Apostila 2 - Saberes e Praticas
Apostila 2 - Saberes e Praticas
Apostila 2 - Saberes e Praticas
4 A-present(e)-ação
7 Plano de ensino
Unidade 1
12 A língua do Ser alfabetizador
13 Texto base
37 Textos complementares
Unidade 2
38 A língua do (des)alfabetizador
39 Texto base
60 Texto complementar
Unidade 3
61 A língua do Alfabetizador Artístico
62 Texto base
83 Textos complementares
84 Apêndices
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 4
A-PRESENT(E)-AÇÃO
A LÍNGUA DA (DES)ALFABETIZAÇÃO
salas de aula, mas abrir sendas para que cada um, ao perseguir o caminho
que escolher, se sinta responsável, responda por seus gestos pedagógicos,
por sua ação educativa, pelo futuro da sua escola, da sua cidade... Essa,
a nosso ver, é a atitude ética que (im)põe o respeito ao outro, à sua
criatividade, ao cuidado de si, ao seu esforço de problematizar o seu ato de
alfabetizar e buscar brechas criativas para as suas exigências: rasgar uma
certa disciplina no professorar alfabetizador que institui o que é permitido
ou não, o certo e o errado, o produtivo e o improdutivo nos processos de
alfabetização. Como diria Telles2, “sempre se percebe alguma forma de
método: nas repetições, na precisão lexical, nos rituais, na rotina. Mas,
rasgando esse método por dentro, corroendo-o, algo nessa escrita está
sempre se desfazendo, perguntando. Há uma intriga no ar: a indisciplina
rondando” (2010, p. 206).
Bibliografia básica
PARAÍSO, Marlucy Alves. Currículo, Desejo e Experiência. Educação & Realidade, v. 34,
n. 2, p. 277-293, maio/ago. 2009.
Bibliografia complementar
PEREIRA, Reginaldo Santos; INIS, Nilson Fernandes. O pacto com a leitura e escrita no
estado da Bahia: normalização, disciplina e controle para governar a infância. Teoria
e Prática da Educação, v. 22, n. 2, p. 91-108, maio/ago. 2019.
As professoras
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 7
Plano de ensino
Curso:
Especialização Saberes e Práticas para a Docência nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental: Língua Portuguesa e Matemática
Componente curricular:
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais
do ensino fundamental
Professoras:
Dra. Caroline Barroncas de Oliveira e Dra. Mônica de Oliveira Costa
Ementa:
Análise das teorias do Construtivismo e do Sociointeracionismo, bem como
da leitura e escrita no processo de alfabetização. Análise das hipóteses
da escrita. Alfabetizar letrando e a formação de alunos leitores. Práticas
Interdisciplinares e currículo integrado nos anos iniciais, com ênfase no
uso de novas tecnologias educacionais.
Objetivos:
Analisar as teorias do Construtivismo, do Sociointeracionismo, da leitura
e escrita, a partir da ideia de (com)posições do Ser alfabetizador no Brasil;
Problematizar a leitura e escrita no processo de alfabetização, com análise
das hipóteses da escrita e a ideia de alfabetizar letrando na formação de
alunos leitores, a partir da constituição de uma língua do des-alfabetizador;
Experimentar práticas interdisciplinares em uma perspectiva do currículo
integrado nos anos iniciais, com ênfase nas novas tecnologias educacionais,
a partir da língua do Alfabetizador Artístico.
Conteúdo programático:
Apresentação do componente curricular, o qual
denominamos “A língua da (Des)alfabetização”:
ementa, objetivos, metodologia, avaliação e
Caroline Barroncas
Aula 01 bibliografia.
de Oliveira e Mônica
10/09
de Oliveira Costa
UNIDADE I – A LÍNGUA DO SER ALFABETIZADOR
(Com)posições do Ser alfabetizador no Brasil:
análises teóricas
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 8
Procedimentos metodológicos:
As atividades deste componente curricular serão desenvolvidas pelo
Sistema Presencial Mediado por Tecnologia (aulas ao vivo transmitidas do
estúdio da UEA para as turmas nos municípios do Estado). Essas atividades
envolverão leitura analítica de textos; diálogos problematizadores;
apresentação de dinâmica local; produção escrita individual e coletiva;
interatividade com as turmas para esclarecimento de dúvidas e orientações
Avaliação:
A avaliação, baseada em uma metodologia formativa, será realizada
no decorrer do processo, enfatizando-se o estudo do material didático
como pré-requisito para: participação nas aulas por meio de debates,
questionamentos durante a interatividade; outras atividades individuais/
coletivas em sua turma local e produção do trabalho escrito final.
