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ISSN 1980-3958

Outubro / 2022

DOCUMENTOS

374

Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e


agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil”
ISSN 1980-3958
Outubro/2022

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Florestas
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DOCUMENTOS 374

Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e


agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil”

Evelyn Roberta Nimmo


André Eduardo Biscaia de Lacerda
Maria Augusta Doetzer Rosot
Alessandra Izabel de Carvalho
Ednilson Pereira Gomes
Fernando Bertani Gomes
João Francisco Miró Medeiros Nogueira
Ricardo Gomes Luiz
Thiago Gomes

Embrapa Florestas
Colombo, PR
2022
Embrapa Florestas Comitê Local de Publicações da
Embrapa Florestas
Estrada da Ribeira, km 111, Guaraituba,
Caixa Postal 319
83411-000, Colombo, PR, Brasil Presidente
Fone: (41) 3675-5600 Patrícia Póvoa de Mattos
www.embrapa.br/florestas
www.embrapa.br/fale-conosco/sac Vice-Presidente
José Elidney Pinto Júnior
Secretária-Executiva
Neide Makiko Furukawa
Membros
Annete Bonnet
Cristiane Aparecida Fioravante Reis
Elenice Fritzsons
Krisle da Silva
Marcelo Francia Arco Verde
Marilice Cordeiro Garrastazu
Susete do Rocio Chiarello Penteado
Valderês Aparecida de Sousa
Supervisão editorial e revisão de texto
José Elidney Pinto Júnior
Normalização bibliográfica
Francisca Rasche
Projeto gráfico da coleção
Carlos Eduardo Felice Barbeiro
Editoração eletrônica
Neide Makiko Furukawa
Foto capa
André Eduardo Biscaia de Lacerda

1ª edição
Publicação digital (2022): PDF

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Florestas

Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na


Floresta com Araucária, Brasil”. [recurso eletrônico] / Evelyn Roberta Nimmo ... [et
al.]. - Colombo : Embrapa Florestas, 2022.
PDF (86 p.) : il. color. - (Documentos / Embrapa Florestas, ISSN 1980-3958 ; 374)

Modo de acesso: World Wide Web:


<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/item/221>

1. Ilex paraguariensis. 2. Araucária angustifólia. 3. Produto florestal. 4. Sistema


de produção tradicional. 5. Agroecologia. 6. Sistema agroflorestal. 7. Conhecimento
tradicional. I. Nimmo, Evelyn Roberta. II. Lacerda, André Eduardo Biscaia de. III. Rosot,
Maria Augusta Doetzer. IV. Carvalho, Alessandra Izabel de. V. Gomes, Ednilson Pereira.
VI. Gomes, Fernanda Bertani. VII. Nogueira, João Francisco Miró Medeiros. VIII. Luiz,
Ricardo Gomes. IX. Gomes, Thiago. X. Série.
CDD (21. ed.) 634.974

Francisca Rasche CRB 9-1204 © Embrapa 2022


Autores

Evelyn Roberta Nimmo


Arqueóloga, doutora em Arqueologia, presidente do CEDErva, Curitiba, PR.

André Eduardo Biscaia de Lacerda


Engenheiro florestal, doutor em Engenharia Florestal, pesquisador da Embrapa Florestas,
Colombo, PR.

Maria Augusta Doetzer Rosot


Engenheira florestal, doutora em Engenharia Florestal, pesquisadora da Embrapa
Florestas, Colombo, PR.

Alessandra Izabel de Carvalho


Bacharel em História, doutora em História, professora da Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Ponta Grossa, PR.

Ednilson Pereira Gomes


Técnico agrícola do Instituto de Desenvolvimento Rural, Ponta Grossa, PR.

Fernando Bertani Gomes


Bacharel em Geografia, doutor em Geografia, membro do CEDErva, Curitiba, PR

João Francisco Miró Medeiros Nogueira


Bacharel em Geografia, mestre em História, membro do CEDErva, Curitiba, PR.

Ricardo Gomes Luiz


Comunicador social, doutorando em Tecnologia e Sociedade, membro do CEDErva,
Curitiba, PR.

Thiago Gomes
Biólogo, doutor em Ecologia, Guayaki Yerba Mate, Turvo, PR.
Apresentação

O cultivo, manejo e consumo da erva-mate (Ilex paraguariensis A. St. Hil.) ocorrem em várias re-
giões da Argentina, Paraguai e Brasil. Entretanto, o centro-sul e sudeste do Paraná se destacam
pela continuidade de práticas que constituem os sistemas tradicionais e agroecológicos de produ-
ção de erva-mate em propriedades da agricultura familiar e comunidades tradicionais que ocorrem
na presença da floresta, sendo, por isso, conhecidos também como erva-mate sombreada. Esses
sistemas agroflorestais integram uma grande variedade de culturas alimentares e outros produtos
florestais não madeireiros, tais como frutas nativas, milho, feijão, arroz e hortaliças, bem como a
criação de animais.

Apesar dos diferentes contextos e realidades dos atores sociais envolvidos na produção tradicional
e agroecológica da erva-mate, os conhecimentos usados, o afeto pela floresta e as raízes profun-
das das práticas culturais associadas a esses sistemas são similares e entrelaçados. Assim, os
erveiros fazem parte de uma “comunidade de prática (CoP)” que conecta pequenos agricultores,
comunidades tradicionais e indígenas que compartilham e ajudam a caracterizar a paisagem, e se
reconhecem como um grupo diferenciado em relação à produção de erva-mate, cujas bases estão
atreladas ao conhecimento e práticas locais e agroecológicas. Neste contexto, a erva-mate tem
uma importância fundamental nas identidades ambientais e culturais dessas pessoas que lutam
para dar continuidade ao sistema de produção e da floresta na qual ela ocorre. Com toda a diver-
sidade de práticas, contextos e realidades na produção de erva-mate sombreada, percebe-se a
existência de uma essência comum, baseada na relação direta entre o ser humano e as florestas.

Considerando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações


Unidas (ONU), juntamente com as iniciativas da ONU e da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO) como a Década de Agricultura Familiar e a Década de Restauração
dos Ecossistemas, os sistemas tradicionais de erva-mate oferecem uma oportunidade única para
desenvolver ações que atendam às metas de tais programas, com destaque para os ODS 2, 8, 9,
11, 12, 15 e 17, fortalecendo as comunidades locais e protegendo e aumentando a cobertura flo-
restal na região da Floresta com Araucária. Como benefícios adicionais, esses sistemas auxiliam
no combate a dois dos maiores problemas ambientais em todo o mundo atualmente: perda de bio-
diversidade e mudanças climáticas. Por meio das ações detalhadas neste documento focadas no
entendimento, valorização e disseminação do conhecimento e das práticas e respectivos benefícios
ambientais e socioambientais dos sistemas tradicionais de erva-mate, objetiva-se que tais sistemas
se consolidem e se expandam como ferramentas de transformação social, econômica e ambiental.
Neste contexto, a designação dos sistemas tradicionais de erva-mate como um Sistema Importante
para o Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam), iniciativa da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO), deverá contribuir sobremaneira para o reconhecimento dos sabe-
res e das práticas dos sistemas tradicionais de erva-mate.

Marcílio José Thomazini


Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Florestas
Sumário

O Programa Sipam - Sistemas Importantes para o Patrimônio Agrícola Mundial ........................ 9

Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária,


Brasil”........................................................................................................................................................ 9
A importância do sistema agrícola........................................................................................................ 11
A erva-mate e a conservação e restauração da floresta........................................................................ 13

Identidade cultural e reconciliação ..................................................................................................... 18

Erva-mate tradicional como um modelo de restauração........................................................................ 19

Características do local proposto do Sipam ......................................................................................... 31


Segurança alimentar e meios de subsistência ..................................................................................... 33

Agrobiodiversidade ........................................................................................................................... 42

Sistemas de conhecimento locais e tradicionais .................................................................................. 48

Culturas, sistemas de valor e organização social ................................................................................. 58

Características de paisagens terrestres .............................................................................................. 66

Referências.............................................................................................................................................. 74

Apêndices................................................................................................................................................. 84
O Programa Sipam - Sistemas Importantes para o Patrimônio
Agrícola Mundial
O programa Sistemas Importantes para o Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam) é uma iniciativa
da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). O objetivo geral do
Programa Sipam é identificar e salvaguardar sistemas agrícolas relevantes juntamente com suas
paisagens, a agrobiodiversidade e as culturas e conhecimentos associados.

No desenvolvimento de uma candidatura para o reconhecimento de um sistema agrícola como um


Sipam, os proponentes submetem um dossiê que descreve detalhadamente o sistema e estabe-
lecem um programa de longo prazo, denominado Plano de Ação para a Conservação Dinâmica,
para apoiar esses sistemas e aumentar os benefícios globais, nacionais e locais derivados de sua
conservação dinâmica e gestão sustentável. Após a submissão dos documentos à FAO, um comitê
internacional científico avalia a candidatura.

Para atingir tal objetivo, o programa Sipam busca: (i) reconhecer em nível global e nacional a impor-
tância dos sistemas de patrimônio agrícola; (ii) melhorar a compreensão das ameaças que esses
sistemas agrícolas estão enfrentando e os benefícios que proporcionam em todos os níveis; (iii)
capacitar comunidades agrícolas locais, além das instituições locais e nacionais, para conservar e
administrar o Sipam, gerar renda e agregar valor econômico aos bens e serviços de tais sistemas
de forma sustentável; (iv) identificar maneiras de mitigar os riscos da perda da biodiversidade e do
conhecimento tradicional; (v) fortalecer a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e dos
recursos naturais, reduzindo a vulnerabilidade às mudanças climáticas, melhorando a agricultura
sustentável e o desenvolvimento rural e, como resultado, contribuindo para a segurança alimentar e
redução da pobreza; (vi) aumentar os benefícios derivados pelas populações locais da conservação
e uso sustentável de seus recursos e seus sistemas, entre outros.1/

Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na


Floresta com Araucária, Brasil”
A proposta ao programa Sipam aqui apresentada representa a culminação de esforços conjuntos
entre as instituições e comunidades envolvidas, ao longo dos últimos trinta anos. Começando nos
anos 1990, os trabalhos de pesquisa e extensão foram fundamentais para o desenvolvimento das
atividades colaborativas solidárias que objetivaram o estabelecimento de ações para a manutenção
dos sistemas tradicionais de produção de erva-mate dentro de comunidades espalhadas na região
centro-sul do estado do Paraná. Em torno da presente proposta encontram-se várias instituições
e comunidades parceiras do processo coletivo em torno da temática proposta. Ao longo desta tra-
jetória, foram consolidados dados e informações sobre os sistemas tradicionais de erva-mate e
as dinâmicas do ambiente florestal em que estes sistemas se inserem, mas também foi criada
uma comunidade de prática (CoP) baseada em valores e conhecimentos compartilhados. As ações
e atividades de instituições de pesquisa e extensão, como a Embrapa Florestas e o Instituto de
Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR, anteriormente Instituto Agronômico do Paraná – Iapar),

Para maiores informações: FAO. SIPAM: Sistemas Importantes del Patrimonio Agrícola Mundial. Disponível em: https://www.fao.org/
1/

giahs/es/. Acesso em: 11 ago. 2022.


10 DOCUMENTOS, 374

e Organizações de Sociedade Civil, como AS-PTA e Ecoaraucária, criaram uma base sobre a qual
as atividades do Plano de Conservação Dinâmica do Sipam podem ser construídas, restabelecidas,
continuadas e, ou reimaginadas.

Os resultados dos projetos e colaborações recentes entre a Embrapa Florestas, o CEDErva, o


Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGH-
UEPG), IDR-PR, sindicatos de representação de famílias de agricultores e as comunidades par-
ticipantes, por exemplo, têm promovido visitas às propriedades rurais da região com foco na do-
cumentação do conhecimento tradicional e ecológico, assim como no monitoramento de fauna,
flora e solos das áreas de produção. Essas atividades forneceram elementos importantes para
a construção de um panorama geral sobre a situação das propriedades envolvidas no cultivo da
erva-mate sombreada. Um fator significativo na elaboração do Plano de Conservação Dinâmica é o
reconhecimento de atividades e projetos já existentes e o aproveitamento dos recursos disponíveis
e da sinergia entre as organizações participantes. No Anexo 1 são detalhados projetos recentes que
promoveram resultados e oportunidades importantes na elaboração do Plano.

O marco simbólico maior resultante dos grandes avanços obtidos ao longo do engajamento entre
as comunidades e as instituições de pesquisa e extensão foi a inauguração do Observatório dos
Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate, o principal proponente do projeto Sipam.
Liderado pelo Ministério Público do Trabalho no Paraná, o Observatório agrega 26 instituições que
apoiam e defendem sistemas tradicionais de erva-mate, com nove Sindicatos de Trabalhadores de
Agricultura Familiar da região, instituições nacionais e estaduais, uma gama de organizações de so-
ciedade civil e agricultores familiares independentes. A visão do Observatório é ser uma plataforma
de apoio, promoção e difusão dos sistemas tradicionais de erva-mate, em que a identidade, o co-
nhecimento e as culturas locais são valorizados. Almeja-se apoiar o desenvolvimento sustentável,
em todas as suas dimensões, proporcionando melhor qualidade de vida aos agricultores familiares,
comunidades indígenas e tradicionais que possam, porventura, vir a integrar o órgão, assim como
a contribuição para a sua segurança e soberania alimentares regionais. Entre as várias metas,
destacam-se as seguintes:

• Fomentar os sistemas tradicionais de erva-mate quanto à organização coletiva e solidária, propo-


sição de políticas públicas e promoção dos conhecimentos associados.

• Promover pesquisas, estudos e publicações no contexto das políticas públicas, da assistência


técnica e extensão rural e de outras iniciativas governamentais.

• Incentivar a participação de mulheres, adolescentes e jovens em todas as atividades organizadas


pelo Observatório.

Os sistemas tradicionais de erva-mate estão localizados em vários municípios no centro-sul e sudes-


te do Paraná, Brasil. Destes, onze municípios são integrantes do projeto Sipam (dos quais cinco são
parceiros diretos e seis são colaboradores) e duas terras indígenas (Marrecas e Rio de Areia) (Figura
1). Para a realização do projeto foi, então, consolidada uma comunidade de prática (CoP) constituída
por comunidades indígenas, faxinais2/ e propriedades de agricultura familiar que usam esses sistemas.

Faxinais são sistemas agrícolas desenvolvidos por meio da interação cultural entre os colonos e as comunidades caboclas e indígenas
2/

que ocupavam as terras da região no final do século XVIII. Esse sistema, no qual os animais são criados soltos, em área florestal
coletiva, constituindo criadouros comunitários, era uma característica comum da paisagem paranaense. Hoje em dia, as lavouras
individuais são cercadas e um conjunto de normas, obrigações e direitos rege as relações entre as famílias participantes do faxinal
(Paraná, 1997, 2007).
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 11

Figura 1. Mapa da região de abrangência do SIPAM “Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-Mate na Floresta
com Araucária, Brasil” indicando os municípios e terras indígenas participantes.

O proponente do Sipam “Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate na Floresta com


Araucária, Brasil” é o Observatório dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate,
em parceria com a representação oficial dos municípios de São João do Triunfo, São Mateus do
Sul, Rio Azul, Rebouças e Inácio Martins, e conta com a coordenação do CEDErva (Centro de
Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate). Os par-
ceiros do Sipam são: Embrapa Florestas; Ministério Público de Trabalho do Paraná; Programa
de Pós-graduação de História, Universidade Estadual de Ponta Grossa; IDR-Paraná; Instituto
Federal do Paraná, Campus Irati; Associação Assis; Guayaki Yerba Mate; Ervateiro Kosloski e Silva;
ICMBio; Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos (Apreaa);
Ecoaraucária; Fetraf-PR; Sindicatos de Trabalhadores de Agricultura Familiar dos municípios de São
Mateus do Sul, São João do Triunfo, Bituruna e Pinhão; Sindicato dos Trabalhadores Rurais dos mu-
nicípios de Rebouças, Rio Azul e Cruz Machado; Cátedra da Unesco em Estudos de Alimentação,
Biodiversidade e Sustentabilidade, Canadá; Laurier Centre for Sustainable Food Systems, Wilfrid
Laurier University, Canadá.

A importância do sistema agrícola


Sistemas tradicionais e agroecológicos de produção de erva-mate (yerba mate em es-
panhol) referem-se a um grupo de práticas agrícolas e agroflorestais típicas da agricultu-
ra familiar e comunidades tradicionais como povos indígenas, quilombolas e faxinalenses do
centro-sul e sudeste do Paraná, Brasil, e também ocorrentes, em menor escala, em outras re-
giões do Paraná e Santa Catarina. As folhas verde-escuras da árvore da erva-mate (Ilex para-
guariensis; Figura 2) são colhidas e, posteriormente, processadas para serem consumidas
como bebidas do tipo chá-tostado, chimarrão (denominação regional para o mate) ou tererê.
12 DOCUMENTOS, 374

Fotos: cedidas por CEDErva

Figura 2. Folhas de erva-mate (Ilex paraguariensis).

O cultivo, a colheita e o consumo da erva-mate são práticas com significância cultural e identitária
nos países do Sul da América Latina, desde o Chile até o Brasil. A história de produção e consumo
de erva-mate remonta a milhares de anos. Esses sistemas, originados nas práticas culturais do
povo indígena Guarani, continuaram seu desenvolvimento ao longo de gerações por meio de troca
de conhecimentos entre povos indígenas, caboclos e imigrantes europeus.

A erva-mate, espécie tolerante à sombra, ocorre naturalmente no sub-bosque da Floresta com


Araucária (Floresta Ombrófila Mista - FOM, bioma da Mata Atlântica), e seu cultivo integra práticas
de manejo dos recursos naturais baseadas no conhecimento ecológico tradicional. É justamente a
maneira de produzir a erva-mate em florestas nativas, com práticas e conhecimentos tradicionais
associados, que torna este sistema único e de grande relevância mundial, haja vista ser o sistema
agroflorestal mais importante do Planalto Meridional, na região Sul do Brasil (Nogueira; Pereira,
2021).

Atualmente, a produção de erva-mate dos sistemas tradicionais é conhecida como erva-mate som-
breada e ocorre em pequenas propriedades familiares (menores que 20 ha), comunidades tradi-
cionais faxinalenses e indígenas. Apesar dos contextos e realidades diferentes desses agentes
sociais, os conhecimentos usados, o afeto pela floresta e as raízes profundas das práticas culturais
associadas a esses sistemas são similares e entrelaçados. Considerando que o sistema integra
uma variedade de culturas alimentares e outros produtos florestais não madeireiros, tais como
frutas nativas, milho, feijão, arroz e hortaliças, bem como a criação de porcos, bovinos e aves para
produção de carne, leite e ovos, a erva-mate é umas das principais fontes de renda de famílias ou
de comunidades. Neste contexto, a erva-mate tem uma importância fundamental nas identidades
culturais e ambientais dos agricultores que lutam para a continuidade do sistema de produção e da
floresta na qual ela ocorre. Com toda a diversidade de práticas, contextos e realidades na produção
de erva-mate sombreada, percebe-se a existência de uma essência comum, baseada na relação
direta entre o ser humano e as florestas.

É importante destacar que, ao contrário do café e do cacau, a erva-mate nunca foi totalmente do-
mesticada e não se adapta bem fora de sua área de distribuição natural (Figura 3) devido a diversas
particularidades e exigências ambientais (Gerhardt, 2013; Marques, 2014), fato que continua a ser
um fator limitante para a expansão do cultivo, além da sua região de ocorrência natural (Jamieson,
2001). Apesar de nunca ter se tornado uma commodity global em grande escala, a erva-mate é con-
sumida na América do Sul e outros países na América Latina, Ásia, Europa, África e América do Norte.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 13

A B

Figura 3. (A) Área aproximada da distribuição natural de erva-mate na América do Sul e (B) detalhe da ocorrência no
Brasil, Argentina e Paraguai.
Fonte: Oliveira e Rotta (1985).

Além de ser apreciada por seu sabor único, a presença de compostos como antioxidantes, cafeína,
teobromina, vitaminas, entre outros, tornam o consumo benéfico à saúde e de grande potencial de
expansão no mercado de bem-estar, farmacêutico, de bebidas e de cosméticos (Gan et al., 2018;
Horn et al., 2018).

A erva-mate e a conservação e restauração da floresta

Na região onde ocorrem os sistemas tradicionais, além da colheita da erva-mate, as florestas prove-
em às famílias espécies vegetais usadas para fins medicinais e alimentares. Também disponibilizam
uma grande gama de serviços ecossistêmicos. Justamente pela produção de erva-mate sombreada
estar atrelada às florestas, a cobertura florestal ainda é relevante na região, diferentemente do que
ocorre no norte e sudoeste do estado do Paraná em que a ocupação da terra e a expansão agrícola
promoveram o desmatamento quase completo das florestas nativas (Figura 4). O centro-sul e o
sudeste paranaenses, onde se concentram as propriedades da presente proposta, possuem cerca
de 1,85 milhão de hectares de florestas naturais, estando entre as três mesorregiões com maior
cobertura florestal estadual; as regiões onde ocorreram as maiores taxas de desmatamento – norte
pioneiro, norte central e noroeste - possuem, juntas, 884 mil hectares (Serviço Florestal Brasileiro,
2018).

A mesorregião sudeste do Paraná apresentou em 2013, por exemplo, uma taxa de expansão da ati-
vidade agrícola de 6% em relação à área plantada em 1994 (Freitas; Maciente, 2015). Entre os anos
de 2011 e 2014, soja, feijão e milho foram as culturas temporárias dominantes nessa mesorregião, em
contraponto às culturas permanentes largamente dominadas pela erva-mate (95,2%), seguida por
uva e pêssego (ambas com menos de 2% de participação) (Freitas; Maciente, 2016). Assim, a erva-
-mate tradicional tem sido um fator decisivo na caracterização de uma paisagem tipicamente com-
posta por um mosaico de diferentes usos da terra em que as florestas e áreas agrícolas predominam.
as florestas
as florestas
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no âmbito
global.
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A B

C D

Figura 4. Cobertura florestal e uso da terra no estado do Paraná como resultado de diferentes legados históricos da
Figura
Figura 4. Cobertura
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Paraná
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da região e a importância do sistema de produção de erva-mate no âmbito global.
9 9
O manejo da erva-mate em florestas provê condições ambientais de menor estresse, sem a incidên-
9 9
cia direta e constante de luz (menores níveis de luminosidade) e menores variações de temperatura
e umidade (Figura 5). Nos sistemas tradicionais, a erva-mate é cultivada sem insumos químicos
devido à ciclagem natural dos nutrientes no ambiente florestal (Chaimsohn; Souza, 2013). Desta
forma, a erva-mate sombreada apresenta sabor mais suave, bastante apreciado pelo consumidor
final (Certi, 2012; Marques, 2014).

Em contraste, a erva-mate produzida em monocultivo - que é o sistema mais comum no estado do


Rio Grande do Sul (Brasil) e na Argentina - se caracteriza por um sistema produtivo de maior escala,
dependente de insumos externos e desprovido dos benefícios fornecidos pelos serviços ecossis-
têmicos típicos de sistemas agroflorestais mais diversos. No Nordeste da Argentina (Figura 6), por
exemplo, o sistema monocultivo é altamente tecnificado, com quase um século de desenvolvimento
ao longo de uma história diferenciada em termos de políticas públicas orientadas para os plantios,
incentivos ao assentamento de terras e a restrições de uso dos ervais de nativos visando à manu-
tenção da floresta naquele país. No monocultivo de erva-mate, as plantas estão sujeitas ao maior
estresse em função da maior amplitude e temperaturas extremas incidindo sobre elas, assim como
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 15

maior intensidade de luz solar direta. Como consequência de tais condições de estresse, em espe-
cial a temperatura máxima, há formação de níveis mais altos de fenóis, os quais parecem ser fator
determinante para um sabor adstringente menos apreciado pelo mercado consumidor brasileiro3/
(p. ex. Vieira et al., 2003).
Foto: cedida por CEDErva.

Figura 5. Erva-mate sombreada pela Floresta com Araucária na propriedade da Família Oliva, Comunidade Aliança
Velha, São Mateus do Sul, PR.
Foto: cedida por MateRojo

Figura 6. Erval em monocultivo na Argentina, com reflorestamento de pinus ao fundo.

O mercado consumidor é bastante distinto comparando às preferências sensoriais brasileiras, argentinas, paraguaias e uruguaias.
3/

Os consumidores dos países vizinhos tendem a valorizar o sabor adstringente, também obtido por processos de estacionamento/
estocagem.
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Diferente do monocultivo, o sistema tradicional de erva-mate sombreada do sul do Paraná está


diretamente associado à conservação dos remanescentes da Floresta com Araucária (Marques,
2014). Esse fato demonstra plenamente a importância mundial do sistema para a conservação dos
ecossistemas florestais e aos serviços ecossistêmicos associados, considerando que:

1. A Floresta com Araucária faz parte de um dos hotspots para a conservação da biodiversidade
mundial (Mata Atlântica) justamente pelos altos níveis de diversidade e endemismo da flora e
fauna associada e grau de ameaça à conservação (Mittermeier et al., 1999). Na Floresta com
Araucária, ocorrem mais de 1.107 espécies de flora vascular, 181 das quais são samambaias,
três gimnospermas (coníferas) e 922 angiospermas (plantas com flores) (Gasper et al., 2013).
Nesta diversidade da flora, mais de 100 espécies arbóreas são observadas, incluindo algumas
ameaçadas de extinção como a própria araucária (Araucaria angustifolia), espécie conífera
símbolo do estado do Paraná e que se destaca na paisagem por sua forma e porte, além de
possuir forte simbolismo cultural na região (Carvalho; Laverdi, 2015; Lacerda, 2016).

2. Antes dispersa continuamente pelos planaltos da região Sul do Brasil (Planalto Meridional), as
florestas nativas, predominantemente jovens (secundárias) ocupam porção considerável em
relação à área original da Floresta com Araucária, alcançando no Paraná cerca de 38% (IAT,
2019b). A redução da área de florestas é consequência de um intenso processo de conversão
do uso da terra, ocorrido, principalmente, nos séculos XIX e XX, que reduziu drasticamente a
cobertura florestal, e que justamente teve seu impacto reduzido nas áreas onde a produção
tradicional de erva-mate permanece (Figura 3).

Apesar de esforços dos governos federais e estaduais em criar Unidades de Conservação visando
à manutenção da Floresta com Araucária, com foco nas espécies ameaçadas de extinção como
a araucária e a imbuia (Ocotea porosa (Nees & C. Mart.) Barroso, até o momento há um número
limitado no Paraná (ver item Características de Paisagens Terrestres - As paisagens agrícolas)
, É justamente neste contexto que a importância dos sistemas tradicionais de erva-mate para a
conservação dos recursos naturais se sobressai: grande parte do patrimônio florestal atual, tanto
em termos de área total como em relação à sua distribuição espacial, se encontra nas florestas
concentradas, nas propriedades familiares e comunidades tradicionais e indígenas que tipicamente
possuem áreas florestais sob manejo sustentável – sendo a erva-mate o produto mais importante.  

Souza et al. (2005) sintetizam a importância ambiental desses sistemas ao afirmar que “possivel-
mente a erva-mate seja um dos tipos de exploração sustentável em áreas de matas nativas mais
expressivos do Brasil; seguramente é o mais expressivo da região Sul do Brasil.” A cobertura flo-
restal é um fator fundamental na regulação de ciclos hídricos e na mitigação de fluxos extremos
entre estiagem e enchentes – e ambos, frutos das alterações climáticas globais, são cada vez mais
frequentes na região. As florestas protegem não só as nascentes que ocorrem nas propriedades
de agricultura familiar e nas comunidades, mas também funcionam como uma barreira evitando a
erosão e perda de sedimentos de solos para os rios, fenômeno conhecido como erosão hídrica –
uma situação comum na região Sul do Brasil, por causa do desmatamento e agricultura intensiva.

