Tratamento Nutricional Dos Desequilíbrios Orgânicos
Tratamento Nutricional Dos Desequilíbrios Orgânicos
Tratamento Nutricional Dos Desequilíbrios Orgânicos
PROPÓSITO
Compreender o conceito de microbiota intestinal, seu desequilíbrio e suas implicações para a saúde,
assim como a modulação dietética apropriada para a manutenção saudável dessa microbiota.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
O intestino humano abriga trilhões de células microbianas como parte essencial de nosso ecossistema
fisiológico saudável. Esse contingente inclui comunidades de bactérias, fungos, arqueas e vírus
frequentemente referidos coletivamente como “microbiota”, enquanto seu genoma é conhecido como
“microbioma”.
Veremos neste conteúdo que compreender ou definir o que constitui um “microbioma normal” é
desafiador, podendo abranger considerações sobre o núcleo funcional, a ecologia da comunidade
saudável e as perspectivas de resistência, resiliência e estabilidade da ecologia microbiana e
metabólitos relacionados.
O quanto uma microbiota é alterada ao longo do tempo em um indivíduo ainda precisa ser determinado.
Desde o parto, influências ambientais substanciais em três aspectos (composição, função e
metabolismo) microbianos intestinais de um indivíduo podem impactar direta ou indiretamente no
metabolismo do hospedeiro.
MICROBIOTA INTESTINAL
CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS
A microbiota intestinal pode ser vista como um órgão do corpo real que contribui para o bem-estar do
organismo hospedeiro. Os trilhões de micro-organismos que colonizam o trato gastrointestinal (GI)
influenciam processos locais e sistêmicos, como transformação de nutrientes, fornecimento de
vitaminas, maturação da imunidade mucosa, comunicação intestino-cerebral e até progressão de tumor.
Como outros órgãos, o funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma composição
celular estável, que, no caso da microbiota humana, consiste principalmente em bactérias dos filos
Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria e, em menor extensão, Proteobacteria.
Imagem: Shutterstock.com
Grandes mudanças na proporção entre esses filos ou na expansão de novos grupos de bactérias levam
a um desequilíbrio conhecido como disbiose. A redução da diversidade microbiana e o crescimento de
Proteobacteria são características da disbiose. Um número crescente de doenças está associado à
disbiose intestinal, que, em alguns casos, contribui para o desenvolvimento ou a gravidade da doença.
A disbiose é uma característica marcante das doenças inflamatórias intestinais (DII), como colite
ulcerativa e doença de Crohn, assim como de distúrbios metabólicos, doenças autoimunes e distúrbios
neurológicos. Ela pode desencadear a doença nas primeiras semanas de vida, conforme observado na
enterocolite necrosante; durante a idade adulta, por meio da promoção de câncer colorretal; ou em
pessoas já idosas, como a diarreia associada a Clostridium difficile.
Imagem: Shutterstock.com
A replicação de uma doença por meio do transplante da microbiota intestinal de um animal doente
para um saudável é frequentemente usada em uma segunda etapa para confirmar a contribuição da
disbiose intestinal para a doença. Esse transplante demonstrou a contribuição de micro-organismos
intestinais, entre outros, para a obesidade e a aterosclerose em camundongos.
No entanto, apesar das fortes evidências obtidas com o sequenciamento do rRNA 16S e o transplante
de microbiota, a responsabilidade de grupos bacterianos específicos enriquecidos em um estado de
doença frequentemente permanece circunstancial. Alguns patógenos reais permanecem até abaixo do
limite das técnicas de detecção atuais.
Bactérias que produzem uma ampla gama de enzimas digestivas se alimentam com frequência de
outras com capacidade limitada de forrageamento. O aumento da liberação de nutrientes pode promover
o crescimento paralelo de bactérias inofensivas e prejudiciais.
Além disso, a fronteira entre o bem e o mal é frequentemente confusa, já que algumas bactérias
simbióticas podem se tornar patogênicas quando presentes em grande número no intestino. Chamadas
de patobiontes, elas podem ser difíceis de se reconhecer quando sua expansão ocorre simultaneamente
a outras mudanças na composição microbiana do intestino.
Frequentemente, um único fator não é suficiente para induzir disbiose, pois a microbiota intestinal tem
uma resiliência intrínseca, ou seja, uma capacidade de se adaptar às variações na disponibilidade de
nutrientes e às mudanças nas condições ambientais. Em contraste, as ações combinadas de vários
fatores podem levar grupos microbianos a um ponto de inflexão que eventualmente acarreta grandes
mudanças de significado patológico.
DIETA
VÁRIOS MEDICAMENTOS
MUCOSA INTESTINAL
SISTEMA IMUNOLÓGICO
A PRÓPRIA MICROBIOTA
POSTULADOS DE KOCH
Procedimentos realizados em sequência para estabelecer a relação causal entre um
microrganismo e uma doença.
Mudanças moderadas na composição microbiana podem, portanto, fornecer uma janela de oportunidade
para outros fatores agravantes a fim de amplificar mudanças em grupos bacterianos específicos a ponto
de causar desequilíbrio. Estresse oxidativo, bacteriófagos e bacteriocinas constituem fatores típicos que
exacerbam as mudanças da microbiota a ponto de promover a disbiose.
Estudos em animais livres de germes (GF) mostraram que a falta da microbiota intestinal leva a uma
deficiência significativa no funcionamento do sistema imunológico.
SAIBA
MAIS
Até poucos anos atrás, era opinião comum que o feto se desenvolvia em ambiente uterino totalmente estéril e
que a primeira colonização intestinal ocorria desde o nascimento. No entanto, estudos recentes refutaram
essa concepção e demonstraram a presença de micro-organismos na placenta, no líquido amniótico e no
cordão umbilical. Foi levantada então a hipótese de que o feto começa a colonizar o próprio GI em
desenvolvimento ao engolir o líquido amniótico e as bactérias que ele contém no útero. Além disso, o
mecônio fetal contém micro-organismos.
De todo modo, é apenas no parto que os bebês ficam expostos à maioria dos micro-organismos
responsáveis pela colonização intestinal e pelo desenvolvimento da microbiota. Ademais, o tipo de parto
é muito importante, pois a microbiota intestinal inicial do bebê pode se assemelhar, em termos de
composição, aos micro-organismos com os quais ele entrou em contato durante o parto.
SAIBA
MAIS
Após um parto vaginal, o bebê entra em contato com a microbiota vaginal, mas, se for feita uma cesariana,
ele entrará em contato com a microbiota epidérmica. Estudos demonstram que bebês nascidos de um parto
natural podem desenvolver uma microbiota mais variada do que aqueles advindos de uma cesariana.
O padrão de colonização inicial é considerado caótico. Vários estudos sugerem que os fatores
ambientais e a dieta são responsáveis por grandes mudanças na composição. Em uma criança, durante
a primeira fase da colonização intestinal, os micro-organismos presentes são predominantemente
aeróbios – muitos deles com potencial patogênico como Enterobactérias, Estafilococos e Estreptococos.
Foto: Shutterstock.com
O aleitamento materno (AM) é o alimento idealizado pela natureza para recém-nascidos e lactentes,
embora, nas últimas décadas, ele seja muito frequentemente substituído por diversas formulações
lácteas (FL). De maneira geral, pode-se dizer que o AM tem se mostrado um fator protetor para muitas
doenças inflamatórias intestinais e até para o neurodesenvolvimento, enquanto o uso dos diversos tipos
de leite formulado para crianças tem demonstrado um aumento do risco de doenças intestinais por
induzir a formação incorreta da microbiota intestinal.
Bebês amamentados têm uma população microbiana intestinal mais uniforme do que aqueles nutridos
por FL. Esse aspecto tem implicações muito importantes para o futuro da criança.
O estudo da microbiota intestinal de um recém-nascido amamentado pode fornecer informações
fundamentais sobre:
A tendência ao desenvolvimento
Proteínas
Gorduras
Carboidratos
Imunoglobulinas
Endocanabinóides
Polissacarídeos indigeríveis
Alguns desses polissacarídeos atuam como verdadeiros prebióticos capazes de estimular seletivamente
o crescimento de bactérias benéficas. A maioria deles é formada por bifidobactérias indispensáveis para
o fortalecimento da proteção da mucosa intestinal graças à sua atividade específica contra patógenos e
ao aumento da imunoglobulina A (relacionada à modulação do sistema imunológico intestinal).
Após o desmame, a composição da microbiota intestinal ainda varia em relação ao tipo de alimentação.
Contudo, após os três anos de vida, na ausência de distúrbios, como mudanças alimentares em longo
prazo ou o uso repetido de antibióticos e medicamentos, a composição bacteriana da microbiota
intestinal permanece relativamente estável até a velhice. Em geral, ao longo da vida, as bifidobactérias
diminuem, enquanto Bacteroidetes e Firmicutes aumentam.
A existência de uma correlação próxima entre a microbiota intestinal e o cérebro tornou-se cada vez
mais evidente, embora os mecanismos envolvidos não sejam completamente claros: a existência de um
eixo intestino-cérebro tornou-se, assim, o principal foco da neurociência.
ATENÇÃO
O limite necessário para desencadear a disbiose depende muito dos grupos bacterianos afetados.
Mudanças amplas nos principais filos Bacteroidetes e Firmicutes podem permanecer sem
consequências patológicas, ao passo que quantidades aumentadas de grupos marginais têm o potencial
de causar grandes alterações na microbiota intestinal e na saúde dos indivíduos.
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Além dos principais fatores introduzidos acima, parâmetros adicionais, como temperatura, pressão
atmosférica e pressão parcial de oxigênio, também influenciam a composição microbiana do intestino.
EXEMPLO
A exposição de camundongos a uma temperatura baixa de 6°C aumentou os níveis de firmicutes intestinais
às custas de Bacteroidetes, enquanto a microbiota adaptada ao frio resultante aumentou o gasto de energia.
A abundância relativa de Firmicutes também foi aumentada em seres humanos que vivem em grandes
altitudes, embora o impacto da altitude sobre a microbiota possa ser difícil de distinguir dos efeitos
advindos de temperaturas ambientes mais baixas e diferentes hábitos alimentares.
SAIBA
MAIS
Um grupo de ratos embarcou em um voo espacial de 13 dias no ônibus espacial Atlantis, o que rendeu os
primeiros dados sobre a microbiota intestinal em microgravidade. A análise da composição microbiana
revelou apenas pequenas mudanças no nível do filo, embora tenha havido algumas variações em
Clostridiales e Lactobacillales no nível de ordem. O voo espacial também causou perda de peso corporal e
diminuição da ingestão de água. Isso significa que essas modificações também podem ser responsáveis
pelas alterações relatadas na microbiota intestinal.
NUTRIÇÃO
A dieta é o principal elemento que afeta a microbiota intestinal. Variações naturais na ingestão de
alimentos causam mudanças transitórias na composição microbiana, embora componentes
predominantes, como carne, peixe e fibras, tenham efeitos duradouros sobre a microbiota e deixem
assinaturas típicas caracterizadas por mudanças em grupos bacterianos específicos.
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A alteração da composição dos alimentos, bem como a escassez ou o excesso de oferta, afetam a
microbiota intestinal. A ausência de nutrientes no intestino durante a alimentação parenteral aumenta os
níveis de Proteobacteria, promovendo uma inflamação na parede da mucosa e eventualmente causando
uma quebra da barreira epitelial.
O fornecimento excessivo de nutrientes leva à obesidade, que está associada à disbiose e aos
distúrbios metabólicos inflamatórios.
Uma proporção mais baixa de Bacteroidetes para Firmicutes resulta em uma maior liberação de LPS na
circulação. Já níveis mais altos de LPS contribuem para um estado de inflamação crônica de baixo grau
(o que ocorre na obesidade).
