FUNDAMENTOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA - Aula 01.10

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NEUROPSICOPEDAGOGIA

FUNDAMENTOS DA NEUROPSICOPEDAGOGIA

PROF ESP. GABRIELA JIMENEZ


MESTRANDA EM EDUCAÇÃO
GABRIELA JIMENEZ
[email protected]

Possui graduação em Licenciatura em Educação Física pela Faculdade Carlos Drummond de Andrade (2015) e graduação em Licenciatura em Pedagogia
pela Faculdade Método de São Paulo (2012). Pós graduação em Psicopedagogia clínica e institucional (2014); Arteterapia (2014); Educação Especial
(2015); Psicomotricidade Clínica e Institucional (2016 / 2019); Neuropsicologia e transtornos de aprendizagem (2020); Intervenção ABA em
deficiência intelectual e TEA (2022); Mestranda em Educação pela Funiber (2022).
Prof. especializada e proprietária da empresa “Môhvimente-se Atendimentos Especializados”; Professora convidada do Centro Institucional de Cursos
Educacionais Profissionalizantes (CICEP); Professora do curso técnico e pós graduação em dança pelo Núcleo de Arte Educação (NAE); Pedagoga no
Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural; e professora de educação infantil e fundamental I da Prefeitura Municipal de São Paulo, atuando na Sala de
Recursos Multifuncionais.
Tem experiência na área de Educação e da Saúde Clínica – Reabilitação.
Pesquisadora com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: deficiência, inclusão, arte como ferramenta de participação e autonomia.
EMENTA

• Fundamentação das neurociências cognitivas.


• Origem e desenvolvimento histórico.
• Teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget e Vygotsky.
• A neuropsicologia de Luria.
• A evolução do cérebro humano.
• Organização do sistema nervoso: o tecido nervoso, os sinais neurais,
subdivisões anatômicas e função do sistema nervoso.
• Funções executivas.
• Funções cognitivas superiores (percepção, atenção, memória, linguagem).
FUNDAMENTAÇÃO

A Neuropsicopedagogia é uma área de conhecimento e pesquisa na atuação


interdisciplinar, voltada para os processos de ensino-aprendizagem, que integra
avaliação e a intervenção em situações que envolvam esses processos no plano
individual ou coletivo. Ela ainda é considerada uma práxis (prática
fundamentada em referenciais teóricos) e não uma ciência.
FUNDAMENTAÇÃO

“Área de estudo das neurociências na qual objetiva a análise dos processos


cognitivos, potencialidades pessoais e perfil sócio – econômico, a fim de construir
indicadores formais para a intervenção clínica frente aos educandos padrões
com baixo desempenho e que apresentam disfunções neurais devido à lesão
neurológica de origem genética, congênita ou adquirida.”
Refletir sobre a relação da neuropsicopedagogia e sua
contribuição para o desenvolvimento da aprendizagem,
ajuda a compreender também outros aspectos nesse mesmo
contexto como: a construção do conhecimento, o
desenvolvimento cerebral, o desenvolvimento
neuropsicomotor e sua influência no processo de
aprendizagem e o desenvolvimento da memória.
Ressaltando que o desenvolvimento da aprendizagem e da
memória é um processo que ocorre desde o nascimento até
a idade adulta. E assim, o desenvolvimento humano ocorre
durante toda vida e resulta de uma inter-relação complexa
de fatores biológicos, psicológicos, culturais e ambientais,
sendo definido com as mudanças na vida de um indivíduo
desde a concepção até a morte.
Segundo Antunes (1998), a aprendizagem é uma combinação de 3 fatores:
CAPTAÇÃO DE INFORMAÇÕES (aprendiz visual, auditivo, sinestético ou tátil)
ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
PLANEJAMENTO E USO DAS INFORMAÇÕES

