Origens Da Internacional Comunista Osvaldo Coggiola
Origens Da Internacional Comunista Osvaldo Coggiola
Origens Da Internacional Comunista Osvaldo Coggiola
A iminência de conflito armado era denunciada até por correntes da burguesia, mas
coube às organizações operárias a insistência sobre o perigo provocado pela
instabilidade militar européia. A partir do início do século XX multiplicaram-se conflitos
regionais, que traduziam interesses das grandes nações capitalistas: a questão de
Tanger, a questão dos Bálcãs, as questões coloniais na África e na Ásia. Os congressos
socialistas internacionais denunciaram a expansão imperialista. Para Rosa
Luxemburgo, por exemplo, “as guerras entre Estados capitalistas são em geral
conseqüências de sua concorrência sobre o mercado mundial, pois cada Estado não
tende unicamente a assegurar mercados, mas a adquirir novos, principalmente pela
servidão dos povos estrangeiros e a conquista de suas terras. As guerras são
favorecidas pelos preconceitos nacionalistas que se cultivam sistematicamente no
interesse das classes dominantes, a fim de afastar a massa proletária de seus deveres
de solidariedade internacional. Elas são, pois, da essência do capitalismo, e não
cessarão senão pela supressão do sistema capitalista”.
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afirmou que o anticolonialismo dos congressos socialistas precedentes não havia
servido para nada, e que os socialdemocratas deviam reconhecer a existência
indiscutível dos impérios coloniais, e apresentar propostas concretas para melhorar o
tratamento dos indígenas, o desenvolvimento dos recursos naturais e o
aproveitamento destes em benefício de toda a raça humana. Perguntou aos opositores
ao colonialismo se estavam realmente preparados para prescindir dos recursos das
colônias, tendo em conta a situação real. Recordou que Bebel havia dito que nada era
mau no desenvolvimento colonial como tal e se referiu aos sucesos dos holandeses ao
conseguirem melhoras nas condições dos indígenas.
As divergências faziam parte dos motivos que levariam quase todos os partidos da
Segunda Internacional a adotar uma posição social-patriótica (proimperialista) em
1914. Na verdade, as divergências sobre a questão colonial eram um aspecto do
desacordo mais geral sobre a atitude que deveria adotar-se perante uma guerra entre
as potências. Segundo o historiador trabalhista inglês G. D. H. Cole: “A guerra, quando
estalasse, devia ser utilizada como uma oportunidade para a destruição total do
capitalismo por meio da revolução mundial. Esta insistência correspondia ao que se
havia estabelecido no conhe cido parágrafo final da resolução de Stuttgart adotada em
1907 pela Segunda Internacional, ante a insistência de Lênin e Rosa Luxemburgo, e
contra a oposição inicial dos socialdemocratas alemães, que somente a haviam aceito
sob pressão. Mas a política aceita alí nominalmente nunca havia sido realmente a
política dos partidos constituintes da Internacional, e o deslanche da Internacional em
1914 lhe pusera fim, efetivamente, no que se referia às maiorias dos principais
partidos dos países beligerantes”.
Com a guerra mundial, a hora da verdade também se apresentou para o único partido
socialista latino-americano presente no Congresso de Stuttgart, o Partido Socialista
Argentino. O delegado do PSA, Manuel Ugarte, votou na moção anticolonialista de
Lênin, mas poucos anos depois foi expulso do Partido, sob acusação de nacionalismo.
O comentário que a resolução anticolonialista de Stuttgart mereceu da parte do
principal dirigente do PSA, Juan B. Justo foi: “As declaraçôes socialistas internacionais
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sobre as colônias, salvo algumas frases sobre a sorte dos nativos, se limitaram a
negações insinceras e estéreis. Não mencionam sequer a liberdade de comércio, que
teria sido a melhor garantia para os nativos, e reduzido a questão colonial ao que devia
ser”. O PSA, cuja reivindicação central era o livre-câmbio contra toda barreira
protecionista (sob pretexto de que tal medida tornaria mais baratas as mercadorias,
beneficiando os operários) concluiria como aliado direto do imperialismo, na
Argentina.
Bebel, depois de uma declaração teórica sobre as raízes da guerra, considerou que era
dever dos trabalhadores e de seus representantes parlamentares lutar contra o
armamentismo, e lhe negar apóio financeiro. Se declarou, porém, também em favor
de uma organização democrática do sistema de defesa nacional. Diante da ameaça de
guerra se devia fazer o possível para evitá-la, usando os meios mais eficazes e, em caso
de conflito em andamento, lutar para lhe dar o fim mais rápido. Mas não disse como.
Significativamente, Bebel disse que o governo alemão não desejava a guerra, e que
todo apelo à deserção deflagraria, da parte do governo, uma repressão que provocaria
o fim do partido socialdemocrata. A ambigüidade, portanto, pairava sobre os principais
posicionamentos dos socialistas. A resolução sobre a guerra teve como base a moção
apresentada por August Bebel, e afirmava que “as guerras eram próprias da essência
do capitalismo e só cessariam com o seu fim” e que “os trabalhadores era as principais
vítimas do conflito, portanto seus inimigos naturais”.
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delegados alemães, que se opunham a essa proposta. Mas, segundo Lênin, presente
no congresso, as resoluções “não continham qualquer indicação concreta sobre quais
deveriam ser as tarefas da luta do proletariado”. Já se podia sentir que eram poucos os
que estavam realmente dispostos a levar até as últimas conseqüências a resolução.
Segundo Arthur Rosenberg, “os partidos socialistas só falavam, nesse período, de paz e
fraternidade entre os povos e se alinhavam contra qualquer política de potência
nacional, o que os isolou nitidamente dos estratos populares restantes. A infeliz
contraposição entre a minoria socialista e a chamada maioria "burguesa" da nação
adquiriu um significado particular pelo fato de que os socialistas eram
"antinacionalistas", enquanto que os burgueses eram "nacionalistas". E na medida em
que o sentimento nacional é, no momento correto, uma arma inacreditavelmente
poderosa na luta política, os socialistas se viram relegados ao terreno no qual teriam
que sofrer as derrotas mais sérias. De fato, o movimento nacional arrasta consigo, no
momento crítico, não só as classes médias, mas também a maioria dos trabalhadores.
O pacifismo abstrato não tem qualquer força de resistência quando está
verdadeiramente em jogo a vida da nação. A democracia revolucionária do período de
1848 pôde utilizar o sentimento nacional. A II Internacional, ao contrário, deixou-se
dominar, em quase todos os países, por um isolamento no qual a ideologia profissional
dos operários e o pacifismo constituíam posições destinadas a serem derrotadas. A
eclosão da guerra mundial e, posteriormente, a vitória do fascismo nos grandes países
europeus, logo mostraram claramente essa situação. O congresso da Internacional,
realizado em Copenhague em 1910, manifestou-se com indignação contra os
socialistas tchecos, alinhados então a favor da política de defesa de sua nacionalidade.
Porém, a história deu razão aos separatistas tchecos”.
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congresso, a questão da greve geral foi recolocada em pauta, com uma moção do
francês Vaillant, associado ao inglês Keir-Hardie: “Entre os meios para evitar e impedir
a guerra, este Congresso considera particularmente eficaz a greve geral operária”.
Decidiu-se adiar a decisão e continuar a discussão no próximo congresso em Viena,
previsto para 1913. Jean Jaurès apresentou uma emenda preconizando “a greve geral
organizada simultaneamente e internacionalmente”.
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O congresso da Internacional Socialista foi adiado para 28-29 de agosto de 1914, e
nunca se realizou: em 31 de julho, Jaurès foi assassinado; em 3 de agosto estourou a
guerra. No dia 4 de agosto, para surpresa de muitos revolucionários, inclusive Lênin, os
deputados socialistas alemães do Reichstag votaram (com exceção de Karl
Liebknecht,[1] e Otto Rühle) a favor da liberação dos créditos de guerra. A maioria dos
socialistas alemães punha uma pedra sobre o seu passado revolucionário e
internacionalista. Em 1914, a socialdemocracia alemã era poderosa. Com um
orçamento de dois milhões de marcos, contava com mais de um milhão de filiados,
mesmo tendo sofrido forte repressão no regime imperial alemão. Era a vitória do
pragmatismo de direita, do oportunismo:[2] “Desde 4 de agosto - afirmou Rosa
Luxemburgo - a social democracia alemã é um cadáver putrefato”.
Os socialistas franceses, por sua vez, uniram-se à burguesia francesa “em defesa da
pátria ameaçada”. O mesmo fizeram os austro-húngaros, os belgas, os ingleses. Até
Plekhanov, pai do marxismo russo, aderiu às teses social-patrióticas. Em diversos
países os socialistas formaram alianças políticas e blocos governamentais com suas
respectivas burguesias imperialistas. A guerra revelou os limites das antigas direções:
“A II Internacional está morta, vencida pelos oportunistas”, afirmou Lênin, dirigente da
fração revolucionária do socialismo russo e da Internacional.
Não apenas não foi desencadeada a greve geral, mas a classe operária, petrificada e
desguarnecida, viu os seus dirigentes se alinharem à política de guerra da burguesia e
propugnarem a “união sagrada”. Na França, o principal fundador do socialismo
marxista, Jules Guesde, tornou-se membro do governo, e Leon Jouhaux, dirigente do
movimento sindical, da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), anunciou sua
adesão à guerra, renegando suas posições anteriores, no seu discurso no enterro de
Jaurès, à beira do túmulo ainda aberto do grande inimigo da guerra... Juntava-se assim
aos deputados socialdemocratas alemães que votaram no parlamento os créditos de
guerra, alinhando-se com a política belicista de Guilherme II.
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Nesta época, em que já se desenhava um dos termos da alternativa barbárie ou
socialismo, só a revolução podia ser posta em oposição à guerra.
Em 1915, na prisão real da Prússia onde estava presa por suas atividades anti-
militaristas, Rosa Luxemburgo também estigmatizou a capitulação do socialismo
alemão ao votar os créditos de guerra, e defendeu uma posição semelhante à de
Lênin, em seu panfleto A Crise da Social Democracia: "Os interesses nacionais não
passam de uma mistificação que tem por objetivo colocar as massas populares
trabalhadoras a serviço de seu inimigo mortal: o imperialismo. A paz mundial não pode
ser preservada por planos utópicos ou francamente reacionários, tais como tribunais
internacionais de diplomatas capitalistas, por convenções diplomáticas sobre
“desarmamento”, “liberdade marítima”, supressão do direito de captura marítima, por
“alianças políticas européias”, por “uniões aduaneiras na Europa Central”, por Estados-
tampões nacionais, etc. O proletariado socialista não pode renunciar à luta de classe e
à solidariedade internacional, nem em tempos de paz, nem em tempos de guerra: isso
equivaleria a um suicídio. (...) O objetivo final do socialismo só será atingido pelo
proletariado internacional se este enfrentar em toda a linha o imperialismo e fizer da
palavra de ordem “guerra à guerra” a regra de conduta de sua prática política,
empenhando aí toda a sua energia e toda a sua coragem".
