O documento descreve as origens da democracia moderna, com foco na Grécia antiga. Discutem-se as primeiras cidades-estados democráticas na Grécia e como elas transformaram os sistemas políticos da época, introduzindo a ideia de que o povo poderia governar diretamente. Também são apresentadas as diferenças entre a democracia direta da Grécia e as democracias representativas modernas.
O documento descreve as origens da democracia moderna, com foco na Grécia antiga. Discutem-se as primeiras cidades-estados democráticas na Grécia e como elas transformaram os sistemas políticos da época, introduzindo a ideia de que o povo poderia governar diretamente. Também são apresentadas as diferenças entre a democracia direta da Grécia e as democracias representativas modernas.
O documento descreve as origens da democracia moderna, com foco na Grécia antiga. Discutem-se as primeiras cidades-estados democráticas na Grécia e como elas transformaram os sistemas políticos da época, introduzindo a ideia de que o povo poderia governar diretamente. Também são apresentadas as diferenças entre a democracia direta da Grécia e as democracias representativas modernas.
O documento descreve as origens da democracia moderna, com foco na Grécia antiga. Discutem-se as primeiras cidades-estados democráticas na Grécia e como elas transformaram os sistemas políticos da época, introduzindo a ideia de que o povo poderia governar diretamente. Também são apresentadas as diferenças entre a democracia direta da Grécia e as democracias representativas modernas.
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Dahl, Roberth, Democracia e seus críticos, tradução de Patrícia de Freitas Ribeiro,
1°ediçao, São Paulo, 2012, pp.17-35
As origens da democracia moderna A primeira transformação: a cidade-Estado democrática De forma mais simples, a democracia remota as diversas cidades-estados, que desde tempos imemoriais haviam sido dominadas por vários governantes não democráticos, fossem eles aristocratas, oligarcas, monarcas ou tiranos, transformaram -se em sistemas nos quais um número substancial de homens adultos e livres adquiriram o direito, como cidadãos, de participar diretamente do governo. Dessa experiência, e das ideias associadas a ela, surgiu uma nova visão de um sistema político possível, no qual um povo soberano não somente tem direito a se governar, mas possui todos os recursos e instituições necessários para fazê-lo. .Essa visão perdura no núcleo das ideias democráticas modernas e continua a moldar as instituições e práticas democráticas. Para entender o que é “Democracia”, é necessário, antes demais, mencionar as suas quatro grandes e importantes origens, nomeadamente: a Grécia clássica; uma tradição republicana derivada mais de Roma e das cidades-Estado italianas da Idade Média; e da Renascença que das cidades-estados da Grécia; a ideia e as instituições do governo representativo; e a lógica da igualdade política. A primeira que será explicada seguidamente.
Uma perspectiva grega: a primeira transformação
Não resta dúvida que democracia envolvia a igualdade de alguma forma. Mas que tipos de igualdade, exatamente? Antes que a palavra" democracia" se tornasse um termo de uso corrente, os atenienses já se referiam a certos tipos de igualdade como características recomendáveis de seu sistema político: a igualdade de todos os cidadãos no direito de falar na assembleia de governo (isegoria) e a igualdade perante a lei (isonomia) (Sealey 1976, 158). Esses termos continuaram em uso e é evidente que muitas vezes foram tomados como características da" democracia". Mas durante a primeira metade do século V a.C., à medida que " o povo" (o demos) era cada vez mais aceito co1no a única autoridade legítima no governo, a palavra" democracia"- governo do povo - também parecia ganhar terreno como o nome mais apropriado para o novo sistema. A natureza da pólis Sabemos, é claro (diz o ateniense), que somente na associação com os outros podemos ter a esperança de nos tornar plenamente humanos ou, certamente, de consumar nossas qualidades de excelência como seres humanos. A associação mais importante na qual cada um de nós vive, cresce e amadurece é, naturalmente, a nossa cidade a pólis. E assim é para todos, pois é da nossa natureza sermos seres sociais. Embora autor ter dito que ouviu uma ou duas vezes, alguém dizer talvez apenas para provocar uma discussão que pode existir um bom homem fora da pólis, o autor salienta dizendo que: “ é evidente que sem repartir a vida na pólis, ninguém poderia jamais desenvolver ou exercitar as virtudes e qualidades que