Ied Ava4 Material Didático
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Processo legislativo
Expressão do Poder Legislativo.
Jurisdição
Corresponde ao Poder Judiciário.
Uso e costumes jurídicos
Exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimo do povo.
Fonte negocial
Expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade.
Importante observar que o entendimento de Reale identifica como fonte o processo legislativo em
si, e não as leis que dele decorrem; a jurisdição em si, e não a jurisprudência produzida por ela; os
usos e costumes como poder social, mas não o procedimento de sua formação; a fonte negocial em
si, e não o processo em si de externalização da autonomia privada. Por isso, é importante destacar
que:
O que a Idade Moderna vem revelar sobre o Direito é que, com essa divisão dos sistemas em Civil
Law e Common Law, definitivamente pautaram-se os parâmetros para toda e qualquer interpretação ou
formulação teórica posterior. Os sistemas de direito da família romano-germânica configuraram-se como
sistemas fechados, enquanto o Common Law configurou-se como um sistema aberto, onde novas regras são
continuamente reveladas e fundadas na razão, a grande rainha desse período (BAGNOLI; BARBOSA;
OLIVEIRA, 2014, p. 93).
Isso não significa que um sistema seja preferível ao outro ou que não tenham absolutamente nada
em comum, significa, antes, que são sistemas que se organizaram a partir de fundamentos distintos
que seguiram caminhos bastante diversos.
1.1 Formação do sistema continental
O chamado sistema continental não tem sua origem de modo uniforme ou simultâneo em todo o
continente, considerando que é tributário da formação dos Estados Nacionais e que estes, por sua
vez, não se erigiram todos no mesmo momento histórico. Dentre as muitas exigências que a
unificação de um Estado comporta, uma delas é a de um ordenamento jurídico que seja reflexo da
soberania daquele Estado, outras exigências são, por exemplo, a unificação do idioma, da moeda,
das unidades de medida. Estabelecer uma legislação própria e forte passou a ser parte da trajetória
de constituição de uma identidade do Estado.
Nessa esteira, ganha força o movimento da codificação, sobretudo em consequência dos eventos
históricos e políticos dos séculos XVII e XVIII. O código é uma forma de proporcionar organização,
segurança e certeza para essas novas sociedades que se estabeleciam: traziam num único
documento toda a matéria referente a um determinado ramo do direito – penal, civil, comercial etc.
A base do sistema continental será, portanto, a lei escrita positivada, elaborada pelo poder
legislativo. Essa característica é consequência da ruptura com os antigos regimes absolutistas e com
todas as práticas e costumes que lhe eram próprias, até mesmo por desconfiança geral quanto ao
seu funcionamento, tipicamente corrupto e permeado de privilégios para determinados
grupos. Além disso, a lei é vista como produto da racionalidade e da abstração humana, tão
festejada pelos paradigmas científicos do momento. “Para Rousseau, o Direito é a lei, porque a lei é
a única expressão legítima da vontade geral. Nenhum costume pode prevalecer contra a lei ou a
despeito dela, porque só ela encarna os imperativos da razão” (REALE, 2004, p. 152).
Os primeiros Estados Nacionais a se organizarem, ainda no século XII foram Portugal e Espanha.
Em razão dessa precocidade histórica, não são elaboradas codificações já aprimoradas em termos
de sofisticação, mas não se poderia mais persistir com o uso do direito costumeiro:
com o desenvolvimento da indústria, da técnica, do comércio, com aquilo que se pode chamar de primórdios
do capitalismo ou da civilização capitalista, o Direito costumeiro não era mais suficiente. Os reis sentiram
necessidade de fazer a coordenação ou ordenação das leis dispersas, bem como das costumeiras regras
vigentes, que tinham o grande defeito de ser desconexas ou particularistas. Surgiram, assim, as primeiras
consolidações de leis e normas consuetudinárias, que tomaram o nome de Ordenações por serem o
resultado de uma ordem do rei. São as “Ordenações” do rei da Espanha, ou da França, bem como dos
grandes monarcas portugueses. Portugal foi um dos primeiros países a procurar por ordem e sistema no seu
direito (REALE, 2004, p.151).
