Alfabetização, Leitura e Escrita - Trabalho Final PDF

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO;

Pedagogia - noturno;
Disciplina: Alfabetização, Leitura e Escrita;
Professora: Carmem Sanches;
Alunas: Luiza Nunes de Moura Ferracioli (20191351041), Maria Isabella Nóbrega
Castelpoggi do Amaral (20191351051) e Rafaela Braga Baranda (20191351022).

TRABALHO FINAL
ALFABETIZAÇÃO, LEITURA E ESCRITA

Rio de Janeiro, setembro de 2021.


A alfabetização é um processo de passagem da escuta para a possibilidade
da escrita que tem a escola como papel mediador visto que, trata-se de um processo
que exige mediação - sistemática ou assistemática. Entramos no mundo da escrita
desde pequenos pelas mediações que passamos, quando entramos na escola esse
processo torna-se formal e é considerado inicial, quando na verdade trata-se de uma
continuidade. Devido aos métodos de ensino - ensinar o mesmo ao mesmo tempo
para todos - as diferenças dos indivíduos são silenciadas mesmo sabendo que cada
indivíduo tem seu próprio percurso.
Paulo Freire, defende uma alfabetização através de palavras e situações das
realidades, contextos, culturas e cotidianos dos educandos e não dos educadores,
para ele, a “leitura” de mundo antecede a leitura da palavra, “a compreensão do
texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o
texto e o contexto (FREIRE, 1981), ou seja, a linguagem e a realidade estão ligadas
de forma dinâmica defendendo assim a ideia de “palavramundo” que impede a
dissociação entre leitura da palavra e “leitura” de mundo.
Segundo Freire, a alfabetização tem no alfabetizando, o sujeito, para ele,

“a alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da


expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou
sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora”.
(FREIRE, 1981)

A psicogênese - pouco conhecida pois permanece somente em pequenos


grupos interessados - é a descrição do processo pelo qual o sujeito adquire, se
apropria, reconstrói para si um objeto social de conhecimento fazendo parte. Nesse
processo existem três fases: a apropriação - menor conhecimento para o maior -; a
transformação - transformação para compreensão -; a filiação - modo de
funcionamento. Para Piaget, é preciso construir uma descrição do processo pelo
qual o sujeito reconstrói para si mesmo determinado objeto presente em sua cultura,
mediado por outros sujeitos. Na alfabetização da língua escrita a psicogênese é um
processo dialético da descrição do processo de avançar e ultrapassar suas
contradições sobre o sistema de escrita.
No Brasil é tradicional a separação da alfabetização do letramento, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tentaram modificar essa questão
afirmando que: a aprendizagem dos aspectos discursivos e notacionais podem
ocorrer de forma simultânea; o processo de aquisição da escrita acontece dentro de
um processo mais amplo; aprende-se a ler e escrever por meio de procedimentos de
análise linguística.
Ainda nos Parâmetro Curriculares Nacionais (PCNs), são apresentados
alguns pontos relacionados à alfabetização, dentre eles podemos destacar que: a
falta de diálogo entre ensino e aprendizagem gera o analfabetismo; para aprender a
ler e escrever é preciso pensar sobre a escrita, o que ela representa e como ela
representa graficamente a linguagem; existem algumas situações privilegiadas que
exigem atenção como ler como descoberta do que está escrito mesmo que ainda
não saiba ler e escrever como a grafia de algo com intenção de ler mesmo que
ainda não saiba ler.
No Brasil, a escola era promotora dos princípios sociais e preparo para a
civilidade em um processo de racionalização através da leitura e da escrita. Durante
a história da alfabetização no país, foram desenvolvidos métodos de alfabetização
como as reconhecidas Cartilhas: Maternal, do Povo e Caminho Suave. Essas
cartilhas utilizadas para o ensino do alfabeto, formação de sílabas, palavras e frases
e textos religiosos foram desenvolvidas em vista da necessidade de expandir a
escola que necessitava de organização e orientação acerca das práticas educativas
e seus materiais.
Segundo a autora Maria do Rosário Mortatti, a alfabetização brasileira pode
ser dividida em quatro períodos: A metodização do ensino da leitura; A
institucionalização do método analítico; A alfabetização sob medida; Alfabetização:
construtivismo e desmetodização. Na metodização do ensino da leitura era utilizado
o método de palavração de João de Deus, que defendia um modelo de ensino
científico e propulsor de progresso social. No período seguinte, é retomado os
métodos analíticos que buscam romper a decifração partindo do todo para as partes.
No terceiro momento há modificações no método analítico e reformas educacionais
em vista da má instrução da população, gerando o método misto ou eclético,
contemplando todas as formas de aprendizagem surgindo assim, a Cartilha do Povo
seguida pela Cartilha Caminho Suave. Por fim, o quarto período é caracterizado pela
inserção do construtivismo que muda o eixo dos métodos de ensino para a criança,
considerado uma “revolução conceitual”. Além disso, foi marcado pelo
desenvolvimento da desmetodização da alfabetização em consequência ao
destaque dado a quem aprende e como aprende, silenciando algumas questões
didáticas.
Existem alguns métodos de alfabetização, são eles: o método alfabético ou
de soletração; método silábico; método fônico; método da palavração; método global
ou analítico. Além desses métodos, analisaremos em seguida as três cartilhas
citadas anteriormente.
Método alfabético ou de soletração: método mais antigo que consiste em
decorar as letras do alfabeto, reconhecê-las e formar possíveis combinações
silábicas. Seu ponto positivo é que a soletração ajuda na associação do nome da
letra à sua representação e seu som, por outro lado, a memorização
descontextualizada afasta o aluno do significado das próprias palavras.
Método silábico: considera a sílaba a unidade linguística fundamental,
partindo de sílabas simples para sílabas mais complexas, além disso, associavam as
famílias silábicas à palavras chaves e desenhos. Seu ponto positivo é que ressalta a
facilidade de identificar o som, mas tem um ponto negativo ao focar na unidade
sonora e falta de sentido entre frases e contextos.
Método fônico: caracterizado pela valorização sonora das letras, partindo do
aprendizado do som de cada letra, do mais simples para o mais complexo, seu foco
é a aprendizagem rápida fundamentada no som.
Método da palavração: considera a palavra a unidade linguística, consiste
na memorização de palavras sem dividi-las em sílabas, letras ou fonemas. Tem
como ponto positivo a estratégia natural do ser humano em trabalhar unidades
menores sem dissociar do todo, porém, pode gerar uma possível dificuldade em
trabalhar as unidades menores.
Método global ou analítico: considera o texto a base da alfabetização,
através da fragmentação do mesmo em parcelas maiores para não chegar de forma
abrupta em unidades menores.

