Racismo, Sexismo, Crise Do Capital e Ofensiva Conservadora

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Sessão temática: Serviço Social, relações de exploração/opressão de gênero,

raça/etnia, sexualidades.
Mesa coordenada Feminismo, direitos e diversidade.

RACISMO, SEXISMO, CRISE DO CAPITAL E OFENSIVA CONSERVADORA:


DESAFIOS À CONSOLIDAÇÃO DA IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO
NAS POLÍTICAS SOCIAIS

ANA PAULA PROCÓPIO DA SILVA1

Resumo: Reflexões preliminares da pesquisa que articula racismo estrutural, crise do capital e
ofensiva conservadora como desafios à consolidação da igualdade racial e de gênero nas
políticas sociais. O racismo e o sexismo fundamentam as sociedades capitalistas pós-coloniais
e dinamizam a hegemonia burguesa. A crise contemporânea do capital agudiza a exploração e
bloqueia o financiamento e a promoção de políticas públicas de igualdade racial e de gênero no
interior das políticas sociais. O conservadorismo como condicionamento ideológico da classe
trabalhadora imputa como naturais as desigualdades determinadas por raça e gênero.
Palavras-chave: Crise do Capital; Equidade de Raça e Gênero em Políticas Públicas;
Igualdade Racial; Ofensiva Conservadora; Racismo Estrutural.

Abstract: Preliminary reflections on research articulating structural racism, capital crisis and
conservative offensive as challenges to the consolidation of racial and gender equality in social
policies. Racism and sexism underpin post-colonial capitalist societies and energize bourgeois
hegemony. The contemporary crisis of capital sharpens the exploitation and blocks the
financing and promotion of public policies of racial and gender equality within social policies.
Conservatism as the ideological conditioning of the working class impute as natural the
inequalities determined by race and gender.
Keywords: Capital Crisis; Race and Gender Equity In Public Policies; Racial Equality;
Conservative Offensive; Structural Racism.

1. INTRODUÇÃO

Na formação sócio-histórica brasileira o racismo é um dos componentes


que fundamenta as relações sociais. Nesse sentido, mesmo os direitos sociais
resultantes das reinvindicações e lutas da classe trabalhadora sociedades são
marcados pela naturalização das iniquidades raciais. E o antagonismo de
classe acirrado nas últimas décadas com a crise estrutural do capital, a
prevalência da lógica neoliberal e a ofensiva do pensamento conservador no
Brasil e no mundo são fenômenos que aprofundam as desigualdades.

1
Professora com formação em Serviço Social. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. E-mail:
<[email protected]>.

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O acesso aos indicadores sociais brasileiros revela a disparidade no
acesso à bens e serviços públicos e a violência sistemática contra as
populações negras desmistifica a existência de uma real democracia racial no
país. Por exemplo, a desigualdade das mortes violentas por raça/cor, que se
acentuou nos últimos dez anos,

[...] quando a taxa de homicídios de indivíduos não negros diminuiu


6,8%, ao passo que a taxa de vitimização da população negra
aumentou 23,1%. Assim, em 2016, enquanto se observou uma taxa
de homicídio para a população negra de 40,2, o mesmo indicador
para o resto da população foi de 16, o que implica dizer que 71,5%
das pessoas que são assassinadas a cada ano no país são pretas ou
pardas. (IPEA, 2018, p. 5)

A relação entre racismo e sexismo aparece particularmente nos dados


sobre as mulheres negras, configurando o entrelaçamento perverso entre raça,
gênero e classe no país. Segundo o IPEA, no período entre 2006 e 2016, a
taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não
negras (brancas, amarelas e indígenas). Ainda de acordo com os dados do
Atlas da Violência 2018, foi apurado que em 2016, 4.645 mulheres foram
assassinadas no país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada
100 mil brasileiras. Em dez anos, observa-se um aumento de 6,4% nesta taxa.
Contudo,

Desagregando-se a população feminina pela variável raça/cor,


confirma-se um fenômeno já amplamente conhecido: considerando-
se os dados de 2016, a taxa de homicídios é maior entre as mulheres
negras (5,3) que entre as não negras (3,1) – a diferença é de 71%.
Em relação aos dez anos da série, a taxa de homicídios para cada
100 mil mulheres negras aumentou 15,4%, enquanto que entre as
não negras houve queda de 8% (IPEA, 2018, p. 52)

Os dados desagregados pelas categorias de gênero e raça são básicos


para entender a violência letal contra a mulher como resultado da produção e
reprodução das iniquidades sociais determinadas pelo racismo e sexismo.

Em contrapartida, a crise econômica, de dimensões globais, agrava o


quadro historicamente vivenciado, sobretudo, pelas mulheres negras, de
desigualdades econômicas e sociais.