A região é caracterizada pela sua inserção em duas bacias hidrográficas, as dos rios Iguaçu e Ivaí.
A bacia do rio Iguaçu é considerada a maior bacia hidrográfica do estado do Paraná. O rio tem ex-
tensão total de 1.320 km, dos quais 250 km encontram-se na mesorregião sudeste, sendo seu prin-
cipal afluente o rio Negro. No limite das mesorregiões sudeste com a centro-sul está situada a usina
hidrelétrica de Foz do Areia, uma importante geradora de energia da região Sul do Brasil. Assim, a
região tem um papel importante para manter os fluxos hídricos não só da região, mas também ao
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 17

longo de toda a bacia, abrangendo os estados do Paraná e Santa Catarina, no lado brasileiro, e a
província de Missiones, na Argentina. Por sua vez, a bacia do rio Iguaçu é integrante da Bacia do
Prata, a segunda maior bacia hidrográfica na América do Sul. De tal modo, a continuação e a con-
servação das florestas na região têm uma função indispensável na manutenção do ciclo hidrológico
continental.

Em termos de agrobiodiversidade, pesquisas já mostraram que fragmentos florestais na região,


incluindo aqueles manejados em sistemas agroflorestais de erva-mate, são importantes abrigos da
biodiversidade na paisagem (Hanisch et al., 2010; Vibrans et al., 2012, Chaimsohn; Souza, 2013).
Os sistemas agroflorestais com erva-mate apresentam níveis significativos de diversidade de espé-
cies arbóreas, com 107 espécies identificadas em 39 famílias botânicas (Chaimsohn; Souza, 2013),
que representam uma proporção significativa da diversidade da Floresta com Araucária (ex. Vibrans
et al., 2012). A importância dos fragmentos florestais se sobressai pelo fato que parte dessa diver-
sidade lhes é exclusiva, não necessariamente sendo encontrada em Unidades de Conservação
(Lacerda, 2016). Ao mesmo tempo, os fragmentos florestais atuam como corredores de conectivi-
dade para a biodiversidade, permitindo fluxos genéticos da flora e fauna ao longo dos rios e amor-
tecem os impactos das atividades antropogênicas (Hanisch et al., 2016; Lacerda, 2016).

Além da importância das áreas agroflorestais nos sistemas tradicionais de erva-mate, muitas famí-
lias também participam nas redes comunitárias e estão envolvidas nas práticas e relacionadas à
conservação e troca de sementes crioulas que são endêmicas e, ou adaptadas localmente. A região
é o berço das feiras de sementes crioulas, eventos organizados desde 1998, que promovem a troca
e conservação de sementes de variedades locais, sementes e mudas de árvores e plantas entre os
agricultores familiares. Os agricultores participam ativamente desses eventos que representam um
importante embate em face da imposição de sementes transgênicas que monopolizam o comércio
agropecuário e que são, geralmente, recomendadas pelos órgãos de extensão agrícola. Ao longo
do processo de construção dessa rede e de apoio às práticas de guardar sementes na região, nas
últimas três décadas, foram resgatadas 112 variedades locais de milho e 98 de feijão, além de uma
ampla diversidade de variedades de outras espécies vegetais, tais como arroz, batata, cebola,
abóbora, amendoim, várias espécies de hortaliças, frutíferas, plantas condimentares e fitoterápi-
cas. Esta abordagem relacionada ao cuidado com a manutenção de material genético diversificado
também se estende aos animais, rendendo a conservação de raças crioulas de suínos e bovinos.
Nos sistemas tradicionais de erva-mate estão inclusos o cultivo e uso de plantas medicinais, hortas
agroecológicas e quintais agroflorestais, que contribuem sobremaneira para a segurança e sobera-
nia alimentar e para saúde das famílias (Lacerda et al., 2020; Nimmo et al., 2020).

Desta forma, a manutenção (e o aumento) da cobertura florestal nos sistemas tradicionais de erva-
-mate possui importância direta no provimento de serviços ecossistêmicos, como na manutenção
da quantidade e qualidade d’água, proteção dos solos e ciclagem de nutrientes, sendo fundamental
para o sequestro e armazenamento de carbono. Além disso, tais sistemas são importantes na con-
servação da agrobiodiversidade, o que é fundamental para a garantia de ecossistemas e ambientes
saudáveis. Todos esses fatores são considerados essenciais para a resiliência e a mitigação direta
ou indireta dos efeitos das mudanças do clima, os quais possuem repercussões globais (IPCC,
2020).
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Identidade cultural e reconciliação

O ato de consumir a erva-mate como chimarrão, compartilhando a cuia em uma roda de pessoas,
possui grande significância cultural na região. Em uma propriedade que usa o sistema tradicional
de erva-mate, um visitante é sempre recebido com uma chaleira de água quente e uma cuia de
erva-mate preparada para consumo, quando então a prosa se inicia (Figura 7). Muitas vezes, a
erva-mate consumida pela família é cultivada e beneficiada na própria propriedade, usando um
processo artesanal de beneficiamento para consumo próprio. Compartilhar uma cuia de chimarrão
é uma prática cultural reconhecida como símbolo de hospitalidade e amizade.

Fotos: cedidas por CEDErva

Figura 7. (A) uma cuia, com chimarrão e bomba com iconografia ucraniana, preparada para ser tomada em roda de con-
versa com uma família erveira e pesquisadores do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
(B) Sr. Fialek da comunidade São Judas Tadeu, Cruz Machado, preparando uma cuia de chimarrão com água quente.

Segundo Carvalho et al. (2022), por meio da interação com a floresta, os erveiros4/ constroem suas
próprias subjetividades e percebem seu papel em relação à floresta e ao meio ambiente em geral:

Vai além de identificar a floresta e os sistemas tradicionais como aspecto importante de suas vi-
das, na verdade são partes integrantes da sobrevivência de seus modos de ser e estar no planeta.
Assim, as ameaças atentam contra a sua própria existência. Essas formas de conhecer, ver e
interagir com ambientes particularmente vulneráveis à degradação, como os remanescentes da
Floresta com Araucária no Sul do Brasil, oferecem outras maneiras de fazer a conservação e des-
tacam a necessidade de reimaginar como as comunidades locais podem desempenhar um papel
integral nesse processo.

O processo de cuidar dos ervais – da poda até a colheita, da coleta de sementes ao plantio de
mudas, do manejo das plantas desde a regeneração natural até as árvores adultas – é oriundo do
acúmulo de conhecimento tradicional e do desenvolvimento de práticas que se baseiam no enten-
dimento de cada espécie e sua relação com a floresta. Tais práticas têm sido compartilhadas nas

Erveiro é modo como se autointitulam os produtores tradicionais de erva-mate, enquanto ervateiro é o termo que eles utilizam para se
4/

referenciarem aos donos das indústrias de processamento da erva-mate (Nimmo et al., 2020).
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 19

comunidades indígenas por inúmeras gerações e foram assumidas pelas comunidades de imigran-
tes, sobretudo ao longo dos últimos dois séculos. Devido aos processos históricos e socioambien-
tais detalhados neste documento, os proprietários rurais dos sistemas tradicionais de erva-mate na
região não necessariamente estão localizados em aglomerações rurais, paisagens contínuas ou
comunidades locais. Entretanto, fazem parte de uma comunidade de prática (CoP) (Lave; Wenger,
1991) que entrelaça pessoas e propriedades ou, ainda, agricultores familiares, faxinalenses, comu-
nidades indígenas e tradicionais que compartilham, ajudam a caracterizar a paisagem e se reconhe-
cem como um grupo diferenciado em relação à produção de erva-mate, cujas bases estão atreladas
ao conhecimento e práticas locais e agroecológicas. Comunidades de prática são definidas como
grupos de pessoas que compartilham uma preocupação ou entusiasmo por algo em que estão en-
volvidos e, a partir da interação regular, desenvolvem aperfeiçoamentos e melhoramentos das prá-
ticas associadas. Membros de uma comunidade de prática desenvolvem um repertório compartilha-
do de recursos: experiências, histórias, ferramentas, maneiras de abordar problemas recorrentes,
ou seja, se dedicam e aprimoram uma prática compartilhada que leva tempo e interação contínua
(Wenger-Trayner; Wenger-Trayner, 2015). Os praticantes dos sistemas tradicionais de erva-mate
compartilham uma história e conhecimentos desenvolvidos ao longo das gerações, além da paixão
pela floresta e pelas práticas agroflorestais e agroecológicas que defendem.

Erva-mate tradicional como um modelo de restauração

Considerando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações


Unidas (ONU), juntamente com outras iniciativas da ONU e da FAO, como a Década de Agricultura
Familiar e a Década de Restauração dos Ecossistemas, os sistemas tradicionais de erva-mate
estão alinhados às metas de tais programas porque fortalecem as comunidades locais, ao mesmo
tempo em que protegem e contribuem para o aumento das áreas remanescentes da Floresta com
Araucária, contribuindo para combater dois dos maiores problemas ambientais que o mundo enfren-
ta atualmente: perda de biodiversidade e mudanças do clima.

Uma das formas de pôr em prática tais objetivos é por meio do desenvolvimento e implementação
de modelos de restauração baseados nos sistemas tradicionais de erva-mate, tornando tais sis-
temas de manejo catalisadores da conservação dos ecossistemas da região, contribuindo para o
aumento da cobertura florestal, para o fortalecimento de uma rede de programas de diversificação
(já atuante nos municípios do projeto Sipam) e para o compartilhamento de práticas tradicionais e
inovadoras entre os núcleos de agricultura familiar e comunidades faxinais e indígenas. Ao ofere-
cer uma estratégia para enfrentar o desafio de conservação da biodiversidade e desenvolvimento
econômico e socioambiental, os sistemas produtivos agroflorestais, como o de erva-mate, podem
ser implementados de forma a atender às necessidades das famílias, em termos de renda e outras
oportunidades socioambientais, e às exigências da legislação ambiental. Assim, o sistema pode ser-
vir como um modelo global alavancando o programa Sipam, para a restauração dos ecossistemas.

Os sistemas tradicionais, por sua relação intrínseca com a floresta, dependem essencialmente de
sua manutenção para continuar a existir. A falta de incentivo aos produtores familiares – quer seja
no aspecto financeiro, social ou cultural – pode comprometer sua intenção de permanecer no cam-
po e nesse sistema de produção, o que, por sua vez, pode representar um atrativo a grandes em-
presas (reflorestadoras, ervateiras de monocultivo, agropecuárias) para adquirir terras na região,
estabelecendo um círculo vicioso de ameaças aos recursos utilizados nos sistemas tradicionais de
erva-mate. A desagregação dos sistemas tradicionais de erva-mate tem potencial de impacto signifi-
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cativo na conformação da paisagem, tendo em vista que a maioria das propriedades possui excesso
de área florestal frente às exigências legais (Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva
Legal (RL)5/) e passariam a estar sob forte pressão para sua conversão em monocultivo. As pres-
sões externas - que visam converter os sistemas tradicionais em práticas agrícolas convencionais
ou industriais baseadas no monocultivo de tabaco, soja, milho e pinus - são presentes e reportadas
pelas famílias, sendo que muitas já abandonaram as práticas tradicionais, o que implica na gradual
perda de uma cultura tão rica em conhecimentos, experiências e biodiversidade.

Relevância histórica

Pesquisas recentes, realizadas a partir de dados arqueológicos, modelaram mudanças na área de


ocorrência da Floresta com Araucária desde o início do Holoceno, o que sugere que os grupos indí-
genas da bacia do rio da Prata manejavam ativamente os recursos florestais e, ao fazê-lo, criaram
paisagens florestais bioculturais que incluíam uma ampla gama de espécies florestais (Bonomo et
al., 2015; Iriarte et al., 2017; Corteletti; Iriarte, 2018). Dentre as fontes historiográficas acerca do
período colonial, existem relatos sobre a colonização espanhola na América do Sul que descrevem
a existência de uma planta bastante conhecida pelo povo indígena Guarani – o grupo originário que
ocupava o interior do Paraná no início da colonização europeia na região – que a chamavam de
ka’a (ou caá), a erva-mate. As folhas da erva-mate eram especialmente utilizadas pelos indígenas
ali estabelecidos para a produção de uma espécie de chá estimulante, denominado ka’ay (Nimmo;
Nogueira, 2019). A espécie continua sendo importante na cultura e na alimentação Guarani: as
práticas relacionadas ao seu consumo têm uma centralidade nos cerimoniais, tal como o ritual
de batismo chamado Ka’a Nhemongaraí em que as crianças são nomeadas a partir da erva-mate
sagrada (Instituto Socioambiental, 2020) e também em suas histórias de origem e sua cosmologia
(Keller, 2013).

Alguns estudos arqueológicos, etno-históricos e etnográficos sugerem que a ocorrência de ervais


nativos não é exclusivamente um fenômeno natural, mas sim resultante de paisagens antropogêni-
cas, onde se concentram registros materiais de relações sociais envolvendo aldeamentos Guarani,
nos quais as florestas eram manejadas com foco no uso de diversas espécies vegetais, dentre elas
a erva-mate (Noelli, 1998, 2000, 2004; Nimmo; Nogueira, 2019). Assim, antes mesmo da chegada
dos colonizadores espanhóis no século XVI, os Guarani desenvolveram tecnologias significativas,
incluindo práticas culturais, ecológicas e econômicas relacionadas à floresta.

Com a chegada dos espanhóis no século XVI na bacia do Prata, os conquistadores rapidamente
assimilaram a prática cultural de tomar mate e se apropriaram das técnicas de colheita e benefi-
ciamento das folhas da árvore para ganho comercial, sendo a erva-mate um dos mais importantes
recursos econômicos no Paraguai colonial, Argentina e, posteriormente, no Sul do Brasil (Folch,

A legislação relacionada ao manejo da floresta engloba, principalmente, o Código Florestal (Brasil, 2012) e, na região do projeto, a
5/

Lei da Mata Atlântica (Brasil, 2006; 2008). Essas leis têm como objetivo proteger a cobertura florestal por meio de controle rígido e
uso restrito da floresta apenas para fins não comerciais, com base nas seguintes regulamentações: a) o manejo é permitido apenas
quando não produz produtos ou subprodutos comercializáveis, direta ou indiretamente; b) o manejo agroflorestal sustentável pode ser
realizado em consórcio com espécies exóticas, em modelos florestais ou agrícolas (porém, o uso comercial da madeira de espécies
arbóreas nativas é proibido); e c) o manejo florestal é proibido, a menos que a floresta seja composta de, pelo menos, 60% de
espécies de árvores pioneiras nativas. As exigências do Código Florestal incluem a manutenção de Áreas de Preservação Permanente
(APP é uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-
estar das populações humanas) e Reserva Legal (RL é uma área com cobertura de vegetação nativa com a função de assegurar o
uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural), esta última com um mínimo de 20% por propriedade na
região da Floresta com Araucária (https://www.embrapa.br/código-florestal). O principal instrumento do Código Florestal é o Cadastro
Ambiental Rural (CAR), em que os proprietários cadastram o imóvel para regularização ambiental.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 21

2010). Similarmente a outros produtos paraguaios coloniais, a erva-mate estava inserida em um


contexto de imposição e dominação espanhola em relação ao trabalho indígena, conhecido como
encomienda. A abundância de erva-mate nativa que crescia nas montanhas próximas a Maracajú
(Mbaracayú), atual Nordeste paraguaio, fez com que encomenderos requisitassem aos seus cativos
que realizassem longas caminhadas nas trilhas até as florestas onde essa planta ocorria com o in-
tuito de que fossem colhidas, processadas e trazidas até a sede para comércio (Nimmo; Nogueira,
2019).

A chegada da Companhia de Jesus coincidiu com o momento no qual a erva-mate estava se es-
tabelecendo como o principal produto comercial do Paraguai. Embora os padres jesuítas tenham,
inicialmente, se oposto ao consumo da erva-mate – devido à exploração do trabalho indígena pro-
movido pela política colonial espanhola e uma pretensa possibilidade do uso se tornar um vício
– posteriormente passaram a dominar essa economia, produzindo dois tipos de erva-mate canche-
ada: a caàmini, erva-mate processada sem adição de pedaços de galhos, somente folhas, que foi
reconhecida como a erva-mate com a melhor qualidade; e a yerba de palos, folhas de erva-mate
trituradas e misturadas com outros pedaços da árvore ou até mesmo de outras espécies, que era de
qualidade inferior e também produzida pelos espanhóis (Furlong, 1962). Até 1704, os Jesuítas e os
Guaranis nas missões conseguiram desenvolver as tecnologias necessárias para fazer germinar as
sementes de erva-mate e cultivar a árvore em plantios chamados yerbales, uma grande conquista
científica que teve importantes repercussões para o sucesso das missões (Nimmo; Nogueira, 2019).

Após a expulsão dos Jesuítas do Paraguai em 1767, a tecnologia e o conhecimento relacionados


ao plantio e cultivo da erva-mate parecem ter se perdido. Enquanto a exploração das plantações
de erva-mate próximas às missões jesuítas abandonadas continuou até meados do século XIX
(Gallardo, 1898), o próprio plantio de novos yerbales era uma tecnologia que os produtores de erva-
-mate não usavam, ou seja, apesar de o pico da produção de erva-mate ter ocorrido nos séculos
XIX e XX, foi todo baseado exclusivamente em povoamentos naturais. Foi somente no começo do
século XX na Argentina (Martins, 1926; Linhares, 1969) e na década de 1970 no Brasil (Chaimsohn;
Souza, 2013) que o cultivo de mudas a partir de sementes voltou a ser amplamente praticado.

No Paraná, o processo de interação cultural e colonização, ao longo dos séculos XVII e XVIII, envol-
veu várias mudanças e migrações de grupos indígenas e africanos, caboclos, missionários, tropei-
ros e colonos. No final do século XVIII e durante o século XIX, a ocupação das áreas paranaenses
com presença de Floresta com Araucária estava relacionada ao ciclo do gado, com locais de pouso,
abastecimento e registro das tropas que por ali passavam levando animais e alimentos dos vastos
campos gerais do Rio Grande do Sul até Sorocaba, em São Paulo. A extração de erva-mate sem-
pre existiu como alternativa econômica para uma população marginal de comunidades indígenas e
caboclas do sistema tropeirista e de criação de gado. Há relatos de permutas de erva-mate por sal,
algodão e farinha, na vila de Paranaguá, realizadas por habitantes do atual Planalto Paranaense,
desde o final do século XVIII (Linhares, 1969; Padis, 1981; Costa, 1989).

Em 1808, com a mudança da situação política do Brasil, resultante da vinda da família real portu-
guesa, o ciclo do mate se iniciou. Além disso, em 1813, o Paraguai proibiu a exportação da erva-ma-
te, priorizando o atendimento de sua demanda interna. Esses dois fatos contribuíram imensamente
para a economia ervateira brasileira. Pode-se observar que a atividade ervateira no Brasil também
nasceu para a exportação. Ao longo da segunda metade do século XIX, ocorreram o declínio da
atividade tropeira e a consolidação da atividade ervateira (Chaimsohn; Souza, 2013).
22 DOCUMENTOS, 374

Entre as décadas de 1830 e 1880, houve um crescimento estatisticamente significativo da exporta-


ção de erva-mate paranaense que, em 1880, atingiu o patamar de 10 milhões de quilos6/ vendidos
somente ao exterior (Linhares, 1969). A partir de 1882, a navegação fluvial entre as cidades de
Porto Amazonas e União da Vitória, feita por barcos movidos a vapor, estabeleceu a conexão en-
tre todo o médio vale do rio Iguaçu (Carvalho, 2006; Wachowicz, 2010). A consolidação das linhas
férreas Curitiba - Paranaguá, inaugurada em 1885, e São Paulo - Rio Grande, concluída em 1910,
marcaram o início de um importante adendo histórico: a formação de uma indústria madeireira no
estado que, somada à expansiva economia ervateira e associada à incipiente criação de colônias
de imigrantes europeus na região, foi responsável por grande transformação social, econômica e
ecológica em todo o território do Paraná, a começar pelo Vale do Rio Iguaçu (Carvalho; Nodari,
2008).

Esse auge de desenvolvimento na economia, infraestrutura e sociedade paranaenses, desde o final


do século XVIII até a década de 1940, aconteceu junto a um processo de colonização que se ori-
ginou no litoral (leste) e avançou pelo interior do estado, em direção ao oeste do Paraná. O projeto
colonial para ocupar as terras ‘devolutas’7/ da região, que conduziu uma grande massa populacional
de imigrantes provenientes da Europa – sobretudo Polônia, Ucrânia, Alemanha e Itália – foi carac-
terizado por uma economia baseada na pecuária, na colheita de erva-mate e no corte do pinheiro
(Westphalen et al., 1968).

Essa onda de migração, juntamente com a expansão da ferrovia e a exploração intensiva da arau-
cária, levou a uma ocupação muito mais intensa da terra na região que resultou em um processo
dinâmico de trocas culturais entre os caboclos (Ribeiro, 1995) e os colonizadores. A população ca-
bocla, criada a partir da miscigenação de luso-brasileiros, indígenas e afrodescendentes, represen-
tou um importante nicho de conformação cultural e manutenção de práticas tradicionais, sobretudo
acerca dos conhecimentos e formas de viver em relação com a floresta. A forma de processamento
da erva-mate passou a ser integrada como prática também nas colônias recém-instaladas e co-
munidades que se desenvolveram a partir da consolidação da rede de abastecimento baseada na
sua colheita, processamento e comercialização. Assim, aconteceu uma adaptação ao trabalho de
extrativismo promovido pelas interações culturais entre imigrantes europeus e caboclos (Gerhardt,
2013). Nesse contexto, a importante troca de conhecimentos entre indígenas, caboclos e imigrantes
recém-instalados possibilitou a continuidade das relações entre as práticas agrícolas e o manejo da
erva-mate dentro da floresta. Atualmente, descendentes dessas interações culturais e de casamen-
tos interétnicos relatam histórias e memórias desse processo de aprendizagem que forneceu a base
da economia e da subsistência de muitas famílias.

Com o avanço da capitalização da floresta – tornando a madeira e a erva-mate fontes importantes


de acúmulo de riquezas por meio do comércio (Carvalho, 2010) – as populações indígenas habitan-
tes da região foram progressivamente sendo reduzidas, a ponto de hoje viverem ou em áreas deli-
mitadas e controladas pelo Estado brasileiro, muito restritas em comparação às áreas de ocupação
e uso histórico, ou terem sido impelidas para as periferias das cidades.

6/
De acordo com Mazuchowski (1989), uma erveira constantemente podada, em períodos de 3 em 3 ou de 4 em 4 anos, produz em
média 15 a 20 quilos de matéria verde, e, após a secagem, o rendimento em produto final é de cerca de 30% do total colhido. Sem
considerar perdas no transporte e produzindo na maior quantidade sempre, estima-se, portanto, que cerca de 1 milhão 650 mil pés de
erva-mate em ervais localizados em sub-bosque da Floresta com Araucária tenham sido explorados neste período.
7/
A existência de terras devolutas – assim definidas pelo estado – pressupõe que a região não foi ocupada de maneira reconhecida pelo
governo. As comunidades indígenas, porém, e seus descendentes caboclos, ocupavam as florestas na região por gerações.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 23

O processo de colonização, com a instalação de pequenas propriedades rurais dentro do ambiente


da Floresta com Araucária, ocasionou profundas transformações na paisagem local, tanto no âmbi-
to cultural – com a hibridização de novas práticas agrícolas e formas de organização espacial com
os das populações nativas – quanto no âmbito mórfico – com as profundas alterações e supressões
da vegetação do bioma em questão.

Várias práticas agrícolas foram desenvolvidas na região para sustentar as famílias descendentes
das colônias e populações nativas. Os faxinais, por exemplo, são sistemas agrícolas desenvolvidos
por meio da interação cultural entre os colonos e as comunidades caboclas e indígenas que ocu-
pavam as terras da região no final do século XVIII. Esse sistema, em que os animais são criados
soltos, em área florestal coletiva, constituindo criadouros comunitários, era uma característica co-
mum da paisagem paranaense. Hoje em dia, as lavouras individuais são cercadas e um conjunto
de normas, obrigações e direitos rege as relações entre as famílias participantes do faxinal (Paraná,
1997, 2007). As comunidades faxinalenses usam uma grande área de floresta como bem comum
para a pecuária e a colheita da erva-mate, e produzem uma grande diversidade de cultivos alimen-
tares (incluindo milho, feijão, mandioca e arroz) em campos cercados protegidos do pastejo de ani-
mais (Marques, 2014). De acordo com o parágrafo 1º do artigo 1º do Decreto Estadual nº 3.446/97
(Paraná, 1997):

Entende-se por Sistema Faxinal: o sistema de produção camponês tradicional, característico da


região centro-sul do Paraná, que tem como traço marcante o uso coletivo da terra para produção
animal e a conservação ambiental. Fundamenta-se na integração de três componentes: a) produ-
ção animal coletiva, à solta, por meio de criadouros comunitários; b) produção agrícola – policultura
alimentar de subsistência para consumo e comercialização; c) extrativismo florestal de baixo impac-
to – manejo da erva-mate, araucária e outras espécies nativas.

A partir da década de 1960, a região passou por um processo de modernização agrícola e de desin-
tegração de sistemas tradicionais de produção. Houve migrações de agricultores de outras regiões
do País, por exemplo, que não se encaixaram nos sistemas comunitários. Por outro lado, leis muni-
cipais e federais foram aplicadas para proteger áreas de lavoura contra as invasões e pastagem dos
animais8/. Essas mudanças tiveram grandes impactos sobre as comunidades faxinalenses devido
ao cercamento de terras usadas comunitariamente, o que levou a uma fragmentação gradual de
seus vínculos comunitários e de suas práticas. O crescimento de uso de máquinas e insumos com
o financiamento da agricultura moderna transformou áreas florestais em monocultivos e plantações
de commodities (Chang, 1988). A partir da década de 1970, os faxinais passaram a se desagregar,
dando lugar à atividade agrícola mais tecnologicamente intensiva, centrada nas culturas do milho,
feijão, batata, soja e, mais recentemente, no tabaco (Radomski et al., 2006).

Em termos da produção de erva-mate, várias mudanças transformaram a produção das folhas de


uma prática principalmente extrativista, para um cultivo cada vez mais “comoditizado”. Chaimsohn e
Souza (2013) destacam várias transformações que aconteceram nesse período, como: a erradica-
ção de ervais nativos em algumas regiões para dar lugar aos reflorestamentos e às culturas anuais
(principalmente soja); diminuição das exportações; aumento do consumo interno; formação de uma
nova agroindústria; abandono dos processos tradicionais de transformação na maior parte das regi-
ões; início de plantios de erva-mate; e a crescente participação desses ervais plantados na produ-

Por exemplo, Chang (1988) argumenta que a Lei Federal de Quatro Fios do Código Civil Brasileiro de 1916 só começa a ser colocada
8/

em prática a partir dos anos 1970.


24 DOCUMENTOS, 374

ção. Paralelamente à flexibilização da regulamentação de períodos de colheita e intervalos entre as


colheitas, os produtos regionais diferenciados tendem a dar lugar a um tipo de produto padronizado.