distinguem os homens dos animais”. Entretanto, um bom homem requer não apenas uma pólis, mas uma boa pólis. Na avaliação de uma cidade, nada se iguala a importância aos atributos de excelência que ela promove em seus cidadãos. Para enfatizar a ideia de que é crucial que a pólis seja boa, diz ainda “que nem é preciso dizer que uma boa cidade é aquela que produz bons cidadãos, promove a sua felicidade e os encoraja a agir de forma correta”. O cidadão deve agir em prol de fins harmoniosos, pois o homem virtuoso será um homem feliz e ninguém, , pode ser verdadeiramente feliz a não ser que seja também virtuoso. Assim ocorre com a justiça. A virtude, a justiça e a felicidade não são inimigas, mas companheiras. Uma vez que a justiça é o que tende a promover o interesse comum, uma boa pólis deve também ser justa; e, portanto, deve ter por objetivo desenvolver cidadãos que busquem o bem comum. Pois alguém que busque apenas seus próprios interesses não pode ser um bom cidadão: um bom cidadão é aquele que, nos assuntos públicos, sempre busca o bem comum. Está ideia torna-se tão irónica ou equívoca porque o mesmo autor salienta que ao dizer isso parece estabelecer um padrão impossível, que quase nunca conseguimos alcançar em Atenas, tampouco em todas as outras cidades. No entanto, não pode haver um significado melhor de virtude num cidadão que este: que, nos assuntos públicos, ele sempre procure o bem da pólis. Na melhor pólis os cidadãos são, a um só tempo, virtuosos, justos e felizes. E porque cada um busca o bem de todos, e a cidade não é dividida em segmentos menores de ricos e pobres ou de diferentes deuses, todos os cidadãos podem viver juntos em harmonia. A natureza da democracia Todavia, numa pólis democrática, para que os cidadãos possam lutar pelo bem comum, não precisamos todos ser parecidos, ser pessoas sem nenhum interesse próprio nem dedicar nossas vidas exclusivamente à pólis. Pois o que é a pólis senão um lugar no qual os cidadãos podem viver uma vida plena sem estar sujeitos ao chamado deveres cívicos a todo instante? Esse é o modo espartano. Não é o nosso. Uma cidade necessita de sapateiros e armadores, carpinteiros e escultores, fazendeiros que cuidem de seus olivais no campo e médicos que cuidem de seus pacientes na cidade. Entretanto, nossas diferenças nunca devem ser tão grandes a ponto de não podermos concordar quanto ao que é melhor para a cidade, ou seja, o que é melhor para todos, e não somente para alguns. É por isso que, como qualquer outra, uma pólis democrática não pode ser dividida em duas cidades, uma dos pobres e uma dos ricos, cada uma delas procurando o seu próprio bem. Mesmo o Platão falou sobre esse perigo, e embora ele não seja amigo da democracia ateniense, concordou ao menos nesse ponto. Pois tal cidade seria atormentada pelos conflitos, e o conflito civil suplantaria o bem público. Talvez surgiria duas cidades em uma só cidade. Essa visão em resumo O ideal democrático descrito por nosso ateniense hipotético é uma visão política tão grandiosa e fascinante que é quase impossível que um democrata moderno não se sinta atraído por ela. Na visão grega, como acabamos de observar, uma ordem democrática teria de satisfazer pelo menos seis condições: Os cidadãos devem ser suficientemente harmoniosos em seus interesses de modo a compartilhar um sentido forte de um bem geral que não esteja em contradição evidente com seus objetivos e interesses pessoais. Dessa primeira condição, advém a segunda: os cidadãos devem ser notavelmente homogêneos no que tange às características que, de outra forma, tenderiam a gerar conflito político e profundas divergências quanto ao bem comum. De acordo com essa visão, nenhum Estado pode ter a esperança de ser uma boa pólis se os cidadãos forem imensamente desiguais em seus recursos econômicos e na quantidade de tempo livre de que dispõem, se seguirem religiões diferentes, se falarem idiomas diferentes e apresentarem grandes diferenças em sua educação ou ainda se forem de raças, culturas ou (como dizemos hoje) grupos étnicos diferentes. Em terceiro lugar, o tamanho reduzido do demos era necessário por três motivos: ajudaria a evitar a heterogeneidade e, por conseguinte, a desarmonia resultante de uma expansão das fronteiras, bem como a evitar a inclusão de pessoas de línguas, religiões, história e etnias diversas pessoas com quase nada em comum. Finalmente, o tamanho reduzido era essencial para que os cidadãos se reunissem em assembleia de modo a servir como governantes soberanos de sua cidade. Em quarto lugar, portanto, os cidadãos devem ser capazes de