60 Fellipe Coelho
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60 Fellipe Coelho
INSTITUTO DE MATEMÁTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA
Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2014
C672m Coelho, Fellipe Gomes
A metodologia da Lesson Study na formação de professores:
uma experiência com licenciados de matemática /
Fellipe Gomes Coelho. -- Rio de Janeiro, 2014.
307 f. : 30 cm.
Orientador: Claudia Coelho de Segadas Vianna
Coorientador: Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira
This work aims to identify the contributions that the methodology Lesson Study (LS)
can provide to initial training of mathematics teachers, when used in lessons of
degree in Mathematics. In this text, we analyzed an experiment conducted at the
Institute of Mathematics of UFRJ, where undergraduates students of the discipline
Special Didactics of Mathematics II experienced this methodology. In the role of key
agents, they revisited contents, made choices of methods, developed a lesson plan
and exercised criticism. We highlighted the analysis of a video from a class which
used the methodology Lesson Study, done as an initial activity of our experience,
which revealed a great pedagogical potential for teachers’ training. We observed that
the experience led to the development of teaching knowledge and enabled an active
participation from the undergraduates in their training process.
1. Introdução
ser responsável por uma das etapas dessa metodologia, nesse caso, aplicar o plano
de aula, construído em conjunto com os participantes do seminário, em uma turma
do ensino fundamental. Essa aula foi realizada nas dependências da UFRJ, com um
grupo de alunos que cursavam o 9º ano, trazidos por Louise Lima, aluna do
programa, integrante do grupo de seminários que fazemos parte. Em um segundo
momento, também por conta de uma das etapas da Lesson Study, tive outra
experiência com uma turma de 1° ano do Ensino Médio do CAp-UFRJ. Essa
experiência foi muito proveitosa para mim, já que conduzi uma aula na qual houve
participação intensa da maior parte dos alunos. Não apenas a aplicação do plano
de aula foi proveitosa, mas também a convivência com outros professores, que
dividiram suas experiências profissionais e contribuíram, criticamente, para o
desenvolvimento e avaliação da experiência. Verifiquei que essa vivência possuía,
em muitos aspectos, semelhanças com aqueles encontros que realizamos no CAp-
UFRJ.
Além disso, visualizei uma relação possível entre a Lesson Study (LS) e
aulas de matemática mais participativas e agradáveis, não apenas para os alunos,
mas também para o professor (um assunto muito comum entre professores, no que
tange às dificuldades encontradas em sala de aula). É consensual que o estudo de
Matemática não é e nem foi uma experiência agradável para muitas pessoas. Muitos
professores consideram que seus alunos apresentam desinteresse, negligência com
seu próprio papel na aprendizagem e descrédito pela importância do estudo da
Matemática. Nos meus cinco anos de experiência no magistério, sendo um ano em
uma escola municipal, dois em uma federal e três anos em três escolas particulares,
também pude perceber muita desmotivação e desinteresse na maioria dos alunos
para o estudo de Matemática. Isso me gera desprazer em lecionar, assim como a
sensação de que os modos dos quais tenho me servido para ensinar não privilegiam
a maioria dos alunos de uma turma, causando exclusão de uma parte. Esse fato tem
me motivado a buscar maneiras alternativas de pensar o ensino da Matemática;
maneiras que contemplem a diversidade e a complexidade presentes nas salas de
aula, e que atendam às individualidades de cada aluno. Vi, nessa busca, espaço
para a implementação de alternativas, como algumas envolvidas na LS.
De fato, ela pode trazer contribuições para o ensino de forma a alterar o
quadro anteriormente apresentado. Felix (2010), em sua pesquisa sobre melhorias
nas aulas de matemática a partir da Metodologia da Pesquisa de Aula (tradução
9
utilizada pela Dra. Yuriko Yamamoto Baldin para o termo Lesson Study), relata que
Lesson Study. O estudo desses temas está alinhado às questões de pesquisa a que
nos propusemos, dando-nos suporte para analisarmos a Lesson Study como uma
estratégia de formação de professores de matemática, em cursos de licenciatura.
No Capítulo 3, descrevemos o percurso metodológico adotado para o
desenvolvimento da pesquisa. Contém a metodologia que nos inspirou, uma
descrição detalhada do planejamento da experiência que realizamos em uma turma
da licenciatura em Matemática e as expectativas relacionadas a cada parte desse
planejamento.
No Capítulo 4, descrevemos e analisamos a experiência que
desenvolvemos na licenciatura, identificando, principalmente, os conhecimentos e
saberes que nela emergiram.
O Capítulo 5 apresenta as respostas dos licenciandos, sujeitos da
pesquisa, ao questionário que aplicamos, com o objetivo de recolhermos
informações adicionais sobre todo o processo vivido por eles. Além disso,
apresentamos também alguns comentários a partir dessas respostas.
Por fim, no Capítulo 6, apresentamos as considerações finais dessa
dissertação, fazendo um resumo das principais discussões realizadas ao longo dos
capítulos e apresentando as contribuições referentes aos objetivos propostos em
nossa pesquisa.
13
2. Referenciais teóricos
do assunto em questão.
Um professor com um bom conhecimento específico de conteúdo deve
ser capaz de definir para os alunos as verdades aceitas em um domínio, saber o
porquê de elas serem o que são, onde elas se apoiam para serem consideradas
verdadeiras e em que circunstâncias são enfraquecidas, ou mesmo invalidadas; ser
capaz de explicar por que vale a pena conhecer os fatos e como eles se relacionam
com outras proposições, tanto no âmbito da disciplina como fora, tanto na teoria
quanto na prática. Esse tipo de conhecimento é altamente valorizado pela
comunidade acadêmica. Shulman reconhece a importância desse conhecimento,
defendendo que ele é necessário, mas não suficiente (SHULMAN, 1987).
O conhecimento pedagógico do conteúdo está relacionado ao
conhecimento específico para a profissão docente, necessário para ensinar um
determinado assunto, de forma que seja compreensível para o aprendiz. A esse
conhecimento está relacionada a compreensão do professor sobre as concepções e
preconceitos que os aprendizes formam e trazem consigo e também o conhecimento
necessário para reorganizar tais concepções, quando elas estão equivocadas. Inclui
também o conhecimento das formas mais úteis de representação do assunto a ser
ensinado, as explicações, as analogias mais poderosas, exemplos, ilustrações e
demonstrações. Esse tipo de conhecimento também inclui aquele que transcende a
área específica, como as teorias e práticas relacionadas a processos de ensino e
aprendizagem. Esse conhecimento em específico é o único com o qual o professor
"(...) pode estabelecer uma relação de protagonismo. É de sua autoria. É aprendido
no exercício profissional (...)" (MIZUKAMI, p.40).
Já o conhecimento curricular, por fim, é representado por toda a gama de
programas concebidos para o ensino de temas e tópicos específicos de um
determinado nível escolar, pela variedade de materiais instrucionais disponíveis
relacionados a estes programas e ao conjunto de características que permite ao
professor avaliar o uso de um determinado currículo, em circunstâncias particulares.
Essas categorias de base de conhecimento nos dão subsídios para
reconhecermos na experiência que tivemos com os licenciandos, elementos que nos
possibilitem responder às questões de pesquisa a que nos propomos.
(...) deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de
possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à
pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência
cotidiana com os alunos. (TARDIF, 2002, p.39)
(...) essa disposição para conhecer os alunos como indivíduo parece, aliás,
muito pouco desenvolvida nos alunos-professores, que são acusados de
não conhecerem suficientemente os alunos, de não saberem usar de
discernimento para com eles e de projetarem neles os interesses e
motivações característicos de suas próprias histórias escolares. A aquisição
da sensibilidade relativa às diferenças entre os alunos constitui uma das
principais características do trabalho docente. (TARDIF, 2002, p.267)
tomando corpo, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, desde o fim do
século XIX. O objetivo partilhado então era o de fazer da pedagogia uma
ciência aplicada alicerçada nas descobertas da psicologia, considerada uma
ciência pura. (GAUTHIER, 1998, p.26)
É como se, fugindo de um mal para cair num outro, tivéssemos passado de
um ofício sem saberes a saberes sem um ofício capaz de colocá-los em
prática, saberes esses que podem ser pertinentes em si mesmos, mas que
nunca são reexaminados à luz do contexto real e complexo da sala de aula.
(GAUTHIER, 1998, p.27)
escola e que são desconhecidos por cidadãos comuns ou por profissionais de outras
áreas, que servem de pano de fundo para o professor e para outros membros de
sua categoria.
O saber da tradição pedagógica refere-se às representações que cada
professor possui a respeito da escola, dos alunos, do professor, dos processos de
aprender e ensinar, etc. Tais representações foram construídas, segundo
argumentação dos autores, em etapas anteriores ao ingresso na carreira. Esse
saber é tão marcante que, ao invés de ser criticado, vira uma referência para o aluno
formado, mesmo após ter cursado a licenciatura. Além disso, pode comportar muitos
erros, que poderão ser adaptados ou modificados pelo saber experiencial e validado,
ou não, pelo saber da ação pedagógica.
O saber experiencial é aquele obtido através da prática diária, da
experiência, que com o tempo, viram regras e hábitos do professor. O saber da ação
pedagógica nada mais é que o saber experiencial dos professores testado através
das pesquisas realizadas em sala de aula, e publicado, tornando-o acessível a
outros profissionais. Segundo Gauthier, esse saber é, paradoxalmente, o menos
desenvolvido do reservatório de saberes do professor e o mais necessário à
profissionalização do ensino. Para Gauthier, "A determinação de um repertório de
conhecimentos específicos ao ensino, através da especificação dos saberes da ação
pedagógica, constitui atualmente um problema crucial que merece ser séria e
demoradamente considerado" (GAUTHIER, 1998, p.36).
Gauthier parece dar bastante destaque a esse último saber,
principalmente quando admite ser o mais necessário à profissionalização do ensino.
Em outras palavras, entendemos que o autor nos incentiva a refletir mais e melhor
sobre nossas práticas em sala de aula, reconhecendo nossos modos, as técnicas,
as regras, os comportamentos e truques que utilizamos no ofício para nossa prática
atingir os objetivos traçados. Isso nos estimula a não só reconhecer, mas também
validar, através de pesquisa, e publicar, oferecendo à categoria a oportunidade de
conhecer outras práticas docentes. Em resumo, o que Gauthier propõe é que se
façam mais pesquisas focadas no saber experiencial e o compartilhamento dessas.
fazendo com que seja impossível viver com as aquisições de uma formação
inicial que rapidamente se torna obsoleta e que seja mais realista imaginar
que uma formação contínua bem pensada dará novas receitas quando as
antigas “não funcionarem mais”; o professor deve tornar-se alguém que
concebe sua própria prática para enfrentar eficazmente a variabilidade e a
transformação de suas condições de trabalho. Se se quer que todos
alcancem os objetivos, não basta mais ensinar, é preciso fazer com que
cada um aprenda encontrando o processo apropriado. Esse ensino “sob
medida” está além de todas as prescrições. As competências profissionais
são cada vez mais coletivas no âmbito de uma equipe ou de um
estabelecimento, o que requer sólidas competências de comunicação e de
conciliação. Logo, de regulação reflexiva.” (PERRENOUD, 1999, p.11)
metodologia LS, que é o foco de nossa pesquisa. Assim como ocorreu na análise
das Diretrizes, observamos em SBEM (2003) alguns apontamentos que possuem
forte relação com a LS, destacados a seguir.
No que toca ao perfil do futuro professor, encontramos um estímulo à
criação e ao desenvolvimento de atividades desafiadoras para os alunos. Essa
proposta aparece naturalmente na LS, já que o plano de aula deve conter uma
atividade desafiadora como ponto de partida da aula. Quanto à recomendação de
que essas atividades estimulem os estudantes a coletar, organizar e analisar dados,
entendemos que ela está consoante com uma das principais características dos
planos de aula construído em uma LS, que é considerar o aluno como o agente
central da aula. Em outras palavras, queremos dizer que um plano de aula que
considera o aluno como agente central, certamente vai propor que o aluno abandone
a posição passiva na aprendizagem. Colocá-los para coletar, organizar e analisar
dados é uma forma de torná-los ativos.
Em relação à reorganização curricular, é sugerido que o licenciando seja
deslocado da posição passiva na aprendizagem para a posição ativa. Uma das
sugestões para que essa mudança ocorra, é que sejam desenvolvidas estratégias
para o intercâmbio de saberes profissionais entre os licenciandos. A LS é uma
metodologia que carrega em sua essência a ideia do compartilhamento, em todas as
suas etapas. Além disso, na LS, a todo instante é possível confrontar pensamentos e
ideias, avaliar o impacto de uma sugestão dada ou refletir sobre abordagens
didáticas adequadas aos fins propostos. Dessa forma, a LS se apresenta como uma
oportunidade de realizar "(...) a avaliação e revisão das formas de compreender e de
proceder, a partir de processos de autocrítica, de reflexão e de metacognição dos
processos desenvolvidos durante o exercício da ação docente." (SBEM, 2003, p.12).
Um dos problemas da licenciatura apontado pelo documento, é a
desarticulação entre os conhecimentos matemáticos e os conhecimentos
pedagógicos, assim como entre teoria e prática. Na LS, o licenciando tem a
oportunidade de criar, desenvolver, adquirir e refletir sobre abordagens didáticas dos
conteúdos matemáticos. Além disso, também tem a oportunidade de testar a
eficiência dessas abordagens na etapa em que o plano de aula é implementado.
Assim, acreditamos que a LS também é uma oportunidade de integração de
conhecimentos matemáticos e pedagógicos, de forma contextualizada e significativa.
30
2
Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento no Ensino de Matemática e das Ciências
34
quantos pedaços a tira ficará dividida? Assim, o professor ouvia as respostas dos
alunos, incentivando-os a justificar as respostas, oralmente ou no quadro-negro.
A atividade foi desenvolvida até o momento em que a tira recebeu cinco
dobras, já impossibilitada de ser cortada por uma tesoura. Em todas as etapas, a
pergunta era feita sempre antes do corte ser realizado. Além disso, o professor
sempre incentivava os alunos a apresentarem suas respostas.
A partir daí, o professor passou a conduzir a atividade com o objetivo de
explicitar a relação numérica entre a quantidade de dobras e a quantidade de
pedaços obtido através dos cortes. Para efeito de curiosidade, essa relação é dada
por P(d) = 2d + 1, onde d é a quantidade de dobras e P(d), a quantidade de pedaços,
em função de d.
Após a análise dessa aula, passamos a vivenciar as etapas da LS,
construindo um plano de aula centrado no aluno, contendo previsões de perguntas e
respostas dos alunos e nossas intervenções para cada caso. Discutimos também
sobre formas de enunciar o problema, dos momentos em que o corte poderia ser
feito, da fixação dos pedaços no quadro-negro, após o corte. Enfim, questões que
tinham como objetivo conduzir a aula de uma forma clara e objetiva.
A partir de nossa experiência piloto, pudemos observar alguns aspectos
do potencial dessa metodologia de pesquisa de aula. Por exemplo, os momentos em
que construímos o plano de aula, que contou com intensas discussões, assim como
ricas trocas de experiências. Aprendemos a explorar melhor um problema; a
identificar o potencial pedagógico das etapas de sua resolução; observamos
diferentes resoluções para uma mesma questão e também consideramos esses
diferentes caminhos para elaborarmos o plano de aula. Vale destacar que faziam
parte do grupo, quatro professoras do programa de mestrado, com muitos anos de
dedicação, pesquisa e experiência na área de ensino e alunos do mestrado, que
atuam como professores da Educação Básica. Em resumo, observamos o
desenvolvimento de nossos conhecimentos pedagógicos, assim como a mobilização
de saberes experienciais.
Quanto à etapa de implementação do plano de aula, essa nos
surpreendeu com o nível de participação e envolvimento dos alunos, inclusive
daqueles que apresentavam dificuldades na aprendizagem de matemática. A nosso
ver, isso se deu pela qualidade das questões propostas e pela forma com que a aula
foi conduzida, na qual houve um maior estímulo à participação dos alunos.
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Uma vez que esse olhar está sendo desenvolvido, podemos esperar que a
prática pedagógica desse professor passe a incorporar novas qualidades. Podemos
esperar, por exemplo, que suas aulas sejam melhor elaboradas, já que ela será
planejada, tendo em mente, os alunos que dela participarão. Como esses alunos
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passam a ser melhor compreendidos pelo professor, esse poderá adequar melhor o
nível e a quantidade das tarefas propostas para eles e selecionar as estratégias
mais eficientes para aquele grupo.
Esse olhar diferenciado também foi identificado em Baptista et al (2012).
Os autores observaram que a Lesson Study estimula o professor a ter um olhar mais
atento sobre os raciocínios e as dificuldades dos alunos. Esse estímulo pode,
segundo os autores, levar o professor a se questionar sobre as atividades que irá
propor e a maneira como ele gerencia a comunicação em sala. Além disso, permite
que ele assuma uma postura mais aberta à colaboração profissional, valorizando a
reflexão coletiva.
Neste texto, é apresentado uma experiência realizada no 7º ano do
Ensino Fundamental, de uma escola portuguesa, na qual foi explorado o conceito de
proporcionalidade direta. Como objetivo geral de pesquisa, pretendeu-se contribuir
para o conhecimento das possibilidades que a LS pode oferecer aos professores e
também dar visibilidade às aprendizagens profissionais realizadas pelos professores
participantes.
Nesse processo, segundo os pesquisadores, houve um intenso trabalho
de preparação de um planejamento por parte dos professores participantes, feito em
cinco sessões, com duração de uma hora e meia, cada.
No primeiro encontro, definiu-se a questão de interesse (a compreensão
que os alunos têm do conceito de proporção direta), a turma (7º ano) e o professor
que lecionaria.
Já no segundo, os professores começaram a fazer um reconhecimento
geral do tópico (proporção) no programa e nos manuais escolares disponibilizados;
selecionaram tarefas em materiais pedagógicos e discutiram sobre as possíveis
dificuldades que os alunos encontrariam, a partir da resolução de uma determinada
tarefa.
Os objetivos da aula e a questão a ser trabalhada, foram definidos no
terceiro encontro, que também contou com um estudo do artigo sobre exploração e
investigação em Matemática (Ponte, Quaresma & Branco, 2011), que viria a inspirar
o planejamento da aula. O destaque desse encontro foi a elaboração de uma tarefa
de diagnóstico sobre os conhecimentos dos alunos, relativos ao conceito de
proporcionalidade direta, a ser aplicado antes do início do planejamento da aula, de
fato.
38
A análise dos dados obtidos por essa tarefa foi realizada no quarto
encontro. Essa análise permitiu aos professores uma melhor preparação para a aula
que eles viriam a aplicar. Por exemplo, a partir dessa tarefa, constatou-se que
diversos alunos deixaram de resolver duas questões por desconhecerem o
significado dos termos diretamente proporcional e constante de proporcionalidade.
Outras questões, relacionadas às respostas dos alunos, foram analisadas. Essa
análise, segundo os autores, se mostrou relevante, definindo alguns caminhos para
a construção do planejamento.
Como objetivos para a aula, a ser observada, foi definido que os alunos
deveriam: reconhecer a constante de proporcionalidade, exprimir relações dadas em
tabelas, utilizando linguagem algébrica, e relacionar gráficos cartesianos e
expressões algébricas. Por fim, decidiram que a aula seria constituída por cinco
partes: introdução da tarefa (10 min), realização da primeira tarefa (30 min),
discussão coletiva das respostas da primeira tarefa e síntese (20 min), realização da
segunda tarefa (15 min) e outra discussão e síntese (15 min).
Na quinta sessão, foi feita uma revisão do plano de aula construído, o que
motivou a modificação de algumas questões. O modo de apresentação das tarefas,
a previsão das dificuldades que os alunos encontrariam, as ideias a serem
destacadas na síntese final e os processos de observação da aula também foram
definidos nessa reunião.
A partir da implementação do plano de aula, e de toda a experiência vivida
pelos professores, os pesquisadores constataram que a experiência favoreceu a
aprendizagem profissional, que podem ser organizadas em: processos de raciocínio
e dificuldades dos alunos, seleção das tarefas, gestão da comunicação na sala de
aula e colaboração profissional.
Segundo os pesquisadores, a participação na LS levou os professores a
estarem mais atentos aos processos de raciocínio empregados pelos alunos e às
tarefas propostas em sala de aula. Uma participante revelou que a LS lhe permitiu
"(...) conhecer melhor [as] potencialidades e dificuldades das tarefas” (p. 10) a
realizar com os seus alunos. Outro relato apontou que a LS proporcionou “uma
reflexão mais aprofundada sobre a importância da realização de tarefas de
exploração e investigação em sala de aula” (p. 10).
Relacionando essa tomada de consciência sobre o potencial da utilização
de tarefas, em sala de aula, aos conhecimentos e saberes docentes, identificamos
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a isso, completam dizendo que a LS, muitas vezes, constrói uma comunidade unida
onde os professores partilham experiências e vulnerabilidades a partir das quais a
aprendizagem profissional e mudanças pedagógicas podem surgir.
Um dos resultados dessa pesquisa aponta que a participação em uma LS
incentivou os professores a refletirem criticamente sobre suas próprias práticas
pedagógicas e isso os ajudou a desenvolver uma prática de investigação, o que
causou transformações em suas atitudes em sala de aula. Além disso, as autoras
relatam que as equipes LS estabeleceram uma nova rede de apoio em todo o distrito
escolar, permitindo-lhes sobreviver a uma administração em que a liderança do
professor era subjugada por meio de políticas de tomada de decisão de cima para
baixo, dando-lhes esperança de um futuro no qual a atenção para a educação
matemática ressurgirá. Observe que nesse exemplo, os impactos extrapolaram a
prática pedagógica do professor, chegando à esfera administrativa.
Ainda sobre formação de professores, em Isoda et al (2007, p.xvi)
encontramos que subjacente à prática da Lesson Study, está a ideia de que os
professores possam aprender melhor e melhorar a sua própria prática vendo outros
professores ensinarem. Existe também, a expectativa de que os professores que
desenvolveram profunda compreensão e habilidade pedagógica sejam encorajados
a compartilhar seus conhecimentos e experiências com os colegas, possibilitando
assim, o desenvolvimento de seus saberes experienciais. Além disso, os autores
ratificam a importância dos vários ciclos de refinamento do plano de aula, já que isso
implica na melhoria da qualidade da aprendizagem do aluno.
Em Meyer e Wilkerson (2011) encontramos uma investigação onde as
autoras analisam o impacto que a LS causou nos conhecimentos necessários para o
ensino de Matemática de um grupo de professores da Educação Básica. As análises
mostram que alguns fatores particulares da LS proporcionaram boas oportunidades
para observar os conhecimentos matemáticos de professores para o ensino. Esses
fatores, chamados de “janela de oportunidades”, estão relacionados à capacidade
do professor de : a) criar um plano de aula ou fazer alterações significativas em um
plano já existente, b) prever perguntas e respostas dos alunos e c) atribuir
importância à discussão do conteúdo, e não apenas à implementação do plano de
aula. Identificamos aqui oportunidades para o desenvolvimento do saber pedagógico
de conteúdo, do saber experiencial e do conhecimento de conteúdo específico,
respectivamente.
