Sintomas Alimentares Cultura Corpo e Obesidade
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C8
SINTOMAS ALIMENTARES, CULTURA, CORPO E OBESIDADE:
QUESTÕES CLÍNICAS E DE AVALIAÇÃO
1ª Edição.
Maio 2013
ISBN- 978-989-8463-41-8
Capa: Placebo Editora com detalhe de obra de Franz Marc Stallen
Composição: Placebo Editora
Lisboa: Placebo, Editora LDA.
ÍNDICE
1. SOBRE OS AUTORES______________________________________3
2. PREFÁCIO________________________________________________7
3. OBESIDADE: PREVALÊNCIA, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS - Patrícia
Ferreira, Filipa Pimenta, Mafalda Rodrigues, Adriana Bernardino &
Isabel Leal_______________________________________________10
4. O EXCESSIVO PESO DA OBESIDADE - Eliana Rigotto
Lazzarini__________________________________________________________34
5. COMPORTAMENTO ALIMENTAR: INGESTÃO EMOCIONAL,
INGESTÃO EXTERNA E RESTRIÇÃO ALIMENTAR - Mafalda
Rodrigues, Filipa Pimenta, Adriana Bernardino, Patrícia Ferreira & Isabel
Leal____________________________________________________57
6. TRANSTORNOS ALIMENTARES, O CORPO E A CLÍNICA
PSICANALÍTICA CONTEMPORÂNEA - Eliana Rigotto Lazzarini,
Carolina França Batist & Terezinha de Camargo Viana____________73
7. AMAMENTAÇÃO, SINTOMAS ALIMENTARES E CONSTITUIÇÃO
PSÍQUICA - Dione Zavaroni_________________________________92
8. PERDA DE PESO BEM-SUCEDIDA E SUPORTE SOCIAL - Adriana
Bernardino, Filipa Pimenta, Patrícia Ferreira, Mafalda Rodrigues &
Isabel Leal______________________________________________108
9. ANOREXIA: VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? - Deborah Foinquinos
Krause_________________________________________________120
Adriana Bernardino
Mestre em Psicologia da Saúde, pelo ISPA - Instituto
Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida,
tendo desenvolvido investigação na área de perda de peso
bem-sucedida em mulheres e satisfação com o suporte
social. Atualmente é assistente de investigação na UIPES-
Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde, no ISPA-IU,
estando associada a um projeto sobre obesidade e perda de
peso. Tem no seu currículo várias comunicações apresentadas em
congressos, tanto a nível nacional como internacional.
3
Eliana Rigotto Lazzarini
Professora Adjunto do Departamento de Psicologia Clínica e do
Programa de Pós graduação em Psicologia Clínica e Cultura da
Universidade de Brasília (UnB) atuando como docente na graduação
e pós graduação. Doutora em Psicologia e Mestre em Psicologia
Clínica. Psicóloga clínica. Especialista em Teoria Psicanalítica e
Psicodrama. Sub-chefe do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de
Brasília. Pesquisa os seguintes temas: psicanálise, narcisismo e cultura
contemporânea, distúrbio alimentar (anorexia, bulimia, obesidade) e intervenção
psicoterapêutica.
Filipa Pimenta
Doutorada na especialidade de Psicologia da Saúde
(nomeadamente, no campo da menopausa) pelo ISPA–
Instituto Universitário, e a desenvolver pós-doutoramento na
mesma especialidade (concretamente, na área de obesidade e
perda de peso bem-sucedida), no ISPA-Instituto Universitário e
na University College London. Tem formação como
psicoterapeuta pela Associação Portuguesa de Psicoterapias Cognitiva e
Comportamental (APTCC). Exerce atualmente atividade clínica, de docente
(no ISPA–Instituto Universitário) e de investigação, estando associada a
vários projetos no âmbito da saúde.
4
Isabel Leal
Psicóloga e psicoterapeuta. Doutorada em Psicologia pela
Universidade Católica de Louvain é desde 1983 docente do
ISPA onde coordena mestrados, pós-graduações e
doutoramentos. Foi diretora da Escola de Mestrados e Estudos
Pós Graduados, vice-presidente do Conselho Cientifico e é
coordenadora da Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (UIPES,
I&D). Desenvolveu atividade profissional no âmbito do Ministério da Saúde,
de 1979 a 1987 nos Hospitais Civis de Lisboa e depois, até 2007, na
Maternidade Dr. Alfredo da Costa onde fundou e coordenou o
Departamento de Psicologia Clínica. Tem 37 livros publicados como autora
e editora, 6 deles de divulgação, 49 capítulos de livros, 108 artigos em livros
de atas e 115 artigos publicados em revistas científicas nacionais e
internacionais.
Mafalda Leitão
Licenciou-se em Ciências Psicológicas em 2010, no ISPA-IU,
Instituto Universitário, em Lisboa. Em 2012, concluiu o seu
mestrado em Psicologia da Saúde, na mesma instituição, tendo
desenvolvido investigação na área do comportamento
alimentar com pessoas com diagnóstico de obesidade.
Participou em eventos científicos nacionais e internacionais na
área da psicologia da saúde e está atualmente associada a projetos na
mesma área, incluindo promoção de saúde.
Patrícia Ferreira
Licenciada em Ciências Psicológicas pelo ISPA-IU Instituto
universitário. Em 2012 concluiu o Mestrado em Psicologia da
Saúde, tendo apresentado uma investigação sobre o
comportamento alimentar numa amostra de homens com
obesidade. Apresentou em congressos, internacionais e
nacionais, investigação relevante na área. Atualmente é assistente de
5
investigação na Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (UIPES),
no ISPA-IU.
Teresa de Herédia
Nutricionista licenciada pela Faculdade de Ciências da Saúde
de São Camilo (São Paulo – Brasil) em 1988, com
reconhecimento pela Faculdade de Ciências da Nutrição e
Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) em 1992.
Especialista em Nutrição Clínica, exerce funções nas áreas da
saúde em colaboração com médicos de diferentes
especialidades, incluindo emagrecimento, reeducação alimentar, promoção
de saúde e investigação. Participou ainda em eventos científicos na área da
Nutrição, é autora de artigos científicos, coautora de livros de distribuição
em circuito científico, e escreveu também para diversas revistas para o
público em geral. É membro da Ordem dos Nutricionistas e membro
fundadora do Grupo de Estudo de Nutrição Entérica (GENE).
6
PREFÁCIO
7
discussão: a corporeidade, a valorização social do corpo magro, a
biopolítica, a dietética, a nutrição, o desenvolvimento econômico, o
papel dos meios de comunicação e a emergência de novos ideais
estéticos, as contraposições a essa idealização cultural, os distúrbios
relacionados ao excesso e à recusa ao alimentar-se, a demanda de
novos instrumentos e referenciais de avaliação, a delimitação dos
diagnósticos, as dimensões intrapsíquicas. As questões são muitas.
8
autores brasileiros e de autores portugueses são diferenciadas. Não é
somente uma questão de linguagem, mas também o conferir ênfases -
avaliação, instrumentos de avaliação, encaminhamentos clínicos,
permeiam a maioria das análises dos autores portugueses; o
privilegiar enfoques metapsicológicos e a clínica psicanalítica parece
ser a tônica dos escritos brasileiros. A uma segunda visada, vemos
que as coisas não são bem assim - os temas se cruzam, as análises
se complementam.
9
10
OBESIDADE: PREVALÊNCIA, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
11
excessiva de calorias ou gastos reduzidos, e está associada a factores
dietéticos, educacionais, sociais e ecológicos. A obesidade endógena
está relacionada com alterações endocrinometabólicas, hipotalâmicas,
genéticas, neuropsicológicas e pode ser influenciada por ação
farmacológica (Wesser & Young, 1983).
Prevalência da obesidade
13
extremamente altas entre as mulheres no Cabo da Península, e baixas
entre as mulheres na Tanzânia (Antipatis & Gill, 2001).
14
A obesidade é considerada a segunda causa de morte passível de
prevenção e estima-se que em Portugal este problema equivalha a 3,5%
dos custos relacionados com a saúde (Direção Geral de Saúde, 2005).
Causas da Obesidade
Fatores Genéticos
15
Martínez, 2004). Estudos de segregação de núcleos familiares, de
adoções, com gémeos, assim como de associação genética, confirmam
a tese de que o risco de obesidade é superior nos descendentes de
pessoas com esta doença (Marques-Lopes et al., 2004). Por exemplo, há
40% de probabilidade de uma criança vir a manifestar obesidade, se tiver
uma mãe ou pai obesos; no entanto, se ambos sofrerem de obesidade, a
probabilidade é de 80% (Garn, Bailey, Solomon, & Hopkins, 1981).
Guenter (2000) reforça o anterior ao constar que das quarenta mulheres
com obesidade que participaram no seu estudo, 82,5% tiveram mães
obesas e 15% tiveram pais obesos.
16
Hábitos Alimentares e de Atividade Física
A obesidade pode ainda ser explicada devido à industrialização dos
países (que observaram a passagem das sociedades agrícolas a
sociedades industrializadas) e às alterações dos estilos de vida e dos
hábitos nutricionais decorrentes desta mudança. É notável a
transformação no sistema alimentar, que está a modificar o consumo
energético, e a construção de ambientes eficientes, que estão a reduzir
os níveis de atividade física (Sobal, 2001).
