Painel Aventura
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ou
Como garantir que tudo o que um projeto tem de ter… está lá!
INTRODUÇÃO
Em Escutismo a expressão “aprender fazendo” não é mera retórica. Bem pelo contrário, “para aprender é
necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico e
ativo e o exemplo dos dirigentes deve estar impregnado deste dinamismo”.1
É absolutamente indispensável o estudo do projeto educativo por parte de cada dirigente, e no caso
concreto, de todo o capítulo dedicado ao “Aprender Fazendo” do Manual do Dirigente. Que ninguém se
iluda… nada se aprende sem se ler, sem se estudar, sem se por em prática uma vez, duas vezes, três vezes…
até sair bem.
Existem alguns “inimigos” à espreita e à espera de nos apanhar. Estes inimigos têm nome: a preguiça de ler
e de estudar os temas, o cair na rotina e fazer sempre da mesma maneira, a ilusão de que já se sabe tudo, a
falta de sentido crítico perante os assuntos… entre outros. Ora, um dirigente que paute o seu
comportamento por esta bitola, não espere conseguir resultados. E a sua ação não passará da banalidade
(ou até mesmo da mediocridade em alguns casos).
MAS, TU, QUE ME ESTÁS A LER, NÃO QUERES SER ASSIM, POIS NÃO?
O “Aprender Fazendo” está presente em toda a vida escutista: nas reuniões semanais, nas múltiplas
atividades de sede ou de campo, nos jogos, nos acampamentos… Não só está presente, mas tem de estar
presente! “Este elemento do método [Aprender Fazendo] preconiza a adopção de uma atitude activa da
criança e do jovem relativamente a tudo aquilo que lhe diga respeito ao longo da vida, relacionando-se
com a constante descoberta das capacidades próprias em diferentes contextos e a sua correcta utilização
em prol de si mesmo e da sua comunidade.”2 Se assim é para a criança e para o jovem, tem de ser assim
também para o adulto!
De entre as múltiplas atividades escutistas, uma há que merece um cuidado especial pelo seu valor
educativo: PROJETO.
É fundamental que o dirigente nunca perca a capacidade de sonhar! Pois o ponto de partida para qualquer
projeto é o sonho. Concretizemos: o sonho de cada rapaz e de cada rapariga.
Todo o projeto nasce da resposta a uma pergunta: “QUE PRETENDEM OS MEUS JOVENS?” Ao colocar esta
questão aos teus jovens terás sempre resposta… mesmo o silêncio é uma resposta. “Tomemos dois
exemplos:
«Ninguém respondeu». Porquê? Muito provavelmente porque ninguém antes de ti lhes tinha feito
seriamente a pergunta; por certo eles querem alguma coisa mas não são capazes de a dizer. Podemos
comparar este trabalho com o dos exploradores petrolíferos que é: têm que perfurar para permitir que o
petróleo jorre. O trabalho exige paciência e coragem: não há outra solução.
O projeto não é, definitivamente não é, uma oportunidade para o dirigente fazer o que quer ou o que
gosta. O PROJETO É DOS JOVENS. NÃO É DO DIRIGENTE.
Dada a abrangência do método do projeto quer ao nível das múltiplas atividades que envolve, quer ao nível
do valor educativo de que se reveste, há imperiosamente que o registar nas suas diversas facetas, tarefas,
responsabilidades, prazos, ações, etc.
O Painel de Projeto deve constituir-se como o “documento” em que tudo fica registado… tudo, mesmo
tudo, para que nada fique por pensar… e por fazer. E não é um “documento” estático, isto é, faz-se uma
vez e pronto. O PAINEL DE PROJETO ACOMPANHA O DESENROLAR DO PROJETO.
Depois da escolha de um projeto, que passa a ser o projeto de todos, e após o enriquecimento deste
mesmo projeto em Conselho de Guias e a definição e distribuição das diversas tarefas individuais e
coletivas, é a altura própria para a construção do painel de projeto.
