Fichamento o Que e Politica

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SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR DE SERRA TALHADA

FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS


DIRETORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

Disciplina: Ciência Política;


Discente: Cyro Gutemberg Alves Diniz de Carvalho
Docente Bruno Celso Sabino Leite
Curso: Direito 1º P
Turno: Noturno.

Arendt, Hannah A727o O que é política? / Hannah Arendt; [editoria, Ursula Ludz];
3" ed. tradução de Reinaldo Guarany. - 3' ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2002. 240 p.
Tradução de: Was ist politik? Inclui apêndice ISBN 85-286-0640-6
1. Ciência política. 1. Ludz, Ursula. II. Título.
CDD - 320.01 98-0072

PALAVRAS CHAVE: Política, liberdade, preconceito, guerra, poder, força,


aniquilamento, construir, destruir.
"A política baseia-se no fato da pluralidade dos homens", ela deve, portanto,
organizar e regular o convívio de diferentes, não de iguais. Distinguindo-se da
interpretação geral comum do homem enquanto um zoon politikon (Aristóteles),
em conseqüência da qual o político seria inerente ao ser humano, Arendt acentua
que a política surge não no homem, mas sim entre os homens, que a liberdade e a
espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o
surgimento de um espaço entre homens, onde só então se torna possível a
política, a verdadeira política. "O sentido da política é a liberdade." (p.3)
"Apesar de todas as experiências contrárias, ela jamais perdeu sua confiança
básica na possibilidade de o homem atuante começar de novo, de fazer a coisa
diferente.v Enquanto os homensjniderem agir, escreveu ela num desses textos,
eles serão capazes de fazer o improvável e o incalculável." (p.4)
"2. A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam
politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a
partir do caos absoluto das diferenças. [...] As famílias são fundadas como abrigos
e castelos sólidos num mundo inóspito e estranho, no qual se precisa ter
parentesco. Esse desejo leva à perversão fundamental da coisa política, porque
anula a qualidade básica da pluralidade ou a perde através da introdução do
conceito de parentesco." (p.7)
"5. A filosofia tem duas boas razões para não se limitar a apenas encontrar o lugar
onde surge a política. A primeira é:
a) Zoon politikon:* como se no homem houvesse algo político que pertencesse à
sua essência —conceito que não procede; o homem é a-polítiço. Ajpolítica surge
no entre-os-homens; portanto, totalmente_/oj#„dos Jiqmens^ Por conseguinte, não
existe nenhuma substância política original.A política surge no intra-espaço e se
estabelece como relação. Hobbes compreendeu isso.
b) A concepção monoteísta de Deus, em cuja imagem o homem deve ter sido
criado. Daí sópode haver o homem, e os homens tornam-se sua repetição mais ou
menos bem-sucedida." (p.8)
"A política organiza, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma
igualdade relativa e em contrapartida às diferenças relativas. " (p.8)
"Pois nenhum homem pode viver sem preconceitos, não apenas porque não teria
inteligência ou conhecimento suficiente para julgar de novo tudo que exigisse um
juízo seu no decorrer de sua vida, mas sim porque tal falta de preconceito
requereria um estado de alerta sobre-humano. [...] Por conseguinte, o preconceito
desempenha um grande papel na coisa social pura; na verdade, não existe
nenhuma estrutura social que não se baseie mais ou menos em preconceitos,
através dos quais certos tipos de homens são permitidos e outros excluídos. [...] O
perigo do preconceito reside no fato de originalmente estar sempre ancorado no
passado, quer dizer, muito bem ancorado e, por causa disso, não apenas se
antecipa ao juízo e o evita, mas também torna impossível uma experiência
verdadeira do presente com o juízo. " (p.10)
"Mas é um preconceito em si mesmo o fato de algo imperativo adequar-se ao
juízo; os critérios, enquanto duram, jamais podem ser demonstrados de maneira
forçada; só lhes serve, sempre, a evidência limitada dos juízos sobre os quais
todos concordaram e sobre os quais não se precisa mais brigar nem discutir. [...] o
homem para o ponto central das preocupações do presente e que acha que deve
modificá-lo, remediá-lo, é apolítica em seu sentido mais profundo. Pois, no ponto
central da política está sempre a preocupação com o mundo e não com o homem"
(p.12)
"o sentido da política é a liberdade. [...] tem a política algum sentido ainda? [...]
