Resumo III-Mensagem-Fernando Pessoa
Resumo III-Mensagem-Fernando Pessoa
Resumo III-Mensagem-Fernando Pessoa
Um manifesto antifacilitismo
A obra de Fernando Pessoa é um manifesto antifacilitismo, contra o messianismo, a espera por alguém que nos leve,
dignifique e salve.
Ler a Mensagem é saber que há, na História e Línguas Portuguesas, por entre todos os elementos de sucesso e fracasso, de
exemplos a seguir e erros a condenar e corrigir, a receita de um futuro radioso. Mais do que isto, tal como Fernando
Pessoal o diz, que não precisamos de um S. Sebastião.
Nunca precisámos, porque ele sempre esteve no nosso corpo e na nossa alma, muito antes da derrota portuguesa de
Alcácer Quibir, em 1578.
A Mensagem diz-nos que o futuro que merecemos só chegará se lutarmos por ele. Cada vez com mais ações e menos
queixas. (o povo português só se sabe queixar).
História: D. Sebastião despareceu em Alcácer Quibir porque era inexperiente (foi para o exército impreparado), e desde aí
nunca mais apareceu o seu corpo, estando o povo português sempre à sua espera para que os salvasse.
A Obra Épica vive de contextos históricos, sociais, culturais e ainda da experiência do poeta.
O Renascimento dera a Camões a força anímica para incentivar os heróis e valorizar os feitos; a queda do Império e a perda
de identidade nacional, nos fins do século XIX e princípios do século XX, oferecendo a Pessoa motivos para a transmissão de
uma Mensagem de valorização do passado e esperança no futuro. A experiência de ambos levou-os, pois, para temas
comuns:
o passado- com as Descobertas Marítimas e a História de Portugal, semeados de heroísmo e aventura;
o presente- a arrastar-se no egoísmo mercenário, na falta de patriotismo, na deficiência de valores, no
esquecimento de um passado próximo, no descrédito pelas letras, afundando-se irremediavelmente até à falta de
identidade nacional.
O tema da Mensagem reside em Portugal e na sua história, trata-se de rever o sentido providencial e messiânico de Portugal
como país de um povo eleito por Deus, após êxitos (os Descobrimentos e a criação do Império) e fracassos (decadência
posterior à perda da independência em 1580), atingir o momento sagrado, de criação do Quinto Império (romano), um
império cultural e espiritual.
Em Mensagem, a história de Portugal é figurada de um modo providencialista, segundo um plano transcendente (superior
aos factos históricos positivos) definido pela:
Providência- Deus, deus, seres espirituais;
Messiânico- elevando o povo português a um plano espiritual redentor e salvador do mundo.
O título Mensagem consiste na tradução para português da palavra grega “Evangelho”.
Mensagem
A sua estrutura tripartida permite contar e refletir sobre a vida e o percurso de Portugal ao longo dos seus séculos:
2ª parte: Mar Português- realização e vida; Simboliza a essência do ideal de ser português, vocacionado para o mar
e para o sonho;
3ª parte: O Encoberto- Associado a D. Sebastião; morte e renascimento da pátria:
a desintegração e o presente de sofrimento e de magoa, pois “falta cumprir-se PT”;
O atual império.
Deus- “Deus quis que a terra fosse toda uma, que o mar se unisse e já não se separasse”;
homem- “sagrou-te” (escolheu-o com intensões sagradas)
Deus+ homem= obra- “foste desvendado a espuma”
O desejo divino de unir por via marítima a Terra levou à escolha e sagração do infante D. Henrique que, com a sua ação,
cumpriu a obra espiritualmente concebida.
O infante é representante de Deus, concretizador da sua obra.
Conquistas para Camões- viagens, enumera heróis do passado glorioso, ainda presente;
Fernando Pessoa- futuro glorioso, o passado histórico não resta nada, só vai lá buscar o que há de transcendente e simbólico.
- Associado a D. Sebastião
Morte
- O misterioso
Primeira Parte: Brasão
Mensagem
heróis da Odisseia de Homero,
que, segundo a lenda, no
ULISSES Afirmação, tese do poema, a partir da qual
regresso da guerra de Tria e no
caminho para Ítaca, sua terra se inicia o poema;
natal, terá aportado no local O mito é o nada que é tudo. O mito é algo sem fundamento, por isso o
onde se situa Lisboa, fundando a O mesmo sol que abre os céus sujeito poético considera-o como nada.
cidade. É um mito brilhante e mudo — Porém o mito e a incerteza conduzem e
transmitem esperança (tudo). - PARADOXO
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo. Referência ao sol;
Este poema serve-se da origem lendária de
remete para Ulisses (mito)
Portugal para explicar a importância do
Este, que aqui aportou,
mito: personificam valores e ideias, servem
paradoxo Foi por não ser existindo.
de estímulos de outras pessoas que os
Ulisses sendo uma figura Sem existir nos bastou. querem imitar
mitológica nunca “veio”, porém Por não ter vindo foi vindo
serviu de inspiração para os E nos criou.
portugueses, no sentido de
ultrapassar a mediocridade do Assim a lenda se escorre
presente. Se não houver um mito A entrar na realidade,
inspirador, Portugal morre de a lenda transforma e fecunda/cria a realidade
E a fecundá-la decorre.
apatia
conclusão
Em baixo, a vida, metade Na terra, a vida real e objetiva apaga-se para
De nada, morre. que o mito se engradeça e eternize
Análise:
Ulisses:
exemplo de coragem e bravura;
mítico fundador de Lisboa;
é um exemplo para os portugueses pela bravura, coragem, determinação que demonstrou na Odisseia de Homero.
