Cristologia 05
Cristologia 05
Cristologia 05
1
Cf. KESSLER, Hans. Redenção/Soteriologia. In: EICHER, Peter (dir.). Dicionário de Conceitos
Fundamentais de Teologia. São Paulo: Paulus, 1993, p. 745.
2
Cf. BOUWMAN. Servo de Javé. In: BORN, A. Van Den (org.). Dicionário enciclopédico da Bíblia.
6. ed. Tradução de Frederico Stein. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 1425.
3
DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo:
Paulinas, Loyola, 2007, p. 66, n. 150.
4
Cf. LOEWE, W. P. Introdução, op. cit., p. 116.
Em síntese, este é o chamado mistério pascal: o mistério da Cruz e da
Ressurreição de Cristo que ocupa o “centro da Boa Nova que os apóstolos e a Igreja, na
esteira deles, deve anunciar ao mundo”.5
5
Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 161, n. 571.
6
Cf. DUPUIS, J. Introdução, op. cit., p. 72.
7
Cf. PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 400-405.
As autoridades religiosas, que também fizeram oposição a Jesus,
constituíam uma aristocracia formada por uma minoria de cidadãos ricos e importantes,
muitos deles sacerdotes e alguns membros do grupo saduceu. Consta que, naquele
tempo, o sumo sacerdote tinha poder de governo tanto nem Jerusalém como na Judeia.
Talvez não vissem com bons olhos as curas e os exorcismos que davam popularidade a
Jesus e ameaçavam o seu poder de intermediários exclusivos do perdão e da salvação de
Deus em Israel.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a atividade de Jesus questionava o
templo como fonte exclusiva de salvação para o povo. Além disso, a tradição cristã
conservou uma parábola que parecia dirigida às autoridades religiosas do Templo: a
“parábola dos vinhateiros homicidas” (Mc 12,1-8; Lc 20,9-15 e Mt 12,33-39 e ainda no
apócrifo de Tomé 65) que, provavelmente, afirmava que não sabiam cuidar do povo que
lhes fora confiado, mas somente pensavam em seus próprios interesses. Além disso, a
parábola deixa entender que eles se sentiam proprietários de Israel, quando eram apenas
administradores e que não foram capazes de acolher os enviados de Deus.
Em outras passagens, ainda há outros ecos da critica que Jesus fez aos
dirigentes religiosos do Templo, como por exemplo, o lamento profético que feito por
ele sobre Jerusalém no estilo dos profetas como Amós ou outros (Lc 13,34-35; Mt
23,37-39). No caso, parece evidente que se referia não a toda Jerusalém, mas aos lideres
religiosos que a governavam. Por tudo isso, a sua vida corria perigo, pois, os sumos
sacerdotes não poderiam aceitar tamanha agressão.8
Aos conflitos com as autoridades religiosas, inclua-se a sua comunhão com
pessoas que, naquela sociedade, eram consideradas “dignas de desprezo”. Essa atitude
era também considerada uma verdadeira afronta aos líderes religiosos.
8
Cf. IDEM. Ibidem, p. 405-409.
9
KESSLER, Hans. Cristologia. In: SCHNEIDER, Theodor (org.). Manual de Dogmática. V. I. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 2008, p. 253.
subversão. O seu anúncio da implantação do Reino de Deus era fonte de preocupação
para as autoridades e, por isso, poderia ser executado em qualquer território controlado
por Roma. Deve tê-los inquietado muito a postura de Jesus sobre o imposto (Mc 12,13-
17).
Quando lhe perguntaram se era lícito ou não pagar imposto a César, a
formulação não poderia ser mais delicada para Jesus. Se respondesse negativamente,
poderia ser acusado de rebelião contra Roma. Se aceitasse a tributação dos impostos,
ficaria desacreditado diante das pessoas exploradas pelo Império Romano. Diante da
cilada, com uma imensa liberdade proclamou: “Dai a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus” (Mc 12,17). Nesse caso, a hábil postura de Jesus driblou seus
adversários. Porém, mais tarde, conforme diz São Lucas, foi acusado diante de Pilatos
de alvoraçar o povo a não pagar impostos a César (Lc 23,2).10 De qualquer forma,
10
Cf. IDEM. Ibidem, p. 410-416.
