Cem Anos de Liberdade

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

CEM ANOS DE LIBERDADE


1884 — 1984

—Lúcio A l c â n t a r a
—Evandro A y r e s d e M o u r a
—Paes d e A n d r a d e
—Abdias d o N a s c i m e n t o

BRASILIA-1984
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Centro de Documentação e Informação

CEM ANOS DE LIBEMDADE


(1884-1984)

Discursos proferidos na Sessão de


26 de março de 1984, pelos Deputados
Lúcio Alcântara, Evandro Ayres de
Moura, Paes de Andrade e Abdias do
Nascimento

Coordenação de Publicações
BRASÍLIA — 1984
CÂMARA DOS DEPUTADOS
SEPARATAS DE DISCURSOS, PARECEEES E PROJETOS
47* Legislatara — 2* Sessão Legislativa
N»7
SUMÁRIO
Pág.
Discurso do Deputado Lúcio Alcântara 5
Discurso do Deputado Evandro Ayres de Moura 11
Discurso do Deputado Paes de Andrade 15
Discurso do Deputado Abdias do Nascimento 23
DISCURSO DO
DEPUTADO LÚCIO ALCÂNTARA
O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PDS — CE) — Sr. Presidente, Srs. Deputa-
dos, ocupo hoje a tribuna desta Casa para homenagear o povo cearense pela
iniciativa do movimento abolicionista.
A escravatura representa, sem dúvida, um dos capítulos mais deprimentes
da História do Brasil. Deprimente, repito, por sua causa geradora — o lucro de-
sumano — e pela humilhação com que o homem era tratado. Na verdade, o es-
cravo era apenas uma peça na máquina de produção de fortuna para os senho-
res detentores do dinheiro e do poder.
Foi em 1516 que se instalou no Brasil a primeira experiência do plantio da
cana-de-açúcar. Riqueza que em pouco tempo passaria a substituir a da ex-
tração da madeira de tinturaria. Este é o início de profunda mudança no pano-
rama sócio-econômico da nossa terra. O ciclo da indústria extrativa cede lugar
à indústria açucareira. Instala-se o 29 período da História Colonial. Ao Reino
seria bem-vinda qualquer pessoa que quisesse explorar terras brasileiras, desde
que lhe fosse paga a quinta parte do produto conquistado. Tal medida incenti-
vou a exploração incontida da riqueza sem qualquer controle dos meios empre-
gados para conquistá-la. O bem maior era o lucro. A formação de fortunas foi
perseguida sem tréguas e sem escrúpulos. A indústria de açúcar progrediu ad-
miravelmente em duas Capitanias: Pernambuco e São Vicente. Os engenhos
eram movidos a água e boi. Os engenhos constituíram-se na primeira experiên-
cia brasileira da exploração do homem em favor do lucro. Inicialmente
subjugou-se o índio, mais tarde o negro africano. Surge aí o tráfico de homens
de cor. Estabelece-se a escravatura. Segundo Gilberto Freyre, "o Brasil era o
açúcar e o açúcar era o negro". O escravo era por assim dizer a mola mestra dos
senhores de engenho. Ao lado do progresso da indústria açucareira crescia o
mercado de carne humana. Do braço negro se irradiava a força dos moinhos.
Do suor negro o crescimento das fortunas. Teve início na metade do século XVI
o negócio que duraria pelo menos 3 séculos: o tráfico de escravos — comércio
que usava o ser humano como mercadoria; que utilizava o homem como objeto
gerador de dinheiro.
Se de um lado, o enriquecimento dos barões e da Coroa se dava de forma
acelerada, por outro, se verificava a formação de uma sociedade fácil de ser do-
minada em decorrência da escravidão e da passividade política.
Gustavo Barroso em sua "História Secreta do Brasil" declara que por esta
época, de uma população de 3.817.000 habitantes, 1.718.000 eram escravos.

