Cristologia 03

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Capítulo 1

NOÇÕES BÁSICAS DE CRISTOLOGIA

1.3 DADOS FUNDAMENTAIS SOBRE A HISTÓRIA DE JESUS DE NAZARÉ

Depois da exposição de alguns elementos importantes do testemunho


histórico acerca de Jesus Cristo, apresentam-se alguns dados que, segundo a maioria dos
investigadores oferecem um alto grau de solidez histórica.1

1.3.1 Nascimento

Embora muitos admitam que Jesus tenha nascido em Nazaré, segundo os


Evangelhos de Mateus (2,1) e Lucas (2,1-20), teria nascido em Belém, durante o
reinado do Imperador romano Augusto, certamente antes da morte de Herodes o
Grande, ocorrida na primavera do ano 4 a.C.
Ainda que não seja possível precisar a data de seu nascimento, os
historiadores coincidem em situá-lo entre os anos 6 e 4 antes de nossa era.2

1.3.2 Língua materna

A língua materna de Jesus foi o aramaico. Segundo José Antônio Pagola,


não se sabe com certeza se sabia ler e escrever. Em todo caso, o Evangelho de São
Lucas narra que ele, “conforme seu costume, no dia de sábado, foi à Sinagoga e
levantou-se para fazer a leitura” (Lc 4,16).
Jesus conhecia certamente o hebraico que, nessa época, era uma língua
literária empregada na liturgia do templo e nas sinagogas. Antes de serem traduzidas
para o aramaico, as Escrituras eram lidas em hebraico.
Segundo alguns autores, Jesus pode ter falado também um pouco de grego,
porém desconhecia o latim.

1
Esses dados estão baseados principalmente no texto “Breve perfil histórico de Jesus” [PAGOLA, J. A.
Jesus, op. cit., p. 577-582].
2
O monge Dionísio o Exíguo († 556), com os dados históricos de que dispunha, situou o nascimento
de Jesus no ano 753 da fundação de Roma e assinalou o ano de 754 como o primeiro da era cristã.
Este cômputo, ainda que esteja atrasado em alguns anos, é o que continua em vigor. Jesus nasceu
provavelmente no ano 748 da fundação de Roma (6.° antes da era cristã), ou quando muito no ano 746
da fundação de Roma (8.° antes da era cristã) [Cf. Bíblia Sagrada: Anotada pela Faculdade de
Teologia da Universidade de Navarra. Braga: Edições Theologica, 1994, pp. 77-86].
1.3.3 Vida em Nazaré

Jesus viveu sua infância, a juventude e os primeiros anos da vida adulta em


Nazaré (Lc 2, 39.51s; Mt 2,19-23) um pequeno povoado que se erguia sobre uma
encontras na região montanhosa da Galileia, longe das grandes rotas comerciais.
Segundo Pagola, Jesus era um homem de mentalidade mais rural que
urbana. O conhecimento do contexto sociocultural e religioso permite reconstruir de
maneira plausível alguns aspectos sobre seu ofício de artesão e sua educação no seio de
uma família judaica.

1.3.4 Encontro como Batista

Em determinado momento, Jesus ouviu falar de João Batista, que movia um


movimento de conversão numa região desértica junto ao rio Jordão. Deixou sua aldeia
de Nazaré, ouviu a mensagem de João e recebeu seu batismo (Cf. Mt 3,13-17; Mc 1,9-
11; Lc 3,21s).

1.3.5 Atividade itinerante

Por volta do ano 27-28, Jesus iniciou uma atividade itinerante que o levou
da Galileia a Jerusalém, onde foi executado provavelmente a 7 de abril do ano 30.
Trata-se, portanto, de uma atividade que não chegou há três anos. Embora não seja
possível reconstruir com exatidão os lugares de sua atividade e suas rotas de viagem,
certamente exerceu seu ministério público nas proximidades do lago da Galileia e,
durante algum tempo, em Cafarnaum. Sempre acompanhado por um grupo de
discípulos e discípulas, sua atividade concentrava-se em duas tarefas: curar enfermos de
diversos males e anunciar sua mensagem sobre o “Reino de Deus”. Sua fama cresceu
rapidamente e as pessoas se mobilizavam para encontrar-se com ele. Jesus tinha o
costume de retirar-se de noite a lugares afastados para rezar.