41
3. O percurso metodológico
3.1 A inspiração
Aula 1
Objetivo geral: capacitar os licenciandos para uma vivência na LS
Aula 2
Objetivo geral: Iniciar o processo de construção do plano de aula (etapa 1 da LS)
Aula 3
Objetivo geral: Finalizar a construção do plano de aula (etapa 1 da LS)
O fato de novos alunos terem aparecido pela primeira vez apenas na aula
5
O Apêndice K contém uma lista com as referências bibliográficas dos materiais disponibilizados
51
Aula 4
Objetivo geral: Executar e analisar a aula (etapas 2 e 3 da LS)
A análise da aula foi feita por ambos os grupos, que compartilharam seus
registros, refletiram sobre eles e sobre os objetivos postos para os aprendizes;
compararam e contrastaram o que foi planejado com o que foi feito. Também
avaliaram a aula no que tange à sequência e estratégias utilizadas, assim como a
postura do aplicador, discutindo sobre o que fez e o que poderia ter sido feito. A
professora da disciplina e o pesquisador participaram da discussão com o objetivo
de conduzi-la, enriquecê-la com suas experiências da prática profissional, com seus
conhecimentos teóricos e opinaram sobre a atuação do aplicador e sobre o plano de
aula, pois fizeram parte do grupo de observadores e críticos da aula. Vale atentar
que o primeiro a dar o parecer foi o aplicador.
A reconstrução do plano de aula também deveria fazer parte desta aula,
assim como da aula 5. Por questões de tempo, essa etapa não foi realizada.
Aula 5
Objetivo geral: Executar e analisar a aula (etapas 2 e 3 da LS)
3.4 O questionário
( ) indiferente.
Através da questão 5, desejamos identificar as emoções que a LS
despertou nos licenciandos. A avaliação das sensações que a vivência na LS causa
nos licenciandos nos parece ser um relevante dado a ser considerado, quando se
trata da viabilidade de sua implementação na licenciatura.
Questão 6: “O que você achou da atividade de assistir um vídeo de uma
aula real e discutir sobre ele? Comente.”
Na análise da aula 1, observamos os ganhos que essa atividade pode
trazer para a formação dos licenciandos. O objetivo dessa questão é complementar
a análise, trazendo o olhar do licenciando sobre essa atividade.
Questão 7: “Como foi preparar uma aula em conjunto? Comente.”
Atividades coletivas oferecem obstáculos naturais, principalmente no que
tange à diferença de opiniões. Com essa questão, objetivamos não apenas
identificar se os licenciandos encontraram esse tipo de obstáculo durante a
elaboração do plano de aula, mas também outras dificuldades e benefícios.
Questão 8: “Gostaria de fazer alguma observação, comentário ou crítica
sobre essa vivência?”
A penúltima questão teve como objetivo recolher mais relatos
espontâneos, relacionados ao processo vivenciado, que não foram contemplados
pelas outras questões.
Questão 9: “O que você aprendeu nessa vivência?”
Por fim, essa questão visou identificar os ganhos obtidos através da
vivência da LS, na opinião dos próprios licenciandos.
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4.1 Aula 1
4.2 Aula 2
das escolas públicas e de uma escola particular, em que Diana trabalha, foi o
primeiro contato que sete licenciandos, dos onze presentes, tiveram com algum tipo
de currículo escolar. Nessa atividade eles puderam observar os conteúdos cobrados,
as competências desejadas e os anos em que cada conteúdo e competência são
trabalhados, assim como discutir a ordem de aparecimento dos conteúdos nos
currículos. Nessa atividade a ênfase foi a construção do conhecimento curricular dos
licenciandos.
Em seguida, como preparação para a última atividade do dia, construção
do plano de aula, pedimos para os grupos realizarem as seguintes tarefas: a) discutir
sobre seus conhecimentos teóricos relacionados ao tópico do currículo que eles
receberiam; b) identificar os seus pré-requisitos e c) a justificativa para seu ensino,
tanto no sentido prático (aplicação no cotidiano), como acadêmico.
Observamos que apenas o Grupo 2 respondeu ao primeiro item, apesar
de terem demonstrado dúvida sobre o que era para ser feito. Seu registro escrito
apontou que, dentre os cinco licenciandos, somente um possuía o conhecimento do
conteúdo específico relacionado à proporcionalidade. Os demais revelaram possuir
apenas noções básicas desse conteúdo. O grupo percebeu que era preciso
conhecer melhor o assunto e começou a discutir a partir do que sabiam. Não
observei a iniciativa de buscarem tal conhecimento nos materiais didáticos
disponibilizados. Já o Grupo 1 considerou que o fato de estarem trocando ideias
sobre como abordar o tema já era uma forma de cumprir o primeiro item. Desse
grupo, durante toda a aula, apenas um aluno recorreu aos materiais didáticos
disponibilizados, retornando ao grupo de mãos vazias.
Mesmo sendo um assunto básico da matemática, a proporcionalidade não
é um tema dominado por aqueles licenciandos. A discussão possibilitou a eles o
contato com o conhecimento do conteúdo específico em algum nível e de maneira
informal.
Em relação ao segundo item, os grupos não apresentaram dificuldades,
apesar de não terem respondido detalhadamente. Porém, consideramos que suas
respostas foram suficientes para a realização da atividade. De um modo geral,
entendemos que foi um momento de compartilhamento de alguns aspectos do
conhecimento curricular que cada um possui.
Quanto ao terceiro item, observamos que o Grupo 2 entende que o ensino
de proporção se justifica por ser pré-requisito para outros temas, de outras
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disciplinas inclusive, e por ter aplicação no cotidiano. O Grupo 1 terminou a aula sem
responder esse item.
Percebemos que ambos os grupos focaram a atenção não nessa
discussão inicial, mas na construção do plano de aula. Na verdade, observamos que
ambos os grupos se sentiram desorientados para a referida discussão. Após a
realização da experiência, notamos que é necessário incluir, antes da etapa de
construção do planejamento, uma discussão sobre a importância e as conexões com
o conhecimento da matemática superior e sobre a natureza daqueles tópicos dentro
do currículo escolar e, por fim, a definição do público-alvo das aulas a serem
construídas. Acreditamos que essas tarefas podem deixar os licenciandos mais
seguros, direcionados e preparados para a construção do plano de aula.
Apesar de não termos orientado os licenciandos adequadamente,
esperávamos encontrar algum tipo de discussão, visando a construção do plano.
Porém, eles parecem não possuir ainda algum tipo de ritual, procedimento ou
protocolo que os permitam construir um plano de aula, o que aponta uma lacuna que
a experiência possibilitou, de certa forma, reduzir. Tal lacuna não estava prevista, já
que todos os licenciandos participantes dessa experiência cursaram a disciplina
Didática da Matemática I, na qual o tema plano de aula foi abordado. Em relação ao
Grupo 1, aquela conjectura se apoia no fato de terem começado a construção do
plano pela criação do problema inicial, sem terem definido os objetivos da aula. A
busca pelo enunciado desse problema ocupou a maior parte do tempo da aula. Ao
receberem a estrutura do plano de aula, já no final da aula, encontraram dificuldade
para preenchê-lo. Nesse momento, Bernardo, um dos integrantes, exclamou “A
gente tá pensando muito no problema e pouco no que a gente quer ensinar”. De
fato, o grupo não tinha chegado a uma conclusão sobre os objetivos da aula que
dariam e, por isso, naturalmente encontraram dificuldades para escolher ou construir
um problema. Mesmo não tendo decidido os objetivos, voltaram a trabalhar na
construção do problema, tarefa concluída apenas na Aula 3.
No Grupo 2, esse processo também começou de forma não linear, como
no outro grupo. Seus primeiros passos consistiram em identificar situações do
cotidiano que poderiam motivar a turma para a aprendizagem do tema
proporcionalidade, na definição do ano escolar em que essa aula seria dada e, como
no Grupo 1, pela construção do problema inicial.
Sobre as características que o plano de aula deveria conter, foi possível
60
observar o esforço para que essas estivessem presentes. Durante sua construção,
foi possível ouvir frases como “Esse problema é muito simples”, “Está muito forçado
esse enunciado” e “Esse problema pode ser resolvido sem o conteúdo em questão”,
revelando que os licenciandos buscaram incluir no plano de aula um problema
desafiador, bem elaborado e relacionado ao objetivo da aula. Outro fato que mostrou
esse esforço foi a preocupação que tiveram em construir uma aula na qual ficasse
claro o porquê da regra da divisão entre frações ser como é e, já no outro grupo, na
tentativa de inserir a utilização de computadores na atividade. Identificamos também,
principalmente no Grupo 2, a busca por possíveis perguntas que os alunos fariam a
partir das tarefas propostas.
Vale registrar que eu e Diana não realizamos intervenções nessa etapa,
contribuindo apenas com o esclarecimento de pequenas dúvidas, que não
interferiram nos rumos do planejamento. Todo o processo criativo do plano de aula
foi realizado apenas pelos próprios grupos. Além disso, não houve, de nossa parte,
qualquer tipo de revisão dos planos construídos, principalmente por terem sido
entregues bem próximo ao início de sua implementação. A falta de tempo nos
impediu de realizar essa tarefa.
Repare que a etapa de construção do plano de aula se mostra útil para o
professor e para o licenciando: pudemos avaliar o conhecimento que os licenciandos
possuem sobre como se construir um plano de aula e os licenciandos tiveram a
oportunidade de observar e avaliar seus próprios conhecimentos acerca dessa
construção. Eles puderam não só identificar as dificuldades naturais e os obstáculos
que surgem nessa construção, mas também vivenciar tudo isso, o que pode tornar a
aprendizagem mais efetiva.
Em relação ao fato desse processo ser vivenciado em grupo, observamos
que em todo o tempo as opiniões declaradas foram consideradas pelos grupos. Em
geral, os licenciandos demonstraram possuir a capacidade de trabalhar em equipe.
O compartilhamento de conhecimento foi intenso e constante.
Essa capacidade não nos parece ter ligação com a LS, ou seja,
acreditamos que uma troca como essa, também ocorreria se Diana tivesse passado
um simples trabalho em grupo. Nesse caso, o fato do trabalho colaborativo fazer
parte da LS, serviu para eles vivenciarem a construção de um plano de aula
coletivamente, oportunidade que dificilmente eles encontrarão em suas vidas
profissionais.
61
4.3 Aula 3
comentário de Bernardo dizendo que, inicialmente, como esse tipo de aula não está
nos moldes mais comuns, isso pode ser um obstáculo, descaracterizando a aula e
podendo dar a entender que não é de Matemática. Para exemplificar, citou as aulas
preparatórias para a OBMEP de uma escola municipal em que estagiou. Segundo os
alunos, apesar da aula ser de matemática, eles costumavam gostar mais do que a
aula regular pelo fato de serem aulas diferentes, com questões desafiadoras.
Bernardo também destacou a importância da participação do aluno, pois do
contrário, a aula se torna cansativa, fazendo com que o aluno sinta necessidade de
se levantar da cadeira ou iniciar uma conversa com algum amigo. A partir desses
comentários, pudemos avaliar as opiniões dos licenciandos sobre uma aula na qual
o aluno tem espaço para se expressar; em que ele é o agente central.
A próxima atividade consistiu na divisão dos grupos para a finalização do
plano de aula. Das discussões surgidas durante o processo vivenciado pelo grupo 1,
destacamos algumas, a começar pela observação de Daniel, referente ao cuidado
que se deve ter quando se elabora um enunciado. Seu grupo tinha proposto o
seguinte problema: “Cinco amigos pediram uma pizza. Supondo que cada um
comeu três pedaços, como saber em quantos pedaços a pizza veio cortada?”.
Daniel apontou que era preciso incluir no enunciado o fato de que não sobraram
pedaços. Sua observação foi importante, já que muitas vezes, sem intenção,
suprimimos palavras ou trechos sem perceber o prejuízo que isso pode causar no
entendimento do leitor. No caso do problema proposto, da forma que foi escrito,
seria um problema aberto. Era preciso saber se restaram pedaços ou não. Escrever
enunciados claros e estabelecer uma comunicação sem entraves são capacidades
que o professor deve possuir.
O segundo destaque tem como ponto de partida o comentário de
Bernardo, que sugeriu inserir um momento na aula para perguntar ao aluno qual o
significado de divisão. Carlos achou desnecessário e citou o exemplo da aula-em-
vídeo 1, onde o professor tinha como objetivo usar uma tabela para resolver o
problema e não perguntou o significado disso para a turma. Para Bernardo, era
importante ajudar os alunos a relembrarem que a divisão está relacionada à ideia de
distribuição, ação presente no problema. Carlos entendeu que isso não estava de
acordo com os objetivos de uma aula com a característica de ser desafiadora. A
nosso ver, para Carlos, relembrar o significado da divisão é furtar do aluno uma
oportunidade de realizar uma descoberta. O enunciado elaborado “Cinco amigos vão
63
a um restaurante comer uma pizza que vem cortada em dez partes iguais. Quantas
fatias cada um vai comer, de modo que cada um coma a mesma quantidade que o
outro?” não cita o termo divisão. Citar essa operação induziria o aluno a pensar nela
para resolver o problema, enquanto que o ideal seria que ele chegasse nela por si.
Acreditamos que essa discussão ampliou o entendimento dos
licenciandos sobre as características de uma aula contendo problemas desafiadores.
A partir de nossas experiências observamos que é comum encontrarmos
professores que antecipam os obstáculos que os alunos possam encontrar, o que
pode tornar a aula menos desafiadora.
O último destaque vai para o momento em que Daniel perguntou para o
grupo como interpretar uma divisão entre duas frações, o que gerou
aproximadamente vinte minutos de discussão. Bernardo rapidamente sugeriu a ideia
de verificar quantas vezes a segunda fração cabe na primeira. Porém, encontraram
muitas dificuldades para exemplificar esse processo, o que motivou Osvaldo a
consultar um livro de ensino fundamental. O grupo verificou que a estratégia
utilizada pelo livro era a mesma que eles estavam utilizando, sendo que a do livro
estava muito resumida, o que não lhes possibilitou esclarecimentos. Essa estratégia
consistia em calcular quantas vezes o divisor cabe no dividendo.
Esse momento nos chamou a atenção pelo fato de nos mostrar que,
mesmo estando esses licenciandos no final do curso, ainda não possuem
representações, explicações e exemplos de um assunto básico da matemática.
Identificamos aí uma oportunidade de desenvolvimento do conhecimento
pedagógico de conteúdo relacionado à fração.
Assim como o grupo 1, o destaque do grupo 2 foi a valorização da
construção de um enunciado bem formulado e desafiador. Além disso, o grupo
esteve bastante preocupado com a construção de uma boa sequência didática, que
permitisse o aluno a chegar aos objetivos estabelecidos. Destaco um comentário de
Danilo questionando o que levaria o aluno, a partir da visualização de fotografias, a
associá-las à imagem de um retângulo, da sua diagonal e da medida de seus lados.
Romário e Júnior esperavam que os alunos fossem capazes de identificar que a
ampliação perfeita poderia ser justificada pela medida dos lados da fotografia
original e da ampliada e, em seguida, pela igualdade de suas razões. Para Danilo, a
passagem da visualização das imagens para o cálculo das medidas, não é óbvia e
nem imediata.
64
4.4 Aula 4
Descrição da etapa 2
Antes de iniciar a aula, expliquei para os grupos quais seriam seus papéis
durante o desenvolvimento desta. O papel do grupo 1 consistiu em observar a aula e
fazer registros relacionados à implementação do plano de aula, à execução da aula
e aos comentários e comportamentos surgidos por parte dos componentes do grupo
2, que exerceram o papel de aprendizes. Em seguida, pedi para que os
66
mundo comeu três pedaços e agora eu quero construir a pizza, vamos pensar
assim. Eu tenho a pizza aqui na minha frente, não tenho mais, só tenho o negócio e
agora eu quero saber quantos partes a pizza foi dividida, sabendo que cada um
comeu 3.
respondeu que poderia dividir a pizza, inicialmente, em cinco partes e, depois, cada
parte em três. Bernardo se mostrou satisfeito com a resposta e pediu para que a
turma representasse esse comentário na forma algébrica. Durante a discussão,
podemos observar que Bernardo induziu os alunos a responderem corretamente.
anterior?”.
Diana e Danilo deram uma sugestão de forma a resolver esse problema
numericamente. Júnior preferiu através da representação geométrica, opção
escolhida por Bernardo. A estratégia escolhida inicialmente para representar a
divisão de 2/3 por 3 foi dada por Júnior. Primeiro, ele sugeriu representar 2/3 da
pizza. Para evidenciá-la, ao invés de pintar a região equivalente a 2/3, ele sugeriu
apagar o 1/3 restante. Em seguida, pediu para dividir cada fatia em três partes.
Bernardo não apagou o 1/3 restante e, após dividir as duas fatias em três partes
cada, ficou confuso com a representação obtida. Júnior também se mostrou confuso
e sugeriu resolver a questão apenas numericamente, através do cálculo 2 / (3 x 3).
Bernardo insistiu em resolver através da representação geométrica.
Após discussão, Júnior identificou que a resposta do problema era 2/6,
pois a pizza estava dividida em seis partes. Ele estava considerando apenas os dois
terços iniciais, cujas fatias tinham sido repartidas em três. Bernardo percebeu o erro
e pediu para que considerasse a quantidade de pedaços da pizza toda. Apenas
Clóvis e Danilo demonstraram perceber que o resultado era 2/9.
Bernardo sugeriu mais um exemplo semelhante ao anterior, cuja resposta
viria do cálculo de 5/6 : 10. Clóvis comparou esse cálculo com o da questão anterior,
trocando apenas os números que estavam na mesma posição, encontrando 5/
(6x10). Sem ouvir justificativas de Clóvis, Bernardo afirmou:
Bernardo: 6 x 10, porque você dividiu a pizza primeiro em seis pedaços,
certo? Tomou um pedaço desses 6 e dividiu agora cada pedaço em dez, não é? E
depois somou 5, 10 + 10 + 10 , cinco vezes, né? Foi o que você disse, né? Isso vai
dar? O total todo vai dar 60, né?
Em seguida, continuou:
Bernardo: Isso, porque você vai pintar as cinco primeiras. Acho que não
ficou bem claro o que o Clóvis falou. Ele desenhou a pizza. Ele dividiu em seis
pedaços. Vou dividir em seis. E aí ele pegou cinco pedaços, né? Vou colocar um
pontinho pra representar os cinco pedaços. Aí ele pega cada pedaço e divide em
dez. Como ele pegou cada pedaço e dividiu em dez, mas ele não queria dividir em
dez, ele queria dividir em cinco, ele queria dividir em dez em tudo, então ele pega
cinco pedaços de cada um, que nem ele fez aqui, certo? Ele divide aqui em dez.
Júnior: Não era pegar os cinco não?
Bernardo: Tá aí dez pedaços, certo? Ai fez isso nos dez, não foi o que
72
você disse? Fez isso nos dez aqui? Em todos eles. Aí agora, a minha pizza tá
dividida. Aí, eu pego de cinco em cinco né? Alguma dúvida?
Após breve discussão, Diana e Danilo demonstraram entender o motivo
da resposta ser 5/60. Bernardo registrou no quadro “ 5/6 / 10 = 5/ (6 x 10) = 5/60 ”.
Para finalizar a aula, Bernardo pede para a turma resolver 21/3 : 7, mas
sem utilizar representação geométrica.
Júnior: Seria 21/(3 x 7)?
Bernardo: Isso, né? Então o que que a gente concluiu aqui?
Júnior: É só repetir o primeiro número e multiplicar os outros?
Bernardo: Não é bem isso não. Repetir a primeira fração e multiplicar o
denominador pelo sete. Então, seria isso né? Tudo bem? Então a aula de hoje era
isso, concluir que: dividir uma fração por um número inteiro é multiplicar o
denominador dessa fração pelo número inteiro.
outro?”. A nosso ver, esse problema não é desafiador, no sentido de que pode ser
facilmente resolvido por um procedimento básico de distribuição. Além disso, não
requer a utilização de qualquer conteúdo matemático.
Além da utilização de um problema desafiador, outra importante
característica de uma aula centrada no aluno, é a constante participação dos alunos,
que foi pouco explorada naquela aula. Durante a maior parte do tempo, assistimos
Bernardo assumindo uma postura centralizadora, algo muito comum em nossa
realidade escolar. Apesar de questionar a turma, em alguns momentos, quando não
induzia a resposta e quando não se precipitava, ele não aguardava tempo suficiente
para os alunos responderem.
Em resumo, não identificamos a presença de um problema desafiador,
assim como atitudes do professor que nos permitissem entender que ele considera o
aluno como o agente central da aula. Além disso, também observamos pouco
estímulo à criatividade. Sendo assim, podemos afirmar que, de uma forma geral, a
aula não foi centrada no aluno.
Em relação ao planejamento, observamos que suas colunas foram
preenchidas corretamente e sua aplicação correspondeu ao planejado, apesar de
não apresentar, com detalhes, toda a sequência didática implementada por
Bernardo. Durante a aula, foi possível reconhecer todo o conteúdo previsto na
coluna “Sequência didática (questões, problemas e atividades propostas)”.
Apesar da coluna “Intervenção a ser realizada pelo professor” ter sido
pouco preenchida, é possível encontrar intervenções coerentes, sugeridas como
resposta ao conteúdo da coluna “Possíveis perguntas e respostas dos alunos”,
amplamente preenchida. A primeira coluna citada foi preenchida com as seguintes
intervenções: “Pediremos aos alunos que venham ao quadro representar essa
situação” e “Pediremos que exponham dúvidas (se tiver) sobre o problema”. Na
segunda coluna, encontramos: “Podemos distribuir uma fatia para cada até que as
fatias acabem?” e “Dividir 10 por 5”. Não observamos, durante a aula, a primeira
intervenção.
Em relação à coluna “Pontos a serem observados na aula”, o grupo a
preencheu com os seguintes pontos: observar se os alunos representam o problema
utilizando o desenho de uma pizza, verificar se os alunos entendem a proposta da
aula e verificar o número de alunos participantes. Dentre esses, apenas o primeiro
ponto não foi cumprido.
74
divisão para os alunos, já que o tópico a ser ensinado era divisão entre frações. Ele
nos contou que a intenção da sequência didática elaborada foi de elevar a
dificuldade das questões conforme a aula fosse se desenvolvendo, o que justificaria
o problema não ser desafiador, a princípio.
Em seguida, com a intenção de eleger a melhor, discutimos sobre esse
tipo de sequência didática, comparando-a com aquela em que a dificuldade
decresce ao longo da aula. Os licenciandos concluíram que a escolha depende da
turma.
Uma longa discussão sobre organização do quadro ocorreu na análise da
aula. Bernardo não utilizou o quadro de forma tradicional, ou de forma linear, termo
cunhado por ele, na qual cada nova informação não aparecia necessariamente
abaixo da última registrada por ele. Alguns licenciados identificaram isso como um
problema, já que não sugere uma organização. O próprio aplicador, Bernardo,
considerou que uma forma não linear pode ser uma forma de sair da rotina.
Adicionei à discussão o ambiente de internet, o qual é muito familiar aos jovens e
cuja disposição das informações não é linear. A partir dessa discussão, Bernardo
afirmou que costumamos ter medo de propor novidades e de tomar atitudes
diferentes. Para ele, usar o quadro de forma não linear é uma forma de inovar.
Destacou que é preciso testar, por em prática as ideias, pois apenas dessa forma
será possível verificar seus impactos. Para exemplificar, citou sua aula, na qual
apenas a partir dela pôde perceber seus erros.
Essa etapa da LS possibilitou que Diana e eu pudéssemos compartilhar
nossas experiências da prática profissional, ou seja, nossos saberes experienciais,
discutindo com a turma sobre algumas posturas e atitudes que Bernardo adotou.
Muito do que foi discutido, apenas foi possível por termos tido a aula de Bernardo
como ponto de partida. Sobre essas posturas adotadas, destacamos as duas
observações que se seguem.
