Racismo Estrutural

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Racismo estrutural: conceito, exemplos e como

é no Brasil
Racismo estrutural é a discriminação racial sistemática presente nas estruturais sociais.
Ou seja, é o racismo enraizado na sociedade, que acaba estando presente em todas as
instâncias sociais, sejam institucionais, políticas ou econômicas.

Trata-se do tipo de racismo que já faz parte da cultura de um povo e contribui para a
perpetuação de desigualdades. O racismo estrutural no Brasil tem origem no processo
de colonização e escravização da população indígena e africana a partir do século XV.

Conceito de racismo estrutural


O racismo é estrutural quando a discriminação racial é um dos elementos que compõe a
organização política e econômica de uma sociedade. É assim chamado porque está
presente nas estruturas das instituições.

A definição desse tipo de racismo diz que se trata de um conjunto de práticas


discriminatórias, sejam culturais, institucionais, econômicas, ou outras, que beneficiam um
grupo, causando prejuízo a outro.

Pode-se dizer que todo o racismo é estrutural. Pois, para existir racismo em uma
sociedade é necessário que haja uma produção e disseminação constantes de
preconceitos, assim como discriminação sistemática.

O racismo estrutural fornece a matéria-prima necessária para reprodução e manutenção


de desigualdades e violências. Está tão presente no tecido social, integrante da história e
da cultura, que na maioria das vezes é normalizado, e passa quase a ser invisível para as
pessoas que não fazem parte dos grupos vitimizados.

Para enxergar o racismo estrutural é importante observar as desigualdades raciais de


uma sociedade. É através dessas informações e conhecimento que o racismo se torna
evidente, possibilitando a implementação de medidas e políticas públicas para combatê-
lo.
Exemplos de racismo estrutural
O racismo estrutural se torna evidente quando se analisa as desigualdades raciais de um
país. No Brasil, há vários exemplos que mostram as diferenças de vida entre brancos,
negros e indígenas.

Falta de representatividade política


A estrutura de poder do estado brasileiro evidencia o racismo estrutural. Apesar de mais
de 50% da população brasileira se autodeclarar negra, a maioria dos parlamentares no
Congresso Nacional são pessoas brancas.

Nas eleições de 2022, dos 513 deputados eleitos, somente 135 são negros e 5 indígenas.

Falta de representatividade na mídia


Quando se observa a mídia brasileira, nota-se a pouca representatividade de negros e
indígenas em funções como a de apresentadores de programas de televisão, nos elencos
de filmes e novelas.

Um exemplo que chamou mais atenção foi o da novela "Segundo sol" de 2018. A trama se
passava em Salvador, na Bahia, mas quase todo o elenco era branco.

Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2017, 85% da


população de Salvador é negra. A União de Negros pela Igualdade entrou com uma ação
contra a emissora, alegando que o elenco não representava a população daquela cidade.

Falta de representatividade na liderança de empresas


Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, menos
de 30% dos cargos de liderança nas empresas brasileira são ocupados por pessoas
negras.

Baixo percentual de formação universitária


Apesar de ser maioria entre a população brasileira, os negros ainda são menos presentes
na formação universitária. Segundo dados do IBGE, de 2019, entre os universitários, os
negros são 38,15% dos matriculados. Esse número é um dos mais altos da história,
devido a políticas reparativas, como a das cotas.

A população indígena, que também teve seu acesso à educação negligenciado, ainda tem
dificuldades para ingressar no ensino superior. Entretanto, também tem conseguido
alcançar números mais relevantes com as cotas.
Violência urbana
Conforme o Atlas da Violência 2021, no Brasil, a população negra representa 77% das
vítimas de homicídio. Pessoas negras têm mais do dobro da chance de serem mortas em
contexto de violência, do que pessoas brancas.

Enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 29,2 para a população negras,
para o restante da população o número cai para 11,2%.

Palavras racistas na língua portuguesa


O racismo também é refletido nos aspectos culturais e linguísticos, como expressões e
palavras com base discriminatórias que se difundiram com os anos. Alguns exemplos são
palavras que se utilizam do termo “negro” para referir-se a algo negativo ou que têm
origem nos ideais escravagistas, como:

•Denegrir;

•Lista negra;

•Mercado negro;

•Criado-mudo: tem origem nas pessoas escravizadas, que eram obrigadas a segurar
objetos por horas sem fazer barulhos;

•Mulato: sua origem, da língua espanhola, refere-se ao cruzamento entre um cavalo e


uma mula;

•"Meia tigela": tem origem nos negros escravizados que não conseguiam alcançar
objetivos de trabalho e só recebiam meia tigela de comida;

•Macumba: termo pejorativo para religiões de matriz africana.