LPS
Em camundongos, níveis elevados de LPS circulante iniciam o ganho de peso e aumentam os marcadores
de inflamação deles em uma extensão semelhante à de uma dieta rica em gordura.
A dieta geralmente é uma combinação de proteínas, gorduras e carboidratos; portanto, o efeito isolado
de cada macronutriente na microbiota in vivo não é facilmente determinado. Contudo, como veremos
adiante, as dietas ricas em um ou dois desses tipos de alimentos fornecem pistas valiosas sobre suas
respectivas influências.
PROTEÍNAS
Em longo prazo, a alta absorção de proteínas animais, aminoácidos e gorduras aumenta as quantidades
relativas de Bacteroides, enquanto a baixa ingestão de proteínas e a elevada de carboidratos aumentam
os níveis de Prevotella. No entanto, surtos de ingestão de alta proteína em curto prazo não produzem
necessariamente os mesmos efeitos.
ENDOTOXEMIA METABÓLICA
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EXEMPLO
Em homens obesos, o consumo de uma dieta rica em proteínas não afetou a abundância de Bacteroides,
mas o grupo de bactérias Roseburia/Eubacterium rectale foi reduzido provavelmente devido à menor
ingestão de carboidratos. Em ratos, a alimentação com uma dieta proteica está associada a menores teores
de Clostridium e Faecalibacterium prausnitzii, enquanto os Bacteroides não aumentam paralelamente.
Enquanto as mudanças microbianas induzidas pelo alto consumo de proteínas são moderadas, as que
ocorrem nos produtos de fermentação são mais evidentes. Uma dieta rica em proteínas aumenta a
produção de:
Com uma ingestão alimentar excessiva de proteínas e aminoácidos, também é registrado um aumento
da síntese de óxido nítrico (NO). Esse produto antimicrobiano influencia fortemente a microbiota
intestinal, enquanto os níveis aumentados de NO medidos em pacientes obesos provavelmente
contribuem para o desenvolvimento de uma microbiota associada à obesidade.
GORDURAS
Uma alta ingestão de gordura induz mudanças notáveis na composição da microbiota intestinal. A
diversidade geral diminui com a abundância relativa de Bacteroidetes, enquanto a relativa de Firmicutes
aumenta. Mesmo certas características estruturais, como o grau de saturação de ácidos graxos, marcam
a microbiota.
EXEMPLO
Alimentar ratos com gorduras insaturadas aumentou o contingente de Actinobactérias, bactérias do ácido
láctico e Akkermansia muciniphila, criando uma composição microbiana que protegia do ganho de peso e da
inflamação do tecido adiposo branco. Curiosamente, alimentá-los com gordura saturada resultou em uma
maior produção de LPS e mais ativação do TLR4 e TLR2 do que com gordura insaturada.
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A dieta rica em gordura também exerce indiretamente uma influência na microbiota intestinal,
aumentando o pool de ácidos biliares. Após a emulsificação dos lipídios da dieta, a maioria dos ácidos
biliares é reabsorvida no íleo distal.
A ligação com o FXR não apenas regula a síntese de ácidos biliares, mas também influencia a
homeostase de lipídios, glicose e energia. No fígado, o FXR inibe a indução da proteína de ligação ao
elemento regulador de esterol SREBP1c, inibindo, assim, a lipogênese e diminuindo o risco de
esteatose.
A sinalização de TGR5 induz a produção de peptídeo semelhante ao GLP-1 no intestino, o que melhora
a sensibilidade à insulina. Ao aumentar a atividade mitocondrial no tecido adiposo marrom e a
fosforilação oxidativa no músculo, a ativação do TGR5 também eleva o gasto de energia.
As bactérias intestinais regulam a sinalização do receptor do ácido biliar, convertendo os ácidos biliares
primários em secundários com diferentes afinidades de ligação. As bactérias do filo Firmicutes se
destacam pela atividade de 7α-desidroxilação para transformar o ácido cólico e quenodeoxicólico em
ácidos desoxicólico e litocólico (ambos têm uma afinidade de ligação inferior para FXR e uma maior para
TGR5).
FIBRAS
As fibras têm efeito direto sobre a microbiota, atingindo o cólon devido à sua indigestibilidade e
alimentando a fermentação microbiana. Uma dieta rica em polissacarídeos vegetais promove o
crescimento de Bacteroidetes sobre Firmicutes.
Curiosamente, uma microbiota intestinal com uma proporção aumentada de Firmicutes para
Bacteroidetes tem uma maior capacidade de extrair energia da dieta. Ao fornecer mais enzimas para a
quebra dos polissacarídeos dietéticos, ela aumenta a absorção de monossacarídeos e ácidos graxos de
cadeia curta (AGCC) pela mucosa intestinal. Esse processo maximiza a utilização de nutrientes, mas, no
caso de um excesso de fornecimento de alimentos, também faz isso com o armazenamento de energia.
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Monossacarídeos liberados por micro-organismos são transferidos para o fígado através da veia porta e
ativam a proteína de ligação do elemento de resposta a carboidratos. Isso leva ao aumento da
transcrição de vários genes envolvidos na lipogênese hepática de novo e, com isso, da transferência de
lipídeos para os depósitos de gordura em tecidos periféricos.
O aumento da absorção intestinal de butirato, acetato e propionato de SCFA fornece energia adicional
para diversos tecidos. Usado principalmente pelos colonócitos, o butirato estimula sua proliferação e
diferenciação. Já o acetato alimenta a lipogênese nos tecidos periféricos, especialmente nos músculos,
enquanto o propionato entra na gliconeogênese pelo fígado.
Uma maior produção de SCFA pela microbiota associada à obesidade pode ser um fator que contribui
para a maior deposição de triglicerídeos nos tecidos adiposos, bem como no fígado. Além de sua
contribuição calórica, os SCFA ativam as vias metabólicas, agindo como ligantes para os seguintes
receptores acoplados à proteína G (GPCRs): GPR41 e GPR43 (também conhecidos como receptores
de ácidos graxos livres 3 e 2).
A ativação de GPR41 e GPR43 está associada à expansão do tecido adiposo e aos processos
inflamatórios, embora o resultado dessa ativação como protetor ou causador permaneça obscuro. Essa
ativação também eleva os níveis de leptina nos adipócitos, o que resulta no aumento da sensibilidade à
insulina e em uma maior saciedade.
A sinalização GPR43 nas células L intestinais aumenta a produção de GLP-1, que melhora a tolerância
à glicose. Acetato e propionato são os principais ligantes que ativam a GPR43 no tecido adiposo e nas
células imunes, pois o butirato serve principalmente como fonte de energia para os colonócitos,
enquanto quantidades relativamente pequenas atingem a periferia.
Na disbiose relacionada à obesidade, os perfis de AGCC mudam de forma consecutiva quanto à
diminuição da proporção entre Bacteroidetes, produzindo grandes quantidades de acetato e propionato,
e Firmicutes, que produz principalmente butirato. Portanto, a diminuição da produção de acetato e
propionato pela microbiota provavelmente reduz a sinalização de GPR43.
Resta a seguinte questão: uma microbiota equilibrada pode ser restaurada por meio da
suplementação de prebióticos e probióticos?
PREBIÓTICOS
Essas mudanças estão associadas a níveis mais elevados de GLP-2, o que reduz a permeabilidade
intestinal. Uma ingestão da oligofrutose (prebiótico) desloca a composição da flora intestinal para um
padrão não obeso, aumentando Bacteroides e reduzindo Firmicutes tanto em ratos ob/ob quanto
naqueles geneticamente propensos ao desenvolvimento de obesidade e resistência à insulina.
PROBIÓTICOS
Camundongos livres de germes deficientes em ANGPTL4 perdem sua proteção contra a obesidade
induzida por dieta. A suplementação deles com o probiótico Lactobacillus paracasei aumenta os níveis
circulantes de ANGPTL4 e reduz sua gordura corporal.
A Akkermansia muciniphila é outra espécie que provou ser capaz de reduzir a obesidade quando
suplementada em camundongos. Embora essa espécie possa causar um aumento da gravidade em
modelos de colite, ela tem um efeito protetor em camundongos obesos ao engrossar sua camada de
muco, diminuindo, com isso, a permeabilidade intestinal e a endotoxemia, além de prevenir uma
inflamação.
CARBOIDRATOS
O processamento de polissacarídeos vegetais complexos, como pectinas, xilanos e frutanos, requer
uma bateria de endo e exoglicosidases com atividades capazes de liberar monossacarídeos como a
Ramnose, ácido galacturônico, arabinose, xilose, frutose e glicose.
Em contraste, a utilização de glicanos da mucina intestinal requer diferentes atividades. Elas consistem
em:
GALACTOSIDASES
N-ACETILGLUCOSAMINIDASES
N-ACETILGALACTOSAMINIDASES
FUCOSIDASES
SIALIDASES
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A E. coli não expressa nenhuma glicosidase capaz de degradar carboidratos complexos, mas é uma
consumidora ávida dos monossacarídeos N-acetilglucosamina, ácido N-acetilneuramínico (Neu5Ac) e
fucose. Consequentemente, a E. coli intestinal e outras Enterobacteriaceae respondem à presença de
monossacarídeos específicos, aumentando a proliferação e alterando a expressão de fatores de
virulência.
Algumas espécies de Bacteroides, como Bacteroides fragilis, expressam agrupamentos NAN totalmente
operacionais. Já outras, como Bacteroides thetaiotaomicron, expressam apenas sialidases, mas
carecem de transportadores que possam mediar a captação de ácido siálico livre.
Imagem: Shutterstock.com
Bacteroides fragilis
O ácido siálico liberado dessa forma é acessado por outras bactérias que expressam transportadores
possibilitando a captação do açúcar. Esse tipo de alimentação cruzada se trata de um mecanismo
comum que prevalece no ambiente intestinal.
Monossacarídeos liberados de glicanos intestinais podem, portanto, ser utilizados por bactérias
desprovidas de glicosidases e mediar uma forte resposta de proliferação, levando, assim, à disbiose. O
tratamento com antibióticos demonstrou perturbar a microbiota e levar ao aumento da liberação de ácido
siálico, que é responsável por alimentar a expansão dos patógenos Salmonella enterica sorovar,
Typhimurium e Clostridium difficile em um modelo de camundongo.
Da mesma forma, o crescimento de E. coli e a exacerbação da inflamação intestinal que ocorre após a
ingestão de sulfato de dextrana de sódio dependem da liberação de ácido siálico de glicanos sialilados
ligados a α2,3 intestinais.
A obesidade, a alta ingestão de gordura e açúcar na dieta e um aumento do pool de ácidos biliares
diminuem a proporção de Bacteroidetes para Firmicutes. Mudanças nessa proporção afetam a
inflamação crônica e as mudanças metabólicas relacionadas:
À lipogênese
À gliconeogênese
À sensibilidade à insulina
À tolerância à glicose
Como já destacamos, o que comemos também fornece nutrientes para o metabolismo microbiano
intestinal. Desse modo, uma visão mais global do metabolismo vem evoluindo. Ela combina os seguintes
aspectos:
Microbiota intestinal.
Em virtude do fato de que numerosos metabólitos gerados pela microbiota intestinal são biologicamente
ativos e afetam os fenótipos do hospedeiro, o microbioma intestinal também funciona como um órgão
endócrino importante que responde à ingestão alimentar.
Esse microbioma se comunica com órgãos distais no hospedeiro por intermédio de vias complexas,
como a via dos metabólitos gerados pela microbiota intestinal. Ele tem mostrado um impacto em
fenótipos relevantes para doenças cardiovasculares (DCV), variando de inflamação.
Imagem: Extraída de MORAES et al., 2014, p. 317.
Mecanismos envolvidos na relação entre microbiota intestinal e doenças metabólicas.
