Resumo III-Mensagem-Fernando Pessoa

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Mensagem

Um manifesto antifacilitismo
A obra de Fernando Pessoa é um manifesto antifacilitismo, contra o messianismo, a espera por alguém que nos leve,
dignifique e salve.
Ler a Mensagem é saber que há, na História e Línguas Portuguesas, por entre todos os elementos de sucesso e fracasso, de
exemplos a seguir e erros a condenar e corrigir, a receita de um futuro radioso. Mais do que isto, tal como Fernando
Pessoal o diz, que não precisamos de um S. Sebastião.
Nunca precisámos, porque ele sempre esteve no nosso corpo e na nossa alma, muito antes da derrota portuguesa de
Alcácer Quibir, em 1578.
A Mensagem diz-nos que o futuro que merecemos só chegará se lutarmos por ele. Cada vez com mais ações e menos
queixas. (o povo português só se sabe queixar).

História: D. Sebastião despareceu em Alcácer Quibir porque era inexperiente (foi para o exército impreparado), e desde aí
nunca mais apareceu o seu corpo, estando o povo português sempre à sua espera para que os salvasse.

Mensagem: o imaginário épico e a exaltação patriótica

Marcas épicas:espírito heroico, vocabulário sagrado, exaltação da


pátria decadente; interiorização e mentalização da matéria épica –
imagens simbólicas;
Mensagem

Marcas Líricas: tom subjetivo, sentimental e íntimo, introspeção,


contemplação da alma.

A Obra Épica vive de contextos históricos, sociais, culturais e ainda da experiência do poeta.
O Renascimento dera a Camões a força anímica para incentivar os heróis e valorizar os feitos; a queda do Império e a perda
de identidade nacional, nos fins do século XIX e princípios do século XX, oferecendo a Pessoa motivos para a transmissão de
uma Mensagem de valorização do passado e esperança no futuro. A experiência de ambos levou-os, pois, para temas
comuns:
 o passado- com as Descobertas Marítimas e a História de Portugal, semeados de heroísmo e aventura;
 o presente- a arrastar-se no egoísmo mercenário, na falta de patriotismo, na deficiência de valores, no
esquecimento de um passado próximo, no descrédito pelas letras, afundando-se irremediavelmente até à falta de
identidade nacional.
O tema da Mensagem reside em Portugal e na sua história, trata-se de rever o sentido providencial e messiânico de Portugal
como país de um povo eleito por Deus, após êxitos (os Descobrimentos e a criação do Império) e fracassos (decadência
posterior à perda da independência em 1580), atingir o momento sagrado, de criação do Quinto Império (romano), um
império cultural e espiritual.

Em Mensagem, a história de Portugal é figurada de um modo providencialista, segundo um plano transcendente (superior
aos factos históricos positivos) definido pela:
 Providência- Deus, deus, seres espirituais;
 Messiânico- elevando o povo português a um plano espiritual redentor e salvador do mundo.
O título Mensagem consiste na tradução para português da palavra grega “Evangelho”.
Mensagem
A sua estrutura tripartida permite contar e refletir sobre a vida e o percurso de Portugal ao longo dos seus séculos:
 2ª parte: Mar Português- realização e vida; Simboliza a essência do ideal de ser português, vocacionado para o mar
e para o sonho;
 3ª parte: O Encoberto- Associado a D. Sebastião; morte e renascimento da pátria:
 a desintegração e o presente de sofrimento e de magoa, pois “falta cumprir-se PT”;
 O atual império.

Mensagem: a natureza épico-lírica da obra


Mensagem é uma obra poética contaminada por um espirito heroico, determinada por um universo semântico de
vocábulos de origem sagrada e destinados a exaltar uma pátria decadente. É, assim, um poema épico, atravessado de tons
líricos, subjetivos, sentimentais e íntimos e elegíacos, de lamentações sobre a glória perdida de Portugal e a necessidade de
a ela regressar.

A conceção messiânica da História em Mensagem


“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
 Deus- o agente primeiro;
 homem- recetor da inspiração/vontade divina, que a executa;
 Deus+ homem= Obra- a concretização da vontade divina e o resultado da ação humana; Teofania: revelação de uma
intenção divina.

A História como conjunção dos planos espirituais e humano;


Relação de caus/efeito entre os 3 sujeitos e respetivas ações.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”

 Deus- “Deus quis que a terra fosse toda uma, que o mar se unisse e já não se separasse”;
 homem- “sagrou-te” (escolheu-o com intensões sagradas)
 Deus+ homem= obra- “foste desvendado a espuma”

O desejo divino de unir por via marítima a Terra levou à escolha e sagração do infante D. Henrique que, com a sua ação,
cumpriu a obra espiritualmente concebida.
O infante é representante de Deus, concretizador da sua obra.

Mensagem: a dimensão simbólica do herói


Todos os heróis que venham são mitificados.
O herói de Mensagem não se define enquanto ser individual. Funciona como um símbolo e constitui-se a partir da própria
essência do povo português.
No poema pessoano, o herói reveste-se, desde logo, de uma dimensão mítica, presente ao longo de todo o percurso. O
herói é escolhido por Deus, um eleito, a quem é conferida uma missão que deve ser cumprida. Daí que o sujeito poético
afirme, no poema “O infante”, “Deus que, o homem sonha, a obra nasce”. Ou seja, o herói de Mensagem avança impelido
por uma força divina que o habita, mas que, simultaneamente, o transcende, e, perseguindo o sonho, este herói cumpre a
tarefa para a tal foi talhado.
Mensagem
Sebastianismo
Morto D. Sebastião em Alcácer Quibir, e tendo sido Portugal anexado pela Espanha em 1580, Portugal estava perante o
período mais negro da sua História: perdera toda a grandiosidade e com a batalha de Alcácer Quibir perdeu maior parte dos
seus militares, ficou endividado e sofreu o domínio castelhano.
Nasce então o Sebastianismo (versão particular de messianismo): crê-se que toda esta opressão, todo este sofrimento, toda
esta miséria, toda esta crise será vencida com o aparecimento de D. Sebastião (numa noite de nevoeiro…), que libertará
Portugal dos castelhanos e da sua opressão e lhe restituirá a antiga grandeza. Defende-se que D. Sebastião não morreu nem
podia ter morrido.
O Sebastianismo transforma-se num mito: quando há épocas de crise aparece como uma esperança de melhores dias, de mais
justiça e de maior grandeza.
Fernando Pessoa usou todos os seus meios para vivificar esse sentimento religioso profundamente enraizado na tradição
nacional: o Sebastianismo. Fez erguer das cinzas D. Sebastião, cujo regresso era tão esperado, porque, como diz, o mito faz
mais facilmente mover um povo do que a força da razão; confirmou a missão de Portugal como instauradora do Quinto
Império; enalteceu o homem português, com “mente segura e planeadora e braço apto a realizar o que ele próprio planeou”.
Esse tal Encoberto que levaria Portugal a constituir-se como Quinto Império, não o via, Pessoa, na figura de D. Sebastião, mas
sim, “qualquer coisa que ele representa”.
Ao rescender a crença vivificada pelos mitos nacionais- Sebastianismo e Quinto Império-, Pessoa pretendia fazer emergir na
nação portuguesa a consciência da identidade nacional e criar as forças espirituais que iriam fundar os alicerces do futuro
império português.

Conquistas para Camões- viagens, enumera heróis do passado glorioso, ainda presente;

Fernando Pessoa- futuro glorioso, o passado histórico não resta nada, só vai lá buscar o que há de transcendente e simbólico.

Têm visões divergentes.


Mensagem
Mensagem: a estrutura da obra
Realização da vida
Nascimento

- Associado a D. Sebastião
Morte

- O misterioso
Primeira Parte: Brasão
Mensagem
heróis da Odisseia de Homero,
que, segundo a lenda, no
ULISSES Afirmação, tese do poema, a partir da qual
regresso da guerra de Tria e no
caminho para Ítaca, sua terra se inicia o poema;
natal, terá aportado no local O mito é o nada que é tudo. O mito é algo sem fundamento, por isso o
onde se situa Lisboa, fundando a O mesmo sol que abre os céus sujeito poético considera-o como nada.
cidade. É um mito brilhante e mudo — Porém o mito e a incerteza conduzem e
transmitem esperança (tudo). - PARADOXO
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo. Referência ao sol;
Este poema serve-se da origem lendária de
remete para Ulisses (mito)
Portugal para explicar a importância do
Este, que aqui aportou,
mito: personificam valores e ideias, servem
paradoxo Foi por não ser existindo.
de estímulos de outras pessoas que os
Ulisses sendo uma figura Sem existir nos bastou. querem imitar
mitológica nunca “veio”, porém Por não ter vindo foi vindo
serviu de inspiração para os E nos criou.
portugueses, no sentido de
ultrapassar a mediocridade do Assim a lenda se escorre
presente. Se não houver um mito A entrar na realidade,
inspirador, Portugal morre de a lenda transforma e fecunda/cria a realidade
E a fecundá-la decorre.
apatia
conclusão
Em baixo, a vida, metade Na terra, a vida real e objetiva apaga-se para
De nada, morre. que o mito se engradeça e eternize

Análise:

Ulisses:
 exemplo de coragem e bravura;
 mítico fundador de Lisboa;
 é um exemplo para os portugueses pela bravura, coragem, determinação que demonstrou na Odisseia de Homero.

História: Ulisses era um grego que estava na guerra e foi quem inventou o cavalo troia.
A Troia e a Grécia ficaram em guerra durante 10 anos, até que Ulisses teve a brilhante ideia de
fazer um cavalo de madeira onde cabiam os gregos, de modo a que os soldados entrassem na
cidade. O cavalo entrou como se fosse o fim da guerra, começando os habitantes da cidade a
celebrar com vinho e ficando alucinados (bêbados), então foi aí que os soldados saíram e
dominaram Troia. Ulisses considera-se poderoso e os deuses castigam-no, não podendo voltar
a casa.

Divisão do poema em partes:


 1ª: 1ª estrofe- definição de mito;
 2ª: 2ª estrofe- Ulisses enquanto mito;
 3ª/ conclusão: 3ª estrofe- a lenda e o mito fecundam a realidade e dá-lhe uma nova vida, um sentido.