A avaliação das atividades individuais e coletivas atenderá aos seguintes
critérios: fundamentação teórica, clareza, coerência e correção gramatical,
bem como a criatividade no envolvimento da experimentação docente.
Bibliografia:
Bibliografia básica
CALDEIRA, Maria Carolina da Silva. Dispositivo de antecipação da alfabetização e políticas
curriculares contemporâneas: governando crianças e docentes. LES – Linguagens,
Educação, Sociedade, Teresina, Ano 24, n. 43, set./dez. 2019.
PARAÍSO, Marlucy Alves. Currículo, Desejo e Experiência. Educação & Realidade, v. 34,
n. 2, p. 277-293, maio/ago. 2009.
Bibliografia complementar
BRASIL. Ministério da Educação. Plano nacional de Alfabetização – PNA. DECRETO Nº
PEREIRA, Reginaldo Santos; INIS, Nilson Fernandes. O pacto com a leitura e escrita no
estado da Bahia: normalização, disciplina e controle para governar a infância. Teoria
e Prática da Educação, v. 22, n. 2, p. 91-108, maio/ago. 2019.
Componente curricular:
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais
do ensino fundamental
Professoras:
Dra. Caroline Barroncas de Oliveira e Dra. Mônica de Oliveira Costa
DATA DE
ATIVIDADE DIA/HORÁRIO
ENTREGA
Primeira atividade
No primeiro momento realizarão a leitura de um
texto complementar, indicado na bibliografia da
unidade I.
Após, em um segundo momento, farão uma 10/09/2022
produção escrita individual, composição de uma (sábado)
10/09/2022
carta (apêndice A) para o seu Ser alfabetizador Das 13h às
(sábado)
problematizando as ideias de alfabetização e 17h
alfabetizador que constituem o Ser alfabetizador TARDE
do(a) professor(a) cursista.
E em um terceiro momento, finalizando com uma
roda de conversa, compartilharão as escritas com
todos da turma (valor 0,0 a 5,0 pontos);
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 11
Texto base
Textos complementares
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 13
Texto base
ABSTRACT: This article analyzes three recent curriculum documents the National Pact
for Literacy Training at the Right Age Notebooks (BRASIL, 2012), The Common National
Curriculum Base (BRASIL, 2018) and the National Literacy Policy Notebook (BRASIL, 2019)
– to understand how the literacy anticipation device operates in these texts to produce the
literate child. From a foucaultian perspective, I consider that a device is constituted by several
elements and aims to eliminate certain risks and to govern given populations. The literacy
anticipation device intends to govern children and teachers in order to produce a literate
child as soon as possible, eliminating the risks that an illiterate population may represent.
I argue that in order to justify the anticipation of literacy as a fundamental strategy for
reducing the risks to the child population, the three curriculum documents use expertise and
reasoning around science as an important technique. Although similar techniques are used,
the definitions of who the experts are and which science is the true vary in the documents,
causing tensions and conflicts around which knowledge and knowledge are valid in the
literacy process. Based on Foucaultian-inspired discourse analysis, I show the emergency
conditions for these truths to be affirmed, as well as the conflicts that are established in the
demand for the subject positions of literate child and good literacy teacher.