Prevalecem, no Brasil, de maneira densa, as ideias de mestiçagem e


democracia racial, em contraposição às ideias de identidade negra
forjadas pelos movimentos negros, cujos projetos em disputa têm
permeado as arenas de luta no campo social e político. Neste

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cenário, algumas conquistas dos movimentos negros são garantidas
através da implantação de políticas de ações afirmativas para a
população negra na educação (educação básica, ensino fundamental,
médio e superior), no mercado de trabalho, na política de saúde etc.,
em consonância aos preceitos constitucionais e dentro dos limites
jurídicos normativos do Estado de Direito. Longe da garantia de
atendimento às suas necessidades mínimas, a população negra é o
segmento populacional que ocupa, maciçamente, a base da pirâmide
social, e sua presença no topo é quase inexistente (ALMEIDA, 2014,
p.132).

O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


demonstrou uma alteração na composição racial brasileira, na qual a
população negra passou a figurar como maioria em relação à população
branca. No referido censo os negros (somatório de autodeclarados pretos e
pardos) no Brasil corresponderam a 96,7 milhões de indivíduos – 50,7% dos
residentes.

De acordo com os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios (PNAD), encerrada em 20152, a população residente no Brasil foi
estimada em 204,9 milhões de pessoas e as populações negras, se
mantiveram como maioria na população: 54% (45,1 – pardos; 8,9 – pretos) e
45,2% de brancos. Este aumento progressivo verificado desde a primeira
metade do século XX e intensificado no período de 2003- 2014 se deve,
sobretudo à ampliação do número de indivíduos que se reconhecem como
pretos ou pardos.

Contudo, o fato censitário não significa que os acessos às políticas


sociais ocorram qualitativamente na mesma proporção. As populações negras
continuam apresentando os níveis mais altos de pobreza associados ao menor
acesso aos serviços básicos de saúde e saneamento ambiental. Portanto,
problematizar em termos de equidade racial o alcance das políticas sociais

2 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD iniciada em 1967, de periodicidade anual, foi
encerrada em 2016, com a divulgação das informações referentes a 2015. Planejada para produzir
resultados para Brasil, Grandes Regiões, Unidades da Federação e nove Regiões Metropolitanas (Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre)
pesquisava, de forma permanente, características gerais da população, educação, trabalho, rendimento e
habitação, e, com periodicidade variável, outros temas, de acordo com as necessidades de informação
para o País, tendo como unidade de investigação o domicílio. A PNAD foi substituída, com metodologia
atualizada, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua. de cobertura
territorial mais abrangente e disponibilização de informações conjunturais trimestrais sobre a força de
trabalho em âmbito nacional. (Fonte: www.ibge.gov.br)

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universais, implica entender sua interface com a trajetória de institucionalização
das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil.

Concordamos que, “[...], o racismo não é apenas um problema ético,


uma categoria jurídica ou um dado psicológico. Racismo é uma relação social,
que se estrutura política e economicamente” (ALMEIDA, 2016, p. 23). Partindo
dessa concepção, a luta antirracista demanda o enfrentamento político de
identificar o Brasil como um país institucionalmente racista e, portanto,
obrigado a promover políticas públicas de promoção de igualdade racial. E
ultrapassar paradigmas conservadores, cujo discurso centrado na igualdade de
oportunidades e no mérito individual procura refutar os dados da realidade e
reduzir recursos públicos para intervenções de combate às desigualdades
historicamente constituídas. De outro lado, implica em revisão de valores e
mudanças de atitudes, com base no reconhecimento da hegemonia ideológica
da branquitude3 nas sociedades colonizadas e dos privilégios materiais e
imateriais dos sujeitos que a detém, mesmo aqueles que não os advogam. Pois
trata-se de uma hegemonia que se sustenta paralelamente à ausência de
afirmações da história e do pensamento intelectual das populações negras.

2. O RACISMO: ESTRUTURAL E ESTRUTRANTE DAS RELAÇÕES


SOCIAIS

O racismo é parte estrutural de uma racionalidade instituída para ser a


norma de compreensão e manutenção das relações sociais. Não se trata,
portanto, de uma anomalia no interior de um sistema, e sim do modo próprio de