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luta. Ao receber tal choque, a Segunda Internacional desmoronou. Na verdade, ela
nem sequer tentou lutar. O nacionalismo e o revisionismo ligaram-na intimamente ao
regime existente, atrelaram-na ao carro do capitalismo com o qual ela foi arrastada
para a guerra.
Contra o prognóstico do dirigente reformista mais combativo, Jean Jaurès — "a guerra
será o ponto de partida da revolução internacional" —, se confirmou a caracterização
de Otto Bauer:[4] "A revolução proletária não é nunca menos possível do que no início
de uma guerra, quando a força concentrada do poder estatal e toda a potência das
paixões nacionais desencadeadas se opõem a ela". Ou, como disse Trotsky no começo
da guerra: "Logo depois de anunciada a mobilização militar, a socialdemocracia
encontrou-se diante da força de um poder concentrado, baseado em um poderoso
aparato militar pronto para derrubar, com ajuda de todos os partidos e instituições
burguesas, todos os obstáculos que aparecessem em seu caminho".
Em 1916, no seu opúsculo sobre o imperialismo, Lênin tentou chegar a uma conclusão
em relação à conduta da Internacional, analisando as bases sociais do fenômeno do
“social-imperialismo”: “O imperialismo tem a tendência de formar categorías
privilegiadas também entre os operários, e de divorciá-las da grande massa do
proletariado. A ideología imperialista penetra inclusive na clase operária, que não está
separada das outras clases sociais por uma muralha chinesa. Os chefes do partido
socialdemocrata atual da Alemanha foram com justiça qualificados de social-
imperialistas, isto é, socialistas de palabra e imperialistas de fato”. Mas a reação
dentro da Internacional não se fez esperar…
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como certa e próxima. E, a partir de 1917, quando os sacrifícios da guerra começaram
a pesar, a resistência à sua continuação começou a crescer rapidamente.
Internacionalmente, a reação contra a guerra se expressou inicialmente no CRRI
(Comité pela Retomada das Relações Internacionais) formado por um conjunto
heterogéneo de grupos e militantes da Segunda Internacional. Os socialistas
revolucionários estavam obrigados a intervir neste movimento majoritariamente
"social-pacifista", na medida em que suscitava um interesse político na vanguarda
operária (e, potencialmente, nas amplas massas): sua intervenção foi vitoriosa, por ter
sido a única força que, apesar de muito minoritária, atuou nesse movimento como
partido organizado (o bolchevismo). É importante notar que a base do movimiento
não era circunstancial nem improvisada, pois se apoiava na antiga esquerda da
Internacional Socialista. Escrevendo em 1916 para Vorbote (Precursor) Lênin afirmou
que “a luta das duas tendências fundamentais do movimiento operário, socialismo
revolucionário e socialismo oportunista, preenche a época que vai de 1889 até 1914”.
Parte da Bélgica havia sido ocupada pelos exércitos alemães no mês de agosto de 1914
e, por isso, o Bureau Socialista Internacional não podia continuar em Bruxelas. Seu
secretário, Huysmans, partiu para Haia e lá reorganizou o Bureau com os membros
dirigentes do Partido Socialista Holandês. Os primeiros sintomas da cisão no campo
socialista internacional foram as Conferências de Zimmerwald e de Kienthal. Em
setembro de 1915, os socialistas revolucionários russos (Lênin, Trotsky, Zinoviev,
Radek), alemães (Ledebour, Hoffmann), franceses (Blanc, Brizon, Loriot), italiano
(Modigliani), romenos como Christian Rakovsky, assim como os representantes do
movimento socialista de alguns países neutros, reuniram-se em Zimmerwald, na Suíça,
denunciaram energicamente o caráter imperialista da guerra mundial, a traição dos
“socialistas de guerra”, e exigiram a aplicação prática das decisões dos congressos
internacionais. Eram 38 delegados de 12 países, incluídos os das nações beligerantes.
Uma Conferência análoga reuniu-se em Kienthal (Suíça), no mês de abril de 1916. Esta
Conferência lançou um apelo aos trabalhadores dos países beligerantes, convidando-
os a lutar para pôr termo à guerra. Os delegados ingleses não compareceram a
nenhuma dessas duas Conferências, porque o governo inglês lhes recusou os
passaportes.
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O socialismo russo foi o fer de lance da luta contra a guerra, e pela revolução, nas
condições criadas pela própria guerra. Dentro da emigração russa havia múltiplas
posições, entre o defensismo de Plekhanov e o derrotismo de Lênin. Tanto Martov
como outros mencheviques se negavam a admitir que a vitória dos Habsburgos ou dos
Hohenzollern constituisse um fator favorável para a causa do socialismo no seu país.
Denunciaram então o caráter imperialista da guerra, o séqüito de atrozes sofrimentos
que significava para os trabalhadores de todos os países, e afirmaram que os
socialistas deviam acabar com a guerra mediante a luta por uma paz democrática e
sem anexações; sobre esta base se podia reconstruir a unidade dos socialistas de todos
os países, cuja condição prévia seria a negativa a apoiar os créditos de guerra nos
países beligerantes.
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Internacional. A maioria do movimento, que era mais pacifista que revolucionária, não
o acompanhou; se adotou, por unanimidade, o Manifesto redigido por Trotsky, em que
se chamava a todos os trabalhadores para por fim à guerra. Em 1915, quando os
deputados bolcheviques russos se encontravam encarcerados, os mencheviques
aceitaram apoiar a Entente, ou seja, participar na Santa Aliança em torno do governo
do Czar; o líder menchevique Chjeidze retratou-se dos acordos tomados em
Zimmerwald. Vera Zasulich e Potrésov, os velhos chefes mencheviques, apoiaram essa
política, comandada por Plekhanov. Trotsky seguia titubeando e se perguntava, em
maio de 1916, se os revolucionários “que não contam com o apoio das massas” não se
viam, por isso, “obrigados a constituir durante um certo período a ala esquerda de sua
Internacional”.
A guerra já dura mais de um ano. Há milhares de corpos sobre os campos de batalha; milhares de
homens mutilados para toda a vida. A Europa tornou-se um gigantesco matadouro humano. Toda a
ciência, o trabalho de várias gerações, está voltada para a destruição. A barbárie mais selvagem
está celebrando o seu triunfo sobre tudo que era anteriormente o orgulho da humanidade.
Seja qual for a verdade sobre a responsabilidade imediata pelo início da guerra, uma coisa é certa:
a guerra que ocasionou este caos é resultado do imperialismo, dos feitos das classes capitalistas de
toda nação para satisfazer sua sede de lucro através da exploração do trabalho humano e dos
tesouros da natureza.
À medida que a guerra avança, suas verdadeiras forças motrizes se revelam em toda a sua baixeza.
Está caindo, peça por peça, o véu que escondia o sentido desta catástrofe mundial da compreensão
dos povos. Os capitalistas de todos os países, que extraem os lucros da guerra do sangue do povo,
estão declarando que a guerra é pela defesa nacional, democracia, e libertação das nacionalidades
oprimidas. ELES MENTEM.
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Na realidade, eles estão enterrando nos campos da devastação as liberdades dos seus próprios
povos, junto com a independência de outras nações. Novos sofrimentos, novas correntes, novas
cargas estão sendo criadas, e os trabalhadores de todos os países, dos vencedores assim como dos
vencidos, terão de portá-las. O objetivo anunciado ao início da guerra era elevar a civilização a um
nível mais alto: miséria e privação, desemprego e carência, fome e doenças são os verdadeiros
resultados. Os custos da guerra irão, por décadas e décadas, consumir as energias dos povos,
ameaçar o trabalho pela reforma social e esmagar cada passo no caminho do progresso.
O desolamento moral e intelectual, o desastre econômico, a reação política - tais são as bênçãos
desta batalha horrenda entre as nações. Assim, a guerra revela a crueza do capitalismo moderno,
que se tornou irreconciliável não apenas com os interesses das massas trabalhadoras, não apenas
com as circunstâncias do desenvolvimento histórico, mas inclusive com as condições básicas da
existência humana comunitária.
As forças reinantes da sociedade capitalista, em cujas mãos se encontra o destino das nações, os
governos monárquicos e republicanos, a diplomacia secreta, grandes organizações patronais,
partidos da classe média, a imprensa capitalista, a Igreja - todas estas forças devem arcar com todo
o peso da responsabilidade por esta guerra, produzida pela ordem social que os alimenta e os
protege e que está sendo conduzida de acordo com os seus interesses.
Trabalhadores!
Explorados, privados de seus direitos, desprezados - vocês eram irmãos e companheiros no início da
guerra, antes de serem recrutados para marchar para a morte. Agora, depois que o militarismo os
mutilou, dilacerou, degradou, e destruiu, os governantes lhes exigem o abandono de seus
interesses, objetivos, e ideais - em uma palavra, a submissão completa ao "jugo nacional". Vocês
não podem expressar os seus pontos de vista, seus sentimentos, sua dor; vocês não podem avançar
suas demandas e lutar por elas. A imprensa está calada, são pisoteados os direitos políticos e
liberdades -esta é a ditadura militar que hoje reina com mão de ferro.
Não podemos, não nos atrevemos, a permanecer inativos diante de um estado de coisas que
ameaça o futuro de toda a Europa e a humanidade. A classe operária socialista conduziu a luta
contra o militarismo por várias décadas. Com ansiedade crescente, os seus representantes nas
conferências nacionais e internacionais se devotaram à ameaça de guerra, o resultado de um
imperialismo que se tornava cada vez mais ameaçador. Em Stuttgart, Copenhague e Basiléia, o
Congresso Socialista Internacional indicou o caminho que os trabalhadores deveriam seguir. Mas
desde o início da guerra os partidos socialistas e organizações da classe operária que tomamos
parte na determinação deste passo, nos esquecemos das obrigações que dele derivavam. Os seus
representantes chamaram pela suspensão da luta de classe, o único meio possível e eficaz para a
emancipação da classe operária, e votaram os créditos de guerra para a classe governante.
Colocaram-se à disposição de seus governantes para os mais diversos serviços. Através da sua
imprensa e representantes, tentaram conquistar o apoio dos setores neutros para a política
governamental de seus respectivos países. Entregaram os ministros socialistas aos seus respectivos
governos, como reféns no cumprimento do jugo nacional, assumindo assim a responsabilidade por
esta guerra, seus objetivos, seus métodos. Os partidos socialistas falharam separadamente, assim
como falhou o maior representante e responsável dos socialistas de todos os países, o Bureau
Socialista Internacional.
Estes fatos constituem um dos motivos pelos quais o movimento operário internacional, falhou,
inclusive ali onde suas seções não sucumbiram ao pânico nacional do primeiro período da guerra ou
onde se ergueram acima dele, e mesmo agora durante o segundo ano do massacre das nações, a se
erguer simultaneamente em todos os países numa luta ativa pela paz.
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Nos reunimos agora nesta situação intolerável, nós representantes de partidos socialistas e
sindicatos, ou minorias deles, nós alemães, franceses, italianos, russos, poloneses, letões, romenos,
búlgaros, suecos, noruegueses, holandeses e suíços, nós que pisamos o terreno não da
solidariedade nacional com a classe exploradora, mas da solidariedade internacional da luta dos
trabalhadores e da classe operária. Nos reunimos para reatar os laços rompidos das relações
internacionais e convocar a classe operária para se reorganizar e começar a luta pela paz.
