Agriculturafamiliardependentedechuvanosemiarido 2019
Agriculturafamiliardependentedechuvanosemiarido 2019
Agriculturafamiliardependentedechuvanosemiarido 2019
AGRICULTURA FAMILIAR
dependente de chuva no Semiárido
Embrapa
Brasília, DF
2019
Embrapa Semiárido Embrapa
Rodovia BR- 428, Km 152 Parque Estação Biológica (PqEB)
Zona Rural - Caixa Postal 23 Av. W3 Norte (final)
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Embrapa Semiárido
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Coordenação editorial
Secretária-Executiva
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Juliana Martins Ribeiro
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Membros Nilda Maria da Cunha Sette
Ana Cecília Poloni Rybka
Supervisão editorial
Bárbara França Dantas
Erika do Carmo Lima Ferreira
Diogo Denardi Porto
Elder Manoel de Moura Rocha Revisão de texto
Geraldo Milanez de Resende Letícia Ludwig Loder
Gislene Feitosa Brito Gama
Normalização bibliográfica
José Maria Pinto
Márcia Maria Pereira de Souza
Pedro Martins Ribeiro Júnior
Rita Mércia Estigarribia Borges Editoração eletrônica
Sidinei Anunciação Silva Júlio César da Silva Delfino
Tadeu Vinhas Voltolini
Capa
Paula Cristina Rodrigues Franco
1ª edição
1ª impressão (2019): Publicação digitalizada
Capítulo 1
Biodiversidade da Caatinga como potencialidade
para agricultura familiar, 15
Capítulo 2
As principais culturas anuais e bianuais na agricultura familiar, 83
Capítulo 3
As principais oleaginosas da agricultura familiar, 85
Capítulo 4
Conservação local e uso da agrobiodiversidade vegetal, 129
Capítulo 5
Máquinas, implementos e equipamentos utilizados
na agricultura familiar, 173
Capítulo 6
Água para o fortalecimento dos sistemas agrícolas
dependentes de chuva, 187
Capítulo 7
Alternativas alimentares para os rebanhos, 229
Capítulo 8
Manejo produtivo de caprinos e ovinos, 263
Capítulo 9
Criação de galinhas comuns localmente adaptadas, 303
Capítulo 10
Apicultura e meliponicultura, 333
Capítulo 11
Piscicultura na agricultura familiar, 363
Capítulo 12
Uso e manejo do solo, 395
Capítulo 13
Ações de mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas, 443
Capítulo 1
Biodiversidade da Caatinga
como potencialidade para
a agricultura familiar
Lúcia Helena Piedade Kiill
Francisco Pinheiro de Araújo
José Barbosa dos Anjos
Paulo Ivan Fernandes-Júnior
Saulo de Tarso Aidar
Ana Valéria Vieira de Souza
Essa situação vem sendo agravada pela ocorrência das secas periódi-
cas, que, dada a estrutura fundiária na região, impossibilitam os produtores
com pequena produção de terem acesso à renda. Esse fato vem afetando
sua sobrevivência e determinando, como uma das poucas alternativas, a
migração ou a busca do seu sustento pela exploração excessiva da base
de recursos naturais existentes em suas propriedades ou no entorno delas.
Assim, para o Semiárido, a utilização sustentável da biodiversidade nativa
da Caatinga se apresenta como uma alternativa econômica viável e como
uma forma de manter a população no local.
Espécies nativas são fornecedores de diferentes produtos que
podem ser utilizados como fonte de renda para os produtores familiares.
Um exemplo desse potencial são as fibras de caroá [Neoglaziovia variegata
(Arruda) Mez. – Bromeliaceae], espécie endêmica da Caatinga, que vêm
sendo usadas na confecção artesanal de cordas, barbantes e na tecelagem
(Ribeiro, 2007). No passado, sua utilização já foi mais intensa e, recente-
mente, o caroá voltou a ser uma das principais fontes de emprego e renda
para as comunidades do Semiárido graças ao seu uso na fabricação arte-
sanal de chapéus, bolsas e biojoias, entre outros produtos. A Associação
das Mulheres Produtoras de Caroalina, no município de Sertânia, PE, e a
Associação Quilombola de Conceição das Crioulas, em Salgueiro, PE, têm
mostrado que é possível conquistar os mercados diferenciados, garantindo
a inclusão social e o desenvolvimento sustentável (Brasil, 2012).
Assim como o caroá, outras espécies nativas da Caatinga podem ser
utilizadas como uma alternativa para o desenvolvimento da região. Nesse
sentido, o desafio que se coloca é a consolidação dos potenciais já existen-
tes e a identificação de novas oportunidades econômicas, que possam se
traduzir na geração de emprego e renda para os agentes locais.
Potencialidades da flora
Nas últimas décadas, vários trabalhos analisaram a produção de
produtos florestais não madeireiros (PFNM) sob os aspectos econômico,
ambiental e social, mostrando que esses produtos podem ser considerados
como opção de emprego e renda para as comunidades locais e como estra-
tégica para a conservação dos recursos naturais (Boxall et al., 2003; Santos
et al., 2003; Enders et al., 2006).
Capítulo 1 • Biodiversidade da Caatinga como potencialidade para a agricultura familiar 17
De acordo com Santos et al. (2003), na maior parte dos países tropi-
cais, os PFNM podem ser considerados como fonte de renda essencial para
as pessoas residentes nas áreas rurais, proporcionando segurança alimentar
para uma população de baixo poder aquisitivo, principalmente em épocas
de seca e escassez hídrica.
Apesar do aproveitamento secular da flora brasileira, apenas recente-
mente os PFNM vêm ganhando destaque como estratégia de conservação
da biodiversidade. A demanda das indústrias nacionais e internacionais por
matérias-primas (a exemplo das plantas medicinais, extratos, frutas, semen-
tes, cipós, cortiças, fibras, resinas, taninos, óleos) oriundas de PFNM vem
crescendo, uma vez que esses produtos têm boa aceitação, pois estão asso-
ciados com sustentabilidade, manutenção dos ecossistemas e proteção do
meio ambiente (Bentes-Gama et al., 2006).
Esse fato, associado à necessidade de diversificação da renda de
comunidades rurais, elevou a importância dos PFNM, que são, geralmente,
a base para a produção artesanal e industrial de pequena escala. Assim,
esses produtos podem gerar retornos financeiros consideráveis e empregos
para populações de diferentes níveis socioeconômicos, além de promover
modos de vida sustentáveis aos habitantes de países do Terceiro Mundo,
uma vez que essa atividade envolve a participação intensiva de mão de
obra, principalmente a de mulheres (Arnold; Pérez, 1996).
Apesar desses aspectos positivos, poucas são as plantas nativas
que vêm sendo manejadas de forma sustentável para geração de PFNM.
Segundo Wickens (1991) e Sampaio et al. (2005), isso se deve ao fato de
existirem lacunas de conhecimento referentes a aspectos da ecologia e do
manejo dessas espécies. Para a Caatinga, a situação não é diferente. Neste
capítulo, são apresentadas espécies vegetais frutíferas, aromáticas, orna-
mentais e oleaginosas sobre as quais já existem estudos em diferentes
estádios de desenvolvimento e que poderiam, a médio e longo prazos, ser
consideradas como uma alternativa para a agricultura familiar.
Frutíferas da Caatinga
O Semiárido brasileiro é caracterizado por condições edafoclimáticas
limitantes para a sobrevivência da maioria das espécies frutíferas cultivadas
18 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Produção
Idade da planta (ano) Safra Ano Renda (R$)
(kg por planta)
9 1ª 2012/2013 12 400,00
10 2ª 2013/2014 42 600,00
11 3ª 2014/2015 90 3.000,00
12 4ª 2015/2016 121 4.000,00
Aromáticas da Caatinga
Os estudos de compostos bioativos em plantas aromáticas da
Caatinga têm mostrado o imenso potencial dessas plantas na farmacopeia
e na medicina popular (Albuquerque; Andrade, 2002; Silva; Freire, 2010).
Agra et al. (2007) relatam mais de 400 espécies de uso medicinal reconhe-
cido, sendo a maioria delas de uso múltiplo. Algumas dessas espécies já
são consagradas pelo uso, a exemplo da umburana-de-cheiro (Amburana
cearensis A.C. Smith – Fabaceae), baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl. –
Anacardiaceae), aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão – Anacardiaceae)
e angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan – Fabaceae). Por isso, essas
espécies vêm sofrendo forte pressão extrativista.
Mais recentemente, a demanda por novas essências naturais como
matérias-primas industriais (para a manufatura de produtos dos setores da
perfumaria, cosmética, farmacêutica, higiene e limpeza, alimentícia e de
24 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Plantas ornamentais
As plantas nativas, além de sua beleza, apresentam rusticidade e baixa
demanda por água. Essas características são importantes para o grupo de
ornamentais e, por isso, essas espécies apresentam potencialidades para a
geração de renda no Semiárido. De acordo com Junqueira e Peetz (2014), a
cadeia produtiva de plantas e flores ornamentais no Brasil vem crescendo
nos últimos anos, sendo registrado incremento de 8% em 2014 em relação
ao ano anterior. Os autores relatam ainda que existem, no País, 7.800 produ-
tores de flores e plantas ornamentais que, em 2013, cultivaram uma área
de aproximadamente 13.500 ha. No País, a cadeia produtiva gera cerca de
200 mil empregos diretos, incluindo mão de obra familiar (Durval, 2014).
No cenário nacional, o Nordeste ocupa a 3ª colocação entre as
regiões que mais produzem flores, com 923 produtores (que correspon-
dem a 13,8% do total). A área dedicada ao cultivo chega a 1.023 ha (7,6%
do total), e o Ceará é considerado o estado de maior produção de flores
tropicais e temperadas no Nordeste (Junqueira; Peetz, 2014; Sebrae, 2015).
Vale ressaltar que a maioria das espécies ornamentais cultivadas é exótica,
e seu uso tem sido facilitado por serem plantas já adaptadas, com manejo
estabelecido. Por consequência de melhoramento genético, apresentam
características morfológicas e fisiológicas que propiciam aspectos desejá-
veis no mercado, como a produção de floração mais intensa e folhas e flores
com coloração mais variada, entre outras (Barreto et al., 2005).
O potencial ornamental da flora da Caatinga, embora significativo
pela presença de cactos, bromélias, palmeiras e leguminosas que apre-
sentam características como porte e simetria, cor, textura e durabilidade
de elementos de interesse (folhas, flor, fruto ou sementes), ainda é pouco
valorizado. Pareyn (2010) listou 317 espécies ornamentais da Caatinga com
potencial para inserção em programas de manejo, das quais 11 são conside-
radas como prioritárias. Kiill et al. (2013) apresentaram cerca de 100 espécies
de plantas nativas de hábitos variados, cujas flores, folhas, frutos e troncos
apresentam características ornamentais exuberantes, mostrando que a flora
desse bioma pode ser utilizada tanto na composição paisagística quanto
na arte floral e em terrários para interiores (Figura 5). Alvarez e Kiill (2014)
comentaram que, por apresentar rusticidade e adaptações ao estresse
hídrico, as plantas da Caatinga poderiam ser utilizadas na arborização e
26 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Espécies oleaginosas
O coqueiro ouricuri (Syagrus coronata Mart. – Arecaceae) é conside-
rado uma oleaginosa com potencialidade para a geração de renda familiar
no Semiárido. É vulgarmente conhecido por diferentes nomes, a depender
da região: licuri, aricuri, nicuri, coqueiro-cabeçudo, alicuri, baba-de-boi.
Mesmo ocorrendo em várias regiões do Brasil e crescendo em áreas alta-
mente pedregosas, o ouricuri pode ser descrito como uma palmeira
tipicamente baiana (Bondar, 1939). Essa espécie é considerada como uma
das fontes da economia da região onde é produzida (sua maior explora-
ção é verificada nas caatingas secas do Semiárido da Bahia) e contribui para
o fortalecimento da inclusão social por meio da geração de trabalho e de
renda, a preservação ambiental e a segurança alimentar, com reflexos posi-
tivos diretos nos indicadores socioeconômicos regionais.
O coco ouricuri, denominado licuri na Bahia, é considerado a pérola
do Semiárido baiano, com ocorrência registrada em áreas de matas nativas,
pastagens e em consórcio com outras culturas. Dele se aproveita basi-
camente tudo; no entanto, seu maior potencial é o coco (amêndoa), de
onde se extrai um óleo similar ao do coco-babaçu (Attalea speciosa Mart.
ex Spreng. – Arecaceae), que é utilizado amplamente pelas indústrias de
sabões como plantas saponáceas.
A partir da exploração planejada dessa palmeira, pode-se gerar
outros coprodutos, como a polpa do pericarpo para consumo in natura
(misturada com leite), que tem sabor e cor assemelhada ao de achocola-
tado e que também serve para a elaboração de doces, geleias, sorvetes e
picolés. Essa polpa foi analisada pelo Laboratório de Análises de Solo, Água
e Planta da Embrapa Semiárido, que constatou que ela tem composição
química (Tabela 2) semelhante à da polpa de açaí (Euterpe oleracea Mart.
– Arecaceae).
28 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
P K Ca Mg Cu Fe Zn Mn
Espécie
(g kg-1) (mg kg-1)
Esses fixam um preço, mas esse valor pré-estabelecido não é mantido pela
maioria dos corretores intermediários, que compram sempre a valores
abaixo do preço. As amêndoas funcionam inclusive como moeda de troca,
e há uma tradição de que não se vende ouricuri a prazo (isso é, fiado).
Toda a produção dessa espécie no estado da Bahia advém de ativi-
dades extrativistas. A produção ocorre de forma concentrada de janeiro
a abril, a colheita é feita por meio da catação no campo e/ou em currais,
onde animais ruminantes liberam os cocos juntamente com as fezes após o
consumo nas pastagens. Esse produto recebe a denominação de “licuri de
curral”, sendo considerado impróprio para o consumo humano.
No estado da Bahia, é possível encontrar safras dessa palmeira em
quase todos os meses do ano, uma vez que a produção da espécie está rela-
cionada com a pluviosidade, que pode variar de região para região.
O coco ouricuri pode fornecer matéria-prima para ser beneficiada na
propriedade agrícola ou nas comunidades urbanas (onde se faz o proces-
samento prévio); a seguir, é destinado à produção de alimentos (Anjos;
Drumond, 2010).
No que se refere às amêndoas, o rendimento da extração manual
é considerado muito baixo [em torno de 6 kg a 7 kg dia-1 de amêndoa
(Duque, 1980)] e geralmente é efetuado de forma artesanal, utilizando-se
duas pedras (uma serve como base e outra como martelo para bater).
O equipamento para a quebra do endocarpo e a extração da amêndoa já
é uma realidade para os moradores do município de Caldeirão Grande, BA,
e de outros municípios e resulta em uma produção de 600 kg h-1 de coco
quebrado (Licuri, 2006). Essa produção é destinada às indústrias produto-
ras de óleo localizadas nos municípios baianos de Caldeirão Grande, Miguel
Calmon, Nazaré, Santo Antônio de Jesus e Feira de Santana.
Quanto ao nicho de mercado, há várias maneiras de explorar econo-
micamente o coco ouricuri. Destacam-se, entre elas:
• Artesanato: O endocarpo dos frutos, as brácteas, as hastes e as
folhas são usados para confeccionar principalmente chapéus,
sacolas, vassouras e espanadores, entre outros.
• Processos de impressão: A cera de ouricuri, cuja produção é superior
à de carnaubeira (Copernicia prunifera Mill. – Arecaceae), é utilizada
nos processos de impressão conhecidos como hot-stamping.
30 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Considerações finais
No Semiárido, a utilização da biodiversidade nativa da Caatinga se
apresenta como uma alternativa viável para melhorar a produção e gerar
mais renda, o que, consequentemente propiciará a melhoria da qualidade
de vida e a permanência da população na região.
Porém, o desafio para o desenvolvimento da região é a consolidação
dos potenciais já existentes de forma mais sistematizada e a identificação de
novas oportunidades econômicas que se traduzam na geração de emprego
e renda para os agentes locais.
36 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
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Cultivo do milho
Aspectos culturais
O milho é uma cultura ainda muito presente nas áreas de agricultura
no Semiárido. Apesar do risco de frustração de safra, muitos agricultores
ainda insistem em mantê-lo dentre as espécies cultivadas visando à produ-
ção de espigas para alimentação humana. Caso não se consiga a produção
de espigas, a palha ou resto cultural é aproveitado como ração para animais.
Essa prática ainda persiste entre os agricultores do Semiárido, reforçando
mais ainda o milho como uma cultura emblemática na quase totalidade da
região nordestina.
Em todos os anos, principalmente nos de seca, as perdas de safra de
milho refletem não somente as condições de solo e práticas agrícolas, mas
principalmente os aspectos do clima, que tornam a colheita, especialmente
dos grãos, cada vez mais incerta e rara. Na Figura 1, está apresentado o
percentual de municípios do Semiárido brasileiro em que a área colhida de
milho foi igual ou inferior a 50% da inicialmente plantada. Pode-se observar,
por exemplo, que, em 2012, quando iniciou uma das secas mais severas dos
últimos 100 anos, dos 1.134 municípios existentes na área que abrange o
Semiárido brasileiro e em que foi plantado milho, 55,17% deles colheram
50% ou menos da área plantada no mesmo ano. Em 2013, esse número
caiu para 30,28%, o que representa 331 municípios que também colheram
50% ou menos das suas áreas plantadas em 2013. Em 2014, esse número
chegou a 26,99%, mostrando um quadro bem menos preocupante quando
Capítulo 2 • As principais culturas anuais na agricultura familiar 49
Tabela 1. Área plantada por ano com a cultura do milho (Zea mays) em municípios
localizados do Semiárido pernambucano.
Tabela 2. Quantidade produzida pela cultura do milho (Zea mays) por ano em
municípios localizados do Semiárido pernambucano.
Sistemas de cultivos
Para o plantio de milho, é importante que sejam observados certos
detalhes tendo em vista o pleno estabelecimento inicial da cultura em
campo e o aproveitamento adequado dos recursos naturais presentes.
Em área dependente de chuva, é importante preparar o solo logo nas
primeiras chuvas, deixando o espaço pronto para o plantio imediato a
qualquer momento. Embora o plantio mecanizado de milho em áreas
dependentes de chuva ainda seja uma realidade restrita a pequenas áreas
de cultivo, algumas adaptações já são adotadas, inclusive com plantadei-
ras-adubadeiras acopladas aos implementos, como grade ou arado. No
município de Dormentes, no Sertão pernambucano, alguns produtores
lançam mão dessas adaptações nas oficinas e alcançam uma eficiência
muito maior, podendo inclusive promover uma forma de plantio direto
52 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Cultivo do sorgo
No Brasil, o sorgo tem múltiplas aplicações, podendo ser cultivado
visando à produção de grãos, forragem, biomassa, etanol e vassoura, entre
outros usos. A produção de grãos no Norte e Nordeste brasileiros está
em 395 mil toneladas (Conab, 2019). A verdadeira aptidão da espécie no
Nordeste do Brasil é a produção de forragem, sendo importante compo-
nente na alimentação dos rebanhos nas bacias leiteiras da região.
O tipo de sorgo mais plantado no centro-sul do Brasil é o granífero,
sendo responsável por 82,7% da produção total brasileira, o que corresponde
a cerca de 2,3 milhões de toneladas (Conab, 2019). Considerando que o total
da produção mundial é de 57,1 milhões de toneladas (Estados Unidos, 2019), a
produção brasileira de grãos de sorgo é proporcionalmente pequena (o País
ocupa a posição de décimo maior produtor mundial), mas tem apresentado
crescimento constante de ano para ano. Já a produção de grãos dos Estados
Unidos, maior produtor mundial, foi superior a 9 milhões de toneladas.
O sorgo é bastante versátil quanto à sua utilização; plantas com diversas
aptidões (com ou sem grãos) podem entrar na dieta dos animais, e esse aspecto
é bastante favorável ao produtor de regiões semiáridas. No início da utilização
do sorgo como forragem, entretanto, animais alimentados com plantas jovens
e/ou rebrotas foram intoxicados, já que ocorre o acúmulo de composto ciano-
gênico (HCN) nas folhas superiores da planta. No passado, isso causou a morte
de animais e deixou dúvidas em relação ao seu uso entre produtores rurais
(Amorin et al., 2006). Atualmente, os sistemas de produção e manejo do sorgo
alertam para essa possibilidade e esclarecem o produtor pecuarista.
