relação ao sistema capitalista de produção.
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MATERIALISMO E MARXISMO

Numa perspectiva internacional, o desempenho da classe operária não foi aquele que se esperava, isto
é, um desempenho revolucionário. A ausência de uma força opositora por parte da classe operária
em relação às ditaduras de Stalin, Mussolini e Hitler permitiu o desenvolvimento de práticas políticas
contrárias ao processo revolucionário operário.

Nas ditaduras mencionadas, o que ocorreu foi o distanciamento dos fundamentos da revolução
operária, conforme expostos nas obras de Marx e Engels. Em outras palavras, o movimento operário não
se mostrou suficientemente forte para criar obstáculos ao estabelecimento e ao funcionamento dos
governos de Stalin, Mussolini e Hitler. Esses governos foram exemplares na demonstração da verdadeira
exploração do homem pelo homem, isto é, as políticas adotadas nas três ditaduras foram contrárias aos
princípios marxistas de libertação da exploração:

No fim dos anos 1930, esse mundo idealizado veio final e definitivamente
abaixo: em termos de política prática, através da experiência do fascismo,
do stalinismo e da cultura de massa do capitalismo, juntando forças para
formar um todo totalitário; em termos de teoria, através da mudança de
um modelo positivo para outro, negativo, de trabalho social (OUTHWAITE;
BOTTOMORE, 1996, p. 243).

Vejamos agora o segundo fator. A indústria cultural pôs em circulação uma enorme quantidade
de fatos denominados de culturais, mas que efetivamente produziam muito mais alienação do que
emancipação pela arte. Segundo a análise da cultura de massa feita pelos pensadores da Escola de
Frankfurt, a produção capitalista de cultura é, antes de tudo, uma forma de manipulação ideológica.
Além disso, ela se opõe ao que é produzido pela cultura popular, pelo simples fato de ter como objetivo
a divulgação para o entretenimento, mas um entretenimento alienante, que despoja as pessoas do
processo de reflexão que a arte efetivamente favorece:

Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu


esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se
delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em
encobri‑lo, seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se
confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar
como arte. A verdade de que não passam de negócio, eles a utilizam como
uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 100).

É oportuno registrar que a modificação nas reflexões filosóficas da Escola de Frankfurt, isto é, da
busca pela construção de uma metodologia única de investigação da realidade social às reflexões
voltadas para a produção cultural, não alterou em nenhum momento o posicionamento crítico acerca da
sociedade capitalista. Os estudos desenvolvidos em relação ao significado da ideologia dominante e
da feitura das manifestações artísticas se mantiveram constantes.

Pode‑se dizer que a Escola de Frankfurt foi um movimento de contestação do pensamento


positivista, a perspectiva filosófica formulada por Auguste Comte (1798‑1857), que muito influenciou o
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desenvolvimento não só das ciências sociais e da natureza como também das concepções políticas dos
séculos XIX e XX.

Comte, filósofo francês, elaborou uma complexa conceituação filosófica referente à história da
humanidade, elaboração essa que se constituiu numa escola filosófica denominada positivismo. Essa
denominação deriva do fato de Comte se opor ao idealismo de Hegel, apresentando o fato como
referencial para o conhecimento, e não a ideia. Comte concebeu três grandes estágios na história:

• o teológico, que se subdivide em fetichismo, politeísmo e monoteísmo;

• o metafísico, que se caracteriza pela abstração;

• o positivo, que é a conduta científica.

O positivismo, segundo esse autor, é a última etapa e a mais evoluída na história da humanidade.
É o momento histórico posterior à Revolução Francesa e corresponde às mais profundas e produtivas
elaborações científicas e industriais. Nesse estágio, o conhecimento é resultado da observação dos
fenômenos, processo que é submetido à formulação das leis universais da natureza e, finalmente, à
comprovação pela experiência.

Tais condutas de investigação avançaram das ciências da natureza para o conhecimento da sociedade
e da produção cultural. Foi exatamente esse avanço para os eventos sociais que os pensadores da Escola
de Frankfurt criticaram. De modo geral, o pensamento positivista considera a classificação das ciências de
maneira muito estanque – portanto, com metodologias específicas de abordagem dos fatos. Isso
desencadeou a busca por uma concepção teórico‑metodológica única por parte dos pensadores da
teoria crítica da sociedade.

Saiba mais

Sobre a produção intelectual da Escola de Frankfurt, leia:

DUARTE, R. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

SLATER, P. Origem e significado da Escola de Frankfurt: uma perspectiva


marxista. Tradução: Alberto Oliva. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

WIGGERSHAUS, R. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento


teórico, significação política. Tradução: Vera de Azambuja Harvey. Rio de
Janeiro: Difel, 2002.

Do ponto de vista das práticas políticas influenciadas pela filosofia positivista destaca‑se,
particularmente, uma posição que pode ser assim sintetizada: ordem nas práticas sociais e políticas

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MATERIALISMO E MARXISMO

para efetivamente haver desenvolvimento, isto é, progresso social. Em oposição a essa ideia de ordem
e desenvolvimento do positivismo, os pensadores da Escola Frankfurt propunham a participação das
pessoas na formulação das políticas, isto é, a emancipação do homem.

É possível elencar as seguintes características das reflexões desenvolvidas pelos filósofos da teoria
crítica da sociedade:

• metodologia de investigação da realidade social por conduta interdisciplinar;

• contestação da escola positivista;

• profunda crítica ao sistema capitalista de produção, particularmente pela perversa exploração da


mão de obra;

• oposição ao totalitarismo político;

• defesa da liberdade e dos interesses coletivos.

A ideia de interdisciplinaridade, como visto, é um legado da Escola de Frankfurt, mesmo


porque a realidade social é multifacetada, uma construção de várias esferas de interesse e de valor.
Uma metodologia que consiga abordar todos os vetores envolvidos é uma contribuição significativa
para o conhecimento, a compreensão e a interpretação das configurações sociais.

Por serem inúmeros os fatores que permeiam os eventos sociais, é importante que as abordagens
incluam conceitos da sociologia, da antropologia, da política e evidentemente da filosofia. Portanto, é
possível dizer que a teoria crítica da sociedade apresenta‑se de forma muito mais próxima da realidade
social, afastando‑se das considerações filosóficas da divisão entre espírito e matéria do cartesianismo, e
também do positivismo, no sentido de fragmentação da realidade.