O fasting induced adipose factor (FIAF) é um inibidor da LPL produzido pelo intestino, fígado e tecido
adiposo. Quando suprimido pela ação da microbiota intestinal, ocorre um aumento da atividade da LPL
que determina então a maior absorção de ácidos graxos e o acúmulo de triglicerídeos nos adipócitos.
COMENTÁRIO
As investigações em animais de FIAF-deficientes mostraram que, quando alimentados com dieta ocidental,
eles ganharam mais peso corporal que os FIAF+/+ wild-type, apresentando ainda maiores concentrações de
leptina e insulina.
MONOFOSFATO-ADENOSINA PROTEÍNA QUINASE ATIVADA
(AMP-Q)
EXEMPLO
Observou-se que camundongos germ-free, mesmo com uma dieta hipercalórica, mantiveram peso. Esse fato
foi atribuído à elevação da atividade da AMP-Q no fígado e no músculo esquelético e à maior oxidação de
ácidos graxos, melhorando a sensibilidade à insulina.
Esses pontos sugerem que a presença da microbiota pode suprimir a oxidação de ácidos graxos
muscular graças a mecanismos que envolvem a inibição da AMP-Q, favorecendo, portanto, a
adiposidade corporal e reação de resistência insulínica.
EIXO CÉREBRO-INTESTINAL
Esse mecanismo diz respeito à sensibilidade do epitélio intestinal a produtos bacterianos. A literatura
atual refere-se ao impacto que a microbiota intestinal pode exercer no comportamento alimentar e no
sistema nervoso central (SNC), influenciando a regulação central da saciedade.
Imagem: Shutterstock.com
O intestino humano é capaz de digerir fibras dietéticas devido, em grande parte, à síntese de enzimas
ocorrida pela microbiota, o que permite a metabolização de polissacarídeos não digeríveis em
monossacarídeos e AGCC – principalmente acetato, propionato e butirato.
Esses AGCC representam uma importante fonte de energia, favorecendo, assim, a adiposidade
corporal. Eles ainda se difundem pelas células de forma passiva ou por transportadores da via do ácido
monocarboxílico, podendo atuar como sinalizadores celulares.
Também existem outros efeitos indiretos que podem influenciar a motilidade intestinal e a produção de
hormônios intestinais, apresentando um papel na regulação da saciedade. Os AGCC possuem a
capacidade de se ligar a estes dois GPCRs:
GPR41
GPR43
Dessa forma, ao serem ativados, esses receptores aumentam a produção de PYY, fato que favorece a
redução da motilidade intestinal e propicia uma maior absorção de nutrientes do lúmen intestinal – em
especial dos AGCC, que são substratos para a lipogênese no fígado. Da mesma maneira, o PYY realiza
suas funções hormonais no SNC ao inibir neurônios orexígenos do núcleo arqueado, induzindo, assim, a
saciedade.
Nesse contexto, camundongos Gpr41-/-, com ou sem flora intestinal, apresentaram menor peso que
camundongos Gpr41+/+, apesar do mesmo consumo alimentar. Sugere-se que a Gpr41-/- esteja
associada com a menor produção de PYY e a maior velocidade de trânsito intestinal, o que reduz a
absorção de nutrientes (AGCC). A expressão de GPR43 parece não estar envolvida na diferenciação do
tecido adiposo, mas está possivelmente relacionada a processos inflamatórios associados ao TNF-α.
SAIBA
MAIS
Estudos realizados com prebióticos indicaram uma maior produção intestinal de AGCC sendo associada ao
aumento da saciedade e à consequente redução da ingestão alimentar. Esses efeitos, em parte, relacionam-
se ao aumento de GLP-1 (melhora da resposta glicêmica e insulinêmica), GLP-2 (redução da inflamação) e
PYY, os quais, em conjunto com a redução da grelina, ocasionam efeitos hipotalâmicos relacionados ao
mecanismo de recompensa.
O sistema endocanabinoide está envolvido em vários processos fisiológicos, como apetite, motilidade
intestinal, homeostase da glicose, função da barreira intestinal e modulação da resposta inflamatória.
Essa interação entre os peptídeos estimulados pela microbiota intestinal e o sistema endocanabinoide
pode estar envolvida no controle da permeabilidade intestinal e da endotoxemia metabólica na
obesidade.
LIPOPOLISSACARÍDEOS
A identificação dos TLRs permite o entendimento sobre como nosso organismo reconhece antígenos
(como o LPS) e de que maneira ocorrem as reações pró-inflamatórias e os distúrbios metabólicos.
Essas anormalidades não estão presentes em animais knockout para esse tipo de receptor.
Vários TRLs (TRL 1, 3, 5, 6, 7, 9 e 10) têm sido descritos como mecanismos para gerar inflamação e
resistência à insulina, destacando-se especialmente as descobertas relativas a TRL2, TRL4 e TLR5.
Muitas evidências mostram que os LPS induzem inflamação e resistência à insulina.
Essas anormalidades são desencadeadas, em parte, pela ligação dos LPS ao complexo CD14 e ao
TLR4 das células imunes inatas, funcionando como gatilho para a síntese de citocinas pró-inflamatórias
não apenas pelas células do sistema imune, mas também pelo tecido adiposo, promovendo, com isso,
uma endotoxemia metabólica.
Associadas à ingestão de dietas ricas em gorduras, grandes concentrações circulantes de LPS podem
desencadear uma inflamação subclínica crônica, que participa na gênese da obesidade, do DM2 e de
outras doenças. Vários TLRs respondem às estruturas bacterianas; uma vez ativados, eles podem
induzir ou atenuar a resistência à insulina.
ATENÇÃO
Tomadas em conjunto, as descobertas sobre os mecanismos de ação da microbiota sugerem que esse
ecossistema pode contribuir diretamente para o metabolismo do hospedeiro, afetando a homeostase
energética, modificando as atividades enteroendócrinas e contribuindo ainda para a inflamação crônica
subclínica via sinalizações celulares pró-inflamatórias.
Esses fármacos têm sido empregados até em investigações experimentais sobre o papel da microbiota
na geração de inflamação e resistência à insulina, além de defeitos básicos em doenças, como a
obesidade e o Diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Contudo, a modulação da microbiota por meio da dieta
talvez seja a forma mais simples, fisiológica, eficaz e de maior adesão para se obter modificações no
perfil de risco cardiometabólico.
COMUNICAÇÃO MICROBIOTA-CÉREBRO
A literatura científica recente destacou a estreita correlação existente entre a microbiota intestinal e o
desenvolvimento do cérebro, bem como uma correspondência entre a alteração da microbiota intestinal
e o aparecimento de algumas patologias neurológicas.
EXEMPLO
Ansiedade, depressão, doença de Parkinson (DP), doença de Alzheimer (AD), esclerose múltipla, isquemia
cerebral e transtorno do espectro autista (ASD).
Com base nessas descobertas científicas, fica claro que qualquer forma de disbiose intestinal é capaz
de favorecer o desenvolvimento de doenças neurológicas. Por isso mesmo, é fundamental conhecer e
compreender os instrumentos de diálogo que existem entre o intestino e o cérebro.
O intestino pode interagir com o cérebro por meio de comunicação direta. Os três principais
mecanismos são:
EEC do intestino.
Imagem: Shutterstock.com
Aspectos funcionais do GI, como movimentos peristálticos, o transporte de substâncias e o fluxo local de
sangue, são regulados por uma rede de gânglios neuronais conhecida como ENS. Sabe-se que os
neurônios do ENS se comunicam utilizando a mesma “linguagem” do SNC.
O ENS consiste em dois plexos ganglionares compostos de neurônios e glias que regulam uma
variedade de funções gastrointestinais e são essenciais para a vida. Localizados entre as camadas do
GI, esses plexos são caracterizados por cerca de 20 subtipos de neurônios que se diferenciam pela
expressão de vários neuropeptídios.
Essa conversa cruzada direta torna o ENS um alvo importante para a patogênese de muitos distúrbios
neurológicos. Sua disfunção está relacionada a distúrbios gastrointestinais, incluindo a constipação
severa, a anorexia e a gastroparesia.
Tais sintomas são comuns em pacientes com doenças neurológicas. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
interage com as células do epitélio intestinal por meio do nervo vago.
SAIBA
MAIS
Alguns estudos pré-clínicos demonstraram que o nervo vago desempenha um papel central na comunicação
neural entre os micróbios do intestino e os efeitos comportamentais mediados centralmente. Em particular,
após uma vagotomia realizada na infância, os indivíduos analisados tiveram um risco menor de desenvolver
distúrbios neurológicos.
A estimulação do nervo vago, que é um tratamento médico usado para tratar a epilepsia e outras
condições neurológicas, se trata da aplicação de impulsos elétricos apropriados ao nervo. Supõe-se que
esses impulsos exerçam uma ação antiepiléptica, antidepressiva e anti-inflamatória, alterando a
excitabilidade do nervo nas células envolvidas.
Uma estreita correlação entre o ENS e a microbiota foi demonstrada pelo número reduzido de neurônios
entéricos e pela motilidade intestinal observada em camundongos GF. Além disso, experimentos
importantes mostraram uma excitabilidade intrinsecamente atenuada em neurônios primários aferentes
e – apesar do desenvolvimento e do influxo contínuo de ENS – uma mucosa intestinal defeituosa nesses
camundongos.
Com a administração da microbiota convencional, a recuperação dos camundongos GF normaliza a
densidade e a fisiologia do ENS no intestino. Cada micro-organismo pode ter um efeito diferente no
ENS: algumas bactérias comensais podem ter um efeito local interagindo com o ENS, enquanto as
patogênicas se beneficiam dele, criando um ambiente mais adequado para seu crescimento e
vantajoso para seus efeitos.
O controle exercido pela microbiota intestinal ocorre por meio do nervo vago e do ENS. Exemplos
clássicos são fornecidos pela bactéria Lactobacillus rhamnosus, que pode modular o comportamento
ansioso, e pela Bifidobacterium longum NCC3001, que exerce efeitos ansiolíticos. Foi demonstrado em
ratos que esses efeitos são perdidos após a vagotomia.
A microbiota suporta a ENS formada no nascimento e participa de sua homeostase ao longo da vida
adulta. Na verdade, em camundongos GF, verificou-se que o ENS é altamente comprometido –
especialmente nas áreas onde as bactérias são normalmente encontradas.
Evidências crescentes mostram que algumas doenças neurodegenerativas, como a DP, podem se
originar no intestino e se espalhar para o cérebro através do nervo vago. A possibilidade de uma estreita
correlação entre a disfunção do ENS e da microbiota e as doenças do SNC tem sido considerada, ainda
que essa hipótese deva ser mais bem analisada e aprofundada.
A Bifidobacterium infantis, por exemplo, se mostrou capaz de elevar os níveis de triptofano no plasma
sanguíneo e, assim, influenciar a transmissão central da serotonina.
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Bacilo: Dopamina.
Lactobacillus: Acetilcolina.
Incluindo butirato, propionato e acetato, os SCFAs são produtos metabólicos essenciais da atividade
microbiana intestinal que podem afetar o cérebro, o equilíbrio de energia e o metabolismo. Além disso,
os AGCC têm propriedades neuroativas.
EXEMPLO
Altas doses de propionato em ratos jovens induziram uma resposta neuroinflamatória e alterações
comportamentais, enquanto o butirato reduziu o comportamento depressivo, exercendo efeito sobre o SNC.
Até o momento, sabe-se que os SCFAs atuam preferencialmente como moduladores epigenéticos por
intermédio das histonas desacetilases. O eixo intestino-cérebro tem outra via de sinalização que envolve
a imunidade por meio de citocinas. Produzidas no intestino, as citoninas podem fluir para a corrente
sanguínea e, sob condições alteradas, afetar áreas do cérebro, como o hipotálamo.
As percepções obtidas da microbiota intestinal e suas vias metabólicas associadas forneceram uma
oportunidade para se explorar o papel contributivo dessa microbiota na geração da variabilidade das
respostas fisiológicas aos nutrientes da dieta.