Racismo estrutural no Brasil


A condição estruturante do racismo no Brasil é antiga, começou durante a formação do
país enquanto nação. Sendo uma sociedade exploradora e escravagista, a sociedade e a
cultura brasileira foram construídas em cima de valores racistas. Negligenciando
especialmente as populações negras e indígenas.

Como consequência do racismo estrutural, está a manutenção e intensificação da


exclusão, da falta de oportunidades, violência e pobreza para negros e indígenas.
O racismo estrutural começa com a colonização e a escravidão
No século XV, os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil e iniciaram a exploração
do lugar. Os primeiros a serem vítimas desse processo foram os indígenas, que tiveram a
sua cultura desvalorizada, foram escravizados e mortos.

A partir de 1550, os colonizadores trouxeram cerca de 5 milhões de pessoas negras do


continente africano para serem escravizadas nas terras dominadas.

A escravidão durou até 1888 e ao longo desse período a população escravizada esteve
submetida a um regime bárbaro de violências e trabalhos forçados.

O fim da escravidão não acabou com a exclusão social dos negros


Mesmo com o fim da escravidão, em 1888, a população negra não teve o direito de
integrar a sociedade brasileira. Permaneceram sem acesso à terra, educação ou trabalho.

Um exemplo do racismo da época foi o 2º Ato Oficial de Lei Complementar à Constituição


de 1824, que proibia os negros de frequentarem escolas, pois eram “doentes de moléstias
contagiosas”.

A falta de oportunidades para os negros durou décadas após a libertação, que levou com
que essa população vivesse marginalizada nas periferias das grandes cidades, com
péssima qualidade de vida e trabalhando em atividades braçais e mal remuneradas.

Teorias raciais justificavam a manutenção do racismo


A partir do século XVIII, teorias pseudocientíficas disseminavam informações falsas sobre
uma suposta hierarquização de raças humanas, na qual existiriam raças inferiores a
outras.

Essas teorias se difundiram entre os intelectuais brasileiros a partir do século XIX e


davam justificativa para manter a marginalização dos indígenas e negros na sociedade
mesmo após o final da escravidão.

A imigração europeia e a tentativa de "embranquecimento" da população


Após o fim da escravidão foram criadas leis para incentivar a vinda de trabalhadores
europeus para o Brasil. Esses incentivos foram mecanismos para tentar promover o
"embranquecimento" da população brasileira, com oferta de privilégios aos imigrantes.

O Decreto n° 528 de 1890 abria os portões do Brasil para a imigração, com exceção de
“indígenas da Ásia e da África”. Muitos imigrantes europeus (italianos, alemães,
poloneses, entre outros) receberam do Estado brasileiro terras e benefícios para se
estabelecerem no país. Os negros, que já estavam em território brasileiro, não receberam
tais privilégios.

O racismo ainda intensifica as desigualdades sociais


Mais de três séculos de exclusão permitiram que as estruturas de funcionamento da
sociedade brasileira promovessem a continuidade do racismo e a manutenção da
população negra e indígena nas margens da sociedade.

Como consequência desses anos, as populações negra e indígena apresentam mais


dificuldade no acesso ao mercado de trabalho qualificado, oportunidades de estudo e
melhoria da qualidade de vida (como obtenção de saúde de qualidade, segurança e
saneamento básico).

Além desses fatores, ainda existem questões discriminatórias direcionadas a cultura de


origem africana e indígena. Como a antiga criminalização do samba e da capoeira, o atual
preconceito sofrido pelo funk, pelas religiões de matriz africana e pelas tradições
indígenas.

Entenda o que é racismo.

Diferença entre Racismo Individual, Institucional e Estrutural


O racismo tem classificações diferentes, conforme a forma em que acontece. Os
principais tipos de racismo são chamados de individual, institucional e estrutural.

•Racismo individual se refere a atitudes de discriminação e preconceitos raciais praticadas


por indivíduos contra indivíduos.

•Racismo institucional acontece quando as instituições públicas ou privadas agem de


maneira racista, concedendo privilégios a determinados grupos sociais e desvantagens
para outros.

•Racismo estrutural acontece quando a discriminação racial é normalizada e faz parte das
estruturas da sociedade, nas relações sociais, econômicas, culturais e políticas. Nesses
casos, mesmo que pessoas ou instituições sejam punidas por atos racistas, a
responsabilização não reduz as desigualdades.

Por essa razão, especialistas em estudos raciais defendem que a construção de uma
sociedade menos desigual só será possível com o fim do racismo estrutural.

Fontes bibliográficas:

ALMEIDA, S. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2019.


RIBEIRO, D. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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