Os mitos existem para explicar o que os homens não conseguiam explicar

Integração do poema na 1ª parte da Mensagem:


Este poema pertence à 1ª parte (Brasão). As origens de Portugal, como das grandes Nações, estão envoltas na lenda e no
mistério. Neste caso, é o mito de Ulisses, o herói lendário, fundador da capital do nosso império, Lisboa, o coração da pátria.
Mensagem
Perguntas:
1. O título do poema remete para a figura do herói clássico Ulisses, de quem se fala no poema, sem nunca se nomear,
enquanto “mito” fundador da cidade de Lisboa, esta relação está implícita na 2ª estrofe.
1.1. Nas estrofes 1 e 3, o sujeito poético define e explicita as funções do mito.
1.2. Com o exemplo de Ulisses e da sua importância na fundação lendária de Portugal, na segunda estrofe,
exemplificam-se as características do mito apresentadas nas restantes.
2. Associação da figura Ulisses ao mito que “nos criou”: Ulisses criou-nos, pois, segundo a lenda, fundou a cidade de
Lisboa. Por outro lado, a gesta de Ulisses ajuda a explicar a vocação marítima dos portugueses, ou seja, o herói, com o
seu exemplo, terá inspirado o povo português a explorar o mar.

(não demos)

trovador e lavrador cantigas de amigo Metáfora: a lenha serviu para


D. DINIS fabricar as naus, para a procura
Silêncio e noite: condições de um “Novo Império”;
favoráveis à produção literária das Na noite escreve um seu Cantar de Amigo Remete para o futuro
suas cantigas, sendo nessa altura O plantador de naus a haver,
que D. Dinis ouve o sussurro dos E ouve um silêncio múrmuro consigo: oxímoro
pinheiros que mandará plantar em É o rumor dos pinhais que, como um trigo
Leiria- madeira (vinda destes) usada De Império, ondulam sem se poder ver. enumeração
na construção das naus.
mar+ barulho= som provocado
Arroio, esse cantar, jovem e puro, pela agitação das ondas do mar;
Busca o oceano por achar; Metáfora: confirmação da
E a fala dos pinhais, marulho obscuro, intenção visionária de D. Dinis
fluindo É o som presente desse mar futuro,
Anáfora: (visão) confirma que
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Personificação: manifesta o desejo há uma intencionalidade futura
de serem navios e atingirem o mar nas ações de D. Dinis
prenuncio dos Descobrimentos

Análise:

D. Dinis:
 lavrador;
 maior trovador português: cantigas de amigo (século XIV);
 Mandou plantar pinhais em Leiria, prevendo a necessidade futura de madeira para a produção de naus
para a Expansão;
 D. Dinis aparece como uma espécie de intérprete de uma vontade superior;
 Trovador- poeta: criador de poesia autor de cantigas de amigo;
 Plantador- criador do pinhal de Leiria (v2)

Integração do poema na 1ª parte da Mensagem:


Este poema pertence à 1ª parte (Brasão), na secção “Os Castelos”.
D. Dinis foi o sexto rei de Portugal e antecede o ciclo dos Descobrimentos.
Trata-se do monarca que prepara Portugal para um futuro, criando condições para a construção do Império, cantado na 2ª
parte da obra.
Mensagem
Perguntas:
1. Versos que identificam D. Dinis e sua expressividade: Vv. 1 e 2. Os versos destacam as duas facetas mais singulares do
rei: a produção literária e, através da metáfora do segundo verso, o carácter previdente, precursor e visionário de D.
Dinis, que terá preparado a expansão portuguesa com a lendária plantação do pinhal de Leiria. Deste modo, o rei é
apresentado como previdente e visionário, sendo capaz de antecipar o futuro.
2. Para o retrato de D. Dinis contribuem significativamente as sensações auditivas. O rei-poeta é, para Fernando Pessoa,
um ser de excelência, capaz de ouvir “um silêncio múrmuro”. D. Dinis acede ao chamamento para cumprir uma missão
superior, respondendo, enquanto interlocutor privilegiado, à “fala” (v. 8) dos pinhais, também designada por “rumor” (v.
4), “som” (v. 9) e “voz” (v. 10). D. Dinis sente interiormente o apelo de uma atuação preparatória do futuro grandioso,
ganhando o estatuto de herói mítico em Mensagem.
3. Comparação: Os pinhais são comparados a um alimento essencial (o trigo, ingrediente-base do pão). Assim, destaca-se o
facto de a madeira por eles fornecida constituir a matéria-prima que permitiu saciar a “fome” de Império que norteou a
expansão portuguesa.
Metáfora: O som dos pinhais é referido como “marulho obscuro” (v. 8), intensificando a relação das árvores com o
elemento (mar) em que cumprirão a sua função especial.
Antíteses: ligadas ao som dos pinhais presentes nos versos 9 e 10 contribuem para intensificar a diferença entre o
“presente”, ligado à “terra”, e a possibilidade de um “futuro” vivido no “mar”, graças à ação profética de D. Dinis.

o destino é traçado por Deus


foi o escolhido

Sempre que Deus quer, ele faz determinado momento; altura em que
com que o homem haja- o homem D. JOÃO O PRIMEIRO uma nação atinge uma encruzilhada
é só o executante de Deus; nada é
à toa, tudo é comandado por O homem e a hora são um só presente, voz ativa
voz passiva
Deus; Deus é a causa eficiente Quando Deus faz e a história é feita.
enfatização da verdadeira O mais é carne, cujo pó
A terra está á espera do cadáver
natureza do homem, o corpo A terra espreita.
Ele não sabia o que lhe estava
torna-se pó (a morte é inevitável),
predestinado (ser rei e iniciar uma nova
mas a alma transcende tudo. Mestre, sem o saber, do Templo
época de Portugal); os filhos deles vão ser
D. João Mestre de Avis; Apóstrofe Que Portugal foi feito ser, importantes nos Descobrimentos
(chamamento)- relação do sujeito Que houveste a glória e deste o exemplo
ordem mais rica e poderosa de Portugal;
com o interlocutor De o defender,
símbolo do Homem e do Mundo.
Apóstrofe é conhecido
Teu nome, eleito em sua fama, um grande homem e guerreiro
altares que fez de tudo para salvar e
É, na ara da nossa alma interna, vida
Anáfora: dá a ideia que D. João I defender Portugal
A que repele, eterna chama,
nunca será esquecido e estará morte Antitéticos
A sombra eterna.
sempre vivo em todos os
quiasmo: a chama opõe-se à sombra
portugueses (eterna chama). No
entanto fisicamente ele está
morto e não entre nós (sombra repele o repouso, que seria o destino de Portugal
eterna). se perdesse a sua identidade como nação
Mensagem
Análise:

D João o Primeiro:
 Cognome: o da boa memória- pois fez coisa memoráveis;
 Pai do infante D. Henrique

Estrutura formal do poema:


 3 quadras;
 três primeiros versos são octossilábicos e o último tetrassilábico;
 rima cruzada;

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1ª estrofe) interligação entre Deus e ser humano;
 2ª parte- (2ª estrofe) elogio pelo seu patriotismo;
 3º parte- (3ª estrofe) imortalização do rei através da sucessão de metáforas.

Conclusão da análise do poema:


D. João I foi “Mestre, sem o saber, do Templo”, ou seja, foi mestre sem saber, defensor do Templo sagrado da pátria e a
eterna chama de Portugal.
Fernando Pessoa (poeta), retrata o rei como alguém eleito por Deus e também como um grande homem e guerreiro que fez
de tudo para salvar o país.

Perguntas:
1. Conceção messiânica da História: A primeira quadra apresenta, através de afirmações de natureza axiomática, a atuação
do homem (herói) como decorrente do desejo divino. “Quando Deus faz” através do “homem”, “a história é feita”. É
essa conjugação do espírito celeste com o anseio dos predestinados que leva aos grandes feitos e garante a imortalidade
(o mito), pois a matéria é perecível: “O mais é carne, cujo pó/A terra espreita.” (vv. 3-4).
2. O modificador do nome “sem o saber” realça a predestinação do herói que, desconhecendo as implicações futuras da
sua atuação, veio a iniciar uma nova época na História de Portugal e uma nova geração que conduziu à expansão.
3. Com o uso da segunda pessoa, o sujeito poético dirige-se diretamente a D. João I, seu interlocutor, estabelecendo com
ele uma relação de proximidade e cumplicidade.

afirma-se louco, por


ser bastante ambicioso
ele quis
D. SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL
acentua a ideia que as ações
destino Louco, sim, louco, porque quis grandeza
históricas dos Homens são
Qual a Sorte a não dá.
tom lírico: 1º pessoa comandadas por Deus, logo, como
Não coube em mim minha certeza; não foi previsto no plano divino, não
a existência física Por isso onde o areal está foi possível alcançar;
ficou no areal Ficou meu ser que houve, não o que há. o destino não quis que ele se realiza o
insatisfação do Homem. É esta projeto de engradecer Portugal
insatisfação que faz o Homem avançar/ Minha loucura, outros que me a tomem futuro; a alma esteve
evoluir; caracter didático: aconselha e Com o que nela ia. em preparação divina
apela aos outros para que também se Sem a loucura que é o homem o Homem sem loucura não é homem…é besta
tornem loucos/ambiciosos e sigam o Mais que a besta sadia,
sonho de engradecer Portugal. Cadáver adiado que procria?
Mensagem
sem loucura de D.
Sebastião, ele seria
Análise:
apenas mais um cadáver

D. Sebastião:
 Ambicioso;
 Poema dirigido na 1ª pessoa, ou seja, a personagem está a fazer a sua autocaracterização.

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1ª estrofe) o sujeito poético autocaracteriza-se como louco, explicita a razão da sua loucura (a busca da
grandeza/ glória) e apresenta as consequências/ preço da loucura (morte);
 vv3,4,5: porque quis o que quis teve certas consequências; enquanto mortal o corpo ficou em Alcácer Quibir,
mas a sua alma (espiritualidade)/ heroísmo ficou em Portugal; dicotomia entre o ser mortal (S. Sebastião-
histórico) e o ser imortal (D. Sebastião- mítico);
 2ªparte- (2ª estrofe) o sujeito poético faz um elogio à loucura, traço que distingue o Homem dos outros animais, e
exorta a que os outros deem continuidade ao seu sonho.
 penúltimo e último verso: o que distingue o homem do animal é o sonho e a sua ambição; sem ambição o
homem torna-se uma besta, nasce, vive e morre- adia a morte

Integração do poema na 1ª parte da Mensagem:


O poema insere-se na 1ª parte (Brasão), uma vez que esta compreende os antepassados fundadores da nacionalidade.
A inserção nas Quinas prende-se com o facto de D. Sebastião ter perdido a vida no contexto de uma tarefa para que foi
escolhido por Deus

Tom lírico confessionista- alguém está a confessar;


Epopeia- narrativa que tem como personagens um herói, que é alguém que se distinguir dos outros humanos por ter tido
uma ação de louvar, tendo uma pregação universal. Os Lusíadas é uma epopeia, pois o herói (coletivo-portugueses)
descobriram o caminho para a Índia.