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Este dado nos permite chegar à conclusão de que a sociedade brasileira de então
era subjugada e omissa. Usando e explorando a mão-de-obra negra, o Brasil vi-
veu mais de 3 séculos. O negro cumpriu, na maioria das vezes passivamente, a
sua mis$ão de contribuir com sua vida para o enriquecimento desmedido de
uma minoria privilegiada e dominadora. Pode-se afirmar que no Brasil a explo-
ração dft homem pelo homem consolidou-se a partir do trabalho escravo.
Srs, Deputados, ê lamentável admitir-se a existência da escravidão no Bra-
sil. Lamentável, sobretudo, pela total insensibilidade que se estabeleceu diante
do sofrimento experimentado pelo negro.
Mas desejos de liberdade e justiça inerentes às pessoas não permaneceram
calados no seio dos escravos. Embora oprimidos, revoltavam-se com as con-
dições de vida que lhes eram impostas pelos senhores brancos. Fugas eram re-
gistradas. Organizações negras se fundaram. Ressalto aqui uma das mais belas
expressões de luta pela liberdade. O Quilombo dos Palmares, verdadeiro estado
negro que se instalou dentro da Colônia Portuguesa. Constitui o Quilombo dos
Palmares um dos mais significativos gritos de revolta do escravo. Uma comuni-
dade consciente que se tornou símbolo da resistência contra a escravatura, ain-
da no século XVII.
O Brasil, senhores, caminhou a escalada da fortuna usando o homem de
forma servil. Somente a partir do século XIX se iniciou uma nova fase na his-
tória dos escravos: a abolição. Explodiram os centros abolicionistas. Jornalistas
e intelectuais da época bradavam por liberdade. Estava deflagrado um novo
momento. Um clima em favor do negro começava a tomar vulto. A luta pela li-
berdade negra se estenderia até 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Mas foi o
Ceará o berço da abolição. Aí se cumpriu, em 25 de março de 1884, o primeiro
ato definitivo e radical em favor do homem escravizado.
O objetivo maior da História, Srs. Deputados, ê, sem dúvida, o conheci-
mento do processo de transformação da sociedade ao longo do tempo. Vamos
passar à análise dos fatos. Eles fizeram e farão sempre a história de um povo.
Cearense que sou, falo com orgulho sobre a redenção do negro. Mesmo
que aquele momento tenha sido respaldado em interesses econômicos.
Foi no ano de 1884 que explodiu a paixão libertadora acalentada há tanto
tempo. Ano em que se concebeu, finalmente, a idéia de libertar o homem de
cor, permitindo-lhe o direito de dispor de sua própria vida, orientar seu próprio
destino, suas próprias vontades. Libertou-se, em 1884, o corpo do negro dos
castigos e dos maus tratos, mas libertou-se principalmente sua alma, suas
emoções, seus desejos. Abrandou-se sua saudade devolvendo-lhe a vida.
A idéia da abolição ocupou a mente do povo cearense, empolgando-o,
comprometendo-o com a causa, contagiando-o. Nunca se presenciou tanto ar-
rebatamento. Sequer os problemas comuns daquela terra, como a seca e a mi-
séria, sensibilizaram tanto o povo. Dominada por um sentimento contagiante, a

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idéia foi ganhando força e fez-se vitoriosa no ano de 1884. A abolição sofreu
uma trajetória. Se não vejamos: a busca incontida de lucros e a ganância incon-
trolada pelo poder evoluíram para que no século XVIII se iniciasse a fase do ca-
pitalismo industrial. Essa nova fase atingiria, inevitavelmente, o trabalhador.
Começava-se a perceber que o trabalho manual era insuficiente para o que> se
desejava possuir. Notícias provenientes da Europa mostravam que a produção
feita através de técnicas modernas era superior à artesanal. Foi, na verdade, a
causa econômica a maior responsável pela transformação social conquistada.
O movimento antiescravísta ganhou corpo, uma vez que já agora os pro-
prietários desejavam modificar os processos de produção. Quanto maior a pro-
dução, maiores lucros. A mão-de-obra escrava tornava-se impotente para a ob-
tenção dos lucros almejados. Pode-se afirmar que a ascensão do movimento
abolicionista coincidiu com a mudança de pensamento dos senhores brancos
em relação à mão-de-obra escrava.
No Ceará, os efeitos produzidos pelas secas prejudicavam significativa-
mente a pecuária, e avolumavam-se as perdas, obrigando os donos de terras a se
desfazerem de seus currais e senzalas, em busca de prejuízos menores.
É curioso observar como interesses comerciais puderam gerar movimentos
tão fortes em defesa dos direitos humanos. Longe de mim a idéia de diminuir os
méritos dos líderes do movimento abolicionista. Muito pelo contrário, louvo
seus atos, sua coragem, sua consciência humanística.
O movimento capitalista, que havia encontrado no braço escravo grandes
possibilidades de lucro, passou a perceber que, utilizando a mão-de-obra livre,
na pessoa do emigrante, engrossaria ainda mais as suas possibilidades de ga-
nho. O Ceará soube aproveitar o momento e limpar seu povo da mancha escra-
vista. Movimento que se revestiu de coragem e emoção. O cearense soube hon-
rar seu ideal redentor, liberando os negros dos desrespeitos que lhes eram im-
pingidos. A movimentação apaixonada dos abolicionistas ganhou força quan-
do certos cafeicultores passaram a defender seus próprios interesses utilizando-
se da nobre causa de homens de bem que desejavam com honestidade realizar a
libertação dos negros. De um lado, o povo cearense emocionava-se pela causa
de forma sincera e fiel; de outro, a mão forte dos barões do café apoiava a idéia
do trabalho livre. Este apoio, embora comprometido com o interesse pessoal e
o lucro, foi decisivo para que se conquistasse a liberdade para os negros.
É justo que se ressalte que o entusiasmo e a fidelidade à causa dos direitos
humanos inspiraram ao povo cearense o acontecimento da libertação, mesmo
que os poderosos tenham sido beneficiados com o fato. É preciso que se reafir-
me e se perceba a pureza dos gestos do homem cearense. É importante que se
reconheça que no Ceará estabeleceu-se um compromisso com a causa do negro.
Aí se denuncia a sujeição e exploração do homem pelo homem. O Ceará serviu
de palco ao grande ato histórico. Esta foi uma bela e longa cruzada. Mas feliz-
mente vitoriosa.