Talvez, desde a Antigüidade — para a qual política e liberdade eram idênticas —
as coisas tenham mudado tanto que, nas condições modernas, precisam ser
distinguidas por completo uma da outra." (p.14)
"sempre que algo de novo acontece, de maneira inesperada, incalculável e por fim
inexplicável em sua causa, acontece justamente como um milagre dentro do
contexto de cursos calculáveis." (p.15)
"O milagre da liberdade está contido nesse poder-começar que, por seu lado, está
contido no fato de que cada homem é em si um novo começo, uma vez que, por
meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e vai continuar
existindo depois dele. [...]Se o sentido da política é a liberdade, isso significa que
nesse espaço — e em nenhum outro — temos de fato o direito de esperar
milagres. Não porque fôssemos crentes em milagres, mas sim porque os homens,
enquanto puderem agir, estão em condições de fazer o improvável e o incalculável
e, saibam eles ou não, estão sempre fazendo." (p.16)
"Tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo. [...]Para
esse caráter natural, costuma-se recorrer à definição aristotélica do homem
enquanto ser político [...] De sua definição estavam excluídos não apenas os
escravos, mas também os bárbaros asiáticos, reinos de governo des-pótico, de
cuja qualidade humana não duvidava, de maneira alguma. [...] não é, de maneira
nenhuma, algo natural e não se encontra, de modo algum, em toda parte onde os
homens convivem." (p.17)
"isonomia é, antes de mais nada, liberdade de falar [...] Portanto, para a liberdade
não se precisava de uma democracia igualitária no sentido moderno, mas sim de
uma esfera limitada de maneira estreitamente oligárquica ou aristocrática, na qual
pelo menos os poucos ou os melhores se relacionassem entre si como iguais
entre iguais. Claro que essa igualdade não tem a mínima coisa a ver com justiça.
[...] Decisivo dessa liberdade política era o fato de ser ela vinculada
espacialmente. Quem deixava sua polis ou era dela degredado, perdia não
apenas sua terra natal ou pátria, mas também o único espaço no qual poderia ser
livxe^ perdia a companhia daqueles que eram seus iguais." (p.18-p.19)
"é natural que nesse sentido específico de espaço político desvie-se aquilo que se
entendia por liberdade; o sentido do empreendimento e da aventura retrocede
cada vez mais e aquilo que era, de certo modo, apenas o acessório indispensável,
a constante presença de outros, o relacionamento com iguais na publicidade da
agora, como Heródoto diz, a isegoria torna-se o verdadeiro conteúdo do ser-livre.
Ao mesmo tempo, a mais importante atividade para o ser-livre desloca-se do agir
para o falar, da ação livre para a palavra livre." (p.21)
"essa concepção do falar encontra-se na origem da descoberta do poder
independente do logos pela filosofia grega, que retrocede na experiência da polis
e desaparece, por completo, da tradição'do pensamento político. [...] Contra a
possível determinação e distinguibilidade do futuro está o fato de o mundo se
renovar a cada dia por meio do nascimento e, pela espontaneidade dos recém-
chegados, está sempre se comprometendo com um novo imprevisível. Só quando
os recém-nascidos são privados de sua espontaneidade, de seu direito a começar
algo novo, o curso do mundo pode ser determinado e previsto, de maneira
determi-nística." (p.22)
"Se alguém quiser ver e conhecer o mundo tal como ele é 'realmente', só poderá
fazê-lo se entender o mundo como algo comum a muitos, que está entre eles,
separando-"os e unindo-os, que se mostra para cada um de maneira diferente e,
por conseguinte, só se torna compreensível na medida em que muitos falarem
sobre ele e trocarem suas opiniões, suas perspectivas uns com os outros e uns
contra os outros. [...] Para nós, só importa aqui o fato de entendermos liberdade
como algo político, e não como o objetivo mais elevado dos meios políticos, e que
pressão e violência sempre foram, na verdade, meios para proteger o espaço
político, ou para fundá-lo e ampliá-lo — mas sem serem políticos em si como tal,
São fenômenos marginais que pertencem ao fenômeno da coisa política e, por
causa disso, não são ela." (p.23)
"Se se quiser entender essa relação entre casa e polis no âmbito do objetivo-meio,
então a vida garantida na casa não é o meio para um objetivo mais elevado da
liberdade política, senão que o domínio das necessidades vitais e a dominação
realizada sobre o trabalho escravo são o meio da libertação para a coisa política.