56 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Aspectos culturais
O sorgo é originário de uma região quente e seca da África subsa-
ariana, o Sahel, situado entre o deserto do Saara (ao norte) e a savana do
Sudão (ao sul), compreendendo toda a faixa de terra entre o Oceano Atlân-
tico e o Mar Vermelho. Essa condição provavelmente moldou a espécie para
resistir a condições extremas de temperatura e deficit hídrico. Fisiologica-
mente, a espécie apresenta um conjunto de características que conferem
boa adaptação às condições do Semiárido.
Dentre as características adaptativas do sorgo às condições ambien-
tais prevalentes no Semiárido, podem-se relacionar:
• Elevada eficiência do uso da água. Para fins de comparação,
observe-se que a espécie consegue produzir 1 kg de matéria seca
utilizando entre 150 L e 300 L de água, enquanto o milho necessita
de um mínimo de 450 L. Além disso, é possível produzir forragem
de sorgo com precipitação de 300 mm durante o ciclo, enquanto a
forragem de milho exige 600 mm.
• Superfície foliar (cutícula) revestida por uma grossa camada de
cutina, que confere proteção contra a perda de água não estomática.
• Folhas do sorgo, que têm a capacidade de se enrolar, reduzindo a
área foliar exposta ao tempo (assim, as folhas permanecem verdes,
não entrando em senescência durante o estresse hídrico, e toda a
planta entra em estágio de dormência quando passa por período
de deficit hídrico, retornando ao seu desenvolvimento quando a
água é restabelecida).
• Sistema radicular profundo e ramificado, com taxas de crescimento
superiores a 1 cm por dia, atingindo profundidade superior a 1 m e
explorando bem o solo.
• Perfilhamento, quando uma única planta dá origem a vários reben-
tos laterais produtivos, conhecidos como perfilhos.
Na Figura 4, observa-se um plantio de sorgo ‘BRS Ponta Negra’ em
área experimental da Embrapa Semiárido.
Capítulo 2 • As principais culturas anuais na agricultura familiar 57
Valadares Filho
Composição (1) Igarasi et al. (2008)
et al. (2006)
Unidade Meses
federativa Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set.
PI P C
CE P P P C C
RN P P P C C C
PB P P P C C
PE P P P P C C C C
BA P P P C C C
(1)
P = plantio; C = colheita.
Fonte: Adaptado de Conab (2019).
Sorgo forrageiro
9% e 12% no colmo, entre 15% e 18% nas folhas e entre 12% e 16% na planta
inteira (Rodrigues, 2000).
Sorgo sacarino
Sorgo biomassa
Cultivar
Característica BRS Ponta
SF 15 IPA 1011 IPA 467 IPA 2502
Negra
Altura das plantas (m) 2,50 a 3,50 1,70 2,50 a 3,50 1,80 a 2,00 2,00 a 2,50
Florescimento (dias) 75 a 90 65 a 75 95 65 65 a 75
Ciclo até colheita (dias) 100 a 120 90 a 110 120 a 130 90 a 110 110 a 120
Ciclo até colheita para silagem (dias) 100 a 120 80 a 90 95 a 115 80 110 a 120
suculento suculento
Cultivo da mandioca
O Nordeste brasileiro é atualmente o responsável pela maior produ-
ção nacional de mandioca (33,4% da produção nacional no ano de 2010).
A produção brasileira de mandioca, em 2016, ficou em torno de 21,08
milhões de toneladas, tendo sofrido uma variação negativa de aproxima-
damente 3% quando comparada à do ano de 2013 (IBGE, 2016). No ano
de 2014, a região Nordeste apresentou maior área colhida (37% do total),
apesar de a região Norte ter ficado com a maior produção (35%) quando
comparada à produção das demais regiões (Figura 6). Esse resultado reflete
a potencialidade para a produção da cultura na região Nordeste, principal-
mente devido às condições extremas vividas nos últimos anos (estiagem
por anos seguidos e altas temperaturas médias anuais).
Aspectos culturais
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma das principais culturas
fornecedoras de energia para aproveitamento humano e animal cultivadas
no Brasil. Explorada de Norte a Sul do País, tem uma adaptação extraordi-
nária aos ambientes adversos e às diversas condições climáticas: desde as
temperaturas mais baixas (quando as áreas de cultivo sofrem geadas) até
68 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Figura 6. Área colhida (A) e produção de mandioca (B) no ano de 2014 nas regiões
brasileiras.
Fonte: IBGE (2014).
Cultivo do feijão-caupi
Aspectos culturais
Para todos os brasileiros (e, evidentemente, também para os nordes-
tinos), o feijão-caupi é a base da alimentação. O feijão-caupi é uma planta
que se desenvolve nos mais diversos solos e responde a determinados
tratos simples, como a capina. Mesmo só sendo admitidas no período de
pré-colheita, as ervas espontâneas, quando em excesso, podem dificultar a
operação (Figura 11).
Apesar de o feijão-caupi ter estruturas (nódulos ou rizóbios) em suas
raízes para fixação de nitrogênio como nutriente para seu crescimento, seu
desenvolvimento é adequado e acelerado se forem tomadas as devidas
providências para correção de solos e adotados tratos culturais rotineiros
adequadamente e no tempo certo. Além da cultivar Pujante, já conhecida
entre os plantadores de feijão, as cultivares BRS Tapaihum, BRS Acauã e
BRS Carijó também são alternativas testadas e apontadas pela Embrapa
para regiões que sofrem deficit hídrico extremo.
Considerações finais
As culturas alimentares exercem grande influência sobre o bem-es-
tar e sobrevivência do homem do campo. Desde os tempos mais remotos,
o cultivo dos grãos e a escolha da variedade apropriada para cada região
eram motivos de festa ou até mesmo de disputa. Apesar de a agricultura em
condições de semiaridez, num sistema de base familiar, representar certa
insegurança quanto à geração de dividendos, as pesquisas apontam que
essa prática hoje serve não apenas como fornecedora de alimentos, forra-
gem e renda, mas também como fonte de resíduos orgânicos importantes
para a manutenção ou elevação da resiliência a médio e longo prazos.
O conjunto de pesquisas voltadas para o cultivo de espécies alimen-
tares/forrageiras anuais, como milho, feijão, mandioca e sorgo, deram um
bom suporte técnico, nos últimos anos, principalmente para a oferta de culti-
vares mais promissoras, para as técnicas de cultivo mais simples e eficazes,
para o aproveitamento integral da planta e para o armazenamento como
método para manter o alimento durante os períodos de longas estiagens.
O aporte de recursos de fontes financiadoras externas, muitas vezes,
permite um cultivo mais racional dentro dos moldes de conveniência
para as áreas dependentes de chuva. Porém, mesmo com todo o aparato
técnico-financeiro em torno dessa atividade, faz-se necessário reforçar
que a agricultura de base familiar no Semiárido carece de uma assistência
técnica mais atuante que possa otimizar os recursos investidos, acompa-
nhar as dificuldades quanto à falta de umidade no solo, levar ao agricultor
as inovações que são alcançadas pela pesquisa e ser, enfim, um elo entre os
resultados ofertados pela ciência e a validação pela prática dos agricultores.
Diante dos cenários de estiagem que se materializam desde o ano
de 2010 na região do Semiárido nordestino, não se pode imaginar uma
agricultura de base familiar em áreas dependentes de chuva sem esse acom-
panhamento da assistência técnica no campo, promovendo a adequação e
a adoção dos principais resultados de pesquisa.
Capítulo 2 • As principais culturas anuais na agricultura familiar 79
Referências
IBGE. Produção Agrícola Municipal. Tabela 839 - Área plantada, área colhida,
quantidade produzida e rendimento médio de milho, 1ª e 2ª safras. Rio de
Janeiro, 2016. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.
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80 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
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Fruticultura Tropical, 2009. p. 126-144.
As principais oleaginosas
da agricultura familiar
Anderson Ramos de Oliveira
Nair Helena Castro Arriel
Cultivo da mamona
Aspectos gerais
A mamona é uma das oleaginosas mais cultivadas pelos agricultores
familiares em regiões caracterizadas pelo deficit hídrico devido à baixa preci-
pitação. Sua peculiaridade de resistir a ambientes adversos, principalmente
àqueles de elevada restrição hídrica, desperta o interesse de agricultores
que veem, nessa cultura, uma fonte alternativa de renda. A espécie é origi-
nária do continente africano, provavelmente seu centro de origem seja a
Etiópia. Contudo, se dispersou por todo o mundo e se adaptou às mais
diferentes condições edafoclimáticas. Atualmente, os maiores produtores
dessa cultura são: Índia, China, Moçambique e Brasil, onde a mamoneira foi
introduzida pelos portugueses no período colonial com o intuito de utilizar
o óleo extraído de suas sementes para a iluminação e para a lubrificação de
eixos de carroças e de engrenagens dos engenhos de cana-de-açúcar.
88 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Sistema de cultivo
A época de plantio mais indicada para o cultivo da mamona é o
início do período chuvoso, quando as condições de umidade permitirão
maior germinação e pegamento das plântulas, principalmente nas condi-
ções semiáridas, nas quais atrasos no plantio poderão reduzir o estande de
plantas, uma vez que as sementes podem não germinar ou aquelas que
germinarem podem não conseguir sobreviver à estiagem que se segue ao
período chuvoso.
A mamoneira adapta-se aos mais diferentes tipos de solo, pois,
além da tolerância ao deficit hídrico, essa espécie possui sistema radicular
90 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
profundo, o que lhe permite explorar maior volume de solo. Contudo, seu
cultivo em solos de baixa fertilidade compromete seu crescimento e desen-
volvimento, assim como a produção e qualidade do óleo produzido. Para
evitar perdas, deve-se realizar a amostragem do solo para fins de recomen-
dação de adubação. Em estudo desenvolvido por Severino et al. (2006b),
constatou-se que a adubação com nitrogênio (N) e potássio (K), ao interferir
na expressão sexual da mamoneira, permite aumentos na produtividade.
De maneira geral, a mamoneira responde positivamente a doses crescentes
de N, fósforo (P) e K, atingindo maiores valores de matéria seca, área foliar,
número de folhas e diâmetro do caule (Rodrigues et al., 2011).
Para agricultores familiares do Semiárido, pode-se recomendar ainda
a utilização de adubos orgânicos a fim de reduzir custos com adubação
química. Em estudo realizado em condições de sequeiro no estado da
Paraíba, observou-se que a mamoneira, quando cultivada em solo arenoso,
apresenta maior desempenho quando fertilizada com esterco bovino e
que a dose mais recomendada é de 10 m3 ha-1 de esterco (Ferreira, 2012).
De acordo com Severino et al. (2006a), a mamoneira responde positiva-
mente ao fornecimento de nutrientes via adubação química ou orgânica,
com aumentos significativos no crescimento, no desenvolvimento e na
produtividade. Além disso, o material orgânico proporciona melhoria na
aeração e retenção de água no solo.
Considerando o cultivo em sequeiro, um dos aspectos mais relevantes
é a escolha da época de plantio, pois a seleção inadequada poderá resultar
em prejuízos consideráveis resultantes da não germinação de sementes ou
da obtenção de estande reduzido de plantas, do aumento nos custos com
replantio, das perdas na produtividade devido ao baixo desenvolvimento
vegetativo das plantas e das perdas na qualidade do óleo, dentre outras.
Ainda que a mamoneira apresente tolerância ao estresse hídrico e
se desenvolva bem nos mais diversos tipos de solos, as questões edafo-
climáticas não podem ser negligenciadas. A escolha da época de plantio
deve ser feita de forma que o ciclo da cultura se ajuste ao maior período
de concentração de chuvas, a fim de que as cultivares possam atingir
máximas produtividades (Lopes et al., 2013). Por isso, estudos de zonea-
mento agroclimático e agroecológico para essa cultura devem ser levados
em consideração no momento da escolha da área de plantio e da cultivar
a ser plantada. Além disso, as políticas públicas voltadas para a agricultura
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 91
Principais cultivares
Para as condições de sequeiro, são recomendadas algumas cultiva-
res de mamona que foram lançadas pela Embrapa Algodão em parceria
com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e a Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). Dentre as cultiva-
res, destacam-se a BRS Energia, a BRS Nordestina (Figura 1), a BRS Gabriela e
a BRS Paraguaçu (Figura 2).
A cultivar BRS Nordestina caracteriza-se por apresentar a maior altura
média (pode alcançar 1,90 m). O caule tem cor esverdeada e, assim como
os racemos, apresenta cerosidade em sua extensão. O ciclo varia de 230 a
250 dias. Desenvolve-se bem em regiões com precipitação de pelo menos
500 mm durante todo o ciclo, com temperatura variando de 20 °C a 30 °C,
e demonstra, durante a fase inicial de desenvolvimento e de crescimento,
elevada sensibilidade ao estresse hídrico (Beltrão et al., 2003). Em relação às
92 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Fotos: Máira Milani
Cultivo do gergelim
Aspectos gerais
O gergelim pertence à família Pedaliaceae, sendo considerada uma
das oleaginosas mais conhecidas da humanidade. Essa planta é originá-
ria dos continentes africano e asiático e expandiu-se por muitas partes do
mundo (Pandey et al., 2015). Em muitos países africanos, como a Nigéria,
96 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Sistema de cultivo
O plantio do gergelim em condições de estresse hídrico deve ser
realizado no período chuvoso, a fim de que as plantas consigam vencer e se
estabelecer, tolerando os períodos de estiagem. Antes do plantio, deve-se
proceder ao preparo do solo com aração (de 25 cm a 30 cm de profundi-
dade) e gradagem.
Correções do solo e adubações devem ser realizadas de acordo
com a análise de solo. Como se trata de uma cultura que armazena, em
suas sementes, óleo e proteína (que são substâncias de elevado conteúdo
energético), a planta de gergelim gasta muita energia para fabricá-los,
demandando grande quantidade de N, P e enxofre (S) para suas respec-
tivas sínteses. Além do N, o K é o segundo nutriente absorvido em maior
quantidade pelo gergelim. Considerando que as maiores taxas de absor-
ção de N ocorrem dos 45 aos 70 dias da emergência e que, nos frutos, o
período de maior absorção é pequeno (cerca de 15 dias), a adubação nitro-
genada deve ser aplicada de forma parcelada: deve-se usar o mínimo na
fundação (até 20% do total) e o restante em cobertura em sulcos cober-
tos para reduzir as perdas por volatilização e desnitrificação. Quanto a P e
K, as maiores taxas de absorção ocorrem bem antes dos 50 dias de idade
da planta, evidenciando-se a necessidade desses nutrientes na fundação.
Ressalta-se, assim, que a quantidade de adubação a ser usada vai depen-
der do tipo e da fertilidade do solo, que podem ser avaliados pela análise
do solo (Lima; Beltrão, 2009).
98 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Principais cultivares
Para a região Nordeste, algumas cultivares de gergelim são reco-
mendadas, tais como: Seridó 1, CNPA G2, CNPA G3 (Figura 3), BRS 196,
BRS Seda e BRS Anahí (Figura 4), que são adaptadas às áreas tradicionais
nordestinas ou de fronteira agrícola do Cerrado (Arriel et al., 2009b, 2015;
Arriel; Cardoso, 2011).
A cultivar Seridó 1 é oriunda de seleção massal a partir de tipos locais
cultivados em Jardim do Seridó, RN, cujas principais características agro-
nômicas são: porte alto (até 180 cm), ciclo tardio de 130 a 140 dias, hábito
de crescimento ramificado, um fruto por axila com sementes de coloração
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 99
A cultivar BRS Seda é obtida a partir da cultivar Zirra FAO 51284 com
melhoramento genético visando às sementes de coloração essencialmente
branca e à produção variando de 940,50 kg ha-1 de grãos a 2.300 kg ha-1 de
grãos em regimes de sequeiro e irrigado, respectivamente. Essa cultivar é
recomendada para cultivo nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
Associada ao manejo cultural adequado, essa cultivar pode ter uma produti-
vidade mínima de 800 kg ha-1 de sementes, podendo atingir até 1.500 kg ha-1.
O teor de óleo varia de 50% a 52%. Em estudo em área de sequeiro com a
cultivar BRS Seda em Ceará-Mirim, RN, Grilo Júnior e Azevedo (2013) alcança-
ram produtividade de grãos de gergelim de 1.600 kg ha-1 e concluíram que
essa cultivar pode ser inserida nos meios produtivos da região, podendo
garantir uma fonte alternativa de renda para as famílias dos pequenos
produtores.
A cultivar BRS Anahí produz plantas que apresentam haste de colo-
ração verde-escura, porte mediano, ciclo de 90 dias, hábito de crescimento
não ramificado, floração aos 39 dias e três frutos por axila foliar. As sementes
têm coloração esbranquiçada, peso médio de mil sementes de 4,22 g e teor
médio de óleo de 51%. Apresenta tolerância à murcha de Macrophomina,
mancha-angular e cercosporiose. Tem potencial genético de produzir
1.600 kg ha-1 de sementes sob condições adequadas de umidade e nutrição
(Arriel et al., 2015).
As cultivares de gergelim de ciclos precoce ou médio são recomen-
dadas para o cultivo em sequeiro e irrigado na região Nordeste (onde o
período de chuva é curto e irregular) e apresentam ciclo de produção de 90
a 110 dias. Considerando-se uma mesma densidade de plantio (número de
plantas por unidade de área), as cultivares de gergelim atualmente dispo-
níveis e recomendadas pela Embrapa Algodão (BRS Seda e BRS Anahí)
têm potenciais genéticos de produtividade superiores a 2.500 kg ha-1 e
1.600 kg ha-1, respectivamente, e são alternativas de geração de renda
para agricultores familiares (Arriel et al., 2015). A cultivar BRS Anahí, por
apresentar hábito de crescimento não ramificado, pode ser cultivada em
espaçamento mais reduzido, o que possibilita duplicar o número de plantas
por hectare e, portanto, sua produtividade.
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 103
Cultivo do girassol
Aspectos gerais
Oleaginosa muito cultivada por agricultores familiares em condi-
ções de sequeiro, o girassol apresenta ciclo curto e é estratégica para a
agricultura dependente de chuva, pois conclui seu ciclo em poucos meses,
podendo ser cultivada no curto período chuvoso característico das regiões
semiáridas do Nordeste.
O girassol é uma espécie anual da família Asteraceae, originária do
continente americano, provavelmente do México, de onde se expandiu
para outros continentes. Na safra de 2017, a produção mundial dessa olea-
ginosa foi superior a 50 milhões de toneladas, sendo os maiores produtores
a Ucrânia (12,2 milhões de toneladas), a Rússia (10,5 milhões de toneladas)
e a Argentina (3,5 milhões de toneladas) (FAO, 2019). No Brasil, a produção
média total na safra 2017/2018 foi de 142,2 mil toneladas, com produtivi-
dade média de 1.489 kg ha-1. Destacam-se os estados de Mato Grosso (com
101,9 mil toneladas), Goiás (com 24,0 mil toneladas) e Minas Gerais (com
8,5 mil toneladas) (Conab, 2019). A região Nordeste ainda não apresenta
elevados índices de produção dessa oleaginosa; contudo, os estados da
Bahia e do Ceará se destacam com cultivos realizados em pequenas proprie-
dades por agricultores familiares que se valem da atividade para agregação
de renda.
Das sementes do girassol, é extraído o óleo que é utilizado na alimen-
tação humana, notadamente na manipulação de frituras. Os grãos do
girassol têm importância também para padarias e confeitarias no preparo
de bolos, pães, biscoitos e bolachas, dentre outros. Do girassol, também é
possível extrair uma torta, que pode ser utilizada na alimentação animal.
Além disso, o girassol tem uso na indústria farmacêutica, na fabricação de
cosméticos e no mercado de flores ornamentais. Estudo de Ferreira et al.
(2012) demonstrou que a aplicação tópica de óleo de semente de girassol
acelerou o processo da cicatrização no tratamento de feridas em carneiros.