17
essencialmente inativos) e à melhoria das redes de transporte,
decorrentes do processo de modernização mundial (Ferreira &
Wanderley, 2010). Há, deste modo, um declínio de gasto energético dos
indivíduos, que tem origem no predomínio crescente de ocupações que
demandam um menor esforço físico e na redução da atividade física
associada ao lazer (Pinheiro et al., 2004).
20
um indivíduo se encontra, este poderá estar mais suscetível a ganhar
peso. Assim, os indivíduos mais jovens e os mais idosos têm tendência a
serem mais magros e a serem menos propensos a sofrerem de
obesidade (Antipatis & Gill, 2001). Os mecanismos desta relação
envolvem a combinação de mudanças fisiológicas, níveis de atividade e
calorias ingeridas (Sobal, 2001).
Fatores Económicos
O nível socioeconómico é um fator fulcral para o entendimento deste
processo, pois influencia, entre outros aspetos, a possibilidade de acesso
a alimentos saudáveis e a oportunidade da prática de atividade física
(Vieira & Sichieri, 2008). A associação entre o excesso de adiposidade e
as condições de privação alimentar são fortemente influenciadas por
fatores socioeconómicos; a insegurança na obtenção contínua e estável
de alimentos pode gerar comportamentos de risco para o aumento da
reserva energética corporal (Bernard, Cichelero, & Vitolo, 2005).
22
para a alta incidência de excesso de peso e obesidade entre mulheres de
baixa condição socioeconómica, é o ciclo instável de aquisição de
alimentos, ou seja, períodos de abundância alimentar seguidos de
períodos de restrição (Bernard et al., 2005). Também Viana (2002) refere
que nas regiões mais pobres assiste-se a um incremento no consumo de
gorduras e açúcares, pela facilidade de acesso a estes produtos e pelos
baixos preços praticados.
Não obstante o anterior, Bernard et al. (2005) defendem que é fulcral ter
presente que, hoje em dia, a obesidade atinge todos os níveis
socioeconómicos, apesar do comportamento distinto entre países com
diferentes graus de desenvolvimento - nos países desenvolvidos, além
da educação, também o trabalho apresenta-se como um dos principais
determinantes da obesidade e, nos países em desenvolvimento, são
encontradas associações entre o salário e os bens materiais, e a
obesidade (Vieira & Sichieri, 2008).
23
da obesidade na infância, cujos pais e amigos depreciam o seu corpo
(Stunkard & Wadden, 1992).
24
Níveis elevados de ansiedade podem também ter como consequência a
obesidade; neste contexto, Kahtalian (1992) considera que o ato de
comer é tido como tranquilizador, como uma forma de localizar a
ansiedade e a angústia no corpo; dificuldades em lidar com a frustração
e com os limites poderão igualmente estar presentes.
Consequências da obesidade
25
vida, uma diminuição da produtividade e do rendimento (Wyatt, Winters,
& Dubbert, 2006).
Existe alguma evidência que sustenta que a obesidade cria uma carga
psicológica significativa em termos de sofrimento (Stunkard & Wadden,
1992). O indivíduo com obesidade pode apresentar um sofrimento
psicológico decorrente tanto dos problemas relacionados com o
preconceito social e com discriminação contra a obesidade, como das
características do seu comportamento alimentar (Bernard et al., 2005). A
obesidade pode facilitar a emergência de uma baixa autoconfiança, uma
sensação de isolamento (atribuída ao fracasso da família e dos amigos
em entender o problema) e sentimentos de humilhação (Bernard et. al,
2005); a pessoa com obesidade pode ainda ser caracterizada como
sendo impulsiva e hipersensível (Rebelo & Leal, 2007). É frequente estes
indivíduos não apreciarem o seu corpo, podendo apresentar uma
distorção em relação ao mesmo (Candy & Fee, 1998).
26
situações de abuso físico. No que se reporta às queixas físicas, estas
também são mais frequentes em sujeitos que sofrem de obesidade do
que nos sujeitos com um peso normal. Os sujeitos com obesidade
percecionam-se como tendo menos saúde e um nível de stress bastante
superior ao dos sujeitos sem obesidade.
27
qualidade de vida nas pessoas com obesidade (Guenter, 2000). No seu
estudo, Guenter (2000) concluiu que todas as mulheres com obesidade
tinham depressão; este humor disfórico evidenciava-se quando estavam
sozinhas e não tinham nada para fazer (o que poderá revelar uma
dificuldade em permanecerem sós, consigo mesmas), frequentemente ao
final do dia, momento em que ocorria uma ingestão maior de comida.
Consequências Económicas
Aliado a todos estes problemas que a obesidade acarreta, do ponto de
vista da sociedade, manifestam-se dois principais tipos de custo
económico - os custos diretos, relacionados com as despesas do sistema
de saúde; dos pacientes e dos seus familiares com o tratamento,
prevenção e diagnóstico; e ainda despesas com reabilitação,
investigação, formação e investimento em saúde. Um outro tipo de
custos económicos reporta-se aos custos indiretos, que representam o
valor da produção perdida devido à doença (que reduz a produtividade
económica da população) e à morte prematura (que diminui o número de
pessoas com capacidade produtiva), podendo ainda compreender,
adicionalmente, o tempo de lazer e de trabalho perdido, sacrificado pelos
familiares e amigos para acompanharem os doentes (Pereira & Mateus,
2003).
28
obesidade e doenças associadas. Deste modo, estima-se que cerca de 2
a 8% dos custos totais com a saúde nos países ocidentais possam ser
atribuídos à obesidade (Ministério da Saúde, 2008). De forma
semelhante, Antipatis e Gill (2001) apontam que os gastos no tratamento
da obesidade, nos países desenvolvidos, rondarem os 6% do orçamento
total.
Considerações Finais
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33
O EXCESSIVO PESO DA OBESIDADE
34
rápido processo de urbanização e industrialização, principalmente nos
países da Europa Ocidental e América do Norte, a questão do corpo,
peso e dietas se instalou de forma mais ou menos significativa.
1
A obesidade é classificada, de acordo com padrões internacionais, segundo o Índice de Massa
Corporal (IMC) do paciente. Tal índice é obtido dividindo-se o peso (em Kg) pela altura ao quadrado
(em m). A obesidade grau I é considerada em indivíduos com IMC entre 30,0 - 34,9; a obesidade
grau II para IMC entre 35 – 39,9kg e a obesidade grau III para indivíduos com IMC maior que 40kg.
(Fonte: ABESO)
35
aquele que não somente tem a gordura, mas é um marginal que
coloca em perigo a harmonia física e social” (Coupry, 1990, pag. 143).
36
É senso comum que todo indivíduo deve cuidar de seu corpo, saber o
que vai ingerir, quanto e como. O obeso parece não se dar conta
deste contrato com seu corpo, come o quanto seu impulso mandar
dando vazão ao seu ímpeto: Eu sei tudo sobre dieta, diz a paciente
obesa2, já fiz dezenas delas, mas diante de um pedaço de torta eu
caio. Apesar de tentar enfiar na cabeça que ser gordo é, como dizem,
feio, imoral, não faz bem e não cai bem, eu digo, desta vez só mais
um, e, sinceramente eu me sinto muito bem nisto. É só um
pecadinho!” O drama parece ser não o de consumir, mas o de não
poder consumir. Como parar, é a pergunta, diante de algo que está
disponível, causa tanto prazer e vai, pelo menos durante algum tempo
aplacar a angústia do sujeito e dar a ele um valor de viver.
2
Referência a uma paciente do grupo de psicoterapia para pacientes obesos por nós dirigido na
Clínica de Atendimentos e Estudos Psicológicos – CAEP, do Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília dentro do projeto Psicopatologia narcísica e obesidade. Atendimento grupal por uma equipe
terapêutica constituída por duas psicólogas especialistas em psicoterapia de grupo. Os grupos são abertos
e contínuos e a participação voluntária. O requisito para o atendimento no projeto é de que o paciente
apresente um sobrepeso acentuado, não necessariamente característico de obesidade mórbida. O número
de participantes no grupo é de oito pessoas em média, de ambos os sexos e realizados semanalmente.
37
aquele que se encontra num círculo vicioso em que por um lado é
renegado pelo seu modo de vida porque não consegue seguir as
normas vigentes de saúde, estética e bem estar e se angustia por isto,
por outro, se angustiando corre para o consumo, utiliza a ingestão da
comida como ferramenta de enfrentamento do mundo. Suas razões
por mais inconscientes que sejam o levam a este movimento, o que
não deixa de lhe causar um grande sofrimento.
3
idem
38
toda a perplexidade diante do non sense (no seu modo de ver) da
prescrição dietética. Outra paciente4: “Como acabar logo com uma
dieta para perda de peso? Simples, basta começar a fazer a dieta e
ver que não diz nada para mim, não tem nada mesmo a ver comigo”.
Ainda outra relata5 “Abandonei a visita ao programa de nutrição. Para
que vou lá, só para levar bronca? Eles querem sempre o cumprimento
de metas e mais metas. Acreditam em absurdos. Por acaso me
perguntaram o que eu quero? Por acaso me perguntaram em que
acredito?
4
Idem
5
idem
6
Idem
39
Justifica a grande ingestão de alimentos, e o consequente ganho de
peso também, com razões de ordens diversas: sensação de vazio,
sensação difusa de buraco no estômago, exclusão social, depressão,
maneira de lidar com o social mais amplo.