Perguntas:
1. Com a repetição do adjetivo “louco” e o uso do advérbio de afirmação, o sujeito poético reforça a sua
autocaracterização.
2. Segundo o sujeito poético, a sua loucura é produto da sua ambição, do seu sonho de “grandeza” que a “Sorte” (o
destino) não dá sem que se empenhe algum esforço na sua concretização.
3. A mudança do pretérito perfeito para o presente do verbo “haver” no verso 5, realça a distinção entre a figura histórica
do rei, que existiu, e a sua dimensão mítica, que permaneceu no tempo.
4. Com os versos 6 e 7, o herói é apresentado como entidade inspiradora, de carácter exemplar, que deseja deixar a sua
marca nos outros, apelando a que os outros tenham a mesma ambição que ele teve.
5. A interrogação retórica encerra o poema através da exaltação do valor da loucura, enquanto traço distintivo dos seres
humanos.
6. A utilização da primeira pessoa denota a identificação do sujeito poético com D. Sebastião, a quem o poema é dedicado.
Assim, o discurso adquire maior credibilidade e valoriza-se a dimensão do herói, a partir de cujo exemplo se abordam
valores humanos universais.
7. Marcas do discurso épico: matéria histórica protagonizada por um herói nobre (social e moralmente).
Marcas do discurso lírico: a utilização da primeira pessoa verbal, a subjetividade na apresentação da realidade, mediada
pela perceção do “eu”, e a forma fragmentária.
Mensagem
Segunda Parte: Mar Português

 A segunda parte da Mensagem, centra-se no domínio dos mares pelos portugueses.


 O domínio do mar permitiu estabelecer ligações entre os povos (“Que o mar unisse/ Já não separasse”).
 Mar- símbolo da vida e da morte; refúgio; reflexo do céu.
 O Infante refere-se ao infante D. Henrique navegador e impulsionador dos Descobrimentos, símbolo do Homem
Universal, o herói que realizou um sonho pela vontade de Deus.
 Em tom disfórico, o sujeito poético apela ao “senhor” para que contribua para a verdadeira realização de Portugal,
o Império espiritual, ou seja, o 5º Império.

natureza axiomática- lei; relação causa-efeito;


causa eficiente: o Homem é um instrumento de Deus;
“Deus quis”- unir os continentes, “o homem”- e/os Descobrimentos;
“Obra nasce”- Império;
Deus quis que o mar fosse navegável, para que o ser huamo tivesse
O escolhido de Deus conhecimento da Terra.
Deus ajudou o homem português O INFANTE
a atravessar o mar e descobrir Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
novas terras Deus quis que a terra fosse toda uma, ação continua; período de descoberta
tornou-te sagrado/ escolheu-te Que o mar unisse, já não separasse. cavalgamento, a ideia
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, continua na estrofe a seguir
conhecimento/ foi do próximo ao longínquo, de
descoberta E a orla branca foi de ilha em continente, Ceuta a outros continentes
Clareou, correndo, até ao fim do mundo, a degradação demonstra a
Visão cósmica de alguém que está lá
E viu-se a terra inteira, de repente, viajem pelos descobrimentos
em cima e que vê a terra redonda;
conseguimos das a volta ao mundo Surgir, redonda, do azul profundo.
Povo português
Quem te sagrou criou-te português.
aumentou o Império – tornou Do mar e nós em ti nos deu sinal. suplica, falta dar-se início ao 5º império, ao
Portugal mais rico Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. império espiritual, que não morre;
Apóstrofe Senhor, falta cumprir-se Portugal! recuperar o brilho do Império e voltar a
tornar o país glorioso e “grande”.
Corrupção: o império perdeu o
Análise: brilho e a importância
 Deus é a causa eficiente;
 Estrutura interna: 2ª parte: Mar Português;
 O infante foi o grande impulsionador dos Descobrimentos.
 3ª estrofe: se Deus escolheu o Infante também escolheu os portugueses. Já criamos o Império e deixamos que ele se
desfizesse então a única coisa a fazer agora é recuperar a grandiosidade.

Infante:
O escolhido de Deus.

“Sagrou-te, e foste desvendando a espuma”


Mensagem
O infante está destinado a concretizar uma obra por vontade divina. Assim, Pessoa confere-lhe um destino mítico, ou seja, é
o agente da descoberta do desconhecido. Assinala todos os portugueses predestinando-os o a desvendar o mar
desconhecido.

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1º verso) as etapas que precedeu à construção da obra humana: a vontade divina e o sonho do homem;
efeitos- o nascimento/concretização da obra;
 2ª parte- (vv2-8) desenvolvimento do 1º verso:
 Desejo de Deus (agente da vontade);
 Sagração do Infante;
 A realização e o percurso da obra.
 3ª parte- (3ª estrofe) conclusão: transposição da glória do infante para o povo português, cumprimento do sonho
e o mesmo se desfez e apelo.

Integração do poema na 1ª parte da Mensagem:


Embora o poema se refira à aventura marítima, levado a cabo pelos portugueses, Infante D. Henrique desempenhou um
papel crucial nessa aventura sendo o impulsionador dos Descobrimentos.

Perguntas:
1. O 1º texto da segunda parte de Mensagem é dedicado ao Infante D. Henrique, uma vez que foi o impulsionador das
descobertas marítimas portuguesas. Nesse sentido, cabe-lhe o papel de protagonista primeiro da “Possessio Maris”
(posse do mar) anunciada na epígrafe da segunda parte.
2.1. O primeiro verso do poema apresenta a “obra” como consequência das ações de Deus e do Homem. Os grandes feitos
são revelações – teofanias – de Deus através do homem.
2.2. Os restantes versos exemplificam, com o caso do Infante, a teoria enunciada no verso 1. Assim, o desejo de Deus foi o de
que “a terra fosse toda uma” e “Que o mar unisse, já não separasse” (vv. 2-3). Para isso, inspirou o Infante, escolhendo-o
para essa missão (“Sagrou-te”, v. 4). Ele correspondeu e foi “desvendando a espuma” (v. 4), ou seja, explorando o mar;
desse modo, a obra nasceu.
3. Elementos textuais que, nas 2 primeiras quadras sugerem o Infante como figura unificadora: “Que o mar unisse, já não
separasse” (v. 3), “até ao fim do mundo” (v. 6), “a terra inteira” (v. 7).
4. O complexo verbal “foste desvendando” apresenta a ação como uma continuidade, como algo que não se concretizou
de uma só vez, mas sim de modo progressivo.
4.1. Outro recurso que contribui para o mesmo efeito: A gradação associada à atuação do Infante D. Henrique: começou
por desvendar “ilhas(s)” e “continente(s)”, chegando ao “fim do mundo”, desenhando, assim, os contornos da “terra
inteira”.
5. Nos dois últimos versos, em tom disfórico, o sujeito poético apela ao “Senhor” para que, desfeito o império material
conseguido através das navegações, contribua para a verdadeira realização de Portugal – o império espiritual (Quinto
Império).
Mensagem
Calhou no exame 1997
HORIZONTE
Apóstrofe
Ó mar anterior a nós, teus medos desconhecimento
Tinham coral e praias e arvoredos.
inovação ao mar, espaço por desconhecido
Desvendadas a noite e a cerração,
descobrir; Descobrimentos
As tormentas passadas e o mistério,
o caminho da viajem
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Esplendia sobre as naus da iniciação. segurança que permite realizar a travessia
dos mares, chegando ao Horizonte
Linha severa da longínqua costa — longínquo, mas grandioso e belo
Descobrimentos
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
movimento e aproximação
Em árvores onde o Longe nada tinha; progressiva
a visão e a descoberta de
um mundo novo a dominar Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores, Descobrimentos
oposição de palavras Onde era só, de longe a abstrata linha.

renovação, vida em evolução


O sonho é ver as formas invisíveis
a definição do sonho como Da distância imprecisa, e, com sensíveis liberdade; os novos horizontes mais amplos
impulso para conhecer; Movimentos da esperança e da vontade, amor, harmonia
a necessidade de vencer o medo Buscar na linha fria do horizonte mundo divino
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte — a origem da vida
Os beijos merecidos da Verdade.