3 Os termos branquidade e branquitude, em geral, referem-se às situações de privilégio que os indivíduos


brancos detêm nas sociedades estruturadas pelas hierarquias raciais. Ruth Frankenberg define o conceito
de branquidade em oito pontos: 1. A branquidade é um lugar de vantagem estrutural nas sociedades
estruturadas na dominação racial; 2. A branquidade é um ‘ponto de vista’, um lugar a partir da qual nos
vemos e vemos os outros e as ordens nacionais e globais; 3. A branquidade é um lócus de elaboração de
uma gama de práticas e identidades culturais, muitas vezes não marcadas e não denominadas, ou
denominadas como nacionais ou “normativas”, em vez de especificamente raciais; 4. A branquidade é
comumente redenominada ou deslocada dentro das denominações étnicas ou de classe; 5. Muitas vezes,
a inclusão na categoria “branca” é uma questão controvertida e, em diferentes épocas e lugares, alguns
tipos de branquidade são marcadores de fronteira da própria categoria; 6. Como lugar de privilégio, a
branquidade não é absoluta, mas atravessada por uma gama de outros eixos de privilégio e subordinação
relativos; estes não apagam nem tornam irrelevante o privilégio racial, mas o modulam ou modificam; 7. A
branquidade é produto da história e é uma categoria relacional. Como outras localizações raciais, não tem
significado intrínseco, mas apenas socialmente construído. Os significados da branquidade têm camadas
complexas e variam localmente e entre os locais; além disso, seus significados podem parecer
simultaneamente maleáveis e inflexíveis; 8. O caráter relacional e socialmente construído da branquidade
não significa que esse e outros lugares raciais sejam irreais em seus efeitos materiais e discursivos
(FRANKENBERG, 2004, p. 312 – 313).

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funcionamento das sociedades ocidentais contemporâneas. Afirmar que o
racismo é estrutural significa pensá-lo como fundamento de tais sociedades, o
que abrange as dimensões da economia, da política e da cultura. De outra
parte, o racismo também é estruturante, então atua como elemento dinâmico
que favorece, condiciona e mantém um tipo específico de racionalidade. Ou
dito de outra forma, é agente expressivo que articulado a outros, como o
patriarcado e o sexismo, impede a erosão das relações de exploração e das
condições de opressão presentes em todas as expressões da vida social.

A racionalidade aludida tem seu marco histórico demarcado pelos


processos de colonização das Américas e da construção de um novo modelo
de espaço/tempo que se espraia mundialmente como padrão de poder. Quijano
(2005) considera como eixos fundamentais dois processos históricos que
convergiram e se associaram na produção do referido espaço/tempo: 1) A
codificação hierárquica das diferenças entre conquistadores e conquistados
sintetizada na ideia de raça4, que situava a uns em situação natural de
inferioridade em relação a outros, como uma ideia constitutiva, fundacional das
relações de dominação que a conquista exigia; 2) A articulação de todas as
formas históricas de controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos,
em torno do capital e do mercado mundial, que nas Américas foi sintetizado em
um modo de produção baseado no latifúndio, na monocultura e no trabalho
escravo.

No processo de constituição das Américas, todas as formas de controle


e de exploração do trabalho e de controle da produção-apropriação-distribuição
de produtos foram articuladas em torno do acúmulo de capital e da expansão
do mercado mundial. Isso significa que a escravidão, a servidão, a pequena

4O uso do termo raça ao longo do trabalho não tem cunho biológico, contudo a invalidação científica do
conceito de raça não elimina sua influência como categoria social carregada de ideologia, visto que atua
na manutenção das relações de poder e dominação. Também não usaremos o termo entre aspas (“raça”)
porque o entendemos como uma categoria socialmente construída, assim como gênero, sexo e classe, ou
seja, resultante de produção histórica e ideológica. Em termos conceituais o conteúdo de raça está
baseado no componente morfo-biológico e o da etnia é sociocultural, histórico e psicológico. Assim, um
conjunto populacional referenciado como raça branca ou raça negra, pode conter no seu interior
diferentes etnias. A etnia constitui um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente têm um
ancestral comum, uma língua em comum, uma mesma religião, uma mesma cultura e/ou convivem num
mesmo território. No entanto, a ideias sobre raça e etnia são também ideologicamente manipuladas e
demandam um trato crítico, considerando que o complexo categorial que as envolve transformando-as em
questão etnicorracial não é uma entidade estática (MUNANGA, 2003).

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produção mercantil, a reciprocidade e até o assalariamento estavam diretas ou
indiretamente vinculadas ao sistema em desenvolvimento. E cada um desses
modos de controle do trabalho não pode ser considerado mera extensão de
seus antecedentes históricos, precisam ser historicizados como categorias
sociológicas novas, na medida em que, naquele contexto não apenas existiam
de maneira simultânea no espaço/tempo, mas todos e cada um estavam
articulados com o capital e com seu mercado, e por esse meio entre si.

Na medida em que aquela estrutura de controle do trabalho, de recursos e de


produtos consistia na articulação conjunta de todas as respectivas formas
historicamente conhecidas, estabelecia-se, pela primeira vez na história conhecida,
um padrão global de controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos. E
enquanto se constituía em torno de e em função do capital, seu caráter de conjunto
também se estabelecia com característica capitalista. Desse modo, estabelecia-se
uma nova, original e singular estrutura de relações de produção na experiência
histórica do mundo: o capitalismo mundial (QUIJANO, 2005, p. 108).