Esta luta também é pela liberdade, pela irmandade das nações, pelo socialismo. A tarefa é
empreender esta luta pela paz, por uma paz sem anexações ou compensações de guerra. Esta paz
só é possível se for condenada toda violação dos direitos e liberdades das nações. Não deve haver
anexação forçada de territórios ocupados parcial ou totalmente. Sem anexações abertas ou
acobertadas, sem uniões econômicas forçadas, tornadas ainda mais intoleráveis pela supressão de
direitos políticos. O direito das nações de selecionar os seus próprios governos deve ser o princípio
fundamental inalterável das relações internacionais.
Trabalhadores, Organizem-se!
Desde o início da guerra vocês entregaram suas energias, coragem e determinação ao serviço da
classe governante. Agora a tarefa é ingressar nas listas por sua própria causa, pelos objetivos
sagrados do socialismo, pela salvação das nações oprimidas e classes escravizadas, através da
inconciliável luta de classes.
É tarefa e dever dos socialistas dos países beligerantes começar esta luta com todo o seu poder. É
tarefa e dever dos socialistas dos países neutros apoiar seus irmãos através de todos os meios
concretos possíveis nesta luta contra a barbárie sangrenta. Nunca na história do mundo houve
tarefa mais urgente, mais nobre e mais sublime, por cujo cumprimento devemos trabalhar em
conjunto. Nenhum sacrifício é grande demais, nenhuma carga é pesada demais para atingir este
fim: o estabelecimento da paz entre as nações.
Homens e mulheres trabalhadoras! Mães e pais! Viúvas e órfãos! Feridos e mutilados! Para todos
que sofrem por conseqüência direta ou indireta da guerra, gritamos sobre as fronteiras, sobre os
campos de batalha arrasados, sobre as cidades e vilarejos devastados: Uni-vos trabalhadores do
mundo!
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Lênin, Zinoviev, Radek, Nerman, Hogiund, Winter, isto é, a fração bolchevique
internacional.
A outra declaração, assinada pelo grupo que introduziu a resolução, além de Roland
Host e Trotsky, afirmava: "Na medida em que a adoção da nossa emenda (ao
manifesto) exigindo o voto contra as apropriações de guerra pode de alguma forma
colocar em perigo o sucesso da conferência retiramos, sob protesto, nossa emenda e
aceitamos a declaração de Ledebour na comissão, na medida em que o manifesto
contém tudo o que implica a nossa proposição". Deve-se dizer que Ledebour lançou
um ultimato exigindo a rejeição da emenda. Caso contrário se recusaria a assinar o
manifesto.
No meio da guerra, livrou-se uma batalha política dentro dos partidos da falida II
Internacional. Lênin descrevia assim a situação: “Vejamos dez Estados europeos:
Alemanha, Inglaterra, Rússia, Itália, Holanda, Suécia, Bulgária, Suíça, Bélgica e França.
Nos oito primeiros países a divisão entre tendência oportunista e tendência
revolucionária coincide com a divisão entre social-chauvinistas e internacionalistas. Na
Alemanha, os pontos de apóio do social-chauvinismo são os Sozialistische Monatshefte
e Legien e companhia;[5] na Inglaterra, os fabianos e o Partido Trabalhista (o ILP,
Partido Trabalhista Independiente sempre formou bloco com eles, mas sendo sempre,
neste bloco, mais fraco que os social-chauvinistas, enquanto no BSP, Partido Socialista
Britânico, os internacionalistas constituem 3/7 partes); na Rússia representam essa
corrente [social-patriota] Nasha Zãria (agora Nashe Dielo), o Comitê de Organização e
a minoria da Duma sob a direção Chjeídze; na Itália, os reformistas com Bissolati na
cabeça; na Holanda, o partido de Troelstra; na Suécia, a maioria do partido, dirigida
por Branting; na Bulgária, o partido dos "amplos",[6] e na Suíça, Greülich e companhia.
Em todos estes países já se deixaram ouvir protestos mais ou menos consequentes
contra o social-chauvimsmo, procedentes do campo oposto, o campo radical. Na
França e na Bélgica, o internacionalismo é ainda muito débil”.
As Sete Teses sobre a Guerra, de Lênin, podem ser sintetizadas nos conceitos
seguintes: a guerra tem um caráter burguês, imperialista, reacionário e dinástico; a
postura patriótica da Internacional Socialista é uma traição ao socialismo, que marca o
colapso político e ideológico da Internacional; a luta contra a autocracia czarista
continua sendo o primeiro dever do socialista russo; todos os autênticos socialistas
devem romper com o oportunismo pequeno burguês da Internacional Socialista, e
desenvolver um trabalho entre as massas para acabar com a guerra através da
revolução. A partir de novembro de 1914, Lênin declarou que, com essa plataforma,
devia se lutar por uma Terceira Internacional, a Internacional Comunista.
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"provocação" pela ala "moderada" de Zimmerwald (que incluía alguns futuros
ministros burgueses). E também na questão da necessidade da IIIª Internacional,
defendida só pelos bolcheviques. Lênin dizia, já em abril de 1917, antes da tomada do
poder pelo bolchevismo: “Estamos obrigados, nós (os bolcheviques) precisamente, e
agora mesmo, sem perda de tempo, a fundar uma nova Internacional, revolucionária,
proletária... A situação do nosso partido frente a todos os partidos operários do
mundo inteiro é hoje tal que temos o dever de fundar imediatamente a III
Internacional. Fora nós, ninguém poderá fazê-lo agora, e os adiamentos são
prejudiciais”.
Eram apoiados por Rosa Luxemburgo, Leo Jogiches e Franz Mehring, que, em março de
1915 fundaram a revista A Internacional e, pouco depois, a Liga Espártaco
(Spartakusbund). Um ano decorrido, o Partido Socialdemocrata alemão cindiu-se.
Dezoito deputados da fração parlamentar, dirigidos por Haase, fundaram a
Comunidade de Trabalho Socialista, que em abril de 1917 deu origem ao Partido
Socialista Independente (USPD). Este, em colaboração com a Liga Espártaco, trabalhou
para mobilizar as massas contra a política de guerra do velho partido. Entretanto, o
líder da Internacional Socialista Émile Vandervelde entrava no governo belga. A
conferência socialista se reuniu finalmente em Copenhague, a ela só compareceram
representantes dos países neutros. A Conferência dirigiu aos países beligerantes um
apelo em favor da paz.
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Na Europa, 1917 foi chamado pelo presidente francês Poincaré “o ano terrível”, o
terceiro ano da guerra, depois de um inverno espantoso. Para milhões de homens, foi
o fim das ilusões patrióticas de 1914, esmagadas pela realidade: massacres de
combatentes em “ofensivas” que custavam centenas de milhares de vidas; dificuldades
de abastecimento, com aumentos de preço não compensados pelos salários, o que
atingia moralmente o operariado; a política de “paz civil” defendida por sindicatos e
partidos operários dos países beligerantes, resultou em um questionamento de todas
as conquistas do movimento operário (ritmos de produção, horários, condições de
trabalho, direitos reivindicativos); o desgaste do material, das máquinas, do próprio
aparelho econômico provocam uma crise generalizada.
A primeira expansão internacional da revolução foi militar, provocada pela guerra civil
no ex Império Russo. Trotsky, líder militar da revolução, não conseguiu evitar o que
seria o pior erro do Exército Vermelho: a ofensiva sobre Varsóvia em 1920, na
expectativa de que o proletariado polonês se levantaria com a chegada dos
“vermelhos”. Nada disso aconteceu, e a revolução teve que suportar a contra-ofensiva
do regime nacionalista de Pilsudski, que chegou a tomar Kiev e parte da Ucrânia para
estender as fronteiras da Polônia. Os comunistas poloneses eram contrários à
ofensiva.
A Rússia soviética foi então obrigada a assinar o Tratado de Riga, que levou as
fronteiras polonesas para 150 km além das suas “linhas étnicas”. O “erro polonês” teve
conseqüências históricas: “A Polônia de Pilsudski saiu da guerra inesperadamente
fortalecida. Um golpe terrível foi dado à revolução polonesa. A fronteira estabelecida
pelo Tratado de Riga separou à República Soviética [a futura USSS] da Alemanha, o que
teve depois uma importância excepcional na vida dos dois países”, disse
posteriormente Trotsky.
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desejamos assim, isto nos foi imposto. E devemos permanecer em nosso posto de luta
até a chegada de nosso aliado, o proletariado internacional”.
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Sultan-Zadé; Índia: Atcharia, Sheffik; Índias Holandesas: Maring; China: Laou-Siou-
Tchéou; Coréia: Pak Djinchoun, Him Houlin. Em relação à Internacional Socialista, o
deslocamento geopolítico da Internacional para o “Leste” era evidente.
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unidos entre si e unidos ao centro do Partido, trocam experiências, ocupando-se da
agitação, propaganda e organização, adaptando-se a todos os domínios da vida social,
a todos os aspectos e a todas as categorias da massa laboriosa, devem proceder por
seu trabalho múltiplo a sua própria educação, a do Partido, da classe operária e da
massa”.
No entanto, o II Congresso teve que se opor também a uma nascente tendência ultra-
esquerdista do comunismo, que se manifestaria com mais força nos anos sucessivos:
"O Segundo Congresso da IIIª Internacional considera não adequadas as concepções
sobre as relações do partido com a classe operária e com as massas a respeito da
participação facultativa dos partidos comunistas na ação parlamentar e na ação nos
sindicatos reacionários, que têm sido amplamente refutados nas resoluções especiais
do presente Congresso, depois de ter sido defendidas sobre tudo, pelo Partido
Comunista Operário alemão (KAPD), por membros do Partido Comunista suíço, pelo
órgão do birô vienense da IC para a Europa Oriental, Kommunismus, por alguns
camaradas holandeses, por certas organizações comunistas da Inglaterra, pela
Federação Operária Socialista, etc, assim como pelas IWW dos Estados Unidos e pelos
Shop Stewards Committees da Inglaterra".
Uma discussão central foi sobre os sindicatos dirigidos pela burocracia. As repetidas
traições dos reformistas provocaram uma enorme indignação em alguns dos setores
mais avançados do proletariado e algumas organizações, como o IWW dos EUA,
passaram a defender o abandono dos sindicatos reformistas e a fundação de
sindicatos paralelos. A quase totalidade do congresso de fundação da Internacional
Sindical Vermelha (ISV) se pronunciou contra esse ponto de vista. Aparentemente
revolucionária, essa tática divisionista encobria a impotência e o medo frente às
dificuldades da luta. Decidiu-se pelo dever dos comunistas de atuarem, de maneira
geral, no interior dos sindicatos reformistas para denunciar as traições dos seus
dirigentes e ganhar a confiança dos trabalhadores.