Perguntas:
1. Tema do texto e relação que apresenta com o título: o tema do texto remete-nos para os descobrimentos, o contacto
com mares e terras longínquas e desconhecidos, estabelecendo assim uma relação com o título “Horizonte “, como
projeto de ir mais longe.
2. Partes em que se estrutura o poema:
 1ª parte: O caminho (a viagem) - 1ª estrofe;
 2ª parte: A visão de um mundo novo- 2ª estrofe;
 3ª parte: Interpretação simbólica do descobrir, impulso para o conhecer- 3ª estrofe.
3. “Desvendadas a noite e a cerração” … (v3)
3.1. Significado das palavras noite e cerração: significam o desconhecimento e o desconhecido;
3.2. Transformação numa oração subordinada conjuncional, sem alterar o sentido da frase: Depois que foram
desvendadas a noite e a cerração.
4. “se aproxima” (v8)- “mais perto” (v10)- “no desembarcar” (V11).
4.1. Efeito estilístico produzido por esta gradação: movimento e aproximação progressiva.
5. “O sonho é ver as formas invisíveis” (v13)
5.1. Palavras que se opõem: ver e invisíveis;
5.2. Classificação do elemento, constitutivo de uma delas, responsável por essa oposição: prefixo de
negação in-.
6. Há no poema a evocação de uma época histórica.
6.1. Expressões que se referem a aspetos dessa época: “As tormentas passadas e o mistério” (v4),
“Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta” (v8), “E, no desembarcar, há aves, flores,” (v11);
Mensagem
6.2. Razões da integração do poema na segunda parte da Mensagem: o poema é introduzido na 2ª parte
da Mensagem, “Mar Português”, uma vez que faz referência à expansão marítima.
7. Situação da Mensagem no universo poético pessoano: a Mensagem representa, no universo poético
pessoano, uma linha temática de nacionalismo, sebastianismo e uma linha estética simbolista.

medos dos navegadores;


símbolo das histórias O MOSTRENGO
fantásticas que se contavam
e que amedrontavam
O mostrengo que está no fim do mar
mesmo os mais corajosos
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes, O Mostrengo realiza movimentos circulares
Voou três vezes a chiar, intimidatórios e sitiantes à volta da nau
E disse: «Quem é que ousou entrar
O Mostrengo profere palavras
Nas minhas cavernas que não desvendo,
ameaçadoras: diz morar em locais
Meus tectos negros do fim do mundo?» O homem do leme sente medo
remotos, «cavernas» que ninguém
conhece), o que sugere que é um ser E o homem do leme disse, tremendo: Povo com uma missão a cumprir;
horrendo e ameaçador «El-Rei D. João Segundo!» símbolo de Portugal que não tem
medo e é representante de um
«De quem são as velas onde me roço? povo de coragem que quer
De quem as quilhas que vejo e ouço?» dominar os mares
Disse o mostrengo, e rodou três vezes, caracterização do Mostrengo
Três vezes rodou imundo e grosso,

«Quem vem poder o que só eu posso,


Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
ideia central de que o povo «El-Rei D. João Segundo!»
português é capaz de vencer os
seus medos, os seus monstros, Três vezes do leme as mãos ergueu,
o homem do leme toma
com uma determinação de Três vezes ao leme as reprendeu,
«homem do leme». consciência de que não é apenas
E disse no fim de tremer três vezes:
ele que ali está, mas sim um Povo,
«Aqui ao leme sou mais do que eu: um herói coletivo. Ganha então
Sou um Povo que quer o mar que é teu; energias, com a convicção e força
E mais que o mostrengo, que me a alma teme da determinação de um herói
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme, salientar a firmeza do homem do leme
De El-Rei D. João Segundo!» e, consequentemente, contribui para
a construção da imagem de um herói
épico e coletivo
Análise:
 Dificuldades, medos e coragem…;
 O Mostrengo ao ser vencido, permitiu a revelação de um novo mundo aos Portugueses;
 O Mostrengo corresponde à figura do Adamastor de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Como este, é o guardião do mar
tenebroso, no cabo das Tormentas, mais tarde de Boa Esperança.
Mensagem
Perguntas:
1. Caracteriza a figura do «mostrengo», justificando com elementos do texto: O «mostrengo» é caracterizado como um
ser «imundo e grosso». Indiretamente, caracterizam-no as suas ações: realiza movimentos circulares intimidatórios e
sitiantes à volta da nau («À roda da nau voou três vezes, / Voou três vezes a chiar», vv. 3-4), e profere palavras
ameaçadoras: diz morar em locais remotos, «cavernas» que ninguém conhece, de «tetos negros do fim do mundo» (v.7),
e escorre «os medos do mar sem fundo» (v. 16), o que sugere que é um ser horrendo e ameaçador.

2. Atenta, agora, na figura do «homem do leme».


2.1. Demonstra que as suas reações ao discurso do «mostrengo» evoluem em sentido crescente: Às interpelações do
«mostrengo», nas duas primeiras estrofes, o «homem do leme» começa por responder assustado – «tremendo»,
«tremeu» – intimidado pelo tom aterrador das suas palavras e pelo ambiente sinistro que o circunda, reagindo
apenas com uma frase que invoca a autoridade de que foi investido: «El-Rei D. João Segundo!» Porém, à terceira
vez, parece tomar consciência de que não é apenas ele, «homem do leme», que ali está, assume-se como símbolo
de um «Povo», como um herói coletivo que tem, naquele momento, uma missão patriótica a cumprir, a defesa da
tripulação e da vontade de uma nação. O «homem do leme» responde, por fim, ao «mostrengo», desta feita em seis
versos, mobilizando energias, com a convicção e força da determinação de um herói. Há, ainda, uma clara gradação
ascendente nas atitudes do «homem do leme» que nos permite adivinhar uma evolução que contraria as do
«mostrengo» que acaba neutralizado.
3. Explica a simbologia de ambas as figuras: o «mostrengo» e o «homem do leme»: O «mostrengo» simboliza os medos
dos navegadores que enfrentam o desconhecido e os perigos do mar; o «homem do leme» é a figura do herói mítico,
símbolo de um Povo, passando de herói individual a coletivo, com uma missão a cumprir.
4. Esclarece o valor simbólico do número três ao longo de todo o poema: Começando pela forma, o poema é constituído
por três estrofes de nove versos (o 9 é um múltiplo de 3). Em termos de conteúdo, quer o «mostrengo» quer o «homem
do leme» falam três vezes, o primeiro «voou três vezes» e «rodou três vezes» à volta da nau, e o segundo «tremeu» três
vezes. («Três vezes do leme as mãos ergueu / Três vezes ao leme as reprendeu».) Não há, de facto, qualquer acaso na
presença do número três, sete vezes repetido ao longo do poema. Das várias explorações possíveis à simbologia do
número três, destacamos a do sinónimo de perfeição, da unidade divina, de totalidade a que nada mais pode ser
adicionado.
5. Indica dois recursos presentes no poema, explicitando o respetivo valor expressivo: Destacam-se, como recursos
expressivos, a anáfora, em toda a estrutura do poema, bem como nas falas das personagens, convergindo para a ideia
central de que o povo português é capaz de vencer os seus medos, os seus monstros, com uma determinação de
«homem do leme». A metáfora «que me ata ao leme» (v. 26), por exemplo, a salientar a firmeza do homem do leme e,
consequentemente, a contribuir para a construção da imagem de um herói épico e coletivo.
Mensagem
concretização da descoberta do corpo- corresponde à ação do Homem, que
caminho marítimo para o Brasil ultrapassou os obstáculos do desconhecido;
OCIDENTE
Deus orientou o Acto
estava traçado, por ser a vontade de Deus Com duas mãos — o Acto e o Destino — alma- equivalente à
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu intervenção divina
sugestivo das descobertas e
da entrada no desconhecido Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu. Acto

Fosse a hora que haver ou a que havia Esta ação humana, a aventura da navegação, só
A mão que ao Ocidente o véu rasgou, foi possível pela conjugação da alma, «a Ciência»,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia e do corpo, «a Ousadia», dos navegadores
Da mão que desvendou.
Verifica-se uma relação completa do
corpo («Portugal») e da alma («Deus») Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal cumprimento da vontade divina,
A mão que ergueu o facho que luziu, predestinação de Portugal
que conduziu ao desvendamento do
mundo por descobrir. Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Deus quis e os portugueses lançaram- Da mão que o conduziu.
se na ação das descobertas
Perguntas:
1. Explicita a forma como a dualidade «o Ato e o Destino» se desenvolve ao longo do poema: O «Ato» e o «Destino»
surgem a par, ao longo do poema, num equilíbrio de forças, simbolizado por duas mãos humanas e pela dualidade corpo
e alma. O «Ato» corresponde à ação do Homem, que ultrapassou os obstáculos do desconhecido, primeiro afastando «o
véu», depois rasgando esse mesmo «véu». Esta ação humana, a aventura da navegação, só foi possível pela conjugação
da alma, «a Ciência», e do corpo, «a Ousadia», dos navegadores. O «Destino», equivalente à intervenção divina, a mão
que «ergue o facho trémulo e divino», estava traçado, por ser a vontade de Deus. Verifica-se, assim, uma relação
completa do corpo («Portugal») e da alma («Deus») que conduziu ao desvendamento do mundo por descobrir.
2. Comprova a predestinação de Portugal, fundamentando a tua resposta com elementos textuais pertinentes:
(predestinação significa que estava destinado desde a eternidade) A predestinação de Portugal está presente no
cumprimento da vontade divina («Foi Deus a alma e o corpo Portugal»), sendo o «Ato» feito por desígnio de uma força
oculta que orientou, a través da luz do «facho», os navegadores portugueses. Os vocábulos «Desvendámos», «a fasta»,
«véu», «rasgou», «desvendou» remetem primeiro para o mistério e, depois, para a revelação permitida pelo «facho que
luziu», pela vontade divina.
3. Identifica no poema duas características do discurso épico, documentando-as com exemplos significativos: a ação
coletiva de um povo, de qualidades excecionais («Ciência», «Ousadia»), capaz de executar feitos extraordinários,
gloriosos e singulares («afasta o véu», «o véu rasgou», «Desvendámos»); revelação da vontade divina e da
predestinação de Portugal («Foi Deus a alma e o corpo Portugal»); o significado superior e intemporal da busca:
Portugal «que ao Ocidente o véu rasgou»
Mensagem
o mar já está possuído (apropriação do mar pelos portugueses)
Apóstrofe- o sujeito poético
interpela o mar, introduzindo uma Apostrofe do mar salgado através de uma forma
MAR PORTUGUÊS
reflexão sobre a relação entre os emotiva (pontos de exclamação);
portugueses e o mar (conquista Hipérbole- o mar foi feito pelas lágrimas dos
marcada pelo sofrimento) Ó mar salgado, quanto do teu sal portugueses cujos familiares os abandonaram a si e à
São lágrimas de Portugal! pátria
Consequências das ambições dos
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, sacrifícios
portugueses- o mar foi tornado
Quantos filhos em vão rezaram!
português de uma forma difícil, pois lágrimas das famílias
houve muitos sacrifícios materiais, filiais Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! sugere a causa da dor (conquista do mar);
e matrimoniais:
“cruz” símbolo de sacrifício e da morte;
 emocionais- dor e sofrimento;
Anáfora- aumenta o dramatismo da no passado, o sofrimento pertence ao passado
 socioeconómicos- desamparo das
situação, pondo em causa o número
1ªfamílias;
reflexão- qualquer Valeu a pena? Tudo vale a pena interrogação retórica;
de vidas perdidas; realça o facto de o
esforço/sacrifício
políticas- despovoamento
vale a penadoquando
reino Se a alma não é pequena. momento de reflexão
sacrifício afetar as famílias e diversas
é feito por determinação, altruísmo e Quem quer
pessoas para passar além se
que o sonho do Bojador O sujeito poético diz-nos que é necessário
não se espera nada em troca. Tem que passar além da dor.
concretizasse ultrapassar e persistir aos obstáculos; apelo à
Metáfora: o mar representa as Deus ao mar o perigo e o abismo deu, capacidade de sacrifício, persistência e resistência
dificuldades, mas também a glória. Mas nele é que espelhou o céu. semelhanças fónicas;
Quem domina o mar, conquistou a
Bojador- sacrifício, metáfora
glória e o céu; quem for persistente, reflete o céu, tudo o que é
quem conseguir ultrapassar os difícil de alcançar possui as anástrofe
obstáculos e correr riscos, obterá o melhores recompensas
prémio/recompensa