As novas identidades produzidas a partir da ideia de raça foram


associadas com a natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de
controle do trabalho. Assim, raça e divisão do trabalho estruturalmente
associadas passaram a reforçar-se mútua e dinamicamente, ao mesmo tempo
em que também se articularam com a opressão ao gênero feminino. E ainda
que raça, divisão do trabalho e gênero não dependam entre si para existir ou
transformar-se, mesmo assim impôs-se em nível global um sistemático
entrelaçamento entre divisão racial e de gênero do trabalho que se reatualiza.

As relações sociais fundadas no sentido moderno de raça produziram


nas Américas identidades sociais historicamente novas: índios, negros e
mestiços. E redefiniram outras. Assim, termos como espanhol, português e
europeu, que até então indicavam procedência geográfica, adquiriram também,
em relação às novas identidades, uma conotação racial. E na medida em que
as relações sociais que se estavam configurando eram relações de dominação,
tais identidades foram associadas às hierarquias, lugares e papéis sociais
correspondentes, como constitutivas e reflexas do padrão de dominação que
se impunha. Raça e identidade racial se estabeleceram como instrumentos de
classificação básica da população. “Isso se expressou, sobretudo, numa quase
exclusiva associação da branquitude social com o salário e logicamente com os
postos de mando da administração colonial” (QUIJANO, 2005, p. 108).

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No século XIX com os movimentos nacionais de luta contra o
colonialismo e a emergência do imperialismo, o racismo foi remanejado em sua
função instrumental. As metrópoles passaram a identificar as antigas áreas
coloniais como habitadas por povos indolentes, incapazes de criar uma
poupança interna que os elevasse ao nível dos países brancos, que tinham
estes predicados e se desenvolveram, ao contrário do mundo não-branco que,
por esta razão, permaneceria subdesenvolvido. O imperialismo multiplicou as
formas do racismo, “modernizou-o” na medida em que houve a necessidade de
uma arma de dominação mais sofisticada. É precisamente o entendimento
acerca do papel econômico, ideológico e político do racismo nas sociedades
pós-coloniais que possibilita a compreensão de sua dinâmica e da constante
reatualização de sua polimorfia (MOURA, 1994).

O racismo assume a forma de racionalidade intrínseca ao sistema


político e econômico dominante e incorpora-se ao pacote de respostas do
capitalismo às suas crises. Nesse sentido, o racismo contemporâneo,
componente dinâmico das relações sociais tem um significado mais abrangente
e eficaz de instrumento ideológico de dominação, o racismo institucional5,
fenômeno que perpassa todas as relações sociais, porém, não pode ser
atribuído ao indivíduo isolado, pois se expressa na desconsideração
sistemática dos preconceitos em relação às especificidades étnico-raciais, o
que reitera a reprodução de práticas discriminatórias nas diversas instituições.

Por outro lado, em tempos de acirramento da crise econômica as


iniciativas de implantação de projetos e programas antirracistas são solapadas
pela justificativa de racionalização de recursos e operacionalização de

5 O termo racismo institucional foi introduzido em 1967pelos ativistas negros Stokely Carmichael e
Charles V. Hamilton, em Black Power: The politcs of liberation in America e refere às operações anônimas
[ou não] de discriminação em organizações, profissões, ou até mesmo sociedades inteiras. É anônimo na
medida em que os indivíduos podem negar a acusação de racismo e se abster da responsabilidade. [...]
se o padrão de exclusão persiste, as causas devem ser procuradas nas instituições [...] nas suposições
não expressas nas quais tais organizações baseiam suas práticas e nos inquestionáveis princípios que
porventura possam usar. [...] A força do racismo institucional está em capturar as maneiras pelas quais
sociedades inteiras, ou seções delas, são afetadas pelo racismo, ou talvez por legados racistas, muito
tempo depois dos indivíduos racistas terem desaparecido. O racismo residual pode não ser reconhecido,
nem ser intencional, mas, se não for exposto, permanecerá (CASHMORE, 2000, p. 469-471).

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planejamentos cujas prioridades desconsideram o racismo como mantenedor
das desigualdades.

3. CRISE DO CAPITALISMO E OFENSIVA DO PENSAMENTO


CONSERVADOR

O capitalismo como modo de produção dominante na sociedade


contemporânea é produção não apenas dos meios materiais de vida, mas
também das relações sociais, em que tudo passa a ser controlado pela lógica
de valorização do capital, sem que se leve em conta os imperativos humanos
vitais. A produção e o consumo supérfluos, a corrosão e precarização do
trabalho, o desemprego estrutural e a destruição da natureza em escala global,
imperiosos para a expansão do capital, são interpretados como efeitos
colaterais cuja caráter destrutivo e incontrolável são justificados pela
expectativa de futuras benesses do desenvolvimento.