Quer seja ou não com dominância cerebral especifica


Condições para compreender e armazenar as informações que está recebendo/aprendendo
Integração das informações emocional, social, física e ambiental.
A primeira descrição no campo científico se deu através de Jennifer Delgado Suárez, no artigo intitulado “Desmistificación
de la neuropsicopedagogia” onde apresentou uma composição histórica da trajetória neuropsicopedagógica e ressaltou sua
importância para o contexto educativo. Fernandez (2010) aponta para três pontos elucidativos da Neuropsicopedagogia,
abordada por Suárez: 1º Educação; 2º Psicologia e 3º Neuropsicologia. Educação no intuito de promover a instrução, o
treinamento e a educação dos cidadãos. A Psicologia com os aspectos psicológicos do indivíduo. E, finalmente, a
Neuropsicologia com a teoria do cérebro triuno, sendo que aqui oportunizou a teoria das múltiplas inteligências, propostas
por Gardner. Conforme as autoras colombianas, a Neuropsicopedagogia traz importantes contribuições à educação, pois
existe a possibilidade de se perceber o indivíduo em sua totalidade. (POHLMANN, 2010).
Piaget (1988) caracteriza o desenvolvimento cognitivo em quatro etapas, que obedecem a uma sequência, sendo as
aquisições de cada uma delas subestruturas para aquisição da etapa seguinte. Ele subdivide a estrutura cognitiva em
fases evolutivas:

1ª fase: período sensório-motor - Criança sente e apreende (antes dos 2 anos).

2ª fase: período pré-operatório - Nesta fase a criança não trabalha com símbolos, trabalha com o concreto e não
tem percepção narrativa (2 a 6 anos).

3ª fase: operatório concreto - Criança trabalha com relação (6 aos 12 anos).

4ª fase: operações formais - Capacidade de abstração (12 anos em diante).


“O segundo objetivo da educação é formar mentes que
possam ser críticas, que possam verificar, e não aceitar,
tudo que lhes é oferecido. O grande perigo de hoje são
os lemas, opiniões coletivas, as tendências já formadas
de pensamento. Temos que ser capazes de nos opor de
forma individual, para criticar, para distinguir entre o
que está certo e o que não está”.

-Jean Piaget-
VYGOTSKY
• Um dos maiores representantes da psicologia histórico-cultural, afirmava que o sujeito se constitui
ao se relacionar com os outros em atividades “caracteristicamente humanas”.
• Vygotski partia do princípio de que a essência do materialismo está na premissa de que a realidade
existe objetiva e regularmente numa dialética relação entre homem e natureza, a qual é
cognoscível, e caberia à psicologia desvendar a gênese das atividades psíquicas que se reorganizam
na dinâmica das concretas relações sociais.
A natureza determina que o homem tenha necessidades, e a História, por sua vez,
determina quais serão elas. [...] as relações sociais são engendradas pelos homens, em
um determinado período, que determina a relação do homem com a natureza.
• A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução
de tarefas difíceis, a superarem a ação impulsiva, a planejarem a solução para um problema antes de sua execução e a
controlarem seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de
contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se então, a base de uma forma
nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais.

Vygotski (1984, p. 31)


TEORIA NEUROPSICOLÓGICA FUNDAMENTOS DE LÚRIA (A. R.)

3ª UNF:
2ª UNF: Percepção. Representação.
Processamento Planificação /
Planejamento

1ª UNF: Sensação.
ATENÇÃO!
Cérebro

Estrutural Cerebelo
Sistema nervoso central

Medula espinhal

Neurônios

NEUROCIÊNCIA
• Estudo científico do cérebro e do sistema nervoso
Memória
“Convergência” de muitas tecnologias

Cognitivo
Aprendizagem

Inteligência
• Revela como ocorrem os processos de aprendizagem.

• Ela detalha, também, as particularidades de cada período de desenvolvimento do aluno e nos permite
entender melhor como se desenrola o aprender na escola.

• É um momento muito interessante da evolução da ciência, pois temos mais condições de encaminhar a
docência para a aprendizagem de todos.
APRENDIZAGEM

• Maravilhoso e complexo PROCESSO pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ATIVA
SINAPSES (ligações de neurônios por onde passam os estímulos), tornando-as mais “intensas”.

• A cada estímulo novo, a cada repetição de um comportamento que queremos que seja consolidado
temos circuitos que processam as informações que deverão ser consolidadas.