A primeira delas se refere ao momento da aula em que Diana, atuando
como aprendiz, respondeu ao professor que, para dar continuidade ao processo em
discussão, era preciso dividir a figura em dez partes. Bernardo perguntou “Você tem
alguma estratégia para dividir isso aqui em dez partes?”. Destacamos a importância
de perguntas desse tipo durante uma aula, uma vez que existem diversas maneiras
para dividir uma figura ao meio.
Apesar de Bernardo ter se utilizado de perguntas como essa, em outros
78
momentos da aula, ele não aguardava tempo suficiente para que os alunos
respondessem, emendando com uma outra pergunta ou a resposta da questão
proposta. Essa discussão deu início a uma outra, sobre técnicas para lidar com a
indisciplina de uma turma. Júnior, Osvaldo, Jader e Danilo relataram experiências
próprias sobre o assunto, expondo suas técnicas para contornar os problemas que a
indisciplina causa em uma aula.
Os relatos trazidos pelos licenciandos estão relacionados às suas práticas
em sala de aula; às suas experiências como professor. Por isso, podemos dizer que
essa discussão possibilitou o compartilhamento de saberes experiencias.
A segunda passagem está relacionada aos momentos em que Bernardo
utilizou a fala incompleta do aluno para dar prosseguimento à aula. Por exemplo, em
resposta à pergunta “O que podemos falar da divisão de uma fração por um número
natural?”, um aluno respondeu apenas “Multiplicar”. Em seguida, Bernardo
respondeu “Isso. Multiplicar o denominador por esse número”. Não foi possível
verificar se essa era a intenção do aluno ao responder “Multiplicar”. No entanto,
Bernardo, sem verificar a validade da resposta, deu continuidade à aula. Discutimos
sobre esse tipo de atitude, destacando a importância de o professor observar seus
atos e hábitos. Além disso, destacamos que o que é óbvio para o professor pode
não ser para o aluno.
Ainda falando sobre hábitos, mas não mais sobre aqueles observados em
Bernardo, citei o seguinte exemplo: “Provavelmente aqui todo mundo já vivenciou
isso, principalmente na época que a gente era pequeno. A professora falava assim: “
três vezes cinco é quin...” e a turma termina “zeee”. A partir desse exemplo,
passamos a discutir sobre alguns vícios que apresentamos ao lecionar. Diana e
Carlos nos contaram sobre o hábito de repetir expressões como “Tá certo?” e
“Entendeu?”.
Nossa intenção, com essas observações, foi mostrar para os futuros
professores a importância do hábito da autoanálise, da reflexão sobre a própria
prática, reconhecendo os vícios e as atitudes inadequadas presentes em nosso
modo de agir em sala de aula. Reconhecemos nessa prática um exercício de
reflexão sobre os próprios saberes experienciais.
Diana continuou a discussão sobre a aula implementada por Bernardo,
sugerindo a utilização de projetor multimídia para a exibição da pizza dividida, já que
essa imagem exige capricho e tempo. Em seguida, abriu uma discussão sobre o
79
4.5 Aula 5
Descrição da etapa 2
de água com partes de suco concentrado. Foi combinado que, para ser considerado
com sabor normal, o suco deveria ser feito utilizando-se "uma parte de suco para
dez de água".
Para dar continuidade, João citou um exemplo de suco concentrado, na
forma de pó, lembrando que 20g desse pó produz 2L de suco com sabor normal. Em
seguida, perguntou para a turma qual a quantidade de pó necessária para fazer 8L
de suco com sabor normal. Carlos responde 80g e, após ser questionado por João,
justificou, dizendo que bastava fazer de dois em dois litros, repetindo esse processo
quatro vezes. João registrou essa informação no quadro e perguntou para a turma
se essa estratégia estava correta, ouvindo uma resposta positiva de todos.
Visando estimular a turma a encontrar uma relação entre a quantidade de
pó e a quantidade de água necessárias para fazer um suco com sabor normal, João
alterou os dados da última questão, perguntando "Imaginem que eu quero fazer um
litro de suco normal. Como faço?". Mário respondeu 10g. Nesse instante, João
entregou uma tabela para a turma e sugeriu que esse dado, assim como aqueles da
pergunta anterior, fossem registrados nela.
Assim que a turma preencheu a tabela, João questionou se existia alguma
relação entre a quantidade de pó e de água. Mário sugeriu a utilização de diagramas
e a sinalização das correspondências entre esses. Bernardo, a partir dos dados
observados, respondeu "Quando você quadriplicou uma quantidade, a outra também
ficou quadruplicada. Quando dividimos por 2 a quantidade de litros, a de gramas
também ficou dividida por 2. A quantidade de gramas é igual a número de litros
vezes 20 gramas.".
A fala de Bernardo foi seguida de uma interessante discussão iniciada por
Carlos, através da pergunta "E se for litro quebrado?", referindo-se a quantidades
decimais. Diana emendou "E se for 1,5L?". João passou essa tarefa para a turma.
Bernardo foi quem respondeu, dizendo "Divide o pó [10g de pó] em duas partes, que
vai dar 5g. Então pra completar 1,5L pego 10g e junto com 5g. Carlos perguntou
para Bernardo "Porque 5g?", ouvindo como resposta "Porque eu sei que 10g faz 1L.
Pra fazer 0,5L, preciso da metade de pó, ou seja, 5g".
A resposta de Bernardo não foi registrada por João, que se mostrou
interessado em continuar a explorar as relações existentes entre as grandezas,
sugerindo a seguinte questão: "Então, 1L de água com 10g de suco, temos um suco
normal. Tá! Se eu aumentar a quantidade de gramas pra 20 e aumentar a
83
quantidade de água pra 10, o suco fica normal?". Diana respondeu que não,
justificando que as quantidades foram aumentadas de maneira diferente.
Logo após esse momento, João desabafou "Caramba, eu me perco".
Como não estava encontrando o fio condutor de sua aula, ele viu na introdução da
razão uma saída para dar continuidade à aula, escrevendo no quadro 1L/10g e,
após ouvir alguns comentários, ele completou, registrando 1L/10g = 0,1g/L. Logo em
seguida, apagou essa igualdade e disse "Acho que fiz besteira". João não parecia
ter conhecimento pleno do plano de aula e todo o resto da aula foi prejudicado por
isso.
Carlos percebeu que seria melhor que João utilizasse a razão 10g/1L e,
por isso, pergunta "Professor, eu não posso dividir ao contrário?". Esse comentário
fez João perceber que a razão inversa estava mais de acordo com a discussão,
aceitando a sugestão e registrando no quadro "10g/1L".
Com a intenção de identificar as razões associadas à receita que produz
suco com sabor normal, João perguntou quantos gramas de pó eram necessárias,
quando se utiliza dois litros de água. Em seguida, alterou para três. A turma
respondeu corretamente, e sem dificuldades. A pedido de João, os alunos
registraram esse dado na tabela.
Após os registros, João comentou "Então, percebe uma coisa. O que
acontece se a gente fizer essa mesma divisão (aponta para o quadro a parte que
contém as seguintes informações: 1L - 10g, 2L - 20g, 3L - 30g)? Quero dizer, se
dividirmos as quantidades de gramas pela quantidade de litros, o que acontece?".
Como toda a turma identificou que o quociente era sempre 10, João registrou no
quadro 10g/1L = 10g/L, 20g/2L = 10g/L, 30g/3L = 10g/L.
Com a intenção de identificar as razões associadas às receitas que
produzem suco com sabor forte e fraco, João passou a alterar a quantidade de pó,
levando a turma a identificar que as razões 20g/1L, 40g/1L e 60g/1L referem-se ao
suco forte e que 5g/1L e 3g/1L ao suco fraco. Segue o diálogo:
João - Então veja bem, pro meu suco ficar normal, tá sempre dando
10g/L, beleza? Agora imagina que eu mantive constante isso aqui (aponta para o
quadro, a informação 1L) e coloquei 20g (escreve no quadro 1L - 20g) de suco. Esse
suco está forte, normal ou fraco?
Carlos e Bernardo - Forte
João – Por quê?
84
respostas dos alunos, foi preenchida com as perguntas "Pra quê serve isso?" e "E
se você colocar mais água?", sem referência a algum momento específico. Por outro
lado, o plano não apresenta, para essas perguntas, uma intervenção a ser realizada
pelo professor, título da terceira coluna. Nessa, encontramos apenas: "Como
preparar o Guaracamp?" e "Posso colocar o quanto eu quiser de água?", questões
incoerentes com o conteúdo da coluna anterior. Consideramos o preenchimento
dessas duas colunas uma tarefa difícil, sobretudo quando se trata de licenciandos,
cuja experiência profissional é mínima. Além disso, se mostrou uma tarefa nova,
realizada pela primeira vez por eles.
Por fim, em relação à última coluna, relacionada aos pontos a serem
observados na aula, encontramos somente o item “Observar se os alunos vão
perceber a regularidade”, sem referência a qualquer parte da aula.
Destacamos aqui uma interessante questão proposta por João: "Então, 1L
de água com 10g de suco, temos um suco normal. Tá! Se eu aumentar a quantidade
de gramas pra 20 e aumentar a quantidade de água pra 10, o suco fica normal?".
Essa questão se mostra interessante pelo fato do aumento das grandezas não ter
sido realizado através de um mesmo fator multiplicativo, mas sim aditivo, erro
comum entre alunos do ensino fundamental.
Em resumo, o planejamento implementado se mostrou incompleto e
preenchido inadequadamente. Dessa forma, não foi possível avaliar se os caminhos
escolhidos por João já estavam planejados e previstos no plano de aula, ou se foram
resultado de improviso. A questão destacada anteriormente é um exemplo disso.
Apesar de se mostrar desorientado, durante a maior parte da aula, João
conseguiu implementar algumas características observadas nas aulas-em-vídeo. A
começar pela forma com que introduziu a aula. Assim como nos vídeos, João
começou pela exibição de um objeto, no caso, um copo de suco industrializado,
propondo para a turma algumas questões amplas como, por exemplo, "Quais
afirmações posso fazer sobre isso?" e "Quanto ao líquido que está dentro do
recipiente, o que podemos afirmar?". Observamos a participação de todos os alunos,
nesse período inicial.
Assim como nas aulas-em-vídeo, João também estimulou os alunos a
justificarem suas respostas. Além disso, quando um aluno lhe fazia alguma
pergunta, era comum ele encaminhá-la para a turma, deixando que os próprios
alunos respondessem. Atribuímos a essa postura a constante participação dos
87
7
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica. Programa do Ministério da Educação, gerenciado pela
Capes. Para saber mais, visite www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid
88
iniciado por Marcílio. A partir do pouco que observou, já que havia chegado
atrasado, ele reconheceu que a intenção do professor, de fazer os alunos chegarem
às suas próprias conclusões, foi um ponto positivo da aula. Porém, considerou a
aula confusa, identificando ter faltado em João o auto-controle e a segurança.
Bernardo também destacou a forma com que João conduziu a aula, mas,
por outro lado, disse ter sentido falta das definições. Para ilustrar, comentou "Você
começou a falar de proporção, mas eu não sei se o aluno tava entendendo o que era
isso". Júnior, integrante do mesmo grupo que João, afirmou que, de acordo com o
plano de aula planejado em grupo, a ideia era construir uma aula que não exigisse
pré-requisitos. João, que criou o plano de aula implementado, não se manifestou.
Não consta no plano de aula o pré-requisito.
Inicialmente, a aula conduzida por João não exigiu conhecimento prévio
de algum conceito, com exceção do conhecimento de números e de unidades de
medida. Porém, em um determinado momento, João introduziu a notação de razão,
sem qualquer explicação. Em nenhum momento da aula a turma questionou o
aparecimento de tal notação.
Com relação às minhas observações, comecei destacando o início da
aula, muito bem conduzida, nos estimulando à participação. Diana também
concordou, atribuindo à análise da aula anterior a causa disso: "Depois da discussão
da semana passada, achei que ficou mais fácil de entender melhor a metodologia. A
começar pela motivação inicial da aula, bem adequada, que era o que tínhamos
discutido na semana passada. Achei que ele teve a preocupação de fazer os alunos
participarem da aula. Lembrei muito de um comentário que você fez de que … de
conseguir reconhecer o que o aluno entendeu. O João pediu várias vezes “repete.
Não entendi” para poder registrar exatamente o que o aluno tinha falado. Eu tive a
impressão de que você esteve atento a muitas observações feitas na semana
passada e conseguiu colocar em prática hoje. Isso é muito importante.". João nos
revelou que já faz parte de sua prática o hábito de questionar os alunos. Em
seguida, adicionou "eu achei interessante [aquelas características observadas nas
aulas-em-vídeo] e falei “vou começar a usar isso”. Ai comecei. Deu super certo.".
Destaquei também duas perguntas, enunciadas por João, logo no início
da aula. Segue o comentário: "Você começou registrando no quadro o que cada um
falou, eu gostei disso. Você perguntou assim "Quanto ao líquido, o que você pode
afirmar?". Nesse momento, ele [João] tinha uma intenção e a pergunta dele foi
90
específica. Quando falamos assim "O que vocês acham?" é uma pergunta muito
ampla. Para começar a aula, é boa. Mas se quer caminhar, tem que ser mais
específico. Ele colocou a boca no canudo, sugou o líquido e poderia perguntar "O
que vocês acham disso que eu fiz?". Assim, ele poderia ouvir um monte de coisas
que não interessava para aula. Mas ele foi específico, perguntando o que acontece
com o líquido. Aí o aluno pode pensar melhor. Você deu um comando mais
direcionado.".
A partir disso, percebemos que João está mais ciente de algumas
estratégias de comunicação, que contribuem para uma aula ser caracterizada como
centrada no aluno. Dessa forma, a vivência neste tipo de experiência proporcionou
ao João o desenvolvimento de alguns de seus saberes experienciais.
Com o objetivo de destacar a importância de prever as respostas e
perguntas dos alunos, citei um momento da aula em que João contava com a
resposta correta do aluno para dar prosseguimento, dizendo que assumir essa
expectativa é um risco para o desenvolvimento da aula, principalmente se essa
resposta não surgir. Júnior comentou que "Quando a gente monta um plano de aula,
a gente fica esperando que o aluno vai fazer isso ou aquilo. Então, surgiram coisas
que não imaginamos nada. Acho que o universo é muito maior do que o que a gente
pode imaginar". O comentário de Júnior é muito coerente com a relação que ainda
vivemos com os nossos planos de aula, ainda centralizados na nossa atuação. Sem
dúvidas, construir um planejamento centrado no aluno é, ainda, uma tarefa que
exige muito estudo e discussão.
Bernardo revelou encontrar dificuldades sobre esse tipo de aula: "Quando
você monta um plano, você monta um caminho, né? Eu tô achando muito doido,
porque como vou saber que o aluno vai chegar em tal ponto? Tem que colocar
perguntas que vai puxando ele.". Essa dúvida já havia aparecido, em aulas
anteriores, e nos parece muito sensata. Procurei esclarecer Bernardo, respondendo
que não é possível prever todas as perguntas e respostas dos alunos e, por isso, o
improviso pode ser necessário. Completei afirmando que, para improvisar, é
necessário que o professor domine o conhecimento do conteúdo. Não acreditamos
que uma resposta como essa seja suficiente para esclarecer aquele licenciando de
forma efetiva. A nosso ver, esse assunto merece atenção especial nas aulas da
licenciatura.
Em relação a aula 5, podemos destacar que essa aula possibilitou ao
91
Para os momentos que eles menos gostaram, sete responderam que não
houve tais momentos. São eles: A, D, E, F e Romário .
O licenciando B escreveu não ter aproveitado o momento do vídeo pelo
fato do idioma utilizado ser o japonês e a legenda, inglês. Apesar de o vídeo ter sido
traduzido simultaneamente, parece que não foi suficiente para que houvesse uma
boa compreensão por parte desse aluno. Por outro lado, apenas ele apontou tal
obstáculo.
Em relação ao momento da aplicação da aula, João revelou não ter
gostado, pois se sentiu perdido. Certamente está fazendo referência aos momentos
em que se perdeu no planejamento.
Por fim, o licenciando A demonstrou ter encontrado dificuldades “De ter a
resposta consigo e ter que esperar os alunos falarem”. E completa, dizendo que isso
“(...) pode ser difícil para pessoas ansiosas”. Esse tipo de dificuldade se mostra
como um obstáculo para o sucesso em atividades coletivas. O fato de a metodologia
LS ser uma atividade em grupo pode servir como oportunidade para superação de
tal dificuldade.
Assim, com exceção do comentário relacionado ao vídeo, que não é
inerente ao processo LS, mas a uma capacitação para o trabalho com a metodologia
LS, pode-se concluir que essa turma não apresentou insatisfação, incômodo ou
desconforto com relação ao processo como um todo. Isso ficará mais evidente nos
comentários da questão 5.
Questão 4 – Quais contribuições que você acha que a Lesson Study pode
trazer para a Educação Básica?
Questão 5 – Essa vivência, em geral, lhe deixou (pode marcar mais de uma
opção):
metade se sentiu alegre e surpreso nessa vivência. Não houve registros em relação
a terem ficado entediados, desestimulados, desinteressados, impacientes, apáticos,
estressados, tristes ou indiferentes. Os 9% que responderam agonia referem-se ao
Licenciando A, que revelou ansiedade na questão 3.
6. Considerações finais
estágios.
Apesar de não terem dado destaque à discussão, mas sim ao ato de
terem assistido, consideramos que esta foi muito rica, principalmente por terem tido
a possibilidade de confrontar seus saberes da tradição pedagógica com uma prática
pedagógica diferenciada. Esse confronto foi possível graças a algumas
características da aula exibida como, por exemplo, o estímulo do professor ao
desenvolvimento da iniciativa, criatividade e habilidade de falar em público dos
alunos e a importância dada às suas falas, elemento considerado como essencial
para o desenvolvimento e continuidade da aula. A professora da disciplina comentou
que "Era importante ver a prática de uma aula nesses moldes. Facilita a construção
de atitudes que estejam em linha com a metodologia.". Exibir um exemplo, para ser
discutido em seguida, pode ser mais eficiente do que apenas descrevê-lo. Vale
destacar que essa etapa também nos possibilitou a discussão de conhecimento de
conteúdo, particularmente sobre a relação entre o gráfico de funções do tipo
f(x)=ax+b e seus vários tipos de domínio.
A apresentação do currículo de matemática da Educação Básica foi uma
atividade de grande importância também, uma vez que a maioria da turma relatou
nunca tê-lo visto. Apenas três alunos, dentre os dez, já o conhecia. Pela primeira
vez, a maioria pôde analisar os conteúdos correspondentes a cada ano escolar,
assim como as relações internas existentes naquele currículo. Observamos nessa
atividade uma ênfase na construção do conhecimento curricular dos licenciandos.
Apesar de ter sido de forma superficial e informal, a construção coletiva do
plano de aula possibilitou aos licenciandos adquirirem conhecimento de conteúdo
específico relacionado à regra de divisão entre frações e noções básicas de
proporções. Acreditamos que a realização de uma discussão, anteriormente à
elaboração do plano de aula, sobre os temas, proporcionaria à turma uma maior
aquisição e desenvolvimento desse tipo de conhecimento.
Em nossa experiência, percebemos que, apesar de terem sido
apresentados ao tema plano de aula na disciplina pré-requisito para Didática II, os
licenciandos não possuem ainda um ritual ou protocolos para construí-lo. É claro que
dificilmente um licenciando dominará tal tema cursando apenas uma disciplina.
Portanto, essa vivência serviu como mais uma oportunidade para ele desenvolver e
avaliar seus conhecimentos acerca da construção de um plano de aula.
Consideramos esses momentos, portanto, como oportunidades de desenvolvimento
101
saberes profissionais. Dessa forma, a LS serve como uma ferramenta para essa
construção, desenvolvendo seus saberes profissionais de forma prática, através de
uma vivência que os coloca em uma posição próxima da realidade: lidando com os
desafios naturais de se construir uma aula.
105
Referências Bibliográficas
BALDIN, Y. Y., FELIX, T. F.. A pesquisa de aula (Lesson Study) como ferramenta
de melhoria da prática na sala de aula. In: XIII CONFERÊNCIA
INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. CIAM, 2011. Recife. Brasil.
Disponível em:
<http://www.cimm.ucr.ac.cr/ocs/index.php/xiii_ciaem/xiii_ciaem/paper/viewFile/2494/5
49>. Acesso em 05/12/2012.
BALL, D. L., THAMES, M. H., PHELPS, G. Content knowledge for teaching: What
makes it special? Journal of Teacher Education, 59(5), 389–407, 2008.
MEYER, R., WILKERSON, T. Lesson Study: The Impact on Teachers’ Knowledge for
Teaching Mathematics. In L. Hart, A. Alston & A. Murata (Eds.), Lesson study
research and practice in mathematics education. Dordrecht, The Netherlands:
Springer, p. 15-26, 2011.
STIGLER, J. and HIEBERT, J. The Teaching Gap. New York: Free Press, 1999.
107
APÊNDICES
109
APÊNDICE A
AULA-EM-VÍDEO 1
a turma se alguma outra informação pode ser extraída da tabela. Um aluno desenha
um gráfico no quadro-negro, relacionando o número de canetas e lápis. O professor
aproveita a oportunidade e exibe uma outra maneira de representar tal situação
graficamente, através de barras.
APÊNDICE B
AULA-EM-VÍDEO 2
Parte 1 – Introdução
Mr. Hase inicia a aula perguntando aos alunos onde eles gostam de se
sentar no ônibus quando vão em uma viagem de campo. Depois de vários alunos
responderem, ele realiza os primeiros passos em direção ao problema do dia. Ele
distribui cartões simulando uma passagem de ônibus para os alunos e pergunta se
seus lugares são perto da janela ou não. Os alunos comentam que não há
informação suficiente. Então, o Sr. Hase pergunta que informação adicional que eles
gostariam de ter. Em seguida, ele mostra uma parte do mapa de assentos, e escreve
um enunciado do tipo "Sua poltrona é a da janela ou não? Vamos pensar em
maneiras de verificar isso".
APÊNDICE C
O PLANO DE AULA
115
116
APÊNDICE D
TRANSCRIÇÃO DA AULA 1
aula. Eu não sei qual é o conceito que você tem de aula. Então, não sei te
responder. É uma aula, uma vez que eu tô aqui na frente de vocês, mas talvez vocês
tenham que trabalhar mais do que eu. Já vou contar melhor o que vocês vão fazer.
Osvaldo – O que dá certo, teoricamente, pode dar certo outra vez. Isso dá
segurança, firmeza.
Diana – Aprender fazendo. A turma não vai apenas assistir, vai fazer
também.
Bernardo – Parece que ele quer que os alunos prevejam a atividade que
ele queria fazer.
119
Daniel - Situação-problema.
Pesquisador - Induzindo?
Romário – Induzir seria ... como se fosse criar uma motivação na pessoa.
Tá incentivando o aluno a ter um motivo. Não sei a diferença entre incentivar e
motivar. Então acredito que ele induziu o aluno a pensar que são eles que tão
fazendo a aula; estão trabalhando mais em prol. Ele [o professor] não ignora nada
do que eles [os alunos] falam até ele [o professor] conseguir o que ele quer. Quando
ele consegue, começa a induzir aquele caminho.
não sei o fim do vídeo mas você vê que pra onde eles estão indo ele sempre tem um
complemento. Ele não tem todos os complementos do mundo, mas os que ele
necessita. E toda hora que o aluno puxa, ele "isso" e bota cartão do lado. Ou seja,
ele já tava esperando por essa resposta.”
Osvaldo – O estímulo é direcionado para o resultado que ele quer. Ele não
pergunta tipo assim "Você acha isso?". Ah ta. "O que é que a gente pode fazer com
isso?". As perguntas já direcionam pro que ele quer. O aluno é manipulado ... eu
acho que a palavra é muito forte, mas é isso.