No pós 2ª guerra mundial, especialmente a partir dos anos 1960 o


sistema global do capital depois de vivenciar a era dos ciclos e das chamadas
ondas longas de prosperidade adentra uma nova fase, inédita, de crise
estrutural, marcada pela continuidade de efeitos depressivos. A crise se mostra
longeva, sistêmica e estrutural e demarca a falência dos principais sistemas
estatais de controle e regulação do capital no século XX exemplificados pela
União da Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS e pelo Estado de Bem-
Estar instituído em algumas sociedades capitalistas centrais (ANTUNES,
2009).

A crise contemporânea é estrutural por ser uma crise na própria


realização do valor – expressa nas crescentes quedas das taxas de lucro –, por
isso na atualidade o capital não pode mais se desenvolver sem recorrer a taxa
de utilização decrescente do valor de uso das mercadorias. Ou seja, é cada
vez menos considerado o valor concreto das mercadorias para suprir as
necessidades humanas, que cada vez mais se subordinam à esfera da
lucratividade. Em decorrência as reformas, os ajustes econômicos e a redução
das políticas sociais aprofundam essa subordinação. Assim, uma mercadoria
medicamento, por exemplo, necessária para a manutenção da vida, pode ter

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seu valor de uso realizado imediatamente, ou jamais ser acessada por quem
dela necessita, sem deixar de ter sua utilidade essencial para o capital.

O objetivo de auto reprodução do capital é continuamente mascarado


ideologicamente sob os critérios de racionalidade, eficiência, eficácia e
efetividade. E de forma concomitante avançam a corrosão do trabalho em
escala global, a erosão do trabalho regulado dominante no século XX e a
ampliação das suas formas desprotegidas: empreendedorismo, cooperativismo
e voluntariado que oscilam entre a superexploração e a auto exploração. É
uma precarização estrutural da força de trabalho, mas que penaliza mais
fortemente os segmentos não-brancos e femininos.
A crise econômica e política é veiculada como uma “crise de confiança
do mercado” no gerenciamento das contas do Estado cuja saída prioritária é a
prerrogativa do ente privado na execução dos gastos públicos, ou seja, a
gestão mais direta possível do fundo público pelo mercado. A solução da crise
econômica é socializar as perdas do capital sobre a classe trabalhadora como
um todo, seja pela via de redução dos salários diretos e/ou pelo
contingenciamento dos salários indiretos, atingido mais largamente as
populações negras, que são a maioria dos que demandam e acessam políticas
públicas como garantia de sobrevivência.

Na contemporaneidade, o neoliberalismo como forma imperante de


racionalidade impele para uma organização dos recursos que reduz
significativamente o financiamento das políticas públicas de Estado para as
populações pobres, que são majoritariamente negras. Como resposta à crise
financeira são executados ajustes fiscais em relação aos gastos do Estado com
políticas públicas, justificadas como medidas de contenção da crise, mas que
se configuram na realidade em condicionamentos ideológicos da classe
trabalhadora, no sentido de desestimular quaisquer lutas por direitos. Na
proporção em que as reais necessidades societais não são prioritárias, o que
se descarta em verdade são as existências daqueles que não tem condições
para acessar as mercadorias e bens. Na escala social hierárquica e racialista
as vidas de extensas populações negras e não brancas são reduzidas à
percentuais de gastos que precisam ser diminuídos.

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É através desses processos que o conservadorismo moderno é
impulsionado em contexto de crise estrutural do capital. E sendo fruto do
período da emersão da burguesia como classe protagonista, este
conservadorismo reveste-se ora de apego ao tradicionalismo, ora de adesão ao
tecnicismo e à neutralidade, porém sempre tendo como base a manutenção e
universalização das relações de troca e da mercadoria como mediadora por
excelência das relações sociais e o lucro como o motor da sociedade.

As categorias típicas do racionalismo capitalista como o individualismo, a


concorrência e a meritocracia são reelaboradas para exaltar formas de vida
que já foram historicamente dominantes, mas que reatualizadas são
consideradas válidas para a organização da sociedade atual. Os modos de
vida do passado são resgatados e propostos como interpretações do presente.