História: Ulisses era um grego que estava na guerra e foi quem inventou o cavalo troia.
A Troia e a Grécia ficaram em guerra durante 10 anos, até que Ulisses teve a brilhante ideia de
fazer um cavalo de madeira onde cabiam os gregos, de modo a que os soldados entrassem na
cidade. O cavalo entrou como se fosse o fim da guerra, começando os habitantes da cidade a
celebrar com vinho e ficando alucinados (bêbados), então foi aí que os soldados saíram e
dominaram Troia. Ulisses considera-se poderoso e os deuses castigam-no, não podendo voltar
a casa.
(não demos)
Análise:
D. Dinis:
lavrador;
maior trovador português: cantigas de amigo (século XIV);
Mandou plantar pinhais em Leiria, prevendo a necessidade futura de madeira para a produção de naus
para a Expansão;
D. Dinis aparece como uma espécie de intérprete de uma vontade superior;
Trovador- poeta: criador de poesia autor de cantigas de amigo;
Plantador- criador do pinhal de Leiria (v2)
Sempre que Deus quer, ele faz determinado momento; altura em que
com que o homem haja- o homem D. JOÃO O PRIMEIRO uma nação atinge uma encruzilhada
é só o executante de Deus; nada é
à toa, tudo é comandado por O homem e a hora são um só presente, voz ativa
voz passiva
Deus; Deus é a causa eficiente Quando Deus faz e a história é feita.
enfatização da verdadeira O mais é carne, cujo pó
A terra está á espera do cadáver
natureza do homem, o corpo A terra espreita.
Ele não sabia o que lhe estava
torna-se pó (a morte é inevitável),
predestinado (ser rei e iniciar uma nova
mas a alma transcende tudo. Mestre, sem o saber, do Templo
época de Portugal); os filhos deles vão ser
D. João Mestre de Avis; Apóstrofe Que Portugal foi feito ser, importantes nos Descobrimentos
(chamamento)- relação do sujeito Que houveste a glória e deste o exemplo
ordem mais rica e poderosa de Portugal;
com o interlocutor De o defender,
símbolo do Homem e do Mundo.
Apóstrofe é conhecido
Teu nome, eleito em sua fama, um grande homem e guerreiro
altares que fez de tudo para salvar e
É, na ara da nossa alma interna, vida
Anáfora: dá a ideia que D. João I defender Portugal
A que repele, eterna chama,
nunca será esquecido e estará morte Antitéticos
A sombra eterna.
sempre vivo em todos os
quiasmo: a chama opõe-se à sombra
portugueses (eterna chama). No
entanto fisicamente ele está
morto e não entre nós (sombra repele o repouso, que seria o destino de Portugal
eterna). se perdesse a sua identidade como nação
Mensagem
Análise:
D João o Primeiro:
Cognome: o da boa memória- pois fez coisa memoráveis;
Pai do infante D. Henrique
Perguntas:
1. Conceção messiânica da História: A primeira quadra apresenta, através de afirmações de natureza axiomática, a atuação
do homem (herói) como decorrente do desejo divino. “Quando Deus faz” através do “homem”, “a história é feita”. É
essa conjugação do espírito celeste com o anseio dos predestinados que leva aos grandes feitos e garante a imortalidade
(o mito), pois a matéria é perecível: “O mais é carne, cujo pó/A terra espreita.” (vv. 3-4).
2. O modificador do nome “sem o saber” realça a predestinação do herói que, desconhecendo as implicações futuras da
sua atuação, veio a iniciar uma nova época na História de Portugal e uma nova geração que conduziu à expansão.
3. Com o uso da segunda pessoa, o sujeito poético dirige-se diretamente a D. João I, seu interlocutor, estabelecendo com
ele uma relação de proximidade e cumplicidade.
D. Sebastião:
Ambicioso;
Poema dirigido na 1ª pessoa, ou seja, a personagem está a fazer a sua autocaracterização.
Perguntas:
1. Com a repetição do adjetivo “louco” e o uso do advérbio de afirmação, o sujeito poético reforça a sua
autocaracterização.
2. Segundo o sujeito poético, a sua loucura é produto da sua ambição, do seu sonho de “grandeza” que a “Sorte” (o
destino) não dá sem que se empenhe algum esforço na sua concretização.
3. A mudança do pretérito perfeito para o presente do verbo “haver” no verso 5, realça a distinção entre a figura histórica
do rei, que existiu, e a sua dimensão mítica, que permaneceu no tempo.
4. Com os versos 6 e 7, o herói é apresentado como entidade inspiradora, de carácter exemplar, que deseja deixar a sua
marca nos outros, apelando a que os outros tenham a mesma ambição que ele teve.
5. A interrogação retórica encerra o poema através da exaltação do valor da loucura, enquanto traço distintivo dos seres
humanos.