40
aplacar o conflito. O conflito não se resolve, visto que se trata de lidar
com algo que é da ordem do psíquico e, portanto deveria ser
acessado pela palavra e não sedado pela comida. O obeso observa
um sentimento de estranheza com relação às suas sensações e
percepções corporais, e até mesmo, em alguns casos, uma negação
da realidade objetiva desse corpo.
41
esgotamento. Queixam-se também de um stress constante e uma
dificuldade de limitar a carga física ou emocional que podem suportar.
Birman enfatiza a incapacidade crescente dos sujeitos de lidar de
forma produtiva com suas dores e sofrimentos sendo constantemente
assolados por dores corporais e incapazes lidar com elas e subjetivá-
las. Para o autor a importância da dor psíquica é fundamental
ressaltando que antes de tudo é necessário sofrê-la e aprender com
as experiências emocionais.
8
Idem
9
Idem
43
Apesar de ser um dos temas centrais de seu discurso, o corpo é
pouco nomeado, ou melhor dizendo, quase nunca é nomeado por
inteiro. Fala-se muito mais das dores e incômodos do que do próprio
corpo como unidade e pertencimento. Apesar de ser um corpo grande
parece não ter um contorno, uma delimitação e fica mais referenciado
a uma massa disforme. Há uma oscilação entre se sentir cheio e se
sentir vazio e esta é a referência corporal mais comum que
apresentam.
44
corporal, como visto na psicose, pois há nestes sujeitos uma ideia
mínima de unidade corporal. Todavia, essa unificação é frágil e
provisória. O que se constata é que o sujeito convive com certo
evanescimento da própria imagem corporal, marcada por um
equilíbrio precário, prestes a desmontar o que é gerador de muita
angústia. Constata-se, ainda quando apresentam um certo senso de
corpo, não é nessa totalidade que se reconhecem. Embora o corpo
seja reconhecido como corpo próprio, pouca relação de intimidade ou
privacidade é estabelecida com ele.
45
imagem de si pode reforçar o comportamento de comer cada vez
mais, mesmo sendo descoberto e delatado pelo olhar do outro, o que
é frequente, sendo aliás, uma de suas queixas mais comuns: a de se
sentir mal ao ver que chama a atenção do outro. Em seu relato o
paciente obeso traz uma sensação desagradável de se sentir
devassado pelo olhar do outro, uma sensação de insegurança quando
observa que não passa despercebido, o que é paradoxal, pois como
não ser visto neste tamanho?
46
criança, dando-lhe seu aval. Lacan reconhece a função primordial do
outro como sendo aquele que colocará em jogo a dialética do desejo.
49
Com o passar do tempo, quando a criança está mais crescida, estas
funções conjuntas do alimento a acompanham, mas nem sempre de
forma conjunta e nem sempre tão clara. Fica, porém a marca de uma
passagem que pode não estar tão claramente posta para o sujeito,
uma ideia ou mesmo uma impressão de que algo foi apaziguado
dentro de si, de que algo o preencheu (pelo menos temporariamente)
ou uma ideia de que algo que vem de fora (o alimento) pode findar
com uma sensação interna dolorosa (ansiedade, angustia) e ao
mesmo tempo dar uma sensação de preenchimento.
A comunicação
50
A mãe por seu turno também faz um movimento em direção ao bebê.
Seus sons são expressões de um estado emocional dirigidos ao
bebê, que fazem, sobretudo, uma ligação com este. Esta forma de
identificação da mãe à criança faz a ligação, estabelece um laço que
une os dois seres. Um laço que se inicia com a amamentação, mas
que aos poucos vai se desvencilhando desta. O alimento absorve
assim uma significação para além de suas propriedades nutricionais
de mantenedor de uma dimensão de vida orgânica e se estende para
mantenedor de uma dimensão psíquica que ora se estabelece. Passa
a carregar então significações diversas relacionados com a ligação, o
laço e o amor, mas também com as regras, o desligamento e o
suporte de um momento de separação que se faz necessário.
Desta forma, aquilo que é posto para a criança junto com o alimento
tende a ser identificado por esta com o próprio alimento, pelo que vai
fazer com que a criança aceite ou rejeite o alimento, mas também o
amor, as normas, a ligação, as regras, a educação, os limites, a
solidão, e assim por diante por sua ligação intrínseca a este.
51
Desta forma estaremos autorizados a falar de uma vivência primitiva
afetiva da nutrição que põe em evidência a relação do bebê com sua
mãe, o que por si só já nos dá razões para compreender os
significados aos quais a alimentação é revestida e o que resta que
seja exclusivo da função alimentar propriamente dita.
52
mãe e bebê que esse corpo irá estabelecendo limites e contornos,
organizando as pulsões indo rumo a unificação. A oralidade, através
da experiência da amamentação, tem um lugar fundamental neste
processo (embora não seja a única). Uma das condições
fundamentais para a constituição deste Eu a partir do corpo é o
investimento materno, sua possibilidade de olhar para o bebê de
modo a atribuir sentido à sua existência, a começar pelo seu corpo e
sua progressiva libidinização. É neste “jogo” mãe/ bebê que a
superfície corporal fica marcada por estas primeiras impressões, que
passarão do campo das sensações ao dos sentidos. Queremos
destacar a importância do ambiente deste primeiro adulto (em geral a
mãe), capaz de olhar, tocar, investir e brincar com este bebê.
53
particularidades do discurso que este pacientes produzem sobre si
pela via do inter relacionamento destes fatores na obesidade.
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56
COMPORTAMENTO ALIMENTAR: INGESTÃO EMOCIONAL,
INGESTÃO EXTERNA E RESTRIÇÃO ALIMENTAR
57
um aspeto determinante para a manutenção de estilo de vida
saudável (Viana, 2002).
58
atribuídos a alimentos e preparações, e aquilo que pensamos que
comemos ou que gostaríamos de ter comido)” (Garcia, 1994, p. 13).
59
variáveis relevantes prendem-se com as características dos alimentos
e as características do ambiente (e.g. estação do ano, emprego,
mobilidade, grau de urbanização, tamanho da casa e família)
(Hamilton et al., 2000).
60
estudo realizado com 1.450 adultos americanos demonstrou que,
tanto em homens quanto em mulheres, a escolaridade apresentava
uma associação positiva com o consumo de frutas e hortaliças
(Trudeau, Kristal, Li, & Patterson, 1998).
61
nomeadamente da gestão energética, é, em grande parte,
apreendido. O padrão de ingestão traduz o estilo alimentar que
implica, portanto, diferentes graus de capacidade de autorregulação
da ingestão e controlo do tamanho, duração e frequência das
refeições, tal como refere Viana (2002).
Ingestão emocional
É do conhecimento geral que as emoções têm um poderoso efeito na
escolha dos alimentos e, simultaneamente, nos hábitos alimentares
de cada um, com o intuito da procura do bem-estar emocional (Faith,
Allison, & Geliebter, 1997).
62
indivíduos constituem a comida como uma forma de se acalmar ou
resolver o problema (Guenter, 2000), contrariamente ao individuo não
propenso para a ingestão emocional, que tende a apresentar o seu
apetite diminuído (Viana & Sinde, 2003).
63
(podem, por exemplo, apresentar dificuldades em obter prazer nas
relações sociais, por se sentirem rejeitados ou discriminados) e, por
outro lado, esses sentimentos contribuem para que pessoas com
obesidade percecionem a comida como importante fonte de prazer
(Ferreira & Wanderley, 2010).
Ingestão externa
A Teoria da Externalidade baseia-se na dicotomia entre externalidade
e internalidade. Esta teoria considera o processo de ingestão
determinado por fatores extrínsecos aos alimentos como o aroma,o
gosto e o estímulo visual (Viana, Santos, & Guimarães, 2008).
64
os internos, é resultante da restrição alimentar e do desejo ampliado
pela carência não satisfeita (Viana & Sinde, 2003). Esta maior
sensibilidade face aos estímulos externos é um dos fatores
responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade. Assim, considera-
se que, para o indivíduo obeso, a visão, o olfato e o acesso fácil aos
alimentos são aspetos relevantes para o desencadeamento deste tipo
de ingestão alimentar (Apfeldorfer, 1995). Deste modo, a fome
(sensação interna) não é corretamente interpretada (Viana, 2002;
Viana & Sinde, 2003). Sabe-se, por último, que há uma relação entre
ingestão externa e ingestão emocional (Viana & Sinde, 2003).
65
Segundo um estudo de Almeida, Loureiro e Santos (2001), que
comparava o estilo alimentar entre mulheres com obesidade e com
peso normal, concluiu-se que a ingestão externa foi o comportamento
alimentar predominante no grupo das participantes com obesidade.
Segundo os mesmos autores, estes dados parecem ser concordantes
com os de um estudo de Rodin, Schank e Striegel-Moore (1989),
relativo aos estilos alimentares, onde se observou que os indivíduos
com obesidade tenderam mais à ingestão externa e menos à ingestão
emocional. Referem, desta forma, que a ingestão externa é uma
característica geral e não exclusiva de pessoas com obesidade, já que
parece ser manifestada por indivíduos com diferentes categorias de
peso e que respondem ao ambiente externo com consumo de comida.