[...] Assim, essa dependência no sentido de uma oligarquia platônica pode ser
entendida como obrigação da maioria em cumprir as ordens da minoria, quer
dizer, assumir o verdadeiro agir; nesse caso, a dependência da minoria foi
superada pelo domínio, assim como a dependência dos livres em relação às
necessidades da vida pôde ser superada por meio de seu domínio sobre uma
casa de escravos, e a liberdade basear-se no poder." (p.25)
"o critério do agir dentro do próprio âmbito político não é mais a liberdade, mas sim
a competência e a capacidade de assegurar a vida." (p.26)
"Foi então que o corpo político também aceitou a concepção de que a política é
um meio para um objetivo mais elevado e que se trata da liberdade dentro da
política apenas porque a coisa política tem de libertar determinadas áreas. Só que
a liberdade da política não é mais uma questão da minoria, mas sim, ao contrário,
tornou-se uma questão da maioria que não devia nem precisava preocupar-se
com os negócios do governo, ao passo que foi imposto à minoria o fardo de se
preocupar com a ordem política necessária aos assuntos humanos." (p.27)
"O que os tempos modernos esperavam de seu Estado e o que esse Estado fez,
de fato, em grande escala foi uma libertação dos homens para o desenvolvimento
das forças produtivas sociais, para a produção comum de mercadorias
necessárias para uma vida 'feliz'." (p.29)
"O que hoje entendemos por governo constitucional, não importa se de natureza
monárquica ou republicana, é, em essência, um governo controlado pelos
governados, restringido em suas competências de poder e em sua aplicação de
força." (p.29)
"é entendida nos tempos modernos de modo a ser a política um meio e a
liberdade seu objetivo mais elevado;" (p.29)
"Mas essa relação da própria liberdade com a sobrevivência da Humanidade não
risca do mapa a oposição entre liberdade e vida, na qual se assentou toda a coisa
política e que continua decisiva para todas as virtudes especificamente políticas."
(p.30)
"Em circunstâncias normais, ou seja, nas circunstâncias que eram decisivas na
Europa desde a Antigüidade romana, a guerra era de fato apenas a continuação
da política por outros meios e isso significa que ela sempre podia ser evitada se
um dos adversários decidisse aceitar as exigências do outro. Tal aceitação
poderia custar a liberdade, mas não a vida." (p.30)
"O que fizeram, de fato, foi eliminar, por completo, a violência e o domínio direto
do homem sobre o homem da esfera na vida social que se alarga sem cessar. A
emancipação da classe operária e das mulheres, quer dizer, de duas categorias
que em toda a história pré-moderna foram submetidas à força, indica, da maneira
mais clara, o ponto culminante desse desenvolvimento." (p.31)
"Na sociedade moderna, o trabalhador não está sujeito a nenhuma força nem a
uma dominação, ele é forçado pela necessidade imediata inerente à própria vida.
[...]Na verdade, a vida da sociedade é dominada não pela liberdade, mas sim pela
necessidade;" (p.31)
"Porém, de acordo com essa opinião pública, a pergunta sobre o sentido da
política acendeu hoje por completo na ameaça ao homem através da guerra e das
armas atômicas." (p.33)
"Os meios de força necessários para a destruição são criados, por assim dizer, à
imagem e semelhança das ferramentas de produção, e o instrumentário técnico de
cada época abrange ambas as coisas na mesma medida. O que os homens
produzem também pode ser por eles destruído; o que destroem também pode ser
por eles reconstruído. O poder destruir e o poder produzir estão em equilíbrio."
(p.34)
"Nisso, permanece sendo consternador o surgimento das ideologias totalitárias,
nas quais o homem já se entende como expoente desse processo catastrófico por
ele mesmo desencadeado, cuja função essencial consiste em estar a serviço do
processo do progresso e propulsioná-lo cada vez mais rápido. [...] a força do
homem, tanto como força produtiva ou mão-de-obra, é um fenômeno da Natureza,
sendo o poder inerente a essa força." (p.35)
"o fato não mais negado pelo estado-maior das grandes potências, de que uma
guerra, depois de posta em andamento, será conduzida necessariamente com as
armas que estiverem à disposição das respectivas potências que a estão
travando. Isso só é natural se o objetivo da guerra não for mais limitado e seu fim
não for mais um acordo de paz entre os governos em litígio, senão que a vitória
deve produzir o aniquila-mento estatal ou até mesmo físico do adversário. [...]