Esta questão fez surgir no interior da ISV duas correntes opostas. A da maioria dos
sindicatos russos defendia a unidade a qualquer custo. A outra, durante um período
representada por Alexandre Losovsky, secretário-geral da ISV, defendia a ruptura
como linha geral, ainda quando as condições fossem pouco favoráveis. A resolução do
II Congresso da Internacional Comunista (“O movimento sindical, os comitês de fábrica
e as usinas”) adotou uma posição sobre o tema, reafirmando a orientação de manter o
trabalho nos sindicatos reformistas, mas afirma que “a unidade não poderá significar o
abandono do trabalho revolucionário”. E alertava: “Se uma cisão se impor como uma
necessidade absoluta, os comunistas não deverão temê-la. (...) No caso de uma cisão
se tornar inevitável, os comunistas deverão prestar atenção para que essa cisão não os
isole da massa operária”.
19
se contra a Revolução Russa, o que, nas condições revolucionárias criadas no fim da I
Guerra Mundial, lhe dava um novo valor aos olhos da burguesia européia. Uma nova
etapa da existência da II Internacional se iniciava. Em França, formou-se também uma
oposição socialista, sob a direção de Jean Longuet. Durante muito tempo, essa
oposição lutou contra a maioria, até que a minoria tornou-se maioria no Congresso de
Paris (18 de outubro de 1918).
20
reformista dos sindicatos ingleses. Na França, o governo concedeu a semana de 40
horas depois de uma onda de greves e da revolta da frota do Mar Negro, chefiada
pelos comunistas André Marty e Charles Tillon. Na Espanha, começou o chamado
“triênio bolchevique”. Na Polônia apareceram, desde novembro de 1918, conselhos
operários.
A Revolução Russa espalhou a idéia dos conselhos, no interior das fábricas ou com
funções especificamente políticas. Na Alemanha, durante a revolução que se iniciou
em fins de 1918, houve cerca de dez mil conselhos, na sua maioria influenciados pelo
Partido Socialdemocrata, cuja direção abandonou qualquer perspectiva revolucionária,
para compor-se abertamente com o capital. O movimento de ocupação de fábricas
em Turim (1919-1920) teve tamanha amplitude que em outubro de 1919 chegou a
organizar 50 mil operários, mas poucos meses depois o número já havia saltado para
150 mil. Este movimento encontrou na revista L’Ordine Nuovo sua tradução teórica. A
publicação tinha em sua direção Antonio Gramsci,[11] dentre outros. Amadeo Bordiga,
por sua vez, era animador de um jornal que levava o nome de Il Soviet.
21
administrativas, produtivas, culturais e a preparação política e militar dos
trabalhadores. A experiência conselhista refluiu a partir dos anos vinte na Europa. A
ação operária restringiu-se a servir de ponto de apoio para a agitação política dos
partidos operários: socialdemocratas, socialistas, trabalhistas e comunistas. Também a
um pequeno movimento cooperativista, pacífico e integrado na concorrência
intercapitalista.
22
nazistas, levaram-nos do hotel. Pieck conseguiu fugir, mas Rosa e Liebknecht
receberam coronhadas na cabeça e foram colocados dentro de um carro. Durante o
percurso, os dois foram baleados na cabeça, o corpo de Rosa foi atirado no Canal do
Exército Territorial (Landwehrkanal). A imprensa, incluindo o Vorwärts do SPD,
informou que Liebknecht havia sido morto ao tentar escapar e que Rosa Luxemburgo
havia sido linchada pela multidão quando saía do hotel onde estava presa. A social-
democracia havia percorrido todo o caminho em direção à contra-revolução: o
comandante Pabst admitiu ter dado as ordens de execução, mas insistiu até o fim que
não se tratou de assassinatos, mas de execuções de acordo com a lei marcial, e que os
Freikorps agiam com apoio total de Noske. Franz Mehring sobreviveu apenas algumas
semanas, e Leo Jogiches foi também assassinado em março de 1919.
23
devido ao bloqueio britânico, os EUA no entanto triplicaram seu comércio exterior de
1914 a 1917, como abastecedores não só de alimentos, mas também de manufaturas,
armas e munição aos futuros aliados (a banca americana tinha sido autorizada a
realizar empréstimos à Entente desde outubro de 1914: em 1917 a dívida com os EUA
já atingia 2,7 bilhões de dólares, cifra enorme para a época). A guerra submarina
alemã, que ameaçava os fornecedores dos EUA, decidiu a intervenção destes na
Primeira Guerra Mundial. A intervenção norte-americana foi decisiva, pois o primeiro
resultado da intervenção dos EUA foi a realização (atuando sobre as nações neutras)
do bloqueio da Alemanha, que a partir desse momento viu-se condenada à asfixia
econômica.
A vitória da Entente passou então a ser um fato previsível, mas também o era a
transformação dos EUA em principal potência do planeta: entre 1914 e 1918, o PIB dos
EUA aumentou 15%, a produção mineira 30%, a produção industrial em geral 35%.
Para atingir esses resultados, os EUA perderam “só” 50 mil soldados (28 vezes menos
que a França). Para Fritz Sternberg a intervenção americana na guerra foi “uma
empresa colonial em grande escala levada adiante em território estrangeiro”. A guerra
forneceu também o álibi que as classes dominantes ianques esperavam para “limpar”
o movimento operário, com dois alvos fundamentais: o cada vez mais influente Partido
Socialista e o IWW, que foram objeto de severa repressão por parte da “democracia
americana”. O chauvinismo foi o grande pretexto: um senador democrata chamou os
IWW de “Imperial Wilhelm’s Warriors” (“Guerreiros do Imperador Guilherme [da
Alemanha]”). Leis “contra a espionagem” foram aprovadas e usadas em larga escala
contra os ativistas operários estrangeiros. Os IWW, porém, não organizaram
movimentos contra a guerra: a green corn rebellion de Oklahoma (em agosto de
1917), por exemplo, não foi obra deles. Em setembro, no entanto, 165 dirigentes dos
IWW foram inculpados por “conspiração para a insubordinação militar”: em 1918, 15
deles foram condenados a 20 anos de prisão e 30 mil dólares de multa (Bill Haywood,
entre outros), 33 a dez anos, 35 a cinco anos.
24
“wilsonismo” marcou o início de uma aliança estratégica entre os dirigentes políticos
do establishment norte-americano, apoiados pelo sindicalismo conservador (em
especial a AFL de Samuel Gompers) e a socialdemocracia européia. O “wilsonismo” se
transformou assim, como notou Arno Mayer, na grande arma “democrática” para
evitar a expansão da revolução soviética, a primeira experiência de utilização de uma
política “democratizante” a escala mundial para conter a “revolução comunista”.[16]
A Liga das Nações foi criada em 1922 sob o influxo da politica wilsoniana para resolver
de vez a questão nacional na Europa (que teria sido, para Wilson e o establishment
norte-americano, a causa da I Guerra Mundial), no mesmo ano em que, como
conseqüência da Revolução de Outubro, fora criada a URSS e, na verdade, como uma
resposta ao nascimento dessa entidade “não nacional”, cujo próprio nome (União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas) era o projeto da revolução socialista mundial, ou seja,
da autonomia e auto-determinação de todos os povos no marco da república
internacional dos conselhos operários. As frases acerca da “paz e liberdade universais”
com que se cobriu a Liga das Nações não enganaram Lênin, que definiu a neo-nata
entidade como um “covil de bandidos”: “A guerra imperialista de 1914-1918 colocou
em evidência diante de todas as nações e todas as classes oprimidas do mundo a
falsidade dos fraseados democráticos e burgueses - o tratado de Versalhes, ditado
pelas famosas democracias ocidentais, sancionou, em relação ás nações fracas, as
violências mais covardes e mais cínicas... A Liga das Nações e a política da Entente em
seu conjunto apenas confirmam este fato e põem em andamento a ação
revolucionária do proletariado dos países avançados e das massas laboriosas dos
países coloniais ou dominados, levando assim à bancarrota as ilusões nacionais da
pequena burguesia quanto à possibilidade de uma vizinhança pacífica, de uma
igualdade verdadeira das nações sob o regime capitalista”.
Na Espanha, a CNT obteve aumentos salariais e a jornada de 8 horas. Mas a greve geral
impulsionada pelos anarquistas fracassou: o governo retomou a iniciativa e impôs a lei
marcial. Na Polônia, a repressão contra a insurgência operária, em Lublin, e contra a
efêmera “república vermelha de Dombrowa” no sul do país, concluiu numa feroz
repressão de um exército reequipado com ajuda externa. Em toda a Europa, a finais de
1919, a revolução parecia contida, às vezes ao custo de uma inédita repressão social.
Confiante, em 1920, a extrema-direita alemã, chefiada por Kapp e apoiada nos Corpos
Francos (Freikorps), deflagrou um golpe de estado, derrotado pela greve geral
operária: os “conselhos operários” reapareceram em diversas regiões alemãs. O USPD
decidiu então aderir à Internacional Comunista: nascia um partido comunista (KPD) de
massas na Alemanha que, em 1921, achou-se forte o suficiente como para lançar uma
insurreição própria (a “ação de março”), cujo fracasso não impediu o início de uma
espécie de guerrilha urbana. O KPD pagou com cisões o fracasso que presidiu seu
nascimento. Em agosto-setembro de 1920, também, se produziu a greve com
ocupações de fábrica de Torino, na Itália, inspirada pelos comunistas de L’Ordine
Nuovo, com Gramsci, Togliatti, Tasca e Bordiga: o governo Giolitti só conteve o
movimento aceitando o “controle operário” e aliando-se aos dirigentes sindicais
moderados. Para a Internacional Comunista, “o germanófilo Giolitti se apoderou da
direção do Estado italiano na qualidade de chefe comum dos intervencionistas, dos
25
neutralistas, dos clericalistas, dos mazzinistas; ele está pronto para navegar nas
questões secundárias da política interna e externa para repelir com força cada vez
maior a ofensiva dos proletários revolucionários nas pequenas e nas grandes cidades.
O governo de Giolitti se considera, com razão, como o último trunfo da burguesia
italiana”. Na verdade, o último trunfo se encontrava nesse momento atarefado com a
organização de um partido chamado de “fascista”...
Por outro lado, a confusão nos primeiros passos da Terceira Internacional, junto com a
movimentação dos antigos reformistas para reviver a Segunda Internacional, deram
lugar a tentativas políticas situadas entre ambas. Segundo Albert Lindemann, a rápida
admissão do Partido Socialista Italiano (com a ala reformista de Turati incluída)[18] na
Terceira Internacional, em 1919, contribuiu para a confusão e a incerteza sobre a nova
Internacional. As coisas ficaram mais confusas com a atividade, no verão de 1919, de
outro importante partido do movimento de Zimmerwald, o Partido Socialista suíço,
“que ofereceu à USPD e à SFIO (Partido Socialista francês) uma via de saída para suas
26
incertezas sobre a Komintern”. No seu congresso de agosto de 1919 em Basiléa, os
socialistas suíços votaram com ampla maioria sua saída da Segunda lnternacional, e
sua adesão à Terceira Internacional. Mas a corrente interna de Graber-Huggler notou
que a “Internacional de Moscou” era uma organização demasiadamente “oriental”
para ser uma verdadeira Internacional. Foi adotada a decisão de submeter a filiação à
Komintern a um referendum geral do partido, que rejeitou por maioria a filiação à
Internacional Comunista. Os socialistas suíços se encontravam na estranha situação de
terem votado sua auto-exclusão de ambas Internacionais (a II e a III). Com isso,
forneceram as bases políticas da “Internacional II ½”.