Ou seja, parecem existir outras variáveis que influenciam o
desenvolvimento de obesidade, já que nem todos os sujeitos que
manifestam uma ingestão externa se tornam obesos. Supõe-se que
os diferentes estilos de comportamento alimentar apenas contribuem
para explicar a dificuldade no controlo do consumo de alimentos -
emocional ou externo - sem, contudo, explicarem exclusivamente o
desenvolvimento ou manutenção da obesidade (Almeida et al., 2001).
Restrição alimentar
O peso e a imagem corporal do indivíduo são fatores que influenciam
o seu comportamento alimentar. Isso porque tanto o excesso de peso
como a insatisfação com o próprio corpo podem motivar a restrição
alimentar (Toral & Slater, 2007).
67
comer em demasia – contrarregulação. Elas tendem a ingerir mais
quando acreditam que ingeriram alimentos muito calóricos (Viana &
Sinde, 2003). Bernard et al. (2005) também confirmam esta hipótese,
relatando que pessoas que restringem o consumo alimentar, comem
mais depois de um lanche altamente energético. Este comportamento
é explicado pela desinibição do controlo cognitivo, uma vez que
acreditam ter excedido o consumo alimentar permitido com a ingestão
do lanche energético.
68
Também foram encontradas diferenças fisiológicas no comportamento
de restrição alimentar. A perceção do sabor diferiu entre os indivíduos
famintos, as pessoas com anorexia nervosa e as que fazem dieta.
Adicionalmente, as qualidades sensoriais (paladar, olfato, textura e
aparência) constituem fortes determinantes do comportamento
alimentar (Bernard et al., 2005).
Conclusão
69
emocionais relacionados com o excesso de peso, pode ser auxiliada,
entre outros tratamentos, pela terapia cognitivo-comportamental
(Pimenta, Leal, Branco, & Maroco, 2009). Uma intervenção
multidisciplinar torna-se crucial considerando que os frequentes ciclos
de perda e recuperação de peso constituem um fator de risco para a
saúde (Bernard et al., 2005).
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72
TRANSTORNOS ALIMENTARES, O CORPO E A CLÍNICA
PSICANALÍTICA CONTEMPORÂNEA.
73
suas devidas proporções, de modo que suas implicações na
subjetividade, na clínica psicanalítica e seus efeitos de tratamento,
tanto em termos da cura, quanto da terapêutica somente poderão ser
analisadas com certa estabilidade em seus fundamentos futuramente.
74
culturas, a valorização da fertilidade promove o aumento de peso
deliberado às mulheres.
75
reportagens estruturados pela concepção de um personal trainer que
salvará a pessoa de sua obesidade pela prescrição de um novo estilo
de vida, tanto em termos de exercício físico, como de reeducação
alimentar. Estes profissionais de saúde e estética adotam uma
posição de confessores dos pecados dos deslizes da dieta.
76
como a tecnologia é utilizada fazem parte do contexto pós-moderno.
De acordo com Sousa Santos (1998), o tempo atual é caracterizado
por ser um período de transição e, por tal, instável como também
ligado à acontecimentos e fenômenos passados e em processo de
constituição. Ao mesmo tempo a pós-modernidade é um tempo fértil
para novas criações e renovações, e, por isso mesmo, algumas
características da modernidade perderam sua expressão, resultando
em novos modos de subjetivação.
77
que o indivíduo está em uma posição de exterioridade em relação ao
próprio corpo sendo que este sai da posição de objeto estético para a
posição de massa de modelar. É nesta crise com o corpo que a
obesidade está inserida, juntamente a outros distúrbios alimentares,
como a anorexia e a bulimia. E esta crise consiste em um ataque
constante ao corpo e à sua forma, impondo o trabalho de resgate na
repetição da ameaça de aniquilamento vivenciada na civilização.
79
Freud (1914) afirma que o narcisismo primário é responsável pela
idealização do próprio eu mediante o narcisismo dos pais, que, por
não poderem se realizar por seu próprio Eu, são investidos no Eu da
criança, libidinizando-o e relegando a criança à alienação de suas
imagos, ao mesmo tempo em que promove um apagamento dos seus
defeitos e incompletudes. O Eu consciente da criança constitui-se
então como corpo, e como instância corporal (Freud, 1923). Este
narcisismo é o principal responsável pela suposição do indivíduo de
sua imortalidade e de completude.
81
Índice de Massa Corporal (IMC), referendada pelos seus fundamentos
teóricos e experimentais e compreendida pela sua relação ao
crescimento do número de doenças crônicas como artrose, dores,
doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes.
82
narcisista próprio à momentos de catástrofe. Estes são alguns dos
aspectos que caracterizam a dependência destes sujeitos, tanto à
comida quanto às dietas. O indivíduo coloca para si uma dieta
impossível de cumprir, quando na verdade, o que lhe sobra é a
possibilidade de transgressão com um prazer que será muito grande
(Herrmann, 2011).
87
expressivas, o que em um primeiro momento afasta a vontade e a
motivação destes sujeitos de se confrontarem com estas dimensões.
88
sozinhos, suportam o outro. São frequentes também os casos em que
estes sujeitos entram em relações simbióticas, das quais não
vislumbram qualquer possibilidade de separação, apesar de em
muitos casos, a separação já ter ocorrido concretamente. De acordo
com Dunker (2002) estes são exemplos que podem caracterizar a
modalidade de sintoma egosintônico nas neuroses narcísicas, já que
o sintoma adapta-se ao Eu de modo a integrar os conflitos, o
sofrimento e a impossibilidade de conciliação às identificações que
promovem um ordenamento do modo de viver característico da
neurose.
89
destes sujeitos manisfesta-se pela sua corporeidade, seja pela dor
física ou por atuações que implicam em intervenções neles, logo, o
que faz com que estes indivíduos busquem terapias intervencionistas
ou cujo foco seja a cura de seu incomodo. Há uma satisfação direta
de suas exigências pulsionais, seja pela compulsão alimentar, pela
excesso de comida ingerida ou pela negação deste amor e
dependência e logo, estes sujeitos apresentam a incapacidade de
colocar um limite à sua satisfação, ou de estar em posição de objeto
do outro.
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91
OS IMPASSES DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E O MAL ESTAR
NA ATUALIDADE
92
acesso e variedade de alimentos, favorecendo um incremento na
ingestão de uma variedade maior de alimentos, mas também um
crescimento significativo do excesso de peso em todas as camadas
da população (Ministério da Saúde, 2012). Segundo dados do
Ministério da Saúde, nos últimos seis anos, o número de brasileiros
com excesso de peso ou com obesidade aumentou. Quase metade da
população brasileira está acima do peso. O crescimento é acelerado,
cerca de 1% ao ano entre os adultos. Estima-se que em vinte anos
cerca de 70% dos brasileiros estarão com excesso de peso (Ministério
da Saúde, 2011,a).
93
Entende-se por alimentação adequada e saudável a prática alimentar
apropriada aos aspectos biológicos e socioculturais dos indivíduos,
bem como ao uso sustentável do meio ambiente. Ou seja, deve estar
em acordo com as necessidades de cada fase do curso da vida e com
as necessidades alimentares especiais; referenciada pela cultura
alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do
ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e
qualidade; baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis
com quantidades mínimas de contaminantes físicos, químicos e
biológicos.
Para encurtar a longa história, o que aconteceu foi que, por um lado,
os médicos e nutricionistas começaram a alertar contra a má nutrição,
comer muito, engordar, obesidade, doenças cardiovasculares etc. Por
outro lado, os chefs também estavam dando conselhos e propondo
modelos que estavam antecipando o que poderia se tornar uma
moda. Dos dois lados estavam se produzindo normas, direções,
regras para as pessoas seguirem. As pessoas, quando entrevistadas,
estavam claramente começando a dizer que estavam confusas
porque liam revistas, e elas diziam uma coisa, primeiro que não se
devia comer pão, depois diziam que pão é bom; que não se devia
comer muita gordura, depois que existe gordura boa e gordura má.
Isso exigia comedores muito competentes! (Goldenberg, 2011, p. 228)
98
migraram da sexualidade para a dieta, da cama para a cozinha e para
a mesa” (Herrman e Minerbo, 1998, p.22). Os autores complementam
dizendo que a moral dietética conserva características do discurso
sexual como a culpa, o pecado e a expiação: “Como o antigo
adolescente religioso que jurava nunca mais se masturbar, mas nas
juras começava a já encontrar a temática da próxima fantasia
masturbatória, e na resistência, o mais deleitável dos estímulos, nós
que somos, ou consideramo-nos, todos gordos, instituímos uma dieta
impraticável com o fito oculto de a quebrar com o máximo prazer
possível” (Herrman e Minerbo, 1998, p.25).
99
O mal-estar na civilização e o mal-estar na alimentação
100
“(...) aqui se ergue a voz da crítica pessimista, lembrando que a
maioria dessas satisfações segue o modelo do “prazer barato”, que é
louvado numa certa anedota. Ele consiste em pôr fora da coberta uma
perna despida, numa noite fria de inverno, e em seguida guardá-la
novamente” (p.46).
101
da Alimentação Saudável” requer do indivíduo contemporâneo a
restrição de alimentos e consequentemente a restrição de seus
prazeres. O açúcar e a gordura são considerados extremamente
nocivos, são grandes vilões. E, diante disto, o sujeito precisa
renunciar: deve deixar de comer o que gosta e o quanto gosta para
passar a gostar dos alimentos tidos como saudáveis nas proporções
adequadas.