Análise:

 O título do poema mostra que valeu a pena sonhar, ter a alma grande, ainda que tenha sido preciso sofrimento, e uma
vez mais, se faz o elogio do sonho do desejo do desconhecido, temas que perpassam toda a obra.
 1ª estrofe- existe um longo lamento do sujeito poético que, utilizando a 1ª pessoa e dirigindo-se ao mar, recorda o
“preço “da dor que os portugueses tiveram que ultrapassar aquando dos Descobrimentos. Fazendo uso de um discurso
épico (Lusíadas), o “eu” poético reforça a dor, o sofrimento e o despovoamento do reino, culpabilizando o mar. É de
realçar que esta estrofe tem uma estrutura circular, ou seja , o “eu” poético começa e finaliza com uma apóstrofe ao
mar;
 2ª estrofe- o sujeito poético, utilizando a 3ª pessoa e através do caracter lírico, interroga-se sobre se os sacrifícios
valeram a pena, para depois concluir da necessidade de dominar o medo, de sonhar, se o objetivo é concretizar os
nossos sonhos.

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1ª estrofe) interpelação do sujeito poético ao mar, a que relembra o preço e sacrifícios pago pelos
portugueses para conquistarem o mar;
 sal- sofrimento e tragédias (desgraças causadas pelo mar);
 lágrimas- sacrifício, dor (desgraças causas pelo mar); coragem, sentido patriótico, espírito de missão
(esforço necessário para dominar o mar)

Mensagem
caracter épico, predomina a valorização do sofrimento e do espírito de sacrifício dos portugueses, capazes
de superar provações extremas e de provar a sua grandeza espiritual.
 lamentou-se o preço pago pela conquista do mar /caracter épico);
 2ª parte- (2ª estrofe) - Balanço/ justificação dos sofrimentos: (os grandes feitos, conquistas e domínio do mar)
prossupõem sofrimento, mas todo o esforço tem a sua recompensação, logo o sacrifício dos portugueses não foi em
vão.
 anuncia-se a recompensa

Perguntas:
1. A apóstrofe ao “mar” introduz a entidade a quem o sujeito poético recorda, de forma emotiva, todas as dificuldades e
todos os sacrifícios que os portugueses fizeram na sua conquista.
2. Recurso expressivo, que na 1ª estrofe, contribui para o tom épico (heroico) do texto: A repetição (em anáfora nos versos
4 e 5) reforça a quantidade e a diversidade (em termos de género e parentesco) daqueles que sofreram na conquista do
mar, principalmente o sofrimento do sexo feminino.
3. Na segunda sextilha, a partir da interrogação retórica, o sujeito poético desenvolve uma reflexão sobre o valor dos
sacrifícios anteriormente apresentados e a necessidade de superar contratempos para realizar os sonhos.

4. A primeira afirmação destaca o valor da determinação em todas as conquistas; com empenho, tudo merece “a pena”,
ou seja, o sofrimento para atingir um fim.
A segunda afirmação alude ao cabo Bojador como metáfora dos objetivos a alcançar, que exigem, frequentemente,
“dor”; por isso, quem deseja conquistar algo tem de superar os obstáculos que se lhe deparem. A última afirmação
salienta a conjugação, no “mar”, do “perigo” e do “abismo” com o “céu”, salientando a ideia de que tudo o que é
verdadeiramente custoso tem a sua faceta compensatória.
5. O adjetivo “Português” no título deste poema, remete para a conquista e domínio dos mares pelos portugueses, que,
com o sofrimento e a sua coragem, fizeram com que existisse apenas o “mar” conhecido.
Calhou no exame 2011, 2ª fase
Mensagem
simboliza uma viajem ao interior, o caminho que
desejamos implica uma serie de reprovações;
refere a partida sem retorno de D. A última nau para essas viagens.
Sebastião em Alcácer Quibir no
norte de África; é o penúltimo A ÚLTIMA NAU D. Sebastião vai a bordo
poema da 2ª parte da Mensagem

comparação Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, palavras positivas; termos eufóricos;


E erguendo, como um nome, alto o pendão “pendão” - bandeira longa e triangular
vocábulos disfóricos;
“última nau” - com D. Sebastião Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago pressagia desgraça;
(v1);
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago sol que traz azar (desgraça)
“Erma” - solitária;
“pressago” - pressagioso; Mistério.
“choros de ânsia e de pressago” - pergunta retórica
previsão Não voltou mais. A que ilha indescoberta
É previsto o retorno, apenas
o poeta reforça a ideia de que a Aportou? Voltará da sorte incerta
desapareceu o seu corpo; a
nau foi e não voltou mais, ficando Que teve? vontade do sujeito poético é
o sonho por cumprir Deus guarda o corpo e a forma do futuro, tentar que através da imaginação
Fé em Deus e no regresso do rei Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro consiga ver o seu vulto.
Antítese (luz/escuro);
E breve. o povo mostra-se desalentado
Por vezes, Deus permite um
vislumbre do futuro
Ah, quanto mais ao povo a alma falta, personificação- o Poeta manifesta a crença de que,
decadência do povo português finda a névoa, o rei voltará da “ilha indescoberta”,
Mais a minha alma atlântica se exalta
Hipérbato (v13 e 17) trazendo o “pendão ainda/ Do Império”
E entorna,
Anáfora E em mim, num mar que não tem tempo ou espaço. nacionalismo mítico do poeta
nevoeiro denso Vejo entre a cerração teu vulto baço o sonho de D. Sebastião
Que torna.
Antítese: está para breve; certeza Se o homem quiser e se Deus
do regresso do rei, embora possa permitir, D. Sebastião há de voltar
demorar Não sei a hora, mas sei que há a hora, (ou seja, o sonho há de cumprir-se)
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Fernando Pessoa vê
5º Império: império duradouro de
Mistério. noite de claramente, como um profeta,
transcendência espiritual.
Impérios: Surges ao sol em mim, e a névoa finda: nevoeiro o “vulto baço" como se fosse
 1º Grego; A mesma, e trazes o pendão ainda Sinédoque certo o regresso do rei,
 2º Romano (enriquecido pelos Do Império. embora fosse desfocado “o
gregos); conhecimento (seu) corpo e a (sua) forma”.
 3º Cristandade;
 4º Europa (principalmente o
Inglês)

Análise:
O sujeito poético acredita no que D. Sebastião simboliza.

Divisão do poema em partes:


 Título- relaciona-se com o desejo de cumprir o Império sendo que esta última nau era a última esperança para os
portugueses de o fazer.

Mensagem
 1ª parte: 1ª estrofe- O poema está associado à partida de D. Sebastião e ao seu desaparecimento na batalha de Alcácer
Quibir, é um poema profundamente sebastianista. Este desaparecimento está igualmente associado ao fim do Império
português (vv1-4), pressentindo-se que alguma desgraça pode acontecer. Este desaparecimento está também envolto
num ambiente de mistério vv6).
 partida de D. Sebastião com o objetivo de cumprir o Império;
 Desaparecimento da Última Nau e com esta o rei D. Sebastião.
 2ª parte: 2ª estrofe- o “eu” poético reforça a convicção de que D. Sebastião não voltou (v7), referindo também as
incertezas quanto ao destino do rei (v7 e 9). No entanto, e apesar de destas incertezas, continua-se a acreditar no seu
regresso. Assim, o desaparecimento de D. Sebastião não é entendido como definitivo.
 Impossibilidade de se cumprir o Império;
 Assume-se o Mito como Esperança do futuro.
 3ª parte: 3ª estrofe- o “eu” poético faz referência à falta de ânimo do povo português, ao invés deste, ele continua a
acreditar no seu regresso e no Império que ele simboliza. É uma estrofe confessional, pois Pessoa derrama a sua
frustração com a maneira como a sociedade de Portugal está estagnada e em decadência social, económica e cultural.
 Crítica à decadência de Portugal;
 O poeta vê o vulto do El-Rei a regressar.
 4ª estrofe- o sujeito poético apresenta o regresso de D. Sebastião como certo (v19), ainda que não existam certezas
quanto ao momento. Toda a vida, é anunciada a vinda de alguém capaz de construir um império espiritual, ou seja, o 5º
Império.
 regresso desejado do Rei;
 D. Sebastião traz consigo a determinação de contruir o Império Universal (fundamento da Mensagem).

Descrição formal do poema:


 4 sextilhas;
 versos 1, 2, 4 e 5 são decassilábicos e os versos 3 e 6 dissilábicos.
 rima emparelhada entre os 1º, 2º, 4º, 5º versos de cada estrofe e interpolada entre os 3º e 6º versos.