Com isso, a guerra deixou de ser a ultima ratio das negociações que ocorrem em
conferências, nas quais os objetivos da guerra eram assentados no momento da
suspensão das negociações, de modo que as ações militares que eclo-diam
depois nada mais eram, de fato, que a continuação da política por outros meios.
Aqui trata-se muito mais de alguma coisa que jamais poderia ser, de maneira
natural, objeto de negociações, trata-se da existência nua e crua de um país e de
um povo." (p.36)
"A ele corresponde a guerra total que não se contenta com a destruição de pontos
militares importantes isolados, senão que arregaça as mangas — e pode
arregaçar as mangas em termos da técnica — para aniquilar todo o mundo
surgido entre os homens." (p.37)
"A violência da guerra em todo seu terror origina-se aqui ainda diretamente na
força e potência do homem, que só pode dar provas dessa força inerte nele se for
enfrentado por alguma coisa ou alguém e então possa demonstrá-la." (p.39)
"O decisivo não é dar-se voltas em argumentos, nem se que possa pôr afirmações
de cabeça para baixo, mas sim que se adquiriu a capacidade de ver, de fato, as
coisas de diferentes lados: isso significa, politicamente, que passou-se a saber
abranger as muitas posições possíveis no mundo real, a partir das quais a mesma
coisa pode ser contemplada e nas quais apresenta os aspectos mais distintos,
apesar de seu caráter particular." (p.40)
"Assim, a liberdade era para o pensamento grego enraizada, ligada a uma posição
e limitada espacialmente, e as fronteiras do espaço da liberdade coincidiam com
os muros da cidade [...] a casa particular na qual tampouco se poderia ser livre
porque faltavam os demais com igualdade de direitos, que juntos constituíam o
espaço da liberdade. [...] o dono da casa, reinava como um verdadeiro monarca
ou déspota sozinho sobre sua casa multiforme, composta de mulher, filhos e
escravos; portanto, faltavam-lhe as pessoas com igualdade de direitos diante das
quais ele poderia aparecer em liberdade. [...] o mesmo homem, como filho
crescido de um pai romano, "era subordinado a seu próprio pai ... na condição de
cidadão[poderia] cair no caso de dar-lhe ordens como senhor".36" (p.41)
"Já é bastante inaudito que Homero cante a glória dos vencidos e, assim, no
próprio poema glorifi-cante mostra que um mesmo e único acontecimento pode ter
dois lados e que o poeta, ao contrário da realidade, não tem o direito de, com a
vitória de um lado, abater e matar o outro lado, pela segunda vez." (p.43)
"Somente a partir dessa perspectiva determinada como romana, na qual o fogo é
atiçado de novo para abolir o extermínio, talvez possamos compreender o que é
em si, de verdade, a guerra de extermínio e por que não deve ter nenhum lugar na
política, independente de todas as considerações morais." (p.43)
"só pode haver homem na verdadeira acepção onde existe mundo, e só pode
haver mundo no verdadeiro sentido onde a pluralidade do gênero humano seja
mais do que a simples multiplicação de uma espécie." (p.43-p.44)
"Falando politicamente, o contrato que liga dois povos faz surgir um novo mundo
entre eles oü, de maneira mais exata, garante a continuação da existência de um
mundo novo, só comum a eles, surgido quando eles se encontraram na luta e, no
fazer e no sofrer, produziram um igual. [...]Essa solução da questão da guerra [...]
é a origem tanto do conceito de lei como da importância extraordinária que a lei e
a formação da lei experimentaram no pensamento político romano." (p.44)
"A lei é a circunvalação-fronteira produzida e feita por um homem, dentro da qual
nasce então o espaço da verdadeira coisa política, no qual muitos se movem
livremente." (p.45)
"Nisso é decisivo que a lei — se bem que encerre o espaço no qual os homens
vivem entre si sob a renúncia à força — tem algo de violento e, na verdade, tanto
no que diz respeito a seu surgimento como à sua essência. Ela surgiu através de
produção e não do agir; o legislador é igual ao urbanista e ao arquiteto, não ao
estadista e ao cidadão. A lei produz o espaço da coisa política e contém o
violento-brutal, próprio de todo produzir." (p.46)
"Se se quiser expressar isso em categorias modernas, então é preciso dizer que
no caso dos romanos a política começou como política externa; portanto,
exatamente com aquilo que, segundo o pensamento grego, estava situado fora de
toda a política." (p.47)
"um sistema de aliança fundado por Roma e infinitamente dilatável, no qual povos
e terras estavam ligados a Roma não apenas através de tratados temporários e
renováveis, mas sim por alianças eternas." (p.48)
"Não importa como quer que se saia a limitação romana caracterítica nessas
coisas, é indubitável que o conceito de uma política externa e com isso a
concepção de uma ordem política fora das fronteiras do próprio corpo do povo ou
da cidade são de origem exclusivamente romana. [...] Toda lei cria, antes de mais
nada, um espaço no qual ela vale, e esse espaço é o mundo em que podemos
mover-nos em liberdade. O que está fora desse espaço, está sem lei e, falando
com exatidão, sem mundo;" (p.49)
"Pois o mundo das relações que surge a partir do agir, a verdadeira atividade
política do homem, é muito mais difícil de se destruir do que o mundo produzido
das coisas, no qual o produtor e feitor continua sendo o único mestre e senhor."