Danilo – Quando se planeja uma aula, se trabalha com isso. A gente vai
conduzir uma aula desse determinado assunto. Agora a situação-problema onde o
aluno tá a gente vai só conduzindo a aula de acordo com o que o aluno vai falando.
Montou a aula e só conduz agora.(...) Nessa aula o aluno tá mais livre para falar,
sem uma condução "é isso aqui que vc tem que pensar.
Carlos – Acho que ele deu uma situação. Ai viu, tentou trazer o aluno pra
ver o que cada um tem de base matemática poderia usar pra descobrir a resposta
pra essa situação. Pegou o que cada um sabia pra tentar montar uma forma de
responder com o pouquinho de cada um.
Pesquisador – Vou dar minha visão. Eu não sei se ele, na mesa dele,
121
tinha outros papéis. Alguém falou "tabela" e ele tinha a tabela preparada na mesa.
Então você pode falar "ele queria levar a turma pra tabela". Eu realmente não sei. De
repente ele tinha alguns outros papéis pra usar caso algum outro aluno falasse outra
coisa. (...) mas eu tenho dúvida se ele queria carregar o aluno pra tabela ou se ele
viu que, no planejamento da aula, a tabela era uma possível resposta. Eu não sei.
Danilo – Ele montou uma aula e os alunos vão falando. Ele não tá
induzindo. Ele não tem o controle. O ator é o aluno.(...)
Diana – Mas será que ele estaria preparado para todo o tipo de resposta?
E se ninguém falasse tabela, como ele iria conduzir?
Danilo – Ele está conduzindo mas não está induzindo. Ele só faz a
pergunta e o aluno vai respondendo. Ele ouve a resposta do aluno e não fala nada,
não se expressa. Isso não é uma manipulação, mas uma aula planejada.
Bernardo – Ele não apresenta a solução. Ele espera que o aluno chegue à
solução. Ele não diz "é assim que se faz".
Pesquisador – Você falou algo interessante, que ele não dá respostas. Ele
levanta dos alunos, que falam coisas certas e erradas. Ele aproveita a resposta
certa. Ele não dá respostas. Ou vocês tiveram outra percepção disso?
Romário – Assim, que vi uma coisa e não sei se você percebeu, nessa
coisa de incentivar. Ele fez as perguntas "Quantos alunos poderiam responder?" e
"Tá muito difícil?". No Japão a cultura é sempre ganhar, ser o melhor. Então ele usou
a coisa do insucesso inicial e o sucesso inicial. O sucesso seria quando a pessoal
acha que tá muito fácil, o professor passa uma questão difícil que ele não saberia
resolver, pra ele ver que ainda tem a aprender. O insucesso inicial seria o contrário:
ele achar que não sabe nada, o professor passa uma questão fácil e ele conseguir
resolver. Ele misturou os dois métodos ao mesmo tempo. Ele viu que uma minoria
consegue resolver, o que estimula os outros que teoricamente não sabem, a
122
Daniel – Sim
Daniel – Raciocínio!
Bernardo – É... no caso ele tá tentando ver como é que o aluno estaria ...
123
Bernardo – Isso. Eu acredito que quer... ele dá o problema, por isso que
pede pra todo mundo responder, porque ele quer ver como tentam resolver. Um
exemplo... quando você pede para uma criança escrever, por exemplo, a letra c.
Você quer ver o que ela escreve. Às vezes ela rabisca a letra do nome dela... você
quer ver como ela vê essa ideia de som e escrita; entender essa ligação. É mais ou
menos o que ele quer fazer. Como o aluno interpreta esse problema e leva isso pra
um modelo matemática.
Pesquisador – Você vê que isso é até lucrativo para o professor. Ele tem
até menos trabalho durante a aula, desgasta menos a voz. Não vai precisar falar tão
alto para vencer aqueles trinta alunos, e os alunos quando participam, eles gostam.
Tem aulas que os alunos não querem participar, realmente. Às vezes tem aula que
você não dá um problema desafiador, o aluno não se sente desafiado e vai brincar
na aula inteira.”
Osvaldo - Sim.
diferente.
Pesquisador – Você acha que na nossa realidade ... como que é essa
liberdade que o professor dá para o aluno? Como o aluno enxerga isso? O que você
observou em relação a isso, naquela realidade em específico?
Pesquisador – Não sei como resumir tua frase. Mas observei o seguinte:
valorização da criatividade. Isso vai ficar mais claro nos próximos vídeos.
Diana - Perguntou para os alunos o que eles achavam que iriam estudar
naquele dia.
Diana - O preço surgiu depois. Na verdade a ideia foi "o que a gente vai
estudar hoje?".
Pesquisador – É.
Carlos - Porque ali não tem entre um e dois, dois e quatro, não tem
valores ali . Então não pode ser uma ...
Diana - De fato, não poderia ser descrito por uma função contínua.
Pesquisador - O que significaria ... que ponto seria esse? [Aponto para
(0,10)]
Osvaldo - É o início.
Bernardo - Porque se ele fosse falar "preço, lápis e caneta", ele teria que
fazer uma função no R³. Ele esqueceu do valor. O valor ficou perdido. [Ele quis dizer
"preço total" quando disse "valor"].
Diana - Pra mim essa reta é o custo que tá diminuindo. Quando que o
custo diminui? Quando ele aumenta a compra de lápis e diminui a de caneta. Por
isso que eu achei que o que tá na vertical é caneta e na horizontal, lápis.
128
Pesquisador - A soma tem que dar 10. Então uma equação razoável para
isso...
Danilo - x + y = 10
Pesquisador - Pra ficar com um layout mais clássico, isso pode ser
reescrito como y = 10 - x. Essa equação é do primeiro grau. Ai vem aquela velha
frase "o gráfico de uma equação do primeiro grau é uma reta". E o Bernardo apontou
que esse gráfico não pode ser uma reta porque o conjunto de partida, no caso o
Domínio, é um conjunto discreto, aqui os naturais. O de chegada também. E o
gráfico não é uma reta: são pontos alinhados. Então reparem. Isso é só um
parênteses. A gente tem o hábito de falar que o gráfico de uma função do primeiro
grau é uma reta. Na verdade depende. Do que?
Turma - Do domínio.
Osvaldo - A conclusão.
Diana - E ele não resolveu o problema ainda. Ele não sabe a resposta.
Bernardo - Não sei se entendi muito bem, posso estar falando besteira.
Essa parte do vídeo aí foi uma coisa que o garoto notou, que conseguia resolver
com o gráfico e deu oportunidade pra ele ir lá e resolver. Só que eu acho que
quando chegou lá, ele mostra o gráfico, e parece que o garoto não, que ele queria
resolver o problema usando aquele gráfico e não conseguiu. Ele conseguiu é
entender o que tava acontecendo com os números, decrescendo e tal. Mas resolver
o problema, não.
Bernardo - Pensando nesse aluno, por exemplo, como ele olhou a tabela,
talvez ele não viu a solução mas aí deve ter visto gráfico alguma vez e deve ter
pensado que esse negócio de gráfico deve resolver isso ai porque relaciona os
valores; que deve funcionar. Por isso que ele levanta e vai até o quadro.
Pesquisador - Isso que o Danilo tá falando tem a ver com nossa discussão
inicial, na minha visão. Ele tá falando o seguinte "os alunos tão construindo a aula.
Eles estão lá colocando os pares. Mas a coisa ficou bagunçada e coube ao
professor organizar a casa. Nessa hora ele não ta induzindo. De uma certa forma
até é mas na minha visão, a gente tem que ter essa sensibilidade: quando a gente
tem que organizar a bagunça e quando que a gente tem que colocar o aluno no
caminho da soluçao. Isso são coisas bem parecidas. Talvez isso tenha se
confundido um pouco.
que não é certa. Ou seja, pode ser que ele não tenha aprendido direito aquele
conteúdo, como agir? Tentar mostrar para ele como seria o certo? Continuar a aula e
depois chamar ele e tentar explicar?
Bernardo - Só mais uma coisa que eu percebi. Quando você vai ensinar
representação gráfica, você faz a tabela dos pontos e você lança o gráfico. Achei
que o garoto talvez, de tão acostumado a ver isso, automaticamente olhou e viu a
tabela e achou que agora tem que montar o gráfico.
Danilo - Uma coisa que me ajudou muito a interpretar dados que tão solto
pelo texto. Por exemplo, li um texto e vi uma informação que se repete em uma
coisa diferente dentro da mesma informação ... opa, calma aí ... tabela! De repente
não ia conseguir entender um pouquinho o desenvolvimento do texto mas quando
organiza a tabela vc consegue entender o que tá acontecendo perfeitamente.
Daniel - A visualização.
Bernardo - Tipo, você olha uma área ... tava estudando área pra
caramba ... e você olhava uma área assim e imaginava os quadradinhos assim e
fala "não dá" ... coloca um triângulo ali pra ver se dá.
ai dá pra calcular e tal". Ou então pegar uma lata assim e "Se o raio fosse o dobro,
sei lá, ele teria economizado mais material".
Diana - Lápis.
Carlos - Acho que foi o que a pessoa lá tinha falado. O garoto que achou
que foi difícil porque demorou muito tempo. Ele vai mostrar um jeito mais rápido de
135
fazer.
Pesquisador - E repara que o que ele falou não foi o que você disse
[comparando as falas de Osvaldo e Carlos]. Os dois estão corretos. Ele mostrou
uma necessidade de generalizar: "E se você botar 12 itens?". Repara que ele deu
uma estimulada. Generalizar porquê?
Diana - Acho que reforçar também se o que foi feito anteriormente foi
entendido. Então, a gente construiu isso aqui junto. E agora? Será que a gente
consegue de novo? Porque às vezes você resolver um problema e quando o cara
vai fazer a mesma coisa sozinho, ele no livro dele, não acontece do mesmo jeito.
Carlos - Eu acho que ele já iria fazer isso de qualquer forma. Ele
aproveitou que o aluno tinha dificuldade, que achou que era difícil por causa do
tempo, pegou o que ele iria fazer e tirou a dúvida da criança.
Bernardo - Outra coisa. Primeiro ele mostrou aquele método, como era
difícil, e agora vai mostrar um método mais fácil, mais rápido de se fazer.
Romário - Acho que tem a ver com controle. Você tá de frente para turma.
Evita algazarra. Às vezes você tá copiando e nas costas tá um tacando bolinha de
papel no outro.
Danilo - parece que cria um certa importância no que está sendo colocado
136
no quadro da forma que o aluno vai pôr. Talvez quando um aluno coloca aquilo ali, o
que tá sentado vai lembrar do que ele (o que está no quadro) colocou quando tiver
fazendo um exercício parecido. Facilita mais o raciocínio dele. Isso força bastante e
cria um clima mais leve.
Carlos - Um desconforto.
Pesquisador - Não sei se todos aqui são bem resolvidos com isso. Mas
vocês serão professores. Vão estar na frente de uma turma. Vocês estarão sob a
mira de olhares. Vão ver alunos ignorando a sua aula, os desinteressados. Pode te
dar um nervosismo de estar ali na frente. E repare que o cara tá trabalhando isso na
criança desde pequeno. Ela vai ser uma profissional ou não sei o quê quando
crescer. Ele tá de certa forma desenvolvendo nela uma habilidade de se portar um
público. Isso é fundamental para a nossa vida.
Pesquisador - Vou dar minha opinião. Uma coisa que vejo é ... a
capacidade de ... que temos que ter de resumir. Em alguns momentos da aula de
hoje eu pedi para vocês resumirem a fala de vocês, pra registrarmos no quadro. Eu
não consigo registrar toda tua fala aqui. Preciso resumir isso em uma frase pra gente
poder evocar tua ideia depois. Tem uma frase que diz que os sábios são aqueles
que conseguem ... qual a palavra ... aquela coisa de ser objetivo, que é uma
137
Romário - Acho que não. Ele foi co-participante mas central não.
Osvaldo - Já ouvi algo. Você não pode aprender a pintar vendo o cara
pintando.
APÊNDICE E
TRANSCRIÇÃO DA AULA 2
Osvaldo – É.
Osvaldo – É
141
Diana – Já colocamos.
Diana – “Conhecimento”?
aula, a Lesson Study. Ela não tem nada de mágico, mas tem algo que foge ao
comum. Essas características mostram um pouco do porquê ela produz aulas
diferenciadas. Essa aula pode ajudar a lidar com a indisciplina do aluno, em sala de
aula, já que ela valoriza o aluno; ele é o agente central. Reparem que a aula está
dividida no papel em seis partes, que nem no vídeo. Cada uma tem um título, que
tem a ver com essas características. Essas aulas têm partes. A primeira, é introduzir
e expor o problema. No segundo, o aluno faz conjecturas. O terceiro, é o momento
em que o aluno trabalha sozinho. No quatro, o professor explora a tabela. No vídeo
5, visa encontrar um método para o problema. No 6, ele avalia. Dá uma olhada na
primeira página do plano de aula. [Além de entregar o Anexo A, entreguei o plano de
aula que o professor utilizou]. Aqui estão os objetivos da aula. Achei que não ficou
claro para vocês qual foi o objetivo da aula. Alguns falaram que era resolver o
problema. E não é. Vou ler. “O primeiro dos objetivos é ajudar o estudante a
enxergar que a tabela pode ajudá-lo a entender o problema”. Repare que esse
primeiro objetivo é mostrar o poder da tabela. O segundo objetivo, é tornar os
estudantes capazes de usar a tabela para organizar e classificar dados. O terceiro,
encontrar regularidades, a partir da tabela, e torná-lo capazes de usar isso. O título
dessa aula é “Pensando sistematicamente”. O objetivo não era resolver o problema,
que o professor propõe. Antes de começarmos a aua de hoje, de fato, Diana vai
discutir com vocês sobre um tema importante do currículo. Quem aqui já viu o
currículo da Educação Básica? [apenas Jader, João, Bernardo e Júnior levantam a
mão].
Jader – Particular
Bernardo – eu já vi o do Estado
Diana – A ideia é embasar o que vocês farão depois, que vai ser a aula de
vocês, efetivamente. A gente precisa saber o que é ensinado. Isso também foi uma
curiosidade de vocês, quando fizemos aquela pesquisa, no final do semestre
passado; quando vocês falaram o que queriam estudar no próximo semestre. Um
dos tópicos que surgiu foi conhecer o que é ensinado em cada ano. Eu só fui ter
143
contato com isso quando fui, efetivamente, trabalhar. Varia de uma escola para
outra. Os livros didáticos acabem padronizando. Quem trabalha com apostila tem
essa flexibilidade. A troca de módulo, puxa um, empurra outro. O que vou mostrar é
o currículo de uma escola, a do Cap-UFRJ, que o Fellipe mandou para mim. Eu
trouxe um outro de um colégio particular que eu trabalho. A ideia é comparar isso
com o que é feito no currículo mínimo. Pra quem não sabe, o Município e o Estado
trabalham em cima desse currículo, que é o que tem que ser aprendido naquela
série. Essa comparação não é fácil. O currículo da escola particular é feito em cima
de conteúdo curriculares. O da pública, de competências e habilidades. Então, estão
diferentes. Eu separei os currículos por ano de escolaridade.
Carlos – Radiciação
Diana – Isso. Tudo certo. Vamos ver os slides. Eu separei por bimestre.
No 1º bimestre, algumas escolas dão conjunto, e outras não. Eu opto por dar
conjunto, mesmo que isso não esteja no livro didático. A maioria dos livros não
coloca conjunto. E aí, ele vai falar de Conjuntos dos Números Naturais, sem ter
definido conjunto antes. Então, eu acho importante, mas não é regra.
comprimento, superfície e volume, capacidade e massa. Aí, entra a correria, que não
dá tempo de dar isso tudo. No final, compreender o conceito de unidade de medida;
resolver problemas significativos, utilizando unidades de medida; resolver problemas
envolvendo o cálculo de perímetro. No particular também falamos disso. Antes de
falar de quilômetros, a gente fala pra quê ele serve. Quando fala de quilômetro
quadrado, a gente fala de área. Existência de unidade de medida e comprimento;
ampliar áreas e figuras, utilizando papel quadriculado. Na geometria, que na verdade
ele já mudou, não chama mais de Geometria mas de estimativa e análise de dados,
que é pra colocar aqui o tratamento da informação. Estimar resultados e realizar
cálculos mentais; ler e interpretar gráficos de barra e setor. Gráfico de barra e de
coluna são a mesma coisa. Aqui acaba o 6º ano. O que vocês acham que se
aprende no 7º ano?
Clóvis – Inequação
Diana – Escolha do professor mesmo. Ele tem autonomia pra dar depois.
O ideal é que esse plano de curso seja feito por todos os professores. Se cada um
fizer o seu, algum conteúdo pode ficar de fora, ou ser repetido.
Osvaldo – Eu ia falar que o conjunto dos Irracionais que você fez tá muito
pequeno [risadas]. Tem tantos irracionais quanto racionais.
probabilidade, média, moda e mediana. Nas escolas que eu trabalho, pela ordem do
livro, a mudança não é essa. Vai direto pra equação, antes de entrar nesses tópicos
de estatística. Em outra escola, o coordenador decidiu que isso deveria vir antes de
equação. Que vantagem existe nisso? Vocês vêem alguma, em colocar estatística
antes de equação?
[Ninguém se manifesta]
Clóvis – Função
Jader – Função?
148
Diana – Gente, desligou e não quer ligar mais. Vamos oralmente mesmo.
No 8º ano, vê equação de 2º grau incompleta e de sistemas. Em geometria, fala tudo
de novo sobre os polígonos; demonstra as fórmulas que falaram antes. No 9º ano,
algumas escolas optam por fazer uma revisão de tudo que foi visto, com equação do
2º grau e função também. O objetivo era mostrar para vocês o currículo do Ensino
Fundamental. Depois eu passo o conteúdo dos slides para vocês, por e-mail.
você vai fazer uma aplicação e quer saber quanto tempo vai receber o seu dinheiro.
É aí que entra o logaritmo.”Como que não tem utilidade na tua vida? Tá falando
besteira”.
Vou dividir vocês em dois grupos. Vocês vão discutir esses três pontos e
registrá-lo em uma folha. Os tópicos são divisão de fração e proporcionalidade. A
aula vai ser sobre o quê? Isso será por conta de vocês.
O Grupo 1 vai ser formado por Clóvis, Júnior, Jader, Romário e João. O
Grupo 2, Marcílio, Carlos, Osvaldo, Daniel, Bernardo e Mário.
entrego.
Grupo 1
Carlos – Pensei de colocar uma situação assim: uns amigos saíram pra
comer pizza e no final els vão dividir o valor da pizza de acordo com o que cada um
comeu. Comi 3/4...
Bernardo – Quero ver aonde entra a divisão. Nosso tema é divisão entre
frações.
Osvaldo - 3/4 cai no chão. Um come metade do que sobrou. Outro come
1/4 …
Carlos – No Preço
Osvaldo – Dividir não em partes iguais. Exemplo, 1/3 que sobrou. Um vai
comer 30%, outro vai 60% e outro 10%. Tá dividindo a fração que sobrou. Caiu uma
fração no chão e a gente dividir... essa fração que sobrou, a gente dividir de maneira
… os amigos comerem quantidades diferentes, pra envolver outras divisões.
Carlos - Por exemplo, a pizza não precisa ser um número inteiro. Dai a
gente faz fração com o preço. Uma fração dividida pela outra.
151
Carlos – Vamos fazer assim, bem besta. Quatro pessoas, cada um vai
comer 1/4. O preço da pizza é 24/3, o preço. Dividi isso ai. Vê quanto cada um
comeu.
Bernardo – Temos que fazer entre duas frações mesmo. Daniel, consegue
pensar em um problema?
Daniel – Não sei. Você parte de uma fração e depois 1/3 dessa fração.
Não sei, “Qual a fração que representa os aprovados?”.
Daniel - Você primeiro divide a pizza em quatro. Aí, um desses que comeu
um quarto, divide com três.
Bernardo – Tá dividindo por número inteiro. Ele quer divisão de fração por
fração.
Carlos – Não precisa dividir por três, certinho. Divide por três e cada um
vai comer uma fração diferente da outra.
Bernardo – Eu sei. Eu tô falando isso aqui. Você tem 1/3 e vai dividir pra 6
pessoas, você tá fazendo 1/3 : 6. Eu acho que ele quer fração dividido por fração.
Bernardo – Ah, então beleza. Vamos ficar com a pizza mesmo. A minha
ideia era diferente. Era sem contexto: ver quantas vezes uma fração cabe na outra
fração. Usar a ideia de divisão. Mas agora a gente pode usar a ideia dele.
Marcílio – Porque a gente não pode usar essa ideia de quantas vezes um
cabe no outro?
Daniel – Se a gente usar algum material prático, fica mais fácil pra
entender.
Marcílio – Pode fazer as duas coisas, também. Primeiro dividir uma fração
por inteiro e, depois fração por fração.
Marcílio – Podemos fazer assim: divide um inteiro por outro inteiro, com
exemplos do dia a dia. Coloca ele pra ver quantas vezes um número cabe no outro.
Depois divide umra fração por um inteiro e depois uma fração por fraçao. Tentar usar
exemplo do dia a dia. Mas é complicado. Não sei se dá pra fazer tudo isso numa
aula só.
Carlos – Do aluno.
Marcílio – Estranho.
Bernardo – Acho que é fazer isso que a gente tá fazendo agora. Discutir a
teoria; o que cada um sabe sobre a teoria.
Carlos – Também.
Carlos – É só escrever.
Marcílio – O que vamos botar? Sei lá. Deixa eu pensar. Uma caneta custa
R$25 e está com desconto de 50%. Eu e ele vamos comprar essa caneta. Quanto
cada um vai pagar? Isso é divisão de frações ½ : ½ . Ih, não. Não é, não.
Bernardo – Ferramenta, porque nem tudo é inteiro. Tem coisas que são
fracionárias e você precisa dividir em pedaços menores. Por isso que é necessário
saber dividir uma fração.
155
Carlos - Ele não quer saber o que a gente tá fazendo, mas porque tá
fazendo.
Marcílio – Acho que não é pra botar não. Vai ficar muita coisa se a gente
colocar tudo que sabemos.
Marcílio – Esse plano de aula aqui é bem sinistro, cara. Isso aqui é pra
entregar hoje?
Marcílio - Acho que não precisa colocar a pergunta toda. Acho que
quando você preenche o plano de aula, a sequência didática já tem mais ou menos
o que você iria utilizar. Pode resumir assim “Divisão sucessiva de uma pizza”.
Bernardo - A gente tem que ter a questão na cabeça pra pensar nas
perguntas do aluno.
Carlos – To pensando em comprar uma pizza. São três pessoas, mas eles
não comeriam a mesma quantidade. A gente poderia falar a quantidade de dois e
156
deixar um sem. Isso aí já é uma pergunta “Quanto o outro vai comer? Qual a
fração?”. Dependendo da fração que cada um coma, vai pagar proporcionalmente
por ela.
Bernardo – Pois é. Isso que a gente tem que tentar focar. O que a gente
quer que ele chegue, no final?
Bernardo – Vamos lá. Então o que a gente quer no final? Que ele saiba
dividir fração? O que a gente quer quer ele saiba no final?
Osvaldo - Que ele consiga identificar problemas com frações; com divisão
de frações, além de resolver.
Pesquisador – Vocês estão considerando que vão dar essa aula pra que
ano escolar?
Osvaldo – Excelente.
Diana – Pensem que vocês tem apenas 50 min para elaborar essa aula.
Não pensem em um plano mirabolante.
Marcílio – Imagina fazer isso aqui, sei lá, pra inequações do 2ºgrau.
Grupo 2
curiosa, ele quer saber tudo. Pô, pra quê que é o problema? Isso vai fazer parte de
alguma área da minha vida? E por aí vai.