Cartilha Maternal ou arte da leitura


Criada para dar apoio aos professores no processo de mudança ideológica e
política de Portugal, a Cartilha Maternal é caracterizada por uma pedagogia
ideológica e política que através do método analítico transformou a leitura em uma
atividade rotineira, trivial e emancipatória. João de Deus - seu idealizador - foi
convocado para atender as expectativas portuguesas de reformular a sociedade por
meio de uma escolarização ampla e democrática. A cartilha utilizava o método da
palavração no qual, o ensino parte da palavra e seu significado, obtendo sucesso
em virtude de suas ideias inovadoras em relação à leitura, à nacionalização do
material didático e ao vínculo familiar.

Cartilha do Povo
Durante o período republicano houve diversas mudanças educacionais visto a
importância de estimular o desenvolvimento de crianças bem educadas e instruídas.
Lourenço Filho - idealizador da Cartilha do Povo - compreendia a educação como
conscientização do povo e progresso da nação, além de defender lutas como: a
educação pública, gratuita e laica; igualdade entre os sexos; remuneração e
formação digna para os professores. Sendo assim, criou a Cartilha do Povo,
desenvolvida para crianças e adultos em processo de alfabetização e continha
princípios morais, éticos e sociais. A cartilha objetivava atingir a Educação Popular e
tornou-se popular pelo sentimento nacionalista de utilizar materiais brasileiros e a
abrangência promovida à todos os níveis de ensino. Utilizava o método sintético e
analítico, defendendo a ideia de maturação biofisiológica durante o desenvolvimento
da criança para aprendizagem da leitura e da escrita de forma simultânea. Uma das
diferenciações entre a Cartilha Maternal e a Cartilha do Povo é o uso de ilustrações
que não eram utilizadas na Maternal. Apesar do aumento progressivo das taxas de
alfabetização no país, o objetivo de Lourenço de erradicar o analfabetismo não foi
alcançado.

Cartilha Caminho Suave


Inspirada em Lourenço Filho e na maturação biofisiológica, a autora Branca
Alves de Lima desenvolveu a Cartilha Caminho Suave baseando-se no raciocínio
lógico e no desenvolvimento da motricidade fina. Através de sua própria experiência
de trabalho, percebeu a dificuldade de alguns estudantes de aprender pelo método
global e passou a ensinar pelo método denominado por ela de “Alfabetização pela
Imagem”, caracterizado como método eclético. Esse método consiste na
alfabetização pela associação entre imagens, palavras-chave, sílabas e frases,
buscando um ensino leve e suave, para isso era preciso “suavizar para nossas
crianças o ensino da leitura, tornando-o vivo, prático e dinâmico” (LIMA, 1979).
A alfabetização é em sua maioria, realizada por meio de métodos
mecanicistas, sejam eles sintéticos e/ou analíticos, esses métodos, têm como foco
conteúdos pré estabelecidos que impedem a estimulação das perguntas, desejos,
curiosidades, anseios dos alunos e professores.
Cada vez mais pesquisas pedagógicas apontam sobre a formação docente
de forma compartilhada, ou seja, uma formação com participação das crianças, suas
curiosidades e vontades, pois, as crianças também são agentes de formação, elas
provocam e estimulam a viver um processo de formação pautado na experiência.
Experimentar e estar mais próximo das crianças pode não ser um procedimento que
siga regras e exercícios mecânicos, mas trata-se do desenvolvimento de uma
relação e um sentimento de afetividade.