PAINEL DE PROJETO
Vamos lá, então, ver o que deve constar num painel de projeto.
1. NOME / TEMA
Como se chama o projeto? Qual o tema que lhe está subjacente? O nome também se pode fundir
com o lema do projeto. Terá sempre de ser apelativo e remeter para um mundo de sonho e de
ambição. Aqui ficam alguns exemplos:
2. LEMA
Diz o dicionário que o lema consiste numa “sentença ou frase concisa que funciona como
orientação de procedimento, como meta ou ideal a atingir”. Por lema também se pode entender
como divisa: “frase breve que exprime concisamente um pensamento que caracteriza e identifica
os ideais, os princípios, as motivações… de alguém ou de um grupo”. O lema está intimamente
ligado com o tema, com o herói e com os objetivos do projeto. Quem não conhece o famoso lema
dos três mosqueteiros «Um por todos e todos por um»?
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3. IMAGEM OU SÍMBOLO
Ao nome do projeto deve ser sempre associada uma imagem que reforce o tema e/ou o lema e
funcione como o iman, atraindo os jovens para a sua vivência nas diversas fases do projeto. Não
estaremos nós no mundo e no tempo da imagem? Não ilustrava BP os seus próprios escritos? E
quantos talentos temos no nosso seio à espera de uma oportunidade?
4. HERÓI / MODELO
A presença de um herói no projeto, nomeadamente nos projetos dos mais novos, tem muito
impacto. Este herói constitui-se na personagem da história que está na base do projeto, ajuda a dar
corpo ao imaginário, sendo reconhecido pelas suas qualidades e virtudes. Porque este herói
funciona como modelo a seguir, há que ter em atenção que para um projeto escutista não serve
qualquer imaginário nem qualquer herói.
5. O QUÊ?
Se o nome e/ou o lema remetem para um mundo de sonho e de ambição, a resposta à pergunta “o
quê” ajuda a concretizar e a tornar real o que se pretende atingir com o projeto, a sua finalidade.
Esta pergunta remete para os objetivos do projeto, isto é, o que se pretende conseguir dando
resposta a necessidades concretas da Unidade. No projeto pode e deve ter-se em conta os
objetivos definidos pela Unidade e pelo Agrupamento para o ano escutista. Aqui ficam alguns
exemplos:
6. COMO?
E como fazer para atingir os objetivos? Através da realização de diversas atividades. A resposta a
esta questão passa por elencar todas as atividades que estão associadas ao projeto. A par das
atividades aparecem as tarefas que mais não são do que as ações necessárias para a prossecução
do projeto. As tarefas permitem que cada elemento desempenhe o seu cargo ou funções que lhe
tenham sido atribuídas. Aqui ficam alguns exemplos de atividades:
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Angariação de fundos
Raides
Jogos
Acampamentos
Oficinas
Comissões técnicas
Viagens
Visitas
Reuniões
Celebrações
Palestras
Conferências
Participação em campanhas de solidariedade
Entrevista a um perito em determinado assunto
Participação num programa de rádio
Intercâmbio com instituições
Interação com outras associações ou movimentos
…
7. QUANDO?
Uma boa organização não dispensa uma boa “agenda”.
É fundamental que todas as ações, sejam individuais ou coletivas, estejam calendarizadas. Não
chega atribuir uma data a uma ação; é necessário analisar se a data atribuída supõe um tempo de
preparação adequado e suficiente. Obviamente que a calendariação de um projeto tem de ser
coordenada com o plano anual do Agrupamento.
8. QUEM?
Para falar do “quem” vamos contar uma história.
Era uma vez… quatro pessoas que se chamavam “toda a gente”, “alguém”, “qualquer um” e
“ninguém”.
Havia um importante trabalho a fazer e “toda a gente” acreditava que “alguém” iria executá-lo.
“Qualquer um” poderia fazê-lo mas “ninguém” o fez.
