11348-Texto Do Artigo-63009-1-10-20110913
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Jocimar Daolio
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil
Introdução
Cultura e educação
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Interculturalismo e/ou interculturalidade refere-se à narrativa mais ampla, já o termo educação
intercultural diz respeito aos pressupostos do interculturalismo no terreno educacional.
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Sobre multiculturalismo ver Semprini (1999) e Gonçalves e Silva (2002).
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Cf. Malerba (1995).
presentes na escola. Para além disso, a alteridade 7 apresenta-se como caminho possível,
fomentando a valorização desse diálogo e dessa comunicação.
Nessa esteira, a educação intercultural calca seus pressupostos, os quais
apontam, não somente, para existência das diferenças, mas também para seu enlace com
a aprendizagem, fazendo com que o educando apreenda o conhecimento do outro, do
diferente e com ele estabeleça um diálogo profícuo e mútuo, no qual as possibilidades
não se encerram a partir de uma única visão.
Lluch (1998), ao referir-se à educação intercultural, aponta para a promoção
de processos educativos que possibilitem interação entre as culturas em pé de igualdade
e que partam do conhecimento, respeito e valorização mútuos. Segundo Lluch (1998), a
escola deve perceber na diversidade cultural um elemento enriquecedor. Uma educação
que se recusa à “colonização” do outro, que aprende com esse outro, que se compromete
com a heterogeneidade sem, no entanto, usá-la para produzir novos submetimentos
(CAPELO, 2003). Ou seja, uma educação aberta e democrática, comprometida com as
múltiplas visões que a diversidade encerra.
Pensar num pressuposto intercultural para a educação implica não somente
reconhecer as diferenças e/ou aceitá-las, mas fazer com que elas sejam “[...] a origem de
uma dinâmica de criações novas, de inovação, de enriquecimentos recíprocos e não de
fechamentos e de obstáculos ao enriquecimento pela troca” (VIEIRA, 1999, p. 68).
Pois, se a cultura é dinâmica, não faz sentido que a escola ignore diferentes saberes,
valores e interpretações da realidade presentes nestes espaços.
A perspectiva intercultural de educação rompe com uma idéia estática de
cultura, a qual não é um dado objetivo, autônomo e relativamente estável, mas dotada
de uma dinâmica que permite tanto o contato entre os diferentes quanto o aprendizado
daquilo que é diferente. A pedagogia intercultural situa-se numa perspectiva de
interação, enriquecimento e aprendizagem pela troca de saberes e pelo diálogo de
culturas, bem como pela valorização das diferenças (VIEIRA, 1999).
A educação intercultural resulta no facto de se crer que nos espaços
educativos se está de alguma forma sempre entre culturas: diferentes saberes,
sistemas de valores, sistemas de representações e de interpretações da
realidade, hábitos, formas de agir, etc. E se diferentes culturas produzem
diferentes estilos cognitivos, diferentes formas de percepção e diferentes
estilos de aprendizagem, a escola, se quiser ser mais democrática, terá de
optar por uma pedagogia intercultural, uma pedagogia de troca e partilha de
experiências. Uma partilha entre as crianças e os adultos, os alunos e os
professores, os pais e a escola, o lar e a escola, a comunidade e a escola, as
várias crianças, os vários alunos e os vários professores (p. 68).
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Sobre o movimento acadêmico da EF na década de 1980, ver mais em Caparroz (2007) e Daolio (1998).
9
Ver Daolio (2004).
amplo, o contexto sócio-cultural onde ela se dá, e, num sentido mais específico, as
diferenças existentes entre os alunos e os grupos de alunos (DAOLIO, 2003).
A preocupação reside em desfocar a ênfase do desenvolvimento motor dos
alunos e centrá-la no conhecimento da cultura corporal. Para isso, é desejável que as
aulas sejam acessadas por todos, indistintamente. “Essa educação física plural parte do
pressuposto de que os alunos são diferentes, recusando o binômio
igualdade/desigualdade para compará-los” (DAOLIO, 2003, p. 126). Ainda, segundo
Daolio (2003), uma prática escolar de EF deve fazer da diferença entre os alunos
condição de sua igualdade, em vez de ser critério para legitimar a subjugação de uns
sobre os outros.
Entretanto, toda essa retórica em torno da prática escolar da EF no que
concerne as diferenças e a diversidade cultural pode reverter-se em concepções e
intervenções reducionistas com riscos ao relativismo.
Oliveira (2007, p.28), a partir de um exemplo, ilustra essa questão.
um professor de EF [...] ao chegar numa escola e detectar que os alunos
gostam e valorizam a prática do futebol pode, pautado no discurso da
consideração da realidade dos alunos, acabar “moldando” toda sua ação em
torno dessa única prática corporal, tolhendo assim, inúmeras outras
possibilidades de acesso ao conhecimento.
Acreditamos que essa é uma prática comum na maioria das escolas, a qual
molda uma visão particularizada e banalizada do outro, reduzindo as diferenças “[...] a
conhecimentos triviais que representam as culturas negadas por meio de imagens
estereotipadas, turísticas, folclóricas ou comemorativas” (CAPELO, 2003, p. 124).
Em Oliveira (2006), as diferenças - entre os sexos, físicas, de
comportamento, de habilidade, cor de pele e maneiras de se vestir - apresentadas pelos
alunos nas aulas de EF serviram de parâmetros definidores de desigualdade de
oportunidades, preconceitos e sectarismos pautados por estereótipos. Segundo Oliveira
(2006), o entendimento das diferenças pelos “atores sociais” esteve permeado por certo
reducionismo, que tende a enxergar o outro somente por suas características mais
visíveis, obscurecendo a complexidade da dinâmica cultural.
Diante de tais reducionismos/relativismos, entendemos a pertinência de se
considerar os pressupostos da educação intercultural nas práticas escolares, não só de
EF, no que se refere às tensões produzidas pela diversidade cultural. Poderíamos citar
inúmeros exemplos, mas acreditamos que o elucidado já nos permite tecer os
desdobramentos pretendidos.
Considerações finais
Referências
Abstract: This paper's objective is to discuss cultural diversity in the school practice of
Physical Education, in the light of the principles of intercultural education. To that end,
a theoretical discussion based on the authors who enunciate this perspective
(intercultural education) is made, and, subsequently, some unfoldments for Physical
Education in the school space. The argumentative axis understands school as a social-
cultural space that, besides respecting and valuing differences, must align itself towards
communication, dialogue and the sharing of the different actors composing the school
routine. Otherwise, there is the risk of trivialising or deforming the Other, tending to
extreme relativism or new forms of ethnocentrism.
Keywords: Intercultural Education. Physical Education. School. Cultural Diversity.