102
restritiva. Para ele, a cozinha dietética, não calórica, leve, não
alimenta nem o corpo e nem a alma. O sal, o açúcar e a gordura são
os inimigos da sociedade e do sujeito, e quando há um investimento
contra esses alimentos, na verdade, há um investimento contra
valores historicamente simbólicos para o homem:
103
ouropéis que são nossos angélicos corpos.” (Coupry, 1947/1990, p.
82).
104
dessa cultura, tem mais poder de avaliação, análise e julgamento,
fortalecendo o mal-estar contemporâneo, predominantemente
vivenciado nos sentimentos de vergonha e culpa.
Em seu texto Freud (1930) afirma que não acredita em uma solução,
uma cura, uma harmonia entre o conflito pulsão e civilização. A
relação conflitual seria de ordem estrutural, isto é, jamais
ultrapassado. Deste modo o autor diz que seria necessário uma
espécie de gestão que, nunca se finda e que nunca termina, do
conflito pelo sujeito, e consequentemente do desamparo originário,
marca desse conflito. Portanto, uma certa ingerência do sujeito deve
105
permanecer para que este não se torne um mero joguete neste
universo imperioso que tem encontrado brechas para se impor.
REFERÊNCIAS
107
AMAMENTAÇÃO, SINTOMAS ALIMENTARES E CONSTITUIÇÃO
PSÍQUICA
108
presentes em seu desenvolvimento e possamos compreendê-lo
dentro do contexto familiar, social e cultural onde está inserida a díade
composta, de um lado, pelo bebê/criança e, de outro, por sua
mãe/cuidador.
111
da linguagem, do tônus corporal todos sustentados por uma complexa
rede psíquica do bebê e de seu cuidador fundamental.
112
Para a mãe, o encontro com seu bebê na amamentação irá reatualizar
seu próprio desamparo, segundo Freud (1950 [1895]), uma das
condições psíquicas mais arcaicas. Através da amamentação, a mãe
poderá ter vivências de reparação de seu próprio desamparo, ou seja,
aquele inexorávelmente posto na condição inicial da vida de todo
bebê humano e que acompanha todo o processo de constituição
psíquica, sem jamais abandoná-lo. Na impossibilidade de reparação,
a mãe poderá vivenciar em seu lugar de nutriz, angústias arcaicas que
em um processo de identificação projetiva (Klein, 1946) poderão se
atravessar em sua relação com seu bebê. Concomitantemente, olhar
e corpo se vincularão à palavra materna que dará sentido a todo o
acontecimento em torno da amamentação e possibilitará ao bebê seu
engajamento a uma linguagem simbólica, mas ao mesmo tempo
sustentada no corpo. Acesso à linguagem que lhe permitirá
posteriormente associar às vivências em torno da amamentação,
elementos de linguagem que irão possibilitar a elaboração da
separação.
114
lugar que lhe é concedido neste contexto. O quanto estas demandas
subjacentes a estas ações poderão ser entendidas e atendidas
suficientemente pelos cuidadores será fundamental no
atravessamento do processo que está em jogo. Não podemos
esquecer que estes momentos, que geralmente vão até a entrada na
puberdade, têm concomitância com processos importantes da
constituição psíquica, como por exemplo, as vivências do Édipo, como
a criança o vivencia e como sinaliza suas possibilidades de
atravessamento. Certamente, as questões alimentares não irão
acontecer à parte disso tudo, mas intimamente inserida neste
processo.
115
adolescentes nesta posição, impõem que estes pais lhe dirijam uma
interrogação: “o que você quer?” Assim, a criança e o adolescente se
veem questionados para além da comida, e remetem o outro à
construção de uma demanda que não se sacia no alimento. Não é
raro vermos os pais, tomados de angústia diante da recusa alimentar
de suas crianças e adolesecentes, passarem de uma posição de
vigilância e controle para uma posição de total aceitação de
condições.
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119
PERDA DE PESO BEM-SUCEDIDA E SUPORTE SOCIAL
Perda de Peso
120
preocupadas com o seu peso, bem como demonstram mais
comportamentos de controlo da alimentação, comparativamente aos
homens. Os mesmos autores referem ainda que no que toca às
tentativas de controlo do peso, 52,2% dos indivíduos com excesso de
peso e 31,5% com obesidade, revelam não ter procurado uma
consulta de nutrição. Verificou-se que, nos países onde este estudo
foi realizado (Bélgica, Espanha, Itália e Portugal), os métodos mais
utilizados para o controlo do peso foram os programas específicos de
emagrecimento (substituição de refeições e uso de medicamentos) e
as mudanças de estilo de vida. E, dos participantes que revelaram ter
recorrido a estes métodos, 25% afirmou ter recuperado o peso
perdido após o final da intervenção, e 12,2% relataram ter aumentado
o seu peso corporal para valores superiores aos iniciais (pré-
intervenção).
121
Perda de Peso Bem-Sucedida
Para Knowler et al. (2002) uma perda de peso bem-sucedida tem que
se situar entre 7% e 10% do peso inicial, e um sucesso a nível da
implementação de exercício físico deverá equivaler a, pelo menos,
150 minutos por semana. Existem ainda outros estudos que aceitam
como bem-sucedida uma perda de peso de, pelo menos, 5% do peso
inicial (Teixeira et al., 2004; Vieira et al., 2008). Os quilos perdidos
poderão constituir ainda outra forma de determinar o sucesso da
perda de peso; por exemplo, Teixeira et al. (2002) qualificaram como
patamar de uma perda de peso bem-sucedida, num estudo realizado
em mulheres de meia-idade, uma diminuição de 6,4 kg.
122
participantes com diagnóstico de obesidade. Por fim, é importante
acrescentar que, embora o excesso de peso e a obesidade neste
estudo tenham sido mais prevalentes na faixa etária acima dos 50
anos, este também foi o grupo em que se registou menos tentativas
de emagrecimento (Santos et al., 2010).
124
influenciando deste modo as intervenções de a diminuição do peso
(Foster, Wadden, Phelan, Sarwer, & Sanderson, 2001).
125
presentes autores consideram importante reforçar a atenção prestada
às dimensões psicológicas, no âmbito dos programas de perda e
controlo de peso bem-sucedidos.
Por sua vez, Wing e Hill (2001) concluíram na sua investigação que a
perceção de autocontrolo se associa a uma maior perda de peso,
considerando-a assim um relevante preditor de êxito da manutenção
do novo peso mais baixo. Para além desta associação com a
diminuição de peso, outras investigações evidenciam ainda a relação
entre as variáveis de autocontrolo e de autoeficácia com
comportamentos relacionados com uma alimentação saudável
(Milligan et al., 1997; Wamsteker et al., 2005).
Suporte Social
Por sua vez, Ansara e Hindin (2010) referem que o suporte social
pode ser caracterizado como informal ou formal. O informal consiste
nos recursos disponíveis na assistência instrumental e emocional,
fornecida através da família, vizinhos ou amigos; em oposição, o
formal refere-se aos profissionais de saúde, polícia e ao apoio
fornecido pelos sistemas.
128
durante a vida adulta um aumento na proximidade emocional nas
relações com familiares e amigos próximos, tornando-se estas mais
íntimas. Silva, Ribeiro e Cardoso (2009) verificaram, num estudo
sobre intervenção cirúrgica para a obesidade, que os indivíduos que
revelam uma boa perceção de suporte social antes e após a cirurgia,
eram os que estavam mais motivados intrinsecamente e que se
sentiam mais competentes para implementar o tratamento necessário.
Por sua vez, Santos, Ribeiro e Lopes (2003), concluíram que os
indivíduos casados ou a viver em união de fato são os mais satisfeitos
com o suporte percebido, nomeadamente ao nível da intimidade e
satisfação com a família. É importante acrescentar ainda que neste
estudo foi verificado que à medida que a idade aumenta, diminui a
satisfação com o suporte proveniente dos amigos. Ao nível das
habilitações académicas, observou-se que sujeitos com habilitações
académicas superiores manifestavam uma satisfação com o suporte
social percebido maior, particularmente em relação à amizade.
Todavia, Katapodi, Facione, Miaskowski, Dodd e Waters (2002)
acrescentam que existe uma falta de consenso entre autores em
relação à satisfação com o suporte social e as habilitações
académicas.
129
apesar de se considerar que a mesma poderá ser um importante
moderador e mediador da eficácia destes programas de intervenção
(Kiernan et al., 2011).
130
anterior: Presnell, Pells, Stout e Musante (2008) concluem que os
homens apresentam valores positivamente significativos entre o
controlo da perda de peso e o suporte social, todavia, o mesmo não é
verificável nas mulheres. Desta forma, promover o suporte social nas
mulheres poderá não ser o suficiente para promover o controlo e a
perda de peso, podendo a insatisfação com o peso corporal e os
sintomas depressivos assumir um papel mais relevante neste campo,
para este último género.
Por sua vez, McLean et al., (2003) referem que o envolvimento dos
cônjuges está relacionado com o aumento da eficácia e com uma
maior perda de peso. Acrescentam ainda que as intervenções infantis
neste âmbito envolvendo não apenas as crianças, mas também os
respetivos pais, revelam efeitos mais benéficos na mudança
comportamental.