1.3.6 Profeta do reino de Deus

Jesus empregava uma linguagem característica e sugestiva. Seus ditos


breves e penetrantes, seus aforismos e, sobretudo, suas belas parábolas são
inconfundíveis. Sua pregação concentra-se no anúncio do “Reino de Deus”. Sua
mensagem parte da tradição judaica que ele procura comunicar através de uma
linguagem simbólica e poética, extraída da vida. Sua pregação ocupa um lugar central a
experiência de um Deus Pai que “faz nascer seu sol sobre bons e maus” e acolhe e busca
os filhos perdidos. É essencial sua exortação a “entrar” no Reino de Deus e seu
chamado a ser “compassivos” como o é o Pai do céu. O perdão aos inimigos constitui o
ponto culminante deste chamado.

1.3.7 Atividade curadora

Embora seja difícil precisar o grau de historicidade de cada relato trans-


mitido pelas tradições evangélicas, não há dúvida de que Jesus levou a cabo curas de
diversos tipos de enfermos, que foram consideradas milagrosas por seus
contemporâneos.
Praticou também exorcismos, libertando do mal pessoas que, naquela
cultura, eram consideradas possuídas por espíritos malignos. Tais prodígios eram
entendidos como sinais da chegada do reino de Deus.
Porém, Jesus sempre se opôs a executar os sinais espetaculares que alguns
setores críticos provavelmente lhe pediam fazer ver a todos, de maneira plástica, que o
Reino de Deus está aberto a todos, sem excluir ou marginalizar ninguém.

1.3.8 Rodeado de discípulos

Jesus aparece sempre convocando seu povo a entrar no reino de Deus (cf.
Mt 3,17; Mc 1,15). Por isso, formou-se em torno a Jesus um grupo reduzido de
seguidores itinerantes (cf. Lc 10,1), entre os quais havia também certo número de
mulheres.
Além desse grupo reduzido, houve um setor mais amplo de simpatizantes
que continuaram vivendo em suas casas, mas que se identificavam com sua mensagem e
acolhiam Jesus e seu grupo quando chegavam à sua aldeia. Segundo os evangelhos,
Jesus chamou para junto de si um grupo mais próximo, os “Doze” (Mc 3,13-19; Mt
10,1-4; Lc 6,12-16), que simbolizava seu desejo de conseguir a restauração de Israel.

1.3.9 Reações diante de Jesus

Fora do grupo reduzido de discípulos e do círculo de simpatizantes, Jesus


alcançou uma popularidade bastante grande na Galileia e regiões vizinhas. Jesus
mobilizava massas relativamente importantes (cf Mt 5,1; Mc 3,7; Lc 6,17), e isso o
transformava precisamente em personagem perigoso perante as autoridades. Jesus
provocou também a rejeição de setores que procuraram estigmatizá-lo e desacreditá-lo
para impedir sua influência.
De fato, Jesus não foi bem recebido entre seus convizinhos e despertou a
oposição de escribas e dirigentes religiosos tanto na Galileia quanto em Jerusalém. Foi
criticado por comer com pecadores e acusado de estar possuído pelo demônio. Jesus
defendeu-se com firmeza de ambas as acusações.

1.3.10 Execução

Na primavera do ano 30, Jesus subiu a Jerusalém, no território da Judeia,


que, ao contrário da Galileia, era regida por um prefeito romano. A cidade de Jerusalém
era governada diretamente naquele momento pelo sumo sacerdote Caifás. Jesus realizou
um gesto hostil para com o templo, gesto que provocou sua detenção.
Parece que não houve propriamente julgamento de Jesus perante as
autoridades judaicas. Antes, em vista do que aconteceu no templo, a aristocracia
sacerdotal ficou ainda mais convencida da periculosidade que Jesus representava e
confabularam para fazê-lo desaparecer.
De fato, Jesus morreu crucificado provavelmente no dia 7 de abril do ano 30
e foi o prefeito romano Pôncio Pilatos quem ditou a ordem de sua execução.

1.3.11 Fé em Jesus ressuscitado

É possível verificar historicamente que, entre os anos 35 e 40, os cristãos da


primeira geração confessavam com diversas fórmulas uma convicção compartilhada por
todos e que rapidamente foram propagando por todo o Império: “Deus ressuscitou Jesus
dentre os mortos”.

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