6. A utilização da primeira pessoa denota a identificação do sujeito poético com D. Sebastião, a quem o poema é dedicado.
Assim, o discurso adquire maior credibilidade e valoriza-se a dimensão do herói, a partir de cujo exemplo se abordam
valores humanos universais.
7. Marcas do discurso épico: matéria histórica protagonizada por um herói nobre (social e moralmente).
Marcas do discurso lírico: a utilização da primeira pessoa verbal, a subjetividade na apresentação da realidade, mediada
pela perceção do “eu”, e a forma fragmentária.
Mensagem
Segunda Parte: Mar Português
Infante:
O escolhido de Deus.
Perguntas:
1. O 1º texto da segunda parte de Mensagem é dedicado ao Infante D. Henrique, uma vez que foi o impulsionador das
descobertas marítimas portuguesas. Nesse sentido, cabe-lhe o papel de protagonista primeiro da “Possessio Maris”
(posse do mar) anunciada na epígrafe da segunda parte.
2.1. O primeiro verso do poema apresenta a “obra” como consequência das ações de Deus e do Homem. Os grandes feitos
são revelações – teofanias – de Deus através do homem.
2.2. Os restantes versos exemplificam, com o caso do Infante, a teoria enunciada no verso 1. Assim, o desejo de Deus foi o de
que “a terra fosse toda uma” e “Que o mar unisse, já não separasse” (vv. 2-3). Para isso, inspirou o Infante, escolhendo-o
para essa missão (“Sagrou-te”, v. 4). Ele correspondeu e foi “desvendando a espuma” (v. 4), ou seja, explorando o mar;
desse modo, a obra nasceu.
3. Elementos textuais que, nas 2 primeiras quadras sugerem o Infante como figura unificadora: “Que o mar unisse, já não
separasse” (v. 3), “até ao fim do mundo” (v. 6), “a terra inteira” (v. 7).
4. O complexo verbal “foste desvendando” apresenta a ação como uma continuidade, como algo que não se concretizou
de uma só vez, mas sim de modo progressivo.
4.1. Outro recurso que contribui para o mesmo efeito: A gradação associada à atuação do Infante D. Henrique: começou
por desvendar “ilhas(s)” e “continente(s)”, chegando ao “fim do mundo”, desenhando, assim, os contornos da “terra
inteira”.
5. Nos dois últimos versos, em tom disfórico, o sujeito poético apela ao “Senhor” para que, desfeito o império material
conseguido através das navegações, contribua para a verdadeira realização de Portugal – o império espiritual (Quinto
Império).
Mensagem
Calhou no exame 1997
HORIZONTE
Apóstrofe
Ó mar anterior a nós, teus medos desconhecimento
Tinham coral e praias e arvoredos.
inovação ao mar, espaço por desconhecido
Desvendadas a noite e a cerração,
descobrir; Descobrimentos
As tormentas passadas e o mistério,
o caminho da viajem
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Esplendia sobre as naus da iniciação. segurança que permite realizar a travessia
dos mares, chegando ao Horizonte
Linha severa da longínqua costa — longínquo, mas grandioso e belo
Descobrimentos
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
movimento e aproximação
Em árvores onde o Longe nada tinha; progressiva
a visão e a descoberta de
um mundo novo a dominar Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores, Descobrimentos
oposição de palavras Onde era só, de longe a abstrata linha.
Perguntas:
1. Tema do texto e relação que apresenta com o título: o tema do texto remete-nos para os descobrimentos, o contacto
com mares e terras longínquas e desconhecidos, estabelecendo assim uma relação com o título “Horizonte “, como
projeto de ir mais longe.
2. Partes em que se estrutura o poema:
1ª parte: O caminho (a viagem) - 1ª estrofe;
2ª parte: A visão de um mundo novo- 2ª estrofe;
3ª parte: Interpretação simbólica do descobrir, impulso para o conhecer- 3ª estrofe.
3. “Desvendadas a noite e a cerração” … (v3)
3.1. Significado das palavras noite e cerração: significam o desconhecimento e o desconhecido;
3.2. Transformação numa oração subordinada conjuncional, sem alterar o sentido da frase: Depois que foram
desvendadas a noite e a cerração.
4. “se aproxima” (v8)- “mais perto” (v10)- “no desembarcar” (V11).
4.1. Efeito estilístico produzido por esta gradação: movimento e aproximação progressiva.
5. “O sonho é ver as formas invisíveis” (v13)
5.1. Palavras que se opõem: ver e invisíveis;
5.2. Classificação do elemento, constitutivo de uma delas, responsável por essa oposição: prefixo de
negação in-.
6. Há no poema a evocação de uma época histórica.
6.1. Expressões que se referem a aspetos dessa época: “As tormentas passadas e o mistério” (v4),
“Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta” (v8), “E, no desembarcar, há aves, flores,” (v11);
Mensagem
6.2. Razões da integração do poema na segunda parte da Mensagem: o poema é introduzido na 2ª parte
da Mensagem, “Mar Português”, uma vez que faz referência à expansão marítima.