se reunir e decidir, de forma direta, sobre as leis e os cursos de ação política. Tão profundamente arraigada era essa concepção que os gregos achavam difícil imaginar um governo representativo, muito menos aceitá -lo como uma alternativa legítima à democracia direta. Em quinto lugar, Todavia, a participação dos cidadãos não se limitava às reuniões da Assembleia. Ela também incluía uma participação ativa na administração da cidade. Estima-se que em Atenas, mais de mil cargos tinham de ser ocupados - alguns por eleições, mas a maior parte por sorteio - e quase todos esses cargos eram para mandatos de um ano e podiam ser ocupados apenas uma vez na vida. Por último, a cidade-Estado deve, ao menos idealmente, permanecer completamente autônoma. Ligas, confederações e alianças podem ser necessárias, às vezes, para a defesa ou a guerra, mas não se deve permitir que elas sobrepujem a autonomia definitiva da cidade-Estado e a soberania da assembleia naquele Estado. Em princípio, portanto, cada cidade deve ser autossuficiente, não apenas politicamente mas também econômica e militarmente Estado democrático moderno Cada uma dessas condições representa uma dura contradição às realidades de todas as democracias modernas que se localizam, não numa cidade-Estado, mas num Estado nacional ou país: em vez do demos minúsculo e do território pressuposto na visão grega, um país- até mesmo um país pequeno - abrange um gigantesco corpo de cidadãos espalhado por um vasto território (para os padrões gregos). Como resultado disso, os cidadãos são um corpo mais heterogêneo do que os gregos consideravam recomendável. Em muitos países, na verdade, eles são extraordinariamente diversos em matéria de religião, educação, cultura, grupo étnico, raça, língua e situação econômica. Essas diversidades inevitavelmente desequilibram a harmonia imaginada no ideal grego; o conflito político, e não a harmonia, é a marca registrada do Estado democrático moderno. o que prevalece não é a democracia direta, e sim o governo representativo. As diferenças são tão profundas, portanto, que se nosso cidadão ateniense hipotético vivesse entre nós, ele certamente afirmaria que uma democracia moderna não é uma democracia de modo algum. Seja como for, confrontados com um mundo radicalmente diferente, que oferece um conjunto extremamente diferente de limites e possibilidades, temos direito de imaginar o quanto da visão grega de democracia é pertinente ao nosso tempo ou a um futuro concebível. Limites É razoável concluir, como tantos já fizeram, que o governo, a política e a vida política em Atenas, e provavelmente em muitas outras cidades-Estado também, eram, ao menos quando examinados sob uma perspectiva democrática, imensamente superiores aos inúmeros regimes não democráticos sob os quais a maioria das pessoas tem vivido ao longo da história. Existem apenas indícios fragmentários. Estes nos fornecem informação principalmente sobre Atenas, que era apenas uma, ainda que, de longe, a mais importante - de várias centenas de cidades-Estado. Pelo que se pode depreender dessas informações fragmentárias, a política em Atenas e em outras cidades-Estado era um jogo duro e difícil, no qual as questões públicas muitas vezes estavam subordinadas às ambições pessoais. Embora os partidos políticos no sentido moderno não existissem, as facções baseadas em laços de família e amizade desempenhavam um papel poderoso. As exigências supostamente superiores do bem comum cediam, na prática, às exigências mais fortes da família e dos amigos. Há razões para crer que apenas uma pequena minoria dos cidadãos comparecia às reuniões da Assembleia. Sem dúvida, os líderes tentavam garantir a presença de seus simpatizantes, e as reuniões da Assembleia podem ter sido frequentadas principalmente por esses seguidores. Uma vez que, durante a maior parte do século V a. C., estes consistiam de coalizões de grupos base a das em laços de família e amizade, as assembleias provavelmente não costumavam incluir os cidadãos mais pobres e menos bem relacionados. Seria um engano, portanto, partir do pressuposto de que nas cidades-Estado democráticas, os gregos estavam menos preocupados com seus próprios interesses e fossem mais ativamente devotados ao bem público que os cidadãos dos países democráticos modernos. Contudo, não são apenas as deficiências humanas expostas na vida política que me parecem importantes, mas, sim, os limites inerentes à teoria e à prática da democracia grega em si, limites dos quais, para a frustração dos autores que tomam a democracia grega como a definição de padrões adequados