“Alguém” ficou aborrecido com isso, porque entendia que a sua execução era da responsabilidade
de “toda a gente”. “Toda a gente” pensou que “qualquer um” poderia executá-lo, mas “ninguém”
imaginou que “toda a gente” não o faria.
Final da história: “Toda a gente” culpou “alguém” quando “ninguém” fez o que “qualquer um”
poderia ter feito!
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Ora, é para evitar histórias como esta, e sobretudo, resultados como este, que é essencial distribuir
bem as tarefas e responsabilidades, quer individuais quer coletivas. No painel tem de ficar bem
perceptivel quem faz o quê. E atenção, não deixar nenhuma tarefa ou responsabilidade por
atribuir. Aqui ficam alguns exemplos:
9. PARA QUEM?
As atividades constantes de um projeto nem sempre visam somente os elementos da própria
Unidade. Embora os protagonistas do projeto sejam os elementos da Unidade, e sejam eles
também os primeiros a beneficiar da sua vivência, em muitos projetos entram também “terceiros”
que importa ter bem presente. Até porque estes “terceiros” podem requerer um conhecimento e
uma atuação especiais. Aqui ficam alguns exemplos:
10. ONDE?
Em que locais se vai desenrolar o projeto nas suas diferentes etapas de trabalho? Com certeza que
o projeto não se vai realizar na sua totalidade num só espaço. É pois necessário elencar onde se
vão realizar as diversas atividades constantes do projeto para que os respetivos espaços possam
ser pedidos, preparados e usados quando for necessário. Esta informação objetiva e concreta ajuda
a planear o pedido de autorizações atempadamente, a preparar deslocações se necessário, a
arranjar e alindar os espaços tendo em vista sempre a obtenção dos melhores resultados.
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11. COM QUÊ?
Qualquer projeto precisa de meios materiais e financeiros para se concretizar. Já imaginaram um
acampamento deixar de se fazer porque não se conseguiu transporte ou tendas ou cantinas ou
fogões? Ou um raid que não se realiza porque não se arranjaram cartas topográficas ou bússolas?
Os meios estão ao serviço da finalidade, e a finalidade é sempre educar, ajudar a crescer. Então,
importa dar a atenção devida a este assunto. Nem sempre tudo tem de ser comprado. Muitas das
coisas podem ser-nos ofertadas ou emprestadas. Temos é de por mãos à obra e não nos deixarmos
abater pelo trabalho que elas possam dar.
Senão vejamos:
Lei e Promessa – Pode-se eleger um artigo da Lei em particular que tenha uma maior conexão com
o tema do projeto; ou pode-se criar um pequeno código de conduta baseado na Lei do Escuta e
válido para todo o projeto, etc.
Mística e Simbologia – A par dos imaginários “informais” de cada projeto, o imaginário “formal” de
cada Secção tem de ser trabalhado, pois é através dele que se transmitem “valores específicos,
visando a formação humana dos elementos”5.
A mística de cada Secção também não pode estar ausente do projeto (e do painel). Ou corremos o
risco de estar a fazer escutismo aconfessional. É a presença da mística que garante a identidade
católica do Escutismo que fazemos com os nossos Escuteiros. E é tão fácil incluí-la no projeto:
através do patrono ou de um modelo de vida, através de uma história da Bíblia ou de uma
passagem do Evangelho, etc.
E o mesmo acontece com a simbologia própria de cada Secção. A imagem criada para o projeto
pode ela própria conter e desenvolver um dos símbolos da respetiva Secção.
Vida na natureza – As atividades escutistas têm todas uma vertente de vida ao ar livre, mais ou
menos acentuada, mas sempre presente. Para além dos espaços de realização das diversas
atividades constantes de um projeto, como podemos ter presente esta maravilha do método
escutista? Por exemplo, através de algumas regras de utilização sustentável dos meios que estão à
nossa disposição, só usar papel reciclado num determinado projeto, não usar pratos e copos
descartáveis em todas as refeições que ocorram no âmbito do projeto, etc.