(...) não se trata evidentemente de confinar a questão educacional à


linguagem, mas trata-se da necessidade de pensá-la à luz da linguagem.
(...) não se trata de linguagem vista como repertório, pronto e acabado, de
palavras conhecidas ou a conhecer e de um conjunto de regras a
automatizar; nem da linguagem como tradução de pensamentos que lhes
seriam prévios; menos ainda da linguagem como um conjunto de figuras
de enfeite retórico; e muito menos ainda da linguagem vista como “forma
correta”, ortográfica, de palavras ou sentenças. (...) Trata-se de um
deslocamento para. É eleição de um outro lugar. (GERALDI, 2010)

Uma alfabetização coletiva deve focar em especial não naquilo que as


crianças já sabem, mas naquilo que elas ainda não sabem. O processo deve
compreender “um sistema vivo que pressupõe um diálogo dos aprendizes com o seu
futuro e não um diálogo com o passado para se apropriar da herança cultural de
uma sociedade” (GERALDI; FICHTNER; BENITES, 2006).
Em vista dessa alfabetização conjunta, é preciso repensar o currículo na
alfabetização, diante desse contexto não vemos o currículo como conteúdos e
conhecimentos a serem trabalhados e transmitidos. Este currículo é baseado nas
relações diárias, nos anseios, desejos e curiosidades, formando o que Oliveira
denomina “currículo como criação cotidiana” (2013).
Podemos perceber que no Brasil a escola é responsável pela instrução, pelo
acesso à vida pública e cidadã e possibilita a ascensão social. Durante a história da
alfabetização no país, foram desenvolvidos diferentes métodos para o
ensino-aprendizagem da leitura e da escrita, tais métodos foram sendo criados e
posteriormente substituídos e transformados sofrendo mudanças significativas a fim
de melhorar cada vez mais a educação e as práticas educacionais e solucionar os
problemas e dificuldades enfrentados pelos estudantes. O conhecimento das
crianças, seu reconhecimento, sua realidade e contexto como ser cultural tem papel
relevante no processo de ensino-aprendizagem, esse processo deve respeitar as
necessidades de cada indivíduo, sendo física, emocional ou conhecimentos prévios.
A atual de educação de nosso país, a Política Nacional de Alfabetização
(MEC, 2019) propõe uma padronização com métodos de uso geral de visão estática
acerca da relação entre o que se fala e o que se escreve, inibindo outras formas de
desenvolver a escrita. Essa proposta exclui a participação de profissionais da área e
sua autonomia de decidir como ensinar, não defende princípios voltados para
Educação, além de não defender a expansão de serviços básicos em prol de
condições dignas de ensinar e aprender.
REFERÊNCIAS:

● BOTO, Carlota; GUIRAO, Nathalia C. F.; A Cartilha Maternal, a Cartilha do


Povo e o Caminho Suave: três perspectivas sobre a alfabetização. Revista
Brasileira de Alfabetização, ISSN: 2446-8584, n.12-2020. Disponível em:
https://revistaabalf.com.br/index.html/index.php/rabalf/article/view/399. Acesso
em: 29/08/2021.

● MORTATTI, M. R. L. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Brasília,


2006. Disponível em:
https://fbnovas.edu.br/site/wp-content/uploads/2019/02/Acervo%20em%20PD
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● GERALDI, W. O texto nos processos de aquisição da escrita. Revista


Brasileira de Alfabetização - ABAlf | e-ISSN: 2446-8576, Vitória, ES | v. 1 | n. 5
| p. 174-184 | jan./jun. 2017. Disponível em:
https://revistaabalf.com.br/index.html/index.php/rabalf/article/view/199. Acesso
em: 02/09/2021.

● WEISZ, T. A aprendizagem do sistema de escrita: questões teóricas e


didáticas. Revista Veras, v. 6, n.1, p. 11-20, Ano 2016. Disponível em:
https://site.veracruz.edu.br/instituto/revistaveras/index.php/revistaveras/article/
view/264. Acesso em: 02/09/2021.

● SAMPAIO, C. S.; RIBEIRO, T.; VENÂNCIO, Ana Paula. Alfabetização,


currículo e formação com as crianças: reflexões a partir do cotidiano da
escola. Revista Teias, v. 18, n. 50, p. 69-87, (jul./set.) 2017. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/29378/21
561. Acesso em: 05/09/2021.

● GOULART, C. A propósito da Política Nacional de Alfabetização – MEC –


2019, considerações críticas. Revista Brasileira de Alfabetização - ABAlf |
ISSN: 2446-8584 Belo Horizonte, MG; v.1, n. 10 (Edição Especial), p. 91-93,
jul./dez., 2019. Disponível em:
https://revistaabalf.com.br/index.html/index.php/rabalf/article/view/360. Acesso
em: 07/09/2021.

● FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se


completam / Paulo Freire. 23 ed. São Paulo: Editora Cortez, 2001. p. 11-21.
Acesso em: 08/09/2021.

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