para todos os tempos, a teoria e a prática democráticas modernas tiveram que se desprender. De uma perspectiva democrática contemporânea, um limite fundamentalmente importante da democracia grega, tanto na teoria como na prática, era que a cidadania era mais exclusiva que inclusiva, como a democracia na demos veio a se tornar. Certamente a democracia grega era mais inclusiva que outros regimees daquele tempo; e democratas que viram seu regime em termos comparativos sem dúvida acreditavam com razão, que ele era relativamente inclusivo, um juízo que eles expressaram na divisão já banal dos regimes em governo do indivíduo, de poucos e de muitos. Não obstante, na prática uma demos "demos de muitos, excluía muitíssimos”. Tanto na teoria quanto na prática, a democracia grega era exclusiva em dois sentidos: internamente e externamente, etc. Dentro da cidade-Estado, a cidadania plena e o direito de participar da vida política através do comparecimento às reuniões da assembleia soberana ou do serviço nos cargos públicos, era negada a uma grande parte da população adulta. Não apenas as mulheres eram excluídas (como, aliás, continuaram a ser todas excluídas da democracias até o século XX), mas também eram excluídos os estrangeiros residentes permanentes (os matecos) e os escravos. Já que o requisito para a cidadania ateniense de 451 em diante era que pai e mãe fossem cidadãos atenienses, a cidadania era ou para todos os efeitos, um privilégio hereditário baseado em laços primordiais de família ( embora a cidadania plena fosse um privilégio herdado apenas pelos homens). Consequentemente, nenhum mateco, nem seus descendentes podiam tornar-se cidadãos, apesar do fato de que muitas famílias matecos viveram em Atenas durante gerações e contribuíram imensamente para a vida económica e intelectual da cidade-Estado durante os séculos V e IV a.C. (Fine 1983, 434). Embora os matecos não tivessem os seus direitos dos cidadãos e, além disso, fosse proibido a eles, pelo menos em Atenas, possuir terras ou casas, eles tinham muitas dos deveres dos cidadãos. Eles se envolviam na vida social, económica e cultural como artesãos, comerciantes, etc. O mesmo não acontecia com os escravos, a quem não só eram negados todos os direitos de cidadania, na também, quaisquer direitos legais. Os escravos de condição legal eram nada mais que uma propriedade de seus donos, totalmente sem direitos. Enquanto até mesmo os cidadãos pobres tinham alguma proteção contra os abusos em virtude de seus direitos como cidadãos e os matecos tinham alguma proteção contra os maus- tratos em razão de sua liberdade de se mudar para outro lugar, os escravos eram indefesos. Embora alguns escravos se tornassem libertos graças à alforria concedida por seus donos, na Grécia (ao contrário de Roma) eles se tornavam-se metecos, não cidadãos. A democracia grega era também como já vimos, exclusiva e não inclusiva externamente. Com efeito, entre os gregos não existia a democracia: ela existia apenas entre os membros da mesma pólis e, na visão dos gregos, só poderia existir assim. O fato de que a democracia era exclusiva e não inclusiva entre os gregos não deixa de ter relação com outro limite importante da teoria e da prática adotadas por eles: os gregos não reconheciam a existência de pretensões universais à liberdade, à igualdade ou aos direitos, fossem eles direitos políticos ou, de maneira mais ampla, direitos humanos. Em terceiro lugar, portanto, como consequência dos primeiros dois limites, a democracia grega era inerentemente limitada aos sistemas de pequena escala.Os gregos achavam difícil unir-se até mesmo contra a agressão externa. Apesar de suas proezas militares na terra e no mar, que lhes permitiram derrotar as forças numericamente superiores dos persas, eles só conseguiam reunir forças para fins defensivos de uma forma débil e temporária. Consequentemente, os gregos finalmente foram unidos, não por si próprios, mas por seus conquistadores, os macedônios e os romanos. Dois milênios depois, quando o foco das fidelidades primordiais e da ordem política foi transferido para a escala bem maior do Estado nacional, a limitação da democracia aos sistemas de pequena escala foi vista como um defeito irremediável. A teoria e a prática da democracia tiveram de romper os limites estreitos da pólis. E, conquanto a visão dos gregos não tenha se perdido totalmente para o pensamento democrático, ela foi substituída por uma nova visão de uma democracia mais ampla, agora extensiva ao perímetro gigantesco do Estado nacional.
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