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COMENTÁRIO
Medindo as respostas do microbioma em mais de 800 pessoas mediante o uso de 16S rRNA e perfil
metagenômico shotgun a fim de avaliar respectivamente a taxonomia e a função, adequar a ingestão
alimentar ao microbioma intestinal de um indivíduo pode minimizar o aumento de glicose pós-prandial. Esses
resultados ressaltam como os conselhos e/ou as intervenções alimentares têm potencial para serem
adaptados individualmente a cada pessoa dada a grande variação na resposta da glicose pós-prandial a
alimentos tradicionalmente “ruins” e “bons”.
Além disso, a administração de Lactobacillus plantarum ou Lactobacillus rhamnosus GR-1 foi associada
à atenuação da remodelação cardíaca pós-infarto em ratos. Micróbios de origem alimentar colonizam os
intestinos de maneira apenas transitória.
Um papel fundamental para a microbiota intestinal é apoiar as funções fisiológicas diárias na digestão
dos alimentos por meio de vários processos de fermentação em resposta à ingestão alimentar de
substratos.
ATENÇÃO
Alguns metabólitos podem até ser absorvidos diretamente na circulação do hospedeiro e servir como
“hormônios” para órgãos distantes como locais de ação. Outros podem ser posteriormente metabolizados por
enzimas hospedeiras semelhantes aos “pró-hormônios”, servindo como mediadores a jusante ou moléculas
de sinalização.
É provável que a maioria dos metabólitos gerados por micróbios possa fornecer efeitos sinérgicos que
promovem a saúde. No entanto, os metabólitos tóxicos também podem se acumular. Isso é
especialmente possível em dois casos:
A detecção desse “metaboloma alimentar” oferece uma oportunidade única para se obter informações
não apenas sobre a qualidade e a quantidade da ingestão de alimentos, mas também sobre as
consequências funcionais como um resultado do complexo metabolismo microbiano-hospedeiro.
A fermentação anaeróbica de nutrientes não digeridos, como o amido resistente, a fibra dietética e
vários polissacarídeos complexos, produz ácidos graxos que variam de uma a seis cadeias de carbono
comumente referidas como AGCC.
Enquanto fornecem de 5 a 10% da fonte de energia para o hospedeiro humano, os AGCCs servem
como moléculas de sinalização, incluindo a modulação dos sistemas autônomos e da pressão arterial
sistêmica, bem como as respostas inflamatórias e outras funções celulares.
Os AGCCs exibem uma ampla gama de funções fisiológicas. Apontaremos algumas delas a seguir:
Proliferação celular
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ATENÇÃO
Pacientes com Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) têm menos abundância de bactérias produtoras de butirato e
mais Lactobacillus spp.
De fato, os AGCCs, em particular o butirato, podem servir como substratos energéticos para as células
epiteliais do intestino. Além disso, o tratamento com a vancomicina reduz a abundância de bactérias
produtoras dele em pacientes com síndrome metabólica, destacando seu importante papel na
manutenção da sensibilidade à insulina.
Demonstrações recentes também revelaram que os AGCCs podem ativar diretamente GPCRs distintos.
O receptor de proteína G41 (GPR41) e o olfativo 78 (Olfr78) são alguns dos GPCR identificados, a partir
de estudos genéticos e de modelos de camundongos, para a interação com AGCCs.
Em particular, o Olfr78 é altamente expresso no aparelho renal justaglomerular, local em que ele medeia
a secreção de renina em resposta a SCFAs. Além disso, tanto o Olfr78 quanto o GPR41 são expressos
em células musculares lisas de pequenos vasos de resistência nos quais medeiam diferencialmente o
tônus vascular.
Curiosamente, os camundongos knock-out para o Olfr78 são hipotensos, enquanto os para o GPR41
são hipertensos. Isso implica que essas vias podem constituir ligações fisiologicamente importantes
entre os SCFAs e o controle da pressão sanguínea do hospedeiro. O propionato de AGCC de três
carbonos pode estimular o Olfr78 a aumentar a pressão arterial, enquanto a estimulação da GPR41 tem
o potencial de diminuir a pressão arterial.
O papel obrigatório da microbiota intestinal na geração de AGCCs foi demonstrado pelo tratamento com
antibióticos que aumentou a pressão arterial em camundongos knockout para o Olfr78, apoiando ainda
mais o envolvimento desses receptores no controle da pressão arterial.
Estudos recentes em animais demonstraram que AGCCs derivados da microbiota intestinal são críticos
para a resposta imune do hospedeiro e a capacidade de reparo cardíaco após o infarto do miocárdio em
um modelo de camundongo com ou sem antibióticos. No entanto, a demonstração direta de tais
efeitos nas DCV humanas permanece limitada.
Os ácidos biliares facilitam a absorção da gordura da dieta e das moléculas solúveis em gordura. Vários
desses ácidos podem regular o metabolismo de energia graças à ativação de receptores nucleares,
como o receptor 1 de ácido biliar acoplado à proteína G (TGR5) e o receptor farnesóide X (FXR).
O FXR intestinal parece regular o colesterol hepático 7α-hidroxilase (CYP7A1), uma enzima que limita a
velocidade da síntese de ácido biliar, por meio de um mecanismo dependente do fator de crescimento
de fibroblastos 15 (FGF-15/19). Desse modo, os humanos produzem um grande pool de ácido biliar
hidrofílico conjugado, sendo ele mantido graças ao antagonismo de feedback positivo de FXR no
intestino e no fígado.
Enquanto isso, por intermédio da hidrólise de sais biliares e da 7α-desidroxilação do ácido biliar, a
microbiota intestinal é capaz de produzir hormônios de ácidos biliares secundários que afetam a
fisiologia do hospedeiro por agonismo de FXR no intestino e no fígado, resultando, assim, em um pool
de ácido biliar hidrofóbico não conjugado menor.
Curiosamente, os ácidos biliares, como o ácido desoxicólico, podem servir como um agente
antimicrobiano direto devido à sua hidrofobicidade e às propriedades detergentes nas membranas
bacterianas. Portanto, existe um equilíbrio dinâmico entre o tamanho e a composição do pool dieta-
microbioma intestinal-ácido biliar.
A hidrofilicidade do pool de ácidos biliares pode estar associada aos estados de doença, enquanto os
níveis reduzidos desses ácidos no intestino podem estar ao crescimento excessivo de bactérias e
inflamação.
COMENTÁRIO
Análogo semissintético do ácido biliar e um potente agonista FXR recentemente aprovado para o tratamento
da esteatohepatite não alcoólica, o ácido obeticólico pode reduzir a translocação bacteriana e a inflamação
intestinal.
Embora as interações com o estilo de vida possam impactar claramente a estrutura e a função da
comunidade microbiana intestinal, poucos estudos exploram o impacto das intervenções dietéticas no
microbioma intestinal em humanos. Os existentes sobre a dieta da microbiota intestinal em humanos
geralmente observam efeitos modestos em curto prazo.
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No entanto, mudanças extremas de dietas baseadas em animais para outras baseadas em vegetais
podem modificar as produções regionais e sistêmicas de SCFAs, contribuindo potencialmente, desse
modo, para alguns dos efeitos benéficos propostos por tais dietas.
SAIBA
MAIS
Em um estudo, uma dieta baseada em animais está associada a aumentos na abundância de micro-
organismos tolerantes à bile (Alistipes, Bilophila e Bacteroides) e a diminuições nos níveis de Firmicutes que
metabolizam os polissacarídeos vegetais dietéticos (Roseburia, Eubacterium rectale e Ruminococcus bromii).
Resultado: reduções significativas nas concentrações de acetato e butirato fecal ao se mudar de dietas
baseadas em plantas para outras baseadas em animais.
Também é interessante notar que o transplante de microbiota fecal de doadores magros para pacientes
resistentes à insulina com síndrome metabólica leva à melhora da sensibilidade à insulina. Esse
transplante também foi associado ao aumento da abundância de bactérias produtoras de butirato, como,
por exemplo, Roseburia.
Na presença de polissacarídeos vegetais R. intestinalis, isso poderia produzir butirato e conferir proteção
contra a aterosclerose, ao passo que, em dietas com um baixo teor de polissacarídeos vegetais,
nenhuma proteção foi observada. Da mesma forma, a microbiota protegeu contra a aterosclerose os
camundongos Apoe- / - alimentados com dieta de ração rica em polissacarídeos vegetais, mas não
aqueles alimentados com dietas de um estilo ocidental.
Em uma descoberta inicial baseada na análise metabolômica não direcionada, Wang e demais autores
(2011) identificaram 18 analitos de pequenas moléculas que, em coortes de caso-controle de validação
subsequentes (2.000 indivíduos), repetidamente faziam a distinção entre pacientes com aqueles sem o
desenvolvimento futuro de eventos cardiovasculares adversos importantes, como, por exemplo, morte,
miocárdio infração (MI) e acidente vascular cerebral.
Alguns desses metabólitos são agora identificados como preditores conhecidos de risco de DCV que
não estão associados à microbiota intestinal (como a L-citrulina). Três dos analitos (m/z 76, 104 e 118)
estavam intimamente correlacionados entre si, sugerindo a participação em um caminho comum.
Já um em particular (m / z 76) parecia estar conduzindo a associação com riscos de DCV incidentes.
Subsequentemente se mostrou que se tratava do N-óxido de trimetilamina (TMAO), um subproduto
dependente da microbiota intestinal da colina e da fosfatidilcolina dietéticas.
Outro metabólito desconhecido – cujos níveis estão fortemente associados a riscos incidentes de DCV –
foi identificado como o aminoácido trimetilisina (TML). Demonstrou-se na análise que ele serve como um
precursor nutriente para a geração de TMAO dependente da microbiota intestinal.
O catabolismo microbiano de nutrientes dietéticos que possuem uma porção trimetilamina [TMA; - N
(CH3) 3], como colina, fosfatidilcolina e L-carnitina, pode servir como um precursor para a geração de
TMA por enzimas microbianas específicas ("TMA liase") residentes nos intestinos.
Gás odorífero com cheiro de peixe podre, o TMA é então absorvido pelo hospedeiro, sendo, após a
entrega ao fígado por meio da circulação portal, rapidamente convertido em TMAO pelo fígado em
enzima flavina mono-oxigenase (FMOs, particularmente o FMO3).
Enquanto camundongos fêmeas pareciam ter mais atividade FMO3 do que os machos, os estudos de
associação do genoma humano ainda não identificaram quaisquer diferenças de sexo nas variantes de
FMO3. Já os pacientes com polimorfismos genéticos de FMO3 experimentaram um distúrbio metabólico
de TMA excessivo denominado de síndrome do mau odor de peixe (ou trimetilaminúria). Eventualmente,
o TMAO é excretado predominantemente pelos rins.
COMENTÁRIO
A química do TMA enquanto um metabólito tóxico foi originalmente estudada por causa de seu acúmulo
como resultado da purificação no esgoto.
A colina é uma fração química abundante na bile, sendo continuamente liberada nos intestinos tanto em
onívoros quanto em veganos. Já a carnitina é um nutriente abundante na carne, especialmente nas
vermelhas. Tanto uma quanto a outra, uma vez presentes no intestino, são absorvidas pelo intestino
delgado através de transportadores específicos, porém essa absorção é incompleta – particularmente no
caso de grandes refeições que podem saturar os sistemas de absorção.
Consequentemente, a ingestão de colina e carnitina na dieta pode dar origem a elevações significativas
no TMA e TMAO. Esse fenômeno já demonstrou ter muitos efeitos adversos no metabolismo do
hospedeiro – em especial, em sua saúde cardiovascular.
Depois de observar que os níveis plasmáticos de TMAO estão associados de forma dose-dependente
com a doença arterial coronariana (DAC) em indivíduos, os estudos funcionais iniciais procuraram
determinar se as associações observadas estavam mecanicamente ligadas à causa da doença.