7. Situação da Mensagem no universo poético pessoano: a Mensagem representa, no universo poético
pessoano, uma linha temática de nacionalismo, sebastianismo e uma linha estética simbolista.
Fosse a hora que haver ou a que havia Esta ação humana, a aventura da navegação, só
A mão que ao Ocidente o véu rasgou, foi possível pela conjugação da alma, «a Ciência»,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia e do corpo, «a Ousadia», dos navegadores
Da mão que desvendou.
Verifica-se uma relação completa do
corpo («Portugal») e da alma («Deus») Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal cumprimento da vontade divina,
A mão que ergueu o facho que luziu, predestinação de Portugal
que conduziu ao desvendamento do
mundo por descobrir. Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Deus quis e os portugueses lançaram- Da mão que o conduziu.
se na ação das descobertas
Perguntas:
1. Explicita a forma como a dualidade «o Ato e o Destino» se desenvolve ao longo do poema: O «Ato» e o «Destino»
surgem a par, ao longo do poema, num equilíbrio de forças, simbolizado por duas mãos humanas e pela dualidade corpo
e alma. O «Ato» corresponde à ação do Homem, que ultrapassou os obstáculos do desconhecido, primeiro afastando «o
véu», depois rasgando esse mesmo «véu». Esta ação humana, a aventura da navegação, só foi possível pela conjugação
da alma, «a Ciência», e do corpo, «a Ousadia», dos navegadores. O «Destino», equivalente à intervenção divina, a mão
que «ergue o facho trémulo e divino», estava traçado, por ser a vontade de Deus. Verifica-se, assim, uma relação
completa do corpo («Portugal») e da alma («Deus») que conduziu ao desvendamento do mundo por descobrir.
2. Comprova a predestinação de Portugal, fundamentando a tua resposta com elementos textuais pertinentes:
(predestinação significa que estava destinado desde a eternidade) A predestinação de Portugal está presente no
cumprimento da vontade divina («Foi Deus a alma e o corpo Portugal»), sendo o «Ato» feito por desígnio de uma força
oculta que orientou, a través da luz do «facho», os navegadores portugueses. Os vocábulos «Desvendámos», «a fasta»,
«véu», «rasgou», «desvendou» remetem primeiro para o mistério e, depois, para a revelação permitida pelo «facho que
luziu», pela vontade divina.
3. Identifica no poema duas características do discurso épico, documentando-as com exemplos significativos: a ação
coletiva de um povo, de qualidades excecionais («Ciência», «Ousadia»), capaz de executar feitos extraordinários,
gloriosos e singulares («afasta o véu», «o véu rasgou», «Desvendámos»); revelação da vontade divina e da
predestinação de Portugal («Foi Deus a alma e o corpo Portugal»); o significado superior e intemporal da busca:
Portugal «que ao Ocidente o véu rasgou»
Mensagem
o mar já está possuído (apropriação do mar pelos portugueses)
Apóstrofe- o sujeito poético
interpela o mar, introduzindo uma Apostrofe do mar salgado através de uma forma
MAR PORTUGUÊS
reflexão sobre a relação entre os emotiva (pontos de exclamação);
portugueses e o mar (conquista Hipérbole- o mar foi feito pelas lágrimas dos
marcada pelo sofrimento) Ó mar salgado, quanto do teu sal portugueses cujos familiares os abandonaram a si e à
São lágrimas de Portugal! pátria
Consequências das ambições dos
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, sacrifícios
portugueses- o mar foi tornado
Quantos filhos em vão rezaram!
português de uma forma difícil, pois lágrimas das famílias
houve muitos sacrifícios materiais, filiais Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! sugere a causa da dor (conquista do mar);
e matrimoniais:
“cruz” símbolo de sacrifício e da morte;
emocionais- dor e sofrimento;
Anáfora- aumenta o dramatismo da no passado, o sofrimento pertence ao passado
socioeconómicos- desamparo das
situação, pondo em causa o número
1ªfamílias;
reflexão- qualquer Valeu a pena? Tudo vale a pena interrogação retórica;
de vidas perdidas; realça o facto de o
esforço/sacrifício
políticas- despovoamento
vale a penadoquando
reino Se a alma não é pequena. momento de reflexão
sacrifício afetar as famílias e diversas
é feito por determinação, altruísmo e Quem quer
pessoas para passar além se
que o sonho do Bojador O sujeito poético diz-nos que é necessário
não se espera nada em troca. Tem que passar além da dor.
concretizasse ultrapassar e persistir aos obstáculos; apelo à
Metáfora: o mar representa as Deus ao mar o perigo e o abismo deu, capacidade de sacrifício, persistência e resistência
dificuldades, mas também a glória. Mas nele é que espelhou o céu. semelhanças fónicas;
Quem domina o mar, conquistou a
Bojador- sacrifício, metáfora
glória e o céu; quem for persistente, reflete o céu, tudo o que é
quem conseguir ultrapassar os difícil de alcançar possui as anástrofe
obstáculos e correr riscos, obterá o melhores recompensas
prémio/recompensa
Análise:
O título do poema mostra que valeu a pena sonhar, ter a alma grande, ainda que tenha sido preciso sofrimento, e uma
vez mais, se faz o elogio do sonho do desejo do desconhecido, temas que perpassam toda a obra.