A contribuição da produção intelectual dos pensadores da Escola Frankfurt pode ser compreendida
do seguinte modo: o objeto das ciências sociais é um objeto construído historicamente; a sociedade,
tanto em sua forma como em sua dinâmica, é resultado da história; uma vez que a sociedade resulta
da historicidade, do movimento constante e dialético, é possível pensar em superar as contradições
inerentes às configurações sociais construídas pelo capitalismo, particularmente a contradição entre o
capital e o trabalho, que propicia a exploração do homem pelo homem.

O texto de Adorno (1999) “Introdução à Controvérsia sobre o Positivismo na Sociologia Alemã”


permite analisar as críticas da Escola de Frankfurt ao positivismo. Ali o autor explicita de forma bem
detalhada o significado do positivismo não só por seus aspectos filosóficos, mas principalmente por seus
aspectos sociais e econômicos. Além disso, aborda as posições do neopositivismo.

Adorno diz que a sociedade capitalista é uma configuração social que tem como marca a coisificação,
isto é, nela tudo se transforma em coisa, desde as mercadorias até as pessoas, passando pelos bens
culturais. Portanto, o que não se transforma em coisa não tem nenhuma chance de sobrevivência.
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Esse processo de coisificação é resultado do capitalismo monopolista, que se prolonga de modo impiedoso
ao monopólio do trabalho de qualquer natureza, com implicações sociais, culturais e comportamentais.

Lembrete

A produção capitalista é, antes de tudo, a produção de mercadorias


para a satisfação das necessidades sociais, mas em meio às relações de
mais‑valia.

A diferença entre a concepção positivista e a concepção dialética de sociedade é a diferença da


objetividade – a concepção dialética tem a pretensão de objetividade. Segundo Adorno, os positivistas
apresentam o que é pensado e executado por eles como novo, enquanto o que é dialeticamente
construído é considerado arcaico.

O texto de Adorno aponta o significado de totalidade na perspectiva dialética de análise: a totalidade


é uma crítica, não uma categoria afirmativa. Portanto, a crítica dialética, diferentemente do positivismo,
tem como proposta ajudar a salvar ou mesmo restaurar o que não está de acordo com a totalidade. A
interpretação dos fatos sociais do ponto de vista dialético conduz à totalidade, mas a totalidade mesma
não é um fato. Desse modo, não há nada na sociedade que tenha um valor tão específico que não caiba
na totalidade social.

A separação absoluta entre fato e sociedade, conforme a concepção positivista, é por demais
artificial. Em outras palavras, é uma reflexão a ser deduzida, dedução que, por sua vez, é refutada
por outra reflexão, pois não se sustenta em si mesma. As críticas de Adorno, assim como as de todos
os pensadores da Escola de Frankfurt, centram‑se no fato de que a concepção filosófica positivista
fragmenta as esferas de existência social e individual. O positivismo e o neopositivismo não apreendem
o que há de mais universal, o que é mais essencial; a positividade dos fatos em si mesma é uma
particularidade de uma totalidade.

A dialética busca apreender a totalidade com base na ideia de que é possível conhecer a objetividade
dos fatos que se apresentam na realidade. Ela é aplicável a qualquer situação ou fenômeno em sua
singularidade, sem deixar de lado o que é contraditório. A análise positivista, por outro lado, exclui
das investigações aquilo que é contraditório, aquilo que se mostra de forma muito distinta em suas
particularidades. Reúne aquilo que não se contradiz. Em outras palavras, é uma unificação por contínuo
lógico. Evidentemente, tal síntese não é a totalidade, pois deixa de fora muita coisa.

A conduta analítica dialética, segundo Adorno, não exclui o conhecimento como produto histórico:

A teoria dialética se recusa a simplesmente contrastar o conhecimento


histórico e social como algo individual, o conhecimento de leis, porque
o pretensamente individual – a individuação é uma categoria social –
encerra em si mesmo um particular e um universal: a necessária distinção
de ambos já tem o caráter de falsa abstração. Modelos do processo do
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MATERIALISMO E MARXISMO

universal e do particular são tendências de desenvolvimento da sociedade,


como as tendências para a concentração, a superacumulação e a crise.
De há muito a sociologia empírica percebeu o que perde em conteúdo
específico devido à generalização estatística. Frequentemente aparece
no detalhe algo decisivo acerca do universal, que escapa à simples
generalização (ADORNO, 1999, p. 157).

Na perspectiva da análise dialética da sociedade, apreende‑se uma totalidade como instrumento


para a compreensão dos eventos sociais, compreensão essa que permite o conhecimento das
particularidades como integrantes da universalidade, que é a configuração social em todas as suas
dimensões, a saber, social, política, econômica e cultural. Portanto, existe uma interligação que permeia
todos os eventos sociais, os quais, se não forem apreendidos em sua totalidade, não permitem um
conhecimento efetivo, mas apenas aparente.

Observação

A concepção de totalidade está relacionada com a proposta do materialismo


histórico, conforme desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels.

A seguir, apresentamos o pensamento de um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt,


Max Horkheimer.

6 HORKHEIMER: ECLIPSE DA RAZÃO

Max Horkheimer (1895‑1973), filósofo e sociólogo, publicou em 1937 o artigo “Teoria Tradicional
e Teoria Crítica”, que de modo geral é considerado o texto de referência das reflexões filosóficas que
marcaram profundamente os pensadores da Escola de Frankfurt.

Horkheimer opõe a teoria crítica à concepção filosófica de René Descartes (1596‑1650) e à escola
positivista. É possível dizer que as reflexões críticas se iniciaram considerando a origem do conhecimento
científico as interações sociais em determinado momento histórico.

A obra de Horkheimer concentra‑se, particularmente, em estudos investigativos, que são postos


na esfera do conhecimento gerado pelas configurações sociais, isto é, da sociologia do conhecimento.
Nesses estudos, as máquinas são entendidas como parte de uma relação de dominação entre os homens.