Vários estudos demonstram as vantagens de adicionar à dieta animal
a torta de girassol. Costa et al. (2005) analisaram sua utilização na alimen-
tação de suínos nas fases de crescimento e terminação e seus efeitos no
104 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
agregou maior importância à cultura, uma vez que foi incluída no rol de
espécies contempladas no PNPB. Isso fez aumentar o interesse dos produ-
tores de biodiesel na cultura e, consequentemente, aumentar a demanda
de produção da matéria-prima, a qual pode ser feita pelos agricultores
familiares.
Sistema de cultivo
O girassol pode ser considerado uma espécie de elevada tolerância à
seca e de alta produtividade de grãos e de óleo (Prado; Leal, 2006). Por isso,
seu cultivo na região semiárida em agricultura dependente de chuva é reco-
mendável. Segundo informações de Škorić (2009), essa espécie é cultivada
em vários países nos chamados solos marginais (muitas vezes, em condições
semiáridas), onde quase todos os anos ocorre estresse abiótico, atuando
como um fator limitante à produção agrícola. A espécie tolera ampla varia-
ção de temperatura, podendo germinar desde 4 ºC até 30 ºC. Contudo,
a temperatura ótima para seu desenvolvimento está na faixa entre 20 ºC
e 25 ºC. Temperaturas muito altas, aliadas a estresse hídrico prolongado,
provocam redução no estande de plantas ou redução na produtividade.
O sistema radicular do girassol é profundo, o que permite que a espécie
explore grande volume de solo, sendo esse um dos principais fatores que
explicam a tolerância e resistência do girassol à seca.
O plantio do girassol pode ser realizado manualmente ou com o
auxílio de uma matraca. Em barragens subterrâneas localizadas no municí-
pio de Petrolina, PE, a operação de plantio tem sido realizada com matraca
regulada com a quantidade de sementes ideal para ser depositada no
sulco ou cova de plantio. No plantio em covas, normalmente realizado
em pequenas áreas, utilizam-se de 3 a 5 sementes; no plantio em sulcos,
a quantidade de sementes varia de acordo com a população de plantas
desejadas por hectare. Ressalta-se que, na definição da quantidade de
sementes por cova, deve-se levar em consideração seu poder germina-
tivo. Assim, sementes com maior poder germinativo garantem estande de
plantas mais homogêneo e tornam desnecessário o replantio. A deposi-
ção das sementes nas covas está relacionada à umidade do solo. Em solos
mais argilosos, a deposição da semente pode ser mais superficial (3 cm),
106 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Principais cultivares
A cultivar BRS 323, desenvolvida pela Embrapa Soja, apresenta poten-
cial de produtividade média de 1.800 kg ha-1 e associa produtividade com
precocidade, características que facilitam sua utilização nos diferentes siste-
mas produtivos das principais regiões agrícolas do País. Apresenta teor
de óleo de 40% a 44% e peso de mil sementes que varia de 60 g a 75 g.
Em algumas áreas no estado da Bahia (regiões oeste, sudeste e central), do
Ceará (Sertão) e de Pernambuco (Sertão), recomenda-se que o plantio seja
realizado entre novembro e janeiro (Carvalho et al., 2013a).
A cultivar BRS 324 é uma variedade de polinização aberta com alto
teor de óleo nos grãos, que varia de 45% a 49% (Carvalho et al., 2013b), o que
agrega valor à produção. Essa cultivar tem potencial de produtividade de
1.500 kg ha-1. Por apresentar sementes de menor custo em relação às de um
híbrido, a BRS 324 pode ser uma boa opção para produtores menos tecni-
ficados ou para plantio em época marginal. A época de semeadura dessa
cultivar depende da região. No Nordeste, estudos realizados no estado da
Bahia (nordeste e Recôncavo Baiano) e Sergipe indicaram que a época de
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 107
cultivo pode ser de maio a junho. Contudo, nas regiões oeste, sudeste e
central do estado da Bahia, onde ocorre menor precipitação, a época de
semeadura passa a ser de novembro a janeiro. O peso de mil sementes
dessa cultivar varia de 50 g a 65 g (Carvalho et al., 2013b).
Em sua avaliação das potencialidades da cultura do girassol como
alternativa de cultivo no Semiárido nordestino, Lira et al. (2011) observaram
que as produtividades de grãos das cultivares, na média de diversas regiões
do Semiárido, oscilaram entre 1.532 kg ha-1 e 2.791 kg ha-1, com média geral
superior a 2.100 kg ha-1. Isso evidencia o alto potencial do conjunto avaliado
para a produtividade, sobressaindo, com melhor adaptação, os genótipos
EXP 1447, Dow M734, EXP 1442 e ACA 886, Agrobel 960, V 20038, V 20044,
EXP 1441 e Hélio 360, e Dow MG52 e BRSG 20, cujas produtividades oscilam
entre 2.621 kg ha-1 e 2.780 kg ha-1.
Vale ressaltar que o desempenho de cultivares de girassol no Semi-
árido pode variar em função da cultivar selecionada e das condições de
precipitação ocorridas durante o ciclo da cultura. Trabalho desenvolvido
por Santos e Grangeiro (2013) em Campina Grande, PB, onde a precipita-
ção pluvial é de 363 mm durante o cultivo, demonstrou que as cultivares
Agrobel 640 (produtividade de 1.342 kg ha-1) e BRS Gira 6 (produtividade
de 1.206 kg ha-1) apresentaram as melhores características agronômicas e
se destacaram em produtividade de sementes. Esses estudiosos afirma-
ram ainda que o girassol pode ser uma alternativa de exploração agrícola
para os agricultores familiares do Semiárido paraibano, principalmente
como matéria-prima para a obtenção do biodiesel. Castro et al. (2011),
avaliando o potencial produtivo do girassol consorciado com feijão no
Semiárido baiano, observaram produtividades de grãos de 1.858 kg ha-1
em monocultivo e de 2.443 kg ha-1 em consórcio com feijão. Além disso,
constataram que as cultivares Aguará 6, NTO 3.0, Dow M734, Aguará 4,
NTO 2.0, BRS 322, BRS 323, BRS G 26, Olisun, Hélio 253 e Hélio 251, com
produtividades acima da média geral, podem ser indicadas para o cultivo
na região semiárida do Nordeste baiano tanto em monocultivo como em
consórcio com o feijão.
Na Figura 5, podem-se observar as cultivares de girassol BRS 323 e
BRS 324 recomendadas pela Embrapa para a região semiárida.
108 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Fotos: Norman Neumaier
Cultivo do amendoim
Aspectos gerais
O amendoim é originário da América do Sul, da região de Gran Chaco,
a qual inclui os vales dos rios Paraná e Paraguai e a região Norte da Argen-
tina, a partir de onde se expandiu para o resto do mundo. Atualmente, o
amendoim é uma das oleaginosas mais cultivadas, com produção de grãos
de 31,48 milhões de toneladas e de óleo estimada em 6 milhões de tonela-
das. Os maiores produtores de amendoim são China, Índia e Estados Unidos,
sendo que 99,8% do óleo de amendoim são consumidos na mesma tempo-
rada comercial em que são produzidos. Analisando o mercado interno, os
estados que mais se destacam na produção de amendoim (safra 2015/2016)
são: São Paulo (377,5 mil toneladas), Rio Grande do Sul (11,6 mil toneladas) e
Minas Gerais (7,6 mil toneladas). Na região Nordeste, os estados de Sergipe
e Bahia produziram, na mesma safra, 1,5 mil toneladas cada (Conab, 2017a).
A produção brasileira do amendoim vem crescendo anualmente.
De acordo com Conab (2019), a produção total, na safra 2017/2018, foi de
511 mil toneladas, com produtividade média de 3,7 t ha-1. As cultivares de
amendoim mais expressivas no Sudeste brasileiro são as eretas e rastei-
ras, enquanto, na região Nordeste, as cultivares de porte ereto são mais
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 109
Sistema de cultivo
Para o cultivo do amendoim, devem-se selecionar áreas com solo um
pouco mais arenoso, uma vez que solos argilosos e pesados podem difi-
cultar o processo de colheita, causando perdas significativas na produção.
O solo deve ser preparado realizando-se uma aração seguida de uma ou
duas gradagens a fim de nivelar bem a área, incorporar o calcário (caso tenha
sido necessária a correção do solo) e evitar que plantas daninhas possam
interferir na cultura, principalmente no período inicial de desenvolvimento.
Após o preparo do solo, realiza-se o plantio em covas com profundi-
dade em torno de 5 cm e espaçamento dependente do tipo de cultivar que
está sendo utilizado. Normalmente, para cultivares eretas de ciclo curto, o
espaçamento é de 0,5 m x 0,2 m, com duas sementes por cova (de 160 mil
a 200 mil plantas por hectare). Para cultivares do tipo rasteiro, recomenda-
-se espaçamento um pouco maior entre linhas (de 0,8 m a 0,9 m) (Beltrão
et al., 2009).
A adubação deve seguir a recomendação feita após a análise química
do solo, a qual demonstrará as necessidades de nutrientes. As plantas de
amendoim, ao se associarem a bactérias do gênero Bradyrhizobium sp., fixam
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 111
Principais cultivares
A seguir, são apresentadas algumas características das cultivares mais
indicadas para as condições semiáridas.
A cultivar BR 1 apresenta porte ereto e elevada precocidade (ciclo de
85 a 87 dias). As vagens têm de 3 a 4 sementes de tamanho médio e cor
vermelha (Figura 6A). A produção destina-se basicamente ao consumo in
natura e à indústria de alimentos. O teor de óleo dessa cultivar é de 45%. Essa
cultivar tem produtividade média de 1.700 kg ha-1 em regime de sequeiro
(Amendoin BR1, 2016) e apresenta tolerância ao deficit hídrico (Pereira et al.,
2016). Gomes et al. (2007) verificaram produtividade de 2.171 kg ha-1 em
estudo realizado no Sertão pernambucano, na Zona da Mata, no Agreste
e no Litoral/Mata e concluíram que essa cultivar tem ampla adaptação e
comportamento previsível quanto à produtividade.
112 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Cultivo do algodão
Aspectos gerais
O algodoeiro foi domesticado há mais de 4.000 anos no sul da Arábia,
mas sua origem é controversa. Atualmente, é cultivado em todos os conti-
nentes, e sua produção mundial é de 26,7 milhões de toneladas. Os maiores
produtores, na safra 2017/2018, foram Índia (6,35 milhões de toneladas),
seguida por China (5,89 milhões de toneladas), Estados Unidos (4,56 milhões
de toneladas), Brasil (2,01 milhões de toneladas) e Paquistão (1,80 milhão
de toneladas), segundo dados do International Cotton Advisory Committee
(2019). A produção brasileira na safra 2017/2018 foi de 3,0 milhões de tonela-
das de caroço de algodão, sendo o estado de Mato Grosso o maior produtor
nacional, que respondeu por 1,94 milhão de toneladas. A região Nordeste
participou com 817 mil toneladas, sendo o estado da Bahia responsável pela
produção de 747,6 mil toneladas de algodão em caroço. A produtividade
média nacional, nessa safra, foi de 2.560 kg ha-1 (Conab, 2019).
O algodão é uma oleaginosa que é matéria-prima para a produção
de fibra têxtil (principal produto da cotonicultura), mas que também pode
ser utilizada para a produção de óleo com fins alimentares, uma vez que
apresenta características desejáveis para substituir outros tipos de óleos em
frituras e pode ser utilizado principalmente por pessoas que têm proble-
mas de colesterol alto ou que apresentem problemas cardíacos. Segundo
Agarwal et al. (2003), o óleo de algodão, por conter três vezes mais ácidos
graxos insaturados do que outros óleos, é considerado um óleo vegetal
saudável, sendo um dos poucos óleos aconselhados no caso de redução da
ingestão de gordura saturada.
Assim como outras oleaginosas, o algodão também pode ser utilizado
na alimentação animal. O caroço, o farelo e a torta de algodão destacam-se
como fontes alternativas de proteína e energia, que podem diminuir o custo
da dieta dos animais ruminantes, pois esses produtos apresentam elevada
quantidade de ácidos graxos, o que pode propiciar maior deposição de
gordura na carcaça e maior ganho em peso, além de uma carne de melhor
qualidade (Paim et al., 2010). Em vacas em lactação, o farelo de algodão pode
ser utilizado na complementação da dieta. Contudo, o algodão apresenta
114 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
uma substância conhecida como gossipol, que pode causar danos aos
animais, afetando principalmente sua capacidade reprodutiva.
Barbosa e Gattás (2004) salientam que o farelo de algodão é uma
alternativa muito interessante para produtores de suínos e aves devido às
suas características nutritivas. Contudo, deve-se levar em consideração a
digestibilidade da proteína e a deficiência em aminoácidos essenciais e Ca
associada à presença de fatores antinutricionais; isso restringe a utilização
desse farelo em larga escala. Piona et al. (2012), ao estudar níveis de caroço
de algodão na dieta de cordeiros confinados, concluíram que o aumento
da porcentagem de caroço de algodão na dieta reduziu linearmente o
ganho de peso dos cordeiros. Por isso, os autores sugerem que a inclusão
do caroço de algodão na dieta de ovinos em confinamento não ultrapasse
o nível de 10%.
Além dessas múltiplas funcionalidades, o óleo proveniente do algo-
doeiro pode servir de matéria-prima para a produção de biodiesel.
Desde o Brasil Colonial, a cultura do algodão sempre teve grande
importância econômica no País, principalmente nos estados do Nordeste,
que, junto com São Paulo e Paraná, eram os maiores produtores de fibras
até o início da década de 1980, quando o aparecimento da praga do bicudo
(Anthonomus grandis Boheman) praticamente dizimou as plantações de
algodão do Nordeste. Na década seguinte, a Embrapa, junto com outras
instituições de pesquisa, desenvolveram cultivares de algodão adaptadas
ao Cerrado da região Centro-Oeste, onde os produtores de soja passaram
a incentivar tanto a pesquisa quanto a produção de algodão, transferindo
o eixo da cotonicultura para os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul e, posteriormente, Goiás (Costa; Bueno, 2004). Além de novas cultivares,
a pesquisa evoluiu no desenvolvimento de métodos de controle compor-
tamental e cultural, controle biológico e manejo integrado de ações para
combater o bicudo (Azambuja; Degrande, 2014).
Em meados da década de 1990, a Embrapa Algodão iniciou um
programa de melhoramento genético do algodoeiro para obtenção de culti-
vares de algodão com fibras coloridas (Carvalho, 2016) e alcançou grande
sucesso. Atualmente, diversos estados da região Nordeste, com destaque
para a Paraíba, produzem o algodão colorido, que representa uma reto-
mada da cotonicultura na região e uma forma de agregação de renda para
o agricultor familiar do Nordeste.
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 115
Sistema de cultivo
Para o plantio do algodão, deve-se realizar o preparo do solo por
meio de aração e gradagem. Essas práticas dependem muito do tipo de
solo no qual a cultura será estabelecida. Normalmente, é realizada uma
aração em profundidade que pode variar de 20 cm a 25 cm. Em seguida,
procede-se à gradagem, que tem por objetivo promover o nivelamento da
área. O número de gradagens pode variar de acordo com as condições do
solo, mas deve-se buscar o melhor destorroamento de solo para não haver
comprometimento da germinação das sementes nem efeitos negativos no
desenvolvimento das plântulas.
Antes do plantio, é realizada a análise de solo a fim de fornecer os
fertilizantes necessários à planta e corrigir a acidez por meio da calagem.
O algodoeiro requer de 40 kg ha-1 a 150 kg ha-1 de N, sendo a aplicação
parcelada em duas ou três vezes. O P deve ser fornecido no momento do
plantio, com doses que variam de 40 kg a 130 kg de P2O5, conforme resul-
tado de análise. A adubação potássica, por sua vez, varia de 40 kg ha-1 a
150 kg ha-1 de K2O; no plantio, a aplicação não deve exceder 50 kg ha-1, e o
restante deve ser aplicado em cobertura (Fuzatto et al., 2014).
O espaçamento entre plantas de algodoeiro nas regiões de sequeiro
do Nordeste brasileiro pode ser definido em função das cultivares a serem
plantadas. De acordo com Lamas (2008), o espaçamento utilizado deve
proporcionar estande variando de 80 a 125 mil plantas por hectare. No caso
de cultivares de porte alto, recomendam-se populações menores; no caso
de cultivares de porte baixo, densidades próximas a 125 mil plantas seriam
as mais indicadas.
O consórcio de algodoeiro com outras culturas pode ser uma
alternativa viável em pequenas propriedades rurais de cunho familiar, prin-
cipalmente naquelas que desenvolvem atividades baseadas em princípios
agroecológicos, onde a cotonicultura poderá ser mais um agregador de
renda. Silva et al. (2013), estudando o desempenho agronômico de algodão
orgânico e oleaginosas consorciadas com palma-forrageira [Opuntia tuna (L.)
Mill.] no estado da Paraíba, concluíram que o consórcio algodão + gergelim
+ palma-forrageira pode ser uma alternativa eficiente na agricultura fami-
liar, uma vez que apresenta resultados positivos em termos de renda bruta
e uso eficiente da terra total.
116 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Principais cultivares
Muitas cultivares de algodão podem ser plantadas na região semiá-
rida. Dentre as cultivares coloridas desenvolvidas pela Embrapa, pode-se
citar a BRS 200, que é uma cultivar de fibra marrom, com ciclo semiperene
de 3 anos e elevada resistência à seca e que foi desenvolvida para explora-
ção no Semiárido nordestino com potencial para atingir até 1.300 kg ha-1
em sequeiro e 3.300 kg ha-1 de algodão em caroço em condições irrigadas
(Queiroga et al., 2008b; Freire et al., 2010). Essa cultivar apresenta elevada
importância para os agricultores familiares da Paraíba que desenvolvem
cultivos orgânicos, já que a utilização de esterco bovino com essa cultivar
apresenta resposta positiva: o uso de 30 t ha-1 proporciona produtividade
de até 1.576 kg ha-1 de caroço (Silva et al., 2005).
A cultivar BRS Aroeira (Figura 7) apresenta elevado teor de óleo (de
25% a 27%), sendo possivelmente a cultivar com maior teor de óleo dentre
as cultivadas no Brasil, uma vez que a média é de 15%. Ela pode ser culti-
vada por agricultores familiares na região semiárida desde que as condições
pluviométricas sejam favoráveis (de 450 mm a 700 mm). A BRS Aroeira tem
hábito de crescimento indeterminado e percentual de fibra próximo a 38%,
apresenta resistência ao acamamento e produz, em média, 3.841 kg ha-1
(Freire et al., 2009).
A cultivar BRS 187 apresenta tolerância moderada ao deficit hídrico,
podendo ser cultivada em condições semiáridas. É considerada de ciclo
mediano (140 dias do plantio à colheita), com produtividade média de
1.990 kg ha-1 de algodão em caroço. Contudo, Vidal Neto e Carvalho (2006),
ao recomendarem essa cultivar para o Nordeste, informam que ela tem
potencial para atingir 3.000 kg ha-1 de algodão em caroço em condição de
sequeiro. O plantio é aconselhado para regiões com pluviosidade acima de
600 mm em monocultivo ou em cultivos consorciados.
A cultivar BRS 286 é originada do cruzamento biparental entre
as variedades CNPA ITA 90 e CNPA 7H, sendo que o padrão de fibras de
Capítulo 3 • As principais oleaginosas da agricultura familiar 117
Considerações finais
O cultivo de oleaginosas na região semiárida, na maioria dos casos,
deve ter, como critério de seleção, a possibilidade de usos múltiplos. Esse é
o caso de espécies como a mamona, o girassol, o amendoim, o gergelim e o
algodão. Tais culturas apresentam diversidade de uso seja para alimentação
humana ou animal, produção de fibras, óleos e energia, dentre outros.
Além disso, ao escolherem uma cultura (e suas respectivas cultivares),
os agricultores devem verificar se elas se adaptam às condições edafoclimá-
ticas de sua região. Neste capítulo, foram apresentadas diversas cultivares
3
Disponível em: <https://www.embrapa.br/algodao/produtos-processos-e-servicos>.