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Os meus respeitos à memória de quantos fizeram, com sua força, sua cora
gem e idéias, a causa redentora. Os meus respeitos ao povo da minha terra pela
bravura e seriedade de seus atos. Os meus respeitos ao povo negro que contri-
buiu decisivamente para a grandeza deste nosso País.
Faço minhas as palavras de Joaquim Nabuco, que expressam toda a gran-
deza do ato abolicionista:
"O que o Ceará acaba de fazer não significa por certo ainda — O
Brasil da Liberdade; mas modifica tão profundamente o Brasil da Es-
cravidão que se pode dizer que a nobre província nos deu uma nova
pátria. A imensa luz acesa do Norte há de destruir as trevas do Sul.
Não há quem possa impedir a marcha dessa claridade."
Na verdade, a iniciativa da redenção negra no Ceará levou o Brasil a cami-
nhar com maior empenho em busca da abolição: 4 anos depois, é promulgada a
Lei Áurea, tornando livres todos os negros escravizados.
Cem anos passados, e vivemos hoje momentos de novas e profundas injus-
tiças. Já não se presencia a entrada de negros nos portos, já não se concretizam
senzalas. No entanto, existe hoje outra forma de discriminação social. A má
distribuição de renda faz deste País um País de opressores e oprimidos, de se-
nhores e escravos. É a sujeição do mais forte sobre o mais fraco. Ê a permanên-
cia, e cada vez mais, do fortalecimento das distorções sociais. Ê o Brasil dos ri-
cos e o Brasil dos pobres. Já não se detecta de maneira nítida o racismo do
branco ou do negro. Embora exista, e muito forte ainda, o preconceito. O racis-
mo a que hoje assistimos traduz-se na repressão contra aquele que não detém
poder ou fortuna. E o pior, a permanência do poder nas mãos de poucos privi-
legiados. O cidadão brasileiro continua de certo modo à margem do processo
de redemocratização. As decisões são tomadas em favor dos interesses de uma
minoria. Problemas como recessão, fome, desabrigo são comuns à nossa socie-
dade. De um lado, a agressão urbana que se instala e perpetua; de outro, a vio-
lência praticada no campo, descaracterizando o homem do sertão. A fragilida-
de da economia brasileira estabelece um clima de insegurança da população em
relação ao seu futuro. Ê preciso reconhecer que se vive hoje, 1984, uma nova
forma de escravidão. Aquela que já não permite um novo movimento abolicio-
nista, porque disfarçada. Ocorre toda sorte de desrespeito humano.
Desacreditam-se os ideais democráticos. Submete-se o País a novas formas de
dominação econômica. Este momento, senhores, é maior que a dimensão políti-
ca do Ceará e a vocação libertária da sua gente. Este momento cabe aos repre-
sentantes populares denunciar, cabe ao povo reclamar, cabe a todos mudar.
(Palmas.)

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••••-.•• DISCURSO DO
DEPUTADO EVANDRO AYRES DE MOURA
O SR. EVANDRO AYRES DE MOURA (PDS — CE) — Sr. Presidente,
Srs. Deputados, o Ceará engalana-se em suas comemorações civícas. É que há
100 anos, em 25 de março de 1884 — um fato que, à época, mostrou a bravura
de seus dirigentes e de suas lideranças políticas — declarou-se a libertação dos
escravos no Ceará, antecipando-se, assim, de 4 anos à Lei Áurea.
Ganhou do grande tribuno José do Patrocínio e do abolicionista Joaquim
Nabuco o nome de Terra da Luz, orgulho de seus filhos. E, por uma coincidên-
cia agradável, naquele mesmo dia fundava-se em Fortaleza a Escola Normal
para formação de professores e que, durante este século, dali sairiam para ensi-
nar à juventude milhares de mestres que semeavam o saber.
Fazendo estes dois registros, congratulamo-nos com o povo do Ceará pelo
Centenário da Libertação dos escravos, e com a Escola Normal, na pessoa de
sua diretora Maria Eldair Barros de Oliveira Freitas, grande e dedicada educa-
dora, pelos benefícios que tem a Escola Normal prestado à gente e à juventude
cearense.