Romário – Vamos fazer uma pergunta também, pra que série a gente vai
ensinar isso? Sétimo ano? Não estou falando quando que é ensinado, eu estou
falando pra quem que a gente vai ensinar.
Júnior - Olha, acho que antes de discutir essas coisas, antes de discutir o
ano que a gente vai definir, se a gente não sabe o que vai ensinar, não faz sentido
pensar no ano. Primeiro a gente tem que pensar no que a gente vai falar de
proporcionalidade.
João – Você tem que pensar o seguinte, se você for ensinar isso para o
primeiro ano do ensino médio, eles já têm uma bagagem maior, então você pode
ensinar mais coisas. Aí se você for abordar o sétimo ano, aí você tem que começar
pela definição.
Júnior – Pelo que ele falou, eu não assisti o vídeo. A gente teria que trazer
para a sala de aula uma situação problema. Uma situação problema que eu acho
que é fácil de trabalhar e os alunos vão entender fácil é com fotografia. A fotografia
tem uma proporcionalidade, 3x4, aí quando eu quero aumentar essa proporção, eu
já estou pensando em uma atividade, mais pra frente, jogar isso no computador.
Porque quando eu aumento a figura, segurando o Shift, por exemplo, eu aumento a
proporção dela. Ou seja, o lado que aumenta aqui, também tem que aumentar aqui,
para seguir uma proporção. Se eu não faço, isso eu perco a proporção e por isso
que a imagem fica ruim. Por isso que é definido 3x4, 15x21. Isso é uma proporção
ótima para uma foto. Primeiro a gente tem que definir, qual situação problema a
gente vai definir pra falar de proporcionalidade. Vai ser essa? Por exemplo, eu tenho
tantos candidatos para uma vaga, beleza, é uma situação de proporção.
João – Mas é como eu falei. Depende da série que você quer introduzir a
situação. Por exemplo, se você for pegar o ensino médio...
Júnior – Eu não vejo diferença nenhuma. A diferença que eu acho que vai
161
ter é que a atividade vai ser diferente, mas a introdução não vai ser diferente.
Porque você está falando de um tema, que é Proporção. É meio que assim, você
ainda não está definindo as coisas. Eu estou indo pelo que ele falou, eu não estava
aqui na aula anterior. Mas pelo que ele falou, o professor traz uma situação
problema, e a partir daquilo ali, os alunos vão desenvolver. Tipo Escola da Ponte, já
ouviram falar? Que o aluno traz um tema e estuda. Acho que a ideia é mais ou
menos essa.
Jader – Porque o aluno nessa faixa etária … é o que eu falei... se você fez
didática, didática não, psicologia educacional, essa faixa etária, no caso dos 8 aos
12, é a faixa etária dos porquês. Piaget fala sobre isso. Por que isso acontece...
Porque a criança vê os adultos fazendo e querem saber porque isso acontece; qual
a finalidade disso. É a parte que o aluno fica mais curioso. Já no ensino médio, não
acontece tanto. A curiosidade deles é, às vezes, mais devagar, porque eles já tem o
conhecimento do que ele vai pensar.
Júnior – Acho que a gente está indo muito ruim para resolver o problema
que a gente tem.
Romário – Foi o professor. A ideia é que o aluno que esteja dando a aula,
entre aspas, mas não é o aluno que está dando aula.
boa. Depois mostrar uma ruim. “Olha tá vendo que a imagem ficou ruim? Antes era
3x4 e estava boa, agora que eu coloquei, sei lá, 2x10, distorceu tudo. O quê que a
gente mudou? Foi proporção desse com esse?”
Júnior - Acho que seria uma boa aula, uma boa forma de começar.
Romário - Mas a ideia não é dar a aula. A ideia é fazer com que os alunos
começassem a aula.
Júnior - Os alunos iriam ficar curiosos sobre o que aconteceu. “Vamos ver
o que aconteceu? E agora o quê que a gente fez? Aumentou esse, mas não
aumentamos esse lado. Por isso ficou desproporcional”. Então, a ideia seria
introduzir a aula com as fotografias.
João - Tem uma parada que ele falou que eu achei importante. A gente
sabe que está distorcido por causa da proporção, mas qual seria a possível resposta
os alunos poderiam dar?
João – O aluno
Júnior - Ele vai falar, só que não vai usar os termos que a gente usa, mas
ele vai falar, só que do jeito dele.
Júnior – Ele não vai usar o termo matemático, mas vai falar. Não sei, não
lembro, mas acho que é 15x21 e a outra 19x28. Também não lembro. Mas a 3x4 e a
15x21, elas seguem uma mesma proporção. O que acontece, se eu tenho essas
duas e outra que esteja distorcida, ele vai perceber que essa outra não seguiu a
mesma regra. Ele não vai ver isso como proporção. Ele vai ver isso como uma regra.
Ele não vai usar nosso jargão. Ele tem o dele: esticou ali, esticou aqui.
Clóvis - Eles conseguem ter uma visão mais material das coisas. A gente
tem ainda uma visão mais abstrata, que não consegue identificar. Acho que a
proporcionalidade cai muito bem nesse ponto porque começa a pensar na aplicação,
já. Porque as fotos são dessa forma. Porque a proporção é ótima. Porque caso eu
queira fazer alguma coisa com a foto eu posso ampliar mais facilmente.
Júnior - Mas essa aula vai ter que ter começo, meio e fim?
Júnior – A ideia vai ser montar mais ou menos em cima disso aqui então.
164
Pesquisador - Podem usar essa visão, mas não precisam ficar preso a
isso. Mas procurem inserir esses momentos.
Jader - É mais ou menos ter uma ideia do que vai ser trabalhado, né?
Romário - Temos uma foto 3x4, depois vamos ampliar, vai ter que ter, sei
lá, um alfa.
João - É o que ele falou. Às vezes, a gente quer abordar tudo, mas ...
Agora, se você supor que eles já saibam … [falando sobre os pré-requisitos]
Júnior - Acho que a gente ainda não está no ponto de debater. A gente
não está com nada. Vamos discutir os conhecimentos para tentar introduzir essa
proporcionalidade. O que eu vejo, a única divisão entre os pré-requisitos é saber os
números.
ajudar um pouco.
Júnior - Ter uma ideia de área, talvez. Esse 3x4 tem uma área,
provavelmente a outra área tem o . Não queria ficar usando a palavra proporção
toda hora, mas seria uma mesma proporção. Sei lá, a primeira área dá a mesma
razão.
Jader - Mas é uma aplicação, veja bem. É só isso que estou propondo. É
só uma aplicação.
Diana - Uma solução é você não pensar no cotidiano, mas pensar como
se estivesse lecionando uma outra disciplina. Isso você consegue justificar.
Jader – Um exemplo, baseado nisso aí, você vai trabalhar num evento. Já
trabalhei muito com evento. Você precisa fazer um planejamento. Vamos supor, você
faz um churrasco para 100 pessoas, você precisa fazer um planejamento maior. É
comum isso acontecer. O amigo do amigo, que vai junto para o cara não se situar
sozinho. Aí você já tem que fazer um planejamento de até 20%, porque ele vai levar
o amigo. Às vezes esse amigo, leva a família. Acontece.
Diana - Ele faz o que ele quer. Isso não está no plano de aula. Você vai
começar a tua aula dizendo assim “então gente pensamos nesse conteúdo por isso,
isso e isso”. Não. Mas você tem que ter na sua cabeça é se esse conteúdo é
realmente necessário, se o cara precisa disso. O que ele está pedindo nesse
momento é isso. Não é a resposta pra dar para o aluno. É a tua sua reflexão.Esse
conteúdo tem que estar no planejamento? Qual a resposta, sim ou não? Razão e
proporção, no caso de vocês, tem que estar no planejamento? O que vocês acham?
Porque tem que estar no planejamento, qual a defesa pra isso?
Romário – Acho que foi a primeira pergunta que eu fiz. O que é proporção
pra gente poder pensar em cima?
Júnior – Temos que discutir aqueles pontos antes de fazer o plano. O quê
168
que ele falou sobre discutir o conhecimento. Se a gente sabe, se a gente tem o
conhecimento?
Clóvis - O Jader falou, que é uma igualdade entre dois ou mais razões.
Romário – Eu acho que daria, mas talvez não fosse tão efetivo. Você nem
sabe a definição exata do quê que é. Você tem uma noção. Eu ensinaria aquela
noção. De repente estaria próximo, de repente até estaria exato, mas eu não teria
essa certeza.
Júnior – A gente ainda está no campo do... como que eu vou dizer...
João – No caso, o que você está falando é como se proporção fosse uma
consequência de uma razão?
169
Romário – Não deixaria de estar. Porque se você tem duas frações e tem
uma razão, você tem uma proporção. Não deixa de estar certo isso aí também. É
uma consequência de razão, realmente.
Júnior – O que falta pra gente fechar se fosse apresentar uma aula dessa,
seria só ver se as definições estão corretas. Né?
Júnior – a gente sabe isso. Como calcular, beleza! Vamos ver cada tópico.
Primeiro: discutir os conhecimentos teóricos. A gente não tem conhecimentos
teóricos necessários. Concordam?
definição teórica.
Júnior – Está surgindo uma dúvida que, eu estou entendendo que é o pré-
requisito para o ensino, é o pré-requisito que o professor tem que ter para ensinar
para o aluno, não o pré-requisito que o aluno tem que ter para aprender. Entendeu
qual a diferença? O quê que eu tenho que saber para poder ensinar.
gama de conhecimento dele, até pra você pegar essas informações aqui. É tipo uma
experiência que ele já teve.
Júnior - Eu entendi o que você está falando, mas eu não concordo. Até
porque, a única coisa que você vai ensinar não tem como descobrir o pré-requisito
dele. Ai você tem que botar a aula baseado no que é pré-requisito do grupo.
Entendeu? O professor não chega montando as aulas sabendo quais são os pré-
requisitos.
Romário - Agora sim, conhecimento teórico. Isso você tem que saber, pô.
Vai ensinar proporção.
Pesquisador – Faz assim, não joga fora não. Coloca assim, coloca isso
como do professor e começar só o do aluno. Mas não joga fora. Você colocou um
só, né?
Pesquisador – Pessoal, deixa eu só falar uma coisa aqui pra vocês estão
disponíveis aqui na mesa livros de todos anos no ensino fundamental., e livros
aleatórios como esse aqui de Instrumentação do Ensino de Álgebra e da Aritmética,
usado no Cederj, que trabalha com frações e proporções, números, que não são
livros para determinada série. Estão aqui à disposição para vocês usarem, se
inspirarem. Já estão aqui separados, de acordo com a série.
Jader - A função afim você pode aplicar, no caso um exemplo, a função ...
não é um caso que a gente vai ensinar para eles. Quando eu fiz um curso do Impa,
de professores, aí o Elon até discutiu isso aí. Porque você pode até ensinar para o
aluno a proporção, entendeu, pela função afim. Também é uma saída. Fica mais fácil
o aluno enxergar. Porque que o aluno tem pavor de matemática, porque ele não
quer pensar, cara. Ele não quer ter o trabalho.
Romário - Vai ficar difícil, por exemplo, você pegar o Snoopy. Com vai
achar a proporção? Vai ter que ter algum quadrado ou retângulo?
Júnior - Eu não sei se ele já vai ter essa ideia de proporção, entendeu?
Não a ideia de proporção da matemática, mas de distorcida, entendeu?
Romário - Mas nesse caso, você vai esperar que o aluno pergunte isso. A
gente está esperando que a gente vai começar a aula apresentando algumas
figuras. Vai ter, de repente, uma 10x15, porque uma 3x4 numa sala, realmente vai
ficar meio estranho. Então começaria com uma 10x15 e traria outras duas, uma
15x21, proporcional, e uma outra 15x30, que já estaria desfocada e, de repente uma
outra, 21x30, que seria desfocada ao contrário. Aí vai indo. O que a gente observa
aqui? Eles podem dizer: Essa daqui está estranha, está feia. Ou seja, pra gente,
distorcida.
174
Júnior - Isso aqui é o que o aluno vai falar. Isso daqui é um plano de...
você não precisa usar o termo igual. Eu posso pensar primeiro o que o aluno pode
me perguntar quando eu faço isso. Ele pode me perguntar porque a foto ficou ruim,
porque que a foto distorceu. Outra resposta que o aluno pode dar é falar que eu
aumentei um lado mais do que aumentei o outro. Sempre um em relação ao outro.
Romário - Não, ela foi mais esticada que o outro. Se o aluno chegar
falando aumentado, ele vai ter aquela ideia primitiva, que foi até que a gente teve
aqui, que na verdade quando você está aumentado a foto você está somando três
na base e três em cima, mas não é isso não. Por isso que a foto, as vezes, fica
complicado. Tem que trabalhar com alguma coisa, tem que saber o porque que ...
Romário - como que a imagem está distorcida. Como que a gente poderia
ajeitar essa foto que está distorcida.
Júnior - Até porque se você tem uma imagem, por exemplo, em qualquer
175
programa, Office, qualquer Paint, qualquer coisa, se você clica com o botão direito
[do mouse] você tem o tamanho da imagem. E o tamanho da imagem, eu ponho
uma proporção da base com relação a altura, vamos dizer assim. Ou você pode
modificar ali e ver o resultado.
Clóvis - O objetivo é ver algum padrão. Será que vai ajudar em alguma
coisa?
Júnior - Então coloca isso aí. Ponto a ser observado: que o professor
deve estar atento a ond está a proporção das imagens, se é na diagonal ou dos
lados.
Diana - Olha só vocês só tem 50 minutos para dar essa aula. Então não
vão fazer nenhum plano mirabolante. Tem que caber em 50 minutos.
o lápis custa tanto, a caneta custa tanto”. Aí ele foi lá e colocou o valor certo. Agora a
gente já sabe os valores. E ai o quê que a gente vai fazer? Aí ele apresentou um
problema. Se você tem dez objetos e gastou tantos iens, que é a moeda dele,
quantos lápis e caneta você comprou? Só que aí até eles pensarem e fazer alguma
coisa demorou um tempão.
Romário - Não. Aquilo ali é uma aula que você vai usar ao longo do curso.
Uma aula esporádica. Se você acha qie tem uma matéria que vai ser mais
complicado vai ser aplicar ela porque é tudo voltado na pergunta dos alunos. Por
isso que eu estou falando se você for usar o esquema dele, como você falou, das
fotos, mas não você falar e depois usar a foto. Primeiro apresenta a foto, a situação
problema e esperar que os alunos venham perguntando. Por isso que comentei:
mostra a foto e vai deixando eles falarem ...aumenta aqui, ali. Nesse caso, seria
ideal o computador.
Júnior - é fica mais fácil. Então a gente está bem no tema mesmo. Aí quê
que tem que fazer... Como a nossa proposta de aula é uma introdução, um conceito,
a gente pode fazer um pouco mais.
Júnior - Ou faz do livro que seria uma boa sequência. Eles entenderam
esse tema. Aqui agora sequência, questões, problemas e propostas. A proposta
seria o seguinte, eles aumentarem uma figura sem tirar a proporção dela. Entendeu
o quê que é proporção? Fechou? Agora é o seguinte, como é que eu faço para
aumentar uma outra imagem? Como é que eu faço para aumentar isso aqui e não
perder a proporção? Você está entendendo? Aí você poderia falar do conceito de
proporção, essas coisas. Eu estou pensando em uma aula, realmente. Apresentei a
figura, deu problema e eles perceberam. Consegui mostrar onde que estava o
problema? Eles sacaram onde que tem proporcionalidade? Beleza, qual o passo
seguinte da aula? Eu preciso dar uma aula isso.
Júnior - Não, provavelmente tem algum problema que sim. Não, você não
vai conseguir ver assim. Você tem que ver com algum problema.
Romário - Então, mas esse que seria o problema. A área de 10x15, é 150.
A de 3x4, é 12. Dividir 150 por 12, vai dar … De repente a área não vai acompanhar
não.
APÊNDICE F
TRANSCRIÇÃO DA AULA 3
Osvaldo – É!
Bernardo – No caso eu tava achando que ele ia dar uma aula sobre plano
cartesiano. Mostrou posições, plano cartesiano.
Osvaldo – Acho que sim. O professor ficou falando “Que número é esse?”,
que nem maluco, e pediu pra que quem tivesse entendido, que era pra sair.
Para os que não viram o primeiro vídeo, o que vocês tem a dizer desse
aqui? Quais as características que vocês perceberam?
João – Eu não assiste o primeiro vídeo, mas achei aquilo que você falou,
que o aluno é a figura central da aula. O professor não trabalha com respostas. Ele
vai jogando pro aluno pra ele ter aquela curiosidade. O aluno vai se interessando, se
interessando, até o professor chegar aonde ele quer. O professor meio que controla
os caminhos da aula; ele induz o aluno pro ponto que ele quer. O professor sabe pra
onde ele tá indo. Ele não se perde.
Júnior – Em nenhum momento ele pede pra turma fazer silêncio? Parecia
180
Júnior – A cultura japonesa parece que é propícia pra isso. Será que em
outro país funcionaria, uma aula dessa?
Bernardo – Essas aulas não tem cara de aula de Matemática. Não sei se
foi isso. Aqui os alunos copiam a questão do quadro e a aula é isso. Quem dá aula
em escola pública, pra olimpíada de Matemática, os alunos falam isso, que não é
aula de Matemática. A aula é desafiadora. Eles não ficam parados, quietinhos. Acho
que é por isso que eles gostam. Mesma coisa aí do vídeo.
Agora, vocês vão ter a oportunidade de construir uma aula tão legal
quanto essas, dentro do assunto de vocês. Dividam-se nos grupos, fiquem a
vontade para usar os livros.
Grupo 1
181
Carlos – o cara morreu, a ideia era dividir a herança pra mulher e pros
tres filhos. A parte dos três filhos seria dividido, de novo. Divisão por divisão
Bernardo - qual era o tema mesmo? Divisão de frações né. Tem que
pensar num problema que envolva divisão de frações. Nossa ideia era mostrar um
propriedade da divisão. Só que a ideia deles é era mostar um exercício onde você
resolvia. A diferença das duas ideias era essa. Um já tinha as operações e só ia
resolver o problema. Um problema explorar a propriedade, a divisão de uma fração
por um número inteiro, era só multiplicar esse número inteiro pelo denominador, usar
problema da pizza, pra ele concluir que a divisão ia ser sempre isso. O dele era usar
um problema pra mostrar pra que serve a divisão. Vamos trocar a questão? Não vai?
Obadelle – Vou reler o problema pra gente lembrar. Cinco amigos vão a
um restaurante comer uma pizza que vem cortada em 10 partes. Quantas fatias
cada um vai comer, de modo que cada um coma a mesma quantidade que o outro?
Supondo que cada um comeu 3 pedaços, como saber em quantos pedaços a pizza
veio cortada? Possíveis perguntas: podemos distribuir uma fatia para cada até que
as fatias acabem. Intervenções: pediremos que o aluno venha ao quadro pra
representar a situação.
Marcílio - Podíamos acrescentar uma dificuldade ai. Podia ter uma conta
única e a gente saber quanto cada um vai ter que pagar sendo que eles comeram
quantidade de fatias diferentes.
Marcílio – é. Sei lá. A pizza custou 50 reais. Teve um que comeu duas
fatias, uma fatia e meia ...
“Supondo que cada um comeu 3 pedaços, como saber em quantos pedaços a pizza
veio cortada?”. Supondo que não sobrou né? Pode ter vindo cortado em vinte, cada
um comeu três, sobrou cinco. Não sobrou pizza. O aluno pode perguntar isso.
Daniel – Acho que o mais difícil é mostrar pra eles o algoritmo, o lance de
inverter; a lógica disso.
Carlos – A intenção dessa aula não é essa não. Fazer alguma coisa e o
aluno descobrir o que é.
Bernardo – Não é pra dar a definição para eles. É pra perguntar pra que
serve dividir.
Osvaldo – A não ser que o aluno pergunte. Tentar encaminhar pra que
você faça essa pergunta.
Daniel – Como é que explica isso pro aluno que nunca viu.
Daniel – Você tá dividindo 1/3 por 4. Tem que dividir por 1 /4.
Bernardo – Você tem que trocar a unidade de medida agora para 1/4. Tem
que colocar 1/4 dentro do 1/2. [Osvaldo começou a pensar em 1/2 : 1 /4. Para isso,
desenhou um segmento de reta e, em uma das extremidades, escreveu 0 e, na
185
outra, 1. Além disso, marcou o ponto que representaria 1/2 e, também, 1/4 e 3/4.
Assim, representou um segmento dividido em quatro partes.] Agora é só ver quantas
vezes esse pedacinho [1/4] cabe dentro desse [1/2]. Pra gente chegar na regra …
vai ser o produto de quatro unidades, dividido por dois, que dá dois. 1/2 / 1/4 = 2
Obadelle – aqui no livro fala pra dobrar papel. Pega o papel e parte ao
meio. Parte por dois, a metade da metade é um quarto.
Obadelle – pra mim essa frase explica, mas pro aluno, ele queria ver
visualmente
Diana – Porquê?
Bernardo – deixa eu ver. Ele usou a ideia de inversa. Ah não, ele não
chega a mostrar que é inversa não. Ele só diz que pra você perceber que 2/3 por
1/6 tem o mesmo resultado que a multiplicação pelo inverso da segunda. Para o jeito
que a gente tem que dar aula, esse método nem serve.
Obadelle – podemos fazer perguntas pra estimular ele chegar nisso ai.
Osvaldo – cinco amigos vão a um restaurante comer uma pizza que vem
cortada em dez partes iguais. Quantas fatias cada um vai comer, de modo que cada
um coma a mesma quantidade do outro? Supondo que cada um ...
Bernardo – Cara, isso aqui não serve de nada. Só perdi tempo. cinco
amigos vão a um restaurante comer uma pizza que vem cortada em dez partes
iguais. Quantas fatias cada um vai comer, de modo que cada um coma a mesma
quantidade do outro? Divisão simples. Dez por cinco. Ele poderia pensar nisso ou
188
desenhar a pizza e distribuir no quadro. Não sei como ele vai querer fazer. Tomara
que surja essas duas soluções. Essa parte é tranquila. A segunda que é complicada.
A divisão de uma fração por um inteiro. Supondo que cada um comeu 3 pedaços ...
Bernardo - Podemos distribuir uma fatia para cada, até que as fatias
acabem. É uma solução. Ele vai distribuindo as fatias até que ela acabe.
Bernardo - tenho dez pedaços e tenho que dividir pra 5. É uma resposta
que ele pode dar.
Carlos - Porque foi dividido por 10? alguém vai comer mais que o outro?
Bernardo - Isso, pode ser. Pedir para que os alunos vão ao quadro para
resolver a situação. Pedir para que exponham dúvidas, se tiverem
Carlos - pode colocar os cinco, e pedir para que cada um coloque em cor
diferente o que comeria.
Bernardo - Mas ai seria uma solução deles, né? Podemos separar a turma
em cinco alunos.
Carlos - Quanto tempo deveria demorar até isso ai, para as crianças
fazerem isso?
Obadelle - 25 minutos?
dados”.
Carlos - Pelo menos a ideia não é fazer direto. Essa parte, como não tem
recurso, cada um fazer desenhando no quadro. Mas e a outra parte, como fica?
Carlos - Não. Lê aí o que tá escrito, o que vai fazer. Primeiro tem o cinco
em dez. E depois, não tem a outra parte?
Carlos - A mesma pizza, que foi dividida em dez? Outra pizza? Do mesmo
tamanho?
Bernardo - Isso não importa. O volume não importa. Aqui ele vai dividir
uma fração por um número.