27
Os esforços pela reunificação feitos pela Internacional de Viena conduziram à
Conferência de Berlim dos Comitês Executivos das três Internacionais, celebrada de 2 a
5 de abril de 1922. Mas o sucesso esperado da unificação não aconteceu.
A ruptura era definitiva: a Internacional de Viena não viu outra saída que aderir
novamente à II Internacional. A fussão das Internacionais “socialistas” (isto é, não
comunistas) teve lugar no Congresso de Hamburgo, de 21 a 25 de maio de 1923. A
“nova” Internacional recebeu o nome de Internacional Operária e Socialista; seu
secretario geral foi Friedrich Adler, até 1939. A Internacional Operária e Socialista
reivindicou ser a continuidade da II Internacional, declarando-se adversária tanto da
Liga das Nações como da Internacional Comunista.
Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a rebelião árabe, incitada pelos britânicos
contra o Império Otomano, deixou de dirigir-se aos turcos, para apontar contra os
novos colonizadores. Em todos os territórios situados sob o mandato britânico ou
francês, a repressão foi brutal. A resposta palestina aos colonizadores sionistas, pelo
contrario, foi tolerante: não havia nenhum ódio organizado contra os judeus, ninguém
organizava massacres como os do czar ou dos anti-semitas polacos. O objetivo sionista
era minoritário entre as massas judias da Europa que, em grande parte, se
encontravam dentro de organizações socialistas, sem falar nas perspectivas de
emancipação e na enorme influência que sobre as massas judias exerceu a Revolução
28
de Outubro, durante seus primeiros anos. Durante décadas o sionismo foi um
movimento de intelectuais askenazes (judeus da Europa oriental) laicos, sem base
popular. A Declaração Balfour, de 1917, era originalmente um compromisso que a Grã-
Bretanha assumia com a Federação Sionista. Mas ela recebeu o aval das potências
aliadas e foi incorporada no Mandato para a Palestina, aprovado pela Liga das Nações
em 1922. Graças ao Mandato, o patrocínio do projeto sionista, que era um elemento
da política britânica, tornou-se política oficial da Liga das Nações, que deu ao projeto
sionista uma caução internacional e forneceu-lhe, também, os meios para a sua
realização. Do seu lado, as organizações sionistas aproveitaram a infra-estrutura
administrativa e econômica que o Mandato pôs à sua disposição para acelerar a
realização do projeto de criação do Estado judeu na Palestina.[21]
29
partido do cinismo burguês e do fanatismo chauvinista, declara que se retira da II
Internacional”.
30
chegada ao governo dos fascistas, estes mantiveram o parlamento, mas em junho de
1924 assassinaram o deputado socialista Giacomo Matteotti. Os oposicionistas a
Mussolini abandonaram o Parlamento, e se constituíram corno o «Bloco do Aventino».
Só então chegaram a conclusão de que os discursos parlamentares não bastavam para
impedir que o fascismo destruísse toda democracia e instaurasse uma ditadura
totalitária. Convencidos, no último momento, de que não se podia combater o
fascismo pela docilidade, os socialdemocratas chamaram os operários para uma greve
geral, mas esta foi um fiasco. No balanço de Trotsky, “os reformistas tinham molhado
por tanto tempo a pólvora, temendo que explodisse, que quando enfim lhe
aproximaram o fósforo com mão trêmula, a pólvora não explodiu”.
Mas foi na Alemanha de 1923 onde o destino da extensão da revolução russa se jogou.
Os governos belga e francês ocuparam a região mineira do Rühr (devido ao não-
pagamento das reparações de guerra), a mais rica do país em recursos naturais, e
humilharam os vencidos de 1914-18: o governo alemão proclamou a “resistência
passiva”, e a direita lançou ações de guerrilha (por exemplo, a operação suicida do
jovem nacionalista Schlageter). Surgiu a hiper-inflação, a primeira do gênero na
história: 162.500 % em poucos meses. Isto, combinado com a crise do capitalismo
alemão, levou ao colapso monetário do país. A cotação do marco era de um bilhão
para cada libra. Uma crise revolucionária amadurecia na Alemanha. Com a classe
média reduzida à quase mendicância, e os operários empobrecidos, houve o
crescimento simultâneo do PC (KPD), dos conselhos de fábrica e do... nazismo.
31
aniversário da revolução russa. As “centúrias proletárias” se armaram, a insurreição foi
planejada para partir dos governos socialistas - comunistas de Saxônia e Turíngia.
Lênin definiu essas políticas como uma tendência pequeno-burguesa, que tomava seus
desejos pela realidade, e renunciava à paciente conquista das massas. Os comunistas
deveriam aproveitar todas as oportunidades, sindicais ou eleitorais, para estender a
sua influência. Alguns meses depois, defendeu a entrada dos comunistas ingleses no
Partido Trabalhista (Labour Party).
32
comunistas, nem estes podiam renunciar «ao trabalho próprio e independente de
educação comunista, de organização e mobilização das massas».
Lênin e Trotsky formaram um bloco, em favor dessa política, que obteve uma escassa
maioria contra os “novos esquerdistas” da Internacional: o húngaro Béla Kún, o
alemão Thaelmann, o italiano Terracini. O Congresso apoiou finalmente os líderes
russos, admitindo una “estabilização relativa do capitalismo”, que tornava necessária a
conquista das massas. Em dezembro desse ano, a Executiva da IC adotava a política da
“Frente Única Operária”, que colocava como principal tarefa dos jovens partidos
comunistas a luta pela unidade de ação do operariado.
33
ingressavam com força no movimento revolucionário mundial. Os países asiáticos, com
a China à frente, os latino-americanos com a revolução mexicana, entravam na luta
pela democracia que os países europeus e os Estados Unidos tinham conquistado nos
séculos anteriores. A IC elaborou uma tática de Frente Única específica para os países
atrasados: “Nos países ocidentais foi lançada a palavra de ordem de frente única
proletária; nas colônias orientais é indispensável agora lançar a palavra de ordem de
Frente Única Anti-imperialista... Da mesma forma que a palavra de ordem de frente
única proletária contribui no ocidente para desmascarar a traição dos social-
democratas aos interesses do proletariado, a palavra de ordem de frente única anti-
imperialista contribuirá para desmascarar as vacilações e incertezas dos diversos
grupos do nacionalismo burguês”.
A luta anti-imperialista não adiava nem atenuava a luta pela revolução operária: “A
classe operária deve entender firmemente que só a extensão e intensificação da luta
contra o jugo imperialista das metrópoles pode lhe dar um papel dirigente na
revolução, e que só a organização econômica e política e a educação política da classe
operária e dos elementos semi-proletários pode aumentar a amplitude revolucionária
contra o imperialismo”.[24]
34
seus próprios pés. Mas, na Alemanha, 1923 foi o ano da “hiper-inflação”, que lançou às
massas numa situação desesperante. Nesse país, e na Bulgária, os partidos comunistas
tinham tomado claramente (e, no caso da Bulgária, completamente) a dianteira, com
relação aos socialdemocratas, sobretudo entre os setores mais pobres da população.
No entanto, o PC sofreu duas penosas derrotas na Bulgária: primeiro, por
considerações doutrinárias fatalistas, deixou escapar um momento excepcionalmente
favorável a uma ação revolucionária (o levantamento dos camponeses depois do golpe
de força do governo de Çankof, em junho de 1923); a seguir, esforçando-se por reparar
o erro, lançou-se na insurreição de setembro sem ter preparado as suas premissas
políticas e organizativas.
A revolução búlgara devia ter sido uma introdução à revolução alemã. Mas essa
“introdução” desastrada teve, como vimos, um desenvolvimento ainda pior na própria
Alemanha. A burguesia alemã encontrou, então, um novo eixo de estabilidade: o
abandono da “resistência passiva” (à França), a prisão dos comunistas e também dos
nazistas. A derrota, ou pelo menos o adiamento sine die da revolução alemã,
condenou à revolução russa a um período indefinido de isolamento: a oposição de
Trotsky na Rússia soviética, já organizada, seria, no entanto, condenada na XII
Conferência do PC da URSS, em janeiro de 1924.[25] Trotsky, atento aos novos
desenvolvimentos, escreveu em 1924: “O programa americano de tutela do mundo
inteiro não é um programa pacifista, mas grávido de guerras e crises. Os EUA afirmam
poder fabricar barcos de guerra como pãezinhos: eis a perspectiva da próxima guerra
mundial, que terá por teatro o Atlântico tanto quanto o Pacífico. Os conflitos militares
são inevitáveis. A ‘era americana’ que parece abrir-se não é mais do que a preparação
de novas guerras monstruosas”.
Embora clarividente, Trotsky era, no entanto, a essa altura, uma voz isolada. O V
Congresso Mundial da Internacional Comunista foi celebrado em Moscou entre junho
e julho de 1924, marcado pelo fracasso da revolução na Alemanha, e pela ascensão de
Stalin ao poder na União Soviética. Expondo a nova teoria do "socialismo em um só
país",[26] Stalin afirmou que “o proletariado pode e deve construir a sociedade
socialista em um país,” dando a garantia de que isso constituía a “teoria leninista de
revolução proletária”. Essa revisão abrupta e grosseira de perspectiva refletia o
crescimento do peso social da burocracia e seu despertar consciente em relação aos
seus próprios e específicos interesses sociais, os quais a burocracia viu como
associados com o desenvolvimento firme de uma economia nacional.
35
passado, e talvez no futuro. Milhões de trabalhadores deixaram suas vidas nas ilusões
nacionalistas e bélicas, nos campos de batalha da guerra mundial, nas mobilizações
revolucionárias, na repressão contra-revolucionária. Foi posta à prova a experiência
revolucionária acumulada em dois séculos. A Internacional Comunista, proposta já em
1914, nascida de um combate feroz no interior da Internacional Socialista, e começada
a ser transformada em fator conservador já em 1924, foi a máxima expressão histórica
da convergência entre o programa e a organização revolucionária, e a mobilização de
milhões de trabalhadores industriais e agrários, já atingida. A história dessa década
decisiva continua sendo, até o presente, a maior fonte de lições e conclusões acerca da
possibilidade de enfrentamento contra o mundo do capital, e da vitória revolucionária
nesse conflito da classe trabalhadora.