118 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
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Conservação local
A conservação local é um sistema milenar que consiste no cultivo,
seleção, guarda, troca e demais usos por agricultores tradicionais e fami-
liares de suas próprias sementes em ciclos sucessivos. Isso significa que
processos evolutivos estão atuando, ano após ano, nessas sementes, que
adquirem determinadas características que as fazem permanecer no agroe-
cossistema, coevoluindo com ele. Essas sementes são passadas de geração
a geração, carregam valores culturais e simbólicos (materiais e imateriais)
intrínsecos que são estratégicos para as comunidades e famílias, pois lhes
garantem autonomia e soberania alimentar e nutricional, bem como melho-
res chances de responder às condições microambientais, socioculturais e
econômicas específicas.
Diferentes eventos podem levar à perda dessas variedades tradicio-
nais locais ou crioulas, o que implica consequentes perdas monetárias e
não monetárias relacionadas à alimentação e nutrição, subsistência, renda,
patrimônio cultural e reprodução social. A partir da Convenção sobre
Diversidade Biológica (Brasil, 2000), de forma crescente, um conjunto de
iniciativas e ações governamentais e não governamentais (envolvendo
pesquisa, ensino, assistência técnica e extensão rural) apoiaram os sistemas
de conservação local de diferentes formas.
Entre essas ações, destaca-se o Programa Sementes do Semiárido, da
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma iniciativa não governamental
em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Secretaria Especial
de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural (Sead/Casa Civil), anterior-
mente chamada Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Com base
no fortalecimento de ações para a região e na importância dos estoques
de água, alimentos e forragem, a ASA propôs uma política de estoque de
Capítulo 4 • Conservação local e uso da agrobiodiversidade vegetal 139
DPA
RCA PPs
BS
Animal de criação %
Aves 89,20
Caprinos 86,00
Ovinos 71,40
Suínos 50,00
Equinos 46,40
Bovinos 39,20
Origem animal dos produtos e subprodutos para venda %
Aves (carne) 3,50
Bovinos 11,00
Caprinos 46,40
Ovinos 43,00
Suínos 18,00
Aves (ovos) 12,50
Nada (não comercializa seus produtos) 11,00
Tudo (comercializa tudo que produz) 7,10
Capítulo 4 • Conservação local e uso da agrobiodiversidade vegetal 145
Linha do tempo
Continua...
Tabela 3. Continuação.
Mês
Atividade por gênero
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Fazer estrada X X
Limpar cacimbão X X
Fazer cerca X X X X X X X X X X X X
Cavar “caxi” (buraco para guardar pouco volume de água) X X X X
Tirar mel para comer e vender X X X
Preparar a terra para plantio X X X X
Pegar lenha e água X X X X X X X X X X X X
Pescar X
Caçar X X X X X X X X X X X X
Cuidar dos animais
Capítulo 4 • Conservação local e uso da agrobiodiversidade vegetal
Cuidar do chiqueiro X X X X X X X X X X X X
Cuidar do xique-xique (Pilosocereus gounellei) X X X X X X X X X X X X
Queimar mandacaru (Cereus jamacaru) (durante a seca) X X X
Arrancar e queimar macambira (Bromelia laciniosa) X X X
Atuar como agente de saúde X X X X X X X X X X X X
Raspar mandioca X X X X
Fazer farinha X X X X
Campear gado X X X X X X X X X X X X
149
150 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Tabela 4. Continuação.
Tabela 4. Continuação.
Lista da agrobiodiversidade
grau e uso específico das variedades locais. Por isso, essa ferramenta fornece
uma riqueza de informações para a conservação local.
O tempo durante o qual a variedade local está presente em uma
comunidade e sua origem são informações essenciais para comprovar que
realmente se trata de uma variedade crioula. Se, por acaso, a variedade for
mantida na comunidade por menos de 10 anos e sua origem tiver sido a
compra em um estabelecimento comercial, ela não será considerada uma
variedade tradicional ou local.
A quantidade de agricultores que cultivam a variedade crioula e
o tamanho da área de plantio são informações cruciais para verificar se a
variedade está ou não em risco de extinção. Caso uma variedade local seja
cultivada em áreas pequenas por poucos agricultores, com o tempo, ela
poderá desaparecer da comunidade. Assim, medidas preventivas podem
ser tomadas pela comunidade ou com a comunidade para evitar a erosão
genética.
Para a aplicação da ferramenta, é desenhada uma matriz, cujas linhas
correspondem às espécies e variedades locais e as colunas, à quantidade
de agricultores que plantam, ao tamanho da área plantada e à origem das
sementes. Outras informações podem ser acrescentadas à lista, conforme
exemplificado na Tabela 6. As culturas e variedades são definidas pelos
próprios agricultores.
Tomando-se como exemplo os dados da Tabela 6, pode-se verificar
que a variedade Mulatinha de mandioca, a princípio, não corre risco de
erosão genética, pois há muitos agricultores que a cultivam em grandes
áreas. Pela quantidade de usos e de trocas registradas, pode-se inferir
também que ela é umas das variedades preferidas pelos agricultores.
Já a variedade Lagoa-vermelha de mandioca, que está na comu-
nidade há mais de 100 anos, apresenta situação de vulnerabilidade, pois
poucos agricultores a cultivam e em pequenas áreas. Além disso, nota-se
que essa é uma variedade que os agricultores trocam pouco. Isso pode
significar que a variedade tem uma característica muito específica, que não
chama a atenção da maioria dos agricultores, ou é muito boa, guardada, por
gerações, por apenas uma família.
Todas essas informações podem ser averiguadas ou aprofundadas
no momento de aplicação da ferramenta ou posteriormente com o uso de
Tabela 6. Lista da agrobiodiversidade da comunidade Tanque Novo (localizada em Casa Nova, BA) relativa a espécies locais
156
de mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus spp. e Vigna spp.) e milho (Zea mays).
Mandioca-de-mesa e mandioca-brava
Rasgadinha Poucos Pequeno Margem do rio Mais de 60 Ração animal (mais frequente) Pouco
e farinha (menos frequente)
Continua...
Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Tabela 6. Continuação.
Feijão
Barrigudinho Extinto
Milho
Práticas participativas
A etapa de práticas participativas consiste na avaliação e aplicação
de práticas que contribuem para o fortalecimento da conservação local.
Com a análise coletiva e processual do diagnóstico da agrobiodiversidade
e o amadurecimento das discussões na comunidade, pode-se usar um
conjunto de práticas participativas. Essas práticas, por um lado, ampliam a
mobilização social em torno da conservação local, gerando maior autono-
mia e empoderamento, e, por outro lado, ampliam a diversidade genética
e a segurança das variedades locais. No entanto, ressalta-se que essas
ferramentas podem ser aplicadas mesmo sem a realização prévia de um
diagnóstico, a depender dos objetivos preconizados para o trabalho.
Serão apresentadas as seguintes práticas participativas para dina-
mização da conservação local, conforme De Boef et al. (2006): feiras da
agrobiodiversidade, canteiros de diversidade e kits de diversidade.
Feiras da agrobiodiversidade
Canteiros de diversidade
Kits de diversidade
Considerações finais
As quatro etapas descritas (diagnóstico participativo da agrobiodiver-
sidade, práticas participativas, bancos ou casas comunitárias de sementes e
registro comunitário da agrobiodiversidade) interagem e se integram para
instrumentalizar e empoderar comunidades de agricultores para forta-
lecerem seus sistemas de conservação local e seus modos de vida e para
refletirem sobre suas práticas, seu patrimônio cultural, seu conhecimento
e suas necessidades. Cada etapa aborda, com maior ênfase, um aspecto da
conservação local, e todas elas operam para a segurança e autonomia das
comunidades. A integração e complementaridade das ferramentas tornam
o trabalho dinâmico e educativo, gerando informações fundamentais para
a tomada de decisão e gestão da comunidade sobre a agrobiodiversidade e
os sistemas onde é utilizada.
Os diagnósticos participativos da agrobiodiversidade realizados
com as comunidades (aqui apresentados como exemplificações de ferra-
mentas que propiciam reflexões comunitárias) indicam que a conservação
local deve ser compreendida em um sentido mais amplo de valorização de
modos de vida sustentáveis no Semiárido brasileiro. A agrobiodiversidade
é um componente biológico/agronômico, tanto quanto um componente
cultural dos agroecossistemas. Ela faz parte de sistemas de geração e
transmissão de conhecimentos que permitem a reprodução social de
diferentes categorias de agricultores familiares, povos indígenas e comu-
nidades tradicionais.
Os sistemas agrários e agrícolas onde se conserva essa agrobiodiver-
sidade devem ser estudados e valorizados como sistemas em coevolução
na relação sociedade-natureza. Ao estudá-los, é preciso compreender a
função que a agrobiodiversidade exerce no conjunto do agroecossistema
166 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Referências
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biodiversidade: fortalecendo manejo comunitário de biodiversidade. Porto
Alegre: L&PM, 2006. p. 136-153.
Capítulo 5
Máquinas, implementos
e equipamentos utilizados
na agricultura familiar
José Barbosa dos Anjos
Roseli Freire de Melo
Figura 1. Preparo do solo com cultivo mínimo usando sulcador à tração animal
(A e B) e capina nas entrelinhas de cultivo para controle de mato após a emergência
das plantas (C).
176 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Semeadura direta
A expressão “semeadura direta” é entendida como o ato de depo-
sitar sementes ou parte de plantas em solo sem mobilizações intensas
(tradicionalmente promovidas por arações, escarificações e gradagens).
A semeadura pode ser efetuada com equipamentos manuais (Figura 2)
ou com equipamentos à tração animal ou motorizados, segundo Anjos
(2001).
Fotos: José Barbosa dos Anjos
Mecanização e motorização
Sulcos barrados
Sulcos barrados são sulcos com várias interceptações ou pequenas
barragens, que visam reduzir a velocidade de escoamento da água de
chuva e aumentar sua infiltração no solo. Essas pequenas barragens são
construídas com o equipamento “barrador de sulcos” antes ou depois da
semeadura usando tração animal bovina (Anjos, 1999; Anjos; Brito, 1999a;
Brito et al., 2008, 2012; Brito; Anjos, 2013) (Figura 5). Os sistemas de cultivos
com sulcos barrados podem ser instalados solteiros ou consorciados.
180 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Fotos: Luiza de Brito
Cultivos de vazante
A agricultura de vazante consiste em cultivar nas bordas de áreas
represadas sob declive suave à medida que a água vai baixando. A técnica
de cultivo tradicional de vazante é bastante antiga e conhecida pelos agri-
cultores da região.
Parte dessas áreas do Semiárido é ocupada por milhares de açudes
construídos para armazenar água durante a estação de chuvas. No fim dessa
estação, os açudes vão secando pela elevada evaporação (devido à exposi-
ção da água ao sol e vento) e possivelmente pela infiltração e/ou pelo uso
da água para os mais diversos fins. Então, nos solos úmidos das margens
dessas barragens e açudes descobertos pela água, os produtores podem
se instalar para aumentar a produção de alimentos para as famílias e para
o rebanho por meio de forragem. Assim, no cultivo de vazante, a cultura
utiliza apenas a água já presente no solo.
Os cultivos podem ser realizados em todo período seco utilizando
implementos à tração animal (como arado reversível, cultivador com cinco
enxadas, sulcador) ou adaptados pelos próprios agricultores, podendo ser
manuais (para abrir covas com auxílio de enxadas). Nessas áreas, podem
ser explorados diversos tipos de cultivo, como sorgo (Sorghum bicolor)
(Figura 7), feijão, milho, batata-doce (Ipomoea batatas), capim-elefante
(Pennisetum purpureum), entre outros. Foto: Roseli Freire de Melo
Implantação de culturas
Existem vários modelos de semeadoras manuais, conhecidas vulgar-
mente por “matracas”, “tico-tico”, “perna de grilo”, entre outras denominações.
Matracas especiais normalmente são fabricadas para atender demandas espe-
cíficas; é o caso da plantação de sementes de algodão (Gossypium hirsutum)
com línter, que, com pequeno ajuste, se adapta muito bem para a semeadura
de capim-buffel (Cenchrus ciliaris L.) em covas (Anjos et al., 1983).
Já a matraca dupla é um equipamento dotado de dois depósitos (um
para sementes e outro para adubo) que efetua a semeadura e a adubação
ao mesmo tempo. O mecanismo que distribui fertilizante pode ser utili-
zado para distribuir sementes de melancia-forrageira (Citrullus lanatus var.
citroides), bem como para implantar cultivos em consórcio de milho e feijão-
-fava (Phaseolus lunatus). Nesse caso, colocam-se as sementes de milho no
depósito de sementes e as de fava (leguminosa) no depósito de fertilizan-
tes. Assim, a matraca dupla atende perfeitamente à prática desse tipo de
consórcio, muito comum nas regiões de Agreste (Figura 8).
Outras alternativas
Algumas máquinas e equipamentos de outras áreas podem ser
adaptadas para outros usos na agropecuária. A máquina trituradora de
palma-forrageira (Opuntia ficus indica) pode ser utilizada para triturar melan-
cia-forrageira. As máquinas destinadas ao corte de raízes (de mandioca e
batata-doce) para produção de raspas também servem para triturar melan-
cia-forrageira. O triturador de forragens (máquina forrageira) pode ser
Capítulo 5 • Máquinas, implementos e equipamentos utilizados na agricultura familiar 183
Figura 9. Máquina para fazer tela de arame liso (A), mecanismo para formação da
tela (B) e tela de arame tipo alambrado (C).
Considerações finais
O uso de máquinas, implementos e equipamentos na agricultura
familiar no Semiárido nordestino ainda tem sido bastante limitado devido
à baixa disponibilidade de recursos e informações. Para incentivar o uso
dessas ferramentas, é preciso oferecer assistência técnica e linhas de crédi-
tos compatíveis com a renda dos agricultores familiares. O uso desses
equipamentos e de animais (muitas vezes disponíveis na propriedade)
como fonte de potência e de tecnologias de captação de água de chuvas
é alternativa auxiliar para o desenvolvimento da agricultura familiar depen-
dente de chuva no Semiárido.
Referências
BERTAUX, S.; BARON, V.; ANJOS, J. B. dos. Arado de duas aivecas a tração
animal. Petrolina: EMBRAPA-CPATSA, 1986. 8 p. (EMBRAPA-CPATSA. Comunicado
técnico, 17).
ETc = ETo × Kc
sais) do solo dentro do limite exigido pelas culturas escolhidas sem prejudi-
car seu desenvolvimento, conforme classificação disponibilizada por Ayers
e Westcot (1999) e Bernardo et al. (2006). Essa quantidade adicional de água
que percola para baixo da zona radicular e remove parte dos sais acumu-
lados se torna um fator básico no controle dos sais solúveis aplicados via
água de irrigação. Na prática, o produtor deve manejar a irrigação de forma
frequente para evitar o translocamento dos sais disponíveis no perfil do
solo para o interior do bulbo molhado, local onde o sistema radicular da
planta se encontra.
Essa fração de lixiviação dependerá das características físico-quími-
cas do solo, da cultura e dos efeitos econômicos e ambientais desejados.
Trabalhos realizados com as culturas da beterraba (Beta vulgaris L.), do sorgo
[Sorghum bicolor (L.) Moench], do feijão-caupi (Vigna unguiculata) e da erva-
-sal (Atriplex nummularia) (Assis Junior et al., 2007; Carvalho Júnior et al.,
2010; Guimarães et al., 2016; Simões et al., 2016) já disponibilizam os valores
de frações de lixiviação adequados para essas culturas nas condições edafo-
climáticas em que estavam sendo utilizadas.
Na prática, as lâminas de água a serem aplicadas na irrigação devem
ser calculadas de acordo com a ETc, o coeficiente de localização, a eficiên-
cia de aplicação de água do sistema e as frações de lixiviação, conforme a
seguinte equação:
(ETo * Kc * Kl ) – P
Li = ––––––––––––––––––– * (1 + FL)
Ef
em que:
Li: Lâmina de irrigação, em mm.
ETo: Evapotranspiração de referência medida no período, em mm.
Kc: Coeficiente de cultivo da cultura.
Kl: Coeficiente de localização.
P: Precipitação medida no período, em mm.
Ef: Eficiência do sistema de irrigação, em decimal.
FL: Fração de lixiviação aplicada, em decimal.
Vital et al. (1985) chamam atenção para o manejo da irrigação nas
áreas com pequenas faixas de solos aluviais (solos formados por sedimentos
192 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
carreados pelas enxurradas), uma vez que esses podem ser rapidamente
salinizados em decorrência de uma irrigação mal administrada.
Para facilitar o manejo da irrigação para o produtor, tabelas práti-
cas disponibilizadas pelo técnico com os dados de umidade atual do solo
(Tabela 1) ou da ETo (Tabela 2) indicam o tempo correto da irrigação. É impor-
tante salientar que a planilha com uso de dados meteorológicos deve ser
alterada ao longo do tempo, em virtude das mudanças do Kc da planta.
10 10
20 30
– –
70 100
Fonte: Adaptado de Simões et al. (2016).
2 20
3 35
– –
10 175
Figura 1. Cultivo de beterraba (Beta vulgaris L.) ‘Scarlet Super’, ‘Early Wonder 200’
(A) e ‘Fortuna’ (B) irrigadas com água proveniente da piscicultura e submetidas a
diferentes frações de lixiviação.
Capítulo 6 • Água para o fortalecimento dos sistemas agrícolas dependentes de chuva 195
Pomar de fruteiras
Canteiro de hortaliças
Soma dos totais aplicados nas fruteiras e nos canteiros de hortaliças (L por ano) 46.680
199
200 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Sistema Barraginha
Quando recebe a água das chuvas, a superfície do solo concentra-a
em forma de enxurradas, que vão se avolumando até causar danos ao solo,
como a erosão, os assoreamentos e o carreamento de poluentes. Para tentar
reverter essa situação, criou-se o Sistema Barraginha, uma tecnologia que
permite armazenar a água da chuva para usos diversos. Ela consiste em
dotar as áreas com várias minibacias (miniaçudes) dispersas (Figura 6), de
modo que cada uma colha um volume significativo de água de enxurrada
(Barros, 2008). Dessa forma, as barraginhas acompanham a distribuição das
enxurradas no terreno e colhem a água da chuva onde ela cai (Grey-Gard-
ner, 2003), sem deixá-la escorrer e causar danos, podendo até amenizar
enchentes, contribuir para conservação de estradas e amenizar os proble-
mas da seca (veranicos).
Clima e solo
Pesquisas realizadas pela Embrapa, de acordo com Barros (2000) e
Rodrigues et al. (2012), tem mostrado que o Sistema Barraginha de capta-
ção de água de chuvas tem uma amplitude de atuação em regiões com
precipitações acima de 400 mm, atuando nos períodos de chuvas intensas,
quando ocorrem enchentes. Esse sistema tem sido implantado em proprie-
dades com topografia de ondulada a plano-ondulada (com declividade
Capítulo 6 • Água para o fortalecimento dos sistemas agrícolas dependentes de chuva 205
Estratégia de implantação
Em solos mais favoráveis, como os Latossolos, o tempo médio gasto
para construir uma barraginha com uma pá-carregadeira é de 1 h. Já nos
solos mais firmes, como os Cambissolos, esse tempo é de 2 h. O espaça-
mento entre as barraginhas deve seguir uma estratégia que considere o
resultado da implantação do sistema a cada ano. Assim, 1/3 das barraginhas
(planejadas considerando o potencial de uma determinada área) deve ser
construído no primeiro ano, evitando as principais enxurradas. Depois de um
ciclo de chuvas, o produtor, ao observar os resultados, motiva-se e demanda
a construção de mais 1/3 das barraginhas no segundo ano. No ano seguinte,
considerando os resultados dos primeiros 2 anos, implanta-se o 1/3 final das
barraginhas, a fim de barrar todas as enxurradas detectadas na propriedade.
Desassoreamento e manutenção
Normalmente, cerca de 14% das barraginhas sofrem certo grau de
assoreamento depois de 3 a 5 anos de sua construção, quando se acumu-
lam muitos sedimentos erosivos trazidos pelas enxurradas colhidas,
resultado da falta de práticas conservacionistas do solo em sua bacia de
captação (Duarte, 2010). Isso ocorre principalmente com as barraginhas
da parte superior da propriedade e com as de beira de estrada. Caso
ocorra assoreamento na barraginha, para manter sua capacidade original
de armazenamento, os sedimentos devem ser removidos por máquina e
depositados nas costas do aterro.