Dois códigos recebem destaque nesse momento histórico, o alemão (1900) e o francês (1804). O
código instituído pela recém unificada Alemanha chamava-se Bürgerliches Gesetzbuch, ou BGB e foi
elaborado por um grupo grande de juristas. O Código Civil Francês foi instituído por Napoleão e
teve inspiração no direito romano, nas ordenações reais e no direito revolucionário, cujos princípios
foram respeitados, abolindo vestígios do feudalismo e privilégios para realeza e nobreza (BAGNOLI;
BARBOSA; OLIVEIRA, 2014, p. 91-92).
Na França a codificação é produto direito da Revolução Francesa, primeiro momento em que se
aventou a necessidade de um direito único para a totalidade das classes, abolindo, portanto, as
desigualdades. O surgimento de um direito nacional é um marco histórico importantíssimo, porque
dá vigência ao princípio da igualdade, pois o direito é um só e todos são tratados pela lei da mesma
forma (REALE, 2004, p.152).
O fantasma a ser evitado era e, de certa forma, continua sendo, o casuísmo na lei. A certeza da existência e
do conteúdo da norma que o direito escrito apresentava, bem como a busca de generalidades racionais que
o conjunto normativo (códigos) representava, fizeram com que a ‘glosa judiciária’ (jurisprudência casuística)
fosse afastada, em favor da ‘glosa erudita’ (a doutrina) e que tanto o costume geral como o assim dito
‘costume judiciário’ (a jurisprudência) fossem desprezados, em benefício da lei escrita (e, semre que possível,
reunida em conjuntos harmônicos e racionais: os códigos) (BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2014, p. 91).
Fique de Olho
A principal característica do sistema continental, portanto, é eleger a lei como fonte do direito por
excelência (ainda que outras possam ser admitidas), o que se fez necessário por razões culturais, ou
seja, as experiências passadas desses povos os levou desconfiar nas demais fontes do direito e a
elevar a legislação escrita, positivada e, de preferência, codificada, à primazia.
1.2 Formação do sistema anglo-saxão
Enquanto o sistema continental caminhou para encontrar na lei sua principal fonte do direito, o
sistema anglo-saxão revela-se formado pelos usos e costumes e pela atuação jurisdicional. Essa
característica aparece, assim como foi com o sistema continental, como consequência dos eventos
e experiências históricas e políticas vivenciadas por esse povo, que não se assemelham em muito
ao ocorrido no continente.
O quadro evolutivo do direito inglês configura-se por dois períodos de nítida distinção e manifesto
antagonismo:
#PraCegoVer: Na imagem, temos o quadro evolutivo do direito inglês dividido em dois períodos:
histórico, também denominado direito anglo-saxônico, e Common law, em substituição aos
costumes dispersos de vertente tribal. O segundo se subdivide em três etapas, representadas
graficamente: a de formação, a partir da conquista normanda (1066) até o advento da dinastia dos
Tudors (1485), fase na qual o direito nacional cristalizou com o concurso da jurisprudência baseada
nos precedentes; a outra, que podemos chamar de fase da razão, em que um sistema retificador,
a equity, ou ‘regras de equidade’, passou a complementá-lo; e a última, a partir do meio século
passado, na qual a lei escrita, votada por corpos legislativos, o statute law, entrou a disputar espaço
na construção do edifício jurídico, em par com a tradicional jurisprudência.
Pode-se afirmar, então, que o sistema de common law é a soma da jurisprudência e da equidade
(GILISSEN, 2001). Até o ano de 410 a ilha da Bretanha, que viria a ser a Inglaterra, estava sob
domínio romano. Invasões e ocupações eram frequentes e foram muitas, tendo mais relevância
história a invasão normanda que foi mais uma reivindicação de trono que conquista propriamente
dita, e a partir daí deu-se início à busca de unidade política. A pulverização do poder político era
enorme, haja vista o número muito alto de pequenos feudos, o que enfraquecia o poder central.