1ª estrofe- existe um longo lamento do sujeito poético que, utilizando a 1ª pessoa e dirigindo-se ao mar, recorda o
“preço “da dor que os portugueses tiveram que ultrapassar aquando dos Descobrimentos. Fazendo uso de um discurso
épico (Lusíadas), o “eu” poético reforça a dor, o sofrimento e o despovoamento do reino, culpabilizando o mar. É de
realçar que esta estrofe tem uma estrutura circular, ou seja , o “eu” poético começa e finaliza com uma apóstrofe ao
mar;
2ª estrofe- o sujeito poético, utilizando a 3ª pessoa e através do caracter lírico, interroga-se sobre se os sacrifícios
valeram a pena, para depois concluir da necessidade de dominar o medo, de sonhar, se o objetivo é concretizar os
nossos sonhos.
Perguntas:
1. A apóstrofe ao “mar” introduz a entidade a quem o sujeito poético recorda, de forma emotiva, todas as dificuldades e
todos os sacrifícios que os portugueses fizeram na sua conquista.
2. Recurso expressivo, que na 1ª estrofe, contribui para o tom épico (heroico) do texto: A repetição (em anáfora nos versos
4 e 5) reforça a quantidade e a diversidade (em termos de género e parentesco) daqueles que sofreram na conquista do
mar, principalmente o sofrimento do sexo feminino.
3. Na segunda sextilha, a partir da interrogação retórica, o sujeito poético desenvolve uma reflexão sobre o valor dos
sacrifícios anteriormente apresentados e a necessidade de superar contratempos para realizar os sonhos.
4. A primeira afirmação destaca o valor da determinação em todas as conquistas; com empenho, tudo merece “a pena”,
ou seja, o sofrimento para atingir um fim.
A segunda afirmação alude ao cabo Bojador como metáfora dos objetivos a alcançar, que exigem, frequentemente,
“dor”; por isso, quem deseja conquistar algo tem de superar os obstáculos que se lhe deparem. A última afirmação
salienta a conjugação, no “mar”, do “perigo” e do “abismo” com o “céu”, salientando a ideia de que tudo o que é
verdadeiramente custoso tem a sua faceta compensatória.
5. O adjetivo “Português” no título deste poema, remete para a conquista e domínio dos mares pelos portugueses, que,
com o sofrimento e a sua coragem, fizeram com que existisse apenas o “mar” conhecido.
Calhou no exame 2011, 2ª fase
Mensagem
simboliza uma viajem ao interior, o caminho que
desejamos implica uma serie de reprovações;
refere a partida sem retorno de D. A última nau para essas viagens.
Sebastião em Alcácer Quibir no
norte de África; é o penúltimo A ÚLTIMA NAU D. Sebastião vai a bordo
poema da 2ª parte da Mensagem
Análise:
O sujeito poético acredita no que D. Sebastião simboliza.
Perguntas:
1. A “última nau” partiu, sozinha (“Erma”, v. 5) e envolta num ambiente “aziago”, como se refere a propósito do sol (v. 4),
marcado pelos “choros de ânsia e de pressago / Mistério” (vv. 5-6), que sugeriam e anunciavam, desde logo, o futuro
trágico que veio a confirmar-se: “Não voltou mais.”
2. A colocação do nome “Império” no final do poema associa-o ao regresso de D. Sebastião, anunciado nessa estrofe, que
concretizará o Quinto Império de que cuja ideia o poeta se ocupará na terceira parte de Mensagem. [De notar que o
poema surge imediatamente após “Mar Português” e é o penúltimo da segunda parte da obra, fazendo a ligação entre o
império material e o império espiritual reservado aos portugueses.]
3. Aspetos que nos versos de 1 a 12, se referem ao mito sebastianista:
o desaparecimento misterioso da «última nau» e de D. Sebastião – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v.
1); «Foi-se a última nau» (v. 4); «Mistério.» (v. 6); «Não voltou mais.» (v. 7);
a associação do desaparecimento da «última nau» e de D. Sebastião ao fim do Império português – «Levando
a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo, como um nome, alto o pendão / Do Império, / Foi‑se a última nau»
(vv. 1 a 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
o pressentimento de desgraça associado à partida da nau – «Foi-se a última nau, ao sol aziago / Erma, e entre
choros de ânsia e de pressago / Mistério.» (vv. 4 a 6);
as incertezas quanto ao destino de D. Sebastião – «A que ilha indescoberta / Aportou?» (vv. 7 e 8);
as expectativas quanto ao regresso de D. Sebastião – «Voltará da sorte incerta / Que teve? / Deus guarda o
corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro / E breve.» (vv. 8 a 12).
Mensagem
4. Modo como o sujeito poético e o povo português reagem ao desaparecimento da «última nau», na 3ª estrofe: o povo
português, perante o desaparecimento da «última nau», na qual seguia D. Sebastião, reage com desânimo (v. 13), já o
sujeito poético manifesta uma viva crença no regresso de D. Sebastião e no Império que ele simboliza (vv. 14 a 18).