Similarmente, as mudanças relacionadas à “comodificação” de erva-mate também tiveram um im-


pacto nas comunidades indígenas na região. Os povos Guarani e Kaingang mantiveram o uso da
erva-mate como parte integrante das suas práticas culturais, o que implicava no manejo da espécie
para consumo próprio. Nas últimas décadas, no entanto, a exploração de erva-mate como uma ati-
vidade comercial e fonte de renda dentro de suas áreas passou a ser conduzida por tarefeiros com
práticas não sustentáveis, ou seja, a intenção era apenas colher a totalidade das folhas, gerando
assim altos índices de mortalidade às árvores erveiras. Essa situação comprometeu a capacida-
de produtiva dos ervais nativos e a própria conservação da floresta. Nos últimos dez anos, uma
parceria entre as comunidades indígenas e a empresa internacional Guayaki – parceira do projeto
Sipam, que valoriza os sistemas tradicionais e ecologicamente sustentáveis, a cultura e o ecossiste-
ma – ofereceu uma oportunidade de reconstruir as práticas de manejo e cultivo da erva-mate numa
escala comercial, respeitando as funcionalidades da própria floresta e valorizando o conhecimento
e as práticas culturais das comunidades.

Apesar desses grandes desafios que seguem ameaçando a continuidade dos sistemas tradicionais
da produção de erva-mate, há resistência por parte das comunidades à predominância completa da
agricultura intensiva na região, o que tem evitado a eliminação dos sistemas agroflorestais e um dos
seus produtos mais representativos, a erva-mate tradicional.

Relevância contemporânea

Nos últimos 30 anos, o processo da colheita, beneficiamento e comercialização da erva-mate sofreu


grandes transformações. Segundo Marques (2014, p. 94): “A produção que era vendida na forma
cancheada [processada], produzida a partir de processos tradicionais que se davam dentro das
propriedades, em pequenos barbaquás9/, dá lugar à venda em folha verde, já que o beneficiamento
passa a ser feito por secadores automáticos de grande capacidade nas agroindústrias do mate.”

Atualmente, as vendas são feitas com folhas in natura e transportadas diretamente para as em-
presas onde o beneficiamento é realizado, o que inclui o sapeco, a secagem e o cancheamento.
Muitas vezes, a erva-mate é vendida ‘no pé’, arranjo pelo qual compradores (intermediários) con-
tratam equipes para realizar a colheita da erva-mate (tarefeiros) e a revendem à indústria, obtendo
retorno econômico baseado na quantidade (peso) de folhas verdes colhidas. Assim, colhe-se quase
a totalidade de folhas, sem manter folhagem mínima para a manutenção das atividades fisiológi-
cas normais das árvores, incorrendo em períodos entre colheitas mais longos (três a quatro anos),
danos físicos e até a mortalidade de indivíduos. Outros proprietários vendem ‘no barranco’, signifi-
cando que o agricultor é o responsável pela colheita, seja com mão de obra familiar, de vizinhos ou
mesmo contratada, porém sem transportá-la até a indústria; ou vendem ‘na indústria’, situação em
que, além de ser o responsável pela colheita, o agricultor faz o transporte até o pátio da indústria
(Marques, 2014, p. 209). Quando há mão de obra familiar para a colheita, a entrega direta na indús-
tria é, normalmente, a que provê maiores retornos econômicos aos agricultores, já que se elimina a
necessidade de remunerar o serviço do intermediário e do tarefeiro.

No contexto atual, poucos agricultores fazem seu próprio beneficiamento e comercialização do pro-
duto. Assim, um dos maiores problemas com os atuais sistemas de produção de erva-mate é que a

Barbaquá se refere à infraestrutura utilizada para secar e processar a erva-mate em sistemas tradicionais (Nimmo et al., 2020).
9/
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 25

maior parte da produção é canalizada para empresas de médio e grande portes que controlam os
preços pagos pelas folhas de erva-mate (Figura 8). Parte significativa dessa sujeição dos erveiros
em relação às empresas relaciona-se ao fato de os pequenos barbaquás terem sido progressiva-
mente retirados da cadeia produtiva por meio de políticas de modernização e regulamentações de
saúde pública que inviabilizaram muitos processadores tradicionais (Chaimsohn; Souza, 2013). Em
São Mateus do Sul, por exemplo, na década de 1980, o município possuía quase 100 barbaquás,
muitos dos quais estavam localizados em pequenas propriedades ou administrados como coope-
rativas entre os erveiros. Atualmente, o município possui oito grandes indústrias de processamento
de erva-mate e algumas fábricas menores.

Figura 8. Distintas cadeias produtivas da erva-mate mostrando as diferenças entre a cadeia baseada na produção e
processamento na própria propriedade ou via indústrias.
Fonte: Nimmo et al. (2020).

Apesar da preferência do mercado e da indústria brasileira pela erva-mate sombreada, frequente-


mente não se oferece diferencial monetário ao produtor que mantém este sistema de produção. Tal
situação cria um desequilíbrio econômico prejudicial ao produtor, pois, em sistemas florestais, jus-
tamente por haver menor densidade de plantas e incidência lumínica e ausência de agroquímicos
(especialmente adubo químico), o rendimento (kg/ha) tende a ser menor em relação ao monoculti-
vo. Assim, apesar de se obter um produto de melhor qualidade, que agrega atributos sociais, histó-
26 DOCUMENTOS, 374

ricos, culturais e ambientais, os agricultores têm pouca autonomia no processamento da erva-mate


e ficam dependentes de uma indústria que não valoriza nem diferencia a matéria-prima de seus
produtos. Consequentemente, isso conduz a um quadro em que os consumidores de erva-mate não
conhecem a história, a cultura ou as práticas agroecológicas inerentes aos sistemas tradicionais de
erva-mate, quando este é o caso, nos produtos que consomem.

Recentemente, a maioria das pesquisas tem se concentrado exclusivamente no aumento da produ-


tividade, no formato de seleção genética e desenvolvimento de clones.

[Nessa] visão produtivista impera a lógica capitalista de mercado, na qual a erva-mate


é vista como uma simples mercadoria e matéria-prima para indústrias [ervateiras] de
médio e grande porte. Normalmente, busca-se adotar sistemas de produção com alto
rendimento, os quais são monocultivos ou com baixa biodiversidade […] Normalmen-
te, são SP constituídos por plantios a céu aberto, com o uso de insumos industriais,
inclusive herbicidas e outros agrotóxicos (Chaimsohn; Radomski, 2016, p. 31).

Embora os programas de melhoramento genético da erva-mate no Brasil tenham inicialmente in-


cluído características adicionais à massa foliar como adaptação, resistência a pragas e doenças,
desfolhamento e tipo de ramificação ou arquitetura (Resende et al., 2000), o foco restringiu-se,
posteriormente, ao aumento da produção da massa foliar (ex. Sturion; Resende, 2010; Wendling et
al., 2018). O foco em alta produtividade com o objetivo de “modernizar” a produção de erva-mate
em uma visão de comoditificação em sistemas de monocultivo está atrelado a pacotes tecnológicos
que incluem o uso intensivo de agroquímicos, especialmente fertilizantes químicos de alto custo e
cujas recomendações anuais chegam a 230 kg ha-1 tanto para o fósforo (P2O5) como para o nitro-
gênio (N) e o potássio (K2O) (Penteado Junior; Goulart, 2019). Pacotes tecnológicos e a indução
ao monocultivo, visando à modernização, são processos semelhantes ao ocorrido para as culturas
de soja, milho e tabaco. Na região do projeto Sipam, famílias de agricultura familiar e comunidades
tradicionais e indígenas se sentem pressionadas a transformar seus sistemas agroflorestais para
uma agricultura convencional mais condizente com a lógica predominante do mercado (Chaimsohn;
Souza, 2013, Chaimsohn; Radomski, 2016; Carvalho et al., 2022).

Na região onde se localizam os sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate, o cultivo de


tabaco é problemático, particularmente para as comunidades tradicionais, porque oferece uma si-
tuação em que a renda do cultivo é garantida, com um ciclo de trabalho fixo e integração com as
empresas fumageiras, criando uma percepção de menor risco para a família (Carneiro et al., 2015).
Por outro lado, esse tipo de cultivo pode comprometer a solidariedade dos grupos, provocando
desmatamentos e a contaminação dos recursos naturais, além de prejudicar a saúde humana e o
meio ambiente (Souza, 2009). Ao longo de mais de um século, a cadeia do fumo – que requer terras
com boa aptidão agrícola e segue captando investimentos públicos em detrimento da produção de
alimentos e erva-mate – tem conquistado a adesão de milhares de agricultores (Rodrigues et al.,
2006). Desde 2004 têm sido desenvolvidas ações de diversificação agrícola na região em resposta
à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), sob os auspícios da Organização Mundial
da Saúde, assinada por mais de 100 países e que, com a ratificação pelo Brasil em 2005, resul-
tou em princípios e diretrizes do Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas com o Tabaco
(PNDACT). Nestas ações, extensionistas trabalham junto aos agricultores para ajudar na transição
de áreas de cultivo de tabaco para áreas de produção diversificadas e sustentáveis. Entretanto, o
processo de reconversão da produção de fumo para a produção de grãos, de leite e da erva-mate
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 27

têm sido lento, com o crescimento da área para plantio de fumo ao longo dos últimos 15 anos10/
(Paraná, 2020a).

Outro grande desafio enfrentado por agricultores familiares e comunidades tradicionais, que condu-
zem atividades agroflorestais tradicionais como a produção de erva-mate, é a constatação equivo-
cada de que esses sistemas são relacionados a ações opostas à conservação das florestas, devido
ao uso e manejo dos recursos naturais. O processo de restaurar ecossistemas florestais no Sul do
Brasil está permeado por décadas de políticas públicas e normas em que, nas interpretações das
agências reguladoras, os produtores de agricultura familiar e comunidades tradicionais e indígenas
são muitas vezes vistos como ameaças à floresta e não confiáveis para manter os ecossistemas
florestais. Isso resulta, por exemplo, na legislação ambiental que delineia restrições sem distin-
guir quem impacta negativamente e quem pode se envolver em agenda positiva a favor do meio
ambiente. As atuais restrições legais ao uso das florestas no Sul do Brasil (ver item A Importância
do Sistema Agrícola) criaram uma situação em que os erveiros se ressentem por não poder usar
os recursos da floresta que eles mesmos têm protegido e fomentado a conservação por gerações
(Nimmo et al., 2020). Por exemplo, apesar da lei permitir o uso na propriedade de agricultura fami-
liar de 15 m3/ano de lenha da floresta sem precisar de autorização dos órgãos ambientais (Brasil,
2012), vários agricultores ainda recebem multas quando fazem o manejo, cabendo ao proprietário
o ônus de provar que está dentro de seus limites legais, uma exigência inalcançável para a maioria
dos agricultores (Lacerda et al., 2020). O resultado desse impasse é que muitos agricultores não
têm interesse em manter ou mesmo aumentar a cobertura florestal na sua propriedade, devido à
percepção de que vão perder a autonomia e o direito de uso sobre aquela terra. Ou, então, que a
floresta que cresce não tem valor porque não pode ser explorada. É justamente no entendimento,
valorização e disseminação do conhecimento e das práticas e respectivos benefícios ambientais e
socioambientais dos sistemas tradicionais de erva-mate que tais sistemas podem se transformar,
de fato, em ferramentas de transformação social, econômica e ambiental.

Análise comparativa

Sistemas de monocultivos no Brasil

Apesar da preferência do mercado consumidor e da indústria pela erva-mate produzida em siste-


mas sombreados, devido ao sabor mais suave, a maior parte da produção nacional de erva-mate
ocorre sob sistema de monocultivo (pleno sol). Conforme pode-se observar na Tabela 1, em 2019
foram produzidas, no Brasil, mais de 517 mil toneladas de erva-mate em plantios e mais de 360 mil
toneladas de erva-mate por extrativismo, o que inclui a erva-mate produzida em sistemas tradicio-
nais (IBGE, 2020a, 2020b). Entretanto, no estado do Paraná, cerca de 62% da produção provém
de ervais tradicionais ou sombreados (Paraná, 2020b). Os denominados sistemas ‘modernizados’
- relativamente recentes no Brasil – e suas respectivas práticas de adensamento, adubação quími-
ca, plantios padronizados e o uso de clones e agrotóxicos começaram a ser utilizados somente a
partir dos anos 1990. Ainda assim, a adoção do sistema baseado no monocultivo impôs mudanças
rápidas e de grande impacto em comunidades que mantinham e manejavam sistemas tradicionais,
cujas culturas estão integradas à erva-mate sombreada, resultando em uma desvalorização das
práticas agroecológicas, da floresta e dos serviços socioambientais associados.

10/
“Atualmente, está em curso o Projeto de Diversificação nas Áreas de Tabaco nos 16 maiores municípios produtores no Paraná...
Apesar das dificuldades na implantação de uma nova atividade, os técnicos estão incentivando a olericultura, a fruticultura, os grãos, o
leite e a erva-mate. Nos últimos anos observou-se um aumento na área de fumo e um pequeno recuo no número de famílias envolvidas
com esta atividade. Isto demonstra uma tendência de as empresas [fumageiras] contratarem famílias com maior número de pessoas,
uma vez que o cultivo de tabaco demanda uma grande quantidade de mão de obra, durante todo o seu ciclo” (Paraná, 2020a, p. 4).
28 DOCUMENTOS, 374

Tabela 1. Produção em valores absolutos (toneladas) e relativos (percentagem) da erva-mate produzida em


plantios e por extrativismo no Brasil e no estado do Paraná, em 2019.

Produção erva-mate Cultivo (%) Extrativismo (%) Total


Brasil 517.779 (58,82) 362.545 (41,18) 880.324 (100)
Paraná 192.872 (38) 314.728 (62) 507.600 (100)
Participação Paraná (%) 37,25 86,81 57,66

Fonte: IBGE (2020a, 2020b).

O monocultivo, cujo foco é o aumento da produtividade por área, está baseado no necessário au-
mento da incidência de luz direta sobre as plantas, o uso de fertilizantes químicos e no uso majoritá-
rio de cultivares geneticamente selecionadas. Intrinsecamente, a adoção do monocultivo em áreas
com cobertura florestal requer uma simplificação intensa dos processos ecológicos dos ecossiste-
mas ou, mais frequentemente, a conversão do uso da terra, incorrendo na supressão da floresta, a
fim de maximizar a produção primária das plantas de erva-mate, produtividade esta somente obtida
quando inexiste sombreamento. Decorrente da eliminação da cobertura florestal, a produtividade do
plantio de erva-mate se mantém unicamente a partir da aplicação intensiva de fertilizantes quími-
cos, o que gera um ciclo de dependência deste insumo, com consequente simplificação e empobre-
cimento dos solos e aumento dos custos de produção. Finalmente, o uso intensivo e majoritário de
plantas de erva-mate geneticamente selecionadas e de reprodução clonal pode provocar a redução
da variabilidade genética dos plantios, aliando maior produtividade e maiores custos de produção,
com riscos de diminuição da sua capacidade de adaptação às mudanças ambientais, resistência
a pragas e doenças. Ademais, à medida que se expandem os plantios de monocultivo sem a im-
plementação concomitante de um plano amplo de conservação genética da erva-mate, incorre-se
no comprometimento da base genética da espécie a partir da eliminação gradual dos indivíduos
com maior diversidade, do isolamento dos indivíduos e, /ou pelo estreitamento da base genética
de populações nativas a partir de sua fecundação cruzada com indivíduos de menor diversidade
(i.e., selecionados geneticamente) e com os problemas relacionados ao tal processo (ex. depressão
endogâmica).

A pressão para aumentar a produção de erva-mate usando tecnologias de agricultura convencional


coloca em risco não só a floresta, cuja permanência na paisagem está intimamente atrelada aos
sistemas tradicionais como discutido anteriormente, mas os próprios vínculos culturais e afetivos
que os erveiros têm com o sistema e a floresta em si. A implementação de protocolos de adubação
e controles químicos e a simplificação da floresta rompem os vínculos que o agricultor mantém com
o cultivo e suas experiências, sendo o conhecimento intrínseco sobre a floresta e as interações
entre as espécies, solo e água negados e apagados. Além disso, no monocultivo da erva-mate,
similarmente ao que aconteceu com milho, soja, tabaco e outras commodities, os agricultores têm
sua autonomia comprometida à medida que ficam dependentes de viveiros produtores de mudas,
da compra de insumos e do crédito rural, itens típicos de pacotes tecnológicos desassociados das
experiências e tradições da agricultura familiar. Este contexto exemplifica um paradigma obsoleto
que trata o desenvolvimento de tecnologias para o meio rural a partir de agentes externos que se
veem incumbidos de pretensa “missão” de modificar sistemas produtivos em nome de uma igual-
mente pretensa modernização. Assim, implanta-se o discurso da urgência de socorrer produtores
rurais de sua própria incapacidade, falta de visão e dos conhecimentos necessários para participar
no desenvolvimento de inovações.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 29

Por outro lado, a produção tradicional de erva-mate, um sistema tipicamente agroflorestal, é pouco
ou nada dependente de insumos externos, além de geralmente ser mais inclusivo quanto à gera-
ção de postos de trabalho. Portanto, o investimento e custeio da produção são muito menores que
aqueles feitos em monocultivos e a distribuição de renda, maior – e, como já foi salientado, mais
significativa para o sustento da família. Apesar de a erva-mate tradicional ter ampla representa-
tividade entre as propriedades familiares rurais no sul do Paraná, a pesquisa e desenvolvimento
destes sistemas têm recebido atenção mínima das ações das instituições de pesquisa e extensão
rural oficiais. Nas poucas situações em que elas ocorrem, trazem consigo premissas e protocolos
calcados no monocultivo ou em pesquisas de pouca ou nenhuma conexão com o campo. Embora
o movimento de organização de produtores de erva-mate tradicional seja um processo iniciado há
quase 30 anos, o engajamento da pesquisa e da extensão que venham a atender às demandas
destes produtores ainda é relativamente recente e minoritário, sendo de 2013 o primeiro estudo
compreensivo publicado sobre o tema (Chaimsohn; Souza, 2013). Desde então, uma crescente
quantidade de trabalhos nesta temática vem despontando (Radomski et al., 2014; Hanisch et al.,
2019; Lacerda, 2019a, 2019b; Nimmo; Nogueira 2019; Lacerda et al., 2020; Nimmo et al. 2020;
Carvalho et al., 2022; Nogueira, 2021). Este novo contexto tem possibilitado uma organização mais
ampla, representativa e ativa dos diferentes agentes ligados aos sistemas tradicionais, fato exem-
plificado pela criação do Observatório dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos da Erva-mate,
capitaneado pelo Ministério Público do Trabalho do Paraná e do próprio projeto Sipam.

A produção de erva-mate na Argentina e Paraguai

Apesar de ter uma história de ocupação da terra similar àquela da região do sul do Paraná, em
termos das comunidades indígenas, missões de jesuítas, migrações, colonização relativamente
recente e a presença de agricultura familiar de pequena escala, o cultivo de erva-mate atual nas
províncias de Missiones e Corrientes, na Argentina, é muito diferente dos sistemas tradicionais en-
contrados no Brasil. A maior diferença reside na percepção de como definir sistemas tradicionais
de erva-mate, pois, na Argentina, a história, práticas e cultura dos sistemas tradicionais são mais
focados no sistema de processamento das folhas da erva-mate, nos barbaquás e carijos, e nas prá-
ticas culturais associadas (Forni, 2016) e não necessariamente na maneira de manejar a espécie
e a floresta.

A Argentina é o maior produtor de erva-mate no mundo, produzindo aproximadamente 800 mil


toneladas de folha verde de erva-mate por ano, nos últimos três anos (INYM, 2020). A grande es-
cala da produção da erva-mate é relacionada a um sistema de monocultivo padronizado, o qual
foi estabelecido na primeira década do século XX (Gallero, 2019), ou seja, há mais tempo do que
no Brasil. Até então, a exploração de erva-mate em florestas nativas continuava sendo o padrão,
mas o interesse crescente na comercialização e exportação da planta causou expressivo aumento
na exploração, obrigando o governo a impor regulamentações para controlar o corte das árvores e
manter o recurso (Gallero, 2019). Porém, em 1930, o governo proibiu a extração de erva-mate em
florestas nativas, promovendo sua substituição completa pelo monocultivo.

Além disso, políticas públicas de ocupação de terra do Nordeste da Argentina, instituídas em 1926,
regularam e incentivaram os plantios, como anotado por Forni (2016, p. 50):

La Dirección Nacional de Tierras establece como condición para la adjudicación de


lotes en el territorio de Misiones la obligatoriedad de residir en la explotación así como
de implantar entre un 25% y un 50% de su superficie con yerbales en un plazo máximo
de dos años a partir de la entrega del título provisorio. De acuerdo a la misma nor-
30 DOCUMENTOS, 374

mativa, aquellos adjudicatarios que implanten con yerba mate el 75% de la superficie
quedaban eximidos de la obligación de residir pero pagarían un recargo en el precio
de la tierra.

Na mesma época, o preço alto da erva-mate incentivou os produtores a expandir os seus plantios e
melhorar a renda mediante inovações de manejo, incluindo o do solo, uso racional de agroquímicos
e manejo integrado de pragas e doenças (Burtnik, 2006). Considerando que a cobertura florestal no
começo do século XX ainda permanecia pouco alterada, pode-se concluir que essa regulamentação
e a expansão dos plantios estimularam a redução das florestas nativas para a introdução de mo-
nocultivos de erva-mate. Assim, o desenvolvimento da produção da erva-mate neste tipo de plantio
levou a um sistema mais homogêneo em relação ao que acontecia na mesma época no Brasil.

Em 1991, o cultivo da erva-mate sofreu total desregulamentação, o que acentuou o processo de


concentração de plantações, causando um excesso de oferta no mercado e resultando em uma
grande queda nos preços da folha verde (Burtnik, 2006). Hoje em dia, na província de Missiones, de
forma similar ao que ocorre no sul do Paraná, a produção de erva-mate é baseada em milhares de
pequenas e médias propriedades da agricultura familiar que sustentam um complexo agroindustrial
de poucos processadores e comerciantes.

Atualmente, cerca de 17.000 produtores primários, dos quais 80% com área plantada igual ou infe-
rior a dez hectares, abastecem pouco mais de uma centena de indústrias de transformação, cujas
quatro mais importantes concentram cerca de 50% da produção para consumo, enquanto as dez
mais importantes concentram 80% das vendas do produto final. (Forni, 2016, p. 51)

Apesar das semelhanças entre países com relação à produção de erva-mate a partir da agricultura
familiar e à falta de autonomia no beneficiamento do produto, o plantio de erva-mate no Nordeste
da Argentina geralmente não acontece num ambiente florestal e o uso de sistemas agroflorestais ou
agroecológicos não é amplamente promovido pelo Instituto Nacional de Yerba Mate (INYM). 

A situação no Paraguai também possui história e contextos únicos que resultaram em sistemas
de produção de erva-mate diferenciados em relação aos do Brasil e da Argentina. Primeiramente,
apesar do fato de o Paraguai colonial ter sido o maior produtor de erva-mate ao longo de séculos,
atualmente o país produz muito menos erva-mate que a Argentina e Brasil, com produção anual
pouco superior a 115 mil toneladas, em 2018 (DGEEC, 2018).

No começo do século XIX, o Paraguai proclamou a sua independência da Espanha, mas as políti-
cas econômicas, a nacionalização das terras e as restrições à exportação do novo governo criaram
uma crise na produção de erva-mate. Nessa mesma época, a produção da erva-mate no Sul do
Brasil começou a aumentar justamente devido à saída do Paraguai desse mercado. Desde então, a
produção paraguaia de erva-mate nunca recuperou a força econômica que teve no período colonial.

Apesar dessa queda no mercado internacional, o cultivo da planta no Paraguai continuou ao longo
do século XIX. Entretanto, outros desafios transformaram o setor ervateiro, principalmente a política
de venda de grandes áreas de terra para empresas internacionais, como a Matte Larangeira do
Brasil que ocupou uma área de 800.000 hectares para a exploração de erva-mate, madeiras e a
criação de gado (Aguinaga, 2017). Assim, até o final do século XX, a produção ficou concentrada
nas grandes indústrias internacionais.

Nos últimos 30 anos, o setor ervateiro perdeu ainda mais espaço com o avanço de monocultivos de
soja que transformaram a paisagem naquele país. No Plan Nacional de la Yerba Mate, desenvolvido
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 31

pela Vicepresidencia de la República del Paraguay em 2015, vários motivos foram destacados para
explicar a transição de grandes plantios de erva-mate para os de soja, incluindo a diminuição da co-
lheita de ervais devido às práticas extrativistas excessivas, aos preços baixos oferecidos pela folha
verde, à percepção da maior facilidade da produção de soja em virtude da mecanização e colheita
anual e à pressão forte de modernização da agricultura por meio de commodities (Aguinaga, 2017).

Entretanto, o cultivo de erva-mate em pequenas propriedades e comunidades indígenas continua


atualmente no país, com muitos produtores usando sistemas agroflorestais e adensamento dos er-
vais em florestas nativas. As grandes reservas de biodiversidade também fazem parte da área pro-
dutiva de erva-mate, incluindo a Reserva Natural del Bosque Mbaracayú (Ferreira; Salas-Dueñas,
2019), que coincide com a área florestal da qual grande riqueza de erva-mate foi obtida durante o
período colonial (Nimmo; Nogueira, 2019). Comunidades locais e indígenas nessa região estão tra-
balhando junto com entidades de sociedade civil para aplicarem estratégias e práticas de desenvol-
vimento sustentável por meio do cultivo de erva-mate em sistemas agroflorestais (ex. https://www.
birdlife.org/worldwide/news/how-shade-grown-traditional-tea-protecting-paraguays-forests).

Características do local proposto do Sipam


Nos últimos 30 anos, movimentos e inovações sociais em municípios e na região centro-sul e su-
deste do Paraná alcançaram a consolidação de uma rede de agentes dentro das comunidades que
entrelaçam as propriedades. Atualmente, essa rede é composta por proprietários e famílias que
mantêm sistemas tradicionais de erva-mate, agentes em organizações de sociedade civil, sindica-
tos municipais da agricultura familiar, e membros de instituições federais e estaduais de pesquisa
e extensão. A culminação dessa rede foi formalizada em 2019 com a criação do Observatório dos
Sistemas Tradicionais e Agroecológicos da Erva-mate, proponente líder da candidatura Sipam, com
um termo de cooperação assinado por 26 entidades11/.

O projeto Sipam reúne pequenas propriedades rurais da agricultura familiar e comunidades fa-
xinalenses de onze diferentes municípios da região e as comunidades indígenas de Rio Areia e
Marrecas (Figura 9). Os cinco municípios parceiros do projeto (São João do Triunfo, São Mateus do
Sul, Rio Azul, Rebouças, Inácio Martins) são proponentes do projeto junto com o observatório e as
outras entidades parceiras. Concomitante ao desenvolvimento do projeto e o Plano de Conservação
Dinâmica, cujo trabalho específico para cada município parceiro está sendo desenvolvido com as
suas Secretarias de Agricultura, Meio Ambiente e Educação para apoiarem as atividades a serem
realizadas junto com os agricultores e demais parceiros do projeto. Esses municípios parceiros es-
tão investindo nas ações do plano para garantir a continuação dos sistemas tradicionais, atrair mais
agricultores para a comunidade de prática e capacitar agentes nas comunidades para realizar ati-
vidades de desenvolvimento sustentável local. Nos seis municípios colaboradores (Cruz Machado,
Bituruna, Pinhão, Irati, Guarapuava e Turvo) o projeto está sendo desenvolvido junto com as redes
de cooperativas, sindicatos de trabalhadores rurais e de agricultura familiar e as comunidades indí-
genas, com apoio de empresas com responsabilidade socioambiental, tal como Guayaki, e outras
entidades como o Ministério Público do Trabalho do Paraná.