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DISCURSO DO
DEPUTADO PAES DE ANDRADE
O SR. PAES DE ANDRADE (PMDB — CE) — Sr. Presidente, Srs. Depu-
tados, o povo do Ceará comemora hoje uma das mais gloriosas datas de sua
História. A 25 de março de 1884 proclamava-se em nossa terra a abolição da es-
cravatura. Quando, no resto do País, permaneciam ainda as instituições macu-
ladas pela mais vergonhosa mancha negra de nossa História nacional — ou,
como prefere dizer o Deputado Abdias do Nascimento, pela abominável "man-
cha branca" da escravidão — adiantavam-se os cearenses a todas as outras
províncias, promovendo a libertação dos escravos. Podemos, assim, antes de
todos os demais brasileiros, celebrar o primeiro centenário da abolição.
"E por isto a voz do povo chamou-a Terra da Luz."
Nestes singelos versos de Juvenal Galeno, em que o velho bardo popular
de nossa terra evoca a abolição da escravatura, o epíteto glorioso atribuído ao
Ceará incorpora a própria vocação do povo cearense — a vocação para a liber-
dade.
A constante invocação da liberdade pelos homens públicos, em todos os
tempos, pode parecer, às vezes, a oca e fatigada repetição de um lugar-comum,
o simples e vazio recurso retórico dos oradores políticos sem assunto e sem ban-
deira.
Mas quando se pensa no que significou realmente a liberdade para os es-
cravos, explorados até à morte pelo senhorio que os vendia como gado, apar-
tando nos currais humanos da época o marido de sua mulher, a mãe de seu fi-
lho, o irmão de seu irmão — então a noção da liberdade adquire um valor vivo
e palpável.
A crônica da escravidão é tão hedionda e tão infame na História do Brasil
que, ao ocupar o Ministério da Fazenda, depois da proclamação da República,
Rui Barbosa mandou incinerar todos os papéis escritos que a documentavam.
Julgava, com esse gesto de falso pudor e de hipocrisia diante da História, estar
poupando às gerações futuras a memória de seus vergonhosos antecedentes.
Melhor teria feito se deixasse intactos e expostos à execração pública os autos
do corpo de delito dessa monstruosidade, para que ardessem para sempre,
como ferro em brasa na pele da Nação. Talvez assim o País pudesse guardar a
marca e o remorso de seus crimes e de seus pecados contra os direitos humanos.
Os cearenses de 25 de março de 1884, que lavraram o ato de abolição da es-
cravatura para toda a província, nas proclamações de Icó e de Baturitê, consoli-

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daram o gesto para o qual madrugara um ano antes a cidade Acarape, mais tar-
de, por este motivo, chamada de Redenção.
Desse modo, a partir de 1884, há um século, o Ceará tornou-se o primeiro
palmo de terra limpa na História deste País, o primeiro palmo de chão pisado
apenas por homens livres. A adesão de nosso povo à causa da liberdade foi tão
completa, que nela se empenharam todas as classes sociais, os grandes e os hu-
mildes, destacando-se entre estes o jangadeiro Chico do Nascimento — o famo-
so Chico da Matilde — que a História consagrou como Dragão do Mar. Graças
a homens como ele, no Ceará não se embarcavam nem se desembarcavam mais
escravos. •
A decisão dos jangadeiros cearenses, de boicotar o tráfico de escravos no
porto de Fortaleza, foi talvez a primeira greve de trabalhadores marítimos na
História do Brasil. A mais nobre das greves, pela grandeza de seu significado
humano.
A História guarda o gesto comovedor dos negros que, ao atravessarem a
fronteira da província libertadora, caíam de joelhos para beijar o chão da terra
na qual voltavam a ser livres como o eram nas praias de seu país africano. Era
sob o céu do Ceará que recuperavam a dignidade da vida e podiam balbuciar as
primeiras palavras de esperança nos direitos humanos.
O País inteiro, toda a imprensa do Rio, todas as vozes democráticas do
Brasil comemoraram a grandeza do gesto do Ceará. A mocidade da Escola Mi-
litar editou uma poliantêia com o título de "Ceará", glorificando a primeira
província do País que escolhera a liberdade. Toda a grande imprensa de então,
a Gazeta de Notícias, o Jornal do Commercio, a Folha Nova, a Revista Ilustrada
comemoraram o feito com entusiasmo. —
"As penas do ilustrado Enes de Sousa" — conta o historiador
Gustavo Barroso — "do grande Ferreira de Araújo, do ardente Quin-
tino Bocayuva, do glorioso Machado de Assis, do entusiasmado Ge-
nerino dos Santos, do imortal Visconde de Taunay, do austero João
Clapp, do erudito Carlos de Laet, do arrebatado José do Patrocínio,
do poético Alberto de Oliveira, do sentimental Valentim Magalhães q
do inspirado Luiz Murat consagraram a glória da cidade de Re-
denção."
Na poliantêia "Ceará", da Escola Militar, escreveram sobre o fato grandes
homens e jovens que depois chegariam às mais altas posições do País: Dias de
Oliveira, Lauro Müller, Saturnino Cardoso, Ximenes Villeroy, Jaime Benévolo,
Antônio Azeredo, Benjamim Constant, Paulo de Frontin e André Rebouças.
Houve passeatas e comícios em todo o Brasil saudando a decisão do povo cea-
rense.
No Acarape — hoje Redenção — a primeira cidade libertadora, os sertane-
jos de minha terra, por ocasião do cinqüentenário abolicionista, ergueram um