Para demonstrar diretamente uma contribuição pró-aterogênica da via TMAO do metaorganismo (ou
seja, envolvendo o micróbio e o hospedeiro), esses estudos alimentaram camundongos com uma dieta
rica em colina ou carnitina.
Formação de células
Por outro lado, os camundongos GF (sem micróbios intestinais) ou a supressão antibiótica de curto
prazo de amplo espectro da microbiota intestinal eliminaram a capacidade de geração de TMAO e
suprimiram a dieta (colina ou carnitina), levando ao aumento da placa aterosclerótica dependente.
ATENÇÃO
Em uma coorte de mais de 1.800 indivíduos, os níveis plasmáticos de TMAO, independentemente dos fatores
de risco tradicionais, foram associados positivamente com DAC, doença arterial periférica e história de infarto
agudo do miocárdio (IAM).
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Uma dieta rica em carne vermelha está associada a níveis mais elevados de TMAO circulante, bem
como a uma redução significativa da excreção renal fracionada de TMAO em comparação com outra
com carne branca ou sem carne.
Os níveis plasmáticos de TMAO também podem aumentar com um alto teor de gordura, embora os
efeitos sejam menos claros em dietas isocalóricas.
VOCÊ
SABIA
A "dieta ocidental" é, em particular, pobre em fibras e rica em gordura e/ou carboidratos, sendo um fator que
pode levar à disbiose grave. Em contraste, as dietas "mediterrâneas" e vegetarianas, as quais incluem frutas
abundantes, vegetais, azeite e peixes oleosos, são conhecidas por seus efeitos anti-inflamatórios, podendo
ainda prevenir a disbiose.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) I e II estão incorretas.
E) I e II estão corretas.
A) I e II estão incorretas.
E) I e II estão corretas.
GABARITO
Considerando os conceitos de microbiota intestinal, analise as assertivas a seguir.
I. A microbiota intestinal pode ser vista como um órgão do corpo real que contribui para o bem-
estar do organismo hospedeiro. Os trilhões de micróbios que colonizam o trato gastrointestinal
influenciam processos locais e sistêmicos, como transformação de nutrientes, fornecimento de
vitaminas, maturação da imunidade mucosa, comunicação intestino-cerebral e até progressão de
tumor.
II. Como outros órgãos, o funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma
composição celular estável, que, no caso da microbiota humana, consiste principalmente de
bactérias dos filos Bacteroidetes e Actinobacteria e, em menor extensão, Proteobacteria e
Firmicutes.
II. Níveis mais altos de LPS contribuem para um estado de inflamação crônica de baixo grau que
ocorre na obesidade.
A obesidade é caracterizada pela colonização de Firmicutes que ocasionam uma maior liberação de
LPS na circulação, o que gera, por sua vez, um maior estado inflamatório.
MÓDULO 2
Descrever a nutrição funcional no tratamento das alergias alimentares e da síndrome
bacteriana/fúngica
ALERGIAS ALIMENTARES
CONCEITOS E EPIDEMIOLOGIA
A alergia alimentar (AA) é uma reação adversa a um antígeno alimentar específico normalmente
inofensivo para a população saudável. Mediada por mecanismos imunológicos, a AA surge em
indivíduos suscetíveis a esse alérgeno específico. Ela, portanto, difere das reações adversas causadas
por toxinas ou patógenos contidos nos alimentos, bem como das chamadas intolerâncias alimentares
que, apesar de apresentarem os mesmos sintomas, reconhecem mecanismos patogenéticos diferentes.
As intolerâncias são definidas como reações não imunes mediadas por mecanismos tóxicos,
farmacológicos, metabólicos e indefinidos. Eis dois exemplos de intolerâncias alimentares não imunes
mediadas:
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Intolerância ao leite devido à deficiência da enzima lactase (normalmente presente na borda em escova
da mucosa intestinal).
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Reações adversas a alimentos caracterizados por um alto teor de histamina ou por substâncias
liberadoras de histamina, como morangos, chocolate, bebidas alcoólicas e queijos fermentados.
O que distingue a fórmula baseada em aminoácidos (AAF) de outras reações adversas aos alimentos é,
portanto, o mecanismo patogenético subjacente: a AA se trata de uma reação adversa que surge de
uma resposta imunológica específica que ocorre de forma reproduzível na exposição a determinado
alimento. Além disso, com base no mecanismo imunopatogenético específico, é possível distinguir os
AAs mediados por imunoglobulina E (IgE) das reações mistas e não mediadas por IgE a alimentos.
A AA é muito comum em todo o mundo e está se tornando um grande problema de saúde pública.
COMENTÁRIO
Embora faltem dados epidemiológicos precisos, está claro que a prevalência da AA aumentou
significativamente nas últimas duas décadas nos países ocidentais: taxas de até 10% foram documentadas
entre crianças em idade pré-escolar.
Estima-se que mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de AA. No entanto, fazer
estimativas precisas não é fácil devido à:
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VOCÊ
SABIA
Mais de um terço dos pais relata reações de hipersensibilidade alimentar em seus filhos, mas a prevalência
de AA objetivamente diagnosticada e verificável no primeiro ano de vida varia de 6% a 10%, caindo para 2%
a 5% na idade adulta.
Por muito tempo, a AA foi considerada uma doença quase exclusivamente pediátrica, já que, na maioria
dos casos, ela começa na infância e tende a desaparecer com o crescimento. No entanto, o atual
crescimento exponencial da população adulta e idosa, especialmente nos países ocidentais, assim como
as mudanças ambientais e de estilo de vida, mudou profundamente a epidemiologia da AA, registrando-
se, com isso, um aumento crescente mesmo em idade avançada.
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Quase metade dos pacientes com AA dependente de IgE já experimentou pelo menos uma reação
anafilática grave, especialmente na infância e adolescência. A variabilidade das expressões clínicas e a
complexidade dos mecanismos imunológicos subjacentes contribuem para tornar o diagnóstico muitas
vezes difícil, complicando os estudos sobre a epidemiologia da AA.
Embora cada tipo de alimento possa constituir um alérgeno potencial, a lista de alimentos responsáveis
pela grande maioria dos casos, principalmente em suas formas clinicamente mais graves, é
relativamente curta. Listaremos a seguir aqueles mais frequentemente responsáveis por alergias em
crianças nos países industrializados:
Leite de vaca
Ovos
Trigo
Peixe
Marisco
Amendoim
Nozes
Soja
No entanto, em 80% dos casos, as crianças com AA não dependente de IgE se recuperam até os três
anos de vida.
Amendoins
Nozes
Frutas
Vegetais
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Em relação aos hábitos alimentares, diferentes alimentos também podem ser responsáveis pela
sensibilização alérgica em outros países. Vejamos os casos de hipersensibilidade mais frequentes em
cada nação:
VOCÊ
SABIA
Crianças de origem asiática ou africana nascidas no Ocidente têm um maior risco de desenvolver AA do que
as caucasianas, sugerindo a importância da interação genoma-ambiente-estilo de vida no determinismo
dessa patologia.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações clínicas da AA são altamente variáveis. A história natural pode mudar de paciente
para paciente, bem como a expressão de biomarcadores e a resposta a várias abordagens terapêuticas.
Compreender a história natural da AA é essencial, portanto, para planejar o manejo dos pacientes com
sucesso.
A história natural da AA é diferente em crianças e adultos. A maioria das AAs começa nos primeiros
dois anos de vida, mas o tipo de alérgenos causadores afeta essa história, assim como o risco de
reações sistêmicas.
ATENÇÃO
As reações alérgicas ao leite de vaca e aos ovos geralmente desaparecem com o avançar da idade,
enquanto a alergia a amendoins, nozes e frutos do mar persiste com mais frequência mesmo na vida adulta;
além disso, cerca de 30% dos pacientes desenvolvem mais de um tipo de sensibilização alérgica ao longo do
tempo. Já a sensibilização das frutas aparece tardiamente, exibindo várias reatividades cruzadas que dão
origem a manifestações clínicas peculiares, como a síndrome de AA ao pólen.
As manifestações clínicas da AA podem afetar vários órgãos e sistemas, incluindo a pele, o intestino e
os sistemas respiratório, cardiovascular e nervoso. Ademais, os sintomas se desenvolvem de maneiras
variadas, dando origem a quadros complexos de doenças.
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Curiosamente, em pacientes afetados por AA, a pele pode ser um dos órgãos-alvo mais comuns, cujas
manifestações clínicas incluem prurido e urticária, assim como um importante local de sensibilização
primária a alérgenos alimentares. Desse modo, a dermatite atópica é considerada um fator de risco para
o desenvolvimento de AA.
O caso acima ilustra uma anafilaxia induzida por exercício dependente de alimentos (FDEIA). Nesse
fenótipo alérgico particular, que afeta principalmente o sexo feminino e é frequente em adolescentes e
adultos jovens, o alimento responsável é principalmente o trigo, embora leite, soja, aipo e frutos do mar
também estejam implicados.
Estudos sugeriam que o exercício físico, além de outros fatores facilitadores, aumenta a absorção
gastrointestinal de alérgenos alimentares e diminui o limiar de degranulação de mastócitos e basófilos
em indivíduos sensibilizados. A grande maioria dos pacientes com FDEIA tem IgE sérica específica para
a gliadina ômega-5 e – apenas em uma minoria de casos – a glutenina de alto peso molecular (HMW-
glutenina).
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Mais comum em adultos e adolescentes, a síndrome alérgica oral (SAO) apresenta sintomas que
afetam principalmente a orofaringe e depende de uma polissensibilização a alérgenos inalantes e
alimentares (síndrome da AA ao pólen). Maçãs, amendoins, amêndoas, avelãs e outras frutas da família
Rosaceae são comumente implicadas em pacientes com alergia a bétula. Já banana, kiwi e melão são
os alimentos desencadeadores naqueles alérgicos à ambrosia.
Nesse fenótipo, a IgE contra o pólen apresenta uma reação cruzada com as proteínas homólogas em
alimentos vegetais. As IgE responsáveis são inicialmente direcionadas contra o pólen, que, uma vez
inalado, induz a rinite.
EXEMPLO
O contato da fruta crua pêssego ou maçã com a mucosa oral imediatamente provoca coceira, queimação oral
e angioedema dos lábios, língua e palato.
MICROBIOTA INTESTINAL
Na figura adiante, observaremos a ilustração do microbioma intestinal como um alvo contra a AA. Vários
fatores genéticos, ambientais e dietéticos podem modular o eixo do sistema imunológico do microbioma
intestinal, influenciando a ocorrência da AA.
Número de irmãos
Alimentos fermentados
Antioxidantes
Ômega-3
Amamentação
Probióticos
ATENÇÃO
Fatores como parto de cesariana, uso de antibióticos, inibidores de acidez gástrica, agentes antissépticos no
início da vida e dietas não saudáveis (junk food, alto consumo de gorduras saturadas e baixo de fibras)
podem aumentar o risco de AA.
Cada vez mais evidências indicam que a disbiose do microbioma intestinal no início da vida
representa um fator crítico subjacente à AA. Dados experimentais de modelos animais sugerem uma
ligação entre esse microbioma e a ocorrência de AA.
Houve uma redução dos casos nas células T reguladoras (Tregs) tanto de camundongos tratados com
antibióticos quanto dos GF com uma consequente predisposição ao desenvolvimento de alergia. A
administração de clostrídios definidos ou AGCC derivados de bactérias em camundongos GF induziu um
aumento no número de células Treg e reduziu a resposta alérgica.