Ao longo do desenvolvimento do Dossiê e do Plano de Ação de Conservação Dinâmica, agentes


das instituições parceiras em cada município parceiro e colaborador cadastraram as famílias que

https://www.prt9.mpt.mp.br/informe-se/noticias-do-mpt-pr/45-noticias-prt-curitiba/1292-observatorio-dos-sistemas-tradicionais-e-
11/

agroecologicos-da-erva-mate-e-criado-em-curitiba
32 DOCUMENTOS, 374

Figura 9. Mapa das propriedades e comunidades tradicionais e indígenas do projeto SIPAM.

aceitaram participar do projeto; com isso, consolidou-se a comunidade de prática desse território.
Essas famílias e representantes das comunidades tradicionais, agricultura familiar e indígenas fa-
zem parte do grupo de trabalho que desenvolveu o Plano de Conservação Dinâmica. As ações para
engajar as famílias e as comunidades ocorreram entre 2020 e 2021, que coincidiu com o auge da
pandemia de COVID-19. Assim, as visitas às propriedades e comunidades foram inviabilizadas, e o
cadastramento foi efetuado, em sua maior parte, de maneira remota. Devido à cultura do meio rural,
em que a prosa numa roda de chimarrão e o conhecimento pessoal são altamente valorizados, essa
falta de contato direto com as famílias foi um impedimento e grande desafio para o desenvolvimento
do projeto. Ainda assim, até o momento de enviar o projeto para o Ministério de Agricultura, Pecuária
e Abastecimento do Brasil, foram registradas 275 famílias participantes no projeto. A meta para os
próximos meses e primeiro ano do projeto, e tão logo as condições sanitárias permitam, é continuar
com o cadastramento das famílias e comunidades, alcançando as que são difíceis de contatar, por
meio de comunicação celular, a fim de integrar uma quantidade muito maior de famílias no projeto.

Apesar de ocupar um território relativamente extenso, com uma diversidade de paisagens, os onze
municípios em questão representam um núcleo importante da produção de erva-mate no estado do
Paraná e concentram a maioria dos produtores de erva-mate manejadores de sistemas tradicionais
e agroecológicos. Cruz Machado, Bituruna e São Mateus do Sul, os três municípios que têm a maior
produção de erva-mate no estado (Paraná, 2020b), são integrantes do projeto Sipam, juntamente
com Inácio Martins e Pinhão que ocupam, respectivamente, o sétimo e décimo lugares. Esses cinco
municípios foram responsáveis pela produção de 269 mil toneladas em 2019, representando 50%
da produção de erva-mate do estado (Paranaá, 2020b).
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 33

Situados todos no ecossistema Floresta com Araucária, oito municípios se localizam na Bacia
Hidrográfica do Rio Iguaçu, e suas altitudes variam entre 835 m e 1.198 m acima do nível do mar, o
que lhes confere, somado aos outros fatores – como umidade do ar, média anual de temperaturas
e insolação – a caracterização como clima temperado quente (Cfb), de acordo com a classificação
de Köppen (Wrege et al., 2011).

Algumas características dos municípios abrangidos pelo projeto Sipam, relacionadas à agricultura
familiar, manejo de sistemas agroflorestais e produção total de erva-mate são apresentadas na
Tabela 2.

Tabela 2. Características dos municípios integrantes do projeto SIPAM na produção de erva-mate.

Propriedades Produção de
Produção total Produção
da agricultura erva-mate
Número de de erva-mate, extrativa/
População familiar em relação em sistemas
estabele- segundo agroflorestal
Município estimada ao número de agroflorestais em
cimentos levantamentos de
(2021)1/ estabelecimentos comparação ao
rurais2/ do IBGE3/ e 4/ erva-mate4/
rurais2/ total produzido4/
(t) (t)
(%) (%)
Bituruna 16.411 1.561 76,8 53.700 32.100 60
Cruz Machado 18.772 3.051 74,9 92.200 55.400 60
Guarapuava 183.755 2.134 81,4 13.724 4.545 33
Inácio Martins 11.117 794 60,8 15.958 15.501 97
Irati 61.439 2.394 64,9 4.301 941 22
Pinhão 32.722 2.852 87,9 10.110 9.310 92
Rebouças 14.991 1.242 72,2 3.590 1.310 36
Rio Azul 15.433 2.042 83,7 5.500 4.400 80
São João do Triunfo 15.359 1.959 94,5 7.200 3.672 51
São Mateus do Sul 47.137 3.406 82,5 78.000 39.000 50
Turvo 12.977 1.219 75,2 5.837 4.410 76

Fontes: IBGE Cidades1/ (IBGE, 2021), Censo Agropecuário 20172/ (IBGE, 2017a), levantamento Produção Agrícola Municipal - 20194/ (IBGE, 2020a) e levan-
tamento Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura - 20195/ (IBGE, 2020b).

Segurança alimentar e meios de subsistência

Produção agrícola e a estrutura básica do Sistema

Os sistemas tradicionais de erva-mate são estabelecidos, em sua maioria, em propriedades particu-


lares da agricultura familiar de pequena escala e também em comunidades tradicionais e indígenas,
onde geralmente há significativa cobertura florestal (Lacerda et al., 2020). Sendo uma atividade
pouco intensiva, e devido à história de ocupação de terra na região e os ciclos anuais de colheita, a
produção de erva-mate sombreada favorece a implantação de uma grande diversidade de ativida-
des produtivas para autoconsumo e, ou comercialização nas propriedades.

Em função do uso da terra típico dos faxinais12/, muitas propriedades que produzem erva-mate nos
sistemas tradicionais são compostas de mosaicos de uso de terra. As propriedades mantêm uma
variedade de atividades agrícolas, florestais e de pecuária e suas interações (sistemas agrossilvi-

12/
Sistemas agrícolas desenvolvidos por meio da interação cultural entre os colonos e as comunidades indígenas e caboclas que
ocupavam as terras da região no final do século XVIII (detalhados no item ‘Relevância histórica’ deste documento).
34 DOCUMENTOS, 374

pastoris), que incluem uma grande gama de cultivos alimentícios e commodities, áreas de criação
de animais, apicultura e hortas, entre outros (Figura 10). Apesar da desintegração de muitas comu-
nidades tradicionais, o conhecimento ecológico local e as práticas relacionadas se perpetuam entre
as famílias e comunidades que produzem erva-mate, não sendo incomum a manutenção do traba-
lho coletivo e familiar nas safras. Na colheita da erva-mate, os mutirões – eventos em que parentes
e vizinhos se ajudam mutuamente na poda e colheita das folhas – ainda ocorrem entre erveiros dos
sistemas tradicionais. Além disso, em muitas propriedades, as diferentes gerações não necessaria-
mente atuam nas mesmas atividades agrícolas, criando, assim, camadas diversas de uso da terra
que refletem as metas, percepções e inovações de cada geração.
Ilustração: João Francisco Miró Medeiros Nogueira.

Figura 10. Croqui da propriedade da Família Antunes, Comunidade de Canudos, São João do Triunfo, PR, onde estão
localizadas as benfeitorias e variados usos da terra, desde grande área com cobertura florestal, o erval em floresta, assim
como as lavouras e cultivos convencionais como feijão e tabaco, conduzidos pelas várias gerações familiares.

Os erveiros entendem que a erva-mate que cresce na sombra tem um paladar menos amargo e
mais agradável, assim como observam que há necessidade de se manter um equilíbrio entre a
quantidade de sol e sombra no erval para garantir sua sustentabilidade. Com mais luz, o erval pode
produzir mais, mas com maior incidência de pragas e plantas invasoras e consequente ampliação
da necessidade de insumos externos e aumento de custos para tratos culturais, como o controle
da matocompetição, geralmente com uso de agroquímicos e por via da roçada manual. Na sombra
da Floresta com Araucária, o erval é melhor protegido contra geadas e pragas e apresenta maior
massa verde (folhas maiores), além de proporcionar o mencionado sabor mais suave. Ademais, as
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 35

substâncias de interesse para a saúde humana encontradas naturalmente na erva-mate, tais como
compostos fenólicos, saponinas e metilxantinas (cafeína, teobromina e teofilina), dentre outros, são
encontradas em quantidades maiores nos ervais sombreados (ex. Pires et al., 2016) e podem ser
potencializados com a adição da adubação orgânica (Benedetti et al., 2017). O consumo da erva-
-mate não apenas possui capacidade estimulante, digestiva e diurética (Horn et al., 2018), mas
também inúmeros efeitos farmacológicos, entre os quais se incluem os antioxidantes (Boaventura et
al., 2015), hepatoprotetor (Baeza et al., 2016), anticarcinogênico (Pérez et al., 2014), antimicrobiano
(Costa et al., 2017), antidepressivo (Reis et al., 2014), neuroprotetor (Ludka et al., 2016) e vasorre-
laxante (Gao et al., 2013). Em monocultivo, por outro lado, a intensa matocompetição é cada vez
mais enfrentada com o uso de herbicidas (Figura 11), combinados comumente com inseticidas e
adição de adubos químicos, os quais, de forma geral, tendem a gerar uma menor qualidade da erva
e conservação do solo e água. Além de o uso de tais agrotóxicos não ser regulamentado no cultivo
de erva-mate, seus efeitos sobre a saúde humana e ervais não são conhecidos.
Foto: André Eduardo Biscaia de Lacerda

Figura 11. Cultivo de erva-mate em São Mateus do Sul, com adoção de técnicas de intensificação da produção que
incluem o uso de adubos químicos e controle da matocompetição por agrotóxicos baseados no glifosato. Nota-se grande
clareira resultante da gradual remoção de árvores visando a maximização da produção pelo aumento da incidência de luz
solar nas plantas de erva-mate.

Nos sistemas tradicionais, a colheita das folhas da erva-mate ocorre a cada dois ou três anos,
tempo suficiente para que as árvores se recuperem entre safras (Marques, 2014), forma similar
à prática descrita pelo jesuíta Antônio Ruiz de Montoya entre os Guaranis, no começo do século
XVII (Montoya, 1639a). Neste sistema de manejo, as árvores podem ser colhidas por mais de 100
anos, com pouco impacto na produtividade (Chaimsohn; Souza, 2013). Atualmente, grande parte
dos sistemas tradicionais combina a colheita de árvores de erva-mate manejadas por gerações com
plantios dentro da floresta, geralmente implantados de forma sistemática.

A produção total de erva-mate por propriedade é muito variável e depende de vários fatores, in-
cluindo o ciclo da colheita - geralmente bienal ou trienal para cada árvore - e o preço da folha verde
no mercado, entre outros. Por ser uma atividade com poucos investimentos, insumos químicos e
agrotóxicos, a renda gerada a partir da erva-mate é importante e segura para o sustento da família.
A colheita de erva-mate é descrita pelas famílias como uma poupança “a ser utilizada em investi-
36 DOCUMENTOS, 374

mentos, emergências e pagamento de dívidas. Além disso, em algumas situações, a renda da erva-
-mate possibilita financiar lavouras, máquinas e equipamentos agrícolas” (Marques et al., 2019, p.
9). Assim, assume uma importante função de reserva de valor e de estabilização das unidades fa-
miliares, com grande importância do ponto de vista econômico e social. Das famílias integrantes do
projeto Sipam, a quantidade de erva-mate produzida anualmente varia entre 1.000 kg e 200.000 kg
de folha verde (valor de mercado variando entre R$ 0,80 a R$2,00 por kg), em que a porcentagem
da propriedade usada para o manejo de erva-mate varia entre 1% e 92% (tamanho das proprieda-
des entre 0,5 ha e 89 ha; Tabela 3).

Tabela 3. Resumo das propriedades integrantes do Projeto Sipam Erva-mate Tradicional.

Características das propriedades privadas


Área das propriedades mín-máx (média) 0,5 ha – 89 ha (20)
Área com erva-mate mín-máx (média) 0,18 ha – 35 ha (7,3)
Frequência de colheita da erva-mate Entre 1 e 3 anos
Quantidade de erva a cada colheita mín-máx (média) 20 kg – 200.000 kg (15.000)
Principais alimentos produzidos para consumo da hortaliças em geral, feijão, milho, frutas
família
Outros alimentos produzidos hortaliças em geral, milho, feijão, fumo, pinhão
Trabalhos realizados pelas mulheres Todos, com destaque para atividades domésticas e
produção de hortaliças
Número de homens na propriedade mín-máx (média) 0 – 9 (1.5)
Número de mulheres na propriedade mín-máx (média) 0 – 5 (1.3)

Há diversas espécies vegetais nas áreas de produção de erva-mate que fornecem alimentos impor-
tantes para o consumo próprio das famílias, com destaque para a araucária, que produz sementes
(o pinhão) que são tradicionalmente coletadas e consumidas na região, principalmente entre os
meses de abril e junho (Figura 12). Historicamente, o pinhão tem sido relevante fonte de proteína
e carboidratos na alimentação de comunidades indígenas e dos colonos que chegavam na região,
no final do século XIX, especialmente ao longo do outono e inverno quando havia menor disponibi-
lidade de alimentos. O pinhão é geralmente cozido e posteriormente descascado para consumo ou
usado em várias receitas culinárias tradicionais, como pão, bolo, farofa ou sopas. Muitas famílias
erveiras relatam memórias afetivas com relação à colheita do pinhão, vinculadas com o frio do ou-
tono e do inverno, ao sabor do pinhão tostado pela sapecada das grimpas (galhos) do pinheiro e às
festas comunitárias que celebram a cultura e a história local.

Como os sistemas tradicionais de erva-mate integram a criação de animais e a agricultura, a colhei-


ta de erva-mate é tipicamente uma atividade sazonal de inverno, ao passo que o foco do trabalho
na primavera, verão e outono está nas lavouras anuais e na colheita de alimentos sazonais. É por
isso que os agricultores e industriais da região referem-se ao período de inverno como a época da
erva (Chaimsohn; Souza, 2013).

Os frutos nativos que ocorrem na floresta, e são manejados pelas famílias, incluem a jabutica-
ba (Plinia cauliflora), a guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), o araçá (Psidium cattleianum),
a pitanga (Eugenia uniflora), cereja-do-mato (Eugenia involucrata) e sete-capote (Campomanesia
guazumifolia), dentre outras (Schreiner et al., 2020) (Apêndice 1). Estas frutas são apreciadas pelas
famílias, servem como fonte de alimentação para a criação animal e são consumidas e comerciali-
zadas na forma de suco, polpa e geleias.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 37

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

Figura 12. (A) Vista geral do dossel florestal dominado por indivíduos de grande porte de araucária (Araucaria angustifolia)
e (B) fruto da araucária – pinha – com suas sementes comestíveis – os pinhões.

As plantas alimentícias não convencionais (PANC) e herbáceas, espontâneas e cultivadas, também


fazem parte da soberania alimentar das famílias erveiras e apresentam vínculos com o conhecimen-
to ecológico, a cultura e a culinária local (Kelen et al., 2015). As plantas medicinais incluem não só a
erva-mate, mas uma grande diversidade de árvores e ervas, das quais aproveitam-se suas cascas,
frutos, sementes e folhas. Entrevistas realizadas com os erveiros mostraram que esse conhecimen-
to faz parte dos cuidados com a saúde das famílias e não necessariamente é explorado para fins
comerciais (informação mais detalhada no item Agrobiodiversidade).

Além dos produtos comestíveis e medicinais oriundos da floresta e cultivados nos sistemas agro-
florestais da erva-mate, a lenha da floresta também é um importante aspecto nas propriedades.
Antigamente, havia maior disponibilidade de árvores de grande porte com madeira de boa quali-
dade, tais como a araucária e a imbuia, e que podiam ser cortadas e vendidas para serrarias ou
usadas em construções na própria propriedade. As outras espécies de menor porte e crescimento
mais rápido eram usadas como lenha nas cozinhas das famílias e para secar a erva-mate nos bar-
baquás. Atualmente, o uso da lenha nas propriedades é bem mais restrito. Desde a publicação da
Resolução Conama nº 278 de 24 de maio de 2001 (CONAMA, 2001), houve a suspensão de auto-
rizações para corte ou exploração de espécies ameaçadas de extinção – entre elas a araucária, a
imbuia, a canela-sassafrás e a canela-preta, todas presentes na Floresta com Araucária – ficando
vedado todo e qualquer aproveitamento comercial dessas espécies, ao mesmo tempo em que fo-
ram suspensos os planos de manejo florestal em execução (Pires, 2006). Atualmente, a produção
da Floresta com Araucária se restringe à exploração de bracatingais (fornecimento de lenha) e a
produtos não madeireiros como a erva-mate, plantas medicinais e ornamentais, frutas silvestres e
pinhão (Santos; Müller, 2006). A Lei 12.651 de 25/05/2012, denominada “Novo Código Florestal”
(Brasil, 2012), não alterou os instrumentos legais anteriores no que se refere à intervenções rela-
cionadas à madeira, vedando a supressão da vegetação nativa no bioma Mata Atlântica, onde se
inserem as áreas de sistemas tradicionais de erva-mate. Atualmente, o uso de madeira da floresta
para lenha é restrito a 15 m3 por ano e condicionado ao uso dentro da propriedade, sem a possibi-
lidade de comercialização.

As lavouras também são importantes fontes de renda para as famílias e constituem o maior investi-
mento em termos de insumos e mão de obra. Os principais cultivos convencionais alimentícios usa-
dos nas propriedades são milho e feijão, mas também são cultivados arroz, amendoim, mandioca,
38 DOCUMENTOS, 374

batata e girassol, tanto para o consumo próprio, como para a comercialização (Chaimsohn; Souza,
2013). Estes mesmos autores observaram que, nas propriedades de agricultura familiar pesqui-
sadas que produzem erva-mate, 95% produziam milho e feijão. Nas propriedades que integram o
projeto Sipam, o tabaco e a soja também são cultivados, de forma coerente com uma predominân-
cia do cultivo do fumo observada na região sudeste do Paraná, onde se produz 70% do tabaco do
estado (Ipardes, 2020). 

A criação animal, juntamente com a erva-mate e as lavouras, é amplamente observada nas proprie-
dades e comunidades, onde os produtos são usados tanto para o autoconsumo como para a comer-
cialização, sendo, portanto, indispensável para a segurança e soberania alimentares das famílias.
A criação animal reflete aspectos socioculturais e históricos, pois muitas famílias são descendentes
ou ainda fazem parte de comunidades tradicionais, como os Faxinais, onde porcos e galinhas, e
frequentemente o gado para produção de leite, constituem os diversos tipos de produção conduzi-
dos na propriedade (Figura 13).
Foto: cedida por: CEDErva

Figura 13. Criação de porcos e galinhas no Faxinal de Emboque sob árvores centenárias de erva-mate, em São Mateus
do Sul, PR.

Finalmente, o último elemento fundamental para a segurança alimentar das famílias, e que geral-
mente é de domínio das mulheres, são as hortas junto às casas. As hortas são baseadas no conhe-
cimento ecológico local, usando-se práticas agroecológicas e incluem uma grande diversidade de
verduras, hortaliças e plantas medicinais que contribuem de forma significativa na disponibilidade
de alimentos de qualidade, na independência e baixa necessidade de consumo de produtos exter-
nos. Ainda de grande relevância é o frequente uso de plantas de variedades crioulas, cuja impor-
tância para a manutenção genética de produtos alimentícios é comumente esquecida. A grande
maioria dos integrantes do projeto de candidatura ao Sipam possui uma horta para autoconsumo
das famílias.

Segurança alimentar e dos meios de subsistência

Em entrevistas com os erveiros conduzidas entre 2017 e 2019, relatou-se que, devido à grande
diversidade de alimentos produzidos nas propriedades de sistemas tradicionais de erva-mate, não
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 39

há restrições ao acesso a alimentos, ou em suas próprias palavras “ninguém passa fome na pro-
priedade”. Assim, muitas dessas famílias sentem-se seguras quanto à produção de alimentos, em
que sua própria soberania alimentar permite uma certa autonomia em relação aos alimentos de
origem externa à propriedade e, especialmente, satisfação por quase não consumir alimentos in-
dustrializados obtidos em supermercados dos centros urbanos, tidos como de qualidade inferior e
que deveriam ser evitados. 

Como parte do conjunto de atividades que integram a renda familiar, a produção agrícola é geral-
mente comercializada nas grandes indústrias (no caso da erva-mate e tabaco) ou em cooperativas
de grãos. A contribuição da erva-mate para a renda familiar varia entre os proprietários, sendo a
principal fonte para algumas famílias, contribuindo com quase 100% da renda, enquanto para ou-
tras ela é vista como uma poupança para pagar custos extraordinários ou dívidas, muitas vezes
oriundas da produção convencional do agronegócio (Marques et al., 2019). Em levantamento feito
na região com 60 propriedades, observou-se que a produção de erva-mate representa mais de 20%
da renda bruta total anual em apenas 20% das propriedades, e mais de 10% da renda bruta em 33%
das propriedades (Marques, 2014).

Muitas famílias beneficiam sua própria erva-mate em processos artesanais de pequena escala,
sapecando, tostando e cancheando as folhas para consumo próprio. Ainda, as folhas da erva-mate
são utilizadas em usos diversos na culinária, como em bolos, pastéis e outros (Figura 14). Este uso
constitui um importante fator de orgulho e é percebido como mostra de independência em relação
às indústrias, com profundos significados sociais e culturais. Assim, a produção e o beneficiamento
da erva-mate na propriedade são atos de resistência e soberania frente ao mercado industrial para
quem elas vendem.
Foto: cedida por: CEDErva

Figura 14. Produtos típicos da culinária regional onde a erva-mate é utilizada: pastéis (esquerda)
e bolo (direita).

Em termos de grãos e lavouras convencionais, como tabaco, soja e milho, a renda também varia
entre propriedades, mas a comercialização dos produtos é realizada mediante grandes empresas e
cooperativas ligadas aos mercados nacionais e internacionais de commodities, com os consequen-
40 DOCUMENTOS, 374

tes riscos relativos às flutuações do preço de mercado e do crédito rural. Em Rio Azul, por exemplo,
muitos proprietários participantes do projeto Sipam têm o tabaco como principal fonte de renda fami-
liar. Não obstante, parte da propriedade é dedicada à produção para autoconsumo da família, como
a erva-mate, o feijão, hortaliças, batata, frutas, leite, ovos e carne de porco. Além disso, o ambiente
da floresta e as hortas agroecológicas e quintais agroflorestais presentes nas propriedades (May;
Trovatto, 2008) oferecem uma gama de produtos alimentícios sazonais que são aproveitados pelas
famílias, como frutos silvestres e pinhão, entre outros.

As hortas da casa são fundamentais para a segurança alimentar da família não só em termos de
provisão de alimentos para o consumo próprio, mas, também, para aumentar a renda da famí-
lia a partir de programas governamentais para a segurança alimentar. A partir da tradição de ter
hortas nas propriedades, muitas famílias hoje participam dos programas de segurança alimentar
nos municípios, incluindo o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE), que são pilares da estratégia nacional para atender às metas do
ODS2 da ONU, Fome Zero e Agricultura Sustentável. Esses programas exigem que um porcentual
dos alimentos sejam oriundos de produção orgânica e da agricultura familiar: o PAA requer que
100% de alimentos sejam produzidos pela agricultura familiar; e o PNAE prevê que 30% tenham
origem na agricultura familiar e orgânica (Rocha et al., 2012; Ferreira de Moura, 2017; Blay-Palmer
et al., 2021; Brasil, 2021). 

A maioria das famílias não tem a capacidade de produzir suficiente volume de alimentos para entrar
nesses programas individualmente. Assim, em todos os municípios, as famílias se reúnem em co-
operativas para atender a esses programas (por exemplo, Cofaeco de São Mateus do Sul, Cofatril
em São João de Triunfo, entre outros). A inserção via cooperativas comunitárias oferece a oportu-
nidade de participar nos programas de segurança alimentar governamentais em nível municipal, o
que constitui uma renda segura para a família, e também possibilita acesso a outros mercados que
exigem maior volume para comercialização e que são normalmente inacessíveis aos produtores
individualmente.

A importância das hortas não se limita apenas à sua ampla ocorrência dentre as famílias da agri-
cultura familiar, mas também se destaca pela escolha do sistema de produção. Em um estudo con-
duzido a partir de entrevistas realizadas em 32 propriedades na região, os proprietários afirmaram
que a produção de suas hortas era 100% agroecológica (Milléo et al., 2006). Esse fato mostra não
somente uma consciência da importância da agroecologia para cultivar alimentos saudáveis para
humanos e ambiente, mas, também, a continuidade do uso das práticas agrícolas herdadas por
gerações que não dependeram de insumos químicos. Considerando que a produção das hortas é
baseada em práticas agroecológicas, seus produtos estão aptos para inserção em programas de
certificação orgânica, por exemplo. Especificamente, algumas famílias já participam do Circuito de
Comercialização da Rede Ecovida, que oferece uma certificação orgânica participativa que não
possui as restrições financeiras comuns a outras certificações.

É importante destacar que, em média, mais de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros (in-
cluindo feijão, mandioca, carne de porco e leite) provêm da agricultura familiar (Rocha et al., 2012;
FAO, 2016) e muitas das propriedades que produzem erva-mate são agentes importantes para a
segurança e soberania alimentares da população da região.

Contribuição para a sustentabilidade e a resiliência do sistema

Os sistemas tradicionais de erva-mate apresentam sistemas integrados de geração de renda, cons-


tituídos pelos recursos advindos dos cultivos anuais, criação de animais, hortaliças e a própria
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 41

produção de erva-mate. A ampla gama de alimentos que são aproveitados do sistema, incluindo os
que vêm da floresta, são oriundos do manejo sustentável dos recursos naturais. Isso tem garantido
a continuidade de práticas, conhecimentos e tradições associadas, em especial aquelas ligadas ao
manejo da floresta.

Embora tenham sido baseados em sistemas de subsistência aprendidos no processo de troca de


saberes entre as comunidades ancestrais e colonizadores, os sistemas não são estáticos, e mui-
tas inovações e renovações já ocorreram, em especial ao longo dos últimos 30 anos. Na década
de 1990, a partir de um movimento de organizações da sociedade civil (principalmente a AS-PTA
– Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) e instituições estaduais e regionais,
deu-se início a um processo de conservação, valorização e reintrodução de variedades crioulas de
espécies agrícolas, medicinais e florestais na região e os conhecimentos associados. Muitos pro-
prietários que produzem erva-mate nos sistemas tradicionais também produzem variedades locais
de uma grande diversidade de espécies agrícolas e de frutas nativas. 

É importante destacar que muitas famílias reportam pressão para intensificar a produção de com-
modities nas propriedades, como soja e tabaco, como única forma moderna de incrementar a renda
familiar e em detrimento de outros usos da terra. Essa pressão não apenas está ligada à indústria
do agronegócio, mas também às instituições de extensão rural, a profissionais ligados à agronomia
convencional, assim como ao ensino tanto em nível técnico como superior. Em comum, apresentam
pacotes tecnológicos majoritariamente atrelados a sistemas monocultivos como a única maneira
de se prosperar no meio rural, popularizando e enfatizando o consumo, por exemplo, de agrotóxi-
cos, máquinas etc. Com essa abordagem, conhecida na região como ‘agro é pop’, os jovens das
comunidades tradicionais, indígenas e de agricultura familiar são inundados com mensagens que
relacionam o conhecimento tradicional e as práticas voltadas à manutenção da floresta, e os pro-
dutos oriundos, como formas superadas de produção e buscam substituí-las por uma visão focada
unicamente na produtividade e rentabilidade.