Aprender fazendo – Está salvaguardado e aplica-se por excelência no método do projeto desde
que o dirigente não se substitua aos seus elementos. E torna-se bem explícito quando temos uma
boa distribuição das tarefas e responsabilidades por todos os elementos da Unidade.
Sistema de patrulhas – Nenhum projeto consegue vingar se não tiver na base o sistema de
patrulhas a funcionar em pleno na Unidade. E o sistema de patrulhas vai muito para além da
simples organização dos rapazes e das raparigas em pequenos grupos.
Progresso pessoal – Assiste-se com frequência ao erro de entender que um projeto nasce para dar
resposta a determinados objetivos educativos que os elementos precisam para completar trilhos.
Nada mais errado! Ao pensar-se assim está-se a restringir o alcance e a abrangência do valor
educativo do método do projeto. Para além disso temos de ter em conta que o progresso não se
reduz aos objetivos educativos; e, por outro lado, os objetivos educativos não se esgotam (nem se
concretizam na totalidade) numa atividade ou mesmo num projeto.
É ao contrário que devemos ver as coisas: com o projeto damos voz aos sonhos e ambições de cada
rapaz e de cada rapariga, e na preparação do mesmo vão-se descobrir e encontrar oportunidades
de cada um desenvolver as suas capacidades.
Relação educativa – A relação educativa perpassa toda a atividade escutista. Mas se quisermos
detalhar relativamente ao método do projeto, então poderíamos dizer que o adulto, integrado na
equipa de animação, é o garante de manter viva a motivação de toda a Unidade e de cada
elemento em particular. O Chefe nunca pode deixar de acreditar que o projeto é possível! Porque
não criar no painel de projeto um espaço onde a Equipa de Animação deixa regularmente uma
mensagem à Unidade?
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13. VALORES ESCUTISTAS
E por fim vem este item dos valores escutistas. Não por ser o de menor valia, mas porque todos os
itens acima concorrem para este. Um projeto pode ser “perfeito” em termos de etapas, de
objetivos, de tarefas, etc., mas se for desprovido de valores escutistas é como se lhe faltasse a
essência, é como se não tivesse alma. E, portanto, os valores humanos e cristãos têm de estar
presentes, têm de ser vividos e testemunhados, e para quem está em processo educativo há que os
explicitar muitas das vezes. Como os explicitar? O lema pode ser um meio de o fazer; um código de
conduta para todo o projeto ajuda a educar para uma ação regida por valores mais do que por leis,
uma citação bíblica ajuda a remeter para todo um contexto de valores evangélicos, etc.
Porventura, todos estes pontos acima não esgotam aquilo que um painel de projeto pode e deve conter.
Mas se integrar todos estes pontos, e sobretudo, se garantir que o projeto não deixa nenhum destes
aspetos de fora, então estamos na presença de um projeto escutista!
a) O painel do projeto deve estar colocado em local acessível a todos os elementos da Unidade;
b) O painel do projeto deve ser facilmente transportável para que possa acompanhar a Unidade nas
diversas etapas do projeto;
c) O painel de projeto permite uma monitorização de todo o projeto: em cada momento dá-nos a
informação sobre o que foi feito e o que falta fazer, o que vem a seguir, o que é que falhou e tem
de ser corrigido para que o projeto continue exequível, etc;
d) O painel de projeto serve igualmente como elemento motivador para todos os elementos;
e) O painel de projeto deve garantir que todos estão a par de tudo em todos os momentos do
projeto, de modo a que ninguém seja excluído ou se auto-exclua.
f) O painel de projeto deve constituir-se como o compromisso que cada elemento assume de
contribuir para a realização plena do projeto. Para que assim seja deve guardar-se um espaço no
painel de projeto para que todos os elementos ali possam assinar em sinal de acordo e de
compromisso.