ECOPSICOLOGIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

REGIONAL CATALÃO
INSTITUTO DE BIOTECNOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA

RENATA FIORESE

ECOPSICOLOGIA: UMA COMPREENSÃO ECOLÓGICA DA PSIQUE HUMANA

Catalão, março de 2017


RENATA FIORESE

ECOPSICOLOGIA: UMA COMPREENSÃO ECOLÓGICA DA PSIQUE


HUMANA

Trabalho Final da disciplina


Investigações e Métodos em Psicologia:
Processos Psicossociais ministrado pela
Professora Ms. Lady Daiane.

Catalão, Março de 2017

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I- INTRODUÇÃO

Neste trabalho pretendo abordar sobre os princípios e filosofia que regem


a compreensão de homem que trata a Ecopsicologia. O desejo pelo tema
surge a partir de uma frustração quanto à formação em psicologia onde é
possível perceber que a grande maioria das vertentes teóricas de certa forma
negligenciam o fator ecológico, se esquecendo ou não dando importância à
influência do contato com a natureza na constituição da psique humana e
quais as consequências em nível psicopatológico desta desconexão com o ser
natural.
Difundida e consolidada como nova prática de Psicologia em muitos
países (Austrália, Alemanha, Espanha, Itália, Índia, USA, Canadá, Uruguai,
França, Argentina e muitos outros) há mais de 30 anos, possui Programas de
Pós- Graduação em grandes Universidades ao redor do mundo. A
Ecopsicologia é também conhecida como a ciência dos relacionamentos e a
arte do encontro.
Porém, em sua criação a Ecopsicologia não surge como uma corrente
dentro da área psicológica, mas como uma perspectiva transdisciplinar que
se propõe a utilizar conhecimentos de outras áreas como a biologia,
antropologia, filosofia, entre outras, para a construção de uma perspectiva
holística e sustentável, onde o homem é considerado como uma linha que
compõe a “Teia da Vida”, compreendido como intrinsecamente ligado ao
estado do planeta e dependente dos princípios reguladores dos sistemas
vivos.
O teor da relação do homem com seu meio natural é entendido então
como um reflexo da natureza subjetiva, sendo que as necessidades e direitos
do homem são reconhecidos como as mesmas necessidades e direitos do
meio ambiente, este considerado como parte do meio social que constitui a
identidade desse sujeito.
Diante disso, compreendemos como essencial inserirmos esse tipo de
discussão dentro da Academia e do curso de Psicologia, ainda mais por se
tratar de uma área relativamente nova que a maioria dos discentes

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desconhece dentro da área. Além de percebermos o quão pertinente é a
compreensão ecológica para uma análise mais profunda acerca do
crescimento exponencial do adoecimento de nível psíquico na pós-
modernidade, onde os problemas sociais são considerados um indício, cada
vez maior, da desconexão da verdadeira essência do que é ser humano, essa
acessada apenas através da profunda sensação de pertencimento à mãe Gaia,
reconhecida como um grande organismo de sistemas vivos interconectados
do qual somos apenas uma célula.

II- O QUE É ECOPSICOLOGIA

A Ecopsicologia surge, como perspectiva ou intervenção acadêmica e


terapêutica, a partir de 1960 com a desconstrução das ciências sociais que já
havia iniciado discussões correlatas com a “sociologia verde” e “economia
verde”. De forma consistente, ela se apresenta como movimento a partir do
lançamento de uma obra com nome: The Voice of the Earth: an exploration
of Ecopsychology, do historiador e crítico social Theodore Roszak, que traz
uma leitura psicológica da crise ambiental.
Roszak (1992) na obra citada, aborda alguns princípios que regem a
Ecopsicologia sendo um deles um conceito que chamado de “Inconsciente
Ecológico”, que segundo ele é o centro da mente humana e que sua intensa
repressão condicionada pela rotina capitalista, “é a mais profunda raiz da
loucura-dita-normal da sociedade industrial” e que a abertura do acesso a
este Inconsciente Ecológico seria o caminho para a produção de uma
sanidade coletiva e bem- estar social.
A necessidade do aprofundamento sobre estas questões é identificada a
partir da análise de índices crescentes de descontentamento e perturbação
social e psicológica nas últimas três ou quatro gerações, desde a virada do
século 20.
O adoecimento psíquico é entendido então como uma crise de percepção,
onde o individualismo imposto pelo sistema social hierárquico composto por
relações de poder, se acentua até um ponto em que esse sentimento de
separação com o meio natural desenvolve um Ego que pensa ser superior e