Notas
[1] Karl Liebknecht (1871-1919) foi um político e dirigente socialista alemão, filho de Wilhelm
Liebknecht, companheiro de lutas de Marx e Engels. Karl Liebknecht estudou direito nas Universidades
de Leipzig e Berlim, concluindo seu doutorado na Universidade de Würzburg, em 1897. Abriu um
escritório de advocacia e passou a defender causas trabalhistas. Em 1900 aderiu ao Partido
Socialdemocrata da Alemanha. Passou a ter intensa militância política e fundou em 1915, juntamente
com Rosa Luxemburgo e outros, a Liga Spartacus, sendo expulso do SPD em 1916. Karl Liebknecht,
juntamente com a Liga Spartacus, acabou fundando o Partido Comunista da Alemanha. Em 15 de janeiro
de 1919, após o governo socialdemocrata alemão ter colocado as cabeças dos “extremistas da
esquerda” a prêmio, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram assassinados em Berlim. A 13 de janeiro
de 2008, uma passeata com 70 mil pessoas dirigiu-se ao cemitério de Friedrichsfelde, em Berlim,
somando-se a outras milhares de pessoas que foram ao cemitério durante todo o dia para homenagear
Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
[2] Numa resolução posterior da Internacional Comunista, lembrou-se que “no começo da guerra
imperialista de 1914, os partidos socialistas de todos os países, sustentando suas respectivas burguesias,
não esqueceram de justificar sua conduta invocando a vontade da classe operária. Fazendo isso, eles
esqueceram que a tarefa do partido proletário deveria ser reagir contra a mentalidade operária geral e
defender, apesar disso, os interesses históricos do proletariado”.
[3] Lênin, Vladímir Ilitch Uliânov (1870 - 1924) foi o principal revolucionário russo, líder da Revolução de
Outubro de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do
Povo da Rússia Soviética. Foi, para o historiador Eric Hobsbawm, o personagem histórico mais influente
do século XX. O seu codinome de Lênin provém de seu exílio para uma terra das margens do Rio Lena.
Seu pai Ilya Uliánov foi um funcionário liberal, apolítico. Era inspector das escolas da província de
Simbirsk, e um homem extremamente religioso, que apoiava as reformas de Alexandre II e que
aconselhava os jovens a não cairem no radicalismo. Maria Alexandrovna, a mãe de Lênin, era a filha de
Alexánder Blank, um judeu converso, que se fez médico e dono de terras em Kazan. Alexánder era filho
de Moiche Blank, um comerciante judeu de Volhinia, que casou com uma sueca chamada Anna Ostedt.
O irmão mais velho de Lênin, Alexandre Uliánov, ainda com 21 anos, um estudante em São Petersburgo,
envolveu-se no grupo terrorista Pervomartovtsi e foi um dos participantes numa das muitas tentativas
de assassinar o Czar Alexandre III da Rússia. Foi condenado à morte em 1887, e executado. Isto teria
grandes consequências para o irmão, muito afetado por essa morte. Em 1887, Lênin, com 17 anos de
idade, foi estudar direito em Kazan, onde tomou contacto com um grupo de revolucionários social
democratas. Ainda nesse ano, foi preso, juntamente com outros, numa manifestação de estudantes
movida por reivindicações de cunho estritamente acadêmico. Como consequência, foi-lhe proibida a
continuação dos estudos. Em 1890 foi readmitido na Universidade, porém apenas como estudante
"externo" autorizado a prestar exames anuais, mas não a freqüentar a universidade. Foi nestes anos que
Lênin se tornou um marxista. Sua primeira grande paixão intelectual-revolucionária, no entanto, foi
Tchernichevski e em particular sua obra Que Fazer? Em Lênin, nos seus primeiros anos de marxista,
existia a convicção de que o desenvolvimento capitalista da Rússia seria uma pré-condição necessária do
36
socialismo, na medida em que apenas a modernização industrial da Rússia, o desenvolvimento da
disciplina associada à generalização do trabalho industrial assalariado, seria capaz de elevar a
consciência política do povo russo a níveis tais que tornassem possível a derrubada da autocracia
czarista e a constituição de uma república democrática - contrariamente às teses dos populistas, que
consideravam que o socialismo russo se desenvolveria nos quadros da comuna camponesa tradicional.
Esta associação da modernidade ao capitalismo industrial, no entanto, já se encontrava nas obras do
fundador do marxismo russo, Plekhanov, ao qual ele se associaria no seu primeiro exílio, no início do
século XX, como redator do jornal da emigração marxista (socialdemocrata) russa no exílio, o Iskra. Líder
da socialdemocracia russa (POSDR) e da sua fração bolchevique, o restante da sua vida, como líder da
Revolução de Outubro, até sua morte em janeiro de 1924, já pertence à história.
[4] Otto Bauer (1882-1938) foi um dos dirigentes da social-democracía austríaca e da II Internacional,
um dos ideólogos do “austro-marxismo”, autor da teoria da «autonomia cultural nacional»; em 1918-
1919, foi ministro dos Negócios Estrangeiros da República da Áustria. Seu livro A Questão das
Nacionalidades e a Socialdemocracia, de 1907, foi um dos textos mais influentes no debate sobre a
questão nacional desenvolvido na Segunda Internacional. Definia a nação como o produto nunca
consumado de um processo histórico constantemente em curso, rejeitando a fetichização do “fato
nacional”, e os mitos reacionários da “nação eterna”. O seu programa de autonomia nacional e cultural
levava, porém, a um beco sem saída sobre o direito democrático de cada nação a se separar e constituir
um Estado independente.
[5] Karl Legien (1861-1920), de origem operária, foi líder sindical e socialdemocrata na Alemanha, chefe
histórico da “direita” do SPD, chegando a se alinhar com os revisionistas na crise interna do partido na
década de 1890. Entre 1893 e 1920, de modo quase ininterrupto, foi deputado no Reichstag. Símbolo
internacional da ala social-patriota da Segunda Internacional na guerra de 1914-1918.
[6] Os socialistas “amplos” da Bulgária (obsfedeletsi) eram uma corrente na socialdemocracia desse país.
Em 1903 passaram a editar a revista Obshte Delo (Causa Comum). Com a cisão da socialdemocracia
búlgara em 1903, no seu X Congresso, formaram o “partido dos socialistas amplos”. Social-patriotas em
1914, a eles se opunham os tesnjaki (literalmente “estreitos”, mas seria melhor traduzir para “estritos”
ou “rigorosos”), que conquistaram ampla maioria no movimento operário búlgaro, e que seriam, depois
da Revolução de Outubro, a base do Partido Comunista da Bulgária.
[7] Também conhecida como Terceira Internacional, assim como por sua abreviação em russo,
Komintern (Коминтерн, abreviatura de Коммунистичекий Интернационал, "Internacional Comunista")
ou Comintern (abreviatura do inglês Communist International).
[8] Os órgãos da Internacional Comunista, segundo seus primeiros estatutos, eram: o Congresso
Mundial, órgão que detinha a autoridade máxima da Internacional Comunista, que devia reunir-se uma
vez ao ano e tinha a exclusividade para a modificação do Programa e os Estatutos; o Comitê Executivo,
órgão que tinha a autoridade máxima nos períodos entre congressos, e que era eleito pelo Congresso
Mundial (sua sede era decidida em cada congresso). Mais tarde se criaria um órgão adicional, o
Presidium, que tinha a máxima autoridade entre as plenárias do comitê executivo. Sob a tutela da
Internacional Comunista, criaram-se uma série de organizações internacionais: a Internacional Sindical
Vermelha (Profintern); a Internacional da Juventude Comunista; o Socorro Vermelho Internacional
(MOPR); a Internacional Camponesa (Krestintern); a Internacional Desportiva Vermelha (Sportintern).
[9] Pelas “21 condições”: 1) toda propaganda e agitação cotidiana devem ter caráter efetivamente
comunista e dirigida por comunistas; 2) toda organização desejosa de aderir à IC deve afastar de suas
posições os dirigentes comprometidos com o reformismo; 3) em quase todos os países da Europa e da
América, a luta de classes se mantém no período de guerra civil. Os comunistas não podem, nessas
condições, se fiar na legalidade burguesa. É de seu dever criar, em todo lugar, paralelamente à
organização legal, um organismo clandestino; 4) o dever de propagar as idéias comunistas implica a
necessidade absoluta de conduzir uma propaganda e uma agitação sistemática e perseverante entre as
tropas; 5) uma agitação racional e sistemática no campo é necessária; 6) todo partido desejoso de
pertencer à IC tem por dever não só o de denunciar o social-patriotismo como o seu social-pacifismo,
hipócrita e falso; 7) todos os partidos desejosos de pertencer à IC devem romper completamente com o
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reformismo e a política do centro. A IC exige, imperativamente e sem discussão, essa ruptura, que deve
ser feita no mais breve de tempo; 8) nas colônias, os partidos devem ter uma linha de conduta
particularmente clara e nítida; 9) todo partido desejoso de pertencer à IC deve realizar uma propaganda
perseverante e sistemática nos sindicatos, cooperativas e outras organizações das massas operárias; 10)
todo partido pertencente à IC tem o dever de combater com energia e tenacidade a Internacional do
sindicatos amarelos de Amsterdã; 11) todos os partidos desejosos de pertencer à IC devem rever a
composição de suas frações parlamentares; 12) os partidos pertencentes à IC devem ser construídos
com base no princípio do centralismo democrático; 13) os partidos comunistas, onde são legais, devem
ser depurados periodicamente para afastar os elementos pequeno-burgueses; 14) os partidos desejosos
de entrar na IC devem sustentar, sem reservas, todas as repúblicas soviéticas nas suas lutas com a
contra-revolução; os partidos que ainda conservam os antigos programas socialdemocratas têm o dever
de revê-los e, sem demora, elaborar um novo programa comunista adaptado às condições especiais de
seu país e no espírito da IC; 16) todas as decisões do Congresso da IC e de seu Comitê Executivo são
obrigatórias para todos os partidos filiados à IC; 17) todos os partidos aderentes à IC devem modificar o
nome e se intitular “Partido Comunista”. A mudança não é simples formalidade e, sim, de uma
importância política considerável, para distingui-los dos partidos socialdemocratas ou socialistas, que
venderam a bandeira da classe operária; 18) todos os órgãos dirigentes e da imprensa do partido são
disciplinados ao Comitê Executivo da IC; 19) todos os partidos pertencentes à IC são obrigados a se
reunir, quatro meses após o II congresso da IC, para opinar sobre essas 21 condições; 20) os partidos
que quiserem aderir, mas que não mudaram radicalmente a sua antiga tática, devem preliminarmente
cuidar para que 2/3 dos membros de seu comitê central e das instituições centrais sejam compostos de
camaradas que, antes do II Congresso, tenham se pronunciado pela adesão do partido à IC; 21) os
aderentes partidários que rejeitam as condições e as teses da IC devem ser excluídos do partido. O
mesmo deve se dar com os delegados ao Congresso Extraordinário.
[10] Lembremos que a terceira das “21 Condições” era a exigência de que os partidos comunistas
criassem “um aparato paralelo e ilegal que, no momento decisivo, deveria realizar sua tarefa pelo
partido e assistir a revolução de todas as maneiras possíveis”. A décima quarta condição previa: “O
partido interessado em filiar-se à Internacional Comunista será obrigado a prestar toda assistência
possível às repúblicas soviéticas em sua luta contra as forças contra-revolucionárias. Os partidos
comunistas devem implementar uma propaganda precisa e definida, visando induzir os trabalhadores a
se recusarem a transportar qualquer tipo de equipamento militar destinado à luta contra as repúblicas
soviéticas e devem também, por meios legais ou ilegais, fazer propaganda entre as tropas enviadas
contra os trabalhadores, repúblicas, etc”.