6.1 Razão instrumental

As concepções desenvolvidas por Horkheimer e pelos demais sociólogos e filósofos pertencentes à


Escola de Frankfurt demonstram claramente a preocupação de formular um conjunto metodológico com
pressupostos analíticos inspirados no materialismo dialético. Vale lembrar que essa preocupação inicial
se modificou ao longo do tempo e passou por uma série de transformações, em muito enriquecendo o
conhecimento sobre a sociedade capitalista.
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Ressalte‑se que a preocupação de elaborar um conjunto teórico acerca da sociedade, apesar


de sua inspiração marxista, não tinha marcas de ortodoxia. A inclusão de temas como a produção
cultural, as formas de comportamento e a construção de tecnologia ampliou as análises para além
da produção econômica.

A distinção feita por Horkheimer entre teoria tradicional e teoria crítica ofereceu a oportunidade de
conduzir as interpretações da sociedade capitalista para além do significado da produção material. De
que maneira essa distinção permitiu levar as reflexões para um campo mais amplo, mantendo ao mesmo
tempo uma conduta dialética materialista ou histórica?

A teoria tradicional é uma concepção de inspiração instrumental para o conhecimento, a compreensão


e a interpretação da realidade, tanto a social quanto a natural. A obra de René Descartes é sua referência
maior. A teoria crítica, por outro lado, é uma concepção que busca conhecer, compreender e interpretar
o mundo social e o mundo natural pela interação entre os homens, e mais ainda pela interação dos
homens com a natureza. Ela estabelece parâmetros baseados na historicidade, e não em interesses do
que se pode designar como mercado de consumo.

Além disso, a teoria crítica apresenta de modo significativo outras questões da existência
humana, e não só o pragmatismo das ações. Ela inclui o que efetivamente afeta a condição da
vida humana. É possível dizer que, por abordarem outras questões, os componentes da Escola
de Frankfurt mostraram, de forma objetiva, a negação da autonomia do indivíduo numa sociedade
administrada pelas grandes corporações industriais. Empreenderam ainda profundas reflexões
sobre estética, produção cultural, psicologia e psicanálise.

Voltemos brevemente a René Descartes. Ele é considerado pela história da filosofia o principal
pensador do idealismo, no sentido da essência do conhecimento, e também do racionalismo, no sentido
da origem do conhecimento. Em outras palavras, Descartes sustenta que a fonte do conhecimento é a
razão e que a essência dele é a ideia (o idealismo como conteúdo do conhecimento).

A concepção elaborada por Descartes, exposta principalmente na obra Discurso do Método, passou
a ser o referencial para as ciências. Sua metodologia e seus procedimentos foram determinantes para
as investigações da natureza, as quais proporcionaram considerável desenvolvimento das ideias de
dominá‑la e, mais do que isso, a utilização do raciocínio dedutivo nas pesquisas.

Pelo fato de o raciocínio dedutivo empregado ser o raciocínio matemático, houve uma verdadeira
matematização do conhecimento do mundo, não só o natural, mas também o social. Segundo Horkheimer,
a matematização e o pressuposto de que o conhecimento permite o domínio e a exploração da natureza
constituíram o núcleo da filosofia tradicional, ou melhor, da ciência em geral. Por ser assim, a filosofia
cartesiana, ou o método cartesiano, apresenta uma posição instrumental.

É instrumental por ser operacional, por propiciar intervenções efetivas mediante experiências e,
principalmente, por considerar a possibilidade de tudo ser quantificado e analisado através de suas
partes, dividindo‑se o todo. Dito de outro modo, a abordagem epistemológica de René Descartes é
fundamentalmente dedutiva.
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MATERIALISMO E MARXISMO

Vejamos agora algumas considerações desenvolvidas por Horkheimer em Eclipse da Razão, obra
escrita ao fim da Segunda Guerra Mundial. Esse livro traz uma série de reflexões que permitem, de forma
bem esclarecedora, apreender o significado da racionalidade nas configurações sociais. Já no prefácio,
Horkheimer destaca a importância das relações entre razão e desenvolvimento:

No momento da escrita deste texto, os povos das nações democráticas


confrontam‑se com os problemas de consumar sua vitória conquistada
pelas armas. Eles devem elaborar e colocar em prática os princípios
da humanidade em nome dos quais os sacrifícios da guerra foram
feitos. As potencialidades presentes de realização social superam as
expectativas de todos os filósofos e estadistas que já esboçaram em
programas utópicos a ideia de uma sociedade verdadeiramente humana
(HORKHEIMER, 2015a, p. 7).

É significativa a abordagem de Horkheimer acerca do indivíduo, da individualidade. Ele interpreta


a individualidade a partir da crise da razão, isto é, da irracionalidade presente na sociedade capitalista
entre as duas guerras mundiais e mesmo na configuração social posterior.

A crise da razão é manifesta na crise do indivíduo, que se desenvolveu


como seu agente. A ilusão que a filosofia tradicional tem cultivado sobre o
indivíduo e sobre a razão – a ilusão de sua eternidade – está sendo dissipada.
O indivíduo outrora concebeu a razão exclusivamente como um instrumento
do eu. Agora, ele experimenta o inverso dessa autodefinição (HORKHEIMER,
2015a, p. 143).

A desilusão a que Horkheimer faz referência é a dissipação do valor do indivíduo. Este busca
sua autopreservação, mas segundo o autor não há mais nada a ser preservado, pelo fato de que
o indivíduo não tem mais consciência de sua unicidade e muito menos de sua identidade. Não é
possível falar de indivíduo numa sociedade massificada e dominada ideologicamente por uma única
concepção, a saber, a concepção capitalista de consumo de massa dos mesmos produtos. Não há,
portanto, uma noção de indivíduo como categoria historicamente formada, não há uma consciência
de pertencimento universal:

Quando falamos do indivíduo como uma entidade histórica, não nos referimos
apenas à existência sensível e espaçotemporal de um membro particular da
raça humana, mas além disso à consciência de sua individualidade como
um ser humano consciente, inclusive o reconhecimento de sua própria
identidade (HORKHEIMER, 2015a, p. 143).

É particularmente significativo o apontamento de Horkheimer de que a individualidade é algo que


escapa das pessoas, não só daquelas que pertencem à massa, mas também das que pertencem às elites
– a preocupação com o poder domina por completo os integrantes da elite, que não percebem estar
submetidos à formalização ou automação social.