A valorização e o uso dos produtos que vêm da floresta, as hortas agroecológicas como parte im-
portante da segurança e soberania alimentares das famílias e a tradição culinária das comunidades
– incluindo a erva-mate, as plantas medicinais, o pinhão, as frutas e verduras – atuam como uma
barreira contra a conversão das áreas florestais em monocultivos e, de certa forma, em relação às
pressões do sistema agroindustrial. Além disso, os sistemas tradicionais reduzem os riscos asso-
ciados ao agronegócio e oferecem uma proteção frente às oscilações do mercado (Marques et al.,
2019). Nesse contexto, a soberania aliada com a manutenção dos sistemas tradicionais de erva-
-mate dentro das propriedades fornece a possibilidade de manter a autonomia e independência da
família em relação ao mercado do agronegócio e evitar a dependência por alimentos industrializa-
dos de qualidade inferior. Nesse último ponto, é importante destacar que a diversidade nutricional
dos produtos de qualidade oriunda das propriedades da agricultura familiar na região tem um papel
importante na nutrição e saúde não só das próprias famílias, mas também de suas comunidades
por intermédio dos programas PNAE e PAA.

A cultura da alimentação e culinária das famílias originadas pela experiência acumulada de gera-
ções no uso das espécies vegetais e animais encontradas nas propriedades também são importan-
tes para a sustentabilidade e continuidade dos sistemas tradicionais de erva-mate, e se juntam aos
vínculos afetivos que muitas famílias erveiras têm em relação à floresta em si e ao seu manejo. A
comida saborosa e as receitas que integram os elementos da floresta e do sistema fazem parte de
sua sustentabilidade justamente pela manutenção dentro das propriedades. Os bolos de pinhão co-
42 DOCUMENTOS, 374

letado no inverno, os pastéis de ricota de leite das vacas ordenhadas todas as manhãs, o torresmo
frito na banha de porco, o chá-mate das folhas tostadas feito sobre o forno que assa o pão ofere-
cem sentimentos e memórias de prazer, de pertencimento, da floresta, do lugar. Por ser um sistema
“cheio de memórias, de comida boa, do trabalho duro, mas gratificante, do tempo passado com os
parentes e amigos da comunidade”, a sustentabilidade dos sistemas tradicionais de erva-mate não
somente é uma aliada do conhecimento da floresta, mas também do pertencimento e afeto que os
erveiros sentem em relação ao ambiente (Marques et al., 2019; Nogueira, 2021).

Agrobiodiversidade

Para compreender a agrobiodiversidade dos sistemas tradicionais e agroecológicos de produção


de erva-mate é importante relacioná-la com as características dos ambientes naturais nos quais
os sistemas se instalaram: a Floresta com Araucária e sua complexidade, riqueza e variedade
de paisagens, espécies e processos ecológicos. Sob a mesma floresta, os erveiros observaram,
experimentaram e geraram conhecimentos que resultaram em novos usos e aprimoramentos nas
relações entre as pessoas e a natureza (Chang, 1988). 

A cobertura florestal na erva-mate sombreada é variada dentro e entre propriedades, tanto em


termos de estágio sucessional, estrutura, diversidade quanto ao tipo de manejo. Em um estudo
realizado na região, observou-se que, em média, 40% da área das propriedades é coberta com flo-
resta, ou seja, o dobro de área de florestas em relação ao mínimo de 20% de Áreas de Preservação
Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) exigido pela legislação ambiental, para o caso de pro-
priedades rurais de pequena escala (menor que quatro módulos fiscais que, na região, se encontra
entre 64 e 96 hectares) e nas quais a absoluta maioria das propriedades familiares dos sistemas
tradicionais de erva-mate se enquadra (Chaimsohn; Souza, 2013). As áreas florestais em que a
extração e manejo de erva-mate ocorrem são variadas em termos de estágios de desenvolvimento
(estágios de sucessão ecológica), desde florestas secundárias mais jovens (capoeiras e capoei-
rões) onde é frequente o plantio e o manejo mais intenso das árvores de erva-mate, até fragmentos
florestais mais desenvolvidos (florestas secundárias e florestas primárias alteradas) onde predo-
mina a extração de folhas de erva-mate de árvores adultas de maiores dimensões (Figura 15). As
florestas mais desenvolvidas normalmente têm árvores de variados tamanhos e idades, distribuídas
em camadas de altura (estratos), maior diversidade de espécies (riqueza e equabilidade) e padrões
de desenvolvimento (life history characteristics) onde se encontram espécies de longos ciclos de
vida (ex. pinheiro e imbuia). Já as florestas mais jovens geralmente possuem uma estrutura mais

Figura 15. Perfil esquemático dos distintos cultivos de erva-mate em relação ao componente florestal, variando de flores-
tas desenvolvidas (esquerda), até florestas mais abertas (direita).
Fonte: Marques (2014).
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 43

simples (tamanhos homogêneos), níveis mais baixos de diversidade e espécies de ciclo de vida
mais curto e tipicamente pioneiras (ex. bracatinga - Mimosa scabrella).

Conforme descrevem Chaimsohn e Souza (2013), o levantamento florístico em propriedades rurais


familiares que cultivam erva-mate na região indicou a ocorrência de 107 espécies e 39 famílias
de plantas – número muito expressivo por representar cerca de 80% das espécies florestais da
Floresta com Araucária. Entre as espécies levantadas, várias delas apresentaram potencial de uso
econômico, conforme apontam Coradin et al. (2011). Além da própria erva-mate, entre os exem-
plos dessas espécies com potencialidades comerciais estão: a araucária (A. angustifolia) e uvaia
(Eugenia pyriformis) para produção de alimentos; aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius) e
casca-de-anta (Drimys brasiliensis) entre as espécies aromáticas; carqueja (Baccharis sp.) e vas-
sourinha (Baccharis dracunculifolia) entre as plantas medicinais; outras espécies úteis para produ-
ção de mel ou madeira.

Os levantamentos que constam no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra
da Esperança (Paraná, 2009) também contribuem para a compreensão da biodiversidade dos ecos-
sistemas da região. A área da APA da Serra da Esperança coincide com o território de municípios
em que a economia da erva-mate é relevante. Entre eles, estão Inácio Martins e Rio Azul, cujas
prefeituras municipais são parceiras do projeto de candidatura ao Sipam, e Bituruna e Irati que
são sedes de instituições igualmente parceiras neste trabalho. Desta forma, emprestam-se dados
da APA da Serra da Esperança para dimensionar a biodiversidade de toda a região. No Plano de
Manejo desta área de proteção ambiental, são listados registros de mais de 300 espécies arbóreas,
388 de aves, 94 de mamíferos, além de 40 espécies de peixes, 32 de anfíbios e 58 de répteis. As
características ambientais da APA, e consequentemente da região, são completadas, ainda, por sua
riqueza de sítios arqueológicos, rios e outros cursos d’água, além dos aspectos geológicos.

Quanto à biodiversidade faunística, a presença de três fitofisionomias distintas – a predominância


de Floresta Ombrófila Mista, a Floresta Estacional Semidecidual e pequenas extensões alteradas de
Campos Naturais – determinam uma biodiversidade faunística em que as espécies ainda ocorrem
de maneira diversificada e se distribuem nos vários ambientes, como as florestas, campos, rios e
córregos. Alguns estudos registraram 64 espécies de mamíferos na mesorregião, o que indica que,
do total da biodiversidade de mamíferos do Paraná (cerca de 140 espécies), 45% têm seu hábitat na
área desta mesorregião, e muitas são dependentes dos remanescentes florestais de Floresta com
Araucária ainda existentes. Entre elas, ocorrem 12 espécies de mamíferos com status críticos ou
importantes para a preservação da fauna paranaense (Paraná, 2018). Com relação à biodiversida-
de das aves, do total de cerca de 700 espécies que ocorrem no Paraná, 316 foram registradas nesta
região, o que representa aproximadamente 44% da avifauna do Estado, demonstrando, portanto,
um índice médio de diversidade avifaunística na região (Figura 16).

No que diz respeito à conservação das espécies que ocorrem no sudeste paranaense, algumas são
de extrema importância, pois são espécies raras, ameaçadas de extinção e migratórias. Do total das
espécies de aves presentes, registra-se a ocorrência de 19 espécies com o status crítico, 12 delas
consideradas com status ameaçado de extinção, e sete espécies com status raro (Paraná, 2018).
A ictiofauna da bacia do rio Iguaçu se caracteriza por apresentar peixes de pequeno porte, com in-
tenso processo de especiação (oito espécies simpátricas de lambaris na comunidade) e um grande
número de espécies endêmicas. Assim, registram-se para as porções do Médio e Alto Iguaçu, no
sudeste paranaense, 42 espécies de peixes distribuídas em 24 gêneros, sendo 25 espécies endê-
micas e três exóticas (Agostinho et al., 1997).
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44 DOCUMENTOS, 374
Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

C D

Figura 16. Diversidade da fauna: (A) urubu-rei (Sarcoramphus papa); (B) tiriba-de-testa-vermelha (Pyrrhura frontalis), (C)
Figura
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cenário de biodiversidade em que se desenrolam as relações entre pessoas e natureza, das
Lacerda.
Lacerda.
quais decorrem experimentações que resultam no uso e formação da agrobiodiversidade.

● ●Espécies
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A compreensão inicial do uso da erva-mate como alimento se amplia pelo pelo
extrativismo de frutas
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47
47 47
47
tenção do ecossistema e a renda das famílias.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 45

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

Figura 17. Frutas nativas típicas da Floresta com Araucária: (A) goiaba-serrana e (B) araçá-amarelo.

Também se alia a este quadro de associação à biodiversidade, a importância das plantas medicinais
para os cuidados com a saúde. No levantamento feito para o Plano de Manejo da APA da Serra
da Esperança, identificou-se uma grande quantidade de espécies de plantas medicinais utilizadas.
No município de Inácio Martins, por exemplo, apontou-se o uso de 22 plantas diferentes (Paraná,
2009). Dentre as espécies mais comumente utilizadas para diversos usos farmacológicos, podemos
citar araçá (Psidium cattleianum); aroeira (Schinus terebinthifolius); caraguatá (Bromelia antiacan-
tha); carqueja (Baccharis spp.); cataia (Drimys brasiliensis); espinheira-santa (Monteverdia trunca-
ta); pau-amargo (Picramnia parvifolia); pau-andrade (Persea major) (Mello, 2013; Corrêa; Azeredo
Penna, 1984).

Conforme o relato dos agricultores (CEDErva, 2021) da comunidade faxinalense Faxinal do


Emboque, em São Mateus do Sul, na qual a produção de erva-mate tem relevância, há exemplos
que ilustram a agrobiodiversidade: as variedades de arroz-sequeiro (ou arroz-de-sequeiro, que sig-
nifica um sistema de plantio que não requer solo submerso para cultivo deste alimento), de centeio
e trigo que viabiliza o preparo de pães (broas), a pesca nos rios e a criação de porcos de raças
rústicas.

Ainda no Faxinal do Emboque, há caso dos suínos que resultaram na criação de variedades de por-
cos robustos como o nilo-de-brinco, orelha-de-colher e taça-de-burro, assim como a produção de
carneiros que são observadas em propriedades na região (Figura 18). O exemplo mais conhecido,
no entanto, é o porco-de-raça-moura. É uma variedade de origem ibérica, mas que se tornou uma
raça local. Adapta-se bem às condições climáticas da região e combina com o aproveitamento de
recursos naturais locais para sua criação – que inclui os frutos nativos, milho, mandioca e abóboras
cultivadas no próprio sítio onde o animal vive (isso também ocorre com as variedades de porcos
citadas anteriormente). A criação dos animais permite o acesso à proteína animal, com o consumo
de carnes, embutidos (linguiças) produzidos localmente e o aproveitamento da gordura (banha)
para uso doméstico – muitas vezes em substituição ao óleo vegetal (soja, principalmente) que é
encontrado nos supermercados.
46 DOCUMENTOS, 374

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

Figura 18. Produção animal em propriedades tradicionais de produção de erva-mate. Os carneiros (A), além de fonte de
proteínas e renda, são utilizados no controle da matocompetição e adubação em ervais. Os porcos (B) são típicos das
propriedades rurais com sistemas tradicionais de erva-mate, como os faxinais.

Contribuição da agrobiodiversidade para a sustentabilidade e a resiliência do sistema agrícola

A sustentabilidade e a resiliência dos sistemas tradicionais e agroecológicos de produção de erva-


-mate envolve micro e macro dimensões, respectivamente, quando se relaciona com o próprio siste-
ma agrícola e quando se associa a um contexto maior de problemas ambientais e da busca por sua
solução. Nesse sentido, os efeitos das mudanças do clima e da perda de serviços ecossistêmicos
recaem sobre a propriedade rural, na comunidade em que estão inseridas e, ao mesmo tempo, em
escalas maiores – do âmbito regional ao estadual e mesmo nacional e internacional.

Uma primeira ilustração desta circunstância são as relações entre o uso da terra nos sistemas de
erva-mate e a cobertura de vegetação, a qual mantém em média entre 15% e 20% dos ecossiste-
mas naturais, e o regime hídrico das bacias hidrográficas que confluem para o rio Iguaçu – o mesmo
rio que, desde suas nascentes, percorre cerca de 1.300 km para formar as famosas Cataratas do
Iguaçu. Nesse sentido, atesta-se que o que acontece a montante da foz deste rio tem relação com
a saúde deste curso d’água e com a permanência dos fenômenos que se retratam nos cartões
postais.

Uma segunda ilustração é a ocorrência de espécies ameaçadas e raras na região (Paraná, 2009) e,
com expectativa técnica de igual ocorrência, nas propriedades rurais dos erveiros. A araucária (A.
angustifolia) é a mais conhecida espécie ameaçada, associada à imbuia (Ocotea porosa), à canela-
-sassafrás (Ocotea odorífera) e à palmeira-guaricana (Genoma elegans). Entre a fauna, a lista de
ameaçadas apresenta espécies como cobra-d’água (Gomesophis brasiliensis), papagaio-de-peito-
-roxo (Amazona vinacea), gavião-bombacha (Accipiter bicolor), onça-parda ou puma (Puma conco-
lor) e ariranha (Pteronura brasiliensis), entre outras (Paraná, 2009). A classificação do status quanto
à raridade ou grau de ameaça segue a classificação em “listas vermelhas” elaboradas por órgãos
ambientais do Governo do Paraná (IAT) e do Governo Federal (ICMBio/MMA).

Passado e futuro juntos para resiliência dos sistemas tradicionais de erva-mate

Para o futuro, os agricultores cultivam o passado. Anualmente, realiza-se na região a Feira Regional
de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade que, em 2019, chegou à sua 19ª edição e aconteceu
no município de Rebouças. Em 2020, devido à situação de epidemia da Covid-19, o evento não foi
realizado, mas, em 2021, a Feira Regional ocorreu virtualmente com seminários, vídeos, discus-
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 47

sões e um festival cultural13/. Até a sua última edição presencial, as feiras registravam participação
de mais de quatro mil pessoas e mais de 100 expositores – guardiões de sementes e pessoas que
levam esta produção para troca com outros expositores e agricultores. A abrangência geográfica
da feira, porém, é maior, visto que costuma receber visitantes de mais de 70 municípios de outras
regiões do Paraná e de outros Estados brasileiros.

Além das exposições e trocas de sementes crioulas de milho, feijão, abóbora, erva-mate, pimenta,
arroz, raízes, batata, batata-doce, frutas e hortaliças, entre outras, os visitantes também podem
conhecer produtos, de alimentos agroecológicos até artesanato, assim como participar de seminá-
rios técnicos e de oficinas educativas (Figura 19). Na parte recreativa, durante os dias de evento,
geralmente há apresentações de música e outras manifestações artísticas.

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

Figura 19. XVII Feira Anual de Sementes Crioulas em São João do Triunfo (2018).

Os objetivos dessa feira são manter o material genético de sementes usadas nos cultivos agríco-
las – em algumas situações, sementes de algumas plantas vêm sendo guardadas há mais de 50
anos – e contribuir para a independência dos agricultores em relação à necessidade de aquisição
de sementes no comércio. Também é objetivo salvaguardar características dos alimentos produzi-
dos a partir das sementes crioulas, principalmente quanto à sua qualidade nutricional, conservação
genética e manutenção da diversidade de variedades cultivadas. Finalmente, a guarda de sementes
crioulas visa resistir a modelos hegemônicos de cultivo agrícola – aqueles que orientam para ado-
ção de padrões restritos tanto do modo de produzir como no de gerar experimentações e conhe-
cimentos e, ao reduzir a variedade de alimentos, até mesmo restringir as formas de se alimentar.

Entre as sementes guardadas, destaca-se o milho. É uma das plantas-exemplo para ilustrar a redu-
ção de sua diversidade pela agricultura intensiva de tecnologia – incluindo-se aí o desenvolvimento
e uso de variedades transgênicas. O trabalho com o milho crioulo contribui, assim, para demonstrar
as consequências da agricultura “moderna”, pautada pelo mercado de commodities. Ou seja, são
colocados em discussão os desafios de monitoramento para que as espécies não comerciais não
sofram contaminação pelas variedades transgênicas. Além disso, são divulgados e promovidos re-
sultados de esforços de agricultores que conseguem manter sementes crioulas da espécie ao longo
do tempo. O cuidado com o milho também se reflete na alimentação, visto que as plantas cultivadas
com sementes crioulas resultam em produtos incomuns no mercado hoje em dia, por não serem

13/
https://web.facebook.com/ColetivoTriunfo/videos/1807313199468609/
48 DOCUMENTOS, 374

transgênicos: farinhas, fubás, amidos, entre outros derivados. Tais produtos ganham dimensões de
efeitos na saúde, já que a composição nutricional desses alimentos é, geralmente, mais benéfica
para o funcionamento do organismo.

Em outras frentes de manutenção da variedade de cultivares tradicionais, ainda no âmbito de asso-


ciações informais dos agricultores erveiros e dos sindicatos dos trabalhadores rurais, desde 2005,
planeja-se a constituição de um banco do mate, ou seja, um banco de material genético da erva-
-mate que inclui o cuidado e a guarda de matrizes e sementes da planta. Neste sentido, já foi reali-
zado o mapeamento de árvores matrizes de erva-mate para a sua conservação visando à seleção
genética das melhores plantas e consequente produção de sementes. O trabalho se iniciou em São
Mateus do Sul e se expandiu para outros municípios, repassando-se técnicas de demarcação para
conservação (perpetuação) de erveiras que produzem mais e resultam em sabor diferenciado da
bebida, como principais características.

O trabalho do banco do mate se associa ao cultivo de abelhas nativas, em razão da polinização


realizada por esses insetos, para a reprodução natural da planta. Também se associa a outros in-
divíduos da fauna que contribuem com a dispersão natural da erva-mate, como é o caso de aves
como a pomba-saleira (Patagioenas picazuro) que se alimenta dos frutos maduros da planta. A seu
modo, autenticamente em um processo ecológico e com função ecológica, as atividades de abelhas
e aves contribuem nesse contexto para determinar as variações botânicas da erva-mate.

Outra prática que visa à manutenção da agrobiodiversidade é o evitamento do uso de produtos


químicos para a fertilização do solo ou para o combate de pragas. Conforme relata Luiz (2017), os
erveiros da região recorrem a insumos naturais como o pó-de-pedra (também conhecido como pó-
-de-rocha) para enriquecimento mineral do solo. O controle de lagartas e ervas daninhas se dá por
manejo manual. Isto é, o produtor remove os galhos infestados com pragas ou retiram os cipós que
podem sufocar as erveiras. Em outras situações de contaminação dos ervais, como é o caso da
ocorrência da broca da erva-mate (Hedypathes betulinus), busca-se o controle por meio das aves
que se alimentam deste tipo de inseto ao mesmo tempo que os combate nos ervais.

Por fim, menciona-se a contribuição deste esforço coletivo dos agricultores dos sistemas tradicio-
nais pela resiliência dessas práticas de produção que trazem uma gama de benefícios ambientais
para a sociedade como um todo, desde a fixação de carbono na vegetação, a manutenção da biodi-
versidade e diversidade genética dos cultivos crioulos, até a regularização de fluxos do ciclo hídrico.
Cada ação dessas torna-se cada vez mais importante para desenvolver mitigações e adaptações
frente às mudanças do clima. As inovações e estratégias que resultam dos trabalhos colaborativos
entre os agricultores e as instituições de pesquisa e extensão, além das entidades da sociedade
civil, são os fundamentos do projeto Sipam. Essas inovações, que reúnem conhecimentos advindos
das relações dos agricultores com o meio natural e as potencialidades de processos ecológicos da
biodiversidade local, oferecem oportunidades de apoiar a continuidade dos sistemas, a permanên-
cia das famílias no campo, assim como desenvolver novos caminhos para enfrentar e superar não
apenas a insegurança alimentar, mas também, ao menos, parte das imensas desigualdades sociais
que, infelizmente, caracterizam o Brasil.

Sistemas de conhecimento locais e tradicionais

Os sistemas tradicionais de produção da erva-mate funcionam como um conector de significados e


experiências comuns, tais como os “modos de trabalhar”, de interagir com as pessoas e a natureza,
e dar continuidade às práticas culturais e socioambientais relacionadas à floresta.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 49

Ao longo de gerações, as comunidades desenvolveram o Conhecimento Ecológico Tradicional


(CET), permitindo-lhes implementar práticas de manejo florestal que combinam sustentabilidade
dos recursos alimentares saudáveis e florestais com vários cultivos, árvores nativas e criação de
animais. O CET foi definido por Berkes (1993, p. 3) como “um corpo cumulativo de conhecimentos
e crenças, transmitidos por meio de gerações por transmissão cultural, sobre as relações dos seres
vivos (incluindo os humanos) entre si e com o meio ambiente”. Embora seja frequentemente usado
para se referir especificamente aos paradigmas dos conhecimentos indígenas, o CET também pode
incluir comunidades tradicionais e de colonizadores que têm práticas sustentáveis de uso histórico
e contínuas de recursos ambientais, pois esse conhecimento é cumulativo e dinâmico, ou seja, se
baseia na experiência acumulada por gerações, mas também se adapta às novas tecnologias.

No manejo e processamento de erva-mate em sistemas tradicionais, pode-se ver as raízes de práti-


cas dos Guaranis, traços dos conhecimentos europeus sobre manejo de plantios de oliveiras e tam-
bém uma acumulação de experiências baseadas na vida dentro da floresta. O regimento de poda de
três anos, por exemplo, é uma continuação da prática realizada pelos Guaranis, como foi descrito
pelo cronista Padre Antonio Ruiz de Montoya em 1610 quando viajou pela região de Mbaracayu, no
Paraguai colonial (Montoya, 1639a). Montoya descreve que esse intervalo era necessário para que
a árvore pudesse rebrotar e retornar à “beleza e grandeza que teve antes de ser podada” (Montoya,
1639a, p. 8.1). Como destacam Nimmo e Nogueira (2019), o manejo da erva-mate pelos jesuítas
durante os séculos XVII e XVIII foi uma construção de práticas híbridas, baseadas no entrecruza-
mento do conhecimento e no paladar dos Guaranis com o entendimento de cultivo de pomares
europeus, como acontecia no caso das oliveiras.

Similarmente, o sistema faxinal é uma mistura da tradição de criação de animais soltos, oriunda das
práticas instaladas nas grandes fazendas de gado do século XVIII, com as tradições de agricultura
de subsistência dos caboclos e indígenas, e os aportes e aplicação do conhecimento de manejo
agrícola dos imigrantes, principalmente poloneses (Chang, 1988).

A presença da erva-mate nas florestas das regiões centro-sul e sudeste paranaenses em que os
novos imigrantes se instalaram é um ponto chave, pois, ao mesmo tempo que foi o principal produto
da economia regional, é um produto sazonal. Como destaca Chang (1988, p. 36), associada ao
extrativismo sazonal da erva-mate, “havia a prática da policultura alimentar e da produção animal
doméstica. A prioridade do mate e a necessidade da subsistência induziram aos poucos a uma de-
finição mais nítida quanto ao uso da terra... as terras onde se encontravam as maiores concentra-
ções de erva-mate teriam que ser preservadas… [e] as lavouras consequentemente eram abertas
em terras que não apresentavam ervais”. Sabe-se, no entanto, que as matas abertas em que houve
a extração de erva-mate ofereceram um ambiente ideal para a criação doméstica dos suínos, res-
significando, assim, o conhecimento ecológico tradicional das comunidades locais.

Conhecimentos tradicionais e práticas de manejo local

As bases ecológicas e a sustentabilidade econômica do sistema de produção tradicional e agro-


ecológico de erva-mate estão em grande parte fundadas em uma “economia de sinergia” ou de
integração interna e externa. Internamente, aproveita-se os produtos e a biomassa produzidos na
propriedade, que, além das vantagens agronômicas e dos serviços ambientais associados, envol-
vem considerável economia monetária relativa à redução da dependência de insumos externos.
Externamente, a cooperação entre vizinhos e familiares é importante fator de criação de vínculos
sociais que permitem a troca de informações sobre os cultivos e a consolidação de uma economia
solidária. Ainda, a cooperação possibilita uma considerável redução da dependência de mão de
50 DOCUMENTOS, 374

obra contratada e, portanto, com menor dispêndio de recursos financeiros. A economia de sinergia
provê, desta forma, uma relevante otimização de mão de obra e financeira, pois avaliações mos-
tram que se pode economizar até 80% da renda líquida familiar ao se evitar os produtos e serviços
oriundos do mercado local (Almeida; Fernandes, 2003).

O manejo tradicional da erva-mate reflete o conhecimento ecológico tradicional acumulado por gera-
ções e que responde às variações existentes no ambiental florestal. As práticas culturais e silvicultu-
rais utilizadas de forma geral se fundamentam na adequação do ambiente à produção de erva-mate
e são dependentes de fatores diversos, como estrutura florestal, diversidade de espécies arbóreas,
presença de espécies dominantes ou invasoras, histórico de intervenções, dentre outros. Neste
contexto de manejo ambiental, ações tanto de recuperação da estrutura e diversidade biológica em
ecossistema florestal, como a redistribuição espacial das árvores são realizadas (Lacerda 2019a).
Entretanto, a produção tradicional de erva-mate não é restrita às práticas silviculturais focadas na
espécie, mas sim a um conjunto de conhecimentos específicos sobre as espécies individualmente
e suas relações em comunidades florestais, o que possibilita ao agricultor decidir empiricamente
quais as ações de manejo da floresta que devem ser tomadas.

Em termos gerais, as práticas de manejo são baseadas no entendimento empírico da sucessão


ecológica, uma vez que os agricultores aplicam seus conhecimentos sobre o ciclo de vida e intera-
ções entre as espécies para propiciar o desenvolvimento de uma floresta diversa, para a produção
de erva-mate e outros produtos.

Um dos tipos de manejo tradicional de erva-mate é típico de florestas em estágio inicial e médio
de sucessão ecológica ou mesmo de florestas em estágio avançado, mas com níveis intensos de
degradação. Os agricultores compreendem que tais florestas comportam ações de manejo que
propiciem o avanço da sucessão ecológica, ao mesmo tempo que proveem produtos na forma de
folhas, frutas, casca e madeira. Ainda, merece destaque o manejo de florestas dominadas por bam-
bus nativos (especialmente as taquaras – Merostachys spp. Spreng.) as quais se encontram em
estagnação sucessional (Kellermann; Lacerda, 2017) e, portanto, possuem níveis aquém de seu
potencial produtivo e de conservação. Em tais situações, os agricultores atuam de forma a controlar
as populações de bambus, substituindo-os gradualmente por plantios de erva-mate, o que permite,
ao mesmo tempo, a recomposição da estrutura e diversidade da floresta.