132
suporte social de amigos antes de participarem no programa, foram as
que apresentaram maior predisposição para perder peso (80% destas
mulheres diminuíram o seu peso). Os autores consideram que este
resultado pode estar ligado ao formato do programa de perda de peso
aplicado neste estudo (ou seja, intervenção de grupo), que facilitava o
desenvolvimento de amizades, algo que não existia anteriormente na
vida destas mulheres.
133
associação deste termo à sexualidade (Pinto, 2009). Neste contexto, é
crucial mencionar que os indivíduos que apresentam um peso muito
acima do ideal manifestam dificuldades de interação com o sexo
oposto, principalmente nas relações íntimas e sexuais. Para além
disso, estes indivíduos muitas vezes possuem uma autoestima muito
baixa, que limita a sua vida social e o desenvolvimento de vida
íntima/sexual positiva (Ribeiro, 2008).
134
poderá ser uma variável de relevância quer a nível clínico, quer ao
nível da investigação.
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ANOREXIA: VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
141
A alimentação permite que seja instalado um estilo de relação entre a
dupla mãe-criança. Estilo como aquilo que instaura uma identidade
através da repetição vida afora.
142
as repressões sociais e os conseqüentes conflitos pessoais. O comer
nada era sua grande fonte de sustentação. Observou-se que a recusa
alimentar religiosa ocultava um grande apetite ou tendência psíquica
para a morte3. É importante lembrar que estas anorexias perderam
sua representatividade mediante a veiculação de uma bula papal,
quando Urbano VIII excluiu, para essas jovens, a possibilidade de
canonização.
143
os pacientes digam conscientemente que não se alimentam por não
ter fome e que não há nenhum outro motivo, a perda do apetite e da
vontade de comer, tem suas relações com a perda da libido do prazer
em comer, em ser alimentado, de sentir-se satisfeito 6. Prazer em
viver e prazer em manter ou fazer novos laços sociais.
7
Partindo dos pressupostos sustentados por Perez existem três
momentos mais vulneráveis para a constituição do sintoma anoréxico:
A lactância
144
Quando a mãe se acha onipotente ou insuficiente para cuidar e
alimentar seu bebê, detecta-se uma falha no estabelecimento do
diálogo. Ou ela empanturra insistentemente o bebê, não percebe
quando ele está saciado ou não entende que ele não está gostando
daquele leite e, chora insistentemente. De acordo com Perez8 “Muitas
vezes, o bebê recusa o leite materno porque ele realmente vem fraco,
mas fraco não de substâncias químicas, fraco de significado, de
investimento materno, fraco de algo que está além do valor nutritivo
de leite”. Recusam o alimento que não vem recheado de afeto, aquele
que é ofertado sem graça e sem sabor.
A primeira infância
145
A puberdade
A anorexia
146
cultura do politicamente saudável. São freqüentes as distorções na
imagem corporal, a sombra e o reflexo no espelho são bem mais
gordos do que o corpo da realidade; outro fator relevante é a
crescente necessidade de isolamento, recusa em sair ou em fazer
parte de um grupo social; dificuldade na comunicação e tendência ao
perfeccionismo exagerado.
148
a falha ou falta deste olhar do pai torna a menina ainda mais
vulnerável ao desenvolvimento da anorexia.
Apesar deste aparente desejo de morte, Bruch 13 nos diz que elas não
buscam a morte, mas o controle da própria vida e o alcance de algum
senso de identidade. Mesmo não buscando diretamente a morte, elas
podem encontrá-la, ao ter sucesso completo no controle da fome.
O tratamento
149
imprescindíveis, havendo ou não necessidade de hospitalização. Esta
constituição de pessoas/profissionais em torno da paciente pode, se
bem conduzida, facilitar o surgimento de novas relações. A
sensibilidade e a competência profissional são de grande valia nestes
casos.
150
o curso do tratamento. Chegar aos limites mínimos de absorção
calórica deve ser uma decorrência da proposta de tratamento
consensual da equipe e acordada dos pais e não seu objetivo
primeiro.
151
pelo alimento também revela uma escolha existencial, radical a ser
trabalhada.
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153
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA
154
Várias pesquisas têm sido realizadas para melhor entender os hábitos
alimentares. Um estudo realizado na população americana constatou
que cerca de 70% das pessoas, optaram por pelo menos uma destas
estratégias em 4 anos: aumentar a atividade física (82,2%), diminuir o
consumo de gorduras (78,7%), redução da quantidade dos alimentos
(78,2%) e ingestão de menos calorias (73,2%). Todos estes
comportamentos tiverem uma duração breve, já que apenas 20% das
pessoas mantiveram estes comportamentos durante os 4 anos
(Freedman, King & Kennedy, 2001; cit. por French, 1999).
155
elas distinguem-se as doenças cardiovasculares (hipertensão,
aterosclerose), acidentes vasculares cerebrais, diabetes mellitus e
alguns tipos de cancro que têm uma forte ligação com o tipo e
quantidade de alimentos que são consumidos (Mahan & Escott-
Stump, 2010). Todas estas doenças surgem, com frequência,
associadas com a ocorrência de excesso de peso e de obesidade
(OMS, 2008).
157
hiperglicemia e a hipertensão – reconhecidos conjuntamente por
síndrome metabólica (Teles et al., 2008).
158
passos a serem realizados no tratamento de excesso de peso e de
obesidade.
2. Composição corporal
A perda ou o ganho de peso, por si só, não nos diz nada sobre a
forma como a composição corporal foi alterada: se de facto, foi devido
a um ganho ou perda de massa gorda ou massa muscular (Rothman,
2008). Contudo, a medição do peso continua a ser um indicador
indirecto da quantidade de gordura corporal. Para muitas pessoas, ter
peso a mais, significa gordura corporal a mais, o que nem sempre é o
caso. Alguns indivíduos, com a classificação de pré-obesidade obtida
pelo IMC, podem ter uma quantidade de gordura corporal normal e
uma massa muscular aumentada como no caso de atletas de alta
competição (Rothman, 2008). Por outro lado, indivíduos classificados
com um IMC normal podem ter excesso de massa gorda corporal e
uma massa muscular reduzida (Rothman, 2008). Estas situações
podem ocorrer por o IMC não ter em consideração, o género, a idade,
a estrutura óssea e a distribuição de gordura.
159
electrólitos, tem maior condutividade eléctrica e menor impedância do
que o tecido adiposo (Mahan & Escott-Stump, 2010). Assim, a
resistência à corrente será maior em indivíduos com maiores
quantidades de gordura. O método de bioimpedância é uma forma de
avaliação muito comum, por ser seguro, não invasivo, portátil e rápido.
No entanto, para a obtenção de dados fiáveis, os pacientes não
devem realizar exercícios nas últimas 4 horas e ter consumido
cafeína, álcool ou diuréticos nas últimas 24h (Mahan & Escott-Stump,
2010). Não é aconselhada a sua utilização em grávidas ou em
pacientes com baypass cardíaco. Em média, a percentagem de
massa gorda corporal para homens e mulheres caucasianos, deve
representar entre 10 a 20% e 20 a 35% do peso respectivamente.
Estes valores variam com a idade (Gallagher et al., 2000).
Valores de Patologias
Parâmetros Bioquímicos referência asociadas
Colesterol total < 200 mg/dl
Colesterol, LDL e
HDL 40-50 mg/dl triglicéridos elevados
LDL <100 mg/dl e HDL diminuído:
Dislipidemia
Triglicéridos < 150 mg/dl
160
Enzimas Hepáticas
TGO, TGP e GGT
Arpartato Aminotransferase - TGO < 40 U/L elevados: Esteatose
Alanina Aminotransferase - TGP < 45 U/L hepática não
alcoólica
Gama-Glutamiltransferase - GGT < 55 U/L
Ácido úrico 3,5-7,2 mg/dl Hiperuricemia: Gota
Hiperglicemia:
Glicémia em jejum 70-100 mg/dl
Diabetes
*Os valores de referência podem variar em diferentes laboratórios
161
Relativamente à Esteatose Hepática não alcoólica, vários estudos têm
demonstrado que dietas hipocalóricas reduzem cerca de 35% da
gordura depositada no fígado (Parrish, 2010). No entanto, quando a
estas se associa o consumo de gorduras polinsaturadas, há uma
redução de cerca de 53% (Parrish, 2010).
Dia 1
Refeições Alimentos Quantidades Preparação Local Hora
Pequeno-almoço
Meio da manhã I
Meio da manha II
Almoço
Lanche I
Lanche II
Jantar
Ceia
Tratamento nutricional
163
emagrecimento, as alterações alimentares sejam sempre necessárias
e que a finalidade seja ingerir menos calorias que as dispendidas, os
planos alimentares devem-se centrar no equilíbrio, na quantidade,
qualidade e variedade alimentar, por forma a evitar uma inadequação
nutricional. É importante que a adesão do paciente seja conseguida.
No processo dietoterapêutico, um plano alimentar é mais do que uma
ferramenta no tratamento e prevenção do excesso de peso e
obesidade. Esta deve proporcionar uma reeducação alimentar, para
que os hábitos saudáveis possam ser mantidos para a vida.