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O que é formalização ou automação social? É a imperiosa condição imposta pelo processo burocrático
de administração social para manter o poder e ter o domínio da posse. Em outras palavras, a consciência
da posse das coisas importa muito mais do que a consciência da condição social de indivíduo:

Logo, a individualidade entre as massas é bem menos integrada e duradoura


do que entre a chamada elite. Por outro lado, a elite sempre esteve mais
preocupada com as estratégias para conquistar e manter o poder. O poder
social é hoje, mais do que nunca, mediado pelo poder sobre as coisas.
Quanto mais intensa for a preocupação do indivíduo com o poder sobre
as coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão quaisquer traços
genuinamente individuais e mais sua mente será transformada num
autônomo da razão formalizada (HORKHEIMER, 2015a, p. 143).

Na análise do conceito de individualidade, Horkheimer apresenta uma concepção totalmente distinta


da que havia até então e, por ironia da própria filosofia, das que vieram depois da obra Eclipse da Razão.

De modo geral, na literatura filosófica e mesmo nas literaturas sociológicas e antropológicas, aparece
esta análise: a individualidade é a característica que predomina nas configurações sociais de produção
capitalista, em que há um distanciamento do indivíduo em relação ao coletivo; a individualidade é
efeito da sociedade capitalista, no sentido de competição entre as pessoas.

No entanto, nas leituras da obra de Horkheimer, a postura individualista é resultado não de uma
competição, mas de uma integração ao ambiente de poder e posse, que tira as marcas de um dos
integrantes da sociedade, particularmente se esse integrante pertencer às camadas do poder.

Saiba mais

Para uma melhor compreensão do significado de individualidade,


recomendamos a leitura das seguintes obras:

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos


Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

BAUMAN, Z. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias


vividas. Tradução: José Gradel. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

LIPOVETSKY, G. A era do vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo.


Tradução: Therezinha Monteiro Deutsch. Barueri: Manole, 2005.

Essa posição individual numa sociedade em que há uma estrutura de poder distante do coletivo, seja
dos integrantes da massa, seja dos integrantes da elite, ocorre a partir de uma ideia de moral:

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MATERIALISMO E MARXISMO

Há uma moral em tudo isso: a individualidade sai prejudicada quando


cada homem decide se virar sozinho. Conforme o homem comum se retira
da participação em questões políticas, a sociedade tende a regredir à lei da
selva, que esmaga qualquer vestígio de individualidade. O indivíduo
absolutamente isolado sempre foi uma ilusão (HORKHEIMER, 2015a, p. 150).

Mesmo as qualidades positivas, as denominadas virtudes, apresentam aspectos individuais e


aspectos coletivos. Portanto, as virtudes individuais não estão distantes das virtudes sociais, no sentido
de solidariedade, de liberdade e mesmo de sentimento de justiça. A partir das reflexões de Horkheimer,
pode‑se inferir que uma coesão social não é possível se não houver, por parte das pessoas, o sentimento
de individualidade, isto é, de autonomia em relação às estruturas de poder dominante:

As qualidades pessoais mais estimadas, como a independência, a vontade


de liberdade, a simpatia e o senso de justiça, são virtudes tão sociais
quanto individuais. O indivíduo plenamente desenvolvido é a consumação
de uma sociedade plenamente desenvolvida. A emancipação do indivíduo
não é uma emancipação da sociedade, mas a libertação da sociedade da
atomização, uma atomização que pode alcançar seu pico em períodos de
coletivização e cultura de massas (HORKHEIMER, 2015a, p. 151).

Concentrando‑se especialmente nos comportamentos da burguesia, Horkheimer destaca de modo


significativo e crítico o que vem a ser o indivíduo na perspectiva de uma sociedade capitalista:

O indivíduo burguês não se via necessariamente como oposto à coletividade,


mas acreditava, ou foi persuadido a acreditar, ser um membro de uma
sociedade que poderia alcançar o mais alto grau de harmonia apenas
por meio da ocorrência irrestrita de interesses individuais (HORKHEIMER,
2015a, p. 154).

As relações entre liberalismo e individualidade, segundo Horkheimer, são utópicas. O liberalismo


apresentou‑se como a condição de harmonia e de coesão social:

O princípio do liberalismo levou à conformidade por meio do princípio


nivelador do comércio e da troca, que mantinha unida a sociedade liberal. A
mônada, um símbolo do século XVII do indivíduo econômico atomizado da
sociedade burguesa, tornou‑se um tipo social (HORKHEIMER, 2015a, p. 154).

O liberalismo, portanto, propôs uma utopia de integração social, sustentando a competição entre
os indivíduos, e não a coesão social em benefício coletivo. Todas as facilidades seriam para o benefício
do indivíduo. Por movimentar uma enorme quantidade de pessoas numa competição bastante desigual
no mercado de troca – troca não só de mercadorias, mas também de poder –, o liberalismo propiciou
diretamente comportamentos pessoais distantes do coletivo. Tais comportamentos, segundo Horkheimer,
liberaram as pessoas para participar do desafio de conquistar uma posição de glória na estrutura social
de classe. Dito de outro modo, o liberalismo possibilitou a ganância, no sentido mais exato da palavra.
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Unidade II

A individualidade, de acordo com Horkheimer, é mais uma das coisas que o homem perdeu na
sociedade capitalista, voltada para a produção e o consumo de massa. Isso porque a individualidade é
a participação no coletivo baseada numa tomada de consciência, e não o distanciamento autônomo
concebido pela sociedade industrial, como um competidor entre outros:

Um dos mais importantes atributos da individualidade, a ação espontânea,


que começou a declinar no capitalismo como resultado da eliminação
parcial da concorrência, desempenhou importante papel na teoria socialista.
Hoje, porém, a espontaneidade da classe trabalhadora tem sido afetada
pela dissolução geral da individualidade. O trabalhador é crescentemente
dissociado das teorias críticas, como formuladas pelos grandes pensadores
políticos e sociais do século XIX (HORKHEIMER, 2015a, p. 158).

Pela leitura de Eclipse da Razão, é possível dizer que há uma relação muito estrita entre o liberalismo,
o individualismo e a produção da ideologia. O individualismo é, segundo Horkheimer, a perda da
autonomia na tomada de decisões individuais. O indivíduo não está na condição de individualidade
porque não tem autonomia suficiente para tomar decisões. Estas são sempre orientadas pelas
configurações sociais administradas.

