Relatório de Atendimento Clínico Cirurgico
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No dia 19/10/2021, foi realizada na propriedade do Sr. Jorge Vicente Luz, localizada no município de Araçoiaba da Serra, no
endereço Rancho Maria Cecilia, Bairro Jundiacanga, procedimento cirúrgico de cesariana no animal referido acima. Tal
procedimento foi indicado após avaliação clínica prévia no dia 06/10/2021 para retirada de um feto diagnosticado como
morto há pelo menos 4 meses antes da data da cirurgia por outro colega.
Para o ato operatório, a equipe veterinária contou com um anestesista, um cirurgião principal, outro cirurgião auxiliar, dois
enfermeiros veterinários volantes, além de dois médicos veterinários clínicos especializados em reprodução de bovinos.
Animal foi colocado na seringa de contenção, para aplicação pela via intramuscular de xilazina 2%, como medicação pré-
anestésica (MPA). Após ser solto e adotar o decúbito lateral, mostrando estar sob pleno efeito sedativo, animal foi colocado
sob uma lona, debaixo de uma tenda, para toda preparação prévia do campo operatório. O anestesista procedeu com o
acesso venoso auricular com cateter número 18G, estabelecendo dessa maneira uma via para administração de fármacos.
A manutenção anestésica se deu por monitoração dos parâmetros de planos anestésicos e quando necessário foi realizado
bolus de anestésico dissociativo (cetamina).
A vaca foi acomodada em decúbito lateral direito e posteriormente os enfermeiros veterinários procederam com a ampla
tricotomia e antissepsia na região da fossa para-lombar esquerda. Já com luvas estéreis, o anestesista procedeu bloqueio
anestésico local com lidocaína 2%, sem vaso constritor, na técnica de “L invertido”, no espaço delimitado do flanco
esquerdo.
Após autorizado pelo anestesista, o cirurgião e o auxiliar, procederam com a incisão no centro da fossa para-lombar
esquerda, dentro do campo de delimitação do bloqueio anestésico, entre a última costela e a tuberosidade ilíaca, abaixo do
processo transverso da vértebra lombar. A incisão inicial havia 25 cm de comprimento.
Após incidir todos os planos, foi estabelecido o acesso à cavidade abdominal e realizada inspeção. Pode-se observar que
não havia aderência do útero em nenhuma porção, no entanto sua anatomia topográfica estava comprometida, devido a
projeção dos cornos uterinos para o sentido dorsal do eixo materno. Vale ressaltar que neste momento, em animais com
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topografia normal e preservada, os cornos uterinos devem estar posicionados no sentido do eixo ventral materno, ou seja,
voltados para baixo. Neste caso em particular, como descrito anteriormente, os cornos uterinos estavam voltados para
cima. Diante desse achado, pode ser determinado pela equipe cirúrgica que o útero havia se fletido da esquerda para direita,
adotando um ângulo de 90 graus para o sentido dorsal. Não foram encontramos na serosa uterina, indícios de isquemia ou
comprometimento vascular grave, devido ao grau de flexão ter sido baixo, mesmo diante do exposto grave da afecção. As
condições externas do útero, apesar das alterações, eram boas, no entanto se encontrava extremamente distendido e
rígido, podendo o feto ser facilmente palpável, sendo possível determinar por toda sua extensão que se tratava de um feto
de tamanho consideravelmente grande. Por conta dessa situação e da necessidade de reposicionamento do útero para sua
posterior abertura, havia um grande risco de rompimento de órgão, o que resultaria em um pior prognóstico de vida à vaca.
No entanto, a manobra de reposicionamento, apesar de apresentar grau moderado de dificuldade no ato, foi possível sem
intercorrências. Para tal, foi necessário ampliar a incisão de pele, alcançando um comprimento total neste momento
cirúrgico de 35 cm.
Uma vez o útero reposicionado, procedeu-se na extremidade do corno uterino esquerdo, a incisão, seguida da visualização
de um dos membros pélvicos do feto. Para sua retirada, foram contidos os dois membros pélvicos e o rabo, bem como a
contenção do útero para que o órgão não fosse projetado para o interior da cavidade abdominal, sendo minimizado o risco
de contaminação. Houve dificuldade moderada para retirada do feto, devido ao seu tamanho e por estar relativamente
aderido no endométrio. Foi possível que fosse retirado totalmente, sem que permanecessem resquícios no interior do útero.
O feto foi considerado grande e apresentava integridade estrutural, inclusive com presença de pelos e estojo córneo do
casco em ótimas condições. Não foi identificada nenhuma anormalidade no exame fetal, a não ser alterações de compressão
devido ao tempo em que permaneceu morto comprimido no interior uterino. Pode-se afirmar com total segurança que era
um feto proveniente do terço final de gestação, em condições morfológicas de idade gestacional avançada.
Procedeu-se com a lavagem uterina, com diversos ciclos de infusão de solução de Nacl 0,9% e aspiração do conteúdo por
meio de aspirador cirúrgico. Por fim infundiu-se solução de gentamicina, sendo deixada no interior do útero. Foi possível
constatar após limpeza do ambiente uterino espessamento acentuado do endométrio, inclusive com alterações de coloração
e consistência da mucosa, indicando processo de fibrose.