No sistema de produção tradicional e agroecológico de erva-mate, quando as florestas possuem


dossel (camada superior das copas das árvores) dominado por espécies arbóreas de ciclo curto
(pioneiras), incentiva-se o desenvolvimento de plantas de interesse (madeireiras, medicinais, frutí-
feras etc.) oriundas da regeneração natural para futuramente substituírem as adultas de ciclo curto.
Desta forma, a regeneração natural é mantida em grande parte inalterada exceto nos locais de plan-
tio de erva-mate e nos caminhos e acessos. À medida que as plantas da regeneração natural se de-
senvolvem e começam a competir entre si e com a própria erva-mate, são escolhidos os indivíduos
com as melhores características fenotípicas (tronco reto, aspecto saudável) e adequada distribuição
espacial (estar em clareira, distante de erva-mate), sendo os demais gradualmente removidos de
forma a criar uma população arbórea com espaçamento entre 5 m a 10 m entre si, distanciamento
este próximo ao de uma floresta natural e que provê sombreamento em nível considerado adequa-
do à erva-mate. A mesma lógica aplica-se à vegetação adulta que, por meio de podas e remoções,
juntamente com o manejo da regeneração natural, direciona-se ao desenvolvimento de uma floresta
com as seguintes características:
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 51

• Distribuição espacial das árvores – os indivíduos arbóreos, tanto adultos como jovens, além
dos da regeneração natural, são manejados objetivando-se uma distribuição relativamente homo-
gênea das árvores e, desta forma, evitando-se um sombreamento excessivo do sub-bosque que
tende a causar redução da produção de erva-mate. Assim, porções demasiadamente densas de
uma floresta tendem a ser desbastadas e, ou podadas. Em geral, tais situações ocorrem quando
há árvores distantes a menos de 2 m entre si. Da mesma forma, clareiras maiores que o espaço
de algumas poucas copas de árvores precisam ser ocupadas a partir do incentivo ao desenvol-
vimento de plantas da regeneração natural. Tal distribuição espacial das árvores é combinada
com uma seleção de espécies diversas, evitando-se a concentração de indivíduos das mesmas
espécies.

• Balanço da estrutura da floresta – o manejo objetiva manter árvores de espécies e ciclos de


vida diferentes, de idades variadas e de arquitetura e alturas diversas. O manejo tende a possi-
bilitar o avanço da sucessão ecológica por meio da seleção de espécies de ciclo mais longo, em
detrimento das espécies pioneiras. Não obstante, nas situações em que há a necessidade de
recomposição de clareiras ou de áreas degradadas, as espécies pioneiras são selecionadas de
forma a possibilitar a reestruturação do dossel de forma mais rápida. Após o desenvolvimento de
novo dossel, as espécies pioneiras são gradualmente removidas a fim de prover espaço para as
espécies de ciclo mais longo e oriundas da regeneração natural. Adicionalmente, a idade das ár-
vores - avaliada pelas suas dimensões e condição sanitária (podridão, rachaduras) - é base para o
aumento de plantas da regeneração a serem mantidas, visando uma futura substituição daquelas
tidas como senis. Desta forma, a presença da regeneração natural é desejável e incentivada em
locais de baixa cobertura de dossel e áreas com árvores senis, sendo mantida em níveis de menor
densidade nas demais porções da floresta.

• Disponibilidade de luz – a produção da erva-mate é diretamente dependente da disponibilidade


de luz solar às plantas, havendo redução importante nas áreas de floresta densa e aumentando
significativamente nas áreas de menor sombreamento. O balanço entre nível de produção de er-
va-mate e manutenção de ambiente florestal é baseado em conhecimento empírico que considera
não somente a densidade de árvores, mas a permeabilidade das copas, como tipo de folhagem,
forma da copa, caducifolia (perda de folhas no inverno) e aspecto (exposição das vertentes). É
importante destacar que, em um ambiente florestal, há grande variação da luminosidade no nível
do sub-bosque e que sua homogeneização em níveis restritos é impraticável. Tanto empiricamen-
te como baseado em alguns estudos, sabe-se que níveis de sombreamento superiores a 70-80%
mantém a produção da erva-mate em níveis muito reduzidos, especialmente se as plantas são
podadas para colheita em alturas baixas (0,5 m a 1,5 m). Por outro lado, níveis muito superiores
a 50% de luminosidade tendem a alterar tanto a estrutura e ambiente florestal como o próprio
sabor da erva-mate (Suertegaray, 2002), descaracterizando-a como erva-mate sombreada, ou
seja, baseado em modelo agroflorestal tradicional. Assim, um sombreamento na faixa entre 50%
e 70% é tido como ideal, sendo que em níveis superiores as plantas precisam ser cultivadas em
alturas superiores.

• Diversidade de espécies – a floresta é manejada de forma a manter representantes das dife-


rentes espécies arbóreas típicas da região. Assim, não somente são evitadas as aglomerações
de árvores da mesma espécie, mas também se garante que estas estejam o mais homogenea-
mente distribuídas pela floresta. A eficiência do gradual, mas constante, manejo das espécies é
demonstrada pela alta diversidade de espécies arbóreas encontradas nos sistemas tradicionais
52 DOCUMENTOS, 374

de produção de erva-mate e que, em conjunto, representam parte considerável da diversidade da


Floresta com Araucária (Chaimsohn; Souza, 2013).

• Proteção do solo – a manutenção de uma cobertura florestal de dossel deve sempre estar pre-
sente de forma a proteger o solo da incidência direta das chuvas, evitando-se, desta forma, erosão
superficial. Além disso, a poda da erva-mate em níveis menores que a do monocultivo e a roçada
de vegetação espontânea, protegem o solo da ação erosiva das chuvas e escorrimento superficial
de água.

• Controle natural de pragas e doenças – a conservação de um ambiente florestal onde as re-


lações ecológicas se mantenham equilibradas é base para o controle de pragas e doenças. A
presença de inimigos naturais de insetos, especialmente aves, mantém a incidência de ataques
de pragas típicas do monocultivo da erva-mate (ex. broca-da-erva-mate - Hedypathes betulinus)
em níveis baixos. Ainda, a incidência de ataques de outros insetos à erva-mate é controlada a
partir da sua remoção manual, como ocorrem nos casos da ampola-da-erva-mate (Gyropsylla
spegazziniana), lagarta-da-erva-mate (Thelosia camina), lagarta-do-cartucho (Hylesia sp.) e da
cochonilha-de-cera (Ceroplastes grandis). Ademais, entende-se que a incidência eventual de ata-
ques e doenças é natural, devendo-se avaliar se tal ocorrência teve origem em fatores ambientais
adequados (temperatura, estiagem/excesso de chuvas) ou se há algum desequilíbrio no sistema
florestal que precisa ser remediado (abertura demasiada do dossel, deriva de agrotóxicos das
vizinhanças).

• Matéria orgânica e ciclagem de nutrientes – a matéria orgânica (serapilheira) oriunda das ár-
vores da floresta mantém a biota do solo equilibrada (Primavesi, 2016, 2018) e propicia os nu-
trientes necessários para o desenvolvimento da erva-mate. A exploração de erva-mate provoca a
exportação de quantidades consideráveis de nutrientes, uma vez que há a retirada periódica das
folhas e ramos finos para comercialização. O uso de sistemas agroflorestais - neste caso sistemas
tradicionais para a produção de erva-mate - contribui para a manutenção da qualidade do solo,
graças ao intenso aporte de serapilheira que pode variar entre 7.132 kg ha-1ano-1 a 9.402 kg ha-
-1
ano-1, constituindo-se em uma importante fonte de nutrientes, com destaque ao aporte de N, Ca
e K, e Mn (Machado, 2014).

• Tratos culturais agroecológicos – o cuidar dos ervais inclui o controle eventual da matocom-
petição feito a partir das roçadas manuais (foice) ou mecanizadas (roçadeira costal), em que a
matéria verde é deixada para compor a camada orgânica do solo, servindo, portanto, como fonte
de adubação natural, ao mesmo tempo que ajuda a aumentar o tempo de recomposição da mato-
competição. Outra forma de controle da competição, às vezes em conjunto com as roçadas, é por
meio do pastoreio de animais de criação, tanto de gado como de carneiros. A pastagem de gado
em ervais é possível, mas requer a disponibilização de pasto adequado para se evitar que as pró-
prias folhas da erva-mate sejam comidas; em casos de deficiência alimentar mais elevada, o gado
passa a se alimentar da casca das árvores, com danos significativos à produção da erva-mate e
sanidade da floresta de forma geral. Já o uso de carneiros no pastoreio da área tem sido utiliza-
do com sucesso no controle da matocompetição, ao mesmo tempo que reduz significativamente
a necessidade de mão de obra necessária para as roçadas, produz adubação de qualidade e é
fonte adicional alimentar e de renda às famílias. A adubação de ervais em sistemas tradicionais
é uma prática não difundida, embora haja interesse pelos agricultores no tema. Nesse sentido,
alternativas agroecológicas como o uso de esterco, pó-de-rocha, cinzas de caldeiras, maravalha
e outras fontes se encontram em fase inicial de experimentação. Resultados experimentais mos-
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 53

tram que o uso da adubação orgânica pode gerar resultados até mesmo superiores à química
como descrito por Benedetti et al. (2017) e Pandolfo et al. (2003), tendo sido utilizada cama de
aviário pelos últimos autores.

• Conservação da diversidade genética – entre os produtores tradicionais de erva-mate, é difun-


dida a prática de identificação e proteção de árvores matrizes tanto de erva-mate como de outras
espécies de interesse. Estas são protegidas, comumente com a colheita reduzida ou inexistente,
de forma a manter a “genética” da espécie na propriedade e região, ao mesmo tempo que serve
de fonte de sementes de qualidade para a produção própria de mudas ou para a venda/troca de
sementes. Em comunidades mais organizadas, como em São Mateus do Sul, observa-se a exis-
tência de banco genético comunitário, que objetiva manter a diversidade genética de indivíduos
longínquos (as matrizes centenárias) e disponibilizar sementes de qualidade da própria região,
evitando-se a entrada de plantas de origem e, ou de base genética desconhecida.

Quanto aos tratos culturais específicos da erva-mate, tem-se:

• Poda

Em sistemas tradicionais, as folhas de erva-mate são colhidas por meio da poda dos galhos da
árvore durante o inverno, para evitar a colheita de brotos novos que se desenvolvem em outras
épocas do ano, deixando cerca de 20% da folhagem para suportar o seu crescimento (Figura 20).
Geralmente, a poda das árvores ocorre a cada dois a três anos nos sistemas tradicionais, com
Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

C D

Figura 20. Exemplos de diferentes tipos de poda de erva-mate utilizada em sistemas tradicionais: (A) poda baixa, comum
Figura
Figura20.20.Exemplos
Exemplos de de diferentes
diferentestipos
tipos
de poda
de poda de deerva-mate
erva-mateutilizada
utilizada
em em sistemas
sistemas
em Figura
ervais20.
Figura plantados;
20. (B) poda
Exemplos
Exemplos de alta, comum
diferentes
debaixa, em tipos
diferentessistemas
desilvipastoris;
tipos poda
de ervais
poda
de (C) rebaixamento
erva-mate
de erva-mate deutilizada
árvores
utilizada emusado
em para
sistemas revitaliza-
sistemas
tradicionais:
tradicionais: A – Apoda
– poda baixa,
comumcomum em em
ervais plantados;
plantados;B - B
poda
- poda
ção de ervais; (D) poda de ponteira, onde galhos verticais são desfolhados e deixados na planta. alta,alta,
comumcomum em em
tradicionais:
tradicionais:
sistemas
sistemas A – Apoda
– poda
silvipastoris;
silvipastoris;baixa,
C –baixa,
comumcomum
Crebaixamentoem em
– rebaixamento ervais
deervais
deplantados;
árvoresplantados;
árvores B-B
usado poda
usado - para
para poda
alta,revitalização
alta,
comumcomum
revitalização emde emde
sistemas
sistemas
ervais;
ervais; silvipastoris;
D –Dpodasilvipastoris;
– poda C –
de ponteira, Crebaixamento

de ponteira, rebaixamento
ondeonde
galhos de
galhos de
árvores
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verticais usado
sãosão usado
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desfolhados revitalização
desfolhados revitalização
e deixados
e deixados de
na dena
ervais;
ervais;
planta. D
planta. – Dpoda
Figuras –
Figuraspoda
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cedidas ponteira,
de
cedidas ponteira,
por:por:onde
André onde
André galhos
galhos
Eduardo
Eduardo verticais
verticais
Biscaia
Biscaia são são
desfolhados
de Lacerda. desfolhados
de Lacerda. e deixados
e deixados na na
54 DOCUMENTOS, 374

rodízio de manejo dentro da propriedade para se ter produção a cada ano. A pausa entre safras
de erva-mate vem de uma longa história de práticas, conhecimentos e, mais recentemente, regula-
mentações legais.

O intervalo de colheita de três anos foi consolidado antes da chegada dos europeus na região, para
assegurar a continuidade da rebrota e a recuperação das árvores. Esse padrão do intervalo perma-
neceu ao longo dos últimos cinco séculos, sendo instituído legalmente no Paraná em meados do
século XVIII e continuando até 1986, quando a lei que regulamentava a exploração, a industrializa-
ção e a comercialização de erva-mate no território nacional – Ato nº 001/86, de 24 de janeiro 1986,
art. 7º, do extinto IBDF – recebeu nova redação (Chaimsohn; Souza, 2013). Em 1992, a regulamen-
tação de limites quanto ao período e intervalo mínimo entre as safras foram liberados (Instrução
Normativa do IBAMA nº. 118-N, de 12 de novembro de 1992, Art. 2º). Apesar dessa liberação de
limites entre safras, os erveiros mantêm um ciclo de dois a três anos, pois reconhecem ser o tempo
necessário para a recomposição da folhagem.

As práticas de manejo da erva-mate tendem a ser vistas com preconceito pelos técnicos, já que
muitas vezes são consideradas atrasadas. De fato, o manejo da erva-mate em paisagens florestais
ou agroflorestais não faz parte do discurso técnico de cursos de agronomia e extensão rural. Por
essa razão, a maior parte do conhecimento sobre o manejo dos ervais nativos é proveniente da
experiência acumulada e compartilhada pelos agricultores (Lacerda et al., 2020).

• Processamento

O processamento das folhas da erva-mate para tomar como infusão (chimarrão ou chá tostado)
está intimamente relacionado com as práticas desenvolvidas pelos Guaranis antes da colonização
europeia. Nesse processo, os ramos podados eram tostados rapidamente em fogo aberto na flores-
ta para remover a umidade, um método conhecido como “sapecar”, já descrito pelo Padre Montoya
no início do século XVII (Montoya, 1639b). Se as folhas não são secas imediatamente, ficam pretas
e não são aptas ao consumo. Depois de sapecar as folhas, os galhos maiores são removidos e as
folhas são secas por várias horas. Esse processo de secagem era feito na floresta em um carijo
(uma estrutura grande e temporária em forma de treliça), com fogo na parte inferior da estrutura.
Mais tarde, os barbaquás se tornaram mais comuns, caracterizando a transferência do processo
para uma estrutura fixa, com fonte indireta de calor (Figuras 21 e 22; Chaimsohn; Souza, 2013). 

Depois da secagem, as folhas são moídas até se transformarem em pequenos fragmentos ou,
mesmo, pó. Para consumir a erva-mate como chimarrão, as folhas moídas são colocadas em uma
cuia sobre a qual se derrama água quente, e a infusão é consumida por um canudo de metal (origi-
nalmente feito de bambu) e compartilhada entre o grupo.

Atualmente, o processamento e beneficiamento da erva-mate são, geralmente, feitos nas indústrias


de médio a grande porte, que usam um sistema automatizado de sapecar, tostar, cachear e em-
pacotar as folhas (ver item A Importância do Sistema Agrícola - Relevância Contemporânea). Com
essa mudança, que ocorreu ao longo da década de 1980, houve uma padronização e homogenei-
zação do processo e do produto, que distanciou a erva-mate cada vez mais do sistema tradicional
de manejo e produção. Entretanto, barbaquás artesanais (Figuras 21 e 22) e pequenas indústrias
de erva-mate ainda existem nas propriedades e comunidades tradicionais e indígenas, fornecendo
oportunidades de valorizar e comercializar os produtos oriundos dos conhecimentos tradicionais.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 55

Foto: João Francisco Miró Medeiros Nogueira. Foto: João Francisco Miró Medeiros Nogueira.

Figura 21. Processamento em um barbaquá artesanal Figura 22. Antigo barbaquá na propriedade da
da Família Fialek, Comunidade São Judas Tadeu, Cruz Família Szymanek, Comunidade Rio do Banho,
Machado, PR. Cruz Machado, PR.

Conhecimentos tradicionais de saúde popular

Integrados aos sistemas tradicionais de erva-mate estão os conhecimentos sobre plantas medici-
nais e as práticas tradicionais de cura: simpatia, defumação, oração, benzimento, ervas medicinais,
xaropes e “costura” de machucadura (ASA, 2008). As pessoas detentoras desses conhecimentos
são conhecidas como benzedeiras ou benzedeiros, mas são menos comuns, que utilizam práticas
de cura baseadas na fé, orações e plantas medicinais, entre outras, para tratar uma gama de pro-
blemas de ordem física, emocional ou espiritual e algumas atuam como parteiras. Os conhecimen-
tos das benzedeiras são adquiridos por meio de tradições orais passadas de uma geração para
outra e são aprimorados ao longo da experiência de vida. Também são relacionados às manifesta-
ções culturais “que unem fé, tradição e devoção [como] novenas, mesadas de anjo, danças de São
Gonçalo, procissões, recomendas” (Masa, 2012).

Um elemento importante na prática de benzimento é a aplicação de xaropes, chás e outras


substâncias de cura que estão baseados no conhecimento tradicional sobre as propriedades de
plantas medicinais da floresta. Como detalhado na discussão sobre Agrobiodiversidade (item
Agrobiodiversidade), há uma grande variedade de plantas conhecidas e colhidas pelas benzedeiras
para tratar de dores, febres e outros males. Os fundamentos desses saberes são herança dos po-
vos indígenas e caboclos da região, envolvendo também raízes de culturas africanas e europeias,
que produzem práticas de saúde popular e cotidiana difundidas nas comunidades do centro-sul e
sudeste do Paraná. A partir da criação do Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa), as benze-
deiras conseguiram estabelecer em alguns municípios, como Rebouças e São João do Triunfo, leis
municipais que as reconhecem como agentes de saúde das comunidades locais, conferindo-lhes di-
reito à posse de carteira e certificado, acesso aos demais recursos naturais essenciais ao modo de
vida das benzedeiras, bem como livre acesso às plantas medicinais em Unidades de Conservação
Ambiental (Almeida; Marin, 2012).

• O manejo dos recursos da terra e da água

A erva-mate ocorre naturalmente em solos de baixa fertilidade, com baixos teores de cátions trocá-
veis, altos teores de alumínio e pH baixo. Não ocorre em solos hidromórficos e apresenta ocorrência
esparsa em solos rasos (Oliveira; Rotta, 1985; Carvalho, 1994;). Medrado (2000) considera que a
erva-mate exige solos com profundidades maiores que 1 m, não suportando solos compactados ou
56 DOCUMENTOS, 374

encharcados, pois 80% de seu sistema radicular estão concentrados na camada superior do solo,
sendo sensível à falta de oxigênio nessa região.

Embora as folhas do mate possam ser obtidas de ervais plantados, dados do IBGE (2017b) apon-
tam que 85% da produção extrativista do país são produzidos no Paraná. Assim, a colheita da erva-
-mate em floresta é a principal atividade de extrativismo vegetal do Brasil, com 362 mil toneladas
colhida em 2019, seguido pelo açaí com 222 mil toneladas (IBGE, 2021).

O pousio da terra para descansar e repor a fertilidade do solo tem sido menos utilizado atualmente
por causa da intensificação do uso da terra e da pressão de aumentar a produtividade e pela inse-
gurança quanto à possibilidade de manejo futuro, especialmente quando uma vegetação se desen-
volve no local e passa a ser considerada como “floresta”, passando a ter restrições legais para o
seu manejo. Nos últimos 30 anos, projetos de pesquisa e extensão têm monitorado e desenvolvido
alternativas de adubação orgânica e verde para regenerar a fertilidade do solo sem o uso de adubo
químico. Em algumas propriedades têm sido testadas tais alternativas, especialmente as que pro-
duzem e decompõem uma grande quantidade de biomassa, o que pode ser complementado com
uma mistura de esterco, cinza, fosfato de rocha e calcário e biofertilizantes (Almeida; Fernandes,
2003).

A partir de trabalhos desenvolvidos com agricultores familiares, a AS-PTA sintetizou as práticas tra-
dicionais e a consolidação de um pensamento agroecológico no seguinte estudo de caso:

O controle da vegetação espontânea é feito através da capina manual associada a


rotações de culturas e à utilização de cobertura morta. Os aportes externos são vistos
mais como ativadores da dinâmica biológica do solo do que como fertilizantes pro-
priamente ditos. A família também mantém áreas em pousio. Em algumas delas, são
conduzidos experimentos de enriquecimento com adubos verdes e fosfato natural,
com o intuito de acelerar a recomposição da fertilidade. O quadro de diversificação
da propriedade permite estratégias variadas de manejo da fertilidade do agroecos-
sistema, incluindo agroflorestação e reservas florestais. Da agrofloresta são extraí-
das plantas medicinais, erva-mate, lenha e frutas silvestres. Nela a família realiza um
trabalho de desbaste seletivo da regeneração natural, enriquecimento com plantas
medicinais e adensamento do erval. No total, mais de 35 espécies da agrofloresta são
utilizadas pela família. O remanescente florestal é destinado à preservação. Agroflo-
resta e reserva florestal juntas somam mais de 42% da área da propriedade. (Almeida;
Fernandes, 2003)

O manejo das águas das propriedades é baseado na proteção da vegetação ciliar dos cursos d’água
e nascentes, pois os agricultores entendem claramente a relação de dependência entre a disponi-
bilidade de água de qualidade e a floresta. Neste sentido, há uma percepção de que as mudanças
do clima têm gerado maior escassez de água relacionada a estiagens mais prolongadas e invernos
mais amenos. Como consequência, há exemplos de agricultores, tanto de produtores tradicionais
de erva-mate como convencionais, procurando recuperar as matas ciliares como forma de restaurar
e, ou manter as fontes de água das propriedades.

A preocupação com a qualidade dos recursos hídricos também tem evoluído à medida que pro-
gramas governamentais e legislação ambiental estabeleceram critérios e regras para o acesso de
animais de criação aos cursos d’água. Assim, criadouros, especialmente os chiqueiros, tiveram
sua localização junto aos cursos d’água proibidos, fato que impactou de forma geral a agricultura
familiar. Ainda, incentivos via programas de recuperação de mata ciliar incluem ações para impedir
o acesso de gado aos rios, assim como estabelecem alternativas para a provisão de água para as
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 57

criações, distintas do acesso direto às fontes naturais. Nesse sentido, as práticas agroecológicas
dos produtores tradicionais de erva-mate têm estado à frente destas mudanças, adotando práticas
de gerenciamento hídrico nas propriedades, de forma a manter a disponibilidade e qualidade das
águas, ao mesmo tempo que protegem os ecossistemas ribeirinhos.

Embora não haja estudos específicos avaliando a correlação entre a cobertura florestal e a dispo-
nibilidade de água na região com produção tradicional de erva-mate, a conexão entre provisão de
água e cobertura natural, especialmente de florestas, é fato amplamente reconhecido pela ciência
e incentivado por órgãos internacionais ligados à saúde humana e à conservação dos recursos na-
turais (ex. FAO, 2013, 2019). Neste contexto, há indiscutível importância para a provisão de água
com qualidade a partir da produção tradicional de erva-mate, sendo este uso da terra o maior, senão
o único, sistema produtivo agroflorestal da Floresta com Araucária. Assim, não somente a conti-
nuidade deste sistema de produção é essencial à provisão de águas, mas sua disseminação tem
potencial de incrementar a disponibilidade e qualidade de água para a bacia do Rio da Prata, por
meio de programas de restauração ambiental baseados em sistema tradicional de erva-mate. As
técnicas e práticas destes sistemas tradicionais passaram recentemente a compor as discussões
sobre as boas práticas e restauração ambiental com publicações técnico-científicas por instituições
governamentais como a Embrapa (ex. Lacerda, 2019a, 2019b) (Figura 23).
científicas
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por instituições
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23). 23).

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23.23. 23. Publicações
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de Erva-mate. Fonte:Fonte:
Lacerda Lacerda
(2019a,b).
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• A contribuição dos conhecimentos tradicionais para a sustentabilidade e resiliência do sistema

Os remanescentes da Floresta com Araucária nas regiões centro-sul e sudeste paranaenses estão
● numa disposição
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dos conhecimentos
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tradicionais
tradicionais
é é
58 DOCUMENTOS, 374

mas de uma vivência coletiva que partilha experimentações da floresta. Como foi destacado em
entrevista com uma agricultora faxinalense:

Faxinal é uma tradição antiga, costume de nossos avós e tataravôs. É uma tradição
dos povos faxinalenses. Comer carne crioula, evitar a poluição, respirar um ar mais
puro debaixo dessas árvores. Marili Pacheco de Lima, faxinal Água Amarela de Cima,
Antônio Olinto (Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, 2008, p. 3).

As práticas agroecológicas presentes nesse grupo social carregam saberes geracionais, e são mar-
cadas pela identidade de pertencimento a uma comunidade tradicional. O cotidiano nas proprie-
dades e nas comunidades tradicionais e indígenas possibilita não só a troca de conhecimento dos
agricultores e agricultoras experimentadores, mas também o espaço de sensações, as emoções e
os sonhos sombreados pela Floresta com Araucária.

Como um sistema que ocorre na floresta, o conhecimento e uso das espécies nativas são profundos
e permeiam a vida cotidiana das famílias erveiras. Andando na floresta com um erveiro, conversan-
do sobre o sistema, fica óbvio que a sua cultura e a sua identidade têm uma relação íntima com o
meio, em que cada espécie é conhecida e entendida como parte do sistema. Entrevistas conduzi-
das na região do projeto Sipam mostraram que as memórias e Conhecimento Ecológico Tradicional
(CET) estão inscritos na paisagem e na floresta (Nimmo et al., 2020; Carvalho et al., 2022). Esses
produtores reconhecem o seu papel importante na preservação da floresta. Apesar das ameaças
e percepções por vezes conflituosas sobre a floresta, eles entendem que não é uma cobertura da
terra inútil que deve ser transformada em monocultura, nem um ambiente intocável que deve ser
deixado sem uso, mas, sim, que a floresta é produtiva. Com isso, eles constroem sua própria iden-
tidade em relação a essa floresta, como mantenedores e portadores de conhecimento. Os erveiros
são administradores de um ambiente que fornece serviços e produtos ambientais necessários para
que o país prospere, quanto mais para enfrentar mudanças climáticas, insegurança alimentar e uma
série de outras questões próprias dos tempos atuais (Nimmo et al., 2020).

Assim, o conhecimento e as práticas de manejo do sistema asseguram a continuidade dessa paisa-


gem cultural florestal que está permeada por séculos de uso, memórias e histórias. Compartilhando
essas histórias, usando as espécies da floresta na propriedade e manejando a floresta para garantir
a produção e a qualidade da erva-mate e os serviços ambientais associados, as famílias erveiras
favorecem a conservação e sustentabilidade dos sistemas tradicionais de produção de erva-mate
para as gerações futuras.

Culturas, sistemas de valor e organização social

Identidade cultural

Os ervais nativos são caracterizados pela concentração de Ilex paraguariensis em meio à floresta
constituída numa complexa combinação de fatores bióticos e abióticos que incluem a ação humana
(Marques, 2014). Reconhecer que os sistemas tradicionais compõem uma paisagem cultural é as-
sumir que “a paisagem não é, em sua essência, feita para se olhar, mas a inserção do homem no
mundo, lugar de um combate pela vida, manifestação de seu ser com os outros, base de seu ser
social” (Dardel, 2011, p. 32).