Mobilização da comunidade
Embora os produtores possam implementar o Sistema Barraginha
isoladamente, na grande maioria dos casos, eles o fazem coletivamente,
envolvendo sua comunidade. Mesmo que cada produtor pretenda construir
barraginhas por conta própria, tanto a mobilização como os treinamentos
são feitos em grupo. Geralmente, a mobilização é dividida em quatro fases:
a) reuniões para primeiros contatos e apresentação do sistema feita por
participantes do projeto; b) visita a unidades demonstrativas do Sistema
Barraginha; c) treinamento no local; e d) construção das primeiras barragi-
nhas pelos participantes.
Os multiplicadores da tecnologia podem ser técnicos da extensão
rural ou de alguma ONG, associação ou sindicato ou mesmo voluntários.
Na última fase, é importante que a gestão seja própria da comunidade, mas
com apoio do poder público no envolvimento, no financiamento (parcial ou
total) das despesas e no uso de máquinas. O intuito dessa parceria é aproxi-
mar a comunidade, os técnicos e o poder público. Normalmente, após 50 ou
100 barraginhas prontas, organiza-se um Dia de Campo, que se repetirá
quando se chegar às 500, às 1.000 ou mais barraginhas (Figura 10).
Barragem subterrânea
Açudes
O deficit hídrico periódico da região semiárida nordestina intensificou
a construção de muitos pequenos açudes nas últimas décadas. Atualmente,
existem mais de 70 mil açudes, a grande maioria dos quais é utilizado para
consumo humano, irrigação, culturas de vazante e piscicultura (Albinati,
2006; Barbosa et al., 2006). De acordo com Assunção e Livingstone (1993), a
política de construção de açudes baseou-se no conceito de que, desde que
a seca é, por definição, um problema de falta de água, a situação deve ser
resolvida com a acumulação de água em grandes quantidades, o que tem
sido chamado de “solução hidráulica”. Porém, nem todos os açudes foram
devidamente planejados (Lima Júnior et al., 2009). Como o deficit hídrico
é quase sempre visto de maneira quantitativa, sem analisar os aspectos
qualitativos, é possível imaginar o motivo pelo qual foram e ainda são cons-
truídos açudes indiscriminadamente (Oliveira; Medeiros, 2003).
Nesse contexto, tem sido comum a aplicação de políticas públicas
para recursos hídricos no Semiárido brasileiro. No entanto, sua eficácia na
promoção de impactos ambiental e socioeconômico tem sido limitada
(Montenegro; Montenegro, 2012).
Considerações finais
Como demonstrado pelos estudos e experiências relatados neste
capítulo, a falta de acesso à água e a má qualidade da água disponível são
fatores limitantes ao desenvolvimento regional e à manutenção das famílias
no campo. Nesse contexto, o conhecimento do sistema solo-água-planta-
-atmosfera e da dinâmica da salinização dos solos torna-se uma ferramenta
fundamental para o uso e manejo da agricultura biossalina.
Além do uso alternativo de água salina ou de rejeitos e do uso múltiplo
da água disponível, com a aplicação da lâmina de lixiviação ideal, a drena-
gem correta e a escolha de uma cultura tolerante à salinidade do meio, a
implantação de tecnologias de captação, armazenamento e conservação
da água da chuva pode reduzir os riscos de perda da lavoura, contribuindo
para a valorização da cidadania e a melhoria não só da segurança alimentar,
mas também das condições de vida das famílias no Semiárido brasileiro.
A barragem subterrânea, o Sistema Barraginha, as cisternas e os
açudes são tecnologias que têm sido implantadas em vários estados do
Nordeste por meio de programas governamentais com o objetivo de dispo-
nibilizar água para produção de alimentos e dessedentação de animais.
222 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Referências
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Alternativas alimentares
para os rebanhos
Tadeu Vinhas Voltolini
Sheilla Rios Assis Santana
Gabiane dos Reis Antunes
Gherman Garcia Leal de Araújo
Distribuição da biomassa
Biomassa Biomassa
Caatinga Lenhosa Herbácea (%)
(kg ha-1 de matéria seca) pastejável (%)
(%)
Nativa 4.000 90 10 10 (400 kg)
Rebaixada 4.000 60 40 40 (1.600 kg)
Raleada 4.000 20 80 60 (3.200 kg)
Enriquecida 4.000 10 90 90 (3.600 kg)
Fonte: Pereira Filho e Bakke (2010).
Palma-forrageira
A palma-forrageira é planta da família das cactáceas, originária do
México e introduzida no Brasil no fim do século 19 (FAO, 2001). Na região
semiárida brasileira, são cultivados principalmente os genótipos Redonda e
Gigante [Opuntia fícus-indica (L.) Mill.] e Miúda ou Doce [Nopalea cochenillifera
(L.) Salm-Dyck] (Menezes et al., 2005), cuja principal destinação é a alimen-
tação animal. Outras cultivares são Orelha de Elefante Mexicana [Opuntia
stricta (Haw.) Haw.] e IPA Sertânia [Nopalea cochenillifera (L.) Salm-Dyck].
Em relação a outras plantas, a palma-forrageira possui modifica-
ções morfológicas e fisiológicas; por isso, torna-se importante nas regiões
áridas e semiáridas. No Semiárido brasileiro, a produtividade dessa cultura
em condições de dependência da chuva tem superado a marca de 20 t ha-1
de matéria seca (Santos et al., 2011b). Produtividades acima de 40 t ha-1 de
matéria seca utilizando o método adensado de cultivo também têm sido
relatadas (Silva et al., 2014).
Como forragem, a palma-forrageira é utilizada na forma in natura
(servida picada nos comedouros), mas pode também ser utilizada para a
238 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Fotos: Tadeu Voltolini
Figura 4. Espécies vegetais exóticas com potencial para uso como plantas forra-
geiras na região semiárida brasileira: capim-buffel (Cenchrus ciliaris) diferido
pastejado por caprinos (A), capim-corrente (Urochloa mosambicensis) pastejado
por caprinos (B), palma-forrageira (Opuntia ficus-indica) (C), leucena (Leucaena
leucocephala) (D), gliricídia (Gliricidia sepium) (E), guandu (Cajanus cajan) (F),
melancia-forrageira (Citrullus lanatus var. citroides) (G), cunhã (Clitoria ternatea) (H) e
erva-sal (Atriplex nummularia) (I).
Capim-buffel
O capim-buffel é uma gramínea originária da África, perene, de
plantio por sementes e com boa aceitação pelos animais e elevado poten-
cial para o cultivo em regiões áridas e semiáridas. Algumas das principais
cultivares são: Biloela, Gayndah, Aridus e CPATSA 7754. Segundo Oliveira
(2005), o capim-buffel pode atingir até 12 t ha-1 de matéria seca por ano na
região semiárida brasileira.
O capim-buffel pode ser utilizado para o pastejo direto tanto na época
chuvosa quanto na época seca do ano (pastejo diferido), além de poder ser
usado na confecção de fenos e silagens visando à reserva estratégica para o
período de escassez de alimentos.
Sua utilização pode também estar associada ao manejo integrado,
como na técnica de enriquecimento da caatinga (Moreira et al., 2007).
Andrade et al. (2007) avaliaram a terminação de ovinos da raça Santa Inês
em caatinga enriquecida com capim-buffel e três níveis de suplementa-
ção (0, 1,0% e 1,5% do peso corporal) e observaram ganhos de peso de
77,0 g dia-1, 134,0 g dia-1 e 190,0 g dia-1, respectivamente.
Em pastagens de capim-buffel, Oliveira et al. (2016) avaliaram as
respostas de ovinos sem padrão racial definido durante 1 ano. Com precipi-
tação pluvial no período de 522 mm, os autores observaram ganhos médios
diários que variaram de 54,12 g por animal a 68,04 g por animal e taxas de
lotação de 11,1 ovinos por hectare a 12,5 ovinos por hectare.
Capim-corrente
Originário da África, o capim-corrente é uma gramínea perene e bem
aceita pelos animais. Em Petrolina, PE, em condição de sequeiro, a produti-
vidade dos pastos variou de 2,50 t ha-1 a 3,50 t ha-1de matéria seca por ano,
possibilitando taxas de lotação de 0,7 a 0,9 unidade animal por hectare
por ano utilizando bovinos. Contudo, os ganhos de peso proporcionados
Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 241
por essa planta forrageira foram inferiores aos propiciados pelos pastos de
capim-buffel (Oliveira, 2005).
Seu plantio é realizado por sementes, e a planta pode ser destinada
ao pastejo direto nos períodos chuvoso e seco do ano, além de servir para
a fenação e ensilagem.
Camurça et al. (2002) avaliaram o desempenho produtivo de ovinos
da raça Santa Inês em confinamento recebendo rações à base de feno de
gramíneas tropicais, dentre eles o feno do capim-corrente. Nesse estudo, a
ração com o capim-corrente (30% de concentrado e 70% de volumoso) apre-
sentou 14,85% de proteína bruta (com base na matéria seca) e proporcionou
ganhos de 151,36 g dia-1 por animal. Esses ganhos foram semelhantes aos
proporcionados pelas rações compostas pelos fenos com outras gramíneas
tropicais [capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) e capim-milhã-
-roxa (Panicum molle Swartz)].
O capim-corrente também foi avaliado por Almeida et al. (2012), que
forneceram suplementos concentrados à base de farelo de vagem de alga-
roba [Prosopis juliflora (Sw.) D.C.], sorgo ou trigo (1% do peso corporal ao
dia) para cordeiros da raça Santa Inês e observaram ganhos de peso que
variaram de 78,2 g dia-1 a 100,9 g dia-1 por ovino, a depender do concentrado
fornecido.
Leucena
A leucena é uma planta arbustiva ou arbórea (cuja altura pode variar
de 5 m a 18 m), perene, de crescimento rápido e originária da América
Central. No Nordeste do Brasil, essa leguminosa foi difundida em meados
dos anos 1970, mas somente na década de 1980 ocorreu a distribuição em
massa de sementes (Santana Neto et al., 2015).
A leucena pode ser utilizada para a formação de bancos de prote-
ína, submetida ao pastejo direto pelos animais ou conservada na forma de
feno ou silagem. Também pode ser usada para a formação de leguminei-
ras visando ao corte. Pode ainda ser consorciada com culturas anuais ou
perenes.
Seu plantio é efetuado por sementes com espaçamentos que
variam de 1,0 m a 2,0 m entre linhas e 0,5 m a 1,0 m entre plantas, gerando
242 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Gliricídia
A gliricídia é uma leguminosa arbórea oriunda do México, América
Central e do Norte da América do Sul. Possui crescimento rápido,
Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 243
Guandu
O guandu ou andu é originário da Índia e tem diversas potencialida-
des de uso, como a alimentação humana, a adubação verde e a alimentação
animal.
Como forragem, o guandu pode ser fornecido nas formas de feno
e silagem ou verde picado ou pode ser pastejado diretamente. Pode ser
usado como banco de proteína ou em consorciação com gramíneas.
Estudos realizados durante 6 anos nas condições de sequeiro na Estação
Experimental da Caatinga da Embrapa Semiárido culminaram na recomen-
dação do guandu ‘Taipeiro’ por apresentar bom desempenho produtivo e
potencial forrageiro (Santos et al., 2005).
Wanderley et al. (2012) avaliaram diferentes alternativas alimen-
tares (silagem de sorgo, silagem de girassol, feno de leucena, feno de
244 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Cunhã
A cunhã é uma leguminosa cuja origem é controversa entre a Indo-
nésia (Gupta et al., 2010) e outros locais do continente asiático (Avalos
et al., 2004). Apresenta diversas formas de utilização, tais como: alimenta-
ção animal, cobertura vegetal, ornamentação e potencial medicinal (Gupta
et al., 2010). Trata-se de planta com raízes profundas, distribuída em toda a
Zona Tropical do globo terrestre e com propagação realizada por sementes,
sendo uma espécie considerada como tolerante à seca (Barros et al., 2004).
Pode ser usada como forragem em pastejo direto, como banco de
proteína ou legumineira (para corte), sendo essa última disponibilizada aos
animais na forma in natura, emurchecida ou como feno (Avalos et al., 2004).
A planta pode ser cultivada com ou sem suporte, apresentando alto potencial
produtivo, sendo ainda rica em proteína. Araújo Filho et al. (1994) avaliaram
as respostas produtivas da cunhã durante 840 dias em diferentes alturas e
intervalos de cortes recebendo aplicação adicional de água (irrigação) no
período seco e durante o período chuvoso quando havia escassez de chuva.
Os autores observaram produtividades por corte que variaram de 1,90 t ha-1 a
4,86 t ha-1 de matéria seca e produtividades anuais de 16,52 t ha-1 a 23,99 t ha-1
de matéria seca, a depender do intervalo de cortes. Eles recomendaram o
corte da cunhã na altura de 5 cm a 10 cm em intervalos de 56 dias.
Barros et al. (2004), ao avaliarem a cunhã em rações para cordeiros
com o uso de diferentes proporções desse feno na ração (de 55% a 85% da
matéria seca), observaram ganhos de peso médio diário de até 172,8 g por
animal.
Erva-sal
A erva-sal é uma planta originária da Austrália e que foi introduzida
no Semiárido brasileiro na década de 1940. Recebe esse nome devido à
Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 245
Melancia-forrageira
A melancia-forrageira (conhecida também como “melancia-do-mato”,
“melancia-de-cavalo” ou “melancia-de-porco”) é uma planta da família das
cucurbitáceas cuja origem é o continente africano (Oliveira, 2005). Para a
alimentação animal, são utilizados os seus frutos, que diferem das melan-
cias tradicionais destinadas ao consumo humano por serem muito firmes
e consistentes, apresentarem polpa clara e possuírem baixos teores de
açúcares.
Uma particularidade dessa forrageira está na sua conservação: depois
de maduro e colhido, o fruto, quando bem armazenado, se conserva por
vários meses. A produtividade pode chegar a 30,0 t ha-1 de frutos ou 3,0 t
de matéria seca, considerando 10% de matéria seca nos frutos. A melan-
cia-forrageira pode ser fornecida picada in natura ou ser utilizada para a
confecção do farelo depois da desidratação e da moagem do material
(Oliveira, 2005). Oliveira e Silva (2009) observaram ganhos de peso de
bovinos da ordem de 4 kg a 8 kg por mês por animal quando receberam
suplementação com melancia-forrageira.
246 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Tabela 6. Continuação.
Conservação de forragem
Na região semiárida, há estacionalidade na produção de forragem,
fazendo com que, na época seca do ano, haja deficit na quantidade de
alimentos a serem destinados aos animais. Nesse caso, a produção de forra-
gem (o que envolve corte e armazenamento para uso em período de maior
necessidade) deve ocorrer durante a estação chuvosa (quando há cresci-
mento das plantas forrageiras). Os principais métodos de conservação de
alimentos para animais são a ensilagem e a fenação.
252 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Silagem
A silagem é a forragem verde e suculenta armazenada na ausência
de ar em depósitos próprios chamados silos. Essa conservação da forragem
se dá devido à síntese de ácidos orgânicos oriundos da fermentação dos
nutrientes, principalmente a partir dos carboidratos presentes nas plantas
forrageiras (Pereira et al., 2011).
A prática de ensilagem tem como principal objetivo a conservação
do valor nutritivo inicial do material. Embora o processo de fermentação
não melhore a qualidade do alimento, quando a silagem é bem feita, pode
se aproximar ao máximo da qualidade do alimento original. As etapas para
a ensilagem de uma planta forrageira são: corte, carregamento, descarrega-
mento, compactação e fechamento. Na Figura 7, são apresentadas algumas
das etapas de confecção da silagem.
Fotos: Tadeu Voltolini
Uma silagem bem feita pode ficar armazenada por vários meses e até
por anos. A abertura do silo normalmente já pode ser realizada cerca de 30 dias
depois do seu fechamento. Embora vários alimentos possam ser utilizados
para a ensilagem, a escolha pode ser feita com base na adaptação da cultura
a determinada região, na facilidade de colheita e no tipo de uso. Destacam-se
Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 253
Fenação
O feno é a forragem desidratada, conservada pela secagem natural
ou artificial. A fenação (o processo de obtenção do feno) é a forma mais
antiga de conservação de volumosos. De acordo com Jobim et al. (2007), as
principais características a considerar ao escolher uma planta para a produ-
ção de feno são o valor nutritivo e a facilidade de desidratação, além de
alguns fatores intrínsecos, tais como o diâmetro e o comprimento do colmo
e a relação folha/caule.
Diversas plantas forrageiras podem ser conservadas na forma de feno,
desde que sejam utilizados métodos e equipamentos corretos no processo
254 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Considerações finais
A alimentação dos rebanhos em regiões áridas e semiáridas do
mundo, assim como no Semiárido brasileiro, é um grande desafio aos
Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 255
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Capítulo 7 • Alternativas alimentares para os rebanhos 261
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Capítulo 8
Manejo produtivo
de caprinos e ovinos
Daniel Maia Nogueira
Rodolfo de Moraes Peixoto
Instalações e utensílios
As instalações para caprinos e ovinos devem ser simples e funcio-
nais e dependem do tipo de finalidade da exploração: produção de leite
ou carne. As recomendações gerais são de que as instalações sejam bem
ventiladas e ofereçam sombreamento com árvores ou telas sombreadoras,
de modo a permitir conforto aos animais e facilidade de limpeza e higiene.
Além disso, devem ser construídas em terrenos altos, com baixa umidade e
posicionadas do nascente para o poente.
Os recursos financeiros investidos em instalações podem ser bastante
elevados e, normalmente, esses custos são de retorno demorado. O investi-
mento inicial para construção do aprisco será reduzido com o aproveitamento
de antigas instalações e o uso de materiais disponíveis na propriedade.
Sala de ordenha
Em sistemas de produção de leite de cabra, a sala de ordenha deve
ser construída afastada de fontes de mau cheiro (aprisco, currais, pocilgas e
esterqueiras) para evitar que o leite seja contaminado ou absorva odores.
A plataforma de ordenha pode ser de madeira, podendo ser individual ou
coletiva (Figura 2). A sala de ordenha deve ter uma fonte de água limpa
(para limpeza dos utensílios de ordenha e das mãos do ordenhador) e um
balcão para secagem dos vasilhames de leite. Fotos: Daniel Maia Nogueira
Figura 2. Exemplos de salas de ordenha: com azulejo e ferro galvanizado (A) e com
reboco e plataforma de madeira (B).
266 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Cercas e utensílios
Os gastos com implantação e manutenção de cercas são significati-
vos nos sistemas de produção animal. Na produção de caprinos e ovinos,
com frequência, observam-se cercas de arame farpado com 1,5 m de altura
e compostas de oito a nove fios. Quando estiverem disponíveis cercas para
bovinos (que têm sete fios de arame) na propriedade, basta passar dois fios
a mais entre cada um dos primeiros fios de baixo. Como o arame farpado
danifica a pele dos animais, é recomendado o uso de cercas de arame liso
ou de tela. Os piquetes ou cercados na propriedade facilitam o manejo e a
rotação das pastagens, permitindo sua melhor utilização.
Os comedouros e bebedouros podem ser feitos de pneus ou tambores
cortados pela metade (Figura 3). Para o dimensionamento dos comedouros,
o produtor pode estimar um espaço de 40 cm para cada animal adulto, o
que permite que todos comam ao mesmo tempo, evitando competição.
É importante instalar bebedouros a uma altura acima da cauda do animal
(de 20 cm a 30 cm do solo) para evitar que os animais defequem ou urinem
dentro deles. Normalmente, os comedouros e bebedouros (que devem ser
de fácil limpeza) são móveis e podem ser distribuídos homogeneamente na
propriedade. O sal mineral também pode ser fornecido em cochos feitos de
pneus, de madeira ou material plástico, devendo ser suficiente para acomo-
dar 20 ou 25 animais em cada.
Fotos: Daniel Maia Nogueira
Escrituração zootécnica
As primeiras ações a serem adotadas na produção de caprinos e
ovinos são a identificação dos animais (com brincos, colares ou tatuagens) e
as pesagens periódicas. Apesar de serem importantes em toda exploração
animal, ainda são pouco adotadas pela maioria dos produtores.