(p.50)
Resumo
A autora Hanna Arendt no livro ¨O que é política¨, o qual é uma junção de vários
textos dela, tem como núcleo central o totalitarismo, e tenta demonstrar diversos
conceitos e reflexões do que é política, liberdade, poder, preconceitos, o milagre e
a guerra.
A política é baseada na pluralidade, devendo regular o convívio de diferentes.
Arendt discorda da visão de Aristóteles que o homem é por natureza um animal
político, como animal político é assim apenas um, então não é política porque não
é plural. Também discorda da Teologia que diz: ¨Os homens são imagem e
semelhança de Deus¨, se são imagem e semelhança então também não é
plural(diverso), logo não é política. Ainda sobre o pensamento aristotélico, Arendt
entende que a política se dá num Inter espaço e na inter relação, a política neste
sentido está entre, e não em um só, ou seja, a política surge entre os homens. No
seu texto também condena a família (não apenas no sentido de unidade familiar,
extrapolando aqui para um grupo do qual se assemelhe ou se sinta acolhido por
exemplo), pois o desejo de ter parentesco leva a perversão fundamental da coisa
política, pois anula a pluralidade ou a perde com o conceito de parentesco.
O mundo é plural e diverso, servindo a política para organizar as
diversidades absolutas com as igualdades relativas. A política deve buscar uma
maneira que nem a diversidade e nem a igualdade seja completa. Caso a
diversidade for completa não existe a possibilidade de diálogo, e caso a igualdade
for completa não existe pluralidade, assim estaria vivendo em um regime
totalitário.
O sentido da política é a liberdade. Arendt é conhecida como a filosofa da ação,
então ela entende que o homem é livre quando agi, nem antes nem depois, pois
ser livre e agir são a mesma coisa. Assim sendo os homens e mulheres tornam-se
livres ao exercitarem a ação e decidirem em conjunto seu futuro.
A liberdade não é uma vontade que é superior ou independente a dos
outros, para manter a possibilidade da prática da liberdade, os seres humanos
devem preservar o espaço público. Para a preservação desse espaço se requer a
garantia de um direito mínimo, a cidadania. No seu entendimento, a cidadania é o
¨direito a ter direitos¨, sendo esse o meio criador do espaço público que torna
possível a liberdade. A política por hanna Arendt não é um instrumento de controle
e opressão, mas um meio para a libertação de cada um e de todos nós. Sendo no
campo da ação, garantido pela política, que se realiza a liberdade.
Outro ponto relevante é observância que o homem tem o dom de fazer milagres,
sendo o milagre a capacidade de um novo começo, pois enquanto os homens
possam agir, existe a possibilidade de fazer o improvável e o incalculável.
A guerra era na antiguidade apenas a continuação da política por outros meios, e
nesse ponto ela diferencia liberdade e vida, pois caso um adversário aceitasse os
termos do outro poderia até custar sua liberdade mas não custaria a sua vida.
Porém com a criação de alguns estados modernos, um novo tipo de guerra surgiu,
a guerra de extermínio. Nesse sentido a guerra não é mais a continuação da
política por outros meios, e sim um meio para exterminar um povo, classe, religião,
enfim algum parcela da sociedade ou toda ela. Assim a máxima ¨Na Paz deve se
fazer o maior bem possível, e na guerra o menor mal¨, é posta em cheque, visto
que a guerra é entre estados e não entre populações. De tal maneira que ao
colocar em risco uma parcela da sociedade, a coloca em risco como um todo. Há
a possibilidade de apontar alguns aspectos de um regime totalitário como: o
fundamento do terror para unir a poulação (os líderes reúnem a população contra
algum inimigo); culto a personalidade do líder; eleição de um líder para dominar e
propaganda ideológica muito forte.