Isso contrasta com a concepção iluminista de sujeito, para a qual ele era centrado e dotado de razão,
imperativamente voltado para a consciência de suas ações. Apesar das transformações que ele sofria, o
sujeito continuava o mesmo, com a existência de sua identidade como pessoa:

O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana


como indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo
interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se
desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo
ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial
do eu era a identidade de uma pessoa (HALL, 2006, p. 11).

6.2 Pragmatismo

No artigo “Observação sobre Ciência e Crise”, Horkheimer (2015b) diz que a concepção marxista de
sociedade inclui de modo bem pontual a ciência como força humana produtiva. Isso significa que a ciência
não é simplesmente um complemento ou um resultado; é ela que sustenta as descobertas que impulsionam
novas tecnologias e novas descobertas, as quais, por sua vez, vêm compor o complexo industrial produtivo.

Desse modo, todo conhecimento científico proporciona a criação de valores sociais. O conhecimento
que a ciência conquista representa um verdadeiro meio de produção:

Na teoria marxista da sociedade, a ciência está incluída entre as forças


humanas produtivas. Como condição da mobilidade média do pensamento,
que evoluiu com ela nos últimos séculos, além do mais na forma de
60
MATERIALISMO E MARXISMO

conhecimentos simples sobre a natureza e o mundo humano, aos quais


mesmo nos países desenvolvidos têm acesso os membros das classes
mais baixas, e não em última instância como parte do poder espiritual
dos cientistas, cujas descobertas influem decisivamente na forma da vida
social, ela possibilita o sistema industrial moderno. Na medida em que se
apresenta como um meio de gerar valores sociais, quer dizer, formulada
em métodos de produção, também representa um meio de produção
(HORKHEIMER, 2015b, p. 7).

No entanto, é imprescindível levar em conta o outro lado do que essa inclusão propicia: considerar
o conhecimento científico uma força produtiva não é o mesmo que considerar o espírito pragmático
uma condição para o conhecimento. Não há nenhuma justificativa para apresentar os interesses sociais
como parâmetros para a verdade:

O fato de a ciência como força produtiva e meio de produção cooperar


com o processo de vida da sociedade não justifica, de forma alguma, uma
teoria pragmática do conhecimento. Na medida em que a fecundidade de
um conhecimento desempenha um papel no tocante a sua enunciação
da verdade, cabe entender, no caso, uma fecundidade imanente da
ciência, e não uma conformidade a considerações extrínsecas. O exame
da veracidade de um juízo é algo diferente do exame de sua importância
vital (HORKHEIMER, 2015b, p. 7).

Para entender o que significa não considerar o pragmatismo uma sustentação teórica, vale esclarecer
primeiro o que significa pragmatismo. Surgida nos Estados Unidos no século XIX, essa escola filosófica
teve momentos de profunda influência no pensamento norte‑americano. Não há unidade conceitual
entre os pensadores pragmáticos – verifica‑se, de fato, muita discordância teórica entre eles. No entanto,
é possível identificar um núcleo comum.

Segundo esses pensadores, as ações e o conhecimento (a cognição) são atributos da mesma


esfera. Desse modo, as ações úteis são entendidas como conhecimento produtivo. Portanto, há certa
identificação entre o agir que resulta em algo útil e o conhecimento. Em outras palavras, é verdadeiro o
conhecimento que obtém êxito na prática. Os principais representantes do pragmatismo foram: Charles
Sanders Peirce (1839‑1914), William James (1842‑1910), John Dewey (1859‑1952) e George Herbert
Mead (1863‑1931).

De acordo com Horkheimer, as reflexões filosóficas que geraram as ideias pragmáticas surgiram num
período histórico bem determinado, em que os negócios corriam de um modo que não exigia nenhuma
reflexão filosófica mais aprofundada:

Tanto Peirce quanto James escreveram numa época em que a prosperidade


e a harmonia entre os grupos sociais e entre as nações pareciam próximas, e
na qual nenhuma catástrofe maior era esperada. Suas filosofias refletem,
com um candor quase desconcertante, o espírito da cultura de negócios
61
Unidade II

predominante, exatamente a mesma atitude “prática” em oposição à qual


a própria meditação filosófica foi concebida (HORKHEIMER, 2015a, p. 62).

Observação

A concepção filosófica do materialismo tanto dialético quanto histórico


está muito distante do pragmatismo, pelo fato de este ter como alvo o que
é útil, e não o que de fato acontece na sociedade.

Assim considerado o significado de pragmatismo, é perfeitamente compreensível a crítica que


Horkheimer elabora, pois nada pode ser posto de tal modo absoluto em relação ao conhecimento.
Segundo o autor, a ciência é o conhecimento oriundo de interações socioculturais, e portanto é o
resultado de um longo processo histórico. Sendo consequência dessas interações, não é possível
considerar o útil como igual ao verdadeiro.

A utilidade desta ou daquela ferramenta teórica não pode ser o critério de determinação da verdade,
porque há uma distância considerável entre o verdadeiro e o útil. Essa distância decorre do fato de que
algo pode ser útil para determinados grupos sociais, e não para outros – por exemplo, pode ser útil para
a dominação, e não para a liberdade. É possível apropriar‑se da utilidade da melhor ou da pior forma,
sem nenhuma preocupação com o conhecimento em si.

Portanto, a teoria crítica aponta, de maneira significativa, o que há de mais inadequado no pragmatismo,
pois é imprescindível considerar que a formulação científica, isto é, o conjunto de conceitos, definições e
metodologias, é o resultado de uma dinâmica entre os homens, e entres eles e a natureza.

Conceitos, pareceres e teorias são fenômenos que se desenvolvem na


disputa dos homens entre si e com a natureza. Na verdade, a utilidade
não é de modo algum o critério do conhecimento, como opina o
pragmatismo; este se legitima, antes, nos diversos campos da ciência
e da vida, por meio de indícios muito variados. A teoria de que todo
conhecimento é útil, ou seja, de que deveria levar diretamente à
satisfação de uma necessidade prática, é falsa, mas a necessidade teórica
em si, o interesse pela verdade, é conduzida de acordo com a situação do
conhecedor (HORKHEIMER, 2015b, p. 117).

A concepção da teoria crítica, por sua vez, propõe uma conduta de raciocínio que em muito se afasta
das concepções da metodologia cartesiana e, mais ainda, das ideias do pragmatismo e do idealismo da
dialética hegeliana. De inspiração dialética histórica, apreende a contradição entre as noções do que é
pragmático e do que é relativo em suas investigações do social.