Essas ações são fundamentais para se poder realizar a escrituração
zootécnica, que é o conjunto de práticas relacionadas às anotações da
propriedade rural. As anotações podem ser feitas em fichas individuais (para
o registro do desempenho de cada animal) ou coletivas (para o controle das
práticas de manejo, tais como vacinações e coberturas). Nessas anotações,
são registradas as datas importantes na vida do animal, como as ocorrên-
cias dos nascimentos e pesos das crias ao nascer, do desmame e do abate,
as coberturas, os partos (simples ou gemelar), as enfermidades, a morte e
o descarte. Além disso, devem ser registradas as informações de controle
financeiro, como as receitas e despesas.
Embora a grande maioria das propriedades de base familiar na
região semiárida não realize qualquer tipo de escrituração zootécnica, é
importante que os produtores passem a fazê-la, buscando orientações dos
profissionais e entidades competentes. Quanto mais detalhadas forem as
anotações, maiores serão os benefícios extraídos dessas informações. Dessa
maneira, pode-se ter um controle rigoroso de tudo o que acontece dentro
da propriedade, sendo importante para a tomada de decisões e corre-
ções dos erros que por ventura possam ocorrer. Outro ponto positivo é a
redução dos custos com alimentação, pois a escrituração zootécnica auxi-
liará a separação dos animais por categorias de produção, além de permitir
a identificação dos animais doentes e o acompanhamento do histórico
reprodutivo dos animais.
Com a implementação da escrituração zootécnica, é possível calcular
os parâmetros produtivos e reprodutivos de um rebanho (Nogueira et al.,
2012), que permitem avaliar sua eficiência produtiva. São exemplos de parâ-
metros ou indicadores zootécnicos:
• Taxa de parição: Relação entre fêmeas paridas e fêmeas expostas
ao reprodutor. Em sistemas semi-intensivos, espera-se a taxa de
parição superior a 60%.
268 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Manejo reprodutivo
Em sistemas tradicionais no Semiárido, observa-se que os animais não
têm uma época ideal para cobertura. As parições ficam distribuídas irregu-
larmente, e a mortalidade das crias apresentam altas taxas. O aumento da
mortalidade das crias pode ser ocasionado quando as parições ocorrem em
diferentes épocas ou quando há baixa ingestão de colostro pelas crias.
Capítulo 8 • Manejo produtivo de caprinos e ovinos 269
Descarte orientado
O descarte orientado é a retirada de animais velhos e improdutivos,
intersexuados (hermafroditas) ou com baixas taxas de fertilidade, reinci-
dentes em linfadenite-caseosa, mastite crônica e animais de baixo escore
corporal, além de indivíduos com defeitos de aprumos (membros anteriores
ou posteriores), com hérnia escrotal ou umbilical e com defeitos na mandí-
bula (prognatismo ou retrognatismo). Dessa forma, somente os animais
produtivos e sadios permanecem no rebanho, evitando o desperdício de
alimento consumido por animais improdutivos. Pode-se resumir que o
descarte orientado reduz a taxa de lotação nas pastagens, proporcionando
maior disponibilidade de alimento para os animais produtivos.
Para isso, o produtor deve fazer uma avaliação da quantidade de
forragem necessária para alimentar o rebanho e, então, fazer uma estima-
tiva de quantos animais vai ser possível manter no período crítico do ano.
Recomenda-se que o percentual de animais descartados anualmente varie
de 15% a 20% do rebanho. No caso dos caprinos, deve-se evitar animais
mochos de nascença, pois essa característica está ligada à produção de crias
hermafroditas, ou seja, crias dotadas de órgãos reprodutores dos dois sexos
(Nogueira et al., 2011a).
270 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Ano 1 Ano 2
Meses
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Monta 1 Parto 1 Monta 2 Parto 2 Monta 3 Parto 3
pois esses períodos permitem utilizar três ciclos estrais dessas espécies,
dando maior chance para se obter coberturas bem-sucedidas (Nogueira
et al., 2011a).
Na monta em campo, os reprodutores e as fêmeas permanecem
juntos o tempo todo, não havendo controle do número de coberturas.
Esse tipo de acasalamento é usado em criações extensivas, onde se utiliza
um reprodutor para 20 a 30 fêmeas por estação de monta. Já na monta
controlada, os reprodutores ficam totalmente separados das fêmeas que,
quando manifestam cio, são levadas ao reprodutor, sendo necessária
somente uma cobertura. Para a identificação das fêmeas em cio, faz-se o
uso de um rufião, que pode ser um macho vasectomizado. As fêmeas iden-
tificadas em cio devem ser cobertas entre 10 a 12 horas pelo reprodutor.
Nesse caso, um reprodutor pode servir de 50 a 60 fêmeas por estação de
monta.
As estações de monta devem ser programadas para permitir o nasci-
mento das crias em épocas mais favoráveis do ano ou em épocas de maior
demanda pelo mercado consumidor. Em rebanhos de corte, objetivando
um IEP de três partos em 2 anos, deve-se planejar que, pelo menos, dois
partos aconteçam em períodos de maior oferta de forragem. Em rebanhos
para produção de leite, deve-se garantir a produção de leite nos perío-
dos secos ou de entressafra, quando há grande demanda pelo mercado
consumidor.
Efeito macho
O efeito macho é um método natural e barato para indução do cio
e realização das coberturas em épocas programadas. A técnica também
oferece a oportunidade de o produtor conhecer melhor seu rebanho,
facilitando o descarte das fêmeas improdutivas. O método consiste na
separação total de todos os machos das fêmeas por um período mínimo
de 1 mês. As fêmeas não devem ver, ouvir ou sentir o cheiro dos machos.
Dessa forma, quando houver a reintrodução dos machos no rebanho, as
fêmeas irão manifestar o cio quase que ao mesmo tempo. O uso do efeito
macho associado à estação de monta torna possível ao produtor planejar a
época em que terá mais animais para o abate e negociar lotes uniformes de
borregos e/ou cabritos para conseguir melhor preço final do seu produto.
Capítulo 8 • Manejo produtivo de caprinos e ovinos 273
Castração e descorna
A castração é outra prática de manejo direcionada para as crias.
Tem como principais objetivos: evitar coberturas indesejáveis (o animal
atinge a puberdade em torno dos 4 a 6 meses de idade), facilitar o manejo
dos animais (tendo em vista que, quando castrados, esses se tornam mais
dóceis), evitar que sua carne tenha o odor característico quando os animais
são abatidos mais tarde e propiciar redução do tempo de terminação.
Essa prática pode ser efetuada por meio de técnica cirúrgica ou utili-
zando-se de alicate (do tipo Burdizzo) próprio para essas espécies animais,
técnica que é mais simples, uma vez que não há o ferimento cirúrgico, sendo,
por isso, conhecida como “método fechado”. No caso dessa última técnica,
há o esmagamento dos cordões espermáticos, sendo anulada a circulação
sanguínea para os testículos. Em ambas as técnicas, é fundamental a busca
por orientação do médico-veterinário. A castração com fita elástica foi reco-
mendada por muito tempo; contudo, devido à necessidade da observância
aos princípios de bem-estar animal, essa não é mais indicada.
Caso os machos sejam abatidos até o 6º mês de vida, não há neces-
sidade de uso da técnica de castração. No entanto, para os machos não
abatidos nessa idade e que não serão utilizados como reprodutores, deve-se
fazer a castração entre o 3º e o 4º mês de vida.
Já a descorna, em criações intensivas, deverá ser feita entre os primei-
ros 7 a 14 dias de vida. Todavia, em criações extensivas, não é aconselhável
fazer a descorna das crias caprinas. Embora os chifres sejam uma impor-
tante ferramenta de defesa e proteção para animais criados na vegetação
da caatinga, sua presença, em sistemas intensivos, pode causar acidentes
278 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Manejo sanitário
O manejo sanitário é um conjunto de práticas (que incluem regras
de alimentação e higiene das instalações) para prevenir o estabelecimento
de enfermidades no rebanho ou controlar as doenças já existentes e,
consequentemente, reduzir as perdas econômicas. Deve-se ter em mente
que a implantação das medidas de prevenção é desejável, uma vez que
os procedimentos e a mão de obra são financeiramente mais onerosos no
tratamento do que na prevenção das doenças.
Doenças
Conjuntivite (cegueira)
Mastite
Figura 8. Higiene dos tetos antes da ordenha com água clorada (A) e após a
ordenha, com solução de iodo com glicerina (B).
284 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Ectima-contagioso (boqueira)
Artrite-encefalite-caprina
Verminose
Figura 10. Avaliação da mucosa ocular pelo método Famacha (A), anemia da
mucosa ocular (B).
Famacha não deve ser usado como única base para o monitoramento da
verminose de caprinos e ovinos, mas, isso sim, deve estar associado à conta-
gem de ovos por grama de fezes e à coprocultura para identificação do
gênero das larvas infectantes.
Dentre as principais recomendações para uso do Famacha, estão:
• Realização de treinamento técnico da equipe.
• Determinação da ocorrência de H. contortus por meio de cultura
de fezes.
• Tratamento de todo o rebanho quando mais de 10% dos animais
apresentarem graus Famacha 4 e 5.
• Uso de vermífugo com elevada eficácia (> 90%).
Embora o Famacha seja um método que pode trazer benefícios ao
produtor, é salutar a introdução de outros procedimentos, a saber:
• Construção de esterqueiras.
• Limpeza periódica das instalações.
• Higiene dos bebedouros e comedouros.
• Separação dos animais por faixa etária.
• Promoção de período de descanso do pasto (em caso de pastagem
cultivada).
Outra estratégia para o controle da verminose é o uso da suple-
mentação alimentar a fim de melhorar o aporte nutricional dos animais e
promover uma resistência satisfatória do hospedeiro à infecção. A suple-
mentação proteica associada ao controle anti-helmíntico pelo método
Famacha pode ser uma importante ferramenta para os sistemas de produ-
ção animal em pastagens tropicais (Nogueira et al., 2009b).
Existem métodos de controle alternativos para a verminose que se
baseiam no uso de plantas medicinais. Assim como as drogas químicas,
as plantas medicinais também precisam passar por avaliação em condi-
ções de laboratório para que possam ter seu uso recomendado. Contudo,
como muitos estudos sobre essas plantas não tiveram continuidade, não
é possível a recomendação desses métodos alternativos de forma mais
segura.
288 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Eimeriose
Ectoparasitoses
Vacinação de rebanhos
para a localidade de criação dos animais, pois esse é específico para cada
região. No Semiárido nordestino, recomenda-se, de forma geral, a vacina-
ção contra as clostridioses e a raiva.
Consumo de água
Animal/ Raça Referência
(L dia-1)
Caprinos Canindé e Moxotó 4,4 a 6,2 Ribeiro et al. (2006)
Ovelhas Santa Inês 3,2 a 3,9 Brito et al. (2007)
Caprinos e Ovinos 4,3 a 5,2 National Research Council (2007)
Ovinos SRD (2)
3,4 Alves et al. (2007)
Caprinos SRD (2)
2,3 Alves et al. (2007)
(1)
Caprino: Capra hircus; Ovino: Ovis aries. Animais sem padrão racial definido.
(2)
Manejo alimentar
As práticas de manejo alimentar visam reduzir a idade de abate
e aumentar o peso dos animais abatidos e a eficiência reprodutiva do
rebanho. Dentre as principais práticas, podem ser destacados a alimentação
restrita das crias, o confinamento e a suplementação estratégica de longa e
curta durações.
Regime alimentar
Taxa de parição [n (%)] 9/10 (90) 7/8 (87,5) 9/13 (69,2) 8/10 (80)
Valores com letras sobrescritas diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (p < 0,05).
(1)
Considerações finais
A criação de caprinos e ovinos na agricultura familiar, apesar dos
expressivos números dos rebanhos e do potencial de exploração no Semi-
árido, ainda aproveita pouco sua capacidade para produção de carne e de
leite. Por isso, a fim de alcançar um maior desenvolvimento do setor, há
necessidade de programas e incentivos, sobretudo em políticas públicas,
que possam contribuir para os manejos alimentar, sanitário e reprodutivo
dos animais.
298 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Referências
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Capítulo 9
Fornecimento de água
Fornecer água de qualidade (idealmente limpa e potável) é impor-
tante para a criação de aves. Se a água que estiver à disposição dos animais
não for de qualidade, o consumo diminui e corre-se o risco do apareci-
mento de doenças. A limpeza e a desinfecção devem ser feitas na água
de consumo, nos reservatórios de água, nas tubulações e, finalmente, nos
bebedouros.
A água representa cerca de 60% do peso corporal de aves adultas
(Macari, 1996). Quanto mais jovem é a ave, mais água ela tem no organismo
e maior é a sua troca de água, ou seja, a sua taxa de perda e reposição, que
está relacionada ao metabolismo. As trocas de água, que ocorrem mais na
fase de crescimento e em aves de maior atividade física, são condições favo-
ráveis para a perda de água pela pele e trato respiratório.
A ingestão de água é influenciada pela ingestão de alimento.
É normal observar picos de consumo de água nos momentos de consumo
de alimento. Quando a ave não tem acesso à água, também não consome
alimento (Viola, 2003). Outro fator que influencia diretamente a ingestão de
água é a temperatura ambiente. Aves submetidas aos ambientes quentes
tendem a ingerir mais água. Aves adaptadas ao calor consomem mais água
(em relação a aves não adaptadas), porém, diante de um estresse por calor,
aumentam menos o consumo de água quando comparadas a aves não
adaptadas.
Capítulo 9 • Criação de galinhas comuns localmente adaptadas 311
1a2 1 a 1,5
2a4 1,6 a 2
4a8 2,1 a 3
8 ou mais 3,1 a 4
Fonte: Adaptado de Macari (1996).
Sistemas de criação
As galinhas de corte ou postura podem ser criadas em diferentes
sistemas: intensivo, livre (ou extensivo) e semiextensivo (livre em parte do
dia ou em parte da fase de criação). Os sistemas extensivo e semiextensivo
são os mais utilizados para criação das galinhas comuns localmente adapta-
das na região do Nordeste brasileiro.
No sistema intensivo, as aves são mantidas em confinamento total em
aviários fechados. Nesse caso, o custo é maior devido à maior necessidade
de construção, de equipamentos e de mão de obra de forma mais intensi-
ficada. Como, no sistema intensivo, as aves ficam fechadas nas instalações
durante todo o tempo, são necessários isolamento térmico e/ou sistemas de
ventilação (portanto, uso de mais tecnologias), o que, muitas vezes, é finan-
ceiramente inviável para agricultores familiares em ambientes quentes.
Os produtores que utilizam esse sistema normalmente optam por gali-
nhas de linhagens melhoradas de alto ou médio rendimento, o que torna
a produção mais rentável e justifica o uso de instalações mais elaboradas.
Na agricultura familiar, quando a opção é pelo sistema semi-inten-
sivo, existem vários materiais que podem ser utilizados na construção de
cercas e instalações avícolas. Seu uso depende do custo e da disponibili-
dade no local. Pode-se utilizar o material mais barato desde que atenda às
exigências mínimas para uma boa criação das aves, como impedir o acesso
a predadores e a fuga de aves e permitir a higienização, o acesso a alimen-
tos e água e a proteção contra sol, chuva e vento.
A escolha do local também influencia o sucesso da criação de galinhas.
São recomendáveis locais bem ventilados e sombreados. As instalações
(aviários) que proporcionam boa ventilação podem reduzir a transmissão
de algumas doenças (como a influenza ou gripe-aviária) e os problemas
316 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Criação e manejo
O objetivo da criação (para consumo familiar ou venda, para produ-
ção de ovos, carne ou pintos) fica a critério do produtor, de acordo com as
condições e investimentos que podem ser feitos. No caso das aves melhora-
das, o foco é o mercado. Já no caso de aves localmente adaptadas, a ênfase
costuma ser no consumo pelo próprio produtor e sua família; quando ocorre
comercialização, ela é, muitas vezes, em pequena quantidade.
Embora não seja comum na agricultura familiar do Nordeste, encon-
tram-se produtores que optam pela criação de linhagens comerciais em
sistemas confinados tanto para corte como para postura. Por envolverem
aves de alta produtividade, essas criações primam pelo cuidado com a
qualidade e a constância de fornecimento de água, pois é um fator decisivo
para seu êxito. Aves de corte em sistemas intensivos são criadas em galpões
em alta densidade, onde o uso de equipamentos automáticos para forneci-
mento de água e ração se faz necessário. Nesses locais, a presença (mesmo
que limitada) de pessoas costuma estressar as aves.
Quando o produtor (normalmente agricultor familiar de pequena
propriedade) opta pela produção mista, ou seja, para ovos e carne,
normalmente o sistema de produção é livre ou semiextensivo. Nesse caso,
costuma-se optar pelas galinhas localmente adaptadas (caracterizadas
por crescimento lento), que podem ser divididas de acordo com sua fase
de criação: cria (de 1 a 30 dias), recria (de 31 a 60 dias) e engorda (de 61
a 120 dias ou até o peso de abate). As galinhas em reprodução iniciam a
postura em torno de 22 semanas e têm vida útil média de 2 anos, quando
são substituídas. Os galos reprodutores são substituídos 6 meses após o
início do período reprodutivo com o objetivo de evitar a consanguinidade.
Deve-se lembrar sempre que as galinhas localmente adaptadas têm altos
índices de variabilidade. Então, as fases de criação podem diferir de ave para
ave, o que exige do produtor bom senso na avaliação das características
individuais antes de transferir os animais de fase de criação.
Com a criação de aves divididas de acordo com as fases, o manejo
fica mais fácil e ordenado para fornecimento de dietas apropriadas, vacina-
ção, medicamentos, controle de predadores (no caso de aves mais jovens,
que são mais susceptíveis), recolhimento dos ovos e identificação de idade
320 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
(o que pode ser mais vantajoso aos consumidores, uma vez que os ovos
serão vendidos mais frescos) e seguir as instruções do Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento.
Para fins reprodutivos, quando a intenção for utilizar galinha choca-
deira, devem-se coletar de 10 a 12 ovos. As galinhas selecionadas para
chocar devem apresentar sinais de choco, como alteração de voz, terem
comportamento de permanecer sentadas no ninho, terem penas eriçadas
ao serem retiradas do ninho e boas habilidades maternas. Os ovos podem
ser coletados várias vezes ao dia e armazenados a 10 oC no máximo por
30 dias. Durante esse período, deve-se virar e selecionar diariamente os
ovos, retirando os sujos, com defeitos, rachados e muito pequenos ou muito
grandes (gema dupla). Para que o período de armazenamento não ultra-
passe os 30 dias, recomenda-se que os ovos selecionados para reprodução
sejam identificados com data. Quanto ao armazenamento, recomenda-se
que os ovos permaneçam à temperatura ambiente por cerca de 6 h antes de
serem estocados a 10 ºC para que a elevação da temperatura seja gradual.
Apenas posteriormente deve-se colocá-los para chocar.
Os ovos também podem ser incubados artificialmente utilizando-se
chocadeira a 38,7 oC. Devem ser virados a cada 2 h, e a umidade dentro da
chocadeira deve ser mantida em 65%. Algumas chocadeiras elétricas reali-
zam essas funções automaticamente. Isso evita a aderência dos pintinhos
nas cascas. A eclosão ocorre em 21 dias.
Sanidade
A ocorrência de doenças pode prejudicar não somente o desempe-
nho do plantel, como também a qualidade do produto e ter efeito negativo
na comercialização. Quando os procedimentos sanitários são realizados de
forma correta, a maioria das enfermidades na avicultura pode ser prevenida
ou controlada, inclusive a um custo menor do que o de remediar as doenças.
Existem métodos preventivos muito importantes que apresentam
grande sucesso na avicultura, mas que exigem do agricultor atitudes diárias
para garantir animais bem nutridos em ambiente confortável e cuidados que
minimizem a entrada de doenças, seja pelo contato com animais domés-
ticos ou silvestres, seja com fezes ou dejetos que podem contaminar o
Capítulo 9 • Criação de galinhas comuns localmente adaptadas 323
Alimentação
Os animais têm necessidades nutricionais específicas em cada fase
de criação. Por isso, recomenda-se fornecer ração específica para cada fase.