Assim, pode-se entender os sistemas tradicionais de erva-mate como assembleias sensoriais socio-
ecológicas nas quais as famílias e comunidades têm um alto grau de afinidade e afeto em relação
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 59

ao lugar, tempo e memória do ambiente, que são escritas sobre, e sentidas por meio das práticas
diárias, trabalho afetivo e símbolos materiais em toda a paisagem. Nesse sentido, as atividades de
manejo e processamento da erva-mate nos sistemas tradicionais e agroecológicos criam uma inter-
secção identitária nutrida pela presença constante da floresta e que são manifestadas no consumo
de chimarrão. 

O ato de compartilhar uma cuia de chimarrão tem um forte significado cultural e identitário para
os produtores de erva-mate. Quando chega uma visita, esta é sempre recebida com uma chaleira
quente e uma cuia de chimarrão para compartilhar o chimarrão. Muitas vezes, o mate é cultivado e
processado na própria propriedade. O ritual de preparar e compartilhar é um elemento importante
para iniciar a conversa, um símbolo de hospitalidade, amizade e lutas e histórias compartilhadas.
Em registros históricos da década de 1941, ao narrar sobre as origens do município de Canoinhas,
SC, Osmar da Silva afirma que “o hábito do chimarrão é um infatigável criador de amizades, de
contatos pessoais, de solidariedade. Ele ensina a meditar, ser paciente, refletir” (Thomé, 2013,
p. 41). Roberto Avé-Lallemant anotou em 1858, enquanto passava pela divisa do Paraná e Santa
Catarina, que “é o mate a saudação da chegada, o símbolo da hospitalidade, o sinal da reconcilia-
ção” (Thomé, 2013, p. 40). Assim, cada cuia de erva-mate possui um sabor específico que é incuti-
do não só nas características específicas da floresta de onde são colhidas as folhas, mas também
dos anos de uso, e memórias das conversas compartilhadas. 

O consumo da erva-mate é a continuidade da cultura indígena e cabocla presente na região Sul


do Brasil. Para ambos, os Guaranis e os Kaingang, a erva-mate está presente no cotidiano, seja
para o consumo do chimarrão ou pelo extrativismo que ocorre em remanescentes florestais. Nas
comunidades Guaranis, a sua cosmologia está, por meio de mitos de origem e uso ritual e cotidiano,
intrinsecamente relacionada à erva-mate e às florestas, ka’á e ka’á guazu (Keller, 2013). O recipien-
te onde se coloca a erva é a cuia, comumente de porongo (Lagenaria vulgaris) de matriz indígena.
Vale ressaltar ainda que o próprio termo mate é de origem quéchua – povos andinos que habitavam
principalmente onde hoje é o Peru e Bolívia – e era utilizado para denominar o recipiente em que
se bebia a erva (Gerhardt, 2013). Indo além das heranças materiais, a forma como o chimarrão é,
via de regra, bebido atualmente, também manifesta a cultura Guarani da partilha do alimento. O
consumo partilhado, por vezes, em rodas ou em momentos de pausas para a conversa e reflexão
mútua, remete a uma forma de ser social indígena e cabocla que foi desumanizada pela coloniza-
ção europeia a partir do século XVI. Portanto, a partilha do alimento e a forma como os agricultores
familiares manejam os recursos do seu espaço de vivência, contrasta com a proposta de exploração
dos recursos naturais do projeto moderno hegemônico (Brandenburg, 1999), ao mesmo tempo em
que os conectam com sua própria história cultural.

As tradições e identidades sentidas e expressadas pelas comunidades indígenas, faxinais e de


agricultura familiar têm raízes fortes e comuns com a floresta e a erva-mate. Ou seja, embora os sis-
temas tradicionais possam apresentar diferenças de manifestações e técnicas em termos de usos e
cuidados com os recursos presentes nas propriedades, é a identidade com a erva-mate na floresta
que cria um vínculo importante entre os erveiros, as famílias e as comunidades. 

Em termos de celebrações, a romaria de São Gonçalo é uma manifestação da cultura popular da


agricultura familiar muito presente nas regiões centro-sul e sudeste paranaenses. A festividade é
caracterizada por uma série de atividades comunitárias, como a preparação do altar, do mastro,
da alimentação partilhada (comumente quirera com carne de porco conservada na lata). A dança
de São Gonçalo é organizada na forma de cortejo aos Santos guiada pelo Romeiro, cantadoras ou
rezadeiras embaladas por tocadores de viola e violão.
60 DOCUMENTOS, 374

Os puxirões (também chamados de mutirões) são menos frequentes, mas ainda ocorrem; nessas
ocasiões os integrantes da comunidade se reuniam para realizar determinado trabalho que se pro-
longava durante o dia todo ou final de semana e, então, era seguido por uma espécie de festividade
com carneadas, partilhas de alimentos e músicas sertanejas com viola caipira, gaita e pandeiro.

A cultura cabocla na região remonta à Guerra do Contestado e é caracterizada por uma religiosida-
de popular marcada por festividades e representações simbólicas sobre o espaço rural e a Floresta
com Araucária. Um exemplo de conciliação entre a religiosidade, a comunidade e a identidade dos
sistemas tradicionais são as místicas, expressão cultural comum entre os faxinalenses. A prática é
composta por reflexões e leituras diante de um círculo de alimentos, sementes crioulas, ferramentas
de trabalho, plantas nativas, e é realizada como atividade de abertura e fechamento de eventos,
reconhecidos pelos participantes como momentos de confraternização (Lewitzki, 2015).

Apesar de ter havido uma diminuição da frequência de festejos religiosos relacionados à cultura dos
sistemas tradicionais de erva-mate, tais como a Festa do Divino e as próprias celebrações comuni-
tárias – por ocasião de casamentos e trabalhos coletivos – todos ainda fazem parte da memória e
história das comunidades.

Formas de organização social

• Breve histórico das organizações sociais

As organizações sociais para o fortalecimento da agricultura familiar do centro-sul e sudeste do


Paraná refletem um processo de mais de 30 anos. No final da década de 1980, a AS-PTA já manti-
nha contato com lideranças regionais visando a implementação de um programa local voltado para
a promoção do desenvolvimento agrícola sustentável.

Mediante a consolidação do Conselho Regional de Organizações Comunitárias e Sindicais em


1993, criaram-se ambientes organizativos que culminaram no I Congresso da Agricultura Familiar
do centro-sul do Paraná, realizado em 1995, em União da Vitória. Dentre as deliberações do evento,
foram criados o Fórum da Organização dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do centro-sul do
Paraná e o Programa de Manejo Agroflorestal Regenerativo e Análogo, com participações de famí-
lias dos municípios de Bituruna e São Mateus do Sul. O Fórum passou a congregar sindicatos dos
trabalhadores rurais14/, organizações de produtores, associações, cooperativas, grupos de jovens e
mulheres, Pastoral da Juventude Rural e grupos de deficientes físicos.

O II Congresso da Agricultura Familiar do centro-sul do Paraná foi realizado em São Mateus do Sul,
no ano de 1998, pelo Fórum em parceria com a AS-PTA. O evento possibilitou, entre outras articu-
lações, uma aproximação com o então Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR (hoje IDR-PR) que
resultou na construção do projeto “Agricultor Experimentador”. O projeto contou com uma rede de
informações sobre a sucessão vegetal nos ervais, ações de experimentação em manejo ecológico
do solo e discussões sobre o manejo sustentável da biodiversidade da Floresta com Araucária.

Entre 2003 e 2004, o Fórum foi substituído pelos sindicatos locais afiliados à Fetraf-SUL/CUT e
Fetraf-Paraná/CUT. No sentido de superar as lacunas deixadas pela extinção do Fórum, surgiu
em 2005 a Associação das Famílias de Agricultores Experimentadores em Agroecologia no Bioma
da Floresta com Araucária – Ecoaraucaria, reunindo pessoas em torno dos valores e princípios da

14/
Até 1992, as ações dos sindicatos eram centradas na compra comunitária de insumos, porém, começou-se a perceber que essas
ações não eram suficientes para promover o desenvolvimento dos agricultores.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 61

agroecologia no processo de experimentação, nos sistemas tradicionais de erva-mate, na defesa


de direitos sociais e na promoção de atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à
arte. Posteriormente, foi criado em 2010, com o apoio da AS-PTA, o Coletivo Triunfo, grupo informal
que atua em defesa da agrobiodiversidade e da agroecologia.

• A organização social atual

A convergência das lutas visando o reconhecimento, valorização e apoio à erva-mate produzida em


sistemas tradicionais e agroecológicos pelos agricultores e agricultoras do Paraná e Santa Catarina,
motivaram a realização da “Reunião Técnica sobre Produção e Mercado de Erva-Mate como alter-
nativa de renda e conservação ambiental em sistemas de produção da Agricultura Familiar”, no ano
de 2007, em São Mateus do Sul. Como resultado efetivo dessa discussão, foi construído o projeto
“Caracterização de Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-Mate de agricultores familiares
nas regiões centro-sul do Paraná e Norte Catarinense”. O projeto teve o objetivo de, mediante a ca-
racterização, identificar potencialidades e limitações para a construção da Identificação Geográfica
(IG) de forma a agregar valor à erva-mate nativa produzida em sistemas que visassem à conserva-
ção da Floresta com Araucária (Gomes, 2016).

A partir dessas movimentações e projetos de pesquisa, novas parcerias entre agricultores, sindi-
catos, organizações de sociedade civil e entidades de pesquisa como Embrapa Florestas, IDR-
PR e Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) estão sendo construídas para continuar as
ações relacionadas aos sistemas tradicionais. Entre 2013 e 2019, foram realizados Seminários
sobre Sistemas de Produção Tradicionais e Agroecológicos de Erva-Mate do Paraná e Santa
Catarina15/ (Figura 24). Em 2019, foi efetivada a criação do Observatório dos Sistemas Tradicionais
e Agroecológicos da Erva-mate, proponente da candidatura Sipam.

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

A B

Figura 24. IV e V Encontro dos Sistemas Tradicionais e Agroecológicos de Erva-mate ocorridos em Curitiba em 2018 (A)
e em União da Vitória em 2019 (B).

15/
I Seminário sobre sistemas tradicionais e agroecológicos realizado em Canoinhas, SC, 2013. II Seminário Sistemas de Produção
Tradicionais e Agroflorestais no centro-sul do Paraná e norte catarinense realizado em Canoinhas, SC, 2014. III Seminário sobre
caracterização de sistemas de produção tradicionais e agroecológicos de erva-mate de agricultores familiares nas regiões centro-
sul e norte catarinense realizado em União da Vitória – PR (Seminário…, 2015). IV Seminário Sistemas de produção tradicionais e
agroecológicos de erva-mate” realizado em Curitiba, 2018. V Seminário sobre Sistemas de Produção Tradicionais e Agroecológicos de
Erva-Mate realizado em União da Vitória – PR (Seminário…, 2019).
62 DOCUMENTOS, 374

Os sindicatos de agricultura familiar e de trabalhadores rurais (Fetraf-Sul/CUT, Fetraf-PR/CUT e


Fataep) juntamente com a Ecoaraucária, Coletivo Triunfo e várias cooperativas nos municípios par-
ticipantes continuam a atuar nas comunidades para consolidar atividades e forças relacionadas à
segurança alimentar, direitos campesinos, diversificação e agroecologia, entre outros.

Nesse contexto é que a Rede de Sementes da Agroecologia (RESA) surge em 2015 como um
espaço articulador e organizativo de iniciativas relacionadas às sementes no estado do Paraná.
Importante ressaltar a posição de destaque das mulheres na realização de Festas e Festivais das
Guardiãs de Sementes do Paraná através das RESA. 

O desafio das mulheres está na conquista de espaços de reconhecimento do protagonismo fe-


minino, na produção de alimentos e manutenção da vida. Ainda que a sociedade patriarcal, que
organiza o gênero de maneira hierarquizada, tenha obscurecido as contribuições das mulheres no
espaço rural, elas são corresponsáveis na produção da agricultura familiar. Conforme levantamento
da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2019, 65% da participação no Programa de
Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) na região Sul foram de mulheres (Walendorff,
2020). Conforme o Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em torno de 19% das áreas rurais no Brasil são administradas por mulheres (IBGE, 2017a).

A desigualdade de gênero expressa nesse contraste estatístico ilustra os argumentos sobre a ne-
cessidade do reconhecimento do protagonismo das mulheres como guardiãs de sementes crioulas,
representantes dos conhecimentos e ofícios tradicionais, de fé e cura e participantes ativas na pro-
dução agroecológica nos sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate.

• Organização dos faxinais e identidade ecológica dos sistemas tradicionais

Os remanescentes da Floresta com Araucária testemunham uma intersecção de culturas espaço-


-temporalmente distantes que culminam em uma série de saberes e valores do manejo de uso da
floresta para a sua conservação. Enquanto uma forma organizacional agrícola característica da
região centro-sul paranaense, os faxinais possuem uma profunda relação com a produção tradi-
cional de erva-mate. Ainda que existam famílias de agricultores e agricultoras erveiras ecologistas
que não estejam assentadas em um sistema faxinal, há uma continuidade identitária que aproxima
memórias e conhecimentos sobre o manejo da floresta.

Além das particularidades do uso da terra que os definem, os faxinais são uma forma de se organi-
zar socialmente e “ser no mundo”. O processo de estruturação social faxinalense evoca tanto uma
esfera material como a simbólica das formas, conteúdos e movimentos presentes nesse espaço.
Como todo comportamento humano é também um comportamento simbólico (Corrêa, 2012), a for-
ma como os povos dos faxinais organiza o uso da terra e o manejo da erva-mate tanto reflete como
cria o ponto de partida que caracteriza o que pensam, sentem e sonham os faxinalenses. Nesse
sentido, a perspectiva dos próprios representantes do sistema é carregada de uma complexidade
de sentidos e afetos.

Os desafios comuns entre os povos dos faxinais são compartilhados por meio da Articulação Puxirão
(AP), um movimento social organizado pelos faxinalenses para defender e lutar pelos direitos co-
letivos, pela recuperação do território e manutenção do modo de vida (Articulação Puxirão dos
Povos Faxinalenses, 2007b). Em parceria com outras entidades, como a Pastoral da Terra, o movi-
mento tem como conquista o reconhecimento do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais – Decreto Presidencial nº 6040/2007 (Brasil, 2007) e uma
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 63

vaga no Conselho Nacional dos Povos e das Comunidades Tradicionais, previstos no Decreto
Presidencial nº 8.750/2016 (Brasil, 2016).

Como consequência, a AP elaborou, em 2007, a Nova Cartografia Social das Comunidades do


Brasil. Afirmando as conquistas e as pautas de reivindicações, lideranças de diferentes faxinais da
região centro-sul paranaense também definiram o mapeamento das práticas de produção e festas
religiosas tradicionais.  A Articulação “é onde o pessoal aprende a conviver, aprende coisas da outra
comunidade que tem nos faxinais, repassar algumas ideias de um faxinal para o outro”, conforme
atesta Sérgio Sobenko, do Faxinal do Lageado de Baixo, município de Mallet, PR (Articulação
Puxirão dos Povos Faxinalenses, 2007a).

As populações tradicionais precisam de regulamentações específicas para sua forma organizativa.


Segundo a Cartilha do 2º Encontro dos Faxinalenses, em torno de 80% das famílias que com-
põem os faxinais não possuem terras registradas. A constante estratégia de contenção e dissolução
dos territórios dos faxinais surge de setores vinculados às atividades extensivas de monocultura.
Portanto, os espaços de vivência e partilha do modo de vida faxinalense alertam para a necessi-
dade de organização coletiva. “A comunidade quer resistir, vontade existe, mas é necessário orga-
nização”, como diz um agricultor do Faxinal do Emboque, São Mateus do Sul (Articulação Puxirão
dos Povos Faxinalenses, 2007a).

• Organização das Comunidades Indígenas

As comunidades indígenas da região centro-sul paranaense compreendem os povos Guarani e


Kaingang que compartilham as paisagens da Floresta com Araucária como território atual e histó-
rico. Por meio dos direitos constitucionais (Brasil, 1988, título VIII, “Da Ordem Social”, capítulo VIII,
“Dos Índios”) e instrumentos internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos dos Povos
Indígenas das Nações Unidas (United Nations, 2007), da qual o Brasil é signatário, as diversidades
culturais e organização social são garantidas. Assim, o desenvolvimento de organização social nas
aldeias e comunidades indígenas tem sua própria história e trajetória, baseado nas crenças e en-
tendimento do mundo de cada grupo, gerando soluções diferentes das comunidades faxinais e de
outras colônias.

Para os Guaranis, o ñande reko, “nosso modo de viver” (Melià et al., 2008), está centrado na
transmissão de conhecimentos e práticas ao longo das gerações, por meio da qual comunidades e
identidades estão sendo construídas. Um conceito chave é a construção do tekoá, a aldeia e seu
ambiente de policultura integrado com a floresta, manejado por meio de trabalho coletivo (Melià et
al., 2008, Noelli et al., 2019). Em seu modo do “bem viver”, teko porã, as comunidades Guaranis se
organizam em torno das relações comunitárias e familiares e a espiritualidade praticada na Opy’i,
“casa de reza” (Melià et al., 2008).

O povo Kaingang possui como modelo tradicional de organização social duas metades, Kamé e
Kairu, que vêm de seu mito de origem e envolve a divisão entre pessoas e seres da natureza
(Borba, 1908; Crépeau, 1997). Assim, o sol, a lua, as plantas e animais, bem como valores pesso-
ais, pertencem a metades pré-determinadas, e suas relações são guiadas pela complementaridade
(Veiga, 1994; Tommasino, 2001). A cosmologia Kaingang está fortemente ligada ao seu ambiente, à
origem proveniente “do chão”, com ênfase especial às conexões entre os kujã (líderes espirituais) e
seus guias animais, e aos ciclos de uso da floresta (caça e coleta) e roças comunitárias (ver Borba,
1908). 
64 DOCUMENTOS, 374

Atualmente, nas Terras Indígenas Marrecas (Turvo, PR) e Rio Areia (Inácio Martins, PR), parcei-
ras do projeto Sipam, os princípios da organização tradicional continuam a ser aplicados à defini-
ção de papéis de autoridade, como cacique e vice-cacique, e em casamentos nas comunidades
(Tommasino, 2001). Nas comunidades de Rio Areia e Marrecas, a erva-mate está presente nas
florestas e é coletada em sistema de extrativismo, sob certificação orgânica e de comércio jus-
to, sendo tais comunidades representadas por suas lideranças políticas (caciques) e associações
comunitárias.

• Organização das famílias de agricultura familiar

Apesar do reconhecimento crescente da importância das mulheres na agricultura familiar, a maioria


das famílias descendentes dos colonos europeus que produz a erva-mate em sistemas tradicionais
ainda mantém uma hierarquia patriarcal na organização da família e na tomada das decisões na
propriedade. Como é comum em vários contextos rurais, o trabalho tradicional das mulheres está
ligado à função de cuidar de: a casa, os filhos e os idosos, a horta, o pomar, entre outros. Assim,
o acesso aos espaços de decisões nas comunidades, de capacitação e de conexão com outras
mulheres e, ou entidades de pesquisa e extensão é, geralmente, restrito. De tal modo, existe ainda
uma falta de visibilidade do trabalho das mulheres na ampliação da renda da família e também nas
atividades fora da propriedade (Herrera Ortuño, 2021).

Porém, ao longo dos últimos dez anos, e devido às interações entre as famílias e as pesquisadoras
e extensionistas, com base em novos métodos e perspectivas, discussões sobre a atuação das
mulheres nas propriedades e nas redes de conhecimento e tomada de decisões se tornaram mais
amplas. A insistência da participação das mulheres e jovens nas entrevistas socioambientais, por
exemplo, destaca a necessidade de dar voz a esses agentes, apoiar sua capacitação na organiza-
ção e realização de atividades, e reconhecer as potencialidades e oportunidades para o desenvol-
vimento da família e da região. Como destaca Herrera Ortuño (2021, p. 53):

O vínculo tradicional das mulheres rurais com as práticas agrícolas e alimentares


na casa e arredores tem possibilitado a manutenção, transmissão e ressignificação
de conhecimentos tradicionais que fortalecem o enraizamento das famílias e comu-
nidades em seus territórios. O alimento se constitui como um eixo que potencializa
encontros, redes de sociabilidade, relacionamentos afetivos e pertencimento identitá-
rio entre os membros da família e da comunidade. Nesse sentido, o papel tradicional
atribuído às mulheres rurais em torno da alimentação possibilita o fortalecimento dos
próprios territórios ecossociais. Em sistema agroecológicos, o trabalho das mulheres
em torno da produção e preparo de alimentos, tanto para o autoconsumo como para
a troca e, ou comercialização, se destaca pela sua importância na efetivação da segu-
rança alimentar e nutricional das famílias e comunidades, garantindo não só o acesso
ao alimento como sua qualidade, considerando aspectos de saúde, qualidade de vida,
vínculo do alimento com a cultura local e sustentabilidade ecológica.

Em termos da organização das comunidades e, ou propriedades de agricultura familiar, as ativida-


des dos sindicatos locais ligados à Fetraf-PR junto com Organizações da Sociedade Civil (OSC)
como Ecoaraucaria e o Coletivo Triunfo estão sendo uma força importante para conectar os erveiros
entre si e com outras famílias tradicionais. As ações das famílias dos sistemas tradicionais estão
sendo cada vez mais marginalizadas devido à expansão da agricultura convencional, ao uso de
agrotóxicos e transgênicos e à pressão de desmatamento nos municípios parceiros. Considerando
que a maioria das propriedades que ainda usam sistemas tradicionais e agroecológicos está espa-
lhada nos municípios, a vizinhança ao redor da propriedade geralmente usa práticas opostas às da
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 65

agroecologia, criando conflitos em torno de questões como a contaminação de água, a manutenção


dos recursos genéticos da agrobiodiversidade e da própria floresta, entre tantas outras. Assim, as
OSCs são agentes chaves na consolidação da comunidade de prática, a qual vem sendo gestada
nos últimos 30 anos. O Coletivo Triunfo, por exemplo, é uma associação informal que congrega
mais de 15 entidades, entre sindicatos de vários municípios da região, representantes da Fetraf-PR,
o Laboratório de Mecanização Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Lama/UEPG),
e cooperativas como COFAECO, COMDAF, COAFTRIL E CAFPAL. O Coletivo desenvolve ações
na defesa da agrobiodiversidade e pela conservação das sementes crioulas, para a construção de
políticas públicas visando o acesso à alimentação saudável e a expansão e valorização da agroe-
cologia. A Ecoaraucária (Associação de famílias de agricultores experimentadores em agroecologia
no bioma da floresta Araucária) é uma outra OSC que promove o desenvolvimento rural sustentável
baseado na participação das famílias de agricultores e na agroecologia e na valorização do conhe-
cimento tradicional aliado às experiências das famílias participantes.

Renovação da tradição pela juventude rural

Falar de espaços de organização social das comunidades e famílias dos sistemas tradicionais de
erva-mate implica em falar na necessidade de mobilizar os jovens que integram a agricultura familiar
e as comunidades tradicionais e indígenas. O conhecimento compartilhado por meio da observação
e pesquisa de manejo ecológico da Floresta com Araucária exige que uma série de informações,
experiências e princípios sejam formulados e transmitidos de maneira geracional.

A partir do II Congresso da Agricultura Familiar do centro-sul do Paraná, em 1998, os eventos pas-


saram a ter forte presença de jovens. Depois dos eventos da Pastoral da Juventude Rural (PJR),
realizado em 1999 no município de Rebouças, e a Romaria da Juventude Rural, realizada na ci-
dade de Antônio Olinto, em 2017 foi elaborada a Carta Aberta da Juventude no I Encontro sobre a
Juventude na região centro-sul do Paraná, em Irati. A carta expressa a preocupação com a conti-
nuidade das atividades da agricultura familiar na região, frente a um processo de evasão do espaço
rural e a ruptura geracional com os saberes agroecológicos.

Os jovens da região manifestam, de forma geral, a necessidade de organização da juventude e


de se investir em sua capacitação política para que possam atuar, de fato, como agentes de ação
e decisão nos sistemas tradicionais das regiões centro-sul e sudeste do Paraná, assim como em
diferentes organizações sociais presentes na região.

• Contribuição da cultura, sistemas de valores e formas de organização social para a sustentabili-


dade do sistema

A agricultura familiar agroecológica tem muito a contribuir na redefinição das relações que a socie-
dade moderna urbanizada estabelece com a natureza, pois demanda atitudes e princípios sobre os
recursos naturais que incluem valores éticos relacionados à saúde e condição da vida, chamada
por Brandenburg (1999) de racionalidades ecológicas, em contraste com a racionalidade moderna
hegemônica de expropriação e uso predatório dos recursos naturais.

O reconhecimento dos sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate enquanto Sipam au-


xiliará no fortalecimento dos valores culturais presentes nas famílias que constroem coletivamente
os saberes sobre o manejo sustentável e a recuperação da floresta. Além dos conhecimentos a
respeito da conservação da biodiversidade, os sistemas tradicionais de erva-mate envolvem um
sentimento de pertencimento a respeito da cultura da erva-mate, seja em seu preparo e consumo
na forma de chás e chimarrão, seja na sua produção extrativista e manejo. Conforme entrevistas
66 DOCUMENTOS, 374

realizadas por Marques (2014), além dos aspectos econômicos, entre as principais motivações das
famílias e comunidades erveiras em trabalhar com a erva-mate nativa estão elementos afetivos e
vinculados à memória familiar e da infância.

Uma inovação importante que o projeto Sipam traz é a criação de espaço para o compartilhamento
do conhecimento tradicional entre agentes variados como comunidades indígenas, faxinalenses e
de agricultores familiares, juntamente com as instituições de pesquisa e extensão e organizações
de sociedade civil que, embora vindas de contextos socioculturais e históricos distintos, compar-
tilham extenso entendimento dos recursos ambientais, apreço pelas florestas e conexão com o
cultivo da erva-mate.

Tal ação vem ao encontro da necessidade de reconciliação com comunidades indígenas que, de for-
ma recorrente, têm sido marginalizadas, sem espaço para troca e valorização dos seus conhecimen-
tos tradicionais. A partir da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas
(UNDRIP), projetos que visam alcançar meios de vida sustentáveis devem adotar abordagens parti-
cipativas, reconhecer a importância da autonomia dos povos indígenas sobre os recursos naturais e
os conhecimentos relacionados e construir parcerias entre comunidades indígenas e outros atores
da sociedade. Assim, o projeto de candidatura ao Sipam oferece a oportunidade de construir essas
parcerias, integrar comunidades indígenas em discussões sobre o futuro dos sistemas tradicionais
e valorizar a importância do papel de todos os atores – as comunidades faxinalenses, indígenas e
da agricultura familiar – sobre a continuação das práticas agrícolas e agroecológicas que afetam
seus modos particulares de ser e estar no mundo.

Características de paisagens terrestres

A paisagem cultural nas regiões centro-sul e sudeste do Paraná se destaca pela incidência de
áreas de Floresta com Araucária, intercalada com áreas de lavoura e cultivo. Como foi descrito no
item A Importância do Sistema Agrícola, a permanência da floresta nessa região está estritamente
relacionada ao cultivo e manejo de erva-mate em sistemas tradicionais e sombreados, pois a erva-
-mate é um produto não madeireiro que requer a conservação da árvore viva e produzindo folhas. A
manutenção da floresta em pé – e junto com ela a erva-mate – se baseia nas estratégias de manejo
da terra aprimoradas durante as últimas ondas de imigração para a região no final do século XIX e
começo do século XX. Como a erva-mate era o principal produto comercial da época, a manutenção
da floresta foi importante para a sobrevivência das famílias imigrantes. Assim, como aponta Chang
(1988), as inovações de manejo agrícola que foram desenvolvidas entre os imigrantes e os povos
indígenas e caboclos resultaram na continuação das áreas de floresta onde havia abundância de
erva-mate, enquanto as áreas com pouca erva-mate foram abertas para implantar lavouras para
subsistência da família – uma estratégia que continua até hoje, principalmente em propriedades de
agricultura familiar. Vale destacar que mesmo com a existência frequente nestas propriedades de
um excedente florestal em relação à área de 20% a ser mantida como Reserva Legal, a Lei da Mata
Atlântica (Brasil, 2006) acaba por impedir ações de manejo nestas áreas de floresta.