1. Ritmo de emagrecimento
164
Contudo, existe uma dramática disparidade entre as expectativas dos
pacientes e as recomendações dos profissionais de saúde (Foster,
Thomas, Renee & Gail, 1997). Um estudo realizado em mulheres que
apresentavam obesidade avaliou as espectativas e os objectivos das
pacientes, antes, durante e depois de um programa de
emagrecimento de 48 semanas. Antes de iniciarem o programa foi-
lhes perguntado qual a meta de peso atingir: “um peso de sonho”, “um
peso feliz”, “um peso aceitável” e “um peso decepcionante”. Uma
perda de 17kg foi considerado “um peso desapontante”, 25kg de
perda de peso foi considerada “um peso aceitável”. Após as 48
semanas de tratamento e com um alcance de 16kg de perda de peso,
47% das pacientes não atingiram o peso ao qual identificaram como
“desapontante” (17kg) (Foster et al., 1997). Na tabela 5 estão
representadas as expectativas dos profissionais de saúde versus
pacientes que ilustram estes aspectos.
Duração de
Perda de % de perda de Objectivos da
um plano
peso peso dietoterapia
alimentar
Perda e
manutenção
Profissionais 5 a 10 % Para o resto da
Moderada do peso,
de saúde (NIH,1998) vida
melhoria da
saúde
Perda do
37% (Foster et. peso, estética
Pacientes Rápida Temporário e
al, 1997)
aparência
165
do excesso de peso e obesidade não devem ter em conta apenas
problemas estéticos ou aparência. Estes deverão ser centrados, não
só na perda do peso, mas também no seu controlo e nos seus efeitos
para a saúde.
166
Para gerar um emagrecimento adequado, as dietas prescritas para o
tratamento de obesidade, devem ser hipocalóricas e equilibradas.
Para tal, o aporte calórico não deve ser inferior a 1200 kcal/dia no
caso das mulheres e 1600 kcal/dia no caso dos homens para que seja
possível atingir as quantidades recomendadas de nutrientes (Institute
of Medicine, 2002). Estas recomendações estão representadas na
tabela 6.
Fibras 20 a 30 g/dia
167
substratos ou catalisadores de reacções químicas necessárias à vida
(Teixeira, Sardinha & Barata, 2008).
170
*Em cada grupo há uma grande variedade de alimentos permitindo diferentes
substituições saudáveis
Esta metodologia permite uma alimentação equilibrada contendo os
vários constituintes dos alimentos, numa proporção correcta entre si.
Garante que não haja deficiência de nutrientes essenciais e evita os
excessos. Torna a alimentação mais variada no dia-a-dia e menos
monótona. Permite uma adequação das quantidades às necessidades
específicas de cada pessoa, respeitando os limites aconselhados de
cada grupo, mantendo um equilíbrio alimentar.
171
Muitos estudos mostram uma forte associação entre a atividade física
na manutenção da perda de peso e a sua capacidade preventiva da
sua recuperação (ADA, 2009). Para além disso, a atividade física é
importante para melhorar as co-morbilidades associadas com a
obesidade, nomeadamente doenças cardiovasculares e diabetes (Hu,
Li, Colditz, Willet & Manson, 2003). Na tabela 8 estão representados
as mais recentes recomendações de atividade física para adultos
segundo a OMS (2010).
172
obedecendo às recomendações mencionadas, como pela American
Heart Association (2012):
Resultados
173
Come melhor durante o dia e menos à
Comia mais à noite
noite
Estilo de vida sedentário Andar a pé para o local de trabalho
Resultados
1ª consulta 4 meses depois
Análises laboratoriais Análises laboratoriais
Colesterol total: 232 mg/dl Colesterol total: 196 mg/dl
Triglicéridos: 419 mg/dl Triglicéridos: 135 mg/dl
Peso corporal: 87,0 kg (9,8% de perda de
Peso corporal: 96,4 kg
peso)
Perímetro da cintura: 117,5 cm Perímetro da cintura: 107,5 cm
% Massa gorda: 32,4% % Massa gorda: 28,2%
IMC: 33,0 kg/m² IMC: 29,8 kg/m²
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178
OBESIDADE E PSICANÁLISE: O ORGULHO DE SER GORDO E O
POLITICAMENTE CORRETO
179
inicialmente discutida através da literatura francesa no século XIX,
quando atribui-se o desenvolvimento da obesidade a eventos de
grande estresse emocional. (Loli, 2000: 20).
180
politicamente incorretos, vão ser rejeitados e ecusados.” (Melmam,
2003: 64).
181
como infarto do miocárdio e derrame cerebral, enfermidades
eumatoló icas e out as patolo ias. “Os b asilei os en o dam cada
vez mais. Em 13 anos estarão tão obesos quanto os americanos de
oje. “É pa adoxal: de um lado, nunca omos expostos a tanta
informação de qualidade sobre a conveniência de adotar a assim
chamada alimentação saudável, beber com moderação, praticar
atividade física e não fumar; de outro, adotamos o estilo de vida
oposto.” (Varella, 2011).
182
controle da fome e da saciedade tem demonstrado que engordar ou
emagrecer está longe de ser mera questão de vontade dos cidadãos.
183
negros acabou por se transformar em um programa político de criação
de uma nova consciência social. Essa nova esquerda é diferente da
velha esquerda marxista, pois esta considera o proletariado como a
classe que era oprimida, e a primeira considera todo tipo de grupos de
excluídos – mulheres, negros, gays, aborígenes, índios, etc,. Outra
diferença seria econômica, esta nova esquerda não prega a revolução
contra o capitalismo, mas sim uma acomodação do status quo
econômico às demandas de inclusão dos grupos de excluídos. Isto
quer dizer que tanto o capitalismo inclui em sua dialética todas as
diferentes raças, sexos, etnias, como os excluídos perceberam que o
capital é um excelente parceiro na luta pelos direitos:
Mas, a reportagem acima citada diz que não estamos aqui para fazer
um julgamento moral do obesidade ou do orgulho de ser gordo. Para
Spada (2009), apesar das demonstrações de valorização da beleza
real, o padrão ditado pela moda e pela mídia ainda é, em sua
arrasadora maioria, macérrimo, havendo sinais de mudança, mas a
regra ainda é o preconceito. Além disso está em jogo conflitos
psíquicos subjacentes à obesidade
185
A relação do sujeito com as dietas
186
O relatório de 2012 mostra que no continente americano 26% dos
adultos são obesos, sendo a região com maior incidência do
problema. No extremo oposto está o sudeste asiático, com apenas 3%
de obesos. Baseado em dados de 194 países, o departamento de
estatísticas da OMS afirma que em todas as regiões do mundo a
obesidade duplicou entre 1980 e 2008. Os dados divulgados alertam,
em síntese, para o aumento das doenças não contagiosas ligadas à
obesidade: diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares.
Elas representam 2/3 das mortes no mundo.
188
do la o e jo a o sujeito pa a a ese va sim- bólica que l e alta. sso é
possível devido po osidade que esta época c ia, mediante o
discurso capitalista que rompe limites e oferece a permissividade.
189
deseja porque a satisfação de suas necessidades vitais passa pelo
apelo dirigido a um Outro, o que de imediato altera a satisfação, pois
esta se transforma em demanda de amor.
190
Uma referência política do desejo é que sendo o desejo do Outro, o
desejo demanda uma ação do Outro. Assim individualidade e
coletividade começam e se amalgamar, fazendo Freud (1920-1923:
14) a i ma : “A oposi o ent e psicolo ia individual e psicologia social
ou das massas, que à primeira vista pode parecer muito significativa,
perde boa parte de sua agudeza se a examinarmos mais
detidamente.” Desde F eud a psicanálise se ocupa p ecisamente
dessa relação complexa entre individual e coletivo que constitui o
problema central de toda e qualquer ação política. (Goldenberg, 2006:
17).
191
estabilizar, apesar da incompatibilidade entre o fascínio da publicidade
e a aridez da negociação política. (Kehl, 2009: 129).
192
teria sido até mesmo legítimo esperar, ao que poderia apresentar-se
como o local por excelência da biopolítica moderna: a política dos
grandes Estados totalitá ios do ovecentos”. (AGAMBE , 2002: 125).
193
oprimidas por quem não faz a menor idéia de como é difícil ser gordo
neste planeta redondo. (Alvarez, 2009).
Pra chegar à receita que mudou a vida de Joy, Deb, Gabi e tantas
outras gordinhas americanas, foi preciso, primeiro, juntar uma boa
quantidade de frustração.
194
Colocamos a questão estética, ao lado da ética e da dietética para
falarmos dos transtornos alimentares de uma posição subjetiva que se
diferencia do discu so técnico-cientí ico. Daí o movimento político
“O ul o o do”, t az um impasse pa a além da quest o política, ao
brandir o desejo de ser bonito, gordo e politicamente aceito como se
é.
195
No entanto durante esses tratamentos frequentemente se observa,
nos consultórios psicanalíticos, que a queixa sintomática de
obesidade não é falada pelos pacientes. A pesquisadora Maria Salete
Arenales Loli em sua prática com pacientes obesos afirma que há
uma ‘exclus o’ do tema obesidade no p ocesso psicote ápico. “ esse
contexto, cedo observei que, com essas pacientes, a questão do
próprio peso corporal e os sentimentos mobilizados diante desta
problemática converteu-se em um ‘intocável’ assunto.” (Loli, 2000:
22).
196
Os novos sintomas da contemporaneidade são expressões mais
diretas da pulsão. Por isso, explica Forbes (2012: XXVIII), tantas
vezes tomam a forma de adições, compulsões ou rejeições maciças.
