Artigo 1 Consciência Negra 1a2022
Artigo 1 Consciência Negra 1a2022
Artigo 1 Consciência Negra 1a2022
1. INTRODUÇÃO
2. DESENVOLVIMENTO
Somente o olhar infantil tem o poder de promover um debate franco
desconstrutor de estereótipos raciais para, através dos indícios, pensar outras formas de
crescer nesse mundo, sem imaginar que bonitos são aqueles diferentes de mim ou de
você, aqueles que nunca poderemos ser.
A grande questão deste artigo é evidenciar se ainda neste século é possível construir
formas de superação e se a potência deste poder verdadeiramente não estaria exatamente
nas relações com as crianças, afinal o mundo infantil é repleto de possibilidades, neste
sentido o ubuntu, como contribuição para uma filosofia nativa mundial no mundo
infantil, é uma expressão viva de uma alternativa em prol da dignidade humana.
2.6 Um corpo negro que nasce marcado pelo racismo (site Lunetas)
A realidade violenta do racismo cotidiano pode iniciar ainda nos primeiros
anos da vida de uma criança negra ou nos primeiros segundos, como foi o caso da
jornalista e mestra em Sociedade e Cultura pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA), Vania Dias que entrevista para o site Lunetas, destaca que
logo após seu nascimento, na maternidade pública de Salvador, sua
mãe, mulher negra e mãe solo, ouviu gratuitamente de uma
profissional de saúde: “Você não tem vergonha de parir alguém tão
feio, não? A sua filha é horrorosa”. Quando rebobina o filme de sua
história, Vania enfatiza que as tais vivências ligadas à agressividade
racista se multiplicaram de maneira subliminar e com muitos
requintes ao longo de toda a sua infância.
Vania diz não saber nomear ou apontar um por um os diversos traumas abertos
quando ainda era menina, mas se considera até hoje uma pessoa que assume, muitas
vezes, uma postura defensiva e desconfiada, como se precisasse prestar conta o tempo
todo. “Eu acreditei por muitos anos que eu era, de verdade, da minha família de
convívio.
A vida poderia ser mais relaxada, porém é um estado permanente de atenção e
vigilância, isso é bem cansativo e estressante.
O racismo abre buracos que nos adoecem em muitas dimensões. Lembro das
amigdalites de repetição e das dermatites de contato, fiéis
companheiras da minha infância. E das doenças autoimune, gatilhos
e descobertas de sequelas invisíveis da vida adulta.” A jornalista
buscou ajuda psicológica na adolescência, num centro público de
saúde mental, para tentar lidar melhor com suas indignações e
revoltas, um processo que durou 10 anos. A terapia e o teatro foram
espaços onde ela pôde trabalhar melhor as suas angústias, raivas,
medos e dúvidas. Através da arte ela viu um novo mundo de
possibilidades e de pessoas que buscavam uma vivência mais
diversa, aberta e respeitosa. Foram encontros essenciais para forjar e fortalecer a mulher
que Vania é hoje.
Em casa, com o filho José, 6, ela busca ser atenta, pois acredita que a atuação
do racismo e de suas ferramentas é tão veloz que mesmo uma criança na sua primeira
infância, antes de ler o mundo da gramática, já sabe ler o mundo dos padrões estéticos
eurocêntricos. “Investimos em mais literatura negra e no dia a dia aumentamos o
diálogo sobre respeito e diferenças. Vania frisa que ainda acha pouco porque a ausência
de negritude nas professoras de ensino infantil, nos colegas, na TV, nos desenhos, nos
quadrinhos, nos consultórios médicos
2.7 Consequências do racismo à saúde mental e física das crianças (site Lunetas)
Manuela Rocha, psicóloga e pesquisadora no grupo Psicologia, Diversidade e
Saúde na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, com pesquisa voltada à
repercussão do racismo na saúde mental da população negra, o racismo interfere na
construção da identidade positiva da pessoa não branca.
Manuela explica que, para ser possível uma construção identitária saudável, ela
precisa ser cuidada em condições sociais que favoreçam a qualidade de vida. Só por
serem negras, as crianças têm atribuições negativas sobre seu corpo cotidianamente
“Sendo esse o contexto social formador da identidade e entendendo que esse
processo de formação se dá com a criança se comprometendo a dizer de si através de
valores, crenças e metas (influenciadas por relações interpessoais, identificações e
cultura da sua comuna), vemos que crescer recebendo representações contraproducentes
sobre si faz com que atributos negativos sejam, em alguma proporção, internalizados e
incorporados à sua autoimagem e autoestima”.
Segundo dados do Ministério da Saúde de 2019, jovens negros têm maior
chance de cometer suicídio no Brasil, além de serem os corpos mais passíveis de
sofrerem com a violência armada: o Atlas da Violência aponta que negros foram 75,7%
das vítimas de homicídio no país em 2018. A cada 23 minutos morre uma pessoa negra.
A psicóloga complementa que, se olhamos para o sistema de poder do racismo e
entendermos que ele causa depressão ou leva ao suicídio, corremos o risco de
responsabilizar as pessoas individualmente por seu adoecimento e por seu tratamento.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença da diversidade no universo lúdico das crianças é de suma
importância, pois contribui para que todas possam lidar desde cedo com aquilo que há
de diferente, tanto em si quanto no outro, respeitando-se mutuamente, convivendo com
as diferenças e aceitando os diversos tipos físicos.
O Brasil é o país que tem a maior população de origem africana fora da África,
porém essa pluralidade étnica não é representada nos brinquedos e muitas vezes também
registra sua ausência dentro das escolas. Esse problema nos leva à necessidade de
refletir sobre a importância de elementos afirmativos no convívio social das crianças,
promovendo um debate acerca da presença da representatividade nos espaços escolares
para o desenvolvimento construtivo e significativo.
Entender os nossos vieses cognitivos, isto é, os nossos padrões
comportamentais baseados nas nossas experiências e percepções prévias, nos ajuda a
identificar os gatilhos capazes de distorcer o nosso julgamento e, inclusive, originar
atividades discriminatórias.
Sabemos que as questões relativas às desigualdades raciais advêm de aspectos
históricos da formação da nossa sociedade e há necessidade de compreendermos a
verdadeira origem deste problema estruturante e que ainda se perpetua, para que
possamos combater esta naturalização da subalternidade dos negros/as, reforçada pelo
modo econômico vigente.
A violência policial, que em sua grande maioria atinge a população negra e
jovem, é um exemplo do quanto os preconceitos institucionais e individuais são
naturalizados. É preciso resgatar os avanços conquistados pela luta antirracista classista
e torná-los visíveis para que a resistência e luta de outrora nos fortaleçam para o
enfrentamento, presente e futuro, do racismo estrutural de nossa sociedade. Devemos
repudiar veementemente falas racistas como a do vice presidente da República, Mourão,
que tentam invisibilizar a violência racista contra a população negra e contribuem com a
naturalização da política de genocídio desta população, como o assassinato de João
Alberto Silveira Freitas por seguranças, entre eles um policial militar, de um
supermercado em Porto Alegre. É inadmissível um crime racial tão bárbaro ser
associado a uma simples fatalidade de desigualdade social. Existe sim racismo no
Brasil, que ceifa vidas - vidas negras.
REFERÊNCIAS
GUEDES, Gabriela. Vidas Negras Importam Mãe Atípica Preta. Disponível em:
https://omundoautista.uai.com.br Acesso em: 14 de Nov. 2022
SILVA, Ana Célia. A representação social do negro no livro didático: o que mudou?
Por que mudou? Salvador. Edufba. 2011