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detentor da natureza, vista como objeto. Relação esta que influencia e reflete
também na relação com outros homens, pois há uma desconexão do senso
enquanto espécie, onde o outro não é reconhecido como semelhante, mas
sim como competição.
A dicotomia disseminada por uma ciência fortemente positivista e
cartesiana, com uma lógica de produção capitalista desenfreada que prega a
separação do homem e da natureza, vistos como dois contrastes e total
estranhos, produz um nível de alienação onde a natureza é considerada
como matéria- prima passiva, existente apenas como meio de satisfação dos
desejos de consumo, desconsiderando-se o impacto que o capitalismo
selvagem e seu desenvolvimento destrutivista causam sobre o ambiente
natural e no equilíbrio do planeta como um todo.
O objetivo terapêutico da Ecopsicologia, de acordo com o Roszak
(1992), é o de recuperar os conteúdos reprimidos deste inconsciente,
despertando um senso inerente de reciprocidade ambiental, buscando curar a
alienação mais fundamental, que seria essa desconectividade entre homem e
natureza, recuperando assim, “a qualidade animística inata da experiência
infantil em adultos funcionalmente saudáveis”.
Quando regenerado, o ego ecológico se desenvolve na direção de um
senso de responsabilidade ética para com o planeta, que é tão vividamente
experienciado como o é nosso senso de responsabilidade para com as outras
pessoas. Ele busca tecer essa responsabilidade na teia das relações dentro da
sociedade e no âmbito das decisões políticas.
“O foco central da Ecopsicologia são as relações do ser
humano com a teia da vida. Essas relações são mediadas
pela cultura e se dão para além do nível dos
comportamentos observáveis, apesar destes serem parte
fundamental. Incluem a subjetividade, na qual crenças,
autopercepções, emoções, motivações, gratificações e
conflitos cumprem parte fundamental do que se expressa
em comportamentos ambientalmente funcionais ou
disfuncionais.” (CARVALHO, M.A.B., p. 17)

De acordo com Danon (2013), em um artigo publicado na revista Eco

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Brasília, a primeira produzida no Brasil sobre sustentabilidade e saúde
mental, “existe uma estreita conexão entre o mundo exterior e o mundo
interior, entre a forma como moldamos a paisagem e a visão que temos de
nós mesmos e do mundo”. A partir disso, a Ecopsicologia entende que os
principais problemas de nossa época não podem ser entendidos
isoladamente, pois são problemas sistêmicos, ou seja, estão interligados e
são interdependentes.
Neste sentido, a Ecopsicologia busca relacionar o debate da psicologia
com o da sustentabilidade, estendendo a área de investigação para além das
relações inter e intrapessoais, abrangendo nossas conexões psíquicas com o
mundo natural alegando uma interação sinérgica entre o bem-estar planetário
e o bem-estar pessoal, onde a salvação de um está interligada a conservação
do outro.

III-BASES TEÓRICAS-CIENTÍFICAS QUE SUSTENTAM


ESTA ABORDAGEM

Discutida já há algum tempo em países da Europa, América- Latina e


Oriente, a Ecopsicologia é a ponte entre as ciências da Ecologia e da
Psicologia e a interseção de vários campos de investigação, que incluem a
Filosofia, a Biologia, Agroecologia, a Ecologia Profunda, o Eco Feminismo,
a Eco Ética, a Ecologia Social, a Ecologia Transpessoal e outros e, não está
limitada por nenhuma fronteira disciplinar.
Acompanhando um novo contexto que surge na transição da década de
60/ 70, onde o espírito de contestações e novas ideias alavancadas pelo
movimento de denúncia da juventude da compreensão cartesiana limitante
da realidade, abrem-se espaços de implicações sociais do conceito de

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Ecologia.
A partir disso, Arne Naess, um filósofo norueguês, funda no início da
década de 70 uma escola filosófica específica com um movimento popular
global conhecido como “ecologia profunda”. Naess faz inicialmente uma
distinção entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. A ecologia rasa seria
uma visão antropocêntrica que vê os seres humanos como situados acima ou
fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui um valor
instrumental, ou de “uso”, à natureza, compreensão essa apropriada até então
pela abordagem cartesiana, produzindo desconexão e consequente alienação
do meio natural.
Já a ecologia profunda não separa seres humanos, ou qualquer outra
coisa, do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de
objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão
fundamentalmente interconectados e interdependentes. A concepção de
espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o
indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos
como um todo, o que torna a percepção ecológica também uma percepção
espiritual na sua essência mais profunda.
A partir dessa corrente são desenvolvidas então importantes escolas como
a ecologia social e a ecologia feminista, ou “ecofeminismo”. A primeira se
concentra em descrever as características dos padrões culturais de
organização social que produziram a atual crise ecológica, podemos citar o
patriarcado, o imperalismo, o capitalismo e o racismo como exemplos dessa
dominação exploradora e “antiecológica” do sistema dominante. E a
segunda adentra mais a respeito da dinâmica básica de dominação social
dentro do contexto do patriarcado entendida como reflexo de todas as formas
de dominação e exploração, traçando uma associação entre a história das
mulheres e do meio ambiente.
Com a evolução das discussões, se torna cada vez mais perceptível a
limitação do conhecimento psicológico que até então considerava como
irrelevante a relação do homem- natureza para a compreensão do ser
humano. Até meados dos anos 90 pouco havia sido articulado no âmbito da
Psicologia Clínica a respeito do tema, a não ser o que é introduzido por
Cesarman (1976) com o termo “ecocídio” que ele usa para abordar a forma