RESUMEN: Este artículo analiza tres documentos curriculares recientes: los Cuadernos de
capacitación en alfabetización a la edad adecuada (BRASIL, 2012), la Base nacional común
del plan de estudios (BRASIL, 2018) y el Cuaderno nacional de políticas de alfabetización
Introdução
3 O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade certa foi uma política pública firmada entre
o Governo Federal, Municípios e instituições de ensino superior, com o objetivo central
de garantir que todas as crianças estivessem alfabetizadas até os oito anos de idade. Para
isso, ao longo de seus três anos de duração (2012 a 2015) foram realizadas ações em quatro
eixos, a saber: Formação continuada presencial para os/as professores/as alfabetizadores/
as; Materiais didáticos distribuídos para as escolas; Avaliações sistemáticas das crianças
em processo de alfabetização; Gestão, mobilização e controle social. Durante os três anos
de vigência do PNAIC, foram produzidos diferentes cadernos de formação para os/as
docentes. Neste artigo, analiso apenas os cadernos produzidos no de 2012 (primeiro
ano do Pacto), pois são os cadernos que tratam especificamente de Língua Portuguesa e
Alfabetização. A temática aparece nos anos seguintes, mas não há mudanças significativas
em relação ao que foi estabelecido no ano de 2012.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 17
4 Nas escolas da rede privada e mesmo em algumas escolas da rede pública esse dispositivo
opera para produzir a alfabetização na educação infantil. Como veremos a seguir, a
construção do primeiro ano como “idade para alfabetização” visa atingir, sobretudo, as
crianças de camadas populares.
5 Trata-se do livro “Testes ABC para a verificação da maturidade necessária à aprendizagem
da leitura e da escrita”. O Teste ABC consta de oito provas, sendo que cada prova vale de
zero a três pontos, que visam a verificar as condições de maturidade de cada criança para
iniciar o processo de alfabetização.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 20
6 A 11.114/2005 tornou obrigatória a matrícula das crianças a partir dos seis anos de
idade no ensino fundamental. Já a Lei 11.274/2006 ampliou o ensino fundamental de
oito para nove anos, com início a partir dos seis anos de idade.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 21
7 Caldeira e Paraíso (2016) mostram como esse dispositivo foi construído por meio de uma
análise de diferentes elementos da história da alfabetização brasileira. Esses elementos
incluem princípios que remetem à “querela dos métodos”, passam pelos estudos da
psicogênese da língua escrita e do letramento e se consolidam na forma de legislação.
Partindo da proposição das autoras, considero que os documentos curriculares aqui
analisados são parte desse processo histórico e promovem pequenos deslocamentos (que
produzem mudanças significativas) naquilo que já vinha sendo produzido historicamente.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 24
Considerações finais
Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia
dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 32
Referências
CORAZZA, Sandra; TADEU, Tomaz. Dr. Nietzche, curriculista – com uma pequena ajuda
do professor Deleuze. In: TADEU, T; CORAZZA, S. Composições. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003, p. 35-57.
DREYFYS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault: Uma trajetória filosófica para além
do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
FOUCAULT, Michel. Não ao sexo rei. In: MACHADO, Roberto. Microfísica do poder. Rio de
Janeiro: Graal, 2000c. p. 229-242.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 2006.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFYS H. & RABINOW, P. Michel Foucault:
Uma trajetória filosófica para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de
Janeiro, Forense, 1995, p. 231-249.
FOUCAULT, Michel. Resumo dos Cursos do Collège de France. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 35
FREIRE, Paulo.Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
HEYWOOD, Colin. Uma história da infância. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.
REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. São Carlos: Claraluz, 2005.
ROSE, Nikolas. Governando a alma: a formação do eu privado. In: SILVA, Tomaz Tadeu
(org.). Liberdades Reguladas. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 30-45.
ROSE, Nikolas. Como se deve fazer a história do eu. Educação e Realidade. Porto Alegre,
v. 26, n. 1, p. 33-57, 2001.
SANTOS, Lucíola. VIEIRA, Lívia. “Agora seu filho entra mais cedo na escola”: a criança
de seis anos no ensino fundamental de nove anos em Minas Gerais. Educação &
Sociedade. Campinas, v. 27, n. 96, p. 775-796, out. 2006.
SILVA, Tomaz Tadeu. As pedagogias psi e o governo do eu nos regimes neoliberais. In:
SILVA, T. T. Liberdades Reguladas. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 7-13.
SOARES, Magda. Simplificar sem falsificar. Guia da Alfabetização. Educação (São Paulo),
v. 1, p. 6-11, 2010.
Textos complementares
KLEIN, Juliana Mottini; GUIZZO, Bianca Salazar. Problematizando representações docentes nos
Cadernos de formação do Programa Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
(PNAIC). Rev. bras. Estud. pedagog., Brasília, v. 98, n. 249, p. 311-331, maio/ago. 2017.