Através desse mecanismo, o pensamento conservador deixa de se contrapor ao


capitalismo. Aquela tensão referida – entre noções e ideias oriundas do passado,
mas intencional e racionalmente ressuscitadas como ideologicamente válidas para
responder às necessidades de explicação da própria sociedade capitalista – permite
que ele seja articulado às intenções básicas da burguesia, isto é, seja uma forma de
agir e de pensar a sociedade a partir da perspectiva dessa classe. Martins analisando
a ambiguidade presente no pensamento conservador, sustente que racionalismo e
conservadorismo são duas maneiras de viver e de ver a sociedade, portanto dois
pensamentos, integrados a um único estilo de pensamento, que exprime um modo de
vida: o da sociedade capitalista (IAMAMOTO, 1992, p.26, grifos do autor).

O funcionamento racional da sociedade capitalista é racista e sua


continuidade demanda a naturalização da violência contra as populações
negras e a perpetuação de assimetrias de gênero combinadas com valores
morais tidos como pilares da ordem social.

O pensamento conservador atinge todas as instâncias da vida e nesse


sentido, a manutenção da propriedade privada, os fundamentalismos
religiosos, o reforço das hierarquias tradicionais na família e a ênfase
nacionalista para a cooperação com as decisões do Estado são alguns
exemplos. E para a implementação de cada uma das soluções racionais da
crise há correspondentes valores morais que são reforçados. Por conseguinte,
a ofensiva do pensamento conservador em tempos de crise não é coincidência,
mas uma necessidade estratégica de conjugar aspectos econômicos, políticos

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e culturais na direção mais favorável ao capital que atingem diretamente as
políticas de igualdade racial que tem sido implementadas pelo Estado no Brasil.

Nestes termos, a equidade, como princípio da igualdade racial é uma


estratégia potente contra as ordenações hegemônicas, na medida em que sua
proposição está baseada na superação de condições sociais concretas de
desigualdade materializadas através dos dados e índices produzidos em todas
as dimensões da vida social.

4. ELEMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS PARA PENSAR A IGUALDADE DE


RAÇA E GÊNERO NAS POLÍTICAS SOCIAIS

Este momento do país, pela sua criticidade política e econômica


caracterizada por uma feroz retroação dos direitos adquiridos com a
Constituição de 1988 é oportuno para pautar no interior das políticas sociais o
antirracismo e o antisexismo.

Por outro lado, também são 130 anos de uma abolição sem
emancipação, e, cabe, portanto, a reflexão crítica sobre os desdobramentos de
uma lei que extinguiu juridicamente a escravidão, mas permitiu a manutenção
de relações de trabalho em bases escravistas, quando não instituiu nenhuma
proteção social para os ex-escravizados, “para que possa voltar-se sobre si
mesma e reconhecer nas suas contradições internas as profundas
desigualdades raciais que a caracterizam” (Gonzalez, 1988, p. 12).

A sociedade brasileira em nenhum momento foi habitada por “homens


cordiais”. Muito menos dentro de um sistema que promovia a desumanização
das/os escravizadas/os para justificar a sua mercadorização e exploração do
seu trabalho. A desumanização da/o escravizada/o foi uma ideologia bem
montada para fins práticos. Até porque ser escravo era uma condição jurídica,
respaldada pelo Estado e pela Igreja católica, que apenas podia ser revogada
pela alforria concedida pelo senhor.

No Brasil contemporâneo a ideia de propriedade das coisas extensivo às


pessoas não existe mais como um sistema legalizado, porém sua forma
simbólica persiste na ultra precarização dos contratos de trabalho, que

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condiciona as/os trabalhadoras/es numa obediência desmesurada aos patrões,
submetidas/os a condições desumanas por receio da perda do emprego.
Inclusive trabalhar sem receber passa a ser encarado como uma alternativa
melhor que o desemprego.

É nas condições de precarização mais extremas que encontramos


majoritariamente o segmento feminino negro, o que nos impele para uma
reflexão que necessariamente incorpora o gênero e mais precisamente a
situação inferiorizada da mulher negra na sociedade capitalista.

No caso das mulheres negras precisamos nos remeter ao fato de que na


sucessão do escravismo para o capitalismo a racionalização sobre elas foi
reinterpretada com vistas a formação de mecanismos de barragem social. Na
sociedade escravocrata, as escravizadas serviam como instrumento de
trabalho e objeto de uso sexual. Os filhos nascidos das relações com os
senhores brancos eram também escravos. Posteriormente, a exploração
sexual foi apresentada como prova de democracia racial.

A miscigenação, dentro dos quadros da sociedade escravista, tão


louvada por esses estudiosos, nada mais foi do que a mais
desbragada exploração sexual da mulher escrava [...]. Esse
intercurso sexual que muitos sociólogos apresentam como virtude do
colonizador, que desta forma, se teria mostrado democrata e
compreensivo é outro mito que precisa ser desmontado nas suas
diversas partes e desmistificado [...]” (MOURA, 1977, p. 57).