As dietas mais comuns fornecidas para aves e encontradas comercialmente
são aquelas de origem vegetal, à base de milho (Zea mays) e soja (Glycine
max) com suplementos minerais e vitamínicos. O fornecimento exclusivo
de milho ou restos de alimentação humana não é suficiente para um bom
desempenho dos animais porque esses alimentos não possuem os nutrien-
tes necessários para um desenvolvimento adequado das aves tanto na
quantidade como no balanço dos nutrientes.
O milho, além de ser um alimento energético (ou seja, que contri-
bui principalmente com energia por conta do amido em sua composição),
também possui carotenoides, que favorecem a coloração alaranjada da
pele das aves e da gema dos ovos. Além do milho, os fenos e as forragens
possuem carotenoides. Por esse motivo, recomenda-se favorecer às aves
acesso ao pastejo ou fornecer fenos e forragens no comedouro. Algumas
frutas, como goiaba vermelha (Psidium guajava), contribuem nesse aspecto
e na suplementação de vitaminas e minerais. Outros ingredientes ener-
géticos são mandioca (Manihot esculenta), trigo (Triticum spp.), amendoim
(Triticum spp), arroz (Oryza sativa), óleos e gorduras.
Como a alimentação representa cerca de 70% do custo de produção
de aves (Barbosa et al., 2008b), o emprego de ingredientes alternativos, ou
seja, ingredientes não convencionais de menor custo, é essencial para a
redução dos gastos (que pode chegar a 20%) com a formulação da ração.
Ingredientes alternativos podem ser encontrados nas propriedades ou nas
suas proximidades. São exemplos feijão (Vigna unguiculata) cru em grão,
folhas e raízes de mandioca, mesocarpo ou semente de babaçu (Attalea
Capítulo 9 • Criação de galinhas comuns localmente adaptadas 327
Considerações finais
A produção de galinhas localmente adaptadas ao Semiárido brasi-
leiro (seja para o consumo familiar, seja para a comercialização de carne
ou ovos) pode dar bons retornos, mesmo ao produtor rural que dispõe de
mínimas condições. Tanto isso é verdade que a grande maioria dos agri-
cultores possuem ao menos algumas aves em suas propriedades. Com a
adoção de algum incremento tecnológico, ainda que com as medidas mais
simples, nota-se uma melhoria nos índices produtivos das galinhas. No caso
do consumo familiar, além das galinhas localmente adaptadas, pode-se
também fazer uso das aves de linhagens de alta produção.
A água tem papel fundamental para o sucesso da atividade, uma
vez que todos os processos metabólicos das aves dependem diretamente
da constante disponibilidade hídrica e da qualidade adequada da água
para o consumo da espécie animal, que deve ser semelhante à qualidade
da água para o consumo humano. Observa-se que as aves comuns (aves
localmente adaptadas) que são encontradas sobrevivendo em situações
de adaptação ao calor intenso e, por vezes, sob restrição hídrica não se
desenvolvem adequadamente em situações de oferta de água limitada
330 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
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Apicultura e meliponicultura
Márcia de Fátima Ribeiro
Fábia de Mello Pereira
Maria Teresa do Rêgo Lopes
Rafael Narciso Meirelles
Apicultura
Como já destacado acima e ilustrado na Figura 1, a produção de
mel no Brasil foi de aproximadamente 38 mil quilogramas em 2015, sendo
que as regiões Sul e Nordeste concentraram cerca de 70% dessa produção
(IBGE, 2016). Os principais produtores do Nordeste são os estados do Piauí,
Ceará e Bahia. Com uma exploração de base predominantemente familiar,
a atividade vem recebendo incentivos de programas federais e estaduais
mediante linhas de financiamento específicas e capacitação para organizar
o setor e apoiar os produtores.
No Semiárido brasileiro, a apicultura se destaca como uma das ativi-
dades que têm apresentado maior crescimento. Nos últimos 20 anos, a
produção de mel nos três estados do Nordeste aumentou mais de 500%.
Entretanto, nessa região, muitas ações são ainda necessárias para tornar
essas atividades mais desenvolvidas e sustentáveis, principalmente em
escala de produção familiar.
Grande parte da produção de mel da região Nordeste vem de apiá-
rios instalados na região do Agreste. No Piauí, por exemplo, cerca de 80%
da produção é proveniente de regiões com vegetação de Caatinga que, por
apresentar uma flora nativa diversificada e abundante, especialmente no
período chuvoso, tem proporcionado significativa fonte de plantas melífe-
ras. Além disso, o mel dessa região tem qualidade diferenciada, visto que
336 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Instalação do apiário
Alguns dos grandes desafios da apicultura na região Nordeste, em
especial dos apiários instalados no bioma Caatinga, são a redução da perda
de colônias e o aumento da produtividade, principalmente em apiários
fixos. Para vencer esses obstáculos, deve-se adotar uma série de medidas,
iniciando-se pelos cuidados na instalação dos apiários.
Os apiários devem ser instalados em locais que apresentem condi-
ções ótimas para manutenção e produção das colônias de abelhas. Além
da importância da água e da sombra, que é, muitas vezes, subestimada,
a existência de vegetação rica em plantas que possam fornecer néctar
e pólen para as abelhas (de preferência durante a maior parte do ano) é
amplamente reconhecida como um dos principais fatores para a obtenção
de uma boa produtividade.
A flora é a base da exploração apícola, e sua qualidade depende das
espécies vegetais naturais ou cultivadas e das condições climáticas. Os tipos
e a densidade das espécies vegetais (naturais ou cultivadas), as épocas de
florescimento e as concentrações de açúcares no néctar determinam a
qualidade e a importância da flora da região para produção de mel e/ou
manutenção das colônias.
O terreno deve ser plano ou com pouco declive e limpo, com acesso
para veículos durante todo o ano, o que facilita o transporte de melguei-
ras e colônias (Figura 2). Recomenda-se evitar os topos de morros ou locais
descampados, pois são muito castigados pelos ventos. Nessa situação, o
maior esforço exigido das abelhas acaba por diminuir a produção.
338 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
2
O HMF é um composto orgânico produzido durante a transformação do néctar em mel, e seu teor
(cujo valor máximo permitido pela legislação brasileira é 60 mg kg-1) é um dos principais fatores
de avaliação da sua qualidade. O aquecimento do mel ou sua exposição a temperaturas elevadas
durante a produção, colheita, extração, envase, armazenamento ou transporte causa a elevação do
índice de HMF.
344 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Cobertura de gesso
Temperatura Com Sem
T ar ( C)
o
T cria ( C)
o
T alim ( C)
o
T cria ( C)
o
T alim (oC)
Mínima 18,86 29,11 29,68 26,77 29,45
Máxima 42,27 41,09 41,67 40,16 39,13
Diferença 23,41 11,98 11,99 13,39 9,68
Média e DS 27,49 ± 5,60 33,27 ± 1,13 34,55 ± 0.75 35,08 ± 0,72 34,33 ± 0,80
Meliponicultura
A criação de diferentes espécies de abelhas-sem-ferrão é mais desen-
volvida em alguns locais do Semiárido do que em outros.
Manejo
Na meliponicultura, é importante o combate às pragas, entre elas, os
forídeos (da família Phoridae), mosquinhas que podem facilmente destruir
as colônias em alguns dias. Podem-se usar armadilhas de vinagre (de maçã,
álcool ou vinho) para combatê-los, já que todos esses tipos de vinagre são
efetivos para a captura dessas mosquinhas nas colônias de mandaçaia e
manduri (Rodrigues et al., 2012).
A alimentação suplementar, principalmente na época de seca,
também é fundamental para a manutenção das colônias. O alimento mais
barato e comum que se pode usar é o xarope de água e açúcar que, em
geral, é oferecido às abelhas na proporção de 50%. Entretanto, deve-se
testar qual a concentração preferida pelas abelhas, uma vez que, depen-
dendo da situação ou época do ano, as abelhas podem aceitar melhor um
alimento mais diluído. Um estudo (Lima et al., 2012c) indicou que operárias
de mandaçaia mantidas em condições experimentais preferiram xarope
de água e açúcar a 10% em detrimento das outras concentrações testadas
(30%, 50%, 70% e 90%).
Além disso, o cuidado com o pasto meliponícola (ou seja, as plantas
que fornecem néctar e pólen) é essencial para a criação de abelhas-sem-
-ferrão e a produção de mel. Estudos realizados na região (Braga et al., 2012)
indicaram que, entre as plantas visitadas pela mandaçaia, estão a malva-
-canela-de-seriema (Sida galheirensis Ulbr.), a jurema-vermelha (Mimosa
ophthalmocentra Mart. ex Benth.), o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda),
a chanana (Turnera sp. L.), o marmaleiro (Croton sonderianus Müll. Arg.) e a
leucena [Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit].
Convém ainda lembrar que as abelhas-sem-ferrão também precisam
de plantas que forneçam resina, uma vez que elas utilizam esse material
na construção de seus ninhos. De qualquer forma, o número de colmeias
de um meliponário deve ser adequado à flora meliponícola existente na
região. A capacidade de suporte do meliponário, ou seja, a capacidade de
sustentar as colônias de abelhas, está diretamente ligada à diversidade e à
Capítulo 10 • Apicultura e Meliponicultura 355
Instalação do meliponário
Recomenda-se não instalar meliponários próximos a apiários.
As abelhas melíferas, cujas colônias são muito mais populosas (entre 40 mil
e 60 mil indivíduos) do que as de abelhas-sem-ferrão (entre 500 e 3 mil
abelhas, dependendo da espécie), podem ser muito agressivas. Em épocas
de escassez de alimento, no momento da divisão ou transferência de ninhos
para colmeias e até durante o manejo, as abelhas melíferas podem atacar as
colônias das abelhas sem-ferrão e, assim, podem facilmente exterminá-las.
As mesmas recomendações mencionadas acima para a instalação de
apiário das abelhas melíferas em relação à sombra, disponibilidade de água
e local adequado para instalação são aplicadas à instalação do meliponário.
Legislação
Há ainda poucas leis regulamentando a meliponicultura. O Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama) lançou a Resolução nº 346 (Brasil,
356 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Considerações finais
Tanto a apicultura quanto a meliponicultura precisam se desenvolver
na região do Semiárido nordestino. A adoção de ações que visem à divulga-
ção de conhecimento (tais como cursos de capacitação, palestras, etc.) e de
boas práticas de manejo e produção de mel podem certamente valorizar e
tornar essas atividades sustentáveis e rentáveis aos produtores da agricul-
tura familiar.
A apicultura é uma atividade que encontra, na região semiárida, condi-
ções ideais para o seu desenvolvimento, propiciando ganho econômico
e contribuindo para a manutenção e preservação do ambiente. Contudo,
apesar do alto potencial da região, a produtividade de mel é baixa. Essa
realidade é consequência do manejo inadequado e da falta de tecnologias
mais adaptadas à região. Assim, verifica-se a necessidade de realizar progra-
mas de capacitação e assistência técnica junto aos produtores, bem como
incentivar pesquisas que busquem soluções tecnológicas para os proble-
mas enfrentados por eles.
No que concerne à meliponicultura, existem ainda diversos entraves
para o seu desenvolvimento, tais como a ausência de legislação que regula-
mente os parâmetros de qualidade dos méis, a dificuldade na produção de
Capítulo 10 • Apicultura e Meliponicultura 357
Referências
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Tilápia
A tilápia (Figura 1) é um peixe originário do continente africano,
especificamente da bacia do rio Nilo. Várias espécies de tilápia foram intro-
duzidas no Brasil e logo já foram consideradas como pragas por serem de
fácil proliferação (a fêmea desse peixe está apta à reprodução a partir de
30 g). A espécie de tilápia mais produzida no Brasil é a Oreochromis niloticus
ou a tilápia-do-nilo. Dela se originaram linhagens melhoradas, como a tilá-
pia-tailandesa (Oreochromis niloticus), originada do continente asiático.
Tambaqui
O tambaqui (Colossoma macropomum) (Figura 2) é a espécie nativa
do Brasil mais produzida atualmente. É originária da bacia do rio Amazonas,
mas já está presente na bacia do rio São Francisco. É uma espécie apta e
desejável para cultivo em regiões de produção dependente de chuva no
Semiárido.
Entre as principais características da espécie, podem-se citar a rusti-
cidade, a tolerância a ambientes com baixa concentração de O2 e altas
Capítulo 11 • Piscicultura na agricultura familiar 367
Curimatã
O curimatã, também conhecido popularmente por curimbatá
(Prochilodus argenteus) (Figura 3) é espécie nativa do rio São Francisco e já
se espalhou por outros rios do Nordeste brasileiro. Embora o sabor da carne
e a presença de espinhas intramusculares não agradem a muitos consumi-
dores, o curimatã é muito apreciado pela população de zonas ribeirinhas
e do Semiárido por fazer parte do consumo alimentar há muitas gerações.
Essa espécie de peixe se alimenta do que pode ser encontrado (algas e
detritos) no fundo de rios, barragens e açudes, raspando pedras. Esse peixe
aceita muito bem ração e, dependendo do sistema de criação e do manejo
alimentar, pode atingir até 1 kg em 1 ano, com tamanho aproximado de
30 cm a 35 cm.
368 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Foto: Rozzano Antônio Cavalcanti
Reis de Figueiredo
Carpa
As carpas criadas no Brasil são de origens chinesa e indiana e se adap-
taram muito bem às condições brasileiras. A carpa-comum (Cyprinus carpio)
é de origem chinesa e de ambiente bentônico, ou seja, vive no fundo do
corpo d’água e se alimenta de vermes e larvas. Já a carpa-cabeça-grande
(Hypophthalmichthys nobilis) tem hábito alimentar filtrador e herbívoro, isto
é, se alimenta de plâncton e vegetais presentes na água. É uma espécie
própria para criações extensivas devido ao lento desenvolvimento e à rusti-
cidade. A carpa-prateada (Hypophthalmichthys molitrix) também é filtradora,
enquanto a carpa-capim (Ctenopharyngodon idella), como o próprio nome
comum indica, é herbívora e muito desejada para viveiros de policultivo e
reservatórios de água para irrigação. A carpa-capim também tem hábito
frugívoro, ou seja, se alimenta de frutas, o que certamente pode ser uma
vantagem para o produtor do Semiárido.
O hábito alimentar herbívoro e onívoro das carpas é uma vantagem
para o produtor já que, se forem criadas em sistemas semi-intensivo, deman-
dam rações de baixo valor proteico, que custam menos para o produtor.
Atualmente, as carpas cultivadas no Semiárido brasileiro, especificamente
nas regiões de produção agropecuária dependente de chuva, estão restritas
a sistemas extensivos ou semi-intensivos existentes em barragens e açudes.
Nesses locais, podem ser criadas em uma densidade média de 1.500 peixes
por hectare. A Codevasf atualmente é a instituição que faz a reprodução e a
distribuição de carpas na região.
Capítulo 11 • Piscicultura na agricultura familiar 369
Piscicultura no Semiárido
A escolha do sistema de criação de peixes pode depender de: a) obje-
tivo do produtor: alimentação para subsistência, pescaria para lazer ou
venda para geração de renda extra; b) disponibilidade de água na proprie-
dade, pois a quantidade de água disponível deve sustentar o sistema de
criação escolhido; e c) disponibilidade de recursos financeiros para a ativi-
dade. Além desses fatores, é necessário que o produtor tenha força de
vontade e aptidão para atuar na atividade.
Independentemente do sistema de criação utilizado, são essenciais
alguns cuidados básicos com os alevinos. Antes de adquiri-los, deve-se
escolher fornecedor (empresa ou instituição que faz a reprodução de peixes
e fornece os alevinos) com boas referências. Isso porque, se os alevinos
forem provenientes de locais que não fazem manejos alimentar, reprodu-
tivo e sanitário adequados, certamente terão baixa taxa de sobrevivência.
O transporte até a propriedade da criação também deve ser feito de
forma adequada (como acondicionamento em sacos plásticos com água
e oxigênio ou em caixas de fibra de vidro chamadas transfish) e sempre
nos primeiros horários da manhã para evitar o calor excessivo (Figura 4).
Ao chegarem à propriedade da criação, os alevinos devem ser colocados
em uma mistura parcial da água do cultivo com a água do transporte para
que se habituem à nova água. Esse procedimento (denominado aclimata-
ção) evita a mortalidade dos alevinos devido ao choque de temperatura e à
diferença da qualidade da água.
Ambiente de criação
Independentemente do sistema de criação, algumas considerações
sobre o ambiente de criação serão feitas de forma geral, pois afetam todos
os sistemas. Existe uma cadeia alimentar própria do ambiente aquático,
da qual todos os peixes dependem de forma direta ou indireta (Figura 5).
A produção de algas e plantas é essencial para o equilíbrio aquático e,
dependendo do sistema e da espécie elegida para a criação, os peixes irão
se alimentar delas. Esses peixes, por sua vez, poderão alimentar o homem ou
servir de alimento para outros peixes que irão, então, alimentar o homem.
370 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Sistemas de criação
Com o intuito de oferecer uma leitura mais didática, serão citados,
nesta seção do capítulo, os sistemas de criação de peixes em áreas depen-
dentes de chuva no Semiárido brasileiro com os quais a Embrapa tem
alguma experiência em atuação. Para a criação com os propósitos aborda-
dos neste capítulo, serão disponibilizadas informações para a criação nas
fases de crescimento inicial e terminação de peixes.
Viveiros escavados
o viveiro seco, podem ser usados: cal virgem, cal apagada, conchas moídas
ou calcário moído. O viveiro poderá ser cheio com água 15 dias após a apli-
cação do corretivo. A calagem com o viveiro cheio de água é recomendada
quando há matéria orgânica em excesso. Na Tabela 1, está a recomendação
de calagem para elevar o pH de viveiros com fundos arenosos e pequena
camada de argila ou lodo.
5,5-6,0 1.000
6,0-6,5 500
6,5-7,0 200
7,0-7,5 100
Fonte: Castagnolli (1992).
Açudes e barragens
Figura 7. Açude com qualidade de água não própria para a produção de peixes em
época de cheia (A) e no fim do período de estiagem (B); açude com qualidade de
água própria para a produção de peixes (C); açude apto à produção de peixes (D).
Sisteminha Embrapa-UFU-Fapemig
Qualidade da água
Nos sistemas de criação de peixes em áreas do Semiárido depen-
dentes de chuva apresentados neste capítulo, não importa somente a
quantidade de água disponível, mas a qualidade também é importante.
Ambas juntas contribuirão para a tomada de decisão sobre qual sistema
deverá ser adotado e qual(is) espécie(s) de peixe será(ão) a(s) mais apta(s)
para a criação.
No Semiárido, a água disponível para a criação de peixes pode ser
proveniente principalmente de três fontes: chuva, poços ou rios.
As águas das chuvas são propícias para a criação de peixes e, a depen-
der da pluviosidade anual, podem encher barragens e açudes, além de
viveiros escavados. No entanto, vale ressaltar que, no Semiárido, o período
de chuva é curto e esparso, o que não garante renovação da água do sistema
durante uma média de 8 a 10 meses do ano (a depender da região específica).
As águas de poços são, em grande maioria, limpas, mas pobres
em O2, o que pode ser resolvido com uma oxigenação artificial da água
durante sua entrada no ambiente de criação (Sousa; Teixeira Filho,
1985). No Semiárido brasileiro, ainda há de ser levada em consideração a
frequente salinidade da água proveniente de poços. Isso não significa que
a água seja imprópria para a criação de peixes, mas, sim, que haverá limita-
ções. O custo da perfuração de um poço exclusivo para esse fim também
deve ser levado em consideração na tomada de decisão sobre o sistema
de criação a ser adotado.
390 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Manejo alimentar
O manejo alimentar pode ser muito complexo quando se trata de
produção de peixes. No entanto, como o enfoque deste capítulo é a produ-
ção em áreas onde a água é um recurso limitado, o manejo alimentar deve
ser realizado de maneira muito simples para que a qualidade da água não
seja comprometida. Em qualquer um dos sistemas mencionados neste capí-
tulo, por mais que o produtor opte por criação extensiva, o peixe deverá ter
alimento disponível no ambiente para o crescimento.