Perguntas:
1. A “última nau” partiu, sozinha (“Erma”, v. 5) e envolta num ambiente “aziago”, como se refere a propósito do sol (v. 4),
marcado pelos “choros de ânsia e de pressago / Mistério” (vv. 5-6), que sugeriam e anunciavam, desde logo, o futuro
trágico que veio a confirmar-se: “Não voltou mais.”
2. A colocação do nome “Império” no final do poema associa-o ao regresso de D. Sebastião, anunciado nessa estrofe, que
concretizará o Quinto Império de que cuja ideia o poeta se ocupará na terceira parte de Mensagem. [De notar que o
poema surge imediatamente após “Mar Português” e é o penúltimo da segunda parte da obra, fazendo a ligação entre o
império material e o império espiritual reservado aos portugueses.]
3. Aspetos que nos versos de 1 a 12, se referem ao mito sebastianista:
 o desaparecimento misterioso da «última nau» e de D. Sebastião – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v.
1); «Foi-se a última nau» (v. 4); «Mistério.» (v. 6); «Não voltou mais.» (v. 7);
 a associação do desaparecimento da «última nau» e de D. Sebastião ao fim do Império português – «Levando
a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo, como um nome, alto o pendão / Do Império, / Foi‑se a última nau»
(vv. 1 a 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
 o pressentimento de desgraça associado à partida da nau – «Foi-se a última nau, ao sol aziago / Erma, e entre
choros de ânsia e de pressago / Mistério.» (vv. 4 a 6);
 as incertezas quanto ao destino de D. Sebastião – «A que ilha indescoberta / Aportou?» (vv. 7 e 8);
 as expectativas quanto ao regresso de D. Sebastião – «Voltará da sorte incerta / Que teve? / Deus guarda o
corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro / E breve.» (vv. 8 a 12).
Mensagem
4. Modo como o sujeito poético e o povo português reagem ao desaparecimento da «última nau», na 3ª estrofe: o povo
português, perante o desaparecimento da «última nau», na qual seguia D. Sebastião, reage com desânimo (v. 13), já o
sujeito poético manifesta uma viva crença no regresso de D. Sebastião e no Império que ele simboliza (vv. 14 a 18).

O sujeito poético não associa o não regresso da nau a um desaparecimento definitivo. Antes, reconhecendo a “sorte
incerta” (v. 8) que lhe coube, sugere, através das interrogações retóricas, que terá atracado numa ilha cuja localização se
desconhece (“ilha indescoberta”, v. 7), aguardando, assim, “a hora” do regresso de D. Sebastião.

5. Relação entre o conteúdo da última estrofe com a pergunta «Voltará da sorte incerta/ Que teve?», formulada nos
versos 8 e 9: Na última estrofe, o sujeito poético responde afirmativamente à pergunta enunciada nos versos 8 e 9,
apresentando: o regresso de D. Sebastião e do Império que ele simboliza como uma certeza obtida por intuição –«sei
que há a hora» (v. 19); «Surges ao sol em mim» (v. 22); «trazes o pendão ainda / Do Império.»(vv. 23 e 24); e
apresentando o momento exato em que esse acontecimento terá lugar como uma incerteza – «Não sei a hora» (v. 19);
«Demore-a Deus» (v. 20); «Mistério.» (v. 21).
6. Características do discurso épico:
 uso narrativo da 3.ª pessoa – «Foi-se a última nau» (v. 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
 importância conferida à História – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v. 1);
 mitificação de um herói – «Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro / E
breve.» (vv. 10 a 12)
7. Características do discurso lírico:
 expressão da subjetividade, evidente no uso da primeira pessoa – «minha alma» (v. 14); «em mim» (vv. 16 e
22); «Vejo» (v. 17); «Não sei» (v. 19); «sei» (v. 19) – e no uso da interjeição – «Ah» (v. 13);
 aproximação entre o sujeito e o destino nacional, patente na convicção intuitiva de que o mito será
concretizado (vv. 16 a 18; vv. 22 a 24)

Calhou no exame 2013, 1ª fase- Data especial


fim e o vazio
Apóstrofe; vocativo
Prece metáfora
o que resta- o silêncio, o mar conquistado
e a saudade; Senhor, a noite veio e a alma é vil. O passado- o sonho, as
nada resta das glórias e conquistas do Tanta foi a tormenta e a vontade! dificuldades, a tormenta
passado nem do (re)conhecimento Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
“universal” do mar O mar universal e a saudade. força dos portugueses
o “eu” enaltece a coragem e a dimensão
heroica dos portugueses, que nunca se Mas a chama, que a vida em nós criou, O presente- a esperança, a chama
furtaram à dor e às aflições. Tendo Se ainda há vida ainda não é finda. que ainda pode ser avivada…
vencido os tormentos e obstáculos, O frio morto em cinzas a ocultou: essa luz e esse fogo não morreram
marcaram indelevelmente a História A mão do vento pode erguê-la ainda. completamente, apenas se
gloriosa de Portugal, ao contrário do que encontram encobertos pelas cinzas
acontece no presente, que se afigura Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
.triste, nubloso e marcado pela ausência Com que a chama do esforço se remoça,
A distância- o caminho para o conhecimento: uma vez que ainda há vida, ainda há
de ambição.
 do “mar” - a 1ª vez- o império material; E outra vez conquistemos a Distância — esperança e, portanto, a “chama”
 “outra” - as novas viagens- o império Do mar ou outra, mas que seja nossa! pode ser reavivada até pela força
espiritual. “do vento”. Implicitamente, o “eu”
O “eu” pede o impulso, a força,
transmite uma mensagem de ânimo
Imperativo- suplica necessários para reavivar a chama de
Perguntas: modo a que Portugal recupere o fulgor
e confiança.

e volte às conquistas
1.
Mensagem
Caracterize o momento presente tal como é representado na primeira estrofe: A perceção que o “eu” tem do
momento atual é transmitida pela utilização metafórica do vocábulo “noite” simbolizando o fim e o vazio associados a
uma “alma vil”. No presente, nada resta das glórias e conquistas do passado nem do (re)conhecimento “universal” do
mar, o que provoca uma enorme saudade geradora de desânimo. Conclui‐se, assim, que o presente é dominado pela
prostração e abatimento.
2. Efeitos de sentido produzidos pela exclamação «Tanta foi a tormenta e a vontade!» (verso 2): Ao igualar a força da
“vontade” à da “tormenta”, o “eu” enaltece a coragem e a dimensão heroica dos portugueses, que nunca se furtaram à
dor e às aflições. Tendo vencido os tormentos e obstáculos, marcaram indelevelmente a História gloriosa de Portugal, ao
contrário do que acontece no presente, que se afigura triste, nubloso e marcado pela ausência de ambição.
3. Relação entre a referência à «chama, que a vida em nós criou» (verso 5) com o sentimento sugerido no verso 8: A
“chama” referida no verso 5 é uma alusão à força dos portugueses que os incentivou e empurrou, no passado, para
vastos e fecundos projetos, criadores de glória. No verso 7, afirma‐se que essa luz e esse fogo não morreram
completamente, apenas se encontram encobertos pelas cinzas. Assim, e relacionando os vários versos da estrofe,
afirma‐se que, uma vez que ainda há vida (verso 6), ainda há esperança e, portanto, a “chama” pode ser reavivada até
pela força “do vento” (verso 8). Implicitamente, o “eu” transmite uma mensagem de ânimo e confiança.
4. Interprete o sentido da última estrofe, tendo em conta o título e a apóstrofe presente no primeiro verso do poema:
Tal como é referido no título, o poema é uma “prece”. No verso 1, está expresso o vocativo, “Senhor”; seguidamente,
faz‐se uma caracterização dos tempos vividos – o passado glorioso e o presente sem brilho – e só na última estrofe é
retomada a súplica, como se verifica pelo imperativo “dá”. O “eu” pede o impulso, a força (“o sopro, a aragem”)
necessários para reavivar a chama (“o esforço se remoça”) de modo a que Portugal recupere o fulgor e volte às
conquistas, sejam do mar, sejam outras; o que se pretende é que os portugueses obtenham de novo glórias (“outra vez
conquistemos a Distância”).
Mensagem
Terceira Parte: O Encoberto

O QUINTO IMPÉRIO
opinião do sujeito poético sem fazer nada, a adiar
Triste de quem vive em casa,
Paradoxo: triste são as pessoas sem
sonhos e sem objetivos Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
expressão do “eu”; em Faça até mais rubra a brasa
contrapartida, o sujeito poético
Da lareira a abandonar! vermelha
prefere a espiritualidade, o sonho
conforto/ segurança homem
ideias comuns; o sujeito Triste de quem é feliz! comum em
poético vive contente, Vive porque a vida dura. Paradoxo que falta o
uma vez que prefere o Nada na alma lhe diz vive para adiar a morte sonho e alma
sonho e a espiritualidade Mais que a lição da raiz —
Frase basilar. Ter por vida a sepultura.
Porque está sempre em busca de algo
para melhorar, evoluir; Eras sobre eras se somem
O homem deve estar descontente e ser No tempo que em eras vem.
ambicioso, porque senão vai acabar Ser descontente é ser homem.
como uma besta Que as forças cegas se domem
o homem deve controlar as forças que o Pela visão que a alma tem! 4 impérios
impedem de sonhar e agir: medo, preguiça,
ódio e comodismo- “forças cegas” Antítese- dia claro/noite;
E assim, passados os quatro “dia claro” - esperança, paz,
profecia: assistirá ao momento da Tempos do ser que sonhou, vida futura mais positiva (5º
chegada do 5º império, mas é necessário A terra será teatro império); o que pode a
aceitar a morte de D. Sebastião inquietação do
Do dia claro, que no atro ” atro” - negro, escuro;
o futuro é o dia claro, o sol = “noite” - ignorância homem fazer no
Da erma noite começou.
conhecimento; futuro,
está a chegar o momento de
“noite” – metáfora do passado construção do
Grécia, Roma, Cristandade, dar origem ao 5º Império 5º Império
para a morte, Europa — os quatro se vão relembra os 4
desaparecimento Para onde vai toda idade. impérios passados
Quem vem viver a verdade
figura mítica; ponte entre
desencadeia o tudo que é nada, o Que morreu D. Sebastião? o passado e o futuro
aparecimento do mito (ficou) do animo
Interrogação retórica: não
do nacional; o eu faz um incentivo
adianta estarmos à espera
do salvado; vamso deixar de
lado a ideia de que não
Análise: podemos fazer nada