Grupo 2
Júnior – Vamos situar ele aqui. Ele tá chegando hoje. Nosso tema é
proporcionalidade. Romário deu a ideia de começarmos a aula com fotografias, 3x4,
10x15. Propôs trabalhar a proporção por aí. Ver que a proporção tá na diagonal.
Combinamos de apresentar figuras geométricas distorcidas e perguntar “Porque a
foto da figura A está distorcida?”. Qual o nosso objetivo: Pegar uma foto 3x4 no Paint
[editor de imagem] e arrastar ela para um lado só, horizontal ou vertical. Ela vai ficar
distorcida. Perguntar pro aluno porque distorceu. A resposta seria “Porque puxou
mais para um lado do que para o outro”. A outra pergunta seria “Como a gente pode
consertar isso?”. Eu preciso ampliar a figura e ela continuar na proporção.
Pensamos também em fazer proporção de área e de volume. Tudo isso serve. Até
aqui, a gente caminhou. Agora a gente tem que terminar a aula. 50 minutos de aula.
Vamos fazer uma aula bem básica.
190
Júnior - Outra ideia que ele deu foi em mexer o lado e ver a área, o
quanto mudou.
Júnior – Mas ai ele vai estar amparado pelo professor. Por exemplo, 3 x 4.
Vai aumentar vezes dois. Vai ficar 6 x 8. É uma boa proporção pra imagem? Não!
Qual outra coisa que a gente pode considerar? Vamos considerar a área. 3 x 4 tem
uma área. Já 6 x 8, outra. O que quê a gente pode mexer? Como você tá
trabalhando com essas imagens, a única coisa que vai sobrar é a diagonal. O
professor consegue encaminhar.
Danilo – Ah, aí sim. “Qual é a melhor?” ele vai ver no quadro, responder e
acabou.
Danilo - Até chegar nesse ponto de que um lado foi aumentado mais do
que o outro, tem que haver uma introdução do assunto. Você não pode dar a
resposta.
Júnior – Proporção!
Romário – O máis óbvio é eles falarem que está nos lados. A gente
propõe testes pra verificar. A gente espera que não dê certo.
Júnior – Depende da forma que você entende isso. Pra gente montar uma
192
aula, a gente tem que montar um caminho. Pode acontecer da gente chegar aqui e o
aluno não querer nada do que a gente quer.
Júnior - Essa atividade é tão visual que não tem pré-requisito. A gente tem
que pensar na sequência didática dessa aula. A introdução dessa aula já tá feita.
Agora, pra onde que a gente vai querer que ele caminhe?
Danilo - A gente só vai conseguir depois que decidir o conteúdo que ele
vai aprender.
João - Mostra duas figuras, com a medida dos lados. O aluno vai ver que
um lado ficou multiplicado por tanto, mas já o outro, não. E fala “No que isso
interfere?”.
Danilo – Essa ideia é boa agora temos que fazer o aluno chegar até ela. A
gente não pode dar as figuras já com as medidas.
João - Você não vai perguntar pro aluno “Aonde que tá a proporção?”.
Você tem que fazer ele chegar ai.
Romário - “O quê que eles tem em comum pra ampliação ficar bonita?”
Júnior - Pra mim o início e o fim da aula é o que o João falou. Não vejo
coisa melhor do que isso. Propor e começar. “Vamos ver o que a gente fez com os
alunos. A base, o que aconteceu?” Não vejo uma melhor maneira. Se você ficar
esperando o aluno ...
Júnior – Pega o outro livro lá. Olha, ele primeiro ensina razão. Pega a
tabela, preenche e vê que os números seguem uma proporção.
Pesquisador – Ok!
Júnior – Dá uma olhada aqui no livro. Ele faz tudo. Começa com uma
atividade, de ver a proporção de tinta pra lata. Ele faz isso e apresenta outro
problema pra apresentar a palavra proporção. Ele usa leite e achocolatado, essas
coisas.
Júnior – É a mesma coisa que a gente fez aqui, mas com outras palavras.
Júnior – Tá caminhando.
Pesquisador - Não sei se vocês sabem. Um de vocês vai dar a aula pra
eles. Semana que vem já tem aula. Vocês precisam terminar hoje ou durante a
semana.
Júnior – Vamos adiantar. Eu acho que a gente consegue montar uma aula
de 50 min, aqui e agora. Não vamos pensar em muita coisa rebuscada não. Qual a
nossa proposta: introduzir a proporcionalidade e mostrar um exemplo. Fechou.
Romário - Na verdade, pelo padrão que a gente viu, não precisa nem
definir o que é proporcionalidade. Precisa aplicar.
Júnior – Vamos ver essas proporções ótimos: 3x4, 15x21. Ih, não são
proporcionais, não. A forma como a gente introduziu essa aula, não estamos
conseguindo dar sequência a ela. Temos duas opções: ou esquece essa aula, ou
seguimos o livro.
Todos – Sim.
Danilo – Todo mundo essa atividade da lata? É assim “Para preparar suas
latas de tint, um pintor cosutma dissolver 4 latas de tina em 6 latas de água. Quantas
latas de água são necessárias para dissolver 8 latas de tinra? Complete a tabela.”
Romário – Podemos fazer uma associação com área também; cada lata
195
Júnior – A gente só tem uma hora pra fechar o plano. Vamos seguir o livro
mesmo.
Danilo – Olha aqui a questão. Tem tabela. Vamos fazer que nem no vídeo.
Os alunos montam a tabela; dão nome para as colunas... Fechou!
Romário – Durex!
Júnior – Pronto. Até aqui já demos toda a aula, praticamente, Agora temos
que ver as possíveis perguntas. Qual a primeira pergunta que pode aparecer?
196
Todos – Ok!
197
APÊNDICE G
TRANSCRIÇÃO DA AULA 4
Todos - tá
[Arrumação da sala]
vocês podem chegar perto e observar. Além disso, vocês vão observar se o
planejado está sendo feito. Irão observar a coluna lá do canto [do plano de aula],
sobre os pontos a serem observados na aula. Isso seria um dos pontos pra vocês
observarem. Depois dessa aula a gente vai se reunir pra fazer uma discussão. Vou
pedir pra vocês registrarem tudo que estiverem observando, para no final, no
grupão, lembrar e colocar pra gente discutir. Mesma coisa no grupo dois, tá? Se
vocês perceberem alguma coisa durante a aula anota rapidinho pra poder discutir
depois. Bom, Alguma pergunta, alguma dúvida? Tá, Bernardo, você tem 50 minutos
pra cumprir o planejado. Sente a necessidade de reunir com teu grupo, pra discutir
alguma coisa? Conversar?
[Início da aula]
Bernardo - Isso, ela vai estar dividida em dez, você tem alguma estratégia
pra dividir isso aqui em dez pedaços?
Jader - Traça no meio de novo e traça uma pra cá e uma pra cá, em
forma de X. Eu pensei dessa forma.
Clóvis - Não, vai ficar oito, tem q colocar mais dois pedaços.
Bernardo - Oi?
Diana - Tá escrito.
Bernardo - É, a ideia é a gente saber que você pode supor que a pizza
tem o mesmo tamanho. Por exemplo, vamos dividir em três partes, vamos dividir
aqui e aqui.
Bernardo - Não, tudo bem, suponha que estejam iguais esses pedaços,
só pra gente poder pensar. Pode ser assim também, não pode? Porque a gente não
dividiu certo, igual aqui? Não dá pra ir continuando? O que vocês acham se fizermos
assim (aponta para o segundo desenho) tem problema de continuar pensando na
questão ou não?
Jader - Eu acho que tem. Não tem que ser igual, os pedaços?
Bernardo - É, já que você acha que tem que ser, não vamos continuar
com essa sua dúvida. Vamos fazer outra coisa, né? Se vocês pudessem talvez
dividir primeiro em cinco, não seria mais fácil? E depois podemos fazer alguma coisa
ai também. O que vocês acham? Tem alguma ideia aí, pra gente fazer agora com
essa sugestão que eu dei? Desenhar aqui (apagou os outros círculos e desenhou
outro)
Bernardo - Dez?
Jader - Por que os dez a gente vai saber precisamente quanto cada
pessoa daquela vai ... porque se traçar cinco e mais cinco, no meu ponto de vista
não vai ficar assim muito melhor não, põe os dez pontinhos que vai ficar de bom
tamanho.
Bernardo - Vamos fazer assim: eu vou fazer os dez pontos aqui. Um, dois,
três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez. E agora? O que a gente pode
continuar fazendo pra resolver o problema?
Diana - Bota nome nos cinco amigos e vai dando um pedaço pra cada
um.
Bernardo - Sim, vou fazer o seguinte, vou chamar de A1. Pode? Vocês
entendem isso? Se eu chamar de A1?
201
Jader - No meu ponto de vista, não seria melhor colocar o nome das
pessoas?
Bernardo - Ta, vou colocar aqui [lista os cinco nomes com a ajuda da
turma]. Então, o que vocês vão fazer agora? Com a pizza vocês podem fazer
alguma coisa? Qual a idéia dela? Botei os nomes aqui e agora?
Jader - Em cima.
Clóvis - é aí!
Clóvis - pode
Jader - do lado.
Bernardo - aqui?
Bernardo - aqui?
Bernardo - aqui?
202
Danilo - Professor, mas você não botou os números pra cada nome né?
Todos - 1, 2, 9, 10 e 6.
Diana - Vamos distribuir os outros pedaços pra ver se vai sobrar alguém.
Bernardo - E aí?
Diana - Porque agora, olhando pra pizza, ali dá pra ver que Carlos comeu
dois pedaços, a Maria comeu dois, Danilo comeu dois, Tatiane comeu dois e Bárbara
comeu dois. Então, cada um comeu dois pedaços de pizza. Não era isso que você
queria saber?
Bernardo - Por que, sei lá, o Carlos não podia ter comido três?
Júnior - Porque ele vai comer mais que uma das quatro pessoas?
Bernardo - Isso, nem todos vão ter comido a mesma quantidade né? Ta,
alguém tem outra solução pra esse problema? Uma solução algébrica, por exemplo?
Já aprendemos as quatro operações matemáticas.
Diana - Tinham dez partes e cinco amigos, você quer dividir as dez partes
ente os cinco amigos.
Bernardo - Dez dividido por cinco? Então vou escrever aqui. A solução do
problema vai ser essa aqui: 10/5. Isso dá quanto?
Todos - Dois.
Bernardo - Vamos lá. A gente agora sabe que eles comeram 3 pedaços.
Danilo - 3 x 5
Todos - Uhum
Diana - Um pedaço?
Bernardo - é um pedaço.
Diana - Um de quinze.
Bernardo - Não, sem usar isso daí e usando o desenho. Agora, usando o
que eu te informei e desenhando a pizza, será que eu consigo resolver também?
Sem usar essa estratégia de somar...
Bernardo - Não, eu sei que cada um tem três, só que eu quero fazer isso
agora desenhando, é possível?
meio.
Bernardo - É, eu coloco três aqui, três aqui, três aqui, ai vai dar certinho?
Bernardo - Em 5 pedaços?
Bernardo - Boa. Vou colocar com outra tinta, tá? E ai? Quantos pedaços
tem ai?
Jader - 15
Danilo - Um terço.
Bernardo - Pegar um terço de cada pedaço seria fazer o que com cada
pedaço? Dividir ele...
Jader - 1/15
Todos - Aumentou.
Diana - Se fizer do mesmo jeito que a gente fez lá, a gente vai ter que
começar dividindo a pizza em 8, né?
208
Júnior - Não.
Bernardo - Por que não precisa? Quantas partes eu dividi essa pizza? Eu
dividi um pedacinho em 7, o que eu vou fazer com os outros?
Clóvis - 7 x 8
Todos - 1/56
Diana - 13
Bernardo - 21?
Todos - É difícil.
Todos - 260
Todos - 1
Bernardo - O que isso aqui representava pra você, pra você ter dito que
esse problema aqui era equivalente a resolver o outro? Essa fração, essa operação
aqui, onde tem essa fração dividida por esse número, o quê que ele tem de
equivalência com o outro problema? Que você falou “ah é igual ao outro só
multiplicar os denominadores” não foi o que você disse? Mas por que você pensou
isso?
um pedacinho.
Bernardo - Tá, um pedaço é maior que o outro, mas por que um pedaço é
maior que o outro?
Bernardo - Toda a pizza, eu peguei agora uma nova divisão, então você
entendeu agora porque que ficou o um ou não?
representado como a fração toda agora. Qual seria? Quantos pedaços tem aqui?
Todos - 56.
Todos - 1/260
Bernardo - 1/260, certo? Então vamos tentar mais uma? E essa daqui?
Se eu apresento só esses números pra vocês aqui? Vocês sabem a resposta? 1/15 /
7.
Júnior - 15 x 7.
Júnior - É multiplicar.
Diana - Depende.
Bernardo - tem duas coisas interessantes ai. Tem duas afirmações que
tem que ter ai, tem que ter o que? Pra ser fração?
212
Clóvis - É um número?
Bernardo - É uma razão, né? Então olha só, o mais importante aqui é o
quê, quem é que tá representando isso daqui? Essa nomenclatura aqui representa o
quê? Representa que eu tô pegando a fração 1/5 e to dividindo por três, certo?
Então a operação de pegar uma fração e dividir por um número, o que acontece, a
fração que é este cara aqui e esse número aqui inteiro, tá? Esqueci de avisar, certo?
Esse número inteiro. O quê que acontece com a fração? O denominador da fração
fica multiplicado por esse número inteiro aqui, foi o que vocês concluíram? Então se
eu apresentar um problema pra vocês por exemplo? Como que fica isso [1/26 / 2]?
Júnior - 1/26x2
Danilo - Não.
Diana - Mas eu posso representar essa divisão de outro jeito? Por que eu
não to gostando desse monte de traço, eu to ficando confusa.
que é o que agora? A gente troca esse cara por esse, né? [troca : por /] Eu vou usar
esse agora, depois a gente bota esse no final, esse outro aqui vocês ficaram com
dúvida [ / ] se é uma fração ou não. Vou fazer o seguinte agora, vou apagar aqui.
Agora se eu tenho uma pizza dividida em três pedaços, novo problema é o seguinte,
uma pizza dividida em três pedaços. Ai eu peguei dois pedaços dela, que é 2/3 e vou
dividir em 3 pedaços (2/3 : 3), esse novo pedaço vai representar quanto do todo
agora? Esse problema aqui é equivalente ao anterior?
Diana - É igual.
Bernardo - Por que aqui a gente fez isso? Por que esse daqui é
equivalente a resolver esse problema e esse problema a gente sabia resolver. A
gente pode usar essa estratégia aqui se for equivalente a esse problema aqui.
Entendeu? Se ele for equivalente a esse problema a gente pode resolver, se não for
não dá. E agora? Vamos pensar numa outra forma de resolver esse problema
agora?
dividir em três partes iguais. Esse mesmo valor [2/3] dividido em três partes iguais.
Júnior - Apaga essa linha do meio [que separa uma fatia da outra].
Bernardo - Pode deixar ela, não pode? E agora? Vocês encontram algum
problema? [Bernardo dividiu a região correspondente às duas fatias (2/3 da pizza)
em três partes]
Todos - Quatro.
Bernardo - Isso daqui vai representar um pedaço da fração, não vai? Vai
representar uma fração. Que fração seria essa?
Danilo - Posso pegar cada pedaço e dividir por três, não posso?
Danilo - Acho que o problema fica mais explicito assim. Tenho dois
pedaços e divido cada um deles em três.
Bernardo - Você dividiu em seis pedaços, esse total aqui, certo? [as duas
fatias que representavam 2/3 da pizza foram divididas em três partes, cada,
totalizando 6 fatias]. Você dividiu cada um em três, você dividiu em seis pedaços, só
que você tinha que dividir em 3 pedaços.
Jader - 2/9.
Jader e Júnior - Eu não entendi, se tem seis pedaços porque são dois
nonos?
Bernardo - Não, isso aqui é o que? A fração da pizza dividida em três, né?
Essa fração aqui da pizza, é esse cara aqui, certo? Esse cara preto, certo? Tudo
bem? Dividido em três, a gente descobriu que vai ser esse pedaço aqui, certo? E ele
representa quanto da pizza?
O dividido por três? Esse pedaço daqui vai representar o quê? Um pedacinho desse,
vai ser uma fração da pizza toda, certo? Então vai ser o quê? Dois pedaços de
quanto?
Bernardo - Em mais três, né? Então, isso daqui é dois pedaços de nove.
Clóvis - 5/60.
Bernardo - Isso, porque, quando você pintar, você vai pintar as cinco
primeiras. Entendeu por quê? Você entendeu? Vamos fazer ela, vou apagar aqui o
exercício, tá? Acho que não ficou bem claro o que o Clóvis falou. Ele falou o
seguinte, tá pensando assim. Ele desenha a pizza. Ele divide em seis pedaços, tá?
Vou dividir em seis. E aí ele pegou cinco pedaços, né? Vou colocar um pontinho pra
representar os cinco, certo? Aí ele pega cada pedaço e divide em dez, certo? Como
ele pegou cada pedaço e dividiu em dez, mas ele não queria dividir em dez, ele
queria dividir em cinco, ele queria dividir em dez em tudo, então ele pega cinco
pedaços de cada um, que nem ele fez aqui, certo? Ele divide aqui em dez, vou
217
Bernardo - Tá ai dez pedaços, certo? Ai fez isso nos dez, não foi o que
você disse? Fez isso nos dez aqui? Em todos eles. Ai agora, a minha pizza ta
dividida. Aí, eu pego de cinco em cinco né? Alguma dúvida?
Júnior - Isso que tô falando, tem que dividir tudo em dez, não é só um
cantinho daquele.
Diana - Cinco.
Bernardo - Cinco! Entendeu agora? Ele pega cinco aqui mais cinco aqui,
dois, mais cinco aqui três, mais cinco aqui, mais cinco aqui, mais cinco aqui, me
perdi na conta. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. Dividiu certinho, viu? Então tá dividido o
que?
Diana - 5/60.
Bernardo - 5/60 avos, né? Essa expressão aqui como vocês já viram pode
ser escrita assim, ó, que dá quanto? 5/6 / 10 = 5/ (6 x 10) = 5/60 = Isso dá quanto? A
gente sabe simplificar fração, né gente? Olhando pra essa pizza aqui, qual é a
fração que ela representa se fosse olhar pra uma unidade só, qual seria a fração?
Bernardo - 1/12 avos, porque seria, aqui tem dez mais dois pedaços aqui
218
tem doze, né? Então isso aqui representa 5/6/10 = 5/ 6 x 10 = 5/60 = 1/12 avos.
Bernardo - Isso, isso não tava no plano. E outra coisa também é que eu
tava escrevendo. Vocês fizeram críticas que eu achei muito interessante. No caso,
“Ah o que que é isso?”, “Que símbolo é esse?”. Eu não falei em nenhum momento
219
essa coisa dos símbolos. Acho que era mais intuitivo começar pela divisão e depois
ter colocado a barra; dizer que a divisão também podia ser representada pela barra
inclinada.
Bernardo - Isso. E eu não fazia ideia das perguntas que vocês iam fazer.
Não coloquei porque não tinha ideia do que vocês iam perguntar.
Pesquisador - Tá, então a gente pode abrir agora, vamos ver o que cada
um anotou e vamos ver o que cada um anotou e discutir isso. Pode começar Danilo.
Danilo - Quando ele falou que o Clóvis propôs a divisão certinha [da
pizza, em dez partes iguais], isso não era a proposta do Clóvis. Era do problema,
que dizia que a pizza que foi dividida em 10 pedaços iguais.
Danilo - Quando ele fala isso, ele tá querendo ou não uma parte do todo.
220
Osvaldo - Eu meio que fiz quase que um relato, mas eu fiz umas
observações, tipo assim: o desenhar a pizza, já é algo, tipo assim, acho que foi
previsto. Cheguei a escrever isso no plano, ou algum tópico parecido, não me
lembro. Que é uma coisa que eu acho que facilitaria e logo no inicio alguém falou
“ah vamos desenhar a pizza”.
Osvaldo - Eu achei, não sei, tipo assim: “O problema afirmar que são dez
partes iguais, implica no desenho também ser feito em dez partes iguais?”. O aluno
é muito detalhista pra algumas coisas, ou não é maduro suficiente pra entender que
o desenho não tem que, necessariamente, seguir as medidas.
Diana - Ele não tem o sentido de abstração ainda, né? Então seria, o que
eu tava falando com o Danilo, teria que estar dividido em partes iguais porque eles
não tem a abstração ainda de pensar que isso não influenciaria na resposta.
Júnior - Eu acho muito complicado, porque é o sexto ano, né? Pro sexto
ano pensar que nesse nível de abstração que eu não preciso ter o desenho certinho
pra compreender a situação, eu posso desenhar algo mais ou menos e mesmo
assim ter a representação que me auxilia. Acho que ainda é um pouco complicado
pra eles, pelo menos na experiência que eu tive dando aula pra sexto ano.
Clóvis - O esboço
Pesquisador - Essa parte dos nomes ... não, antes eu quero falar dos
pontos. Você falou de botar dez pontos né? Uma coisa que você poderia ter feito
nessa hora, era chamar um aluno. Aliás, eu achei que você induziu um pouco nessa
parte. Você deu a sugestão dos dez pontos. Foi uma resposta.
Pesquisador - Com certeza! É e eu vou falar isso toda hora, porque isso é
uma coisa muito presente. Foi muito presente na aula e isso é uma coisa que,
apesar de eu me policiar pra não fazer, ainda faço em sala também, que é aquela
coisa de dar a resposta, de induzir. Todo mundo aqui, aposto, que gosta de resolver
exercícios de matemática, problemas de matemática, né? E isso torna a gente um
cara muito ativo, né? Pensamento a mil, só que como professor a gente não pode
ter essa postura, né? A gente tem que pisar no freio direto, a gente não é o
resolvedor de problema quando ta ali na frente. A gente é o professor, então tem que
222
segurar muito, é difícil pra caramba. E nessa que você falou dos dez pontos, poderia
ter pedido a um aluno marcar no quadro, né? Fazer o desenho.
Osvaldo - Tem uma temática, só que acho que não sei se tem material.
Diana - Não, não falo nem de material, mas de você começar a aula
incitando a curiosidade.
Diana - Acho que faltou uma motivação inicial, que é presente no Lesson
Study.
Diana - É, você podia começar assim “to com fome! Quem tá com fome?
Vamos pedir uma pizza?”.
Romário - Eu acho que você tinha que a todo momento incitar o aluno a
querer descobrir algo, sabe?
Diana - Eu acho que durante a aula ele fez isso muitas vezes.
Diana - É, eu acho que faltou uma motivação inicial, durante a aula ele fez
isso.
você fazer qualquer coisa, sei lá, deixa eu pensar aqui em alguma coisa. A maioria
das atividades que a gente faz na vida existe um processo até você fazer de fato o
que você quer, de fato. Quando a aula começa assim: “Vamos ler o exercício”, já é o
finalmente quase. Esse preparo é realmente difícil, né? Em sala de aula, como é que
você pode fazer? Você pode chegar, dar um bom dia ou boa tarde, conversar sobre
um tema relevante da semana, pra você ir ambientando os caras né? Até eles
estarem numa sintonia que te permita se comunicar, que eles vão te ouvir, que
permita a aprendizagem. Isso é uma coisa que eu penso bastante e acho
importante. Por exemplo, ano passado eu tinha uma turma que eles gostavam muito
de musica e eu chegava na sala e era sempre uma zueira. E era muito difícil fazer
eles mudarem de sintonia, sabe? Sair daquela zona e baixar um pouco a bola, sabe,
desacelerar. Era difícil. Eu comecei a usar musica e assim, naquela turma, em
específico, funcionava, porque a musica começava a envolver os caras e eles
prestavam atenção. Eles se acalmavam, até eu conseguir um clima que achava
adequado pro que eu queria.