A ação protetora de alergia de Clostridia também foi confirmada em um modelo animal. Nesse modelo,
demonstrou-se um efeito protetor significativo, que consiste na regulação da função de células linfoides
inatas, forkhead box P3 – fator de transcrição – Foxp3 + Tregs, imunoglobulina A e permeabilidade
epitelial intestinal. Criado com a inoculação de microbiota derivada de fezes humanas, o “modelo de
camundongo humanizado” resultou em um aumento nas células Treg e uma redução dos sintomas
alérgicos.
O papel funcional da disbiose associada à AF também foi revelado pela capacidade diferente da
microbiota intestinal de camundongos sensibilizados com um alérgeno para:
Infelizmente, os dados que caracterizam o microbioma intestinal de pacientes afetados pela AF ainda são
preliminares.
Crianças com alergia ao leite de vaca (APLV) tratadas com uma fórmula à base de soja e arroz
apresentaram uma baixa abundância fecal de Coriobacteriaceae e Bifidobacteriaceae. Aconteceu o
contrário com aquelas com APLV que consumiram uma fórmula extensivamente hidrolisada: além de
Coriobacteriaceae, houve certamente o aumento do gênero Collinsella, a principal bactéria que
metaboliza a lactose no intestino. Os autores da pesquisa descobriram que os níveis de butirato fecal
estão correlacionados positivamente com a abundância de Coriobacteriaceae.
Mostramos que o tratamento com uma fórmula de caseína extensivamente hidrolisada contendo o
probiótico L. rhamnosus GG (LGG) em crianças com APLV aumentou significativamente as bactérias
produtoras de AGCC e os níveis fecais de butirato. Esses efeitos foram associados à aquisição de
tolerância imunológica.
A dieta, desde a concepção (dieta materna) até os primeiros 24 meses de idade (dieta do bebê), pode
influenciar o risco de se desenvolver AA. Um estudo recente sugere que uma dieta saudável, com altos
níveis de frutas, vegetais e alimentos caseiros, está associada a menos casos de AA aos 24 meses.
Vários estudos relatam ainda que os nutrientes afetam a microbiota intestinal e a produção de
metabólitos bacterianos.
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Demonstrou-se que a DM, durante a gravidez e no início da vida, exerce um papel protetor contra
doenças alérgicas em crianças. Esses efeitos podem derivar de:
Os carboidratos não digeríveis da dieta representam a fonte primária de nutrientes para as bactérias
intestinais. Sua fermentação leva à produção de AGCCs. Pesquisas demonstraram que a
disponibilidade reduzida de NDC diminuiu a concentração de bactérias degradadoras de fibras e
aumentou as bactérias degradadoras de mucina.
Produção de AGCCs
Os mecanismos imunomoduladores desencadeados por AGCCs representam uma das conexões mais
fortes entre dieta, microbioma intestinal e doenças alérgicas. Os principais AGCCs incluem acetato,
propionato, butirato e valerato.
As bactérias produtoras de AGCC representam um grupo funcional, incluindo Faecalibacterium
prausnitzii e Eubacterium retal, Roseburia, produzem de forma eficiente o butirato que é um Ácido graxo
de cadeia curta (AGCC).
Os AGCCs são a principal fonte de energia para os colonócitos. Eles influenciam epigeneticamente
várias funções:
NÃO IMUNES
Proteínas de junção apertada e produção de muco.
IMUNES
Macrófagos, neutrófilos, células dendríticas (CDs), células T e B envolvidas na rede de tolerância
imunológica.
GPCRS
GPR41
GPR43
GPR109A
OLFR78
GPR43 e GPR41 são altamente expressos por enterócitos, enquanto as células imunes expressam
GPR43 e GPR109A. Entre os AGCCs, o butirato exerce um papel central na indução da tolerância
imunológica.
ATENÇÃO
Pesquisas revelaram que os AGCC são capazes de aumentar a frequência de Tregs do cólon e que o
tratamento in vitro de Tregs do cólon de camundongos GF com o propionato aumentou significativamente a
expressão de FoxP3 e IL-10, uma citocina-chave que regula as funções de Treg. Da mesma forma,
demonstrou-se que o butirato facilita a geração de FoxP3 + Treg ativado em modelo de camundongo.
O butirato é capaz de regular CDs. Além de reduzir a produção de citocinas pró-inflamatórias, ele
aumenta a expressão do ácido retinoico (AR) e a subsequente geração de CDs tolerogênicas reguladas
por AR. O butirato promove a diferenciação de células B e aumenta a produção de IgA e IgG. Os
mecanismos são múltiplos e envolvem uma forte regulação epigenética da expressão gênica por meio
da inibição da histona desacetilase (HDAC).
A deficiência de butirato foi observada em crianças alérgicas. Os SCFAs produzidos por bactérias têm
sido estudados e especificamente atribuídos à produção de butirato por Clostridiales formadores de
esporos.
Um enriquecimento de taxa produtores de butirato (classe Clostridia e filo Firmicutes) foi observado em
crianças com resolução da análise cromosômica por microrray (CMA) mais rápida.
Em conjunto, esses dados sugerem o potencial de uma abordagem “pós-biótica” baseada no uso de
SCFAs contra AA. Sugerindo um papel protetor do butirato contra AA, o uso de butirato oral induz:
Aumento da permeabilidade intestinal, anti-β lactoglobulina (BLG) IgE, IL-4 e IL- 10 (produção em um
modelo murino de APLV)
Interagir com os enterócitos com uma subsequente modulação de mecanismos não imunes
(permeabilidade intestinal e espessura do muco) e imunotolerogênicos (estimulação da produção de
siga e β-defensinas).
Modular a resposta de citocinas pelas células do sistema imunológico.
Nas últimas décadas, várias investigações experimentais foram desenvolvidas para caracterizar os
organismos que poderiam ser usados para modular o sistema imunológico de pacientes com AA.
A estimulação de células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) humanos com cepas probióticas
selecionadas é uma ferramenta experimental comumente usada para a investigação do efeito desses
micro-organismos nas células do sistema imunológico.
A adição de uma mistura probiótica (L. casei W56, L. lactis W58, L. acidophilus W55, L. salivarius
W57, B. infantis W52, B. lactis W18 e B. longum W51) para PBMCs de crianças com AA estimulou um
aumento de células Th1 e citocinas relacionadas. Um crescimento na proliferação de células T e B e
uma redução na produção de IgE também foram observados em PBMCs de crianças com AF tratadas
por três meses com a mesma mistura de probióticos.
Usando um modelo de cocultura 3D de células epiteliais intestinais e PBMCs como um modelo in vitro
do sistema imunológico da mucosa intestinal, Ghadimi e outros autores (2010) demonstraram que os
probióticos B. brevee LGG inibem a ativação das citocinas pró-inflamatórias IL-23 e IL-17, reduzindo,
assim, a acetilação de histonas e simultaneamente aumentando a metilação do DNA.
COMENTÁRIO
A limitação no estudo do efeito dos probióticos in vitro está na extrapolação dos resultados dos benefícios in
vivo. Por esse motivo, outra ferramenta experimental comumente utilizada nessa área se baseia no emprego
de um modelo animal de AF.
Com um modelo de camundongo OVA, demonstrou-se que a administração oral de B. infantis reduziu os
níveis séricos de IgE específica de OVA e IgG1 e a liberação de citocina Th2 dos esplenócitos. Além
disso, a análise da microbiota intestinal mostrou que a proteção mediada por probióticos foi conferida
pela alta abundância de Coprococcus e Rikenella.
Em particular, vale destacar que a suplementação oral com B. coagulans 09.712 e L. plantarum 08.923
Regulação positiva de FoxP3
Regulação negativa de gene de proteína acopladora 3 (GATA-3)
Desenvolveu respostas IgG mais altas contra caseínas induzidas por L. casei.
Resultados semelhantes foram obtidos por outros pesquisadores que observaram uma diminuição das
concentrações de IgE, IL-4 e IL-13 após a administração de B. infantis CGMCC313-2 em camundongos
sensibilizados com BLG.
Nesses camundongos, reduz significativamente as respostas imunes T helper 2 (Th2) e protege contra
as reações anafiláticas em um modelo de camundongo de AA a administração oral de VSL#3.
B. breve BB02
B. longum BL03
B. infantis BI04
L. acidophilus BA05
L. plantarum BP06
L. paracasei BP07
O microbioma intestinal pode ser um alvo promissor para estratégias terapêuticas preventivas e
inovadoras contra a AA. Os resultados dos estudos são encorajadores, porém mais dados são
necessários para se definir melhor o potencial de modulação dos eixos dieta-intestino e microbioma-
sistema imunológico no combate ao AA.
SUPERCRESCIMENTO BACTERIANO E
FÚNGICO DO INTESTINO DELGADO: SIBO E
SIFO
SIBO
CARACTERÍSTICAS
O GI adulto possui a maior população microbiana do corpo humano. Seu local predominante é o cólon,
contendo 38 trilhões de bactérias. Métodos independentes de cultura, como o sequenciamento de última
geração, mostram uma baixa concentração de populações bacterianas distintas no duodeno de
indivíduos saudáveis em contraste com as populações bacterianas que habitam a boca.
Imagem: Shutterstock.com
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Sintomas de SIBO.
ATENÇÃO
Como um diagnóstico SIBO requer testes especializados (por exemplo, cultura microbiana e teste
respiratório) e devido à variabilidade nas populações de pacientes e de métodos empregados para
estabelecer um diagnóstico entre os estudos, uma prevalência tem sido difícil de estimar. No entanto, o SIBO
parece ser mais prevalente em mulheres e indivíduos mais velhos.
Vários fatores estão associados ou predispõem os pacientes a ele, incluindo a dismotilidade do intestino
delgado. Um estudo usando o aspirado/cultura duodenal demonstrou que pacientes com dismotilidade
do intestino delgado apresentavam um risco aumentado de SIBO (>103ufc/mL), tendo até três vezes
mais chances de apresentar a doença. Além disso, outras condições foram associadas com ele, como
Doença inflamatória intestinal, dispepsia, rosácea, síndrome das pernas inquietas, divertículo do
intestino delgado, pancreatite, hipotireoidismo, DP, diabetes, DAC e cirurgia abdominal, além de
histerectomia, gastrectomia, colecistectomia e colectomia.
Contudo, a prevalência dele em pacientes com essas condições associadas é altamente variável (de 4%
a 79%). Alguns estudos têm sugerido uma associação entre o SIBO e o uso de inibidores da bomba de
prótons (IBP); entretanto, outros indicam uma direção oposta. Os IBP podem predispor os pacientes ao
supercrescimento bacteriano ao diminuírem o ácido gástrico.
Um estudo inicial relatou que 56% dos 25 pacientes com úlceras pépticas que receberam o omeprazol
tinham SIBO; em comparação, não houve nenhum caso entre os 15 controles encaminhados para a
endoscopia diagnóstica.
DIAGNÓSTICO
A cultura do intestino delgado é amplamente aceita como o “melhor método diagnóstico” para
estabelecer o diagnóstico de SIBO. Um limite de ≥103ufc/mL é utilizado como resultado de teste positivo
para SIBO, porém, hoje em dia, alguns autores indicam o teste positivo com outro índice: ≥105ufc/mL.
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Natureza invasiva.
Custo.
Durante um teste de respiração, os pacientes ingerem um substrato de carboidrato, que, ao ser exposto
a micróbios GI, é metabolizado, levando à produção de hidrogênio e metano. Alguns desses gases são
absorvidos do trato GI para a corrente sanguínea e finalmente exalados pelos pulmões.
Dessa forma, a análise de amostras de ar expirado após a ingestão de carboidratos fornece uma medida
indireta de detecção de SIBO. A glicose e a lactulose são comumente usadas como substratos de teste
de respiração para a detecção de SIBO.
O objetivo do tratamento para pacientes com SIBO é o alívio dos sintomas por meio da erradicação do
crescimento excessivo de bactérias. Isso é alcançado com o uso de antibióticos e de modulação
dietética.