Ao longo do último século, houve várias flutuações de preço e demanda de erva-mate, juntamen-
te com pressões de produção em larga escala e de modernização da produção em monoculti-
vos. Contudo, remanescentes das florestas onde havia o manejo tradicional da erva-mate foram
mantidos. Devido a isso, a paisagem da região é única, o que apenas reforça a urgência da sua
preservação
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 67

A associação do projeto Sipam aos complexos paisagísticos em que a erva-mate exerce papel cen-
tral no manejo de remanescentes florestais e culturas autênticas - oriundas das relações históricas
socioecológicas com o ambiente da Floresta com Araucária - proporciona garantias à continuida-
de destes sistemas agrícolas tão peculiares. Ao propor reconhecimento das práticas ecológicas e
estilos de vida ligados ao manejo do sub-bosque da floresta, o selo Sipam concentrará importante
suporte ao auto entendimento dos grupos de agricultores e comunidades indígenas e faxinalenses,
cuja identidade ambiental se forja dentro e a partir dos sistemas tradicionais de produção de erva-
-mate (Nogueira, 2021). Como agente espacial, o Sipam dos sistemas tradicionais e agroecológicos
de erva-mate ajudará a consolidar a integração das práticas paisagísticas e a significação da mate-
rialidade manejada pelas comunidades erveiras.

• Descrição geral da paisagem

Os municípios parceiros e focais das áreas dos sistemas tradicionais de erva-mate constantes nes-
ta proposta fazem parte das mesorregiões centro-sul e sudeste do estado do Paraná, localizadas
no Segundo e Terceiro Planaltos (Ipardes, 2021), também denominado Planalto de Ponta Grossa
e Planalto de Guarapuava, respectivamente (Ipardes, 2021). A região se caracteriza por exibir, em
geral, uma paisagem suavemente ondulada (Figura 25) onde ocorrem elevações e morros do tipo
mesetas, de forma isolada ou em cadeia, definidas geomorfologicamente pela diferença de erosão
entre rochas sedimentares (arenitos) e rochas eruptivas básicas (basaltos), caracterizando uma
configuração de superfície muito característica da região.

Figura 25. Representação do relevo sombreado do estado do Paraná com destaque para os municípios envolvidos na
proposta SIPAM.

O mosaico paisagístico regional envolve múltiplos usos da terra, mas sua característica principal é a
presença de monocultivos agrícolas em coexistência com áreas de floresta (de preservação legais
tais como Áreas de Preservação Permanente – APPs e Reservas Legais – RLs, definidas no item
A Importância do Sistema Agrícola - Relevância Histórica) e de sistemas agroflorestais com manejo
68 DOCUMENTOS, 374

de erva-mate, concentrando relevantes áreas que conservam a biodiversidade nativa dentro dos
últimos remanescentes da Floresta com Araucária no Brasil. A Figura 26 mostra o mapa de uso e
cobertura da terra no estado do Paraná (anos base 2012 a 2016) com destaque para as classes
presentes na região de abrangência da proposta Sipam, onde se observa a predominância de um
mosaico de florestas naturais, plantios florestais e agricultura.

Figura 26. Mapa de uso e cobertura da terra na região de abrangência da proposta SIPAM.
Fonte: adaptado de IAT (2020a)

• As condições naturais

As mesorregiões centro-sul e sudeste do Paraná apresentam dois tipos de clima, Subtropical Úmido
Mesotérmico (Cfa) e Subtropical Temperado Úmido Mesotérmico (Cfb). Das características climá-
ticas apresentadas, como determinante para a florística da Floresta com Araucária, destaca-se a
ocorrência regular de geadas (Roderjan et al., 1993).

Os solos das mesorregiões centro-sul e sudeste do Paraná apresentam variações conforme sua
origem (basalto, sedimentar e diques de diabásio) mas, de forma geral, possuem baixa fertilidade
natural e alta suscetibilidade à erosão em função do relevo e da sua origem. Assim, os solos são
rasos, condição que tem se acentuado em função do uso agrícola intensivo e manejo incorreto,
que promovem a erosão dos horizontes superficiais. Essas características restringem o desenvolvi-
mento da agricultura intensiva e enquadram grande parte do território na categoria de terras aptas
apenas para pastagens e florestas.
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 69

A área de distribuição da Floresta com Araucária no Paraná é bem definida,ocupando as porções


principalmente do Primeiro e Ssegundo Planaltos, em relevos suaves a ondulados, em média
entre 500 m e 1.200 m s.n.m., tendo a Serra do Mar como limite ao Leste. Ao Norte e Oeste, tem
como vizinha a Floresta Estacional Semidecidual, entremeada pelas Estepes (Campos Naturais) e
Savanas (Cerrados) em diversas situações (Reitz; Klein, 1966; Embrapa, 1984; IBGE, 1990; Leite,
1994). Abaixo de 500 m s.n.m., sua ocorrência se dá apenas nas encostas de vales e cânions de
erosão, associada ao jerivá (Syagrus romanzoffiana), nas linhas de escoamento de frio (Maack,
1968; Hueck, 1972).

A Floresta com Araucária, também conhecida cientificamente como Floresta Ombrófila Mista (FOM),
deriva da mistura da flora tropical (afro-brasileira) e temperada (austral-antártica) (IBGE, 1990),
definindo padrões fisionômicos típicos, em zona climática pluvial. O termo Floresta Ombrófila foi
proposto por Mueller-Dumbois e Ellenberg (1955/1956), como forma alternativa à Floresta Pluvial
Tropical, sugerido por Richards (1952). O projeto RadambrasilL adaptou tal classificação às con-
dições brasileiras (Radambrasil, 1982; Veloso et al., 1991; IBGE, 1992), resultando na denomina-
ção Floresta Ombrófila nas formas Mista, Densa e Aberta, ocorrendo no Paraná apenas as duas
primeiras. As Florestas Ombrófila Mista e Densa foram divididas em subformações, na quais há
a diferenciação sob o aspecto fisionômico resultante do incremento altitudinal, relacionado com a
latitude (IBGE, 1992).

As subformações Montana (até 1.000 m de elevação) e Altomontana (acima de 1.000 m de eleva-


ção) da Floresta com Araucária mais comuns do estado do Paraná, normalmente aparentam ter as-
pecto de uma associação pura, devido à dominância fisionômica imposta pela araucária. Além des-
ta, o contingente arbóreo é basicamente composto por exemplares de Lauraceae (Ocotea pulchella,
O. puberula, O. porosa, O. odorifera, Nectandra megapotamica) e Myrtaceae (Campomanesia xan-
thocarpa, Eugenia uniflora, Myrcia hatschbachii, Psidium sp.), além de representantes de outras
famílias, como Gochnatia polymorpha, Drymis brasiliensis, Podocarpus lambertii, Rollinia rugulosa,
Luhea divaricata, Vitex megapotamica, I. paraguariensis, I. theezans, I. dumosa, Roupala brasilien-
sis, Symplocos uniflora, Casearia sylvestris, Casearia decandra, Allophyllus edulis, Clethra scabra
e C. fissilis (Klein, 1960, 1962, 1984; Reitz; Klein, 1966; IBGE, 1990).

Das quatro subformações da FOM, três ocorrem na área proposta como Sipam (Figura 27). Na
mesma figura são mostradas as principais Unidades de Conservação estaduais da região.
70 DOCUMENTOS, 374

Figura 27. Limites das formações da Floresta com Araucária e principais Unidades de Con-
servação estaduais dentro da área proposta como SIPAM.

• As paisagens agrícolas

As mesorregiões em questão possuem um total de 19 Unidades de Conservação, sendo 14 de


Proteção Integral nos âmbitos dos Governos Federal, Estadual ou Municipal, e cinco de Uso
Sustentável. Dessas áreas protegidas, destaca-se a Estação Ecológica de Fernandes Pinheiro, com
532 hectares (ha) de floresta nativa e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Esperança,
com 206.555 hectares, dos quais aproximadamente 67% pertencem aos municípios partícipes do
projeto Sipam (IAT, 2021a). Entre os objetivos da APA da Serra da Esperança destacam-se: a pro-
teção dos recursos hídricos e bacias hidrográficas (mananciais de abastecimento público); a pro-
teção dos solos, devido às suas declividades acentuadas; o estímulo ao manejo auto-sustentado
dos recursos naturais (resgate do patrimônio genético de espécies florestais raras, endêmicas ou
ameaçadas de extinção, com atenção especial para Araucaria angustifolia); o estímulo à pesquisa
científica e à educação ambiental; e o fomento ao ecoturismo regional (IAP, 2009).  

Estas áreas, somadas às demais áreas municipais, conferem à região um total de aproximada-
mente 2.103,9 hectares de Unidades de Conservação de Proteção Integral, significando 0,7% da
cobertura florestal protegidos legalmente.

Também existem 19 Áreas Especiais de Uso Regulamentado (Aresur) para o Sistema Faxinal,
consideradas pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná como áreas
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 71

especialmente protegidas. A extração de erva-mate se dá, nessas áreas, sob o sistema de pro-
dução de faxinais, ou seja, consorciada à conservação da Floresta com Araucária. Essa condi-
ção garante às Aresur, assim como às demais Unidades de Conservação, o ICMS Ecológico –
Lei Complementar n.º 59/91 (IAT, 2021b). Dentre as demais áreas de uso sustentável, estão dez
Comunidades Remanescentes Quilombolas e duas Terras Indígenas demarcadas e homologadas,
Marrecas (Decreto Federal nº 89.495/1984) e Rio Areia (Decreto Federal s/n de 14 de abril de
1998), totalizando 18.191 ha, onde vivem cerca de 1.000 pessoas dos povos Kaingang e Guarani
(Instituto Socioambiental, 2022).

O mapeamento do uso e cobertura da terra realizado com base em imagens satelitárias de 2012
a 2016 indica que a soma das áreas com florestas naturais (FOM) nos onze municípios focais dos
STEM é igual a 659.910,40 ha (IAT, 2019a), o que corresponde a cerca de 11,34% da superfície
ocupada por florestas naturais do estado do Paraná, que é de aproximadamente 5,8 milhões de
hectares (SFB, 2018).

A manutenção dos poucos remanescentes da Floresta com Araucária no estado do Paraná está, em
relevante proporção, associada às práticas contemporâneas de manejo de erva-mate em sistemas
tradicionais. As práticas de manejo da erva-mate dentro dos remanescentes florestais, de acordo
com Radomski et al. (2014), representam, além de formas características da agricultura tradicional
das regiões centro-sul e sudeste do Paraná, a possibilidade de conservação de remanescentes
florestais em associação à produção agrícola e à geração de renda para as famílias agricultoras.

• Sustentabilidade e resiliência

Juntamente com as iniciativas da ONU e da FAO, como a Década de Agricultura Familiar e a


Década de Restauração dos Ecossistemas, os Sistemas Tradicionais de Erva-mate oferecem uma
oportunidade única para desenvolver ações direcionadas não só para a conservação e restauração
dos ecossistemas da Floresta com Araucária, mas também para aumentar a cobertura florestal por
meio de modelos de restauração ambiental produtiva, fortalecer uma rede de programas de diver-
sificação já atuante nos municípios do projeto Sipam e compartilhar práticas tradicionais e inova-
doras entre as famílias de agricultura familiar. Às possibilidades de ações relacionadas à educação
ambiental e ao fortalecimento da rede dos sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate
somam-se ações que visam promover o diálogo e a troca de saberes entre famílias agricultoras e
comunidades indígenas situadas em territórios indígenas dentro da área de proposta do Sipam e,
com isso, fortalecer as suas estratégias de resiliência e articulação.

A legislação ambiental requer a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APP), assim


como de Reserva Legal (RL) – esta última com um mínimo de 20% por propriedade na região da
Floresta com Araucária. Para efeito do cálculo dessa área, pode-se computar em conjunto as áreas
de APP e RL. Neste contexto, a produção tradicional de erva-mate, que se caracteriza como um
conjunto de sistemas de produção inerentemente florestais, possui importante potencial para o au-
mento da cobertura florestal na região, ao mesmo tempo que provê renda e mantém seus atributos
socioculturais.

Ao oferecer uma estratégia para enfrentar o desafio de conservação ambiental e desenvolvimento


econômico, os sistemas produtivos agroflorestais, como o de erva-mate, podem ser implementados
de forma a atender às necessidades das famílias, em termos de renda e outras oportunidades so-
cioambientais, mas também atendendo às exigências da legislação ambiental e dos valores estéti-
cos de uma paisagem com cobertura florestal. Nesse sentido, o uso desta abordagem pode ser um
72 DOCUMENTOS, 374

instrumento de grande valia para a gestão de áreas com maior restrição ambiental, como a APA da
Serra da Esperança, a APA do Rio da Várzea, entre outras Unidades de Conservação (UC), assim
como os Faxinais e as Terras Indígenas.

Dois modelos de restauração de áreas e, ou florestas degradadas que utilizam princípios e expe-
riências compartilhadas entre técnicos e agricultores foram desenvolvidos e disponibilizados pela
Embrapa Florestas em 2019. Tais modelos são uma resposta à demanda por sistemas produtivos
inovadores que possam gerar renda e restaurar ecossistemas em benefício das comunidades rurais
e da sociedade em geral, oferecendo soluções de gestão territorial que podem ser implementadas
em toda a região.

O primeiro modelo – Sistema de Produção de Erva-Mate Baseado no Manejo Tradicional:


Bracatingais dominados por bambus (taquarais) – descreve os procedimentos e práticas neces-
sárias para a restauração de florestas degradadas pela dominância de bambus nativos invasores
encontrados em toda a área da FOM (Lacerda, 2019a). A dominância por populações de bambus
(taquaras, bambus, carás, caratuvas, principalmente Merostachys skvortzovii e Merostachys mul-
tiramea), comumente presentes em florestas com diferentes estágios de sucessão ecológica, mas
com maior presença nas fases iniciais e média, tem efeito adverso na organização e estabilidade
das comunidades florestais, impactando negativamente a diversidade e estrutura florestal. No longo
prazo, a presença desses bambus nativos invasores mantém um ciclo repetitivo no qual o processo
de sucessão é mantido em fase sucessional inicial, em que espécies arbóreas pioneiras coexistem
com os bambus. Esses ciclos são determinados pela floração e frutificação sincronizada das popu-
lações de taquara que morrem aproximadamente a cada 30-32 anos, possibilitando a regeneração
de espécies de rápido crescimento, em especial as pioneiras bracatinga (Mimosa scabrela) e vas-
sourão-branco (Piptocarpha angustifolia) (Kellermann; Lacerda, 2017; Greig et al., 2018). Seguindo
o desenvolvimento de densos agrupamentos de tais espécies pioneiras, rapidamente ocorre a reo-
cupação do sub-bosque por indivíduos regenerantes de taquaras.

O manejo florestal típico nas propriedades familiares nas quais populações de bambu invasor são
encontradas, visa a sua conversão em áreas produtivas e estão relacionados diretamente às práti-
cas necessárias para se garantir a conservação de espécies e habitats da Floresta com Araucária.
As extensas porções de florestas naturais que se encontram sob o domínio de taquaras, inclusive
áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente - cujos objetivos incluem manutenção
da biodiversidade e geração de serviços ambientais - estão seriamente comprometidas. Nesse sen-
tido, o controle das populações de taquaras a fim de torná-las não dominantes é uma necessidade
de manejo indispensável, devendo-se incentivar a aplicação de práticas tradicionais de produção de
erva-mate que visam à restauração da diversidade de espécies e habitats, assim como ao aumento
da renda familiar (Figura 28).

O segundo modelo – Restauração Produtiva Agroflorestal – tem como objetivo reintegrar agro-
ecossistemas degradados a áreas funcionais do ponto de vista ecológico e econômico, focando na
restauração de terras agrícolas degradadas ou subutilizadas em um sistema produtivo multiespé-
cies mantido como um ambiente florestal (Lacerda, 2019b). O modelo, flexível e adaptável, permite
uma variedade de resultados que aproveita as variações espaciais e temporais inerentes do siste-
ma e produz benefícios diretos (ex. colheitas) e indiretos (ex. serviços ambientais) (Figura 29).
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 73

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

Figura 28. Modelo de restauração usando o sistema de produção de erva-mate baseado no manejo tradicional: bracatin-
gais dominados por bambus (taquarais).
Fonte: Lacerda (2019a).

Fotos: André Eduardo Biscaia de Lacerda

Figura 29. Sistema de Restauração Produtivo Agroflorestal: modelo com erva-mate e bracatinga. Fotos no sentido horá-
rio: a) preparação do solo antecedendo ao plantio de bracatinga (2011); b) visão geral de linhas de plantio de bracatinga
após dois anos (2013); c) plantio de bracatinga aos três anos, já com introdução de erva-mate (2014); d) bracatinga após
primeiro desbaste aos cinco anos de idade (2016); e) plantio de bracatinga aos seis anos de idade já com plantas de
erva-mate ao centro (2017); f) plantio de bracatinga após o segundo desbaste, com linha central limpa para regeneração
de bracatinga e em ambos os lados, linhas de plantio de erva-mate (2018).
Fonte: Lacerda (2019b).
74 DOCUMENTOS, 374

A Restauração Produtiva Agroflorestal oferece uma alternativa para a restauração da floresta e da


terra, mas seus elementos estão abertos à variação e diversificação. À medida que as condições
ambientais melhoram gradativamente ao longo do tempo - principalmente a estrutura e a fertilidade
do solo, com níveis mais altos de umidade e menores oscilações de temperatura - outras espécies
podem ser integradas ao modelo, aproveitando o espaço horizontal e vertical disponível, que inclui
cipós, ervas e arbustos para diversos usos (alimentício, medicinal, artesanal etc.). É importante
ressaltar que os gestores da paisagem podem apoiar o uso desses sistemas como meio de reflo-
restar as Reservas Legais com passivos ambientais a serem sanados por meio de um projeto de
recuperação ambiental em linha com a legislação nas propriedades rurais, mantendo-as produtivas.

Neste contexto, espera-se uma mudança de paradigma, em que agricultores passam a ser vistos
como agentes para a conservação dos recursos naturais, por meio de práticas tradicionais sus-
tentáveis. Iniciativas recentes com foco na integração do conhecimento ecológico tradicional com
o científico a partir de projetos participativos já possibilitaram a geração de alguns documentos
técnico-científicos que incluem modelos de restauração e produção agroflorestal baseados na pro-
dução de erva-mate, como os encontrados em Lacerda (2019a, 2019b). Embora ainda insuficiente,
a inserção da abordagem das práticas tradicionais de produção da erva-mate no discurso técnico e
científico é um passo importante para mudança de mentalidade sobre modelos sustentáveis de uso
dos recursos naturais.

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84 DOCUMENTOS, 374

Apêndices
1. Frutas nativas e seus usos.

Nome popular Nome científico Usos


Ambu Phytolacca dioica L. in natura
Rubus sellowii Cham. & in natura; geleia; iogurte; suco; chá da
Schltdl. folha – medicinal
Amora-preta
in natura; alimentação de animais
Rubus erythrocladus Mart.
silvestres; chá da folha – medicinal
in natura; suco; geleia; iogurte; sorvete;
Araçá Psidium cattleianum Sabine
chá da folha – medicinal
Annona neosalicifolia H. in natura; semente inseticida; chá da folha
Ariticum- amarelo
Rainer – medicinal
Ariticum-de-porco Annona cacans Warm. in natura; chá; medicinal
Annona emarginata (Schltdl.)
Ariticum-miúdo n natura
H. Rainer
in natura como condimento; folhas e casca
Arueira Schinus terebinthifolius Raddi
medicinais
in natura; alimentação de animais
Philodendron bipinnatifidum
Banana-de-mico silvestres; folha repelente de insetos; raiz
Schot
medicinal; raiz para corda e artesanato
in natura; geleia; licor; suco; melífera;
Butiá Butia spp
ornamental
Campomanesia guazumifolia
Capote in natura; suco; folha medicinal
(Cambess.) O. Berg
in natura; xarope - medicinal; caule para
Cacto Opuntia monacantha Haw.
alimentação de criações e medicinal
Caraguatá Bromelia antiacantha Bertol. assado; xarope; folha medicina
Eugenia involucrata DC.
Cereja-do-rio-grande in natura; suco; geleia

in natura; alimentação de animais


Esporão-de-galo Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg
silvestres; artesanato com a semente
Physalis pubescens L. in natura; suco; geleia; medicinal
Fisális
Physalis angulata L. in natura
in natura; suco; geleia; iogurte; chá da
Framboesa Rubus rosifolius Sm.
folha – medicinal
Myrcianthes pungens (O.
Guabijú in natura
Berg) D. Legrand
Guaçatunga Casearia decandra Jacq. in natura; folha medicinal
Myrcia hatschbachii D.
in natura
Legrand
Guamirim
Neomitranthes gemballae (D.
in natura
Legrand) D. Legrand
in natura; suco; geleia; alimento para
Campomanesia xanthocarpa
Guavirova criações; folha medicinal; macerado da
(Cambess.) O. Berg
folha para atrair abelhas; melífera; sombra
Continua...
Erva-mate sombreada: Sipam “Sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-mate na Floresta com Araucária, Brasil” 85

Nome popular Nome científico Usos


Ingá-amarelo Inga vera Willd. in natura
Ingá-miúdo Inga marginata Willd. in natura
in natura; casca da fruta medicinal; geleia;
Jabuticaba Plinia spp.
iogurte; suco; licor; vinagre
Vasconcellea quercifolia A. in natura; alimentação de animais
St.- Hil. silvestres; geleia; suco
Jaracatiá
Jacaratia spinosa (Aubl.) A.
in natura; suco; geleia
DC.
Eugenia speciosa Cambess.
Laranjinha-do-mato in natura

Passiflora amethystina J. C.
in natura; suco
Mikan
Maracujá Passiflora caerulea L. in natura
Passiflora edulis Sims. suco; in natura; medicinal
Passiflora eichleriana Mast. in natura
Passiflora alata Curtis Amora-
Maracujá- doce in natura; suco; bolo
preta
Leandra australis (Cham.)
Mixiriqueira in natura; folha medicinal; ornamental
Cogn.
Murta Eugenia candolleana DC. folha medicinal
Ananas bracteatus (Lindl.) in natura; geleia; licor; suco; alimentação
Nanã
Schult. & Schult. f. de animais silvestres; medicinal
cozido; assado; paçoca; virado (prato
Araucaria angustifolia típico regional); extrato da folha -
Pinhão
(Bertol.) O. Kuntze inseticida; medicinal; nidificação de
animais silvestres
in natura; alimentação de criações -
Pitanga Eugenia uniflora L. porcos; alimentação de animais silvestres;
castanha; xarope – medicinal
in natura; vinagre; suco chá da folha
Sambucus australis Cham. &
Sabuguero - medicinal; pomada da folha; folha
Schltdl.
medicinal; flor medicinal; salada da flor
in natura; doce; curtido no vinho; fruto,
Vitex megapotamica folha e cascas medicinais; folha medicinal;
Tarumã
(Spreng.) Moldenke. madeira para cabo de ferramentas e
postes
Uvaia Eugenia pyriformis Cambess. in natura; suco; geleia; melífera
Allophilus edulis (A. St.-Hil. et
Vacum in natura; geleia; suco; chá
al.) Hieron. ex Niederl
Xirica Miconia sellowiana Naudin in natura

Fonte: Schreiner et al. (2020).


86 DOCUMENTOS, 374

2. Correspondências da agrobiodiversidade dos sistemas tradicionais e agroecológicos de erva-


-mate com iniciativas selecionadas de conservação da biodiversidade

Iniciativa Contribuição dos sistemas de erva-mate


Esta Convenção das Nações Unidas tem três principais objetivos
de alcance global: a conservação da diversidade biológica, o uso
sustentável dos componentes da diversidade biológica e a repartição
Convenção da justa e equitativa dos benefícios originados pelos conhecimentos
Diversidade Biológica tradicionais de uso dos recursos genéticos. De modo mais operacional, a
(Convention on Convenção também empreende acordos intergovernamentais de metas
Biological Diversity, para a consecução destes objetivos – exemplo disso é a proteção de
2021) ecossistemas ameaçados e da cultura associada a eles. Os sistemas
tradicionais de erva-mate emolduram exemplos favoráveis a estes
compromissos e, por isso, têm o potencial de contribuir com a agenda
signatária brasileira para colocar em prática a Convenção.
Na região, há seis polígonos (áreas) compreendidas por este programa
Programa de Áreas do Governo Federal brasileiro para proteção da diversidade biológica.
Prioritárias para a Têm classificação como alta, muita alta e extremamente alta quanto à
Conservação da sua proteção. São áreas que podem estar sobrepostas às delimitações
Biodiversidade – de Unidades de Conservação ou fora delas. De qualquer forma, têm o
Ministério do Meio significado de atenção especial para sua conservação. Nesse sentido,
Ambiente (Brasil, o tipo de uso da terra feito pelos sistemas tradicionais e agroecológicos
2020) de erva-mate tem contribuições para a conservação da biodiversidade e,
assim, consecução de objetivos deste programa.
De maneira similar à iniciativa federal, este programa do Governo
Áreas Estratégicas
do Paraná estabelece zonas para a conservação da biodiversidade
para a Conservação
e áreas estratégicas para restauração. Nesse sentido, a proposição
e Restauração da
de um corredor a ser restaurado atravessa a região – seguindo
biodiversidade no
destacadamente o curso do Rio Iguaçu – e dezenas de polígonos
estado do Paraná (IAT,
representam fragmentos de vegetação nativa demandantes de urgente
2021a)
conservação.
Zoneamento
Ecológico-Econômico Associações com as indicações deste programa quanto à intensificação
do estado do Paraná de atividades econômicas vocacionadas para a região, ao mesmo tempo
(Cunico; Prim, 2018a, em que se torna viável econômica e ambientalmente.
2018b, 2018c)
Esta iniciativa, que integra o Programa Homem e Biosfera da Unesco,
mapeia áreas para conservação da Mata Atlântica. Além de objetivos
favoráveis à biodiversidade, a Reserva da Biosfera também engloba o
trabalho cultural que se desenrola a partir das práticas das sociedades
junto ao bioma. Neste aspecto, há enquadramentos das experiências de
Reserva da Biosfera conservação pelo uso, que tanto constituem os sistemas de erva-mate
da Mata Atlântica quanto são potencializadas por eles. A Reserva da Biosfera da Mata
(Reserva da Biosfera Atlântica mapeia áreas que compõem sua delimitação e as classifica
da Mata Atlântica, como zonas Núcleo (essenciais), de Amortecimento e de Transição.
2021) Estas últimas servem para acomodar atividades econômicas passíveis
de conciliação com a proteção do meio ambiente e ações de educação
ambiental. Nas três situações, a produção tradicional e agroecológica
de erva-mate é significativamente ilustrativa. Na região, há cerca de 20
sítios classificados como Núcleo, em torno de 20 como Amortecimento e
outros 15 como Transição.
Fonte: elaborado por CEDErva (2021).
CGPE 017800

MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA
E ABASTECIMENTO

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