• A aprendizagem se efetua pela criação de novas memórias e pela ampliação e transformação de redes
neurais que “guardam” conteúdos já abordados anteriormente.
DIMENSÃO INTERNA DO DESENVOLVIMENTO

• Quando a criança começa a se comunicar verbalmente, ela já realizou uma série de aquisições que a
levaram a falar.

• Da mesma maneira que o desenvolvimento interno leva a formação de frases e sua expressão, levará a
criança ao ato de escrever e ler.

• Ao brincar, a criança mobiliza áreas do cérebro que fazem parte da aquisição dos conhecimentos
formais.
AQUISIÇÃO DOS CONHECIMENTOS FORMAIS

• Redes neurais são formadas no córtex motor quando a criança realiza brincadeiras com movimentos
repetitivos, desenvolvendo a perícia de certos movimentos que serão “utilizados” posteriormente para
escrever.

• Parlendas adivinhas e cantigas – elementos que contribuem para o refinamento auditivo e atencional,
também contribuirão posteriormente para o desenvolvimento da escrita.

• Brincadeiras infantis educam a atenção.

• Atividades de desenho no período que antecede a alfabetização, já fazem parte do próprio processo.
A APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO FORMAL

• A apropriação se apoia no desenvolvimento cultural da criança e vai depender de processos biológicos do cérebro.

Quais processos?

A aprendizagem é uma modificação biológica na comunicação entre neurônios, formando rede de interligações que podem ser
evocadas e retomadas com relativa facilidade e rapidez.

Tais evocações estão sujeitas às condições do momento em que ela se realiza.


NEUROPLASTICIDADE OU PLASTICIDADE NEURAL

• A plasticidade neural ou neuroplasticidade é a capacidade de organização do Sistema Nervoso frente ao


aprendizado e a lesão.

• Esta organização se relaciona com a modificação de algumas conexões sinápticas.

• A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções
extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo.

• Os processos de modificação pós-natais em consequência da interação com o meio ambiente e as


conexões que se formam durante o aprendizado motor consciente (memória) e inconsciente
(automatismo) são exemplos de como funciona a neuroplasticidade em indivíduos sem alteração do
Sistema Nervoso Central.

• É importante salientar, que estes dois processos descritos acima, necessitam da estimulação periférica
para dar o feedback neuromotor.
APRENDIZAGEM E PLASTICIDADE CEREBRAL

• Quanto mais novo o ser humano, maior plasticidade seu cérebro apresenta.

• O cérebro humano dispõe de cerca de 100 bilhões de neurônios, e CADA UM pode chegar a
estabelecer cerca de alguns milhares de sinapses.

• A Plasticidade permite que áreas do cérebro destinadas a uma função específica possam
assumir outras funções.
FUNÇÕES MENTAIS SUPERIORES - EXECUTIVAS

• Segundo Martins (2013, p. 118, grifo da autora), “os fenômenos psíquicos apontam a existência de modos de
funcionamento que conquistam qualidades especiais no transcurso de sua formação e desenvolvimento”. Vale ressaltar
que Vygotski não nega a importância do biológico no desenvolvimento humano, mas afirma que ao longo do processo
de apropriação dos sistemas da cultura, as funções biológicas ou elementares transformam-se em novas funções, mais
complexas, chamadas funções psíquicas superiores. Para ele, todo processo psíquico possui elementos herdados
biologicamente, mas dialeticamente transformados, os quais vão se tornando subjugados aos elementos que surgem na
relação social e sob a influência da realidade objetiva.
SENSAÇÃO

É a capacidade de captar
estímulos por meio de
receptores sensoriais e
transformá-las em imagens
ou informações no sistema
nervoso central.
PERCEPÇÃO

A percepção humana é um complexo


processo de codificação do material
percebido que se realiza com a estrita
participação da fala, e que a
atividade perceptiva humana,
portanto, nunca acontece sem a
participação direta da linguagem
(LURIA, 1981).
ATENÇÃO

“Funções mentais específicas


de concentração num estímulo
externo ou numa experiência
interna pelo período de tempo
necessário”. (OMS/CIF, 2003).
❑ Atenção Concentrada: A atenção concentrada é caracterizada pela concentração do cérebro em apenas uma
atividade, excluindo todos os estímulos ao redor.