Para reverter essa situação, o rei deu início à construção de um sistema jurídico nacional
centralizado. Essa construção, inevitavelmente, teve influência material do direito costumeiro, não
escrito, residual dos costumes das tribos que ali habitaram por invasão (GILISSEN, 2001). A justiça
encabeçada pelo rei convivia com a aplicação do direito costumeiro, princípio imemorial assegurado
ao jurisdicionado emanado por leis germânicas. Essa convivência ocorria enquanto aumentavam as
competências e o poder real, que se tornou exclusiva por volta do século XV passando a ser
exercida apenas em Westminster:
É a essas cortes de Westminster que se deve a coordenação dos costumes locais da Inglaterra, laborada na
síntese e seleção de numerosos elementos de direito material que, durante séculos, passaram pelo crivo
judicial do caso a caso, no dia a dia; em suma, o common law, um direito que é ‘comum’ na acepção de
nacional, não local, e que deixou de ser costumeiro porque a partir daí o que passou a prevalecer foi a
jurisprudência, não o costume, um direito jurisprudencial, até o marco de nossos dias (GILISSEN, 2001, p. 90).
O sistema anglo-saxão se alimenta e se renova, portanto, das decisões. O juiz tem uma função
quase legislativa, reforçando os precedentes já estabelecidos por outros juízes antes dele, numa
permanente construção do direito, a partir de cada caso concreto que se apresenta. O uso
da equity passou a ser proibido como forma de criação de jurisdições paralelas às de common law,
mas poderia ser usada segundo os casos em que até então fora aplicada, criando um sistema em
que ambas as lógicas subsistem. A equity passou, então, a exercer um papel de correção e
suprimento das regras do precedente, integrando-se totalmente um ao outro. Semelhante à relação
entre direito público e direito privado passou a ser a relação entre precedentes e equity (GILISSEN,
2001, p. 92-93).
De meados do século XIX em diante o direito inglês passou a admitir também o statute law, ou seja,
leis escritas, que não tem a função de criar direito, exercendo apenas função regulamentar na
administração e com papel secundário no direito, podendo, no máximo, levantar exceções perante
o direito jurisprudencial (GILISSEN, 2001, p. 93). É interessante observar que o common law não se
afetou pela recepção do direito romano ocorrida no continente e, de certo modo, foi pouco ou
quase nada afetado pelas transformações políticas e econômicas históricas e conta, por isso, com
uma continuidade histórica riquíssima, permitindo que juristas invoquem, nos dias de hoje,
precedentes do século XIII ou XIV: “o common law não era baseado em leis e por isso ficou
praticamente impossível a utilização do direito romano na sua complementação, ou seja, como
fonte subsidiária que poderia vir a suprir uma lacuna” (BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2014, p. 91).
1.3 Estado moderno e positivação do direito
O Estado Moderno é marcado pela extinção de uma sociedade constituída por uma pluralidade de
agrupamentos sociais que se autogeriam, em que o direito se apresentava como um fenômeno
social, produzido pela sociedade civil e não pelo Estado. A estrutura social do Estado Moderno é,
portanto, monista, pois todos os poderes estão concentrados nas mãos do Estado, especialmente
aquele de elaborar e aplicar o direito. A atuação do juiz, após o movimento de positivação do
direito, se reduz a buscar respostas para solucionar o conflito dentro do catálogo de normas que
constitui o direito positivo, sem grandes possibilidades de recurso a outras fontes ou
fundamentações. Da mesma forma que o único direito existente é o direito positivo, o juiz como um
mero terceiro neutro integrante da comunidade e dotado de credibilidade e idoneidade para que
lhe fosse confiada a tarefa de decidir também desaparece, o juiz passa a ser funcionário do Estado.
Quando identificamos o direito com as normas postas pelo Estado, não damos uma definição geral do
direito, mas uma definição obtida de uma determinada situação histórica, aquela em que vivemos.
Enquanto, de fato, num período primitivo, o Estado se limitava a nomear o juiz que dirimia as controvérsias
entre os particulares, buscando a norma a aplicar ao caso sob exame tanto nos costumes quanto em
critérios de equidade, e a seguir, adicionando à função judiciária aquela coativa, providenciando a execução
das decisões do juiz, com a formação do Estado Moderno é subtraída ao juiz a faculdade de obter as normas
a aplicar na resolução das controvérsias por normas sociais e se lhe impõe a obrigação de aplicar apenas as
normas postas pelo Estado, que se torna, assim, o único criador do direito (BOBBIO, 2006, p. 29).