1ª estrofe- o sujeito poético perspetiva como triste as pessoas conformistas resignadas que aceitam tudo. Falta-lhes um
sonho (objetivo) que as faça sair da sua área de conforto (acomodas no seu lar). Para se viver tem que se sonhar.
2ª estrofe- quem vive satisfeito com aquilo que tem e não apresenta emoções é triste: pois passa o tempo a adiar a morte/
está apenas à espera da hora da morte. Triste de quem vive uma vida sem direção, rumo, objetivo, vive instintivamente sem
sonho sobrevivendo numa espécie de apatia. Alcançaram os objetivos por isso sentem-se realizados e felizes, mas depois não
têm mais objetivos/ ambição, sendo considerados tristes pelo sujeito poético.
Mensagem
5ª estrofe- faz-se um apelo para que os portugueses terminem o objetivo de D. Sebastião, de engradecer Portugal e para que
estes deixem de acreditar no regresso de D. Sebastião. O sujeito poético recorre a D. Sebastião para que o povo português o
tome como exemplar, reerga Portugal e construa um 5º Império, um império de valores, língua e cultura.

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1ª e 2ª estrofes) a vivência humana e a importância do sonho. Apologia ao sonho; Segui o sonho é o modo
de ultrapassar a comum dimensão humana;
 2ª parte- (2ª e 3ª estrofe) curso temporal em “eras” (vv11 e 12) e as “forças cegas” (v14);
 3ª parte- (4ª e 5ª estrofe) referência aos 4 impérios passados e chegada do 5º império (conclusão)

Perguntas:
1. Sentido do 6º verso: O verso remete para a infelicidade que, segundo o sujeito poético, caracteriza quem vive
acomodado, sem qualquer “sonho” (v. 3), de acordo com a vivência humana descrita nas duas primeiras estrofes.
2. Explicação da mudança de assunto concretizada na 3ª estrofe: Os vv. 11-12 introduzem a referência à passagem do
tempo e as três últimas quintilhas anunciam o advento de uma nova época, de um novo império – o Quinto Império (vv.
21-23) ligado à “verdade” da morte de D. Sebastião (vv. 24-25).
3. Nas duas últimas estrofes, confrontam-se os tempos passado/presente e futuro. A antítese dos versos 19-20 insinua o
surgimento do “dia claro” – o tempo futuro –, que se anuncia sob a égide espiritual dos portugueses, a partir da “noite”,
metáfora do passado. Sucedendo aos quatro anteriores, o Quinto Império deles diferirá pela sua natureza; será o
império da “verdade”, nascida com a morte de D. Sebastião.

D. Sebastião
O DESEJADO
há muito tempo, longe
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
estejas sepultado Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,


Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,


Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!
Mensagem
Perguntas:
1. O sujeito poético dirige-se, logo na primeira estrofe, a um interlocutor que não surge identificado, mas que é possível
reconhecê-lo a partir de algumas referências textuais.
1.1. Comprova a veracidade da afirmação, justificando o pedido feito pelo sujeito poético, na primeira estrofe.
D. Sebastião, o «desejado» (título do poema), é o interlocutor do sujeito poético, pelas claras alusões ao mito
sebastianista: o rei desaparecido encontra-se num lugar desconhecido, «remoto», «entre sombras», mas nunca foi
esquecido por um povo (o mito: «dizeres») que crê no seu regresso e, por isso, «sente-te sonhado» pelo povo que
anseia pelo seu regresso. Por isso, o sujeito poético pede-lhe para deixar de ser um espectro («fundo de não seres»),
«o ser que houve», e que cumpra o seu «novo fado», enquanto ser «que há».
2. Indica a situação do povo português que legitima o desejo de mudança manifestado pelo eu: O eu considera ser o
momento para ocorrer uma mudança, perante o estado de profundo sofrimento e de desolação do povo português («alma
penitente do teu povo»).
3. Estabelece uma relação entre as apóstrofes presentes no poema e a metáfora final, considerando os apelos do sujeito
poético ao seu interlocutor: As apóstrofes caracterizam D. Sebastião: é comparado a Galaaz em nobreza e carácter,
distinguindo-se deste por ter uma pátria concreta, Portugal («Galaaz com pátria»), e é apontado como «Mestre da Paz»,
como cavaleiro da Paz, da fraternidade universal. Assim, o sujeito poético reforça os apelos dirigidos a D. Sebastião: «erguer
de novo» a alma dos portugueses, através de um ato de paz, para um novo Portugal, desta vez espiritual («Eucaristia Nova»).
O seu «gládio ungido», a «Excalibur do Fim», simboliza a paz infinita do último Império, o Império do fim, ao iluminar o
«mundo dividido», revelando o «Santo Gral», isto é, o mito sebastianista traz a luz do conhecimento e da união a um mundo
obscuro e dividido, traz consigo a Paz universal.
4. Identifica no poema três aspetos da linguagem da Mensagem, documentando-os com um exemplo significativo: Aspetos
da linguagem e do estilo – a inversão da ordem habitual das palavras nas frases: «Onde quer que, entre sombras e dizeres, /
Jazas, remoto» (vv. 1-2), «Que sua Luz ao mundo dividido / Revele o Santo Gral!» (vv. 11-12); uso de adjetivos com
características abrangentes: «remoto» (v. 2) e «ungido» (v. 9); utilização de nomes conceituais: «alma» (v. 7), «Eucaristia» (v.
8), «Paz» (v. 9), «Fim» (v. 10),...; repetição do verbo erguer: «ergue-te» (v. 3), «erguer» (v. 5) e «ergue» (v. 9);...
5. Procede à análise da composição poética quanto à estrutura estrófica, métrica e rimática: O poema é composto por três
quadras, com versos decassilábicos («On/de/ quer/ que, en/tre/ som/bras/e/ di/ze/res»), à exceção do último verso de cada
estrofe que é hexassilábico («Pa/ra/ teu/ no/vo/fa/do»). A rima é cruzada ao longo de todo o poema
Mensagem
Calhou no exame 2015, 2ª fase

As ilhas- a solidão e o mistério (o


segredo à espera de revelação)
AS ILHAS AFORTUNADAS
a presença só se capta no sono através
pergunta retórica; remete para
Que voz vem no som das ondas de sinais auditivos e pelo som das ondas
um mistério que tentará ser
resolvido no restante poema Que não é a voz do mar? é uma voz incompreensível e apenas
É a voz de alguém que nos fala, audível em alguns momentos; a voz
Mas que, se escutamos, cala, cala-se assim que lhe é dada atenção,
Por ter havido escutar. atuando de forma inconsciente, num
novo plano do mito
a voz misteriosa é audível em momentos
E só se, meio dormindo,
de inconsciência, por exemplo quando
Sem saber de ouvir ouvimos, A voz diz para a Nação Portuguesa acreditar que
estamos quase a adormecer
Que ela nos diz a esperança Portugal voltará a ser um reino de grandes feitos;
A que, como uma criança Assim como “uma criança/ dormente”, Portugal
também se encontra neste estudo, perseguindo uma
Dormente, a dormir sorrimos.
realidade que se esvai à medida que se aproxima
Mito sebastianista: a voz misteriosa
pretende apelar aos portugueses que São ilhas afortunadas, Quando se desperta do estado de semiconsciência
mantenham viva a crença na grandiosidade São terras sem ter lugar, a voz do mar / a voz trazida pelo «som das ondas»
que irá renascer com o 5º Império (Ilhas Onde o Rei mora esperando. (v. 1) (associada a uma ideia de esperança),
Afortunadas) onde o rei se encontra. desaparece.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar. O regresso é apenas simbólico, logo a voz apenas
existência de um espaço
leva a Nação a manter vivos os pensamentos de
mítico onde o Rei se encontra
todos os feitos e conquistas de Portugal;
lugar do não tempo e do não espaço, Rei aguardar o momento de agir
Análise:
onde se encontra o Desejado que
virá fundar o 5º Império
As ilhas afortunadas são anunciadoras da ressurreição espiritual e moral, a voz de esperança que se impõe ao desespero,
dando resposta ao vazio e à mágoa de um país por cumprir com a promessa do regresso de um rei.

Integração do poema na 3ª parte da Mensagem:


A 3ª parte é um momento de inspiração sebástica, em que somos deparados com a imagem de um Império moribundo e
incompleto, restando-lhe apenas a fé na futura regeneração, prevista por símbolos e avisos.