As bases materiais e simbólicas da opressão das mulheres no mundo


contemporâneo têm como fundamento o patriarcado capitalista, que constitui
um alicerce comum para o encaminhamento das lutas feministas, mas esta
dimensão sozinha não alcança a totalidade das mulheres atingidas por essa
discriminação.

Ao demonstrar, por exemplo, o caráter político do mundo privado,


desencadeou todo um debate público em que surgiu a tematização
de questões totalmente novas – sexualidade, violência, direitos
reprodutivos etc. – que se revelaram articulados as relações
tradicionais de submissão. Ao propor a discussão sobre sexualidade,
o feminismo estimulou a conquista de espaços por parte de
homossexuais de ambos os sexos, discriminados pela sua orientação
sexual. O extremismo estabelecido pelo feminismo fez irreversível a
busca de um modelo alternativo de sociedade. Graças a sua
produção teórica e a sua ação como movimento, o mundo não foi
mais o mesmo (GONZALEZ, 1988, p. 13).

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A reflexão sobre a categoria trabalho foi ampliada com a aquisição do
feminismo, pois o trabalho doméstico (massa de trabalho realizada
gratuitamente pelas mulheres sob a justificativa de sua propensão natural para
cuidar da família) passou a ser analisado como atividade e questionado em
termos de opressão, com o mesmo peso do trabalho profissional.

Movimento similar ocorreu em relação a família como entidade natural o


que fez emergir sua percepção como lugar de exercício de um trabalho que
tem implicações na dinâmica de produção e reprodução das relações sociais
da sociedade capitalista. E no âmbito das ciências sociais ocorreu também um
questionamento à primazia do trabalho produtivo e da figura do trabalhador
masculino, qualificado e branco nos estudos sobre o trabalho na sociedade.

Contudo, mesmo com as contribuições fundamentais do feminismo para


o debate das discriminações, por exemplo, no campo da sexualidade, a mesma
articulação não ocorreu em relação às discriminações raciais. Gonzalez (1988)
aponta que geralmente os textos e a prática feminista “esquecem” a questão
racial ou fazem referências formais, caracterizando-se como um racismo por
omissão, cujas raízes estão em uma visão de mundo eurocêntrica da realidade.

[...] o feminismo latino-americano perde muito da sua força ao abstrair um dado da


realidade que é de grande importância: o caráter multirracial e pluricultural das
sociedades dessa região. Tratar, por exemplo, da divisão sexual do trabalho sem
articulá-la com seu correspondente em nível racial, é recair numa espécie de
racionalismo universal abstrato, típico de um discurso masculinizado e branco. Falar
da opressão da mulher latino-americana é falar de uma generalidade que oculta, que
tira de cena a dura realidade vivida por milhões de mulheres que pagam um preço
muito caro pelo fato de não serem brancas. [...] (p. 14).
Refletindo sobre as condições do feminismo negro nos Estados Unidos,
a intelectual bel hooks6 (2015) nos aponta questões importantes para
refletirmos sobre a mistificação consciente das divisões sociais entre mulheres
como um fato que caracteriza grande parte da expressão feminista, inclusive
no Brasil. Isso por que o discurso feminista hegemonizado pelas mulheres
brancas não aborda a sua própria condição no interior de uma supremacia

6bell hooks é o pseudônimo de Gloria Jean Watkins, professora e escritora norte-americana nascida em
1952, no Kentucky – EUA. O apelido escolhido para assinar suas obras é uma homenagem aos
sobrenomes da mãe e da avó. A grafia proposital em letras minúsculas é justificada em frase da própria
bell: “o mais importante em meus livros é a substância e não quem sou eu”.

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Anais do 16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social


branca, ou seja, a sua condição racial e de classe relativamente privilegiada
dentro de um Estado racista, sexista e capitalista.

A autora chama a atenção para a homogeneização da condição social


das mulheres nos textos de feministas como Betty Friedan (A mística feminina)
que advogam por uma igualdade a partir de sua condição e necessidades de
classe média, que anseiam por “algo mais do que marido, filhos e casa”. Essa
generalização do que oprime as mulheres exclui um número expressivo de
mulheres sem homem, sem filhos, sem casa, mulheres não brancas e brancas
pobres cujos empregos precários e subalternos não estavam no rol do “algo
mais”.

As opressões enfrentadas pelas mulheres da classe média não são


menos significativas do que das demais, porém foram transformadas em uma
condição comum para todas, o que não corresponde à realidade. Enquanto
para as mulheres descritas por Friedan a libertação do trabalho doméstico
correspondia à liberdade do trabalho assalariado fora de casa, para as
mulheres pobres o trabalho assalariado representava a outra ponta da jornada
acumulada com o trabalho de casa.