Poder e violência são opostos, quando um está forte o outro está fraco. Onde um
domina absolutamente o outro está ausente, a violência aparece onde o poder
está em risco, e deixada no seu próprio curso ocorre o desaparecimento do poder.
O poder não se emana da violência, mas a violência sempre pode destruir o
poder, visto que o comando mais efetivo pode saí do cano de uma arma causando
perfeita e instantânea obediência, mas o poder jamais emergirá deste lugar.
O poder corresponde a habilidade humana não apenas para agir, mas para agir
em concerto. O poder nunca é habilidade de um indivíduo; pertence a um grupo e
permanece em existência apenas na medida em que o grupo se conserva unido.
Quando dizemos que alguém está ¨no poder¨, na realidade nos referimos ao fato
de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu
nome. A partir do momento em que o grupo, do qual se originara o poder desde o
começo (sem um povo ou um grupo não há poder), desaparece seu poder.
Nesse espectro de poder e violência, a filósofa traça que o totalitarismo é como
um bacilo (uma) doença que está presente em todos nós, mesmo em regimes
liberais e democráticos possuindo o risco de afetá-los, quando o poder se
encontra em risco, a vontade de exercê-lo através da força pode se fazer
presente, o que é um erro já que onde há violência não há política, nem poder.
Relação da filosofia de Hegel e Arendt
Para o filósofo George Wilhelm Friedrich Hegel na sua dialética e em sua
fenomenologia do espírito, é basilar sempre em três pontos seja tese, antítese e
síntese ou ser em si, ser fora de si e ser em si e para si. Na dialética o sujeito
possui uma afirmação (tese), o contrário está pressuposto no que vem afirmado
(antítese), na contraposição entre afirmação e contraposição surge a síntese, na
estabilização da síntese está se torna tese e se recomeça o ciclo. Na questão do
ser, o ser em si é o ser sem autoconsciência, a ideia pura e intocada, para ser
compreendia ela de deve se alheia dela própria, ao se deparar com o alheio
completo (ser fora de si), neste momento entende que só ficando alheio de si é
que pode se retornar a si, o ser em si e para si é este retorno, mas com
autoconsciência, assim existindo uma estabilização em si e recomeçando o ciclo.
Neste momento pode-se inferir o contraditório na sua filosofia, seja na relação só
do pensamento ou em relação com tudo mais (pessoas, crenças, religiões,
relações...), vale ressaltar que não se dá por encerrado no terceiro ponto, sendo
um processo cíclico em forma de espiral que em cada retorno ao início se faz de
maneira consciente e mais elevada. A relação encontrada para Arendt é no
sentido da pluralidade, ou seja no diverso, só existe política se houver pluralidade.
Caso Hegel terminasse seu ciclo e não o recomeçasse, estaríamos na síntese de
um pensamento ou relação única sem diversidade, este recomeço e requestionar
encontra-se na pluralidade da política. Notavelmente se possuí uma ação para
Hegel, talvez não a mesma de Arendt, mas se refletirmos em relação liberdade,
em que para Arendt a liberdade se encontra nem antes e nem depois, mas no
agir, sendo agir sinônimo de liberdade, o processo cíclico está em constante ação
e logo em constante liberdade. Quando Arendt fala que os homens e mulheres
tornam-se livres ao exercitarem a ação e decidirem em conjunto seu futuro, ou que
a vontade não é algo superior ou independente dos outros, de novo temos o
contraditório e o ciclo Hegeliano. Para Arendt a política trata da convivência dos
diferentes, ou seja, a rejeição de um discurso único ou de uma verdade absoluta.
Para Hegel em contrapartida a verdade absoluta pode ser conhecida através do
seu método dialético, o saber absoluto existe, mas é a realidade tendo plena
consciência dela mesmo, a realidade é um todo, numa visão macro, não só o
homem tendo consciência de ser homem, mas o mundo em ter consciência de o
ser. No entanto ele entende que pode ser alcançado quando não se houver
questionamento, e esse não questionamento, não é não ter voz, mas ouvir o
oposto incansavelmente, e em inúmeras contraposições e sínteses, chegar a uma
tese, tese essa que também poderá ser questionada se aparecer uma nova
contraposição.

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