Acredita-se que os probióticos tenham efeitos benéficos sobre a microbiota intestinal. No entanto,
existem ainda poucos estudos clínicos; além disso, esses estudos carecem de consistência não apenas
nas formulações usadas, mas também em outros quesitos, como a duração do tratamento, as
populações avaliadas e os métodos de diagnóstico de SIBO.
Mais recentemente, uma meta-análise de 18 estudos em 2017 relatou que os probióticos foram
associados a um aumento significativo da depuração de SIBO em comparação com a terapia não
probiótica, embora os probióticos não tenham sido considerados eficazes na prevenção de SIBO. Eles
podem colonizar inadvertidamente o intestino delgado, causando SIBO e D-acidose láctica.
COMENTÁRIO
Alguns autores consideram esses achados controversos. Por isso, mais estudos são aguardados para um
maior entendimento do papel dos probióticos no SIBO.
Vários tratamentos não farmacológicos foram propostos devido ao custo e aos potenciais efeitos
adversos de antibióticos e probióticos. Uma dessas abordagens inclui uma dieta elementar com
micronutrientes pré-digeridos. Absorvidos principalmente no intestino delgado proximal, eles limitam,
assim, a entrega de nutrientes às bactérias na porção distal do intestino delgado.
SAIBA
MAIS
Em uma revisão retrospectiva, 124 pacientes com SIBO receberam uma dieta elementar por 14 dias. Aqueles
sem a normalização do teste respiratório continuaram a dieta por mais 7 dias. A taxa de resposta sintomática
cumulativa para uma dieta elementar foi de 85%. No entanto, essas dietas geralmente são não palatáveis e
difíceis de aderir, requerendo um paciente motivado.
ATENÇÃO
Ainda existe uma falta de dados sólidos para sugerir que uma dieta com um baixo teor de oligossacarídeos,
dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis seja benéfica para pacientes com SIBO.
De 30% a 40% dos pacientes podem não ter uma resolução de seus sintomas de SIBO com testes de
antibióticos. Nesses casos, outros diagnósticos sobrepostos ou alternativos devem ser considerados,
como a deficiência de dissacarídeo ou intolerâncias alimentares.
Um paciente com SIBO e intolerância à lactose pode apresentar sintomas de gases, distensão
abdominal e diarreia. Os antibióticos só conferem, assim, uma resolução parcial dos sintomas. Além
disso, ele precisará de uma dieta sem lactose.
Estudos controlados rigorosos são necessários, portanto, para orientar o manejo clínico. Além disso,
outras condições sobrepostas devem ser consideradas possíveis causas, como insuficiência pancreática
exócrina, má absorção de ácido biliar, secreção hormonal excessiva, medicamentos, inchaço funcional e
hipersensibilidade.
SIFO
Ainda pouco estudado, o SIFO se caracteriza por uma disbiose secundária ao crescimento fúngico
excessivo no intestino delgado, estando associado a sintomas gastrointestinais. Como normalmente
não há fungos ou concentrações muito baixas de organismos fúngicos nesse intestino, um diagnóstico
de SIFO era feito se a cultura duodenal produzisse um crescimento desses organismos.
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Os mecanismos subjacentes que predispõem ao SIFO não são claros, mas a dismotilidade do intestino
delgado e o uso de IBP já são descritos na literatura.
No entanto, mais estudos são necessários tanto para confirmar essas observações quanto para
examinar a relevância clínica do crescimento excessivo de fungos – seja em indivíduos saudáveis seja
em pacientes com sintomas gastrointestinais inexplicáveis.
Se a erradicação ou seu tratamento levar à resolução dos sintomas, o diagnóstico permanecerá incerto.
No momento, um curso de 2 a 3 semanas de terapia antifúngica é recomendado e pode ser eficaz na
melhora dos sintomas. Contudo, ainda faltam evidências de sua erradicação.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) I e II estão incorretas.
A) C –C –C
B) C – I – C
C) C – C – I
D) I – I – C
E) I – I – I
GABARITO
1. Sobre o papel dos nutrientes na prevenção de doenças crônicas, analise as assertivas e
marque a resposta correta:
I. O objetivo do tratamento para pacientes com SIBO é o alívio dos sintomas com a erradicação
do crescimento excessivo de bactérias por meio do uso de antibióticos e da modulação dietética.
III. Realiza uma disbiose secundária ao crescimento bacteriano excessivo no intestino delgado.
O uso de antibióticos e a melhora do consumo alimentar podem contribuir para o SIBO. O pH mais
alcalino, por sua vez, pode ajudar na sobrevivência e na colonização de bactérias e fungos. O SIFO é
uma disbiose secundária decorrente de contaminação fúngica no intestino delgado.
2. Marque (C) para correta e (I) para incorreta nas assertivas, assinalando a opção que
corresponde à sua marcação.
( ) A redução dos níveis fecais de butirato pode contribuir para a aquisição de tolerância
imunológica.
O aumento dos níveis fecais de butirato pode contribuir para a aquisição de tolerância imunológica;
todavia, o uso do probiótico L. Rhamnosus GG (LGG) em crianças com APLV aumenta as bactérias
produtoras de AGCC e os níveis fecais de butirato. O pH mais alcalino, associado com uso de IBP, tem o
potencial para favorecer o SIBO.
MÓDULO 3
XENOBIÓTICOS
CONCEITO
Os xenobióticos são substâncias químicas normalmente não presentes no ambiente dos
organismos vivos.
Eles são substâncias principalmente sintéticas, embora o termo possa ser mais vagamente usado para
incluir produtos químicos de ocorrência natural e endobióticos em dois casos:
Produzidos por certos organismos como um mecanismo de defesa, como as toxinas produzidas
por alguns fungos, bactérias ou mesmo ervas.
Do ponto de vista do metabolismo, xenobióticos podem ser definidos como produtos químicos
extrínsecos ao metabolismo normal de um organismo vivo.
Poluentes
Medicamentos
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METABOLISMO DE XENOBIÓTICOS
CONCEITUAÇÃO
O metabolismo dos xenobióticos aumenta sua solubilidade em água, aumentando, assim, sua
eliminação do corpo. A ingestão oral deles passa para o gastrointestinal GI superior, enquanto aqueles
absorvidos são translocados para o fígado através da veia porta hepática (processo comumente
conhecido como efeito de primeira passagem).
Usando sua família de enzimas citocromo P450 (CYP 450), o fígado humano transforma quimicamente
compostos endógenos e exógenos. O metabolismo do fígado tem três fases:
FASE I
FASE II
FASE III
Os xenobióticos que não são metabolizados nem excretados se acumulam no corpo, podendo levar a
doenças crônicas e inflamação. Aqueles mal absorvidos passam do intestino delgado para o grosso,
onde são expostos ao nicho de metabolização microbiana do intestino.
Os metabólitos liberados na circulação são excretados pelos rins ou retornam ao intestino pelo ducto
biliar. O destino final deles é a excreção pelas fezes ou a reabsorção no intestino delgado.
A maioria das interações microbiota-xenobiótica em humanos ocorre dentro do trato GI. As diferentes
regiões desse sistema orgânico variam conforme a fisiologia da célula epitelial, o pH, os níveis de
oxigênio e o conteúdo de nutrientes, proporcionando habitats distintos para os micro-organismos e
influenciando os tipos de processos metabólicos que ocorrem.
O metabolismo microbiano dos xenobióticos deve ser entendido no contexto dos processos metabólicos
concorrentes, fator que ocorre muitas vezes no hospedeiro humano. Os compostos ingeridos por via
oral passam pelo trato GI superior até o intestino delgado, onde podem ser modificados por enzimas
digestivas e absorvidos pelos tecidos do hospedeiro.
Os xenobióticos prontamente absorvidos passam entre ou por meio das células epiteliais intestinais,
local onde podem ser processados por enzimas do hospedeiro antes do transporte para o fígado através
da veia porta. Após a exposição à rica coleção de enzimas metabólicas do fígado, os xenobióticos e
seus metabólitos entram na circulação sistêmica, distribuindo-se nos tecidos e potencialmente afetando
os órgãos distais.
Os xenobióticos podem, portanto, encontrar micro-organismos intestinais por meio de várias rotas. Em
contraste com os compostos absorvidos no intestino delgado, os xenobióticos mal absorvidos continuam
seu caminho através do intestino delgado até o grosso, podendo, nesse processo, ser transformados por
micro-organismos do intestino.
Compostos prontamente absorvidos e outros administrados por diferentes vias (por exemplo, injeção
intravenosa) também têm o potencial para atingir os micro-organismos intestinais por meio da excreção
biliar. Os produtos do metabolismo microbiano intestinal podem ser absorvidos pelo hospedeiro e
circulados sistemicamente ou interagir localmente com as células epiteliais que revestem o trato GI.
Em última análise, esses metabólitos microbianos são excretados nas fezes ou filtrados pelos rins e
eliminados na urina. Em geral, as transformações humanas e microbianas geram uma rede metabólica
complexa e entrelaçada que afeta tanto o hospedeiro quanto os membros da microbiota.
FASE I
FASE II
Conjugação desses grupos a metabólitos mais polares. As enzimas transferase predominam no
metabolismo de fase II, anexando os grupos glucuronil, metil, acetil, sulfonil e glutationil a xenobióticos
ou imetabólitos de fase. Polimorfismos em genes que metabolizam xenobióticos influenciam como os
indivíduos respondem às intervenções dietéticas e farmacêuticas.
Os micro-organismos intestinais processam uma enorme variedade de compostos dietéticos para extrair
nutrientes e energia.
Bioatividades dos metabólitos resultantes, que variam desde benéficas até agudamente tóxicas.
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Como muita atenção tem sido dada ao metabolismo microbiano de polissacarídeos complexos derivados
de plantas, destacaremos a seguir as transformações de componentes dietéticos não carboidratos:
PROTEÍNA
A proteína dietética é necessária para fornecer aminoácidos essenciais aos humanos, mas a fonte e a
quantidade de proteína podem variar substancialmente entre as diferentes dietas. O lúmen intestinal é
rico em proteases do hospedeiro e microbiana.
Estudos na área indicam cada vez mais que a atividade proteolítica microbiana diferencial pode
contribuir diretamente para a ocorrência de doenças humanas.
A microbiota intestinal está associada à doença celíaca (DC), um distúrbio autoimune comum
caracterizado por uma resposta inflamatória ao glúten dietético encontrado em alimentos à base de trigo.
Essa proteína rica em prolina evita a digestão completa pelas proteases do hospedeiro, resultando na
geração de peptídeos imunogênicos de alto peso molecular.
A microbiota intestinal pode afetar a DC, alterando a proteólise do glúten. Os peptídeos derivados do
glúten gerados por Pseudomonas aeruginosa, um patógeno oportunista em pacientes com DC, são
propensos à translocação através do intestino do rato e desencadeiam uma resposta imune específica
do glúten, a qual, por sua vez, é aumentada em comparação com a dos peptídeos produzidos por
Lactobacillus spp. de indivíduos saudáveis.
LIPÍDEOS
O metabolismo microbiano intestinal variável de lipídios e compostos derivados deles está associado a
uma variedade de doenças humanas.
O coprostanol compreende até 50% dos esteroides nas fezes humanas. Essa transformação remove
efetivamente o colesterol da circulação.
Camundongos GF colonizados com micróbios de pacientes que reduzem o colesterol alto e baixo
produzem quantidades distintas de coprostanol. Experimentos com animais também sugerem que
bactérias redutoras de colesterol podem diminuir o colesterol sérico.
Estudos das bactérias intestinais redutoras de colesterol Eubacterium coprostanoligenes indicam que a
síntese de coprostanol pode envolver uma oxidação em 5-colesteno-3-ona seguida pela isomerização
de alceno em 4-colesteno-3-ona e pela redução tanto de conjugado quanto de cetona.