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agressiva que a espécie humana se relaciona com o planeta, observando
traços autodestrutivos inconscientes associados à forma corrente de consumo
e descarte de nossas sociedades ( CERSAMAN apud CARVALHO, 2013).
Seguindo esta perspectiva, Roszak (1992) em The Voice of the Earth, diz
que entre os projetos terapêuticos mais importantes para a Ecopsicologia está
a reavaliação de certos traços de caráter compulsivamente masculinos que
permeiam as estruturas do poder político e nos impulsionam a dominar a
natureza, como se ela fosse algo estranho a nós e sem direitos, produzindo
uma relação agressiva com o meio natural, de exploração. O que reflete
também a relação entre os homens e a natureza da subjetividade, já que
destruindo o planeta, em algum ponto a longo prazo, está sendo colocado em
risco também a sobrevivência da humanidade, demonstrando um desejo de
morte desse Ego desarmônico que causa sofrimento.
Baseando-se também em conceitos da Psicanálise e da Psicologia
Analítica, este mesmo autor traz um conceito que ele denomina como
“Inconsciente Ecológico” que representam em algum grau, e em algum nível
de nossa consciência, o registro vivo da evolução cósmica, remontando às
difíceis condições iniciais da história do tempo.
Assim como para outras terapias, o estágio crucial do desenvolvimento
da vida para a Ecopsicologia é a infância. O Inconsciente Ecológico é
regenerado, como um dom, no senso de encantamento com o mundo
presente em cada criança que nasce, tendo como objetivo o resgate na idade
adulta desse sentimento de pertencimento perdido.
Para isso, a Ecopsicologia volta-se para muitas fontes, entre elas as
técnicas tradicionais de cura dos povos centrados na terra, o misticismo da
natureza como expresso na religião e na arte, a experiência da imersão nos
ambientes selvagens e os insights da Ecologia Profunda, adaptando essas
fontes ao objetivo de criar o ego ecológico.
Sendo assim,
“O que quer que contribua para formas sociais de
pequena escala e de empoderamento pessoal nutre
o ego ecológico. O que quer que lute por
dominação de larga escala e supressão do valor da
pessoa humana enfraquece e debilita

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insidiosamente o ego ecológico. A Ecopsicologia,
por conseqüência, questiona a sanidade essencial
de nossa cultura urbano-industrial centrada na
valorização do gigantismo e no crescimento sem
fim, seja ela de orientação capitalista ou coletivista
em sua organização.” (ROSZAK apud
CARVALHO, 2010)

A Ecopsicologia é então interdisciplinar na medida em se apoia em


conceitos de ambas as ciências, e de outras relativas à Ciência da
Sustentabilidade, mas reconhece a insuficiência delas para a construção de
um quadro amplo de compreensão da crise ambiental e suas correlações com
a Psique. É transdisciplinar na medida em que vai além de qualquer
disciplinaridade, na busca de um pensamento crítico e ao mesmo tempo
integrador entre a consciência humana, seus modos de expressão e as
realidades culturais, sociais e econômicas que cria e recria, no contexto
natural de que elas proveem.

IV-ECOPSICOLOGIA NO BRASIL: SEU


DESENVOLVIMENTO E PRESENÇA NO CENÁRIO
NACIONAL

V- ECOPSICOLOGIA QUANTO PROFISSÃO: ATUAÇÃO DO


ECOPSICÓLOGO

VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS

VII- REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

CARVALHO, M.A.B. De frente para o espelho: Ecopsicologia e Sustentabilidade.

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Tese de Doutorado. Bras 匀 ia-DF, setembro de 2013.
Eco Bras 匀 ia. A revista de sustentabilidade da capital federal. Julho/ Agosto, 2013.
http://ecoblogconsciencia.blogspot.com.br/2010/02/8-principios-da-ecopsicologia.html
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/166/frames/fr_conversando_psi
cologo.aspx

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