Júnior - Eu vi uma reportagem essa semana, não sei se alguém leu, mas
que dizia isso, que o professor é assim, era interessante porque ele levava
cavaquinho pra sala de aula, violão e a turma toda acompanhava o ritmo dele e ele
levava o instrumento mesmo, “Vamos tocar um pagode hoje”. Ele levava o conteúdo
em estilo de pagode. Se fosse funk ele levava lá um aparelho que fizesse a batida
do funk e a turma ia no embalo dele, era o que ele fazia.
existe a equipe, nesse estilo de aula, precisa da equipe, porque o cara pensa em
muitos detalhes. Como ele falou, as perguntas que iam surgir, o grupo que ele
preparou, um grupo que era pequeno, mas mesmo assim, vocês não conseguiram
colocar todas as perguntas que poderiam surgir dos alunos, porque vocês não
pensaram, não é? Parece que exige uma certa habilidade, já uma certa experiência,
de sala de aula.
Pesquisador - Todas é.
Pesquisador - Eu acho que pro tipo de alunos que vocês vão encontrar
quando vocês começarem a lecionar, vai ser esse aluno que precisa de um tempo
pra entrar no clima da aula. É que nem um computador, você aperta o botão on, no
computador, ele leva um tmepo pra estar pronto, né? Os computadores mais rápidos
são os mais eficientes e a maioria não são alunos eficientes que tem o auto controle
de fazer assim e ta pronto pra prestar atenção na aula. E assim, uma coisa que eu
senti falta, você poderia ter pedido pra algum aluno ler o problema e você
economizava a tua voz e já envolvia pelo menos um aluno e de repente os que
estavam ao redor dele.
Júnior - Acho que tipo, o que foi mais estranho, não sei nem se foi o
começo, mas depois, assim, essa coisa de dividir a pizza em 260 pedaços, foge
totalmente, acho que pelo menos se tivesse os números mais próximos ia passar
desapercebido, agora você dividir uma pizza em 260 pedaços.
Bernardo - A ideia ali era entender que você dividir uma fração por um
número você multiplica o denominador.
Diana - Então, pelo problema que vocês estavam propondo não dava pra
ver isso.
Bernardo - O problema foi só pra gente ter uma ideia de como resolver
aquilo.
Diana - Então, mas esse problema não estava bom para o que vocês
queriam, entendeu? Se vocês queria trabalhar divisão de fração, esse problema não
exigia uma divisão de fração.
Bernardo - Não, o problema é ele todo, tanto é que a gente não escreveu
só um problema lá. Ele coloca um.
226
Clóvis - Eu acho que começou fácil e ele foi complicando e “se agora eu
fizer isso?”.
Danilo - Mas de acordo com o nível de dificuldade, foi o que eles falaram,
dividiu a pizza em 260 pedaços.
Bernardo - É, isso ai ficou fora. Eu achei que ele foi gradativo, começava
de um muito fácil, pra estimular e depois ele ia dando o mais dificil, certo? Até ele
chegar no ultimo ali e o ultimo que era onde a gente queria chegar.
Júnior - Talvez pudesse dividir o quadro, sei lá, já pensando nisso. Porque
ele se perdeu, tipo eu já não sabia onde tava, o que que ele queria e teve uma hora
que você tava resolvendo o de baixo e você perguntou quantos tinha dividido o de
cima, tanto é que ela perguntou, “o de qual? O 7 x 8 ou o de baixo?”. Então eu acho
que você poderia ter dividido o quadro no nível de dificuldade. Talvez no problema
desafiador você começaria por ele, mas não ia resolver, ai ia pro mais fácil,
entendeu? E depois você voltava naquele pra construir e ficaria mais fácil. Não sei
se isso é uma boa ideia, sei lá.
Diana - Você, Felipe, falou em uma das aulas que você começou a
escrevendo lá e que não deu certo e que seu quadro ficou desorganizado. Vocês
lembram disso? Que o Felipe comentou? Começou escrevendo naquela parte lá e
que não foi bom? E quando você vai planejar uma aula você tem que pensar isso.
Duas palavras: quando você planeja uma aula você tem que planejar onde vai estar
o quadro, mostrou o plano de aula, que o cara sabia exatamente onde ele ia
escrever cada coisa. Então você começou pelo final do quadro. Lógico que aquele
227
espaço que você reservou não ia ser suficiente e ai ficou voltando e porque não
começou de lá? E foi construindo?
Bernardo - Eu achei ideal começar aqui, porque estava todo mundo aqui.
Bernardo - A gente tem que parar de pensar que tem que fazer desse jeito
certinho, tem que fazer uma coisa diferente. Tem que romper com o óbvio, a gente
fica muito no óbvio, tem que romper com o óbvio.
Bernardo - Ah não, pra mim acho que não. Acho que começar daqui pra lá
eu to rompendo com uma tradição que é começar de lá pra cá, só isso.
você corrigiu exercícios na primeira, na segunda e na terceira. Sei lá, seu quadro é
isso aqui e ta dividido nessa maneira e você escreveu o exercício aqui e exercício
aqui e beleza acabou a correção do exercício e vai começar o conteúdo de novo, ai
você começou a explicar teu conteúdo novo aqui, só que não coube, então você vai
usar aqui depois e ai você vai usar aqui depois (24:39) quando o aluno olha o
quadro assim ele não sabe mais onde é que começa, ai o que você tem que fazer?
Eu numero 1, 2, 3. Então ficou diferente, mas por que? Porque essa parte eu não
podia apagar aqui ainda porque o aluno ta copiando o exercício. Então assim, eu
posso começar de lá e depois ir pra cá? Posso, mas de maneira organizada,
mostrando pro meu aluno.
Diana - Você fez isso aqui, beleza. Mas você indicou sua organização?
Você dividiu o quadro?
Bernardo - Não, não dividi. Isso que eu to falando, isso daí que eu
comecei em cima e em baixo, eu to falando que eu realmente me confundi ai. Agora
que tem que começar de lá pra cá. Comecei daqui porque tava todo mundo aqui
perto e fui pra lá. Eu queria até ficar só aqui, não queria ir pra lá, ficar só apagando,
só que na hora eu não pensei. Por que eles não estavam enxergando o que estava
escrito ali, então a ideia de ficar aqui também era por isso.
pegar por exemplo a página do facebook que é uma rede que eles mais utilizam,
né? Você tem aqui no meio, é, o feed de noticias, aqui do lado em cima você tem
aniversario de fulano e tem um outro feedzinho aqui, propaganda daqueles caras
bombadão bizarros. Você tem diversos estímulos no mesmo quadro. Estímulos
diferentes de assuntos diferentes. Quando você olha pra tela você ta recebendo
aqueles diversos estímulos e não é linear, as informações não estão dispostas
linearmente, né? Então assim, o quadro “estar bagunçado” isso é relativo, né? Você
pode colocar um quadro, não linear, sem problema nenhum, e acho que isso é bom
até pro aluno, porque aquilo se assemelha um pouco com o que ele gosta e esta
acostumado, que é o ambiente da internet, né? De repente fica menos chato pra ele.
Agora, isso precisa ser planejado, porque senão é fácil virar bagunça, né?
Clóvis - Eu ainda acho que isso poderia complicar o aluno, se você for
pensar numa organização desse jeito, não linear, colocar um pouco de informação
aqui e outro tipo de informação aqui, sei lá, mesclar de alguma forma isso poderia
confundir o aluno porque aqui na verdade a gente ta tratando de ideias na verdade,
o conteúdo matemático, é caracteristicamente diferente dos outros conteúdos
porque trabalha, a nível de abstração e nível de ideias mais elaboradas, então não
é, o aluno já se complica por si mesmo pelas ideias da matemática, o fato de
organizar de maneira linear torna mais simples pro aluno visualizar e mais simples
de compreender. Quando, eu assim na facauldade.
Clóvis - vamos ver o seguinte. Qual é a forma mais simples de olhar pra
um quadro?
desafio no meio e depois vai embaixo, sei lá. É uma linha que tu vai caminhar do
que tá realmente bem organizado e você tentou fazer uma forma diferente e não deu
certo, sei lá, acho que é um passo muito fácil de acontecer.
Bernardo - Mas acho que tem que deixar de ser afoito, né? Pra começar a
pensar em inovar sem ter medo, sem ter medo de errar. A gente tem mto medo de
errar, muito medo de fazer diferente. E a gente faz igual, a vida toda, o aluno não
aprende, a gente faz a mesma coisa e quer resultado diferente. Não tá na hora de
fazer alguma coisa diferente pra ter um resultado diferente?
Júnior - Mas sobre o que o Felipe falou, eu penso até onde o risco vale a
pena. Porque um quadro desorganizado acabou a aula. Eu pelo menos penso
assim.
eu fiz, eu fui lá fiz num papelzinho, não trouxe o exercício pra turma, fiz o exercício
no próprio quadro e eu só tinha aquele cantinho pra escrever, com pilot, só tinha
aquela parte em branco. Eu tinha pensado no quadro lá no laboratório, mas na hora
era o que tinha aqui e tive que fazer.
Pesquisador - É, isso é uma estratégia que nos vídeos apareceu, nos dois
vídeos, né? Se o aluno possui uma outra forma de resolver o problema, isso eu acho
que chama a turma. Uma pergunta tua que eu gostei foi “Qual a estratégia pra dividir
ao meio?”. Quando a gente fala dividir ao meio, pra gente tá muito claro o que isso
significa, né? Mas, quando o aluno fala isso, eu não sei. Por exemplo, “Divida essa
folha ao meio”. Você pode imaginar esse movimento aqui ou esse outro. Você pode
imaginar isso, você pode imaginar uma divisão pela diagonal também. Então, a frase
“Divida ao meio” não significa muita coisa né? E ai você perguntou, mas qual a
estratégia pra dividir ao meio. Isso é uma forma de você entender o que o aluno quis
dizer. Parece que ele foi claro, mas não foi. Isso pode ser tanta coisa né? E no que
tu pergunta desse jeito, “Qual a estratégia pra fazer isso”, acho isso muito bom. E eu
acho que você poderia ter utilizado esse recurso mais vezes na aula. Diversos
momentos os alunos deram palpites e aconteceu de você usar o palpite sem
investigar um pouco mais o que ele queria dizer. Por exemplo, no final, eu acho que
foi o Clóvis ou o Júnior que falou assim, você perguntou “O que podemos falar sobre
divisão de fração por um numero?” e ele respondeu “Multiplicar”. Uma palavra só,
não me diz nada. Multiplicar o quê? Quem por quem? E como? Aí, você emendou
“Isso, multiplicar o denominador”. Eu não sei se ele pensou isso; se ele seria capaz
de formular essa frase. Então você poderia falar assim: “Explica isso com outra
palavras”, “Forme uma frase” ou então pedir uma outra pessoa, “Alguém pode
explicar o que ele quis dizer?” E isso aconteceu diversos momentos que você
poderia usar esse recurso do “Explique com outras palavras” e “Forme uma frase”.
232
Bernardo - Teve uma hora também que eu pedi pra ele explicar e eu que
fui explicar. Aí eu fiquei pensando que era melhor ter deixado pra ele. Foi a dúvida
se era o dez ou se o de baixo. Aí eu falei ao invés de deixar o Clóvis ir ao quadro e
explicar.
Carlos - O que eu tinha visto era isso mesmo, que faltou botar no quadro
pra dividir em dois ou três partes. A parte do inicio, realmente faltou a motivação pra
chegar e falar algo do tipo “Pô, eu tava no facebook e entrei no site da Parmê”.
[Parmê é o nome de uma pizzaria] Começar e conversar assim, perguntar qual pizza
que tu gosta e tal. Isso tudo a culpa é mais até nossa mesmo do que dele. Eu
comecei a pensar essas coisas aqui na hora. Antes, no planejamento, não veio nada
na minha cabeça. As ideias começaram a vir e foi até bom.
aqui os pontos e tem uma coisa que é importante comentar também que é assim:
algumas vezes você propôs uma pergunta pra turma, mas você esperava pouco
tempo pra eles pensarem, né? E você sempre fazia uma pergunta depois ou fazia
um comentário depois. Aí você tira a responsabilidade deles responderem. Os
alunos são espertos. “Ah o professor sempre comenta depois. Então, eu nem
preciso falar nada.”. Agora, se você pergunta e fica em silencio, aquilo ali uma hora
vai incomodar o aluno e ele pode, talvez, se sentir mais motivado a responder. Como
terá que responder, então o aluno vai ficar mais ligado na aula. É a conclusão que
eu tô chegando: quanto menos a gente fala, melhor é.
Júnior - Posso falar de uma experiência que eu tive e faço muito com a
turma ali. Porque tipo, lá é muito bagunçado onde eu trabalho. Uma coisa que eu
tentei fazer é pedir silencio, mas isso não adianta. Então, eu jogava sempre uma
pergunta pra eles; tava sempre fazendo pergunta e sempre alguém vai responder.
No meio de 20, 25, 30 alunos, um pelo menos vai saber e ai eu pegava o que sabia.
O aluno falava a resposta lá no cantinho, ai eu perguntava pra outro que não sabia e
ele falava “Ah não sei”. Ai eu virava e falava “Então Matheus, explica pra ela como é
que você pensou”. Só que na hora que ele vai falar, ninguém tá dando atenção, eu
falo “Ué, a turma é de vocês. Pede silêncio. Você não quer falar?” Então eu jogo a
responsabilidade pra eles e ai o aluno começa a falar “Cala a boca ai”. O pessoal vai
calando a boca e daqui a pouco tem silêncio e ele fala “Eu fiz isso, isso e aquilo”. Aí
você aproveita a resposta dele pra explicar o quê que ele pensou. Mas eu sempre
jogo essa responsabilidade, como você comentou que tá fazendo essa experiência
agora. Eu sempre faço esses negócios. Eu jogo sempre pra um aluno responder e
depois jogo a responsabilidade dele passar o quê ele pensou pra turma. Aí eu vou
moldando o quê que ele pensou certo e o que não pensou; da onde veio. Eu acho
que funciona, pelo menos na turma que eu pego, eu acho que isso funciona muito
bem e ai eu também não preciso ficar gritando toda hora pra pedir “faz silêncio”.
Danilo - Eles falam na lata, que idiota. Uma coisa que eu vejo que
funciona muito é pedir pro cara intervir na aula. A única coisa que eu vejo é isso, vai
pro quadro, Escreve o que você tá pensando”. “Não professor, tenho vergonha”.
“Então fala pra mim que eu escrevo”. “Mais alguém tem alguma coisa pra falar?” O
que eu vejo é que quase sempre funciona e comigo não falhou até agora, pedir pro
aluno intervir, deixar o aluno bem relaxado.
Osvaldo - Eu acho que a música funciona, só que você tem que trabalhar.
Assim, nós estamos estudando licenciatura em matemática, então acho que
teoricamente a musica não seria o forte nosso. Eu tentei fazer uma musica lá no
município. Eu pensei “Vou tentar fazer uma música”. Escolhi fazer um funk. Eu já
235
cheguei na sala e falei “Aí, eu tava pensando em fazer uma música aqui pra gente e
vocês me ajudam a completar.”. Comecei a cantar músicas que eles cantam direto,
só que com palavras matemáticas. Aí, eu coloquei raiz no quadro e “Pô professor, eu
esqueci como é que começa.”. Ai eu lembrava da música e o outro ajudava a
completar. Mas aí eu falei pra eles “Completa com o algoritmo”. “Professor o que é
algoritmo?”. “É um método e etc.”. Claro que ele já esqueceu o método todo que eu
fiz, mas eles fizeram a música. Então, você montar a música e juntar com temas
matemáticos, tem um certo rigor, é um recurso, mas eu não acho fácil. Se começar a
fazer aquele versinho “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”, eles vão falar
assim “Professor...”
Pesquisador - Então, isso era uma das intenções quando eu pedi pro
grupo que tava aqui se colocar no lugar do aluno, né? A gente precisa ter essa
habilidade de saber trocar de lugar e saber analisar a coisa. Não é nem só na escola
não, é pra vida isso.
236
Osvaldo - Isso aproxima a gente deles. Eu não falo “Pô, não tá dentro do
combinado, gente”. Eu falo “Que vacilação é essa?”. Já chego junto. Claro que não
vou falar igual. Eles tem muito erros de português. Eu não to corrigindo eles. Vou
falar bonito, mas não tem porque não usar as gírias que eles usam. Entendeu?
Jader - Por exemplo, numa outra escola que eu trabalhei o aluno chegou
237
e fez uma pergunta meio que idiota mesmo e o colega do lado riu. Quando ele deu a
gargalhada, eu falei assim “Você vai vir aqui agora e vai explicar isso aqui pra ele”.
“Se você tá rindo, por quê que você tá aqui? Só quero isso de você. Eu acho que
todos tem que estar no mesmo patamar, se todos estão no mesmo barco, por quê
que você é melhor que ele?”. Não existe isso, ele nunca mais riu de nenhum colega,
pelo menos na minha aula. De nenhum colega. Porque eu botei ele, já que ta rindo,
vem aqui. Eu dei o pilot na mão dele Tipo assim, ele ficou sem graça com aquela
situação toda.
Júnior - Felipe, essa cara assim meio que isolado, isso não afasta a turma
não?
Diana - É, o fato de ser sem julgamento, não é assim “Ah, não é cara de
não estou afim de prestar atenção no que você esta falando”. É uma cara de não
estar julgando o que ele tá fazendo.
Osvaldo - Mas não tem como cara, eu concordo com você que tipo assim,
eu coloco 2³, ai eu perguntou quanto que é 2³ e eles falam 6. Ai eu já “ahhhhh tem
uma faca”. Ai eles “Não, não é 8! 8!” Isso é normal.
sobre isso, tem como você usar essa cara e ser um cara afetuoso.
Marcílio - Além das que já foram colocadas, não tem muita coisa, né? Eu
achei que, uma metodologia que ele poderia ter usado e que não foi usada e isso
também não foi posto no nosso plano de trabalho, a gente não foi tão detalhista
nisso, foi de pedir para que cada aluno fizesse seu próprio desenho e, conforme a
gente fosse solicitando, e fazia as divisões, visse como que cada um ia fazer a sua
divisão, entende? E ai, pedisse ao aluno ir lá na frente e explicasse porque que ele
fez daquele jeito e ai fosse comparando as diversas maneiras pra tentar chegar num
… a própria turma chegar num consenso; qual seria o jeito mais adequado. E isso
poderia ter sido ao longo de todo o processo, né? De toda a aula, cada aula ter sido
feita desse jeito. Só isso mesmo, além das coisas que já foram postas, né?
sabe ainda dividir e a minha proposta era essa, mostrar como que seria aquela
divisão e ai, na hora que ele perguntou, ah isso ai é uma fração? É, é uma fração. Ai
ele falou: Mas por que é uma fração? Ai eu não sabia se eu tinha que falar e definir o
que é fração de novo ou se eu fazia aquilo que eu fiz né? Perguntar se alguém da
turma sabia e até esperar alguém chegar na definição e se não chegasse, ai eu ia
falar.
Mário - E também a fração tem uma ideia assim que é ampliar e reduzir.
É uma coisa, uma ideia às vezes tem fração, de ampliação e redução. E na questão
da pizza, quer dizer, em vários casos. É uma das ideias, sabe? E também tem um
papel de transformação, sabe? Ela transforma, ela faz um papel de mudança, quer
dizer, você olha é uma fração e além desse papel de ampliar e reduzir, ela tem esse
papel de transformar as coisas, sabe? De acordo com o que você está vendo ali,
esse processo.
Mário - Fração também é, olhando ela assim, que partes você pega em
um todo, sabe? Você pega as partes, é como se usasse a reta numérica. Por
exemplo, 2/8. É você pegar toda aquela, essa parte e no todo, quer dizer na reta, na
pizza que ele usou, aquele pedaço que foi cortado ali, aquele pedacinho, quer dizer,
ele dividiu aquilo ali totalmente no todo e o aluno ali ele tem que ter essa percepção,
essa questão, como é que ele tá analisando isso, essa questão.
reta. Pode ser uma probabilidade. Pode ser uma razão. Tem diversos significados,
né? E se vocês repararem a maioria dos livros aborda muito o caso parte-todo.
Mário - Não, porque, tem que ver a ordenação, na reta, por exemplo,
essa questão de 2/8 ou 1/4. Tem a ordenação na reta, não pode ser desordenado
assim. Também é aquela questão, quando você marca essa parte, é a primeira parte
que você marca de um todo ali. Por exemplo, você marcou 1/4 é a primeira parte
dessa parte que é daquele todo, eu to falando da reta numérica, assim.
Jader - Fellipe, ou seja, uma pergunta, uma coisa é você dizer a resposta.
Jader - Isso que você tá colocando, tem como a gente, não digo eliminar
por exemplo a falta de atenção, não tem como você eliminar do aluno. Acontece com
a gente também, às vezes, sem querer, a gente erra a conta. Isso ai não tem como.
241
Mas tem como minar esses vícios? Assim, no caso, reduzir? Existe essa
possibilidade?
Júnior - Do professor.
Clóvis - Se policiar.
Carlos - Na terça feira passada, o Ulisses me botou pra dar uma parte da
aula. Eu tava muito preocupado em que os alunos entendessem. Aí, toda hora eu
fiquei “Entendeu? Entendeu?”. Só percebi isso porque teve uma hora que eu tava
explicando lá falando “Entendeu?”. Ai eu comecei a mudar, a perguntar de outras
formas.
Diana - Eles fazem questão de te mostrar. Eu falo muito “Tá certo”? Aí,
depois do facebook infernal, com o même “tá serto”, agora além de eles falarem “tá
certo”, eles fazem assim (polegar pra cima).
tem que tomar cuidado porque a gente sabe que eles são muito críticos, ainda mais
dependendo da fase que você tá pegando, cuidado com o vocabulário mesmo.
Nossa língua é bizarra, traiçoeira. A gente tem que tomar muito cuidado com o que a
gente fala porque eles são muito críticos. Eu acho o conteúdo de divisão de fração
complexo e gera dúvidas, inclusive na gente, não só quando a gente age como
aluno, mas a gente, fez a gente pensar. Será que esse foi o melhor método? E ai
penso no grupo mesmo que planejou a aula. Será que essa é a melhor maneira de
ensinar divisão? Será que assim vai ficar claro pra todo mundo? Eu não sei a
resposta, não sei como é que se ensina de outro jeito também. É pra gente pensar,
existe outra maneira da gente ensinar? A gente pensa em divisão de outra maneira?
Alguém sabe? Outro jeito de pensar? Como faz isso? Alguém já explicou divisão de
outro jeito?
Pesquisador - Dez balas divididas por duas pessoas, por exemplo. Fazer
10:2 é equivalente a perguntar “Quantas duplas podemos fazer com dez objetos?”
ou então “Se dez objetos forem distribuídos igualmente, quanto cada uma dessas
duas pessoas receberá?”.
8, 9, 10. Aposto que vai ter aluno que vai fazer assim “ah isso daqui é o seguinte vou
dar essa pra pessoa A, pessoa B, pessoa A, pessoa B, A, B, A, B, A, B então isso
daqui são duas pessoas e cada uma recebeu 1, 2, 3, 4, 5. 5 e 5”. Ou então ele pode
imaginar assim ó 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, fazer 10/2 é 1, 2, 3, 4, 5. Repara que
aqui não tem dois personagens na historia, tem um só, quer dizer, nem tem
personagem, ele consegue fazer cinco duplas. Então você coloca isso no quadro [10
: 2] e você acha que é uma coisa simples, mas o aluno, qual maneira que o aluno
usa? E quando ele vai pra fração qual será, quando você coloca lá 1/3 : 2, eu não
sei qual maneira ele vai tentar resolver isso, então uma possibilidade é você
relembrar o conceito divisão entre dois naturais por exemplo. Relembrar que têm
esses dois significados e a partir daí tentar, por exemplo, você pode evocar a
multiplicação 3 x 15 = 45 e perguntar de que maneira você pode obter esse número.