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monumento na pequena praça central, em homenagen aos seus antepassados
que, segundo diz a inscrição na pedra memorial, "proclamaram a liberdade da
raça negra e fizeram de sua terra o berço das auroras e a primeira faísca do he^
roísmo atirada aos ventos do futuro".
Na frase condoreira refletia-se a importância do acontecimento, que Joa-
quim Nabuco considerava haver adiantado de anos a luta pela abolição no Bra-
sil. No Parlamento, em nome da segurança nacional e de razões econômicas —
surrada invocação ainda hoje usada para justificar o cerco às liberdades públi-
cas — empedernidos escravocratas malsinavam o gesto do povo cearense e de-
fendiam os direitos de propriedade humanas dos senhores de escravos. E quan-
do os representantes do escravagismo sustentavam que a segurança da Pátria
dependia da manutenção do sistema infame, foi a voz de um representante do
Ceará, o Barão de Jaguaribe, que se levantou para dizer que preferia não ter Pá-
tria a ter uma Pátria aviltada e desonrada, construída sobre a lama e o sangue
de seres humanos escravizados.
No Ceará, clero, nobreza e povo irmanam-se, andam juntos na jornada
cívica que só terminaria com a vitória da abolição.
João Cordeiro inflama a terra e rebela o povo. Ao chegar à sede da Socie-
dade Cearense Libertadora, "com a mão posta, não nos evangelhos, mas no
cabo do punhal", grita para os abolicionistas presentes: "Matar ou ser morto
em bem da abolição!" Este o julgamento indignado da honra cívica do Ceará.
Almino Afonso responde, exclamando: "Um por todos, todos por um"
lembrando, em seguida: as idéias, no entanto, transformam mais que as armas.
E assim, sem armas e sem sangue, o Ceará alteava-se na luta contra o cativeiro.
Na pugna imensa, as mulheres cearenses reúnem-se na Sociedade das Se-
nhoras Libertadoras, postadas na mais avançada linha revolucionária. Maria
Tomázia Filgueiras Lima, Francisca Nunes da Cruz, Elvira Pinho, Joana Be-
zerra e tantas outras escreveram páginas candentes da rebeldia, da inconformi-
dade e da-repulsa do Ceará ao escravagismo. Maria Tomázia lavrara assim o
protesto das mulheres cearenses:
"Se esta heróica cidade de Fortaleza foi o quartel-general do pen-
samento emancipador, a seus generosos habitantes corre, neste mo-
mento, o glorioso dever de reduzir a estilhaços os ferros dos poucos
cativos que ainda protestam contra a lei que há três séculos os têm se-
qüestrado das comunhões civis e políticas."
Joaquim Nabuco exalta o movimento cearense:
"O que o Ceará acaba de fazer não significa por certo ainda o
Brasil da liberdade; mas modifica tão profundamente o Brasil da es-
cravidão, que se pode dizer que a sua nobre província nos deu uma
nova Pátria. A imensa luz acesa do Norte há de destruir as trevas do
Sul. Não há quem possa impedir a marcha desta Claridade."

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Sr. Presidente, deixo, aqui, na evocação da grande festa da libertação, a ata
de 25 de março de 1844 — assinada por João Capistrano de Abreu, pór Dom
Luiz Antônio dos Santos, Arcebispo da Bahia; Dom Joaquim José Vieira, Ar-
cebispo Diocesano; Doutor Sátiro de Oliveira Dias, Presidente da Província;
Doutor João dos Reis de Souza Dantas, Chefe de Polícia; Tomás Cavalcante de
Alburquerque, Maria Tomázia Filgueiras Lima:

"Aos 25 dias do mês de março do ano de 1884, do nascimento de


nosso Senhor Jesus Cristo, sexagésimo segundo da independência na-
cional, segundo da libertação do município do Acarape, nesta cidade
de Fortaleza, na praça do senador Castro Carreira, em frente ao Edifício
da Estação Central da Estrada de Ferro de Baturité, às 12 horas do
dia, reunidas milhares de pessoas no imenso anfiteatro ali erguido, co-
meçou a magna sessão em que o Ceará foi proclamado a primeira
província livre do Império do Brasil. Aquela hora achavam-se presen-
tes à grande reunião popular os excelentíssimos senhores Dom Luiz
Antônio dos Santos, Arcebispo da Bahia, Dom Joaquim José Vieira,
Diocesano, Dr. Sátiro de Oliveira Dias, presidente da Província, Dr.
João dos Reis de Souza Dantas Filho, chefe de Polícia, membros da
Sociedade Cearense e Libertadora, diversos chefes de repartições
públicas, membros da Assembléia Provincial e da Câmara Municipal
desta cidade, autoridades civis e militares, representantes do alto cle-
ro, representantes de muitas associações e corporações desta Provín-
cia e da paz, funcionários de diversas categorias, comerciantes, indus-
triais e artistas, representantes da imprensa da Província e da paz,
dona Tomáziai Filgueiras Lima, diretora-geral da Sociedade das "Se-
nhoras Cearenses. Libertadoras", à frente da brilhante legião das se-
nhoras que representarão os 58 municípios da Província, corpo consu-
lar e membros de todas as classes sociais. No meio de indescritível en-
tusiasmo popular, o Excelentíssimo Senhor Doutor Sátiro de Oliveira
Dias, usando da palavra, fez nos seguintes termos a declaração de
achar-se livre nesta Província: "Ave libertas" em homenagem à razão
e ao direito aos grandes princípios da civilização e da humanidade,
para honra do reinado do Senhor Dom Pedro II e para glória imortal
do povo cearense, em nome e pela vontade deste mesmo povo procla-
mo ao país e ao mundo. A Província do Ceará não possui mais escra-
vos! Viva S. M. o Imperador! Viva a Constituição e a liberdade! Viva
o glorioso 25 de março! "Por essa ocasião, o imenso auditório, pondo-
se em pé, sancionou o auto de Sua Excelência com repetidas e ruido-
sas aclamações e manifestações de entusiasmo e prazer. Para constar o
que lavrou-se este auto, que transmitirá à posteridade a memória do
grande decreto do povo cearense, que firmou soberanamente a igual-
dade e confraternidade social de todos os habitantes desta Província."

20
A abolição do sistema servil, Sr. Presidente, ofereceu as reflexões para o
momento que vivemos, Nominalmente abolida, afinal, pela decisão da Princesa
Isabel, a escravidão existe hoje em nosso País, sob outros disfarces e outras for-
mas. O País não está sendo digno do gesto de seus maiores. A Princesa Isabel
foi advertida, pelos Conselheiros do Império, de que sua assinatura à lei da li-
bertação acabaria derrubando o trono. Preferiu arriscar a coroa a vê-la susten-
tada pelo regime da escravatura. O exemplo do povo cearense — ela mesma o
diria — guiou sua mão, ao assinar a lei redentora. A mão que José do Patrocí-
nio beijaria comovido, há de ficar na memória do povo negro, em que pese às li-
mitações da abolição. Pois hoje, de certo modo, grandes camadas da população
negra, como grandes contingentes de brasileiros da própria etnia indígena, mes-
tiça ou europóide que compõem esta Nação, vivem numa clamorosa situação
de servidão econômica e cultural, social e política.
A comemoração do 25 de março, hoje celebrada em festa no Ceará, deve
servir-nos como uma advertência: a de que estamos diante do desafio de uma
nova e verdadeira abolição da escravatura, a escravatura que hoje oprime ne-
gros e brancos, mestiços e índios, em todas as partes do território nacional.
(Palmas.)

21
DISCURSO DO
DEPUTADO ABDIÂS DO NASCIMENTO
O SR. ABDIAS DO NASCIMENTO (PDT — RJ) — Sr. Presidente, Srs.
Deputados, tenho exposto várias vezes, desta tribuna, o desencanto e a frus-
tração da comunidade negra do nosso País com a chamada abolição da escrava-
tura de 1888. Entretanto, não posso calar minhas homenagens e a dos meus ir-
mãos de raça a todos aqueles heróis negros e combatentes brancos que confron-
taram e cambateram o execrável regime servil.
É em nome do meu partido, o PDT, que assomo a esta tribuna para assina-
lar o centenário da libertação dos escravos da Província do Ceará, ocorrida a 25
de março de 1884, portanto, quatro anos antes da tardia e inoperante Lei Áu-
rea.
O movimento antiescravocrata teve seu ponto alto, naquela Província, pre-
cisamente a 8 de dezembro de 1880, quando foi fundada a Sociedade Cearense
Libertadora, constituída por líderes de todas as classes sociais, com a partici-
pação de homens de negócios progressistas, clero, estudantes, operários e inte-
lectuais.
Já existia uma outra agremiação, a Perseverança e Porvir, com a presença
de comerciantes conservadores, com alguns vagos lampejos abolicionistas, que
queriam a organização à sombra da lei, a fim de o Imperador D. Pedro II não
ser molestado...
É claro que o povo formou ao lado da Libertadora Cearense, cujos chefes
eram João Cordeiro, os irmãos José e Isaac do Amaral, João Teles Marrocos e
o glorioso jangadeiro Francisco José do Nascimento, cognominado "Dragão
do Mar". Era um simples homem do povo, mas ao mesmo tempo um negro sá-
bio em amor à justiça, à liberdade e à dignidade humana dos africanos escravi-
zados. Francisco exercia função de Prático-Mor do porto de Fortaleza.
Convivendo com a gente humilde da qual era parte, jamais aceitou o trans-
porte de escravos nas jangadas, único meio de a carga humana chegar aos na-
vios negreiros, cujos proprietários arrebanhavam seres humanos, como gado,
para vendê-los nas praças do Recife, Belém e Manaus, onde se tornavam ainda
mais escravos nos canaviais e seringais.
A Libertadora só tinha um artigo que servia de Estatuto: "Libertar os es-
cravos por todos os meios ao seu alcance".
Cada grupo de libertadores ficou com uma tarefa. Os intelectuais lançaram
o jornal O Libertador, que diferentemente de certos órgãos da chamada grande