Identificar as enzimas responsáveis por essas transformações e caracterizar sua abundância nos
pacientes podem ser atividades particularmente interessantes, já que a inibição da reabsorção do
colesterol indica uma estratégia clinicamente validada para a redução do colesterol.
FITOQUÍMICOS
Identificar e caracterizar enzimas microbianas intestinais também podem nos ajudar a entender melhor
os compostos dietéticos associados a benefícios para a saúde. Vários estudos implicam a microbiota
intestinal na metabolização de compostos polifenólicos mal absorvidos de alimentos derivados de
plantas como as Isoflavonas de soja, lignanas de sementes de linhaça e gergelim, flavonoides como as
catequinas e ésteres de galato encontrados no chá e ácido elágico de nozes bagas.
Essas moléculas são processadas mediante o emprego de uma gama de transformações, incluindo
clivagem de anel, desmetilação e desidroxilação, que geralmente produzem metabólitos com
biodisponibilidade oral e bioatividade maiores, havendo uma correlação com o menor risco de doença.
O metabolismo do polifenol varia amplamente entre os indivíduos. Mais pesquisas são necessárias para
elucidar se esses produtos microbianos podem afetar diretamente a biologia do hospedeiro ou se eles
são biomarcadores para suscetibilidade a doenças. Do ponto de vista químico, estudar o metabolismo
do polifenol também aborda lacunas fundamentais em nossa compreensão das enzimas microbianas
intestinais.
EDULCORANTES ARTIFICIAIS
O microbioma também pode interagir com componentes de nossas dietas adicionados no processo de
fabricação de alimentos, como adoçantes artificiais, emulsificantes e conservantes.
Embora muitos adoçantes artificiais sejam mal metabolizados por humanos, estudos demonstram que
eles são suscetíveis à transformação microbiana. Os micróbios intestinais convertem o adoçante artificial
ciclamato em ciclo-hexilamina por meio da clivagem hidrolítica de sua ligação sulfamato.
O ciclamato foi proibido nos Estados Unidos depois que estudos sugeriram que a ciclo-hexilamina era
carcinogênica. Tanto esse achado quanto o uso contínuo de tal adoçante permanecem como algo
controverso.
Uma enzima de hidrólise do ciclamato foi parcialmente purificada de uma cepa associada à cobaia, mas
hidrolases microbianas do intestino humano com essa atividade não foram identificadas. Os micróbios
intestinais também podem metabolizar os adoçantes artificiais esteviosídeo e xilitol usando enzimas
desconhecidas.
A microbiota intestinal adquire a capacidade de transformar xilitol e ciclo-hexamato após uma exposição
prolongada, sugerindo que a ingestão de longo prazo de componentes dietéticos pode selecionar
funções metabólicas microbianas específicas.
AMINAS HETEROCÍCLICAS
A compreensão das atividades metabólicas dos micro-organismos presentes no intestino é capaz de
fornecer novas possibilidades sobre as consequências biológicas das práticas de cozimento e
preparação de alimentos. O potencial mutagênico das aminas heterocíclicas (moléculas mal absorvidas
produzidas durante a carbonização de carnes e peixes) pode ser alterado pelo metabolismo microbiano
intestinal.
Esses resultados parecem contribuir para a ligação conhecida entre a carne carbonizada e o câncer.
Embora haja uma apreciação emergente do papel da microbiota intestinal no metabolismo de poluentes
e produtos químicos industriais, nosso conhecimento das transformações, das cepas e das enzimas
específicas envolvidas está muito aquém do obtido em relação aos micróbios ambientais.
Discutimos neste conteúdo vários tipos de produtos químicos que têm sido implicados no risco de
doenças humanas e para os quais existem evidências de que o metabolismo microbiano intestinal afeta
a toxicidade.
Os micróbios intestinais metabolizam redutivamente compostos azo, alguns dos primeiros produtos
químicos sintéticos industrialmente importantes. A despeito de seu uso por mais de 150 anos como
corantes têxteis, corantes alimentícios e produtos farmacêuticos, temos uma compreensão incompleta
dos organismos e das enzimas que processam essas moléculas.
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A clivagem redutiva das ligações azo rende produtos de anilina. Essa reação pode ser realizada por
enzimas dependentes de flavina ou NAD (P) H encontradas em muitos eucariotos e bactérias.
As azoredutases ainda não foram amplamente caracterizadas em muitas cepas de bactérias do intestino
humano nas quais essa atividade foi observada.
Embora a transformação microbiana de corantes azo alimentares gere metabólitos considerados não
tóxicos, trabalhadores expostos por muito tempo a corantes têxteis têm um risco aumentado de câncer
de bexiga.
A alimentação de corantes azo têxteis para camundongos convencionais – e não para GF – leva ao
acúmulo da bis-anilina benzidina mutagênica na urina, o que implica o metabolismo microbiano no
aumento da exposição ao carcinógeno. Dessa forma, os efeitos tóxicos dos compostos azo podem
depender tanto da estrutura do corante individual quanto da presença de organismos metabolizadores
específicos.
A melamina adicionada à fórmula infantil na China causou cálculo renal em 300.000 crianças e levou a
pelo menos seis mortes.
METAIS PESADOS
Além de poluentes orgânicos, os micróbios do intestino humano modificam as estruturas e alteram a
toxicidade de vários metais pesados, incluindo bismuto, arsênico e mercúrio.
As amostras fecais de rato reduzem o metilmercúrio (CH3Hg+) para o mercúrio inorgânico menos tóxico,
As enzimas responsáveis por essa atividade protetora podem incluir homólogos da desmetilação, liase
organomercúrica (MerB) e redutase mercúrica (MerA) identificados em isolados humanos. A abundância
de genes mer, porém, não mostrou uma correlação com os níveis de metilmercúrio fecal em um estudo
clínico recente, levantando a possibilidade da ação de enzimas adicionais ou efeitos indiretos.
Esses estudos indicam que há grandes lacunas em nosso conhecimento sobre as interações da
microbiota intestinal com metais pesados e suas implicações toxicológicas resultantes.
A dieta é claramente a pedra angular da saúde humana. Embora muitos estudos epidemiológicos
vinculando padrões dietéticos a resultados de saúde produzam resultados conflitantes, poucos levaram
em consideração as capacidades metabólicas microbianas intestinais.
Da mesma maneira que ocorre com os estudos dietéticos, as tentativas de correlacionar a exposição a
poluentes com resultados de saúde muitas vezes produzem resultados conflitantes que podem, em
parte, surgir de variações nas atividades metabólicas microbianas.
Enzimas microbianas intestinais que alteram a toxicidade de produtos químicos industriais e poluentes
ambientais podem servir como biomarcadores para informar as avaliações de risco entre as populações
expostas a esses compostos. Também é possível usar o metabolismo microbiano intestinal para ajudar a
remover compostos prejudiciais do corpo e prevenir doenças de forma análoga à da biorremediação de
ambientes poluídos.
O conhecimento de como os micróbios intestinais transformam os fármacos deve ser ainda mais
integrado em:
Desenvolvimento de medicamentos
Prática clínica
Compreender quais grupos funcionais são propensos ao metabolismo microbiano permite que os
químicos medicinais evitem essas características estruturais facilitando a ativação seletiva no trato GI.
Em última análise, a medicina personalizada exigirá uma melhor compreensão da distribuição de
funções metabólicas microbianas específicas nas populações humanas.
A) I e II estão incorretas.
E) I e II estão corretas.
A) C – C – C
B) C – I – C
C) C – C – I
D) I – I – C
E) I – I – I
GABARITO
1. Considerando os conceitos de xenobióticos, analise as assertivas a seguir estão:
I. O fígado humano, usando sua família de enzimas citocromo P450 (CYP 450), transforma
quimicamente somente compostos exógenos.
II. Os xenobióticos que não são metabolizados e excretados se acumulam no corpo e podem
levar a doenças crônicas e inflamação.
III. As enzimas da fase I realizam reações oxidativas, redutivas ou hidrolíticas para gerar os
grupos hidroxila, epóxidos, tióis e aminas. A maior classe de enzimas de fase I é o citocromo P-
450s, mas as carboxilesterases e a flavina mono-oxigenase (FMOs) também são importantes no
processamento xenobiótico.
Alguns xenobióticos podem se acumular no corpo, ocasionando, assim, doenças crônicas e inflamações.
As enzimas de fase I participam de várias reações (oxidativas, redutivas ou hidrolíticas). O fígado
humano, por meio de CYP450, transforma quimicamente compostos endógenos e exógenos.
2. Marque (C) para correta e (I) para incorreta nas assertivas a seguir, assinalando a opção que
corresponde à sua marcação.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos neste conteúdo que a composição da microbiota intestinal está em constante fluxo sob a
influência de fatores, como, por exemplo, a dieta, os medicamentos ingeridos, a mucosa intestinal, o
sistema imunológico e a própria microbiota. Variações naturais nessa microbiota podem se deteriorar a
um estado de disbiose quando as condições de estresse diminuem rapidamente a diversidade
microbiana e promovem a expansão de taxa bacteriana específica.
Verificamos ainda que tanto o SIBO quanto o SIFO causam sintomas gastrointestinais inespecíficos,
estando associados a outras condições não gastrointestinais. Devido à ampla gama de sintomas
experimentados por esses pacientes, a sintomatologia, por si só, não pode ser usada para estabelecer
um diagnóstico de SIBO.
Também pontuamos que, ao alterar as estruturas químicas dos compostos ingeridos, os microrganismos
intestinais podem mediar os efeitos da dieta, dos poluentes e das drogas na fisiologia do hospedeiro. A
variação individual continua sendo um grande desafio: embora muitas dessas atividades metabólicas
tenham sido identificadas, poucas foram conectadas a organismos, genes e enzimas.
Por fim, frisamos quão essencial é incorporar a descoberta de enzimas e os esforços de caracterização
às investigações do metabolismo xenobiótico microbiano do intestino. Afinal, somente obtendo uma
compreensão mais aprofundada desses processos será possível melhorar a saúde humana.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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Frontiers in immunology. v. 10. Publicado em 15 fev. 2019. Consultado na internet em: 21 maio 2021.
GHADIMI, d. et al. Effect of natural commensal-origin DNA on toll-like receptor 9 (TLR9) signaling
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KOH, A. et al. From dietary fiber to host physiology: Short-chain fatty acids as key bacterial
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SOUSA, T. et al. The gastrointestinal microbiota as a site for the biotransformation of drugs.
International journal of pharmaceutics. v. 363. n. 1-2. Publicado em 3 nov. 2008. Consultado na internet
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WEISS, G. A.; HENNET, T. Mechanisms and consequences of intestinal dysbiosis. Cellular and
molecular life sciences. v. 74. n. 16. Publicado em 28 mar. 2017. Consultado na internet em: 21 maio
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WINITZ, M. et al. Studies in metabolic nutrition employing chemically defined diets. II. Effects on
gut microflora populations. The american journal of clinical nutrition. v. 23. n. 5. Publicado em maio 1970.
Consultado na internet em: 21 maio 2021. p. 546-559.
ZHONG, C. et al. Probiotics for preventing and treating small intestinal bacterial overgrowth: a
meta-analysis and systematic review of current evidence. Journal of clinical gastroenterology. v. 51. n. 4.
Publicado em abr. 2017. Consultado na internet em: 21 maio 2021. p. 300–311.
EXPLORE+
Para aprofundar os seus conhecimentos no assunto estudado, indicamos a seguinte leitura a respeito
dos Mecanismos da alergia alimentar:
CHINTHRAJAH, R. S. et al. Molecular and cellular mechanisms of food allergy and food tolerance.
The journal of allergy and clinical immunology. v. 137. n. 4. Publicado em: abr. 2016. Consultado na
internet em: 21 maio 2021. p. 984–997.
CONTEUDISTA
Cíntia Ramos Pereira Azara
CURRÍCULO LATTES