E eles vão, espero que relembrem. Vocês conseguem desenvolver em aula de forma
que eles, que fique claro que é divisão o processo inverso e vice e versa que o
processo inverso da divisão é a multiplicação e ai elaborar uma estratégia pra usar
com fração. Você quer falar mais alguma coisa Diana? Você anotou ai um monte de
coisa, né?
Diana - Umas das coisas foi que no planejamento disseram que iam
chamar os alunos pra vir pro quadro e isso não aconteceu. Eles disseram que uma
das observações que eles iam fazer é que se os alunos utilizaram ou não o desenho
da pizza, mas em momento nenhum o aluno teve que escrever efetivamente e
registrar isso no caderno. Então, não dava pra saber se eu tava pensando no
desenho da pizza ou não. Estava planejado e não foi feito. E a ultima, que é uma
reflexão, relacionada ao que Bernardo falou no final da aula, de ter conjecturado a
regra. Ele chegou à conclusão de que a regra era repetir a primeira fração e
multiplicar pelo inverso da segunda, porque a segunda tinha que estar no
denominador. Será que a gente precisava chegar a isso? Será que eu preciso dizer
esse algoritmo? Não sei. Eu faço isso, mas será que esse é o melhor caminho? Eu
acho igual a você, acho que no final tem que fechar e tem que ter isso, mas será que
isso é o melhor? Ou será que deixar ele pensar e descobrir sozinho mesmo e
fazendo um monte de exercício seria melhor? Não sei.
mesmo método que usa uma apostila do Pitágoras. Não sei se ainda tem, a apostila
que meu pai tinha. Eu peguei pra usar logaritmo por ele e ele chegava e falava “O
logartimo é isso e você pode calcular o logaritmo mais ou menos dessa maneira
aqui.”. Aí, “Vai e calcula esses logaritmos. Agora faz essas contas aqui, faz essas
contas, o que que você pode concluir com isso?”. Ai o aluno é levado a pensar o quê
que tá acontecendo. “Pô perai, se ele tá perguntando tem algum padrão aqui que eu
posso olhar, que eu posso perceber”. Ai vai e faz o aluno pensar. Depois vai e
formaliza: aconteceu isso, isso e isso. E ai vai outra bateria de exercício do tipo “Faz
isso, faz isso aqui, o que você conclui, pode concluir com essa, esses exercícios”. O
aluno é levado a construir o conteúdo da maneira dele.
Diana - Eu acho que esse é o caminho que a gente tava tentando fazer. A
minha dúvida é se eu preciso dessa formalização depois, construiu, o que você
reparou, beleza, ai eu preciso dizer “então vai ser assim sempre”? Eu preciso dessa
formalização? Minha dúvida é essa.
Pesquisador - Você poderia fechar a aula com isso sim, levando essa
fórmula, né? Achei muito legal que você manteve contato visual a maior parte do
tempo com a turma, isso é importante. Você perguntou uma hora assim “Isso aqui é
equivalente ao problema anterior?”. Alguém falou que sim, mas você assumiu que
realmente a pessoa entendeu que era equivalente e você continuou. De repente ela
falou sim de chute; ela falou sim porque viu mais ou menos que tem a ver, mas
quando você pergunta “Porque que tem a ver?”, é a chance de você saber se ela ta
entendendo ou não. A simples resposta: sim é equivalente, não significa muita coisa,
né? E tem coisas que não são obvias. O Danilo participou na aula de apoio que eu
dei quinta feira. Eu uso um jogo que é o seguinte, o jogo são cartas brancas e azuis.
A carta branca está associada ao número menos um e a carta azul, ao número mais
um. Uma das regras é que essas duas cartas juntas equivalem a zero ponto. Então,
tinha uma menina que eu sei das dificuldades dela então a aula de apoio foi voltada
principalmente pra ela. Eu botava as cartas na frente dela e perguntava “Quantos
pontos tem aqui na mesa?”. Os outros bateram o olho e sabiam responder, mas ela
não era capaz de pegar uma azul e uma branca e fazer uma dupla, sabe? Ir
separando em duplas pra ver quantos pontos tinham? Não foi capaz de fazer isso. É
uma coisa óbvia, fácil. Contar pontos ali era juntar uma branca com uma azul, zero
pontos. E teve uma hora, inclusive, que eu separei as duplas branco – azul, branco –
azul, branco – azul, restando apenas cartas azuis. Perguntei para essa aluno
“Quantos pontos tem aqui?” e ela não foi capaz de só ver a sobra, de ignorar as
duplas, porque as duplas valem zero pontos. Isso é uma coisa simples, uma
247
operação mental simples, mas ela ali não foi capaz de fazer. O motivo, eu não sei,
não tenho conhecimento pra avaliar isso. Mas o que é óbvio pra gente não é óbvio
pra todo mundo, o que é óbvio pra um aluno pra outro também não é. A gente tem
que ter sempre esse cuidado também.
Júnior - Ela somou todos os azuis e depois subtraiu ou ela não fez de
forma nenhuma?
Pesquisador - A maior parte ali da aula de apoio ela não soube responder
as perguntas. Teve um momento que ela ... eu não ia resolver a questão cinco, mas
ela falou “ah professor a questão cinco da isso, não é?”, falando em voz alta. Danilo
tá comentando isso porque foi um comentário que eu fiz com ele. Eu interpretei essa
atitude da seguinte forma: “Eu preciso mostrar pra turma que eu sei alguma coisa”.
Então, ela falou aquilo, falou a resposta da questão.
problema de um pedaço ser maior e o outro menor, ai eu não, vou dividir em tres e a
gente pega dois pedacinhos.
Pesquisador - Não, sim, isso eu entendo, mas esse dois aqui ele é
referente ao pedação.
Diana - Não, dividir em três o que esta ali, ó. Não tem seis pedaços? Só
que não pode ter seis pedaços, só pode ter três, como você resolve esse problema
pegando dois.
Pesquisador - Ah sim.
Bernardo - Esse valor daqui, dividido por três pedaços, esse pedacinho
aqui seria dois pedaços de 1/9.
Clóvis - Mas essa figura ai, ela causa um problema pelo fato de você
apagar aquilo ali, eu preciso da figura toda pra poder ter a compreensão do.
Pesquisador - Isso seria uma alteração que a gente faria no plano de aula
e você provavelmente, já na segunda aula taria mais alerta pra essas observações
que a gente fez, mas não vai rolar isso, né? Não vai rolar tanto o plano de aula
quanto a segunda aula.
249
Júnior - Vendo agora todas essas críticas, a gente vai apresentar semana
que vem, agora muda tudo, coisas que talvez não tivéssemos pensado, né?
Danilo - O nosso plano de aula, pode falar abertamente, não tem nada a
ver. É um problema que tem três perguntas, a primeira é uma pergunta muito
tranquila, um pouquinho mais difícil que a sua, pouquinho mesmo, mas o segundo já
dá um probleminha e a terceira é o desafio.
Júnior - Pois é, isso que eu estou falando, não muda a estrutura do que ia
fazer, mas a forma como vai falar, da forma que vai perguntar, isso muda.
Danilo - Vai continuar a mesma coisa, só que parece que as outras duas
perguntas a gente não vai usar, só o desafio.
Pesquisador - É, vocês tem uma semana pra discutir isso. Então beleza,
por hoje é só.
Mário - É, fração vem daí, então tem que dizer primeiro o que é medida,
qual o sentido de medir; uma visão crítica do que é fração, ai já parte pra definição
de fração.
APÊNDICE H
TRANSCRIÇÃO DA AULA 5
João - Deixa eu falar uma coisa. Eu ando muito enquanto falo. Falo rapido
também.
Pesquisador - Ok
Diana - Diminuiu.
João - Então, só isso? Algo mais? Alguém quer tomar esse suco?
João - Quando você faz na sua casa um suco concentrado, você tem a
possiblidade de fazer mais forte ou fraco, certo?
João - E o fraco?
João - E fraco?
Carlos - 80g
João - Porque?
Bernardo - Vamos fazer de dois em dois litros. Pega um saquinho, que faz
dois litros. Faz isso quatro vezes no total.
Turma - sim
João - Imaginem que eu quero fazer um suco de litro normal. Como faço?
Eu sei que pra 20g, fazemos 2L.
João - Beleza. Tá! Vamos organizar isso. (João entrega uma tabela para
cada aluno) Eu posso estabelecer alguma relação entre a quantidade de gramas e
de litros?
Carlos - Sim
João - Só essa?
Turma – Dez.
João – Ok.
Bernardo - Divide o pó em duas partes, que vai dar 5g. Então pra
completar 1,5L pego 10g e junto com 5g.
Bernardo – Por que eu sei que 10g faz 1L. Pra fazer 0,5L , preciso da
metade de pó, ou seja, 5g.
João - Então 1L de água com 10g de suco, temos um suco normal. Tá! Se
eu aumentar a quantidade de gramas pra 20 e aumentar a quantidade de água pra
10, o suco fica normal?
Carlos – Não.
João - Porque?
Bernardo - Sim, você só escreveu 1L dividido por 10g, não tem nada ...
não dá resposta de nada ...
Carlos - 10g/1L
256
João - Sim. Então olha só, se eu aumentar pra 2L eu vou ter quantas
gramas? Continua normal. Vamos colocar isso na tabela.
Diana - Tá. Na primeira linha coloquei 10g, 1L e 10g por 1L. E na segunda
linha?
Turma - 20g
João - 3L?
Turma - 30g
João - Beleza. Então, percebe uma coisa. O que acontece se a gente fizer
essa mesma divisão? (aponta para o quadro a parte que contém as seguintes
informações: 1L - 10g, 2L - 20g, 3L - 30g) Quero dizer, se dividirmos as quantidades
de gramas pela quantidade de litros, o que acontece?
João - Então veja bem, pro meu suco ficar normal, ta sempre dando
10g/L, beleza? Agora imagina que eu mantive constante isso aqui (aponta para o
quadro, a informação 1L) e coloquei 20g (esceve no quadro 1L - 20g) de suco. Esse
suco está forte, normal ou fraco?
257
João - Porque?
João - Forte. Pra terminar, vou pegar 60g pra 1L. Como fica a divisão?
(escreve 60g/1L)
Carlos - Coloca 5
Carlos - Fraco.
João - Porque?
258
João - Isso aí. Vai ficar fraco, beleza. Agora presta atenção, podemos
montar o seguinte (escreve no quadro " < 10g/L < ". Acima de 10g/L, escreve
"Normal")
Diana – Fraco.
Diana - 522
Turma - 200g/20L
Diana - Eu não to entendendo porque que tem o sinal de igual entre essas
razões
Bernardo - 64g/6,4L
João - Por que todas essas frações são iguais? (referindo-se a 10g/1L =
100g/10L = 50g/5L = 5220g/522L)
Turma – 522.
João - Então a partir da fração 10g/10L, ela multiplicou por 522 e deu
522g/522L. Deu certo?
Turma – Sim.
João - É complicado. Eu apliquei essa aula duas vezes hoje e não tive a
dificuldade que eu tive agora. É difícil ser analisado por vocês. Você sabe que todo
mundo sabe [o conteúdo] e tive o receio de falar besteira. Foi difícil. Você tem que
levar o aluno a pensar, conduzir ele por um caminho. Às vezes você quer que ele
fale alguma coisa e ele não fala. Aí você tem que sair de uma situação e entrar em
outra. É complicado. Muito difícil. Aqui foi mais difícil do que lá. Foi legal, uma
experiencia nova. Uma coisa é dar aula normal, que tá acostumado com matéria.
Outra coisa é você ta nessa aula aqui que tem que levar o aluno a pensar. Eu dou
aula em pré-vestibular e é diferente. Você pode falar as respostas e aqui não. Tem
que se segurar muito.
fazer dois litros, mas fazer um litro, quanto de pó devo inserir no copo?" Ele começa
a fazer a comparação do líquido com o pó do suco. O Carlos propõe "e se fizemos
com o litro quebrado". Ai o João começa a fazer comparações da quantidade de
água com a quantidade de pó. Depois traça um perfil do suco, dizendo se ele é
fraco, normal ou forte, chegando a 10g/l como o normal. Faz a seguinte comparação
"pra ficar forte, tem que ter mais que 10g". Entao ele começa a instigar os alunos a
deduzir o conceito de razão e proporção e também a analogia entre razões e frações
equivalentes.
Danilo - Se ele tivesse usado como espelho a primeira aula pra montar a
segunda [referindo-se a aula de frações], ele conseguiria controlar e passar mais
confiança. Como montamos o plano de aula hoje, não deu pra montar direito.
Bernardo - Ele falou que não terminou tudo. Como seria o final da aula?
Danilo - Voltar à pergunta desafio. Por exemplo, o aluno não ia ter uma
definição de proporção e ele iria fazer uma conjectura pela primeira tabela, montada
pelos alunos. O Mário, por exemplo, quando falou do diagrama. Ele podia entrar
com a pergunta "será que o diagrama é a melhor forma? Nós podemos organizar as
informações de uma melhor maneira usando o diagrama?". Assim, ele usaria a
tabela, conjecturar o primeiro desafio, e ia chegar no segundo desafio já usando a
tabela. Depois da tabela, ele ia pra pergunta desafio, onde lá ele ia formalizar uma
definição, um conceito.
João - Na verdade eu tava tentando chegar lá. Quando eu vi que não tava
rolando, eu soltei assim mesmo.
parte e a ideia de seguir uma sequência ali não atrapalhou. Tanto é que ele estava
mais preocupado no que ele estava escrevendo na hora e não com o ler e escrever.
Então não importava se ele voltava ou não, se escrevia no meio ou não. O mais
importante era que ele escrevesse o que estava sendo falado. Não importava a
ordem. Ninguém tava anotando o quadro. Eu acho que o mais importante nessa aula
era assisti-la. Então, a organização ...
Aqui não tinha suco de pó. Ai eu disse assim "e agora?". Decidi mudar de lado do
quadro. Caminhei um pouco ... fiquei perdido
Turma - Não
Pesquisador - Alguém falou aqui hoje que é a maior furada planejar uma
aula esperando que um aluno vai falar/fazer o que você quer. Teve um momento da
aula que você tava esperando que alguém desse uma resposta. Você pode planejar
tua aula esperando isso, mas é um risco. Nessa metodologia, na etapa de
construção do plano de aula, está prevista um momento para prever perguntas e
respostas dos alunos. Não sei como foi isso pra vocês.
Pesquisador - Júnior, você falou que era muito difícil ... o que você falou
agora?
Pesquisador - Teve uma hora que alguém falou "dez gramas" e você fez
cara feia e falou "dez gramas?". Comentamos isso na semana passada. Se é certo
ou errado, não sei. Júnior acha que é uma estratégia para se aproximar do aluno. Eu
já acho que nesse momento o aluno pode se sentir julgado e ficar um pouco receoso
na próxima vez de responder. Não existe a verdade. Só estou colocando um ponto
de vista. Eu tenho usado isso em sala e percebo que … em uma turma de trinta,
apenas uma aluna não responde, não se sente a vontade. É muita insegura. Acho
que essa cara neutra ajuda.
Essa coisa de jogar pra turma uma pergunta, as vezes acho que não é
bom. A pergunta não é de ninguém, mas de todo mundo ao mesmo tempo. Eu
prefiro a abordagem individual. Isso pode deixar os alunos ligados, já que poderão
ser chamados a qualquer momento. Isso pode ajudar na aula.
João – Sim.
explicar de outra forma. Ali você poderia ter pedido par aum outro aluno e pedir para
ele ir ao quadro e explicar. Isso é difícil. Falo por mim. O natural é você querer
conduzir do início ao fim. Preciso ficar lembrando de chamar o aluno ao quadro.
Acho que não fiz isso nas minhas últimas aulas.
João – Sim, mas ele estava com a cabeça em outro lugar. Achei então
que era melhor não chamar.
Pesquisador – Teve uma hora que o Bernardo falou em 1,5, fazer 1 e mais
a metade. Você não entendeu e perguntou “é assim?”. Você poderia ter pedido para
ele ir ao quadro; ele mesmo ter anotado. Ia ganhar tempo. Você perdeu tempo pra
entender o que ele tava falando e também para registrar. Se ele fosse, seria mais
rápido. Teve uma hora que o Mário falou “vezes quatro”. Vinte mais vinte mais vinte
mais vinte. Achei que você poderia ter aproveitado. Ali começava a aparecer ….se a
receita é pra uma pessoa e você quer fazer pra oito, basta multiplicar por 8.
Osvaldo - A aula dele se aproximou mais do método que você mostrou pra
gente. Ele usou nossos nomes quando registrou nossos comentários, ao invés de só
colocar o comentário. Quando eu falei a receita do suco, um pra sete, acho que
ajudou a aula. Estou acostumado a fazer isso em casa.
Diana – Isso é legal. Imagina, todo ano viver a mesma situação em sala.
Bernardo - Pela definição de análise, foi isso que aprendi, que a igualdade
é uma equivalência.
Bernardo – Entendi
Pesquisador - É uma atitude intuitiva, mas que pode levar ao erro. Por
exemplo, ao resolver um problema, o aluno tem que fazer 5 x 10, achando 50. A
partir desse resultado, ele tem que somar 30. Então ele escreve 5 x 10 = 50 + 30,
obtendo 80. Depois, precisa dividir por 2, escrevendo 5 x 10 = 50 + 30 = 80/2 = 40.
Repare que no final, 50 é igual a 40. Não é exatamente igual ao que foi feito aqui em
sala, mas é um exemplo em que o aluno segue a intuição e no final dá errado.
Danilo – Qual a sua sugestão para isso? [para evitar o uso de igualdades
em sequência]
iguais. E aí se você tiver que subtrair, ou somar alguma coisa, tem que fazer isso
com todas as razões.
Carlos – A única coisa que eu apontaria é que na tabela está gramas por
litro e ele usou no quadro litros por grama. Quem está disperso, nem percebe isso.
Pesquisador – Um último ponto pra discutir seria “qual motivo que levaria
270
Danilo – Quanto mais você trabalha com uma coisa que você não domina
… isso é um desafio pra gente. Serve como um aprendizado profissional. Tem que
dominar os conteúdos pra controlar uma aula.
APÊNDICE I
MODELO DO QUESTIONÁRIO
272
273
274
APÊNDICE J
___________________________________________
Assinatura
Nome:
APÊNDICE K
ANEXOS
277
ANEXO A
O PLANO DE AULA DO GRUPO 1
278
279
280
281
ANEXO B
ANEXO C
− Licenciando G: Sim, pois esse método inova o estilo de ensinar aos alunos
em sala de aula e os instiga a pensar sobre as ideias do cotidiano.
− Licenciando A: Dificil dizer, já que houve uma aproximação do Lesson Study,
visto que os alunos (nós) já havíamos visto o conteúdo, mas se tivesse tido a
oportunidade enquanto aluno creio que chamaria muito o meu interesse.
− Licenciando D: Muito bom! Nunca tinha pensado em alguns aspectos e já
utilizado outros, mas é bom ter agregado outros pensamentos que poderei
usar futuramente
− Licenciando B: Sim, pois nos fazer pensar que ensinar é mais que dar a
matéria.
− Licenciando C: Sim. Essa experiência acredito que serve para tirar pontos
que são importantes, como a participação do aluno, a necessidade de motivar
a turma com problemas que sejam interessantes para eles. Não acredito que
essa metodologia seja algo que possa ser aplicado de forma prática e
cotidiana pelo professor mas sim como uma alternativa de sair da rotina.
− Licenciando E: Sim. Foi interessante conhecer essa metodologia que estimula
a maior participação dos alunos.
− João: Sim. Você sai da sua zona de conforto ou comodismo para dar uma
aula que você precisa partir do nada pra tentar chegar a alguma coisa.
Precisa criar perguntas para induzir o aluno a chegar onde você quer.
− Romário: Sim. Apenas considero como alternativa para tirar a monotonia das
aulas ou trazer algo diferente. Não considero como algo para ser levado todos
os dias.
− Danilo: Sim. O modelo que uso em sala é de explorar a participação dos
alunos. A experiência com a Lesson Study futuramente organizará as minhas
abordagens em sala de aula.
285
− Licenciando F: Sim. Pois dá uma oportunidade aos alunos para aprimorar sua
linguagem, desenvolver seu vocabulário e procurar de modo claro e preciso
de comunicar ideias, fazendo uma descrição e apresentando resultados de
seus raciocínios e estudos.
− Professora: Sim. Além de ser uma nova metodologia, estive diante de uma
postura diferente do professor que me fez refletir sobre a minha própria
prática. Ouvir mais os alunos e conduzir a aula a partir da bagagem deles
hoje faz parte efetivamente da minha postura.
Questão 4 – Quais contribuições que você acha que a Lesson Study pode
trazer para Educação Básica?
Questão 5 – Essa vivência, em geral, lhe deixou (pode marcar mais de uma
opção):
tabela 1 – aluno x sentimento
Licenciando D
Licenciando G
Licenciando A
Diana
Licenciando C
Llicenciando F
Licenciando B
Licenciando E
João
Romário
Danilo
Animado x x x x x x
Alegre x
empolgado x x
Curioso x x x x x x x x
Interessado x x x x x x x x x x
Estimulado x x x x x x
Surpreso x x x x x x
Encantado x x x x
Satisfeito x x
Entediado
Desestimulado
Desinteressado
Impaciente
Agoniado x
Apático
Estressado
Triste
Indiferente
− Licenciando G: Foi trazer uma situação do cotidiano para sala de aula de uma
forma distinta de como é abordado nos livros didáticos.
− Licenciando A: Difícil. Porém, a fins de ouvir novas ideias, produtivo.
290
− Licenciando G: Não
− Licenciando A: O talento do professor no “jogo de cintura” é bastante
requisitado, além de ter que saber conduzir sem dar respostas ou afirmações
de sua opinião.
− Licenciando D: Não tenho muita experiência mas não sei se é uma
291
metodologia que possa ser feita em uma parte de nossas escolas. Mas
acredito que se for possível essa utilização, é de uma grande valia para os
alunos.
− Licenciando B: Acho que você poderia fazer seus próprios vídeos e
apresentá-los.
− Licenciando C: Acho que foi proveitoso principalmente por nos fazer refletir
como damos aula. Seria interessante ver essa aula sendo aplicada em mais
de uma região, em salas diferentes.
− Licenciando E: Foi uma experiência construtiva, para reavaliar o modo como
uma aula pode ser dada.
− João: Foi bom participar, pois abri os olhos para coisas que não percebia
− Romário: Leia o livro “o mestre ignorante” que fala sobre a emancipação
intelectual do indivíduo. Estudar um pouco mais o ciclo PDCA. Porque utilizar
termos estrangeiros se poderia utilizar nacionais?
− Danilo: Somente essas interrogações do item anterior, na expectativa de
aplicar esse modelo de aula em nossas escolas
− Licenciando F: Desenvolver raciocínios e argumentos convincentes de
maneira clara, questionando um problema, transformando este problema em
uma fonte de novos problemas.
− Professora: O contato com a nova metodologia nos coloca diante de uma
posição diferente da habitual. Talvez por ainda termos raízes no
tradicionalismo sinto falta talvez da formalização do conteúdo ao final de uma
aula.
ANEXO D
RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO
294
295
296
297
298
299
300
301
302
303
304
305
306
307
308
309
310
311
312
313
314
315
316
317