11
IDEM. Ibidem, p. 416-417.
12
Cf. CASCIARO, J. M. Jesus, op. cit., p. 518.
1.5.2 O sentido redentor dado por Jesus a sua morte
Se Jesus pode prever a sua morte como um “destino inevitável”, é certo que
Jesus lhe conferira um sentido preciso. A tradição dos Evangelhos guardou diversas
alusões com referência ao sentido redentor dado por ele à própria morte. Por exemplo,
no Evangelho de São Marcos, depois do terceiro anúncio de sua paixão, ao exortar os
apóstolos do perigo da ambição, afirmou claramente que “o Filho do homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mc 10,45).13
Contudo, somente na última ceia Jesus expressou “explicitamente” o sentido
redentor de sua morte: “Tomai, comei, isto é o meu corpo… Este é meu sangue da
aliança que vai ser derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,26-28).
Jesus se serviu aqui da profecia do servo do SENHOR (cf. Is 53,11-12) para dar a
entender que sua vida se entrega em expiação dos pecados da humanidade. Assim, Jesus
entendia que, como outrora no Sinai o sangue das vítimas selou a aliançado SENHOR
com o seu povo (Ex 24,4-8; Gn 15,1), sob a cruz, o seu sangue iria selar a “nova
aliança” entre Deus e os homens (Cf. Lc 22,20). Trata-se da mesma aliança que os
profetas tinham anunciado (Jr, 31,31).14 Desse modo, ao cear com seus discípulos, às
vésperas de sua paixão, Jesus sabia que sua morte iminente seria para a remissão dos
pecados.15
13
Cf. DUPUIS, J. Introdução, op. cit., p. 72.
14
Cf. A Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995, nota c, p. 1889.
15
Cf. IDEM. Ibidem, p. 73-74.
ainda podemos dar um outro passo adiante, uma vez que contamos
com a interpretação salvífica da morte de Jesus.16
Note-se que esse sentido redentor dado por Jesus à sua morte também
aparece após sua ressurreição. Quando Jesus Ressuscitado aparece em Jerusalém aos
onze apóstolos, retoma os diálogos acontecidos antes da Paixão:
44
Depois disse-lhes: “São estas as coisas que eu vos falei quando ainda
estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que está
escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.
45
Então ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as
Escrituras, 46e disse-lhes: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e
ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, 47e no seu nome será
anunciada a conversão para o perdão dos pecados, a todas as nações
começando por Jerusalém. 48Vós sois as testemunhas destas coisas”
(Lc 24,44-45).
16
GNILKA, Joaquim. Jesus de Nazaré: mensagem e história. Petrópolis: Vozes, 2000 , p. 263-264.
17
Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 171, n. 601.
18
Cf. CASCIARO, J. M. Jesus, op. cit., p. 517.
19
Cf. IDEM. Ibidem, p. 519-521.
20
Cf. LOEWE, W. P. Introdução, op. cit., p. 113.
Depois do beijo da traição, Jesus foi preso e os discípulos fugiram. Segundo o
Evangelho de São Marcos (15,1), “logo de manhã, os sumos sacerdotes, com os
anciãos, os escritas e o sinédrio inteiro, reuniram-se para deliberar. Depois, amarraram
Jesus, levaram-no e o entregaram à Pilatos”. Perante o tribunal romano, ele fora julgado.
Quanto ao processo do julgamento de Jesus, não consta a presença de
jurados nem de assistentes judiciais. Tribunais de jurados não eram usuais na Judeia.
Não se sabe se Pilatos que o julgou recorreu a um conselho e, certamente, isso não
poderá ser esclarecido. Seu processo consistiu basicamente em uma acusação
apresentada pelos sumos sacerdotes (ou por seus representantes) e de uma audiência
realizada por Pilatos. Enquanto o governador da Judeia o interrogava, Jesus respondia
ou silenciava (Mc 15,2-5). Sem entrar em outros detalhes21, pode-se dizer que esse
processo terminara com uma sentença de morte formal: a crucifixão.22 Como forma de
execução romana, nunca poderia ser aplicada aos cidadãos romanos, exceto em casos
excepcionais e para manter a disciplina entre os militares.23
21
Por exemplo, poderia se falar da cena de Barrabás (Mc 15,6; Mt 27,15; Lc 23,18 e Jo 18,39).