Inaugura-se a era o racionalismo exacerbado, instituído “como método de comparação,
construção e avaliação de todos os problemas do mundo, da ciência e da vida” (BAGNOLI;
BARBOSA; OLIVEIRA, 2014, p. 81-84). O racionalismo passa a ser a medida de todas as coisas, e irá
orientar, portanto, a existência e atuação do Estado. Os padrões, inclusive para as ciências humanas
e sociais, passa a ser a perfeição matemática, geométrica, físico-química. A soberania e o poder
passam a ser o norte do Estado e a sociedade passa por profundas mudanças também, sobretudo
em razão das grandes revoluções sociais e da revolução industrial.
A estrutura da sociedade se modifica, surgem novas classes, em especial o assalariado e o burguês,
figuras típicas da Modernidade, e surge a novíssima possibilidade de ascenção ou mobilidade
social. O Estado Moderno possibilita, ainda, a ampliação da liberdade de consciência e da liberdade
religiosa, bem como centraliza o poder e promove uma virada na organização econômica com a
ascensão da burguesia e a consequente e inevitável busca por direitos que derivou de seu
fortalecimento e poder de barganha. Na esfera organizacional, instituiu-se uma ordem em que está
definitivamente legitimado o monopólio do uso da força por parte do Estado, atendendo ao
primitivo requisito da soberania como autodeterminação postulado por Jean Bodin séculos antes
(BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2014, p. 84).
Fontes materiais
São aqueles elementos que emergem da realidade social e dos valores que inspiram o
ordenamento jurídico (DINIZ, 2001).
Fonte formais
Referem-se ao modo de manifestação das normas, apontando como o direito pode ser conhecido –
são os canais por onde se manifestam as fontes materiais (DINIZ, 2001).
Em resumo, temos:
#PraCevoVer: Na imagem, temos a representação gráfica das fontes formais que derivam do
Estado e das fontes formais que não derivam do Estado. As primeiras geralmente são divididas em
legislativas e jurisprudenciais, enquanto as últimas são divididas em costume e fontes negociais ou
negócios jurídicos.
Quando nos referimos ao vocábulo lei, há mais de uma acepção possível, uma amplíssima, outra
ampla e outra estrita ou técnica. A acepção amplíssima é sinônimo de norma jurídica: como toda
norma geral de conduta que de fine e disciplina as relações de fato incidentes no direito e cuja
observância é imposta pelo poder do Estado; a acepção ampla é no sentido de aquilo que se lê:
como oriundo do verbo legere (ler em latim) designa todas as normas jurídicas escritas e distinguia,
no direito romano, o jus non scriptum do jus scriptum; a acepção estrita ou em sentido técnico: como
norma jurídica elaborada pelo processo legislativo, ou seja, produto do processo legislativo (DINIZ,
2001, p. 283-284).
Fique de Olho
É importante ressaltar que a legislação ou atividade legiferante é o processo pelo qual um ou vários
órgãos estatais formulam e promulgam normas jurídicas de observância geral, enquanto a
fonte jurídica formal é o processo legislativo constituído por um conjunto de fases
constitucionalmente estabelecidas, pelas quais há de passar o projeto de lei, até sua transformação
em lei vigente.
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
conhecer a formação dos sistemas continental e anglo-saxão consolidados a partir do século XV
no continente europeu;
aprender que a estrutura social do Estado Moderno foi monista, pois todos os poderes
estavam concentrados nas mãos do Estado, especialmente aquele de elaborar e aplicar o
direito;
compreender que tradicionalmente a doutrina classifica as fontes do direito
em materiais e formais e estas, por sua vez, em estatais e não estatais;
esclarecer sobre o constitucionalismo monárquico/imperial brasileiro, em que uma constituição
escrita traria mais segurança para o povo e ajudaria a conter o poder que estava nas mãos dos
governantes;
estudar as ordenações do reino português: afonsinas, manuelinas e filipinas.
Referências
BAGNOLI, Vicente; BARBOSA, Susana; OLIVEIRA, Cristina. Introduçao à história do direito. São Paulo:
Atlas, 2014.
BRASIL, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível
em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2002/lei-10406-10-janeiro-2002-432893-
publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 25 nov. 2019.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito: introdução à teoria geral do
direito, à filosofia do direito, à sociologia jurídica e à lógica jurídica, norma jurídica e aplicação do
direito. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. Salvador: Juspodium, 2013.
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
HESPANHA, Antonio Manuel. Cultura Jurídica Europeia - Síntese de um milénio. Alamedina, 1945.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2004.