25
imprensa de hoje, que se vendem ao dinheiro dos aparteístas, não recebia anún-
cios dos senhores negreiros.
Edmar Morei, o corajoso escritor que forçou a entrada de João Cândido
na História do Brasil, escrevendo "A Revolta da Chibata", passou sua infância
e parte da juventude em Fortaleza e pesquisou o problema da Abolição, no
Ceará, e escreveu o "Dragão do Mar", agora em 3» edição, com o título de "O
Vendaval da Liberdade", lançado pela Global, de São Paulo.
O escritor, que insiste em dizer que é, apenas, um repórter que exalta os he-
róis da ralé, mostrou ao Brasil como um jangadeiro, homem rude do mar, con-
tribuiu de maneira decisiva para acabar com o cativeiro no Ceará. Aconteci-
mento único em nossa História, pois não houve decreto e sim uma proclamação
do Governo Sátiro Dias, numa praça pública, sob aplausos delirantes da multi-
dão.
Foi na classe social mais humilde que surgiram dois titãs na luta de vida e
morte contra a escravatura, ambos jangadeiros: Francisco José do Nascimento,
na intimidade Chico da Matilde, como se chamava sua mãe, e José Napoleão, o
qual, voluntariamente, passou a liderança dos praieiros ao Dragão do Mar.
No dia 30 de agosto de 1881, amanheceu no ancoradouro de Fortaleza o
Navio "Espírito Santo", que deveria conduzir 38 escravos para o Sul. Nasci-
mento tomou uma atitude varonil:

" — N o porto do Ceará não se embarcam mais escravos".


Os senhores negreiros foram ao extremo.
"— Ou os escravos embarcam ou correrá sangue!"
Já, então, Nascimento, apoiado pelos libertadores, ouviu um coro:
— "Pois corra sangue!"

Naquele dia histórico, estava selada a sorte da escravatura no Ceará, e


Francisco José do Nascimento ficou de sentinela, rondando pela inviolabilida-
de do porto.
Os escravagistas passaram a trafegar pelos sertões, fugindo à vigilância dos
libertadores, que, em grupos, arrancavam os negros dos coches em que viaja-
vam, camuflados de homens livres, devolvendo-os à liberdade perdida, ainda
nas terras africanas, invadidas pelos agressores europeus.
Faltava, porém, a presença de um tribuno qüe incendiasse as massas. José
do Patrocínio desembarcou em Fortaleza a 30 de novembro de 1882 e logo pas-
sou a discursar em praça pública ao lado de Nascimento. Com seu verbo d« fo-
go, Patrocínio ajudou a destruir os grilhões, os eitos, as gargalheiras e outros
instrumentos de tortura utilizados pelos comerciantes negreiros, para os quais o
negro não era um ser humano, mas uma besta de carga, um mero semovente.

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Edmar Morei, para escrever o "Dragão do Mar", conviveu com os únicos
sobreviventes da epopéia, a professora de piano Elvira Pinho, diretora da Socie-
dade Cearense Libertadora, e o comerciante Alfredo Salgado, um dos animado-
res da Libertadora, ambos com 90 anos naquela época.
Novos clubes surgiram de apoio à humanitária campanha, como o Clube
dos Libertos e o Centro Abolicionista, que contavam com a presença do Barão
de Studard, Vice-Cônsul da Inglaterra, e vários sacerdotes, oficiais do Exército
e da Marinha. No dia 1? de janeiro de 1883, caiu o primeiro reduto escravagista,
a cidade de Acarape, hoje Redenção. Foi o começo da queda da Bastilha e o fim
de uma era degradante.
É oportuno lembrar que a primeira lei mandando acabar com a escravatu-
ra foi apresentada pelo Deputado Federal cearense Silva Guimarães, na sessão
de 2 de agosto de 1859, sabotada pelo Barão de Cotegipe, descendente de africa-
no, e que comandava a bancada do Partido Conservador, cujo gabinete gover-
nou de 1849 a 1852.
Edmar Morei conta que José do Patrocínio, ante a alforria de 116 cativos,
no Município de Acarape, enviou o seguinte telegrama ao Imperador D. Pedro
II:
"O nome de Vossa Majestade ainda não figura na lista dos subs-
critores da Sociedade Cearense Libertadora".
D. Pedro mandou um conto de réis, quantia suficiente, apenas, para alfor-
riar duas escravas, boas para cria.
Seu genro, o Conde D'Eu, era um negreiro por excelência, e trouxe, de vol-
ta da campanha do Paraguai, milhares de soldados brasileiros arrancados das
senzalas e levados para o Paraguai, retornando todos ao cativeiro, muitos deles
condecorados por atos de bravura. É conhecida a frase do Conde D'Eu no mo-
mento em que a sua mulher, a Princesa Isabel, assinava a Lei Áurea:
"Não assine o decreto da Libertação. É o fim da Monarquia."
Está visto, então, que a tardia Lei Áurea foi um ato forçado ante a reação
popular, e em todos os sentidos um engodo para o ex-escravo.
Não foi uma doação imperial. Pelo contrário. Foi, sim, uma lei imposta
pela vontade do povo, com implicações internacionais de interesses mercantis, e
frustrada em seus justos propósitos pela elite dominante.
Alguns historiadores insistem em apontar o Imperador D. Pedro II e a
Princesa Isabel como defensores dos escravos. A história verdadeira é diferente.
O germe da Abolição sempre esteve presente na alma do africano escravizado e
do brasileiro, como demonstram Palmares e a Conjuração Baiana em 1798. D.
Pedro II contemporizou o problema e durante décadas impediu que a liber-
tação dos escravos se concretizasse.