22
Cf. GNILKA, Joaquim. Jesus de Nazaré, op. cit., p. 273-278.
23
Cf. PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 465.
24
IDEM. Ibidem, p. 465-466.
Condenado à morte, Jesus foi flagelado pelos soldados encarregados de sua
execução. Na verdade, a flagelação era o começo da execução. Só poderia ser feita em
peregrinos, pois, naquela época, era proibido flagelar cidadãos romanos. Além disso,
César punia a flagelação de cidadãos romanos com violência grave. Para essa, os
soldados usavam uma correia de couro que muitas vezes continham fragmentos de
ossos ou grumos de chumbo. O flagelado era despido, atirado ao chão ou amarrado em
uma coluna. O número dos golpes ficava a critério dos carrascos.25
Depois de ser torturado, Jesus foi levado ao Gólgota para ser crucificado.
Era a forma de morte mais dolorosa e horrenda que se podia dar a um delinquente.
Como castigo público, era colocado como exemplo para sociedade e, por isso, acontecia
num lugar bem visível, onde o corpo do justiçado ficava exposto durante alguns dias. 26
A morte para um crucificado sobrevinha após uma dolorosíssima agonia, para a que
contribuíam conjuntamente a perda de sangue, a febre produzida pelas feridas, a sede, a
asfixia...27 Assim morre Jesus. Segundo os evangelistas, morreu, rezando, à hora nona,
ou seja, às três horas da tarde. A sua última oração fora tirada do Salmo 31: “Pai, em
tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46; cf. Sl 31,6).28
Segundo Mateus (27,55-56) e Marcos (15,40-41), ao pé da Cruz se
encontram quatro mulheres: Maria Madalena, Maria a mãe de Tiago, a mãe de José e
uma quarta, a mãe dos filhos de Zebedeu (Mateus) ou Salomé (Marcos). São João
(19,25-27) é o único a registrar o episódio de forma completa: diz que no Calvário
também estavam a “Mãe de Jesus” e o “discípulo amado”.29
Na parte superior de sua cruz, colocada pelos soldados, estava certamente
uma pequena placa de cor branca na qual, com letras negras ou vermelhas bem visíveis,
indicava-se a causa pela qual fora crucificado. O hebraico (língua sagrada mais utilizada
no templo), o latim (a língua oficial do Império Romano) e o grego (a língua comum
dos povos do Oriente e mais falada pelos judeus da diáspora) indicavam o delito de
Jesus: “rei dos judeus” (Mt 15,27). Fora executado com outros condenados, como um
delinquente qualquer.30
25
Cf. GNILKA, Joaquim. Jesus de Nazaré, op. cit., p. 282-283.
26
PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 465-466.
27
Cf. CASCIARO, J. M. Jesus, op. cit., p. 520.
28
Cf. RATZINGER, J. (Bento XVI). Jesus de Nazaré, op. cit., p. 202.
29
Cf. CASCIARO, J. M. Jesus, op. cit., p. 528.
30
Cf. PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 472-473.