[11] Antonio Gramsci (1891-1937) socialista, e depois comunista, italiano, era nascido na ilha
mediterrânea da Sardenha, quarto dos sete filhos de Francesco Gramsci.Tendo sido um estudante
brilhante, Gramsci venceu um prêmio que lhe permitiu estudar literatura na Universidade de Turim, que
passava por um rápido processo de industrialização, com as fábricas da Fiat e Lancia recrutando
trabalhadores de várias regiões pobres da Itália. Os sindicatos se estabeleceram, Gramsci envolveu-se
diretamente com estes acontecimentos, frequentando círculos socialistas bem como organizando
emigrantes sardos, e filiando-se ao Partido Socialista Italiano. Tornou-se um notável jornalista, no Avanti
(órgão oficial do Partido Socialista). Depois da I Guerra Mundial fundou, juntamente com Palmiro
Togliatti, em 1919, L'Ordine Nuovo, e contribuiu para La Città Futura. O grupo que se reuniu em torno
de L'Ordine Nuovo aliou-se com Amedeo Bordiga e a fracção comunista do Partido Socialista, sendo uma
das bases da organização do Partido Comunista Italiano (PCI) em 21 de janeiro de 1921. Gramsci viria a
ser um dos seus líderes desde sua fundação, subordinado a Bordiga até que este perdeu a liderança em
1924. Em 1922 Gramsci foi à Rússia representando o partido, e lá conheceu sua esposa, Giulia Schucht,
uma jovem violinista com a qual teve dois filhos. A sua estada na Rússia coincidiu com o advento do
fascismo na Itália; Gramsci retornou propondo a política da frente única operária, adotada pela
Internacional Comunista, em cuja direção Gramsci participara. Em 1924, Gramsci foi eleito deputado
pelo Veneto, dirigindo o jornal oficial do partido, L'Unità, e vivendo em Roma enquanto sua família
permanecia em Moscou. A proposta de Frente Única encontrou resistências entre os comunistas,
temerosos de que ela colocasse o PCI numa posição subordinada ao PSI, do qual havia-se desligado. As
teses de Gramsci, no entanto, foram adotadas pelo PCI no congresso que o partido realizou em 1926.
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[12] Friedrich Ebert (1871-1925), um dos principais dirigentes socialdemocartas da Alemanha, se
envolveu em política, ainda jovem, como sindicalista, e se tornou Secretário Geral do Partido Social
Democrata (SPD) em 1905. Depois da I Guerra Mundial e da queda do Káiser, ocupou os cargos de
Reichskanzler (Chanceler do Império Alemão) de 9 de novembro de 1918 até 11 de fevereiro de 1919, e
de Reichspräsident (Presidente da Alemanha) de fevereiro de 1919 até fevereiro de 1925. Foi um dos
líderes da chamada República de Weimar. No dia 4 de março de 1925, o Partido Social Democrata da
Alemanha criou a Fundação Friedrich Ebert, batizada com o nome do presidente alemão falecido poucos
dias antes. Seu objetivo seria “promover a consciência democrática e o entendimento entre os povos”.
Desde 2000, sua sede está em Berlim. A fundação conta com parceiros em 76 países, e é uma grande
plataforma de cooptação política. O recente chefe de governo alemão, o socialdemocrata Gerhard
Schröder, orgulha-se de ter sido bolsista da Fundação Friedrich Ebert.
[13] Gustav Noske (1868-1946) foi um dos dirigentes do Partido Socialdemocrata da Alemanha, social-
chauvinista durante a Primeira Guerra Mundial. Entre fevereiro de 1919 e março de 1920 foi ministro da
Guerra. Organizador do assassinato dos fundadores do Partido Comunista da Alemanha, Karl Liebknecht
e Rosa Luxemburg, em janeiro de 1919, e um dos principais organizadores do terror branco em janeiro-
março de 1919, chamado a “Era de Noske”. Num jornal do SPD da época, lia-se: “faz-se o seguinte apelo:
«Cidadão, trabalhador! A pátria está à beira do caos. Salvemo-la! A ameaça não vem do exterior mas do
interior, do grupo do Spartacus! Mata o seu dirigente! Mata Liebknecht!»”. A 13 de janeiro de 1919
escrevia Artur Zickler no jornal do SPD, Vorwärts: «Centenas de mortos numa fila... mas Karl, Rosa e
Radek não se encontram lá». Dois dias depois, a 15 de janeiro, os dois comunistas eram assassinados
por soldados comandados por Waldemar Pabst. Pabst, falecido em 1970, que se tornou ideólogo do
nazismo e negociante de armas com Formosa e a Espanha franquista, escreveu nas suas memórias: «É
evidente que para me proteger a mim e aos meus soldados nunca poderia ter conduzido a ação sem o
consentimento de Noske. Só muito poucas pessoas se aperceberam porque é que nunca fui interrogado
nem acusado. Eu retribui o comportamento do SPD a meu respeito como um cavalheiro, com cinqüenta
anos de silêncio». Noske, antes de morrer em 1946, ainda escreveu: «naquela altura limpei e varri com a
rapidez que me foi possível». A 25 de janeiro de 1919 foi enterrado no cemitério Friederichsfelde,
também conhecido como “cemitério socialista de Berlim”, Karl Liebknecht, juntamente com mais 31
revolucionários assassinados pela soldadesca do ministro social-democrata. O túmulo destinado a Rosa
Luxemburgo ficou aberto porque as fortas policiais tinham feito desaparecer o seu corpo. Nos anos
seguintes muitas outras vítimas da repressão foram ali sepultadas, como Leo Jogiches, também
fundador do KPD, e mais 42 vítimas do terror policial de 1919-1920.
[15] Eugene Debs nascera em Terre Haute, Índiana. Foi cinco vezes candidato a presidente dos EUA pelo
Socialist Party of America (SPA), chegando a obter 900 mil votos, 6% do total, em 1912. Em um discurso
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de campanha, disse: "As long as there is a lower class, I am in it. As long as there is a criminal element, I
am of it. As long as there is a soul in prison, I am not free". Em outro discurso de campanha, deixou
claro: “"É melhor votar pelo que quer e não conseguir do que votar pelo que não quer e conseguir. A
terra é para todo o mundo. Essa é a exigência. A propriedade e o controle coletivo da indústria e sua
gestão democrática para o interesse de todo o povo. Essa é a exigência. O fim da luta de classes e da
dominação de classe, do amo e do escravo, da pobreza e da vergonha - o nascimento da liberdade, o
amanhecer da fraternidade, essa é a exigência". Num discurso durante Primeira Guerra Mundial, que o
levou à prisão, disse: "A classe dos amos sempre começou as guerras. A classe trabalhadora sempre
lutou nas guerras". Debs morreu em 1926.
[16] A Internacional Comunista, nas Teses sobre a Questão Nacional e Colonial, denunciou que “a
posição abstrata e formal da questão da igualdade - a igualdade das nacionalidades inclui-se aí - é
própria da democracia burguesa sob a forma da igualdade das pessoas em geral; a democracia burguesa
proclama a igualdade formal ou jurídica do proletário, do explorador e do explorado, induzindo assim as
classes oprimidas ao mais profundo erro. A idéia da igualdade, que não é outra coisa que o reflexo das
relações criadas pela produção para o comércio, torna-se, nas mãos da burguesia, uma arma contra a
abolição das classes em nome da igualdade absoluta das pessoas humanas. Quanto à significação
verdadeira da reivindicação igualitária, ela reside apenas na vontade de abolir as classes”.
[17] José Fernando Penelón (1890-1963), argentino, foi trabalhador tipográfico sendo já membro da
direção da Federação Grâfica aos 21 anos. Militante sindical, fundou o “Comitê de Propaganda Gremial’,
que ajudou na criação de 18 sindicatos. Membro do Partido Socialista, e de sua ala esquerda (que
combatia a direção de Juan B. Justo), se opôs à política de “união sagrada” da Internacional durante a
primeira Guerra Mundial, e chefiou o núcleo que impulsionou a criação do Partido Socialista
Internacional, base do futuro Partido Comunista Argentino, em 1917-1918, junto a outro dirigente da
esquerda socialista, Juan Ferlini. Em 1919 dirigiu a greve tipográfica (Buenos Aires) de seis meses,
conquistando quase todas as reivindicações propostas. Foi representante gráfico na FORA (Federação
Operária da Região Argentina), sendo eleito para a vice-presidência dessa central sindical anarco-
sindicalista. Também em 1919 teve um lugar destacado durante os acontecimentos da Semana Trágica,
greve insurrecional que comoveu Buenos Aires, sendo quase assassinado durante a repressão policial e
os pogroms direitistas que lhe deram fim, através de um verdadeiro massacre. Foi um dos primeiros
dirigentes do Partido Comunista da Argentina, junto com o chileno Recabarren, tendo viajado duas
vezes à URSS, onde chegou a ser o primeiro latino-americano membro da Executiva (EKKI) da
Internacional Comunista. Foi designado, por Lênin, Coronel de Honra do Exército Vermelho, sendo o
primeiro secretário da Internacional Comunista para América do Sul. Foi sendo marginalizado no interior
do PCA, na década de 1920 pelo núcleo de Vittorio Codovilla, eleito para o Comité Central em 1921, que,
junto com Rodolfo Ghioldi, constituiria a ala do PCA que se alinharia com Stalin e a GPU. Em 1928
abandonou o PCA e fundou o PCRA (Partido Comunista da Região Argentina), de breve existência e
orientação mais anarco-sindicalista que marxista, mas onde germinaria o primeiro núcleo trotskista da
Argentina e da América Latina. Na década de 1930 fundou o partido Concentración Obrera, com um
programa sindicalista, representando o partido quase de modo ininterrupto, durante 30 anos, no
Concejo Deliberante de la Capital Federal (Buenos Aires). Interveio em problemas como a habitação, a
infraestrutura dos bairros operários, e na defesa dos trabalhadores em conflito sindical, até o final da
sua vida.
[18] Filipo Turati (1857-1932) foi um dos principais dirigentes do socialismo italiano (PSI). Reformista,
levou adiante uma política de colaboração de classes. Sua inspiração teórica não era o marxismo, mas o
positivismo, doutrina que tinha destaque no movimento operário internacional, sobretudo no âmbito da
socialdemocracia. Segundo Michael Löwy, na época da Segunda Internacional, "pode-se observar a
presença ideológica das diferentes variantes do positivismo, não somente nas correntes chamadas
revisionistas, mas também no seio do próprio marxismo ortodoxo". Entre os socialistas neopositivistas,
se destacaram os italianos Enrico Ferri e Filipo Turati. Turati escreveu em 1884 que se alegrava pelo fato
de o socialismo tomar uma característica "mais e mais científica, mais e mais positiva". Durante a
primeira guerra mundial (1914-1918) adotou uma posição centrista (entre o patriotismo e o
derrotismo); seu partido foi um dos poucos do socialismo europeu que recusou a “União Sagrada”.