O sujeito poético não associa o não regresso da nau a um desaparecimento definitivo. Antes, reconhecendo a “sorte
incerta” (v. 8) que lhe coube, sugere, através das interrogações retóricas, que terá atracado numa ilha cuja localização se
desconhece (“ilha indescoberta”, v. 7), aguardando, assim, “a hora” do regresso de D. Sebastião.
5. Relação entre o conteúdo da última estrofe com a pergunta «Voltará da sorte incerta/ Que teve?», formulada nos
versos 8 e 9: Na última estrofe, o sujeito poético responde afirmativamente à pergunta enunciada nos versos 8 e 9,
apresentando: o regresso de D. Sebastião e do Império que ele simboliza como uma certeza obtida por intuição –«sei
que há a hora» (v. 19); «Surges ao sol em mim» (v. 22); «trazes o pendão ainda / Do Império.»(vv. 23 e 24); e
apresentando o momento exato em que esse acontecimento terá lugar como uma incerteza – «Não sei a hora» (v. 19);
«Demore-a Deus» (v. 20); «Mistério.» (v. 21).
6. Características do discurso épico:
uso narrativo da 3.ª pessoa – «Foi-se a última nau» (v. 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
importância conferida à História – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v. 1);
mitificação de um herói – «Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro / E
breve.» (vv. 10 a 12)
7. Características do discurso lírico:
expressão da subjetividade, evidente no uso da primeira pessoa – «minha alma» (v. 14); «em mim» (vv. 16 e
22); «Vejo» (v. 17); «Não sei» (v. 19); «sei» (v. 19) – e no uso da interjeição – «Ah» (v. 13);
aproximação entre o sujeito e o destino nacional, patente na convicção intuitiva de que o mito será
concretizado (vv. 16 a 18; vv. 22 a 24)
e volte às conquistas
1.
Mensagem
Caracterize o momento presente tal como é representado na primeira estrofe: A perceção que o “eu” tem do
momento atual é transmitida pela utilização metafórica do vocábulo “noite” simbolizando o fim e o vazio associados a
uma “alma vil”. No presente, nada resta das glórias e conquistas do passado nem do (re)conhecimento “universal” do
mar, o que provoca uma enorme saudade geradora de desânimo. Conclui‐se, assim, que o presente é dominado pela
prostração e abatimento.
2. Efeitos de sentido produzidos pela exclamação «Tanta foi a tormenta e a vontade!» (verso 2): Ao igualar a força da
“vontade” à da “tormenta”, o “eu” enaltece a coragem e a dimensão heroica dos portugueses, que nunca se furtaram à
dor e às aflições. Tendo vencido os tormentos e obstáculos, marcaram indelevelmente a História gloriosa de Portugal, ao
contrário do que acontece no presente, que se afigura triste, nubloso e marcado pela ausência de ambição.
3. Relação entre a referência à «chama, que a vida em nós criou» (verso 5) com o sentimento sugerido no verso 8: A
“chama” referida no verso 5 é uma alusão à força dos portugueses que os incentivou e empurrou, no passado, para
vastos e fecundos projetos, criadores de glória. No verso 7, afirma‐se que essa luz e esse fogo não morreram
completamente, apenas se encontram encobertos pelas cinzas. Assim, e relacionando os vários versos da estrofe,
afirma‐se que, uma vez que ainda há vida (verso 6), ainda há esperança e, portanto, a “chama” pode ser reavivada até
pela força “do vento” (verso 8). Implicitamente, o “eu” transmite uma mensagem de ânimo e confiança.
4. Interprete o sentido da última estrofe, tendo em conta o título e a apóstrofe presente no primeiro verso do poema:
Tal como é referido no título, o poema é uma “prece”. No verso 1, está expresso o vocativo, “Senhor”; seguidamente,
faz‐se uma caracterização dos tempos vividos – o passado glorioso e o presente sem brilho – e só na última estrofe é
retomada a súplica, como se verifica pelo imperativo “dá”. O “eu” pede o impulso, a força (“o sopro, a aragem”)
necessários para reavivar a chama (“o esforço se remoça”) de modo a que Portugal recupere o fulgor e volte às
conquistas, sejam do mar, sejam outras; o que se pretende é que os portugueses obtenham de novo glórias (“outra vez
conquistemos a Distância”).
Mensagem
Terceira Parte: O Encoberto
O QUINTO IMPÉRIO
opinião do sujeito poético sem fazer nada, a adiar
Triste de quem vive em casa,
Paradoxo: triste são as pessoas sem
sonhos e sem objetivos Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
expressão do “eu”; em Faça até mais rubra a brasa
contrapartida, o sujeito poético
Da lareira a abandonar! vermelha
prefere a espiritualidade, o sonho
conforto/ segurança homem
ideias comuns; o sujeito Triste de quem é feliz! comum em
poético vive contente, Vive porque a vida dura. Paradoxo que falta o
uma vez que prefere o Nada na alma lhe diz vive para adiar a morte sonho e alma
sonho e a espiritualidade Mais que a lição da raiz —
Frase basilar. Ter por vida a sepultura.