Enquanto os romanos, como intimidação, deixavam propositadamente
pender do instrumento de tortura depois da morte os crucificados,
estes, segundo o direito judaico, deviam ser tirados no mesmo dia (Dt
21,22-23)”. Por isso, era tarefa do pelotão de execução acelerar a
morte quebrando-lhes as pernas. Aconteceu assim também no caso
dos crucificados no Gólgota. Aos dois “bandidos” foram quebradas as
pernas. Chegados a Jesus, porém, veem que ele já está morto; então
renunciaram a quebrar-Lhe as pernas; em vez disso, um deles
trespassa o lado direito – o coração – de Jesus e “logo saiu sangue e
água” (Jo 19,34). [...] Saíram sangue e água do coração traspassado de
Jesus. Em todos os séculos, a Igreja segundo a palavra de Zacarias,
olhou para esse coração traspassado e nele reconheceu a fonte de
bênção indicada antecipadamente no sangue e na água.31
Com o passar do tempo, a Igreja nascente, sob a guia do Espírito Santo, foi
lentamente penetrando no sentido mais profundo da cruz. Em primeiro lugar, os cristãos
entenderam que os antigos sacrifícios do templo estavam completamente superados. A
crítica dos profetas, que também ganhara expressão nos salmos, dizia que Deus não
queria ser glorificado por meio de sacrifícios de touros e de cabritos, cujo sangue não
pode purificar o homem nem fazer expiação por ele. Jesus é o “Cordeiro de Deus” que
carregara sobre si o pecado da humanidade. Parece estranho que um Deus, anunciado
como amor e misericórdia, exija uma expiação infinita? Não se trata de uma ideia
indigna de Deus?32 Bento XVI observa que acontece exatamente o contrário:
Ora, acontece não que um Deus cruel venha pedir algo de infinito,
mas precisamente o contrário: o próprio Deus coloca-Se como lugar
de reconciliação e, no seu Filho, carrega o sofrimento sobre Si. O
próprio Deus introduz no mundo, sob a forma de dom, a sua pureza
infinita. O próprio Deus “bebe o cálice” de tudo aquilo que é terrível
e, assim, restabelece o direito por meio da grandeza do seu amor, o
qual, através do sofrimento, transforma a escuridão.33
31
RATZINGER, J. (Bento XVI). Jesus de Nazaré, op. cit., p. 203-204.
32
Cf. IDEM. Ibidem, p. 208-209.
33
IDEM. Ibidem, p. 211.
realmente absorvida, anulada transformada por meio do sofrimento do
amor infinito.34
1.5.4 A ressurreição
34
IDEM. Ibidem, p. 210.
35
Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 176, n. 616.
36
PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 520.
Nesse caso, embora seja um dos grandes gênios religiosos da
humanidade, Jesus não teria sido o “Senhor” e o cristianismo não
constituiria uma Boa Notícia para a humanidade de hoje, mas
simplesmente uma moral elevada.37
37
DUPUIS, J. Introdução, op. cit., p. 76.
38
São Mateus (28,2) diz que no sepulcro do Senhor estava um anjo. São Lucas (24,4) fala de dois
homens com vestes resplandecentes. São João (20,12), por sua vez, fala que Maria Madalena
enxergou dois anjos vestidos de branco. Ainda que haja algumas diferenças nesses relatos, a
historicidade desse relato pode ser comprovada pelo fato de que seria difícil imaginar que os
evangelistas criassem essa história para reforçar com realismo a narrativa da ressurreição. Não seria
oportuno escolher mulheres como protagonistas de um testemunho que seria pouco valorizado na
sociedade judaica [Cf. PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 511-512].
39
IDEM. Ibidem, p. 513-514.
Sendo assim, só o encontro pessoal com Cristo foi capaz de dissipar as
dúvidas e enchê-las de alegria. Mesmo os discípulos não acreditaram logo. Num
primeiro momento, espantaram-se com o anúncio das mulheres. Também para eles, só o
encontro com Cristo dissiparia as dúvidas e incertezas. As aparições do Senhor redivivo
são sinais dados aos discípulos para suscitar a fé. Mas, na verdade, eles creram porque
viram Jesus vivo.40
Por isso, o Ressuscitado apareceu a Pedro, aos dois discípulos que iam a
caminho de Emaús e aos outros apóstolos. Assim, ao lado do sepulcro vazio, que por si
só não podia dar garantias de que Cristo ressuscitara, apresentam-se as aparições do
Jesus Ressuscitado. Um estudo dessas aparições mostra que ele se fez reconhecer como
pessoa viva e presente. As narrativas das aparições sempre se desdobram em três
momentos: (1) Jesus se manifesta vivo, (2) os discípulos o reconhecem e (3) dele
recebem a missão de anunciá-lo.41
Porém, não seriam essas aparições visões ou imaginações interiores dos
discípulos?