Perguntas:
1. Condição necessária à manifestação da voz: Para que a voz se manifeste, é necessário que quem ouve se encontre
semiacordado, ou num estado de semiconsciência, sem procurar escutar essa voz – «Mas que, se escutamos, cala, / Por
ter havido escutar» (vv. 4-5); «E só se, meio dormindo, / Sem saber de ouvir ouvimos,» (vv. 6-7); «Mas, se vamos
despertando, / Cala a voz, e há só o mar.» (vv. 14-15).
2. Sentido dos dois últimos versos do poema: De acordo com o sentido dos dois últimos versos do poema, quando se
desperta do estado de semiconsciência: a voz do mar / a voz trazida pelo «som das ondas» (v. 1), associada a uma ideia
de esperança, desaparece; o mar passa a ser apenas uma realidade objetiva.
3. Mito sebastianista convocado no conteúdo da última estrofe: Na última estrofe, a esperança no regresso do Rei D.
Sebastião e, consequentemente, na possibilidade de resgatar a glória de Portugal está associada a aspetos como: a
existência de um espaço mítico onde o Rei se encontra – «São ilhas afortunadas, / São terras sem ter lugar,» (vv. 11-12),
e ao facto de o Rei aguardar o momento de agir – «Onde o Rei mora esperando.» (v. 13)
Mensagem
Calhou no exame 2018, 1ª fase

não apresenta título, sendo, por esse facto,


considerado como aquele em que o discurso (Terceiro: “Screvo meu livro à beira- mágoa”)
se identifica com o próprio Pessoa.
expressão da subjetividade/do mundo
Escrevo meu livro à beira-mágoa. interior/dos sentimentos do sujeito poético
dor/mágoa/tristeza/amargura devido
à desilusão/frustração sentida Meu coração não tem que ter.
relativamente à pátria do presente Tenho meus olhos quentes de água. 1ª pessoa do singular
Só tu, Senhor, me dás viver.
Esperança na vinda do «Senhor», a
Só te sentir e te pensar qual preenche o seu vazio interior
Anáfora: intensifica a Meus dias vácuos enche e doura.
ansiedade de quem deseja Mas quando quererás voltar? Interrogações: revelam a dor do
saber quando virá o Quando é o Rei? Quando é a Hora? presente e a ânsia da chegada da
«Senhor» e expressa a “Nova Terra” e dos “Novos Céus”.
incerteza quanto ao Quando virás a ser o Cristo
momento em que o De a quem morreu o falso Deus,
regresso do «Senhor» E a despertar do mal que existo
acontecerá (mas também da Anuncia a vinda do Encoberto, D. Sebastião
A Nova Terra e os Novos Céus? para pôr fim ao «mal» e criar «A Nova Terra
certeza da sua vinda);
e os Novos Céus» – vv. 11 e 12).
deseja a realização do Quando virás, ó Encoberto,
sonho dos portugueses Sonho das eras português, espera cumprir o que Deus quer
Tornar-me mais que o sopro incerto
visão subjetiva do destino nacional
De um grande anseio que Deus fez?
Profecia

Interjeição: expressar ansiedade/ Ah, quando quererás, voltando,


desejo do regresso de D. Sebastião Fazer minha esperança amor? sonho e a entidade divina inspiradora
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

Análise:
Este é o único poema de Mensagem que não apresenta título, sendo, por esse facto, considerado como aquele em que o
discurso se identifica com o próprio Pessoa.
O poema estrutura-se em torno do desencanto e da mágoa do poeta que sente os seus “dias vácuos”, o vazio que subjaz à
ruína do império, e que anseia pela chegada de um messias, de um salvador, que possa restituir a Portugal a grandeza
perdida – “Quando virás, Ó Encoberto,/Sonho das eras português”.

O predomínio das interrogações revela essa dor do presente e a ânsia da chegada da “Nova Terra” e dos “Novos Céus”.
Atende-se, ainda, na identificação realizada pelo sujeito poético entre o sonho e a entidade divina inspiradora – “Quando,
meu Sonho e meu Senhor?” – que o torna uma das forças impulsionadoras da vontade humana.

No final da Mensagem o poeta exprime a sua tristeza e vazio pela pátria à “beira-mágoa”. Quer anunciar a vinda do futuro,
“ser mais do que o sopro incerto/De um grande anseio que Deus fez”, mas tem já “os olhos quentes de água”.
Mensagem
Perguntas:
1. Estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos: na primeira estrofe, o sujeito poético demonstra
dor/mágoa/tristeza/amargura devido à desilusão/frustração sentida relativamente à pátria do presente. E, nos versos 4
a 6, demonstra a esperança na vinda do «Senhor», a qual preenche o seu vazio interior.
2. Recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema: intensifica a ansiedade de
quem deseja saber quando virá o «Senhor» e expressa a incerteza quanto ao momento em que o regresso do «Senhor»
acontecerá (mas também da certeza da sua vinda). Também apela para que o «Encoberto» volte (para pôr fim ao «mal»
e criar «A Nova Terra e os Novos Céus» – vv. 11 e 12).
3. Com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um profeta: anuncia a vinda
do «Encoberto» (D. Sebastião)/a construção do Quinto Império; deseja a realização do «Sonho das eras português» (v.
14); espera cumprir o «grande anseio que Deus fez» (v. 16); é o porta-voz de um desejo/sonho coletivo.
4. Características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema:
 recurso à primeira pessoa do singular em formas verbais, como «Screvo» (v. 1) ou «Tenho» (v. 3)/em
determinantes possessivos, como «meu» (vv. 1 e 2)/em pronomes pessoais, como «me» (v. 4);
 expressão da subjetividade/do mundo interior/dos sentimentos do sujeito poético, patente, por exemplo, no
verso «Meu coração não tem que ter.» (v. 2);
 visão subjetiva do destino nacional, evidenciada, por exemplo, nos versos «Quando virás, ó Encoberto, /Sonho
das eras português, / Tornar-me mais que o sopro incerto / De um grande anseio que Deus fez?» (vv. 13-16);
 recurso à interjeição para expressar ansiedade ou desejo em «Ah, quando quererás, voltando, / Fazer minha
esperança amor?» (vv. 17-18).

Metáfora: impossibilidade de ver; ideia de mistério; a força


construção paralelística; crise política
do mito Sebastianismo; o nevoeiro permite o surgimento de
e estagnação; o país perdeu a sua
PT
identidade; não tem como governar; NEVOEIRO
não está em guerra, mas está sempre
envolvido em pequenos conflitos o país vive em letargia; apatia do país.
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
paradoxo, oximoro: “fulgor” – Define com perfil e ser
brilho; “baço” - sem brilho
Este fulgor baço da terra
paradoxo: “brilho sem luz”- não há Que é Portugal a entristecer — melancólico
brilho sem luz; crise de identidade Brilho sem luz e sem arder elemento disfórico com que vive Portugal;
Comparação: compara Portugal com a Como o que o fogo-fátuo encerra. luminosidade produzida por vapores de
decomposição. Portugal está a “arder”
gases dos cadáveres em decomposição
com a sua própria decadência
Ninguém sabe que coisa quer.
anáfora crise de valores- retrato pessimista de Portugal
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem. discurso parentético, nota de
(Que ânsia distante perto chora?) esperança; sente o chamamento do
tom disfórico nos passado a manifestar-se no presente
Tudo é incerto e derradeiro.
adjetivos antíteses antítese
Tudo é disperso, nada é inteiro.
caracterização de um país decadente
Apóstrofe Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
metáfora: Portugal é apenas uma
É a Hora! sombra comparado com o que já foi
dirige-se aos portugueses; surgimento de Portugal; ideia de
“adeus irmãos”, apelo e Valete, Fratres recomeço, é o momento de dar origem a um novo ciclo
despedida; imperativo
Mensagem
Análise:
É com o nevoeiro que virá D. Sebastião.

Nevoeiro
Simboliza a indeterminação, a indefinição, a obscuridade e a promessa de um novo dia.
Tom melancólico.

Divisão do poema em partes:


 1ª parte- (1ª estrofe) nível político: Portugal sem identidade, indefinido, desordem, instabilidade política,
sem rumo, estagnação, incerteza e escuridão;
 2ª parte- (2ª estrofe e os vv14 e 15) nível pessoal: Portugal com falta de valores e integridade.

 caracterização negativa de Portugal;


 País fragmentado, mergulhado na incerteza, vivendo à sombra de um passado glorioso que morreu (v6). No entanto, o
nevoeiro que envolve Portugal traz a mudança; indicia um novo tempo anunciado pela exclamação final (v14) e pala
saudação latina (v15). é o tempo do 5º Império que dará à língua a cultura portuguesa uma dimensão eterna e universal.

2ª estrofe- crise de valores- Caracteriza o estado de Portugal: vivia sem paz, nem lei, nem guerra;
Tom melancólico:
 nem, nem…
 anáforas;
 adjetivação;
 repetição;
 sons nasais.
Predomina sons fechado, nasais e vocais.

Integração do poema na 3ª parte da Mensagem:


Neste último poema da Mensagem, Pessoa revela desencanto face à realidade portuguesa dos seus dias, simbolizando a
incerteza, a indeterminação, a obscuridade e a promessa de um novo dia.
Este nevoeiro, que não é físico, mas sim simbólico, revela a necessidade de uma revolta nacional a todos os níveis.

Perguntas:
1. O título do poema remete, metaforicamente, para Portugal.
1.1. A caracterização do país é feita através do uso de vocabulário que reenvia para a opacidade e a turvação de
Portugal: “fulgor baço” (v. 3), “Brilho sem luz” (v. 5), “fogo-fátuo”.
2. Portugal entristece porque não há estabilidade política (v. 1) e existe uma grande crise de valores sociais e morais (vv. 7-
9 e 11-12).
3. Na segunda estrofe, a anáfora dos pronomes indefinidos “Ninguém” (vv. 7-8) e “Tudo” (vv. 11-12) intensificam a ideia
do ambiente que envolve Portugal, um ambiente de incerteza, indecisão; O desalento é geral e a dispersão (típica do
nevoeiro) assume uma abrangência alargada, traduzida nas antíteses “tudo/nada” e “disperso/inteiro” (v. 12). Todo esse
tom é acentuado pela metáfora que associa Portugal a nevoeiro (“Portugal [...] és nevoeiro”, v. 13) e a apóstrofe, “Ó
Portugal”, apela ao interlocutor central do poema.
4. O verso colocado entre parênteses constitui uma nota discordante do sujeito poético, no tom pessimista do poema,
porque coloca uma hipótese, um desejo, algo que transmite esperança (“ânsia”) de quem deseja (“chora” [por]) o fim do
“nevoeiro”.
5. Nos últimos dois versos, o sujeito poético interpela Portugal, associando-o ao nevoeiro e anunciando uma nova “Hora”.
Nesse sentido, embora o nevoeiro pudesse entender-se, pela forma como o país é descrito ao longo do poema, como
“símbolo do indeterminado”, ele é também a marca de uma nova “fase da evolução”. Percebe-se que o poeta apela à
Mensagem
concretização de uma mudança e à criação de um novo tempo/império. Deste modo, o nevoeiro com que encerra a obra
é, de facto, “prelúdio da manifestação” do Quinto Império, para o qual os portugueses devem estar preparados – tal é a
intenção da saudação latina que incita à mudança e à renovação.

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