Porque está sempre em busca de algo
para melhorar, evoluir; Eras sobre eras se somem
O homem deve estar descontente e ser No tempo que em eras vem.
ambicioso, porque senão vai acabar Ser descontente é ser homem.
como uma besta Que as forças cegas se domem
o homem deve controlar as forças que o Pela visão que a alma tem! 4 impérios
impedem de sonhar e agir: medo, preguiça,
ódio e comodismo- “forças cegas” Antítese- dia claro/noite;
E assim, passados os quatro “dia claro” - esperança, paz,
profecia: assistirá ao momento da Tempos do ser que sonhou, vida futura mais positiva (5º
chegada do 5º império, mas é necessário A terra será teatro império); o que pode a
aceitar a morte de D. Sebastião inquietação do
Do dia claro, que no atro ” atro” - negro, escuro;
o futuro é o dia claro, o sol = “noite” - ignorância homem fazer no
Da erma noite começou.
conhecimento; futuro,
está a chegar o momento de
“noite” – metáfora do passado construção do
Grécia, Roma, Cristandade, dar origem ao 5º Império 5º Império
para a morte, Europa — os quatro se vão relembra os 4
desaparecimento Para onde vai toda idade. impérios passados
Quem vem viver a verdade
figura mítica; ponte entre
desencadeia o tudo que é nada, o Que morreu D. Sebastião? o passado e o futuro
aparecimento do mito (ficou) do animo
Interrogação retórica: não
do nacional; o eu faz um incentivo
adianta estarmos à espera
do salvado; vamso deixar de
lado a ideia de que não
Análise: podemos fazer nada
1ª estrofe- o sujeito poético perspetiva como triste as pessoas conformistas resignadas que aceitam tudo. Falta-lhes um
sonho (objetivo) que as faça sair da sua área de conforto (acomodas no seu lar). Para se viver tem que se sonhar.
2ª estrofe- quem vive satisfeito com aquilo que tem e não apresenta emoções é triste: pois passa o tempo a adiar a morte/
está apenas à espera da hora da morte. Triste de quem vive uma vida sem direção, rumo, objetivo, vive instintivamente sem
sonho sobrevivendo numa espécie de apatia. Alcançaram os objetivos por isso sentem-se realizados e felizes, mas depois não
têm mais objetivos/ ambição, sendo considerados tristes pelo sujeito poético.
Mensagem
5ª estrofe- faz-se um apelo para que os portugueses terminem o objetivo de D. Sebastião, de engradecer Portugal e para que
estes deixem de acreditar no regresso de D. Sebastião. O sujeito poético recorre a D. Sebastião para que o povo português o
tome como exemplar, reerga Portugal e construa um 5º Império, um império de valores, língua e cultura.
Perguntas:
1. Sentido do 6º verso: O verso remete para a infelicidade que, segundo o sujeito poético, caracteriza quem vive
acomodado, sem qualquer “sonho” (v. 3), de acordo com a vivência humana descrita nas duas primeiras estrofes.
2. Explicação da mudança de assunto concretizada na 3ª estrofe: Os vv. 11-12 introduzem a referência à passagem do
tempo e as três últimas quintilhas anunciam o advento de uma nova época, de um novo império – o Quinto Império (vv.
21-23) ligado à “verdade” da morte de D. Sebastião (vv. 24-25).
3. Nas duas últimas estrofes, confrontam-se os tempos passado/presente e futuro. A antítese dos versos 19-20 insinua o
surgimento do “dia claro” – o tempo futuro –, que se anuncia sob a égide espiritual dos portugueses, a partir da “noite”,
metáfora do passado. Sucedendo aos quatro anteriores, o Quinto Império deles diferirá pela sua natureza; será o
império da “verdade”, nascida com a morte de D. Sebastião.
D. Sebastião
O DESEJADO
há muito tempo, longe
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
estejas sepultado Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Perguntas:
1. Condição necessária à manifestação da voz: Para que a voz se manifeste, é necessário que quem ouve se encontre
semiacordado, ou num estado de semiconsciência, sem procurar escutar essa voz – «Mas que, se escutamos, cala, / Por
ter havido escutar» (vv. 4-5); «E só se, meio dormindo, / Sem saber de ouvir ouvimos,» (vv. 6-7); «Mas, se vamos
despertando, / Cala a voz, e há só o mar.» (vv. 14-15).
2. Sentido dos dois últimos versos do poema: De acordo com o sentido dos dois últimos versos do poema, quando se
desperta do estado de semiconsciência: a voz do mar / a voz trazida pelo «som das ondas» (v. 1), associada a uma ideia
de esperança, desaparece; o mar passa a ser apenas uma realidade objetiva.
3. Mito sebastianista convocado no conteúdo da última estrofe: Na última estrofe, a esperança no regresso do Rei D.
Sebastião e, consequentemente, na possibilidade de resgatar a glória de Portugal está associada a aspetos como: a
existência de um espaço mítico onde o Rei se encontra – «São ilhas afortunadas, / São terras sem ter lugar,» (vv. 11-12),
e ao facto de o Rei aguardar o momento de agir – «Onde o Rei mora esperando.» (v. 13)
Mensagem
Calhou no exame 2018, 1ª fase
Análise:
Este é o único poema de Mensagem que não apresenta título, sendo, por esse facto, considerado como aquele em que o
discurso se identifica com o próprio Pessoa.