Primeiramente, ao analisar os relatos na língua original, em grego, nota-se
imediatamente que o verbo empregado para falar das aparições é opthé. Em 1Cor 15,5-
8, o referido verbo costuma ser traduzido por “apareceu”. Porém, segundo os peritos, é
mais adequado traduzir por “fez-se ver” ou “deixou-se ver”. Trata-se do mesmo verbo
empregado na Bíblia grega (LXX) para falar das aparições de Deus a Abraão ou Jacó.42
Isso quer dizer que não se trata de uma visão como experiência subjetiva, mas de uma
iniciativa de Deus que vem aos seus: o Ressuscitado é visto porque aparece, não aparece
porque é visto. William P. Loewe, explica muito bem a questão em duas afirmações. A
primeira diz respeito à concepção judaica de ressurreição:
40
Cf. DUPUIS, J. Introdução, op. cit., p. 77.
41
Cf. DUPUIS, J. Introdução, op. cit., p. 77.
42
Cf. PAGOLA, J. A. Jesus, op. cit., p. 502.
43
LOEWE, W. P. Introdução, op. cit., p. 172.
A segunda traz a distinção entre as aparições do Ressuscitado e de visões
subsequentes:
Esse encontro não poderia ter sido uma espécie de visão induzida pelo
estado psicológico dos discípulos? A esta ideia opõe-se o último ponto
que mencionamos, a novidade da ideia da ressurreição de uma pessoa
individual. Tampouco os dados dos evangelhos acerca da condição
dos discípulos indicam qualquer outra coisa que não a sóbria aceitação
da sorte de Jesus. Nada indica as condições nas quais algo como um
desejo de realização, por exemplo, pudesse produzir uma visão. Além
disso, o próprio Novo Testamento distingue as aparições do Senhor
ressuscitado de visões subsequentes. Isso pode ser verificado, por
exemplo, em Paulo. Ele conta a experiência mística de arrebatamento
(2Cor 12,1-2), mas ela é diferente da experiência que o qualificou
como o último elo na lista das testemunhas de aparições de Jesus
ressuscitado. Finalmente, é improvável que a mesma experiência
visionária psicologicamente induzida tivesse ocorrido a tantas pessoas.
Paulo lista Pedro, os Doze, mais de quinhentos, Tiago, os apóstolos, e
ele mesmo. Duplamente improvável é uma reação psicológica em ca-
deia que se teria estendido por vários anos.
44
MIEN, Aleksandr. Jesus, mestre de Nazaré: a história que desafiou 2.000 anos. Vargem Grande
Paulista: Cidade Nova, 1998, p. 290.
45
Cf. CASCIARO, J. M. Jesus, op. cit., p. 556.
24,40; Jo 20,20.27). Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao
mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso: não está
mais situado no espaço e no tempos, mas pode tornar-se presente a seu
modo, onde quando quiser (Mt 28,916-17), pois sua humanidade não
pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao
domínio divino do Pai (Jo 20,17). Por esta razão também Jesus pé
soberanamente livre de aparecer como quiser: sob a aparência de um
jardineiro (Jo 20,14-15) ou de “outra forma” (Mc 16,12), diferente das
que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para suscitar-
lhe a fé (Jo 20,14.16; 21,4-7).46
46
Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 185-186, n. 645.
47
RATZINGER, J. (Bento XVI). Jesus de Nazaré, op. cit., p. 243-244.
seu início na própria história e até certo ponto pertence a ela. Talvez
se pudesse exprimir tudo isso assim: a ressurreição de Jesus ultrapassa
a história, mas deixou o seu rastro na história. Por isso pode ser
atestada por testemunhas como um acontecimento de qualidade
completamente nova.48
À guisa de conclusão, com São Paulo pode-se concluir que a ressurreição é o fato
histórico que justifica o cristianismo: “se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem
fundamento, e sem fundamento é a vossa fé” (1Cor 15,14). Para São Paulo, a
ressurreição não é só um fato histórico, mas, também um fato salvífico de primeira
linha. O Apóstolo afirma que, se Jesus não ressuscitou, “a vossa fé não tem nenhum
valor e ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15,16).
48
IDEM. Ibidem, p. 245.
49
Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 188, n. 654.
50
IDEM. Ibidem, p. 189, n. 655.