A perspectiva unidimensional da realidade das mulheres ainda se coloca


como característica do movimento feminista e das suas produções intelectuais,
pois raramente as mulheres que dominam este discurso questionam se as suas
ideias sobre a realidade se aplicam às experiências de vida das mulheres como
coletivo. E também não se colocam a reponsabilidade de que suas reflexões
sobre gênero abranjam a articulação estrutural entre as relações raciais e de
classe, especialmente nos países que passaram por séculos de experiências
de escravidão, onde a estruturação das relações foi perpassada pela extrema
violência contra as mulheres dos povos originários, africanas escravizadas e
suas descendentes.

As sociedades capitalistas se caracterizam por uma destinação


prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva,
ao mesmo tempo em que recobre as funções ditas masculinas (políticas,
religiosas, militares etc.) com fortes valores sociais e preponderância na

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manutenção da organização social. As mulheres enfrentam então uma dupla
espoliação, como classe trabalhadora privada dos meios de produção e como
gênero oprimido nas relações familiares e sociais, o que configura a
contestação da sociedade patriarcal como estratégica para oposição ao
capitalismo. Porém, a formas de subordinação das mulheres não estão restritas
ao conflito de classes.

Como grupo, as mulheres negras ocupam uma posição incomum nas


sociedades contemporâneas, pois além de estarem coletivamente na base da
estrutura social sofrem o fardo triplo da exploração e opressão machista,
racista e classista. É uma condição exemplificada da seguinte forma:

[...] Homens negros são vitimados pelo racismo, mas o sexismo lhes permite atuar
como exploradores e opressores das mulheres. As mulheres brancas podem ser
vitimizadas pelo sexismo, mas o racismo lhes permite atuar como exploradoras e
opressoras de pessoas negras. Ambos os grupos têm liderado os movimentos de
libertação que favorecem seus interesses e apoiam a contínua opressão de outros
grupos. O sexismo masculino negro prejudicou a luta para erradicar o racismo, assim
como o racismo feminino branco prejudica a luta feminista. Enquanto definirem a
libertação como a obtenção de igualdade social com os homens brancos da classe
dominante, esses dois grupos, ou qualquer outro, terão um grande interesse na
exploração e opressão continuada de outros (HOOKS, 2015, p.207).

O desenho das políticas sociais, mesmo aquelas voltadas para os


direitos identitários, como as políticas para as mulheres ainda oculta a relação
entre racismo, sexismo e iniquidade. O que sobressai é uma ideia abstrata de
identidade universal de gênero desvinculada do contexto sócio-histórico e das
condições objetivas em que os direitos se constituíram no país. Fica encoberto
o fato de que as condições raciais modelam a ideologia do trabalho e a questão
social.

Em contrapartida, temos que o Brasil desde a promulgação da


Constituição de 1988 tem demarcado um arcabouço legislativo balizado por
concepções de equidade no acesso aos direitos sociais. Este processos
indicam o movimento político para colocar o respeito à diversidade no âmbito
das políticas públicas. Mas, embora, a conquista formal de direitos tenha
validade e significado para a luta antirracista, a superação das desigualdades
raciais é uma questão política ainda a ser ampliada junto aos segmentos
identificados com as lutas por uma transformação social democrática.

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Isso porque o racismo e o sexismo são relações sociais, sendo por isso
providos de materialidade, historicidade e conteúdos de dominação econômica,
política e cultural. Por isso, a sua superação transborda os vieses culturalistas
e identitários (sem excluí-los) para articular a dimensão da luta de classes e
compreendê-lo nos processos dinâmicos de acumulação de capital e como
questão a ser enfrentada politicamente no âmbito do Estado e no nível das
lutas concretas dos trabalhadores.

5. CONCLUSÃO

As condições de classe e raça criam uma diversidade de experiências


que são determinantes no modo como o sexismo será uma força opressiva na
vida das mulheres. A experiência de classe envolve a relação com os meios de
produção e as experiências (determinadas pela classe) que produzem e
reproduzem a forma como pensamos e agimos, o que reafirma que a luta de
classes é indissolúvel das lutas contra o racismo e sexismo.

As reflexões preliminares expostas serão adensadas no decorrer da


pesquisa pela continuidade e aprofundamento da prospecção e análise dos
conteúdos referentes ao acompanhamento das políticas de igualdade de
gênero nos periódicos Políticas Sociais: acompanhamento e análise do Instituto
de Pesquisa Econômica e Aplicada- IPEA e de outros órgãos oficiais,
sistematização das legislações pertinentes, rastreamento do fluxo das
execuções orçamentárias para a Secretaria de Políticas para Mulheres desde a
sua criação e mapeamento das estratégias intersetoriais envolvendo raça e
gênero nas políticas sociais públicas.

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