197
“Adieta -se” é uma no o adicalmente dive sa de adapta -se. A
primeira é uma construção linguageira, a segunda é uma concepção
biológica. Por isso há uma bifurcação entre o biológico e o subjetivo
ao se falar dos ditos t ansto nos alimenta es, ent e eles, a obesidade.
A monta em que a dietética estabelece com o campo da ética e com
o espa o da estética se deixa at avessa po uma o dem discu siva
que pode se es atada pela psicanálise, desde que seja entendido
que a dietética ent a no campo psicanalítico pela via do desejo,
conclui Carneiro (2004).
198
ainda, quando á a p esen a dos e e idos t ansto nos na in ncia,
tais como a pica, os t ansto nos de umina o e os t ansto nos de
alimenta o da in ncia, diz o manual que se in- cluem n o como
t ansto nos alimenta es e sim como t ansto nos da alimenta o da
in ncia.
Com taman a especi icidade classi icató ia, essa discuss o incita a
elabo a mos uma pe unta pela posi o do sujeito ente ao objeto,
uma vez que n o se pode contenta com um sujeito que toma o
alimento apenas pelo viés da necessidade de sob eviv ncia, sen o
po al o que o coloque na condi o de exist ncia e o a a const ui
um sentido para a vida.
199
$<> a, + estética = die($)tética, dietética + ética =
diet(a)ética
200
En im, sob e o que l e oi ne ado, no ato de doa o, e objetivado pelo
deslocamento do amor em objeto.
É isso que ica como uma mat iz de ixa o daquilo que pode se o
amo . esse sentido, podemos dize que essa é uma a o dietética
que t ans o ma comida em nada ou em tudo, sob a é ide do amo . É
uma a o dietética que, desde os p imó dios da umanidade, situa o
omem diante de uma quest o ética. E a ética da psicanálise é a ética
do desejo do sujeito em suas relações com o objeto a, aquele que
causa o desejo.
201
out a o ma qualque de t aduzi ao co po o ozo a se vivido pela
iniludível ma ca da falta de objeto.
202
suportar o abandono do Outro, agora replicado nos enlaces amorosos
falidos que a vida lhe apresenta.
203
Casada e sem filhos, é advogada de profissão e queixa-se,
inicialmente, de um mal-estar e incômodos, tais como insônia,
irritabilidade, a ingestão em excesso de medicamentos com o intuito
de morrer, mas a principal queixa é a de ter atingido o peso de 120
quilos, apesar de seu 1,70m de altura, e um passado esportivo, pois
ela foi uma atleta atuante dos 15 até os 20 anos de idade.
Cresceu sob os cuidados da avó materna, indo morar por três anos no
Exterior com uns tios, embora tenha pensado em ficar definitivamente.
Mas retornou dando continuidade à vida de atleta, até pouco antes de
graduar-se na mesma profissão dos pais. Neste período, um noivado
é rompido, levando-a a uma ‘dep ess o’ e a um pe íodo de total e
completo descontrole alimentar.
204
subjetiva de uma analisanda obesa mórbida e seus impasses com a
dietética na contemporaneidade.(Vasconcelos, 2003).
Sara consegue perder peso, mas não consegue manter este peso,
pois logo se entrega ao excesso alimentar, readquirindo até um
pouco mais do peso anterior, conforme podemos observar em sua
ala: “Foi muito legal poder usar um biquíni na praia pois eu me senti
muito, muito bem, como se eu fosse dona de mim, poderosa sabe .”
205
As indagações de Sara após ressignificar as queixas sintomáticas em
sintomas analisáveis:
Por que ou para quem, preciso ser gorda, ter um corpo obeso ? Ou
na verdade o que significa ser magra?
206
perpetuação dessa obesidade. Além disso, podemos verificar a
dimensão e expressão da realidade psíquica da analisante,
relacionando o feminino com as significações de falta e excesso à luz
de fragmentos do discurso avaliado.
207
Essa idéia nos leva de volta ao movimento “ O ul o o do” em que
apa ecem cate o ias estéticas de modelos “ lus size”, ou seja
taman o ande. As modelos “ lus Size” est o an ando cada vez
mais espaço no mercado da moda, que antes não dava muitas
opções para esse público. Um exemplo muito bem sucedido é a Miss
Brasil Plus Size, Cléo Fernandes, 25 anos e 98 quilos muito bem
distribuídos em seus 1,75 de altura. Sobre o concurso que venceu,
Cléo afirma: "Participar significava me mostrar como Cléo, e ainda é
difícil acreditar que justo eu, que passei a adolescência inteira
pensando que só seria feliz magra, estou me dando tão bem com o
corpo que tenho hoje".( Obiniski, 2012).
Uma das modelos mais requisitadas do País, Cleo revelou que, para
conquistar seu lugar precisou vencer obstáculos que vão desde
distúrbios alimentares e padrões do mercado, até a ideia de que para
ser feliz é preciso ser magra: Em entrevista, a moça afirma que agora
consegue se descolar de toda essa pressão social. Ser saudável, para
ela, não é questão de peso, mas também não incentiva, só porque
t abal a com moda “ lus Size”, que as pessoas n o devam li a pa a
o sobrepeso. "Só não acredito que quem está fora do peso tem que
ser excluído da sociedade. Isso gera ainda mais ansiedade no obeso,
que muitas vezes já tem um problema de compulsão", desabafa.
(Obniski, 2012)
209
com exceção da bulimia que é mais fácil de esconder, até conseguir
falar do sintoma em si, muitas outras redes de significantes são
redimensionadas.
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212
213
OS EFEITOS DA LINGUAGEM NO CORPO NA NEUROSE E NA
PSICOSE
213
Um caminho para adentrar nesta questão seria partir da própria
definição de libido. Freud (1917/1974, p.483) definiu libido como
sendo “as catexias de energia que o eu dirige aos objetos de seus
desejos sexuais”. Ainda nessa conferência, Freud vai dizer que a
trajetória das catexias, dos investimentos nas palavras e suas
transformações e vicissitudes finais, podem esclarecer “os
mecanismos das forças mentais”. Os mecanismos, em jogo, podem
ser tomados, com Lacan, como sendo o recalque, a foraclusão e o
desmentido. Assim, é respaldado nos mecanismos de defesa,
sobretudo da neurose e da psicose, que Freud afirma que poderia ser
útil o estudo da trajetória da libido nas neuroses de transferência –
neurose histérica e neurose obsessiva, assim como nas parafrenias
também denominadas neuroses narcísicas, incluindo aí a demência
precoce e a paranóia.
214
de algum modo a relação do paciente com a realidade, servindo-lhe
de meio de se afastar da realidade”.
215
No que diz respeito ao corpo no humano, diferentemente dos animais,
o corpo é sempre hetero, outro. Portanto, para apropriar-se de seu
corpo, o sujeito é pendente do Outro. Outro que Freud denominou
como a coisa, das Ding, no qual uma parte fica fora de representação,
coesa como uma coisa, e outra parte guarda os traços mnêmicos da
primeira experiência de satisfação, portadora de uma inscrição
significante, que orienta o deslizamento metonímico do desejo
humano. Em Lacan, fica evidente que o Outro é tanto corpo como
fala, apontando para o fato de que o corpo de que se trata na
psicanálise é o corpo do ser falante.
216
humano é um ser falante no qual sua cadeia associativa revela que o
significante é gozo.
O gozo prévio ao Outro pode ser tomado como um real do ser vivente.
Na psicose, ele retorna no real e, na neurose, ele retorna no
simbólico. A incorporação significante do Outro simbólico é decisiva
sobre os efeitos da linguagem no corpo na neurose e na psicose. A
incorporação significante mortifica a carne e faz surgir o incorpóreo;
tanto a libido como órgão do incorpóreo como o objeto a.
217
Logo, um corpo para existir no simbólico supõe uma a produção de
um vazio, pela operação significante, que é a própria extração do
objeto a. A definição de representação de coisa, tal qual é descrita por
Freud, mostra que ela pode funcionar como significante. Veja-se a
definição de que ela “consiste na catexia, se não das imagens diretas
da memória da coisa, pelo menos de traços de memórias mais
remotos derivados da coisa” (FREUD, 1917/1974, p. 229). Essa
definição de representação de coisa, inclusive, exemplifica o Outro
que está em jogo na intrusão significante – o S(Ⱥ), na corpsificação.
218
Na fala do órgão, o significante é a coisa, retorna no real do corpo.
Era o que acontecia com um sujeito que, tendo por sobrenome o
nome de uma ave, sofria a ação deste significante no real do seu
corpo, pois sentia sua mão transformar-se na mão de uma águia.
219
O significante “cutilada” foi tomado, no seu sentido dicionarizado,
como um golpe desferido por um instrumento. A expressão verbal
cutilada serviu de base para a construção delirante de que seu
cérebro seria submetido a uma autópsia para ser exposto a público.
Houve aí uma hipercatexia da palavra, que fez com que seu amigo,
que se tinha tornado anatomopatologista, fosse tomado como
personagem central do delírio persecutório construído pelo paciente.
Para ele, o amigo anatomopatologista teria enviado a mulher para
estar com ele com o intuito de submetê-lo a uma autópsia e fazer com
que seu cérebro fosse exposto a público. É importante destacar que a
sensação de cutilada no cérebro é a representação verbal que enlaça
o anatomopatologista como sendo o perseguidor.
220
do significante. O texto escrito no seu corpo irá orientar a vida sexual
da jovem, orientar suas escolhas na vida, no sexo e no amor.
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