O poema estrutura-se em torno do desencanto e da mágoa do poeta que sente os seus “dias vácuos”, o vazio que subjaz à
ruína do império, e que anseia pela chegada de um messias, de um salvador, que possa restituir a Portugal a grandeza
perdida – “Quando virás, Ó Encoberto,/Sonho das eras português”.
O predomínio das interrogações revela essa dor do presente e a ânsia da chegada da “Nova Terra” e dos “Novos Céus”.
Atende-se, ainda, na identificação realizada pelo sujeito poético entre o sonho e a entidade divina inspiradora – “Quando,
meu Sonho e meu Senhor?” – que o torna uma das forças impulsionadoras da vontade humana.
No final da Mensagem o poeta exprime a sua tristeza e vazio pela pátria à “beira-mágoa”. Quer anunciar a vinda do futuro,
“ser mais do que o sopro incerto/De um grande anseio que Deus fez”, mas tem já “os olhos quentes de água”.
Mensagem
Perguntas:
1. Estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos: na primeira estrofe, o sujeito poético demonstra
dor/mágoa/tristeza/amargura devido à desilusão/frustração sentida relativamente à pátria do presente. E, nos versos 4
a 6, demonstra a esperança na vinda do «Senhor», a qual preenche o seu vazio interior.
2. Recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema: intensifica a ansiedade de
quem deseja saber quando virá o «Senhor» e expressa a incerteza quanto ao momento em que o regresso do «Senhor»
acontecerá (mas também da certeza da sua vinda). Também apela para que o «Encoberto» volte (para pôr fim ao «mal»
e criar «A Nova Terra e os Novos Céus» – vv. 11 e 12).
3. Com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um profeta: anuncia a vinda
do «Encoberto» (D. Sebastião)/a construção do Quinto Império; deseja a realização do «Sonho das eras português» (v.
14); espera cumprir o «grande anseio que Deus fez» (v. 16); é o porta-voz de um desejo/sonho coletivo.
4. Características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema:
recurso à primeira pessoa do singular em formas verbais, como «Screvo» (v. 1) ou «Tenho» (v. 3)/em
determinantes possessivos, como «meu» (vv. 1 e 2)/em pronomes pessoais, como «me» (v. 4);
expressão da subjetividade/do mundo interior/dos sentimentos do sujeito poético, patente, por exemplo, no
verso «Meu coração não tem que ter.» (v. 2);
visão subjetiva do destino nacional, evidenciada, por exemplo, nos versos «Quando virás, ó Encoberto, /Sonho
das eras português, / Tornar-me mais que o sopro incerto / De um grande anseio que Deus fez?» (vv. 13-16);
recurso à interjeição para expressar ansiedade ou desejo em «Ah, quando quererás, voltando, / Fazer minha
esperança amor?» (vv. 17-18).
Nevoeiro
Simboliza a indeterminação, a indefinição, a obscuridade e a promessa de um novo dia.
Tom melancólico.
2ª estrofe- crise de valores- Caracteriza o estado de Portugal: vivia sem paz, nem lei, nem guerra;
Tom melancólico:
nem, nem…
anáforas;
adjetivação;
repetição;
sons nasais.
Predomina sons fechado, nasais e vocais.
Perguntas:
1. O título do poema remete, metaforicamente, para Portugal.
1.1. A caracterização do país é feita através do uso de vocabulário que reenvia para a opacidade e a turvação de
Portugal: “fulgor baço” (v. 3), “Brilho sem luz” (v. 5), “fogo-fátuo”.
2. Portugal entristece porque não há estabilidade política (v. 1) e existe uma grande crise de valores sociais e morais (vv. 7-
9 e 11-12).
3. Na segunda estrofe, a anáfora dos pronomes indefinidos “Ninguém” (vv. 7-8) e “Tudo” (vv. 11-12) intensificam a ideia
do ambiente que envolve Portugal, um ambiente de incerteza, indecisão; O desalento é geral e a dispersão (típica do
nevoeiro) assume uma abrangência alargada, traduzida nas antíteses “tudo/nada” e “disperso/inteiro” (v. 12). Todo esse
tom é acentuado pela metáfora que associa Portugal a nevoeiro (“Portugal [...] és nevoeiro”, v. 13) e a apóstrofe, “Ó
Portugal”, apela ao interlocutor central do poema.
4. O verso colocado entre parênteses constitui uma nota discordante do sujeito poético, no tom pessimista do poema,
porque coloca uma hipótese, um desejo, algo que transmite esperança (“ânsia”) de quem deseja (“chora” [por]) o fim do
“nevoeiro”.
5. Nos últimos dois versos, o sujeito poético interpela Portugal, associando-o ao nevoeiro e anunciando uma nova “Hora”.
Nesse sentido, embora o nevoeiro pudesse entender-se, pela forma como o país é descrito ao longo do poema, como
“símbolo do indeterminado”, ele é também a marca de uma nova “fase da evolução”. Percebe-se que o poeta apela à
Mensagem
concretização de uma mudança e à criação de um novo tempo/império. Deste modo, o nevoeiro com que encerra a obra
é, de facto, “prelúdio da manifestação” do Quinto Império, para o qual os portugueses devem estar preparados – tal é a
intenção da saudação latina que incita à mudança e à renovação.