A teoria crítica não se apresenta como um instrumento pragmático ou relativista, mas como uma
conduta de conhecimento que se distancia da abordagem metafísica e apreende a totalidade em
diversas perspectivas, não deixando escapar as particularidades, que são de caráter individual. Desse
62
MATERIALISMO E MARXISMO

modo, valoriza a importância das reflexões necessárias para conhecer, compreender e interpretar a
realidade das configurações de uma sociedade administrada.

O que vem a ser uma sociedade administrada? Segundo os pensadores da Escola de Frankfurt,
particularmente Max Horkheimer, é a sociedade de produção capitalista que se apresenta de forma
dissimulada para os indivíduos. Isso porque ocorre um processo de alienação dos indivíduos em relação
ao todo e, até mesmo, em relação a sua própria existência.

A dissimulação sociocultural se dá pela importância conferida aos procedimentos técnicos –


precipita‑se um poder de tal ordem da razão instrumental que o indivíduo perde seu poder analítico
e crítico da realidade em que está inserido. Ela serve para encobrir os conflitos provenientes das
contradições do próprio sistema, que separa de modo significativo aquele que pensa daquele que
executa, processo que favorece a manutenção da dominação, a sobreposição de alguns a todos os
demais, enfim, a sustentação do poder, seja ele político, econômico ou cultural.

A sociedade administrada é entendida como a administração do conhecimento, por meio da


distribuição de um conhecimento pragmático e utilitário, e portanto instrumental. Nessa configuração
social, há um predomínio da razão como instrumento para conquistar e manter a dominação.

A dialética, que inspira e fundamenta a concepção crítica da sociedade, enfatiza a contradição, o


que permite uma análise mais abrangente da realidade, pois não separa o sujeito do objeto, isto é, não
separa aquele que pensa daquele que faz e, mais do que isso, não separa o produto do produtor:

A dialética, liberta da ilusão idealista, vence a contradição entre


relativismo e dogmatismo. Presumindo que o prosseguimento da crítica e
sua definição não termina com o próprio ponto de vista e dessa forma não
hipostasiando, ela não abandona de modo nenhum a convicção de que
seus conhecimentos no contexto total dentro do qual estão inseridos seus
pareceres e conceitos não são só válidos para indivíduos e grupos isolados,
mas também de modo geral, isto é, a convicção de que a teoria oposta é
falsa (HORKHEIMER, 2015b, p. 116).

A não distinção entre sujeito e objeto é um pressuposto epistemológico que muito contribui,
segundo Horkheimer, para apreender tanto o particular quanto o universal, uma vez que não há nesse
pressuposto a alienação do sujeito em relação ao contexto sociocultural em que ele está inserido. Com
isso, a razão adquire a posição de analisar, de forma crítica e produtiva, a sociedade que se apresenta
administrada para a produção industrial.

A configuração social capitalista, além de ser administrada para a produção, é administrada em


sua totalidade para a alienação. Põe‑se em andamento uma simulação de tal magnitude que não há
percepção da existência de um verdadeiro ambiente para a dominação, ou melhor, de um ambiente para
a opressão do indivíduo, o qual se aliena por completo do contexto em que está inserido.

63
Unidade II

É oportuno assinalar o significado que a razão instrumental adquire num contexto de alienação, pois
ocorre a aceitação de concepções positivistas não só do ponto de vista científico, mas também do ponto
de vista político, em que a ordem é a sustentação do desenvolvimento e do progresso social. A razão
instrumental é apreendida de forma pragmática: o que ela produz tem de favorecer a organização social e
a administração das ações individuais e coletivas, tanto por parte do Estado quanto por parte das indústrias.

Conforme a análise de Horkheimer, há uma interação ou, mesmo, uma complementação entre as
concepções filosóficas do positivismo e as concepções formuladas pela escola filosófica do pragmatismo.
Seja por interação, seja por complementação, o que se constata é que a aceitação do positivismo
vincula‑se à aceitação do pragmatismo. Em outras palavras, o que é útil para a produção é útil para a
expansão da razão.

Assim, ao se expandir, a razão não tem nenhuma preocupação com os critérios de verdade ou com a
crítica, mas tão somente com a verificação da correspondência entre o que é pensado, o que é praticado
e o que é produzido de maneira eficaz e eficiente. Os conceitos, as definições, a metodologia, enfim, todo
o conjunto de procedimentos científicos fica submetido ao que é comprovado, para ser transformado
em produto ou em eficiência de produção.

Desse modo, o universal vai perdendo terreno para os particulares e, inclusive, para os singulares, pois
a razão se apresenta de forma instrumental, não de forma crítica. A razão subjetiva, pela particularidade,
faz com que a razão objetiva crítica não tenha mais lugar nas reflexões. Nesse contexto, a razão objetiva
não consegue deter a destruição dos conceitos e definições e, muito menos, das narrativas mitológicas
que contêm a parte mais afetiva dos fenômenos socioculturais da humanidade.

De acordo com Horkheimer, a razão tornou‑se instrumental ou subjetiva exatamente pela ideia de
formar segundo a concepção positivista de ciência, isto é, pondo a forma acima do conteúdo. A razão
instrumental abdica da autonomia:

Abrindo mão de sua autonomia, a razão tornou‑se um instrumento.


No aspecto formalista da razão subjetiva, acentuado pelo positivismo,
enfatiza‑se sua falta de relação com o conteúdo objetivo; em seu aspecto
instrumental, acentuado pelo pragmatismo, enfatiza‑se sua rendição
a conteúdos heterônimos. A razão foi completamente mobilizada pelo
processo social. Seu valor operacional, seu papel na dominação dos
homens e da natureza, tornou‑se o único critério. Os conceitos foram
reduzidos a sumários das características que vários espécimes têm em
comum (HORKHEIMER, 2015a, p. 29).