De modo geral, para o crescimento e desenvolvimento, os peixes
necessitam de proteínas e uma fonte de energia (que pode ser carboi-
drato ou lipídio), além das vitaminas e minerais. Esses nutrientes podem
estar contidos nas rações comerciais, no alimento natural ou ser disponi-
bilizados na forma de alimentos ofertados. É importante informar que os
peixes podem adquirir os nutrientes tanto de uma única fonte (como no
caso da ração) como de diferentes fontes. Cada espécie tem uma necessi-
dade diferente em termos da quantidade e da qualidade dos nutrientes a
serem consumidos. Na seção Espécies Aptas para Criação deste capítulo,
indicou-se o hábito alimentar de cada espécie.
No caso do tambaqui e de algumas carpas, os carboidratos podem
ser obtidos de frutas fornecidas pelo produtor, e as proteínas, sais minerais
e vitaminas podem ser obtidas no ambiente de cultivo. A observação do
Capítulo 11 • Piscicultura na agricultura familiar 391
Considerações finais
A criação de peixes no Semiárido, seja voltada para subsistência ou para
complemento da renda familiar, é uma atividade lucrativa para o produtor.
Para acompanhamento da viabilidade econômica dos sistemas de produ-
ção de peixe e para saber o custo de produção por quilograma de peixe, é
essencial que o produtor ou o técnico mantenha uma anotação dos gastos
realizados. Na região semiárida, é essencial que o recurso hídrico seja bem
aproveitado. Portanto, o produtor deve sempre estar atento à qualidade da
água na piscicultura. Além disso, sempre que houver oportunidades, o produ-
tor deve realizar cursos de capacitação e/ou reciclagem dos conhecimentos já
obtidos, para aperfeiçoar as técnicas de criação dos peixes.
Capítulo 11 • Piscicultura na agricultura familiar 393
Referências
Fatores de degradação
As condições ambientais do Semiárido brasileiro tornam a região
muito propícia a fatores de degradação do solo, entre os quais estão: quei-
madas, erosão, salinização e desertificação, que serão abordados neste
capítulo.
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 397
Queimadas
As queimadas são utilizadas pelos produtores como forma de baixo
custo para limpar o terreno antes do preparo do solo para o plantio (Figura 1).
De maneira geral, as áreas queimadas são cultivadas por alguns anos e,
depois, deixadas em pousio para serem novamente queimadas e cultiva-
das alguns anos depois. Em um levantamento realizado nos municípios
cearenses de Barbalha e Jardim, em média, 60% dos agricultores utilizam a
queimada como técnica de limpeza do solo, embora a grande maioria (75%,
em média) reconheça a prática como danosa ao meio ambiente (Pereira;
Drumond, 2014).
Porosidade Densidade
P SB CTC V
Manejo do solo pH total do solo
Milho = Zea mays, P = fósforo, SB = soma de bases, CTC = capacidade de troca catiônica, V = saturação
(1)
de bases.
Fonte: Adaptado de Nunes et al. (2006).
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 399
secundária (50 anos). Entretanto, nas áreas sob pousio, houve aumento da
densidade e redução da porosidade total como resultado da compacta-
ção provocada pelo impacto das gotas de chuva sobre o solo descoberto
(Nunes et al., 2006).
Esses resultados demonstram que os benefícios da queimada para as
culturas subsequentes são pequenos e que a ausência de adubação para repor
a quantidade de nutrientes exportados pela cultura é um fator de degradação
e empobrecimento do solo. Além disso, a ocorrência de chuvas concentradas e
de grande intensidade, comuns no Semiárido, sobre o solo descoberto (situa-
ção que ocorre tanto após a queimada quanto no pousio após o cultivo) é uma
importante causa da erosão hídrica, como será comentado a seguir.
Erosão
Dentre as regiões brasileiras, o Semiárido é das mais susceptíveis
às perdas de solo pelo processo erosivo. Isso acontece porque a vegeta-
ção nativa é menos densa do que as das demais regiões, deixando parte
do solo descoberto e facilitando a ocorrência de erosão tanto hídrica (pelo
impacto das gotas de chuva) quanto eólica (transporte de material pelo
vento). Assim, como afirmado por Castro (2012), a perda de solo por erosão
é o principal fator que conduz às perdas das terras produtivas no Semiárido.
O dano causado pela erosão não é simplesmente devido à perda
quantitativa de solo, mas também à perda qualitativa; como o material
transportado é geralmente rico em matéria orgânica e em partículas mine-
rais finas, após o processo erosivo, o que resta na área é um solo enriquecido
em frações minerais mais grosseiras e menos férteis (Brady; Weil, 2013). Além
disso, a erosão do solo tem efeitos dentro e fora da propriedade. Dentro da
propriedade, nota-se principalmente a redução da produtividade, enquanto
fora da propriedade, nota-se a melhoria da produtividade das terras à jusante
(devido ao transporte de argila e de matéria orgânica) e a sedimentação e
eutrofização dos reservatórios e corpos d’água (FAO, 2016a).
Erosão hídrica
Figura 2. Erosão hídrica em lavoura de milho (Zea mays) (A) e em área de cultivo (B).
Erosão eólica
Salinização
Os solos afetados por sais podem ser divididos em solos salinos,
salino-sódicos e sódicos. De acordo com a Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação (FAO, 2016b), 3,1% da área mundial de solos
cultivados são salinos e 3,4% são sódicos. Esses solos ocorrem principal-
mente em regiões onde a relação entre precipitação e evapotranspiração
é menor do que 0,75, em áreas baixas e planas, com lençol freático elevado
e que recebem água de drenagem de áreas superiores do relevo (Brady;
Weil, 2013).
Os solos salinos podem ser divididos em função de características
como condutividade elétrica, porcentagem de saturação por sódio e pH,
como apresentado por Brady e Weil (2013):
• Solos salinos – apresentam acúmulo de sais neutros solúveis,
condutividade elétrica no extrato de saturação maior do que
4 dS m-1, saturação por sódio menor do que 15% e valores de pH
abaixo de 8,5.
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 403
Nome comum/Nome científico CE (dS m-1) Nome comum/Nome científico CE (dS m-1)
Cenoura (Daucus carota) 1,0 Alfafa (Medicago sativa) 2,0
Feijão (Phaseolus vulgaris) 1,0 Espinafre (Spinacia oleracea) 2,0
Cebola (Allium cepa) 1,2 Melão-cantaloupe (Cucumis melo var. 2,2
cantalupensis)
Abacate (Persea americana) 1,3 Abobrinha (Cucumis sativus) 2,5
Alface (Lactuca sativa) 1,3 Tomate (Solanum lycopersicum) 2,5
Feijão-caupi (Vigna unguiculata) 1,3 Capim-sudão (Sorghum sudanense) 2,8
Batata-doce (Ipomoea batatas) 1,5 Abobrinha (Cucurbita pepo var. 3,2
melopepo)
Pimentão (Capsicum annuum) 1,5 Amendoim (Arachis hypogaea) 3,2
Vagem (Phaseolus vulgaris) 1,5 Beterraba (Beta vulgaris) 4,0
Pimenta (Capsicum spp.) 1,5 Sorgo (Sorghum bicolor) 4,0
Feijão-fava (Phaseolus lunatus) 1,6 Capim-doce (Phalaris tuberosa) 4,6
Cana-de-açúcar (Saccharum 1,7 Abobrinha-italiana (Cucurbita pepo 4,7
officinarum) var. melopepo)
Laranja (Citrus sinensis) 1,7 Soja (Glycine max) 5,0
Limão (Citrus limon) 1,7 Girassol (Helianthus annuus) 5,3
Milho-doce (Zea mays) 1,7 Azevém (Lolium perenne) 5,6
Milho-grão (Zea mays) 1,7 Capim-bermuda (Cynodon dactylon) 6,9
Milho-forrageiro (Zea mays) 1,8 Beterraba-açucareira (Beta vulgaris 7,0
var. saccharifera)
Repolho (Brassica oleracea var. 1,8 Algodão (Gossypium hirsutum) 7,7
capitata)
(1)
CE = condutividade elétrica.
Fonte: Adaptado de Gheyi et al. (2010).
406 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Desertificação
Segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Deserti-
ficação, a desertificação pode ser definida como o processo de degradação
das terras das regiões áridas, semiáridas e subúmidas resultante de dife-
rentes fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas
(FAO, 2016) (Figura 3). Segundo Accioly (2011), a deterioração do solo reduz
o potencial biológico das terras e sua capacidade de sustentar a população
que delas depende para viver.
Cultivo em vazante
São denominadas vazantes as faixas de solos situadas às margens
de reservatórios de água, como açudes (Figura 5), barragens, lagoas e
412 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
leitos de rios, que são cobertas pela água durante o período chuvoso e
descobertas durante a época seca. Essas áreas podem ser exploradas na
agricultura dependente de chuva mediante o plantio de diversas culturas
[milho, feijão-caupi (Vigna unguiculata), sorgo (Sorghum bicolor), macaxeira
(Manihot esculenta), batata-doce (Ipomoea batatas) e arroz (Oryza sativa),
dentre outras] à medida que a água vai baixando. Para o cultivo em vazante,
o preparo do solo deve ser realizado em curva de nível a fim de evitar a
erosão e promover o aumento da infiltração da água no solo (Araújo et al.,
2004). Além disso, as curvas de nível orientam a formação dos sulcos e
camalhões que podem ser preparados com tração animal. De acordo com
esses autores, o sistema de plantio em sulcos e camalhões em curvas de
nível proporciona produtividade de até 12 t ha-1 de batata-doce e 856 kg ha-1
de grãos de guandu sem uso de adubação e agrotóxicos.
Foto: Roseli Freire de Melo
Figura 6. Preparo do solo com tração animal utilizando bovino (A) e capina reali-
zada com tração com equídeo (B).
Manejo mecanizado
A mecanização agrícola é uma alternativa para reduzir o uso de mão
de obra e aumentar a produtividade do trabalho, pois permite aumento da
área trabalhada (Figura 7). Ao mesmo tempo em que apresenta vantagens,
a mecanização pode trazer alguns problemas ao solo, como a compactação
(Souza et al., 2006). Assim, alguns cuidados devem ser considerados, pois a
utilização constante de equipamentos (como a grade aradora ou o arado de
discos), trabalhando sempre numa mesma profundidade, pode provocar a
compactação logo abaixo da camada preparada. É o chamado pé-de-grade
ou pé-de-arado. Essa camada compactada pode trazer sérios prejuízos ao
agricultor, pois diminui a infiltração da água no solo e acarreta o conse-
quente aumento do escorrimento superficial, causando erosão, carreando a
matéria orgânica e os nutrientes disponíveis da camada mais superficial do
solo e afetando o desenvolvimento das plantas.
O solo arado fica livre de plantas daninhas, mas, ao mesmo tempo,
fica livre também de outras coberturas vegetais. Numa região como o
Semiárido, onde se tem chuvas fortes e concentradas num período curto
de tempo, essa situação é ideal para a ocorrência da erosão, pois o impacto
da gota da chuva num solo descoberto resulta numa crosta ou selamento
da superfície do solo. A fina crosta que é formada favorece o escoamento
superficial e diminui a infiltração de água no solo.
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 415
Adubação
A adubação é uma prática de manejo importante para a correção
e manutenção da fertilidade do solo e deve ser realizada de acordo com
as características do solo e com a necessidade de nutrientes (disponível
em manuais de adubação regionais) da cultura que será plantada na área.
As características do solo podem ser conhecidas com a realização de uma
análise de solo.
Com relação à análise de solo, é importante que as amostras de
solo sejam coletadas de forma a serem representativas da área. Para isso,
416 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Adubação orgânica
Algumas práticas e estratégias são necessárias para que as culturas
expressem seu potencial genético de produtividade e para que o solo se
mantenha fértil. A utilização de adubos orgânicos é uma delas. Adubação
orgânica parte do pressuposto de que serão utilizados fertilizantes orgâni-
cos ou outros insumos de origem animal ou vegetal para fornecer nutrientes
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 417
Adubação verde
Uso do esterco
Biofertilizantes
Compostagem
Pó de rocha MB4 0 3 0
Termofosfato 0 3 3
C N P K Ca Mg S B Cu Mn Zn
Composto C/N
------------------------ g kg-1 ------------------------ -------- mg kg-1 --------
3 13,5 141,2 10,4 10,5 3,6 22,8 8,2 1,37 99 23 1.099 416
Húmus
Adubação química
A adubação deve sempre ser realizada de acordo com a demanda
de nutrientes da cultura e a capacidade do solo de suprir essa demanda.
No planejamento da adubação química, devem ser levados em considera-
ção ainda a disponibilidade de fertilizantes no local os teores de nutrientes
e o preço de cada uma das opções disponíveis.
As doses de fertilizantes a serem aplicadas seguem recomendações
específicas para cada região. A seguir, são apresentadas as Tabelas 6 a 18 de
adubação para as principais espécies cultivadas por agricultores familiares
no Semiárido.
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado 20 20
mg dm de P -3
Fósforo (P2O5)
< 11 60 50
11-20 40 30
> 20 30 20
cmolc dm de K-3
Potássio (K2O)
< 0,12 50 40
0,12-0,23 30 30
> 0,23 20 20
Fonte: Cavalcanti (2008).
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 425
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado - 40
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-20 40 -
> 20 20 -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 45 -
0,12-0,23 30 -
> 0,23 15 -
Fonte: Cavalcanti (2008).
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado - 30
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-20 30 -
> 20 15 -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 40 -
0,12-0,23 20 -
> 0,23 10 -
Fonte: Cavalcanti (2008).
426 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Nitrogênio (N)
não considerado - 25 25
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 80 - -
11-20 60 - -
> 20 40 - -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 - - 60
0,12-0,23 - - 40
> 0,23 - - 20
1ª cobertura: após o desbaste.
2ª cobertura: 20 dias após a primeira.
Fonte: Cavalcanti (2008).
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha ) -1
Nitrogênio (N)
não considerado 15 20
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-20 30 -
> 20 15 -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 40 -
0,12-0,23 20 -
> 0,23 10 -
Fonte: Cavalcanti (2008).
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 427
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado 20 30
mg dm de P
-3
Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-30 40 -
> 30 20 -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 30 -
0,12-0,38 20 -
> 0,38 - -
Fonte: Cavalcanti (2008).
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha )
-1
Nitrogênio (N)
não considerado 30 40
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 30 -
11-30 20 -
> 30 10 -
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 30 -
0,12-0,38 20 -
> 0,38 - -
Fonte: Cavalcanti (2008).
428 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado 20 40
mg dm de P
-3
Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-30 40 -
> 30 20 -
cmolc dm de K
-3
Potássio (K2O)
< 0,12 30 -
0,12-0,38 20 -
> 0,38 - -
Fonte: Cavalcanti (2008).
Tabela 14. Recomendação de adubação para a palma-forrageira (Opuntia ficus-indica) cultivada nas diferentes densidades
de plantio.
Plantio Crescimento Segundo ciclo em diante
5 mil a 10 mil 20 mil 40 mil 5 mil a 10 mil 20 mil 40 mil 5 mil a 10 mil 20 mil 40 mil
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo
Teor no solo plantas por plantas por plantas por plantas por plantas por plantas por plantas por plantas por plantas por
hectare hectare hectare hectare hectare hectare hectare hectare hectare
(kg ha-1)
Nitrogênio (N)
não considerado - - - 40 100 200 40 100 200
-3
mg dm de P Fósforo (P2O5)
< 11 50 80 100 - - - 40 60 80
11-30 - 25 50 - - - 40 60 80
> 30 - - - - - - 40 60 80
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 60 100 130 - - - 60 100 130
0,12-0,38 30 50 65 - - - 60 100 130
> 0,38 - - - - - - 60 100 130
Fonte: Cavalcanti (2008).
429
430 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Implantação
Teor no solo Plantio Crescimento Manutenção
(kg ha ) -1
Nitrogênio (N)
não considerado - 80 40
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 100 - 60
11-20 60 - 40
> 20 30 - 20
cmolc dm-3 de K Potássio (K2O)
< 0,12 120 - 70
0,12-0,23 80 - 50
> 0,23 40 - 20
Fonte: Cavalcanti (2008).
Plantio Cobertura
Teor no solo
(kg ha )
-1
Nitrogênio (N)
não considerado 30 60
mg dm-3 de P Fósforo (P2O5)
< 11 60 -
11-30 40 -
> 30 20 -
cmolc dm de K
-3
Potássio (K2O)
< 0,12 30 -
0,12-0,38 20 -
> 0,38 - -
Fonte: Cavalcanti (2008).
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 431
Práticas conservacionistas
Captação in situ
Figura 11. Sistema de preparo de solo em curva de nível (A) e plantio com maca-
xeira (Manihot esculenta) (B).
Práticas vegetativas
As práticas vegetativas podem ser medidas e associadas aos princí-
pios de sustentabilidade com o objetivo de reduzir impactos negativos dos
cultivos, como erosão, salinização, desertificação, lixiviação de nutrientes e
perda de água, entre outros.
Dentre as práticas vegetativas, destacam-se rotação de culturas,
consórcio, cobertura morta e cultivos em faixas. Essas devem ser aplicadas
considerando as diferentes características edafoclimáticas, sociais e cultu-
rais das distintas regiões que compõem o Semiárido.
Capítulo 12 • Uso e manejo do solo 435
Rotação de culturas
Consórcios
Figura 12. Cultivo em consórcio de milho (Zea mays) com feijão-fava (Phaseolus
lunatus) (A) e milho com feijão-comum de arranca (Phaseolus vulgaris) (B).
Foto: Roseli Freire de Melo
Cobertura morta
Cultivo em faixas
Considerações finais
Atualmente, para se ter uma agricultura sustentável, é necessário o
uso conjunto de diversas tecnologias, o que inclui a escolha da semente, o
uso e manejo adequado dos solos, a adoção de práticas conservacionistas,
o uso de produtos alternativos de controle de pragas e doenças e o uso
de adubos orgânicos e biofertilizantes. No Semiárido, a água é um fator
limitante ao desenvolvimento da agricultura. Sendo assim, é de extrema
440 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Referências
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Caatinga, v. 25, n. 3, p. 18-24, 2012
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MATIAS, J. R.; PEREIRA, A. L.; SILVA, R. de C. B. da; NASCIMENTO, M. A.; REIS, R. C. R.;
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Technology, v. 96, n. 2, p. 235-245, 2005.
444 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
SILVA, D. J.; MOUCO, M. A. do C.; GAVA, C. A. T.; GIONGO, V.; PINTO, J. M. Composto
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Nordeste brasileiro. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 35, n. 3, p. 875-882, 2013.
SOUZA, E. D.; CARNEIRO, M. A. C.; PAULINO, H. B.; SILVA, C. A.; BUZETTI, S. Frações
do carbono orgânico, biomassa e atividade microbiana em um Latossolo
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Biofertilizante: aprenda como se faz. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2007. 8 p.
1 Folder.
1
Qualquer mudança do clima ao longo do tempo que resulta da variabilidade natural ou da atividade
humana.
2
Histórico evolutivo de diversos fatores (como emissão e concentração de gases de efeito estufa, tipo
de cobertura terrestre) que baseia as projeções do que ocorreria com o planeta, variando do otimista
ao pessimista. São os chamados caminhos representativos de concentração (ou representative
concentration pathways – RCP, em inglês).
446 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
6
Fenômeno natural de aquecimento térmico da Terra, essencial para manter a temperatura do
planeta em condições ideais para a sobrevivência dos seres vivos.
450 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
7
Grau de suscetibilidade ou incapacidade de um sistema de lidar com os efeitos adversos da mudança
do clima, inclusive a variabilidade climática e os eventos extremos de tempo e clima.
452 Agricultura familiar dependente de chuva no Semiárido
Considerações finais
A vulnerabilidade do Semiárido brasileiro às mudanças climáticas é
alta. Por isso, são necessárias ações que aumentem a resiliência da agricultura
familiar. Estratégias de mitigação e adaptação podem reduzir a vulnerabi-
lidade e criar novas oportunidades para o desenvolvimento. A construção
Capítulo 13 • Ações de mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas 463
Referências
AGUIAR, M. I.; MAIA, S. M. F.; XAVIER, F. A. S.; MENDONÇA, E. S.; ARAÚJO FILHO,
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Capítulo 13 • Ações de mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas 467