Texto base
Texto complementar
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 39
Texto base
Abstract: Even being a discipline and classifier space, par excellence, many things can
happen in a curriculum because it is about a device with many possibilities of life dialogues.
This article explores the concept of deleuze-guattariano desire to think the curriculum-
desire. It operates with examples of regroupings experiences at school and with film
scenes to explore possibilities and difficulties of desiring in the curriculum. The developed
argument is that it doesn’t have a method to make to desire in a curriculum, but is possible
to construct in the curriculums convenient meetings that make the life’s potency increase.
For that it is necessary to know the potency and the difficulty of the desire in the curriculum
and divulge in this territory a multiplicity of texts that somebody perhaps establish a
meeting and, then, make agencies, expand territory, desire and produce experience.
movimentar, deixar passar algo, produzir alegrias, viver. É isso que sinto ao
ver a menina Baktay, afegã de seis anos de idade, em seus enfrentamentos,
em suas conexões, em sua corrida, em seus pulos de alegria – com sua
vontade de potência já não caminha mais; ela corre e dança, diria, talvez,
Nietzsche -, com todo o desejo de ir à escola para aprender histórias
divertidas. Trata-se da personagem do filme iraniano, Buda explodiu de
vergonha3, que escolhi para estabelecer relações com os reagrupamentos
na escola4 e para pensar o currículo-desejo.
Este artigo, portanto, opera com exemplos de vivências de práticas
de reagrupamentos da escola e com cenas de um filme para explorar
possibilidades e dificuldades do desejar no currículo. O argumento
desenvolvido é o de que é possível construir, nos currículos, encontros
passar por armas, fuzis e caças de combate. No entanto nem tudo nesse jogo
é de brincadeira, pois as pedras que ameaçam atirar em Baktay, quando a
vêem com o batom da sua mãe, são verdadeiras.
Quando esses meninos prendem Baktay, já estão com outras três
meninas presas em uma cova. Os motivos da prisão das garotas: uma
tinha os “olhos de lobo” (muito bonitos); outra era por demais bonita e
ainda usava batom e uma última mastigava chicletes. Mesmo se juntando
às garotas presas, Baktay não se conforma com essa situação e nem com as
justificativas para a prisão das outras meninas. Lembra de que ser bonita
não pode ser pecado e nem problema. Fala que não pode haver problema
em passar e usar batom e nem em mastigar chicletes. Com seu devir-
revolucionário em ação, mesmo presa, Baktay passa batom em si e na garota
isso que ela diz nos mais diferentes momentos de sua difícil luta para ir à
escola. Em vários momentos isso é dito com um grande sorriso alegre; em
outros com preocupação e em outros chorando8.
Mas o desejo não está na enunciação “eu quero ir à escola aprender
histórias divertidas”. O desejo está em todo o agenciamento feito, do qual
essa enunciação faz parte; está no corpo refeito que “se abre para dançar
ao universo” (Artaud, 1978, p. 33). Afinal, embora “todo tipo de desejo
implique estilos de enunciação” (Deleuze, 1996, p. 16), os enunciados se
constituem em apenas um dos componentes do agenciamento do desejo9.
Deleuze (1996) lembra que “em vez de ser estrutura ou gênese, ele [o desejo]
é, contrariamente, processo. Em vez de ser sentimento, ele é, contrariamente,
afecto”. E continua: “em vez de ser subjetividade, ele é, contrariamente,
( ...) mas eu não sei ai não gosto. Eu queria aprender para não vir
para cá (...) Eu não aprendo a ler, ai não gosto.
somos” ou “o que é”; mas tudo aquilo que podemos somar graças ao “e”
para fazer funcionar os agenciamentos do desejo.
(...) Eu sou a aluna daqui que mais lê. Tudo aconteceu assim,
de repente! (...) Era muito ruim não saber ler (...) e eu já tinha
9 anos e não sabia. Sabia as letras, mas quando juntava não
conseguia. Na minha sala só tinha eu e o Ivan que não lia. (...) foi
assim: a professora Fernanda veio ficar na minha sala porque
a minha professora adoeceu. Ai ela trouxe uma poesia e falou:
Carolina a poesia que eu trouxe hoje tem o seu nome. E eu falei:
ah! professora não gosto do meu nome não. E ela falou: por que
Carolina? Eu acho seu nome tão bonito! Eu achava feio. Aí ela
falou que trouxe a poesia de Cecília Meireles que era linda. (...)