Cabe ainda considerar que a razão instrumental tem na palavra ou no pensamento seus principais
fundamentos, uma vez que os símbolos matemáticos, ou melhor, a linguagem matemática se apresenta
como superior para a dominação da natureza e para a construção de tecnologias direcionadas à
produção industrial. Por ser assim, tanto o pensamento (a razão) quanto a palavra são incorporados
como ferramentas, e o quantitativo torna‑se a própria razão. Dito de outra maneira, a quantidade é a
expansão da razão banindo a experiência intelectual.
64
MATERIALISMO E MARXISMO

Uma vez que um pensamento ou uma palavra tornam‑se uma


ferramenta, pode‑se abrir mão de “pensá‑los” verdadeiramente, isto
é, percorrer os atos lógicos envolvidos na formulação verbal deles.
Como tem sido apontado, correta e frequentemente, a vantagem da
matemática – o modelo de todo pensamento neopositivista – reside
apenas nessa “economia intelectual”. Operações lógicas complicadas
são levadas a cabo sem a execução efetiva de todos os atos intelectuais
sobre os quais se baseiam os símbolos matemáticos e lógicos. Tal
mecanização é, de fato, essencial para a expansão da indústria; mas
se ela se torna o traço característico das mentes, se a própria razão
é instrumentalizada, ela assume certa materialidade e cegueira,
torna‑se um fetiche, uma entidade mágica que é aceita em vez de ser
experienciada intelectualmente (HORKHEIMER, 2015a, p. 31).

A subjetividade da razão instrumental mostra‑se não somente na matematização dos processos


industriais, mas principalmente nas análises sociológicas e econômicas, que partem sempre do que
é pesquisado em termos de quantidade. Em outras palavras, para tomar decisões (sejam elas estatais
ou empresariais), vale o estatístico. Todas as esferas da existência humana foram moldadas por essa
concepção racional, que apresenta o mundo social e o mundo natural por fórmulas e cálculos, e deixa
de lado as emoções e a própria reflexão crítica.

Desse modo, verifica‑se o domínio do pragmatismo por meio do conhecimento científico. O


pragmatismo considera os avanços da física experimental o verdadeiro referencial da ciência. Isso
porque a física é, de todas as ciências, aquela que traz os resultados de laboratório mais precisos para a
produção de tecnologia para a indústria.

A expansão racionalizada da física aplica‑se desde a produção industrial até o atendimento de


pessoas mediante uma burocracia bem organizada e bem administrada. Essa aplicação, organizada por
estatísticas e procedimentos metodicamente quantificados, é posta a serviço de tudo para a melhor
eficiência dos processos de dominação.

É preciso considerar ainda que, segundo Horkheimer, a razão instrumental, por apresentar os
conceitos e as determinações do conhecimento de modo subjetivo, também é responsável pela
alienação entre o sujeito e o objeto – a alienação do sujeito em relação ao contexto sociocultural em
que está inserido.

Horkheimer diz que a razão crítica – a razão não como instrumento, mas como condição de
reflexão, que permita a apreensão do mais universal e, ao mesmo tempo, dos particulares e singulares,
inspirados na dialética histórica – corre o sério risco de ficar para trás dos desenvolvimentos industriais
e científicos, os quais buscam firmar um sentido que pode ser uma verdadeira ilusão. Para evitar esse
risco, é fundamental considerar que a denúncia daquilo que hoje se chama razão é o maior serviço que
a razão pode prestar.

65
Unidade II

Resumo

Nesta unidade, vimos que as pesquisas desenvolvidas pela Escola de


Frankfurt concentravam‑se na análise da sociedade capitalista entre as
duas guerras mundiais. As reflexões elaboradas por esses filósofos não
tinham uma unidade, no sentido de uma posição única e excludente. Apesar
disso, havia no início a preocupação comum de formular uma metodologia
interdisciplinar, isto é, de formatar um instrumental investigativo
constituído por filosofia, sociologia, antropologia e psicologia.

Embora a Escola de Frankfurt não apresente uniformidade em suas


ideias, desde o início ela propôs uma profunda crítica à realidade social,
particularmente à repressão da autonomia do indivíduo, à alienação
que o sistema produzia e ao poder de controle econômico dos processos
sociais e culturais. A construção de um conjunto investigativo, segundo os
pensadores da Escola de Frankfurt, pressupunha a possibilidade de melhor
apreender a realidade social a partir das concepções teóricas marxistas.

Os pensadores concentravam‑se nos estudos da sociedade pelos


procedimentos do materialismo histórico, conforme as posições de Marx e
Engels. Acrescente‑se que a apreensão da totalidade e, ao mesmo tempo,
a interpretação das particularidades da sociedade capitalista exigiam o
suporte teórico da história, ou melhor, da história da filosofia.

A formulação de uma metodologia de pesquisa interdisciplinar


baseava‑se no fato de que a realidade social apresenta múltiplos aspectos.
Portanto, não é possível compreender e interpretar a sociedade mediante
um único campo de conhecimento. A concepção marxista da sociedade
favorecia as análises por ser uma concepção que permite apreender o
empírico e uma teoria de interpretação.

No entanto, com o tempo, as preocupações iniciais da Escola de


Frankfurt foram abandonadas – a formulação de uma metodologia
investigativa interdisciplinar foi deixada de lado, bem como as
preocupações com a análise crítica do ponto de vista político do
marxismo. Essas modificações decorreram de dois fatores: a decepção
com as práticas políticas do stalinismo e do fascismo e a enorme
produção da cultura de massa do capitalismo. Os fatores apontados,
porém, não impediram a manutenção das críticas ao sistema capitalista
de produção, notadamente ao favorecimento da alienação, tanto de
ordem política quanto de ordem cultural.

66
MATERIALISMO E MARXISMO

De modo geral, é possível dizer que houve decepção com o desempenho


da classe operária numa perspectiva mundial; não aconteceu a oposição
que se esperava em relação às práticas políticas stalinistas e fascistas.
A outra motivação para a mudança da conduta investigativa da Escola de
Frankfurt foi a produção cultural do sistema capitalista – a cultura
de massa é muito mais alienante do que reflexiva, por ser formatada para o
entretenimento de consumo fácil e descartável. Ressalte‑se que, apesar das
desilusões, em nenhum momento se abandonaram as críticas à filosofia
tradicional, isto é, às posições de Descartes e de Comte.

Em síntese (apesar de toda síntese ser ela mesma reducionista),


pode‑se dizer que a Escola de Frankfurt propôs: 1) no início, a formulação
de uma metodologia interdisciplinar de pesquisa científica; 2) profundas
objeções às concepções cartesianas e positivistas; 3) críticas ao sistema de
produção capitalista e oposição ao totalitarismo político. Seus principais
pensadores foram: Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e
Walter Benjamin.