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[19] O Poalei Zion (operários de Sião, partido sionista-socialista) tinha sido inspirado pelas idéias e ação
de Ber Borochov. Nascido na Ucrânia, Dov Ber Borochov foi educado em uma escola superior russa. Foi
atraido pelas idéias socialistas. Como a maioria dos judeus graduados no ensino superior, lhe foi negada
a chance de estudar em uma universidade. Em 1901, fundou o Poalei Zion. Ativa na autodefesa judaica,
a organização era criticada pelo POSDR, pelo Bund, e também por alguns líderes sionistas, que
desaprovavam a combinação de sionismo com socialismo. Durante controvérsias sobre a possibilidade
de colonização judaica em Uganda, Borochov juntou-se com Menahem Ussishkin em sua oposição a
qualquer outro território que não Eretz Yisrael, situado na Palestina histórica. No 7º Congresso Sionista
(1905), Borochov liderou a facção dos delegados do Poalei Zion que se opôs à proposta de Uganda. No
8º Congresso, dois anos depois, ele foi peça-chave na retirada do Poalei Zion russo da Organização
Sionista. Até o começo da Primeira Guerra Mundial, divulgou os objetivos do Poalei Zion na Europa
Central e Oriental. Em 1914, Ber Borochov chegou aos Estados Unidos, onde foi o porta-voz do Poalei
Zion americano e dos movimentos do Congresso Judaico Mundial e Americano. Quando a revolução
russa começou, em fevereiro de 1917, retornou à Rússia e ajudou a formular as demandas do povo
judeu para a nova ordem social. Em agosto de 1917, encabeçou a Conferência do Poalei Zion russo,
conclamando-os para a colonização socialista em Eretz Yisrael. Tempo depois, contraiu pneumonia e
morreu em Kiev. Em 1963, seus restos mortais foram reenterrados no cemitério do Kibutz Kineret, junto
a outros fundadores do sionismo socialista. A contribuição de Borochov, em especial seu trabalho Nossa
Plataforma, foi qualificada como “a síntese das estruturas de classes e do nacionalismo, em um tempo
em que a teoria marxista rejeitava todo nacionalismo”. É claro que a idéia de tal “rejeição” marxista não
tem pé nem cabeça. Borochov teorizou que a civilização, na sua história, comportava dois tipos de
divisões: horizontalmente (em nações) e verticalmente (em classes sociais), e que o socialismo só tinha
prestado atenção, até o momento, para a segunda. Visualizou a imigração massiva dos judeus como
inevitável dentro do movimento interno do proletariado judeu para resolver os problemas criados pela
Diáspora. Argumentou que somente os esforços pioneiros em Eretz Yisrael poderiam prevenir a
continuação da Diáspora. O “problema judeu”, segundo ele, provinha do fato do povo judeu estar
divorciado de sua terra natal. Borochov não viu o anti-semitismo como uma das bases ou motivações
para o sionismo. Via a Diáspora como uma aberração na qual a inferioridade econômica e política
judaica seria eterna.
[20] Durante séculos a “redenção de Israel” não transbordou do âmbito religioso, que foi sua matriz.
Deu origem a peregrinações e a imigrações individuais ou de pequenos grupos, que não modificaram o
estatuto político da Palestina, nem sua composição étnica. A situação começou a mudar no século XIX. O
sionismo surgiu no contexto do triunfo das ideologias nacionalistas, como um movimento nacionalista
secular cujo objetivo era a criação de um Estado judeu, sendo este considerado como o único meio de
assegurar a identidade e a sobrevivência da “nação” judaica, assim como de lhe garantir um lugar ao sol
entre as demais nações.
[21] O socialismo foi a inspiração ideológica dos “pioneiros” judeus, que em vagas sucessivas foram
colonizando o território palestino antes da criação do Estado sionista. Durante a administração do
Império Otomano, entre 1881 e 1917, de uma emigração total dos judeus da Europa de 3.177.000
pessoas, só 60 mil foram à Palestina. Já na época de controle britânico, depois da Primeira Guerra
Mundial, no período de 1919 até a criação de Israel, em 1948, de uma emigração total de 1.751.000
judeus, 487 mil foram para a região. Somente após as perseguições nazistas a emigração judaica para o
Oriente Médio aumentou significativamente. Em 1931, de uma população palestina de 1.036.000
habitantes, só 175 mil eram judeus.
[22] Numa resolução específica, o Congresso perguntava: “A Internacional Comunista coloca para si e
para a classe operária as seguintes questões: em que medida as novas relações entre a burguesia e o
proletariado correspondem realmente às relações mais profundas de suas respectivas forças? A
burguesia tem condições de restabelecer o equilíbrio social destruído pela guerra? Existem razões para
supor que após uma época de comoção política e lutas de classes venha unia época prolongada de
restabelecimento e crescimento do capitalismo? Não decorre disso a necessidade de revisar o programa
ou a tática da Internacional Comunista?”. O Congresso esclarecia que, embora real, a “estabilização
capitalista” era temporária e frágil.
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[23] O Congresso também determinou que os comunistas criassem uma frente de visibilidade pública,
pois “na ausência de qualquer contato com as massas, ele se debilitaria, tornando-se uma seita de
propaganda, e perderia a vitalidade. A organização, na ilegalidade, deve não apenas constituir a base
para a coleta e cristalização de forças comunistas ativas, mas tentar todos os caminhos e meios para sair
dessa condição não legalizada e vir à tona entre as grandes massas; e deve também encontrar meios e
formas de unir essas massas politicamente, através de atividade pública, na luta contra o capitalismo”.
Essa resolução foi assinada por Lênin, Trotsky, Zinoviev, Bukharin, Radek e Kamenev. O Congresso
também aprovou que os partidos criassem um “Departamento de Inteligência”, devendo ter cada um
deles “um setor especial em sua administração para esse trabalho em particular. O Serviço de
Inteligência Militar requer prática, treinamento e conhecimentos especiais. O mesmo pode ser dito da
tarefa do Serviço Secreto direcionada contra a polícia política. É somente através de longa prática que se
pode criar um Departamento de Serviço Secreto satisfatório”.
[24] Num Apelo aos “Operários e camponeses da América do Sul”, o primeiro referido especificamente
ao continente, o IV Congresso da IC afirmava: “O imperialismo capitalista introduz em vossos países os
antagonismos mundiais que levaram os povos da Europa à guerra mais sangrenta e a mais formidável
reação. É já tempo de unir as forças revolucionárias do proletariado, pois que os capitalistas de toda a
América se unem contra a classe operária. Camaradas, os operários e camponeses da América do Sul
não possuem ainda organizações de luta de classe disciplinadas e a unidade de ação necessárias. Vossa
classe governante se apóia sobre a potência formidável dos Estados Unidos no intuito de esmagar
vossos esforços, abafar vossas ações libertadoras e impedir toda tentativa revolucionária de vossas
massas oprimidas. Operários e camponeses! A Internacional Comunista apela para vós! Não vos
esqueçais de que nos Estados Unidos há comunistas prontos a vos ajudar na luta revolucionária. A luta
comum dos proletários de todos os Estados da América contra todos os capitalistas americanos
solidários constitui uma necessidade vital para a classe explorada. Ela se impõe como o único caminho
para vossa salvação. O exemplo heróico da Revolução Russa, sustentando a luta mais encarniçada
contra o capitalismo internacional, vos fará compreender a sorte que vos espera se permaneceis
indiferentes, quando a classe possuidora agrava a exploração capitalista. Em vossos países, os
antagonismos entre a alta finança e a indústria aumentam, e os conflitos imperialistas mundiais
ameaçam arrastar-vos, também a vós, aos massacres. Camaradas, à ofensiva burguesa é necessário
opor a unidade proletária. Organizai-vos, pois, ligai vossa ação revolucionária à ação da classe operária e
camponesa de toda a América e de todos os países do globo. Lutai contra vossa própria burguesia e
lutareis contra o imperialismo ianque, que é a encarnação mais alta da reação capitalista. Uni-vos em
torno da bandeira da Revolução Russa, que criou as bases da revolução proletária mundial. Como a
Revolução Russa, preparai-vos a transformar toda tentativa de guerra em luta aberta da classe operária
contra a burguesia. Como a Revolução Russa, empreendereis a ação contra o imperialismo preparando a
ditadura proletária que destruirá em toda a América a ditadura burguesa. Se permaneceis divididos e
desorganizados, a burguesia americana vos estrangulará, esmagará vossas ações e aumentará a
exploração capitalista arrancando-vos as conquistas já antes obtidas por vós. A luta contra vossa própria
burguesia redundará cada vez mais na luta contra o imperialismo mundial e se tornará uma batalha de
todos os explorados contra todos os exploradores. Camaradas! Organizai-vos! Fortificai vossos partidos
comunistas e criai-os onde eles não existem ainda. Ligai vossa ação à ação de todos os comunistas da
América. Organizai o proletariado revolucionário, que luta, com a Internacional Sindical Vermelha e
trabalhai afim de que em toda a América existam seções da Internacional Comunista e da Internacional
Sindical Vermelha!”.
[25] Em sua autobiografia, Minha Vida, Trotsky explicou a psicologia política do que ele descreveu como
“o ataque totalmente filisteu, ignorante e simplesmente estúpido contra a teoria da revolução
permanente”: “Tagarelando ao lado de uma garrafa de vinho ou retornando do balé um burocrata
presunçoso diz ao outro: ‘Aquele tem sempre só a revolução permanente na cabeça’. Conectadas
cerradamente com esse humor específico eram acrescentadas as acusações de insociabilidade, de
individualismo, de aristocratismo. O sentimento de ‘Não tudo e sempre pela revolução, a gente deve
pensar também em si próprio’ foi traduzido como ‘Abaixo a revolução permanente’. A revolta contra as
reivindicações teoricamente exatas do marxismo e contra as reivindicações políticas rigorosas da
revolução gradualmente assumiram, aos olhos desses indivíduos, a forma de luta contra o ‘trotskismo’.
Sob esta bandeira procedeu-se a liberação do ignorante no interior do bolchevique”.
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[26] A tentativa de desenvolver uma economia “socialista” auto-suficiente baseada nos recursos da
Rússia atrasada estava condenada, não meramente pelo atraso da Rússia, mas porque isso representava
uma regressão em relação à economia mundial já criada pelo capitalismo. Em sua introdução à A
Revolução Permanente, Trotsky escreveu: “O marxismo toma o seu ponto de partida da economia
mundial, não como uma soma das partes, mas como uma realidade poderosa e independente que foi
criada pela divisão internacional do trabalho e pelo mercado mundial, que na nossa época domina de
forma imperiosa os mercados nacionais. As forças produtivas da sociedade capitalista há bom tempo
têm crescido além das fronteiras nacionais. A guerra imperialista (de 1914-1918) foi uma das expressões
deste fato. Nesse sentido, a técnica produtiva da sociedade socialista deve representar um estágio mais
alto do que aquele atingido pelo capitalismo. Visar construir uma sociedade socialista isolada
nacionalmente significa, apesar de todos os êxitos ocorridos, impulsionar as forças produtivas para trás
mesmo em relação ao capitalismo. Independentemente, das condições geográficas, culturais e históricas
de desenvolvimento do país, que constitui uma parte da unidade mundial, tentar realizar um
encerramento de todos os ramos da economia no interior de uma estrutura nacional, significa perseguir
uma utopia reacionária”.
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