Na etapa seguinte, foi realizada a sutura do órgão com dois planos invaginantes, Schmieden e Cushing, com fio absorvível
Vicryl®, número 0. Percebeu-se que durante a rafia do útero, o órgão já adotou processo de involução.
Após a histerorrafia, uma nova inspeção na cavidade foi feita, seguida da lavagem com solução de Nacl 0,9% e aspiração
do conteúdo. Uma vez estabelecida a normalidade topográfica e constatada a integridade dos demais órgãos, procedeu-se
com a rafia dos planos abdominais com fio absorvível Vicryl®, número 2. Realizado fechamento com padrão de sutura tipo
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simples contínuo em 3 planos na seguinte ordem: peritônio e músculo transverso abdominal; oblíquo abdominal interno e
oblíquo abdominal externo; subcutâneo. A pele foi fechada com sutura no padrão Wolff , com fio de polipropileno número 2.
A higienização da ferida cirúrgica foi realizada pela equipe de enfermagem, com PVPI Tópico, seguido de pomada Ganadol ®
e spray prata. Curativo indicado uma vez ao dia, por 15 dias consecutivos, até fechamento completo da ferida. Institui-se
tratamento com anti-inflamatório não esteroidal, flunixin meglumine, na dose de 2,2 mg/kg, pela via intramuscular, uma vez
ao dia, por 3 dias consecutivos, associado a analgésico, dipirona sódica, dose de 25 mg/kg, pela via intramuscular, duas
vezes ao dia. Institui-se Diuzon®, pela via intramuscular, em um volume total de 10 mL, uma vez ao dia, por 3 dias
consecutivos, visando minimizar os efeitos de edema e acúmulo exacerbado de seroma. Anbitioticoterapia com sulfadoxina
+ trimetoprina, na dose de 12 mg/kg, uma vez ao dia, pela via intramuscular, por 7 dias consecutivos.
Tecnicamente a cirurgia apresentou um grau de dificuldade moderada, porém não houve intercorrências cirúrgica e/ou
anestésicas ao longo de todo procedimento, havendo uma recuperação anestésica completa após 24 horas do
procedimento, não havendo o animal apresentado qualquer sequela em decorrência dos atos citados acima.
Animal apresentou acúmulo de seroma na porção ventral da ferida cirúrgica. Apesar do aumento de volume, considerado
inclusive normal e esperado nos períodos pós-operatórios em cirurgias com manipulação considerável, a condição clínica
da vaca era boa em parâmetros e comportamento normais.
Devido ao comportamento hostil do animal, foi necessário sedá-la com xilazina 2%, para que fosse drenado o seroma, uma
vez que com as medicações não foi possível saná-lo por completo. Após estar sob efeito sedativo favorável animal foi
posicionado em decúbito lateral direito, realizada ampla tricotomia e antisepssia no local do seroma. Com luvas, agulhas e
seringa estéreis, foi realizada punção e drenados cerca de 300 mL de conteúdo amarelo-palha, levemente turvo, inodoro.
Após o ato, houve diminuição significativa do aumento de volume. Foi aproveitado também para que a retirada dos pontos
de pele fosse feita. Ferida cirúrgica apresentava-se cicatrizada e com excelente aspecto. Foi prescrito 3 dias de aplicações
com intervalo de 48 horas de Penicilina Benzatina 6.000.000 UI, na dose de 40.000 UI/ animal, pela via intramuscular, uma
única aplicação de flunixin meglumine na dose de 2,2 mg/kg, pela via intramuscular e Diuzon®, pela via intramuscular, em
um volume total de 10 mL, uma vez ao dia, por 3 dias consecutivos. Animal se recuperou bem e não apresentou mais
alterações significativas, havendo normalidade de parâmetros e comportamento.
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AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES UTERINAS (13/12/2021)
Procedimento de avaliação uterina realizado pelo Dr. Fábio Custódio, especializado em biotecnologia da reprodução de
bovinos e ultrassonografia do sistema reprodutivo de vacas. Para o ato, procedeu-se com palpação transretal com e sem
auxílio ultrassonográfico. Útero apresentou involução e tamanho satisfatórios, dentro da normalidade para o período pós-
operatório. Não apresentou sinais de aderência. Presença de quantidade moderada de líquido residual no interior uterino,
com aspecto de relativa celularidade, no entanto, atribuído como esperado por todo processo e trauma uterino sofrido pelo
animal. Não havia espessamento significativo do endométrio. Achados satisfatórios em relação ao processo crônico e ato
operatório aos quais a vaca foi submetida. A princípio, por todo ocorrido, poderiam ser encontradas maiores alterações,
com maior grau de gravidade, no entanto, pode-se afirmar que as condições extra e intrauterinas ao exame de palpação
transretal e ultrassonografia são bons.
Apesar do exposto acima, não é possível afirmar ainda qual o prognóstico em relação a viabilidade de um novo ciclo estral
normal e uma eventual nova gestação. Indica-se nova avaliação para daqui 60 dias, a fim de acompanhar a evolução do
conteúdo uterino e dependente das condições, indicar o início de um protocolo para avaliação do comportamento do ciclo
reprodutivo do animal.