Os estudos de Horkheimer, em geral, concentraram‑se na sociologia do


conhecimento. Esse autor propôs reflexões críticas sobre o conhecimento
e as interações sociais produzidas por ele. De todos os componentes da
Escola de Frankfurt, Horkheimer foi aquele mais se dedicou a distinguir a
filosofia tradicional da teoria crítica. Por meio de suas obras, pode‑se dizer
que a análise da sociedade capitalista do ponto de vista da teoria crítica
busca apreender e interpretar a sociedade para além do próprio significado
de sua produção econômica.

De acordo com Horkheimer, a teoria crítica apreende a razão não


como instrumento, mas como construção da interação entre as pessoas.
Fundamentada na percepção dialética histórica da sociedade, essa posição
teórica afasta‑se consideravelmente da posição filosófica do pragmatismo
– de fato, Horkheimer apresenta‑se como um pensador crítico da escola
filosófica pragmática.

Esse autor diz que a sociedade capitalista se mostra de forma


dissimulada aos indivíduos, pois o processo de produção da tecnologia e
da cultura favorece uma profunda alienação, isto é, o distanciamento das
estruturas efetivas da sociedade. A ideia de sociedade administrada envolve
a administração não só da produção e distribuição de bens, mas também do
conhecimento (da produção e distribuição dos bens culturais).

Segundo a análise de Horkheimer, há interação ou mesmo complementação


entre as concepções filosóficas do positivismo e as do pragmatismo – o
que é útil para a produção é útil para a razão. A razão instrumental tem
67
Unidade II

como principal marca a subjetividade. A ideia de configurar muito mais


a forma do que o conteúdo propiciou o afastamento da razão crítica e a
participação determinante da razão instrumental na ciência, na produção
econômica e na política.

A razão instrumental fez com que as análises críticas, com autonomia


de raciocínio e discernimento da realidade, fossem negadas. Essa negação
é dissimulada. Na sociedade capitalista, o indivíduo perde a capacidade
de tomar decisões por si mesmo – elas são sempre tomadas a partir dos
interesses postos pelas estruturas de poder, tanto de modo explícito quanto
de modo implícito, em forma de ideologia ou de crença política.

Para Horkheimer, a produção capitalista é uma produção não


somente de bens materiais, mas principalmente de bens culturais – por
exemplo, o conhecimento científico, as artes e as ideias que podem ser
designadas como ideologia ou crenças sociais e políticas. O domínio
nesse sistema é fundamentalmente mediado pela razão instrumental,
traduzindo‑se em todas as práticas socioculturais e em todos os
segmentos sociais.

Exercícios

Questão 1. A Escola de Frankfurt, vertente de pensamento surgida na Alemanha, tinha como


representantes alguns dos nomes mais importantes do marxismo contemporâneo, entre os quais
Max Horkheimer e Theodor Adorno. Considerando os ideais dessa escola, julgue os itens a seguir,
atribuindo‑lhes os valores de verdadeiro (V) ou falso (F).

I – O grande contributo da Escola de Frankfurt foi o restabelecimento, sob novas roupagens, da


teoria positivista.

II – A Escola de Frankfurt defendia que a investigação da realidade deveria valer‑se de uma


metodologia interdisciplinar.

III – A vinculação da Escola de Frankfurt ao autoritarismo político fez com que essa escola e seus
pensadores fossem desacreditados na Alemanha.

IV – Para os pensadores da Escola de Frankfurt era basal a defesa da liberdade e dos interesses coletivos.

V – Temas como a exploração da mão de obra e a crítica ao sistema capitalista dos modos de
produção foram abordados de forma marginal e pontual pelos pensadores da Escola de Frankfurt.

68
MATERIALISMO E MARXISMO

A sequência correta dos valores atribuídos está expressa na alternativa:

A) F, F, V, V, V.

B) V, F, V, F, F.

C) F, F, F, V, V.

D) V, V, V, V, V.

E) F, V, F, V, F.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a Escola de Frankfurt se caracterizava por uma ferrenha oposição às teorias e aos
métodos vinculados à corrente positivista.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a interdicisplinaridade, com o aporte de vários saberes e várias formas de conhecimento


em prol de uma realidade investigada, é uma perspectiva recorrente entre os pensadores da Escola de
Frankfurt.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a Escola de Frankfurt apresentou um amplo rol de temas, todos vinculados ao


pensamento marxista. Entre esses temas encontra‑se a questão política. Os pensadores dessa escola se
contrapuseram ao autoritarismo político.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: apesar de a Escola de Frankfurt se consolidar como uma escola de pensadores teóricos,
esses autores também defenderam a liberdade coletiva e os interesses do grupo. Dessa forma, para além
de escrever sobre o desenvolvimento capitalista, a Escola de Frankfurt apoiava uma sociedade mais justa
e igualitária.

V – Afirmativa incorreta.

Justificativa: os pensadores da Escola de Frankfurt fizeram muitas críticas ao modo de produção


capitalista e à exploração da mão de obra.
69
Unidade II

Questão 2. Max Horkheimer foi um dos principais representantes da Escola de Frankfurt. Entre os
conceitos que elaborou, com base no marxismo, encontra‑se sua compreensão sobre o indivíduo. Leia
este fragmento extraído do livro Eclipse da Razão: “O indivíduo outrora concebeu a razão exclusivamente
como um instrumento do eu. Agora, ele experimenta o inverso dessa autodefinição”. Agora, considere
estas afirmativas:

I – A individualidade é condicionada pela crise da razão e pela irracionalidade que integra a sociedade
capitalista, manifesta nos períodos de guerra.

II – O indivíduo sempre busca sua preservação. Na sociedade capitalista, porém, ele perde a
consciência de sua identidade.

III – Na sociedade capitalista, o indivíduo perde a noção da historicidade do desenvolvimento do


gênero humano.

IV – As elites, ou classes mais abastadas economicamente, não têm qualquer problema para
reconhecer e firmar sua identidade.

V – A individualidade não provém do modo de produção capitalista. Antes, está associada somente
à forma como os homens se relacionam com a razão.

O conceito de indivíduo, de Horkheimer, é expresso corretamente nas afirmativas:

A) I, II e III.

B) I, II e IV.

C) II, IV e V.

D) II, III e V.

E) III, IV e V.

Resolução desta questão na plataforma.

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