❑ Atenção Alternada: Esse é o tipo de atenção usado no trânsito: quando você está dirigindo e o farol fecha, é
preciso se concentrar no farol e na direção

❑ Atenção sustentada: A atenção sustentada é a habilidade de manter-se focado durante uma atividade
contínua e repetitiva, quando a mente está focada em uma mesma tarefa por um longo período, sem
distrações.

❑ Atenção seletiva: Esse é um tipo de atenção consciente, quando escolhemos onde nossa mente deve
permanecer focada.
MEMÓRIA

Aquisição, formação, conservação e


evocação de informações.

“Somos aquilo que recordamos.

E também aquilo que esquecemos”

Izquierdo, 2018, p. 1
IZQUIERDO,2018

As memórias são classificadas como:

1 – de acordo com sua função

2 – de acordo com o tempo que duram

3 – de acordo com seu conteúdo


Função:

Memória de Trabalho (ou operacional) E Memória Imediata: Mantém por poucos segundos, no muito minutos a informação recebida e processada.

Ex.: Número de telefone para realizar ligações

Conteúdo:

Declarativas // Episódicas (autobiográficas) // Semânticas // Procedurais

Tempo:

Curta Duração – de 1 a 6 horas

Longa duração – consolidadas com o tempo, porém interferências como o cortisol podem afetar ou excluir (depende do ambiente)

Memórias remotas – meses, anos, a vida


EMOÇÃO

Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais baseadas nas memórias emocionais, e surgem quando o
cérebro recebe um estímulo externo. O sentimento, por sua vez, é uma resposta à emoção e diz respeito a como a pessoa
se sente diante daquela emoção.

• Tem função adaptativa e de sobrevivência da espécie.

• Faz parte do sistema límbico, parte do cérebro onde se originam as nossas emoções, participa
dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive dos conhecimentos escolares.

• Só se aprende com a formação de novas memórias e os processos da memória são modulados


pela emoção.

• Toda ação de ensino deve considerar as emoções.


PENSAMENTO E LINGUAGEM
• Falar é nomear objeto, é formar conceitos, é articulá-los de forma
coerente.

• Falar é manifestar nosso pensamento sobre o mundo: mundo subjetivo e


objetivo.

• Linguagem estruturada: instrumento pela qual podemos estabelecer diálogos,


atribuindo sentido à realidade que nos cerca.

• Linguagem verbal: não é a única linguagem usada pelo ser humano.

• Matrizes da linguagem: verbal, visual e sonora.

• Linguagem: corporal, matemática, física, digital, entre outras.


ESTRUTURAÇÃO DA LINGUAGEM

Toda linguagem é um sistema de signos.

“O signo é uma coisa que está em lugar de outra e representa algo para
alguém” (PEIRCE,1977, p. 46).

Exemplos:
✓ gestos com as mãos,
✓ números substituem as quantidades reais de objetos,
✓ cão é o nome que se refere a um determinado animal,
✓ fumaça é signo de alguma coisa: sinal de fogo ou de alguém fumando.
LINGUAGEM, PENSAMENTO
E CULTURA

Existem diversos tipos de linguagem, existem diversos tipos de pensamento.

Para cada tipo de linguagem há um tipo de pensamento.

Pensamento concreto: se forma a partir da percepção, da representação de objetos


reais. Ele é sensível e intuitivo!

Pensamento abstrato: as relações não são perceptíveis. Há a criação de conceitos e


noções gerais e é racional!

Como sistema simbólico, ele transcende o dado vivido e permite construir o mundo
das ideias.
CADA LÍNGUA ORGANIZA A
REALIDADE DE MODO DIFERENTE!

Ex. do esquimó que possui seis nomes diferentes


para designar vários estados da neve.

A percepção da realidade depende do repertório


de linguagens!

O esquimó percebe os diferentes estados da neve e


nós percebemos somente se há neve ou não.

A estruturação da língua (também da linguagem)


influencia a percepção da realidade e o nível de
abstração e generalização do pensamento!

A cultura modifica as linguagens: há modificações de


repertório e das novas descobertas da técnica.

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