A professora Fernanda gostava muito de Cecília Meireles. Ela
passou a poesia para nós, e leu a poesia tão bonito que eu achei
linda o jeito dela ler e a partir daí eu ficava tentando ler igual
a ela (...) Eu fiquei com tanta vontade de ler, tanta vontade que
eu decorei a poesia... Eu pedia todo mundo que eu via para me
ensinar a ler (...). E depois alguma coisa abriu na minha cabeça
e eu aprendi ler assim de repente... Eu não sei como, (...) mas
foi lendo a poesia que aprendi ler. Eu gostava tanto da poesia
que a professora Fernanda me deu o livro da Cecília Meireles de
presente. E eu só ficava com o livro, até dormia com o livro. (...)
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 53
Referências
DALBEN, Angela Loureiro de Freitas. Singular ou Plural?: Eis a escola em questão! Belo
Horizonte: GAME / FAE / UFMG, 2000.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução Luiz Orlandi; Roberto Machado. Rio
de Janeiro: Graal, 1988.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: Ed. 34. 1992.
DELEUZE, Gilles. Diálogos. Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.
FORTES, Maria de Fátima. A escola plural: uma nova concepção do processo ensino-
aprendizagem. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v. 3, n. 13, p. 17-29, jan./
fev. 1997.
FOUCAULT, Michel. Dits et Ecrits. Vol. 4. Paris: Gallimard, 1994. LARRAURI, Maite. La
felicidad según Spinoza. Valência: Tàndem, 2003
TADEU, Tomaz. A arte do encontro e da composição: Spinoza + Currículo + Deleuze. In: CORAZZA,
Sandra; TADEU, Tomaz. Composições. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. P.59-74.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 57
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia ciência. Tradução Jaime Bruna. São Paulo: Hemus; 1981.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Tradução Mário da Silva. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1983.
NIETZSCHE, Friedrich. Aurora. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
SPINOZA. Benedictus. Ética: Ed. bilíngue português-latim. Tradução Tomaz Tadeu. Belo
Horizonte: Autêntica, 2007.
1 Este artigo foi elaborado durante o período de Estágio pós-doutoral realizado na Faculdade de
Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de Valência (Espanha) com bolsa da CAPES.
3 Filme dirigido pela jovem iraniana de 18 anos Hanah Makhmalbaf. Ano 2007, 81 min.
5 Vale registrar que na Escola Plural, os reagrupamentos já estavam previstos desde a sua
criação, nos seus primeiros documentos. Belo Horizonte (1994 e 1995).
6 As citações de Deleuze, 2001 foram extraídas de uma entrevista em vídeo e não permitem,
9 Deleuze (1996) diz que todo agenciamento tem quatro componentes: 1) remete a estados
de coisas (que cada um encontre estados de coisas que lhe convenha); 2) enunciados, estilos
de enunciação (todo agenciamento implica estilos de enunciação); 3) Implica territórios
(cada um com seu território); e 4) desterritorialização (o modo como saímos do território).
10 Sobre isso Deleuze (2001) diz: “Quando vou ver uma exposição, estou à espreita, em
busca de um quadro que me toque, de um quadro que me comova. (...) Uma exposição de
pintura, ou o cinema, sempre tenho a impressão que posso ter o encon- tro com uma idéia.”
Texto complementar
PEREIRA, Reginaldo Santos; INIS, Nilson Fernandes. O pacto com a leitura e escrita no
estado da Bahia: normalização, disciplina e controle para governar a infância. Teoria
e Prática da Educação, v. 22, n. 2, p. 91-108, maio/ago. 2019.