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Em 1867, respondendo ao apelo da Junta Francesa de Emancipação, de-
clarou que o "assunto era de primeira importância para o Governo brasileiro",
mas apesar disso só depois de 21 anos é que foi assinada a infeliz lei de 13 de
maio de 1888.
O Brasil era o único país das Américas que mantinha a escravatura. Era
uma vergonha internacional ainda maior quando o mundo havia assistido a
derrota das tropas francesas no Haiti e a libertação dos seus 500 mil cativos. Foi
na verdade uma guerra anticolonial dirigida pelo grande líder negro Toussaint
UOuverture, no final do século XVIII.
O povo cearense jamais acreditou na propalada benemerência da família
imperial e, dia a dia, via crescer a massa popular nos comícios.
Demitido do cargo de Prático-Mor do porto de Fortaleza, Francisco José
do Nascimento bradou pelos jornais:
"Resta-me, agora, fechar minhas contas com os meus covardes
inimigos."
As senzalas cearenses iam caindo pelos sertões, para desespero dos latifun-
diários.
Finalmente, surge a manhã luminosa de 25 de março de 1884, quando o
Governador Sátiro Dias anunciou do alto de um palanque:
"A Província do Ceará não possui mais escravos!"
D. Pedro II não perdoou o Governador, demitindo-o sumariamente. O
Governador saiu do Palácio nos braços do povo.
Como representante dos negros brasileiros na Câmara dos Deputados,
saúdo o povo do Ceará, na pessoa do jangadeiro negro Francisco José do Nas-
cimento, e, como descendente dos africanos escravizados neste País, participo
do júbilo dos cearenses pela data de 25 de março de 1884, quando Joaquim Na-
buco disse:
"O Ceará é o começo de uma Pátria livre!"
O povo afrobrasileiro espera, confiante, que os cearenses dos nossos dias
continuem sustentando aquela chama libertária de 1884. Os inimigos do negro
ainda usurpam os nossos direitos através da discriminação racial, forma de in-
justiça que substituiu a escravidão depois de 1888. Esta confiança esperançosa
tem seu suporte nos valores mais altos daquele rincão de nossa Pátria, incorpo-
rados em figuras humanas como a de um D. Helder Câmara, o Bispo dos deser-
dados, que acaba de completar 75 anos de vida doada aos humilhados e ofendi-
dos deste País; no gênio de um poeta como Gerardo Mello Mourão, no mo-
mento indicado pela maioria dos nossos escritores para o prêmio "Jucá Pato";
e, ainda, no Deputado Paes de Andrade, sempre destemido, ao lado dos famin-
tos e injustiçados. Com estes filhos, e muitos outros do mesmo porte, o Ceará
prossegue trilhando o caminho da liberdade e da dignidade para todos os ho

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mens e mulheres, iguais em sua origem essencial, porém diferentes em suas vi-
vências de história, etnia, cultura e religião.
Termino registrando na História desta Casa do Povo as manifestações
ocorridas em todas as comunidades negras do País pelo transcurso, a 25 de
março último, do Dia Internacional de Luta contra o Racismo, instituído pelas
Nações Unidas em lembrança do massacre de 69 negros, em Sharpeville, na Á-
frica do Sul, em 1960, quando lutavam pacificamente contra o racismo institu-
cionalizado do Apartheid.
No dia 21 de março transcorreu, também, o primeiro aniversário do decre-
to assinado pelo Governador Leonel Brizola, instituindo a comemoração ofi-
cial do Dia Internacional contra o Racismo, em todo o Estado do Rio de Janei-
ro.
Termino celebrando todos aqueles negros e brancos, que se empenharam
ou se empenham no combate à indignidade da escravidão e à crueldade do ra-
cismo.
Axé, Companheiros! (Palmas.)

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