Texto base
Textos complementares
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 62
Texto base
O caderno
Tudo que ela faz, aquilo que lhe acontece, registra ali. Seu caderno
querido, que sempre a acompanha. Já não consegue desgrudar-se dele,
como um vício. Necessita dele tanto quanto ele necessita dela. Ambos
consolidam uma relação. Tarde de outono. A professora e o lápis se jogam
nas linhas do caderno. Ele os seduz, oferecendo-lhes uma sedosa folha de
papel para escrever. Com a ponta dos dedos, ela toca a capa do caderno,
que brinca com cores sígnicas: um verde que se mescla em tons de amarelo
***
diferentes. Leitura é aquilo que não pára.” Há leituras mortas, que são aquelas
estereotipadas, submetidas às repetições mentais; e as leituras vivas, que
produzem no leitor um texto interior, uma fuga, uma verdade, um prazer
no próprio texto.
4 De acordo com Deleuze e Guattari (1977), trata-se de inventar outra língua na própria
língua, variando-a de seu regime vigente.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 71
Escrileituras em movimento
A professora retorna aos seus escritos. Faz de tudo para colocar suas
ideias em ação. Propõe um trabalho de escrileitura, pois é a partir dessa
Cena 1
Cena 2
Da sala branca
Do portal pensamental, chegaram a uma sala, toda branca: o chão e
as paredes brancas. Como uma sala de hospício ou coisa parecida. O som
Cena 3
Da sala amarela
Nietzsche, o “outro-novo”, começa a escrever. Escreve em um quadro
todo amarelo escuro. Escreve sobre aquilo que lhe aflige: o que pode o
corpo? Provocou a pensar sobre a possibilidade de dançar em todas as
suas formas. Isso não pode ser excluído do currículo da educação. Haverá
6 Escritura fabulística inspirada em O Abecedário de Gilles Deleuze. Disponível em: < http://
stoa.usp.br/prodsubjeduc/files/262/1015/Abecedario+G.+Deleuze.pdf>.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 78
a datar de uma infância que não é a sua ou particular de alguém, mas que
é um modo de inventar a infância do mundo (DELEUZE; PARNET, 1997).
A letra F já não podia mais ser usada para representar apenas a fada,
era mais do que isso. A professora criou um conto que não tinha fadas,
construiu uma fidelidade com sua escritura que se transformava. Esse
vínculo só foi possível na percepção dos signos que emanaram de uma
relação, seja na escola, ou na vida particular (DELEUZE; PARNET, 1997).
A letra G não representava mais o gato para ela e sim a grande Ideia,
de estar engajada em algum movimento de esquerda [gauche]. Acreditava
que poderia expressar-se de maneira a ser vista por um maior número de
pessoas. Aos poucos, foi-se dando conta de que isso não era suficiente e que
necessitava estar engajada em si mesma em um pensamento operatório
fazia uma tentativa de busca aos problemas, assim como Kant [filósofo
prussiano da era moderna] que criou, em seu tempo, muitos problemas.
Admirava Kant não por sua filosofia crítica, especificamente, mas por tratar
da praticidade da filosofia, operando conceitos com base em problemas da
existência humana. A letra K fez pensar em Kant.
A letra L não podia representar mais a lata. Para a professora, l estava
para literatura, vida em essência. A criação de personagens em suas
escrituras possibilitava exercer um pensamento em torno daquilo que
queria dizer sobre determinado conceito em educação, a aprendizagem,
por exemplo. A literatura possibilita a formação de um pensador, seja ele
filósofo ou professor. Os personagens literários atuam na dimensão de um
conceito, pois testemunham em favor da vida (DELEUZE; PARNET, 1997).
Textos complementares
Apêndice A
ATIVIDADE DA UNIDADE I
ROTEIRO PARA A PRODUÇÃO DA CARTA
Cara _________, Como vai? Espero que não se assuste ao receber esta
carta, pois ainda não tínhamos conversado de forma tão próxima. Mas
estamos aqui para dialogar com você sobre nossas ideias e reflexões que nos
mobilizam a pensar sobre você perante a formação docente que alfabetiza
nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Alfabetização, letramento e práticas interdisciplinares nos anos iniciais do ensino fundamental 86
Apêndice B
ATIVIDADE DA UNIDADE II
ROTEIRO PARA ANÁLISE DO FILME “E BUDA
DESABOU DE VERGONHA”
Apêndice C
TRABALHO FINAL
ROTEIRO DO PLANO DE ATUAÇÃO DOCENTE