Artigo Técnico - Edicao - 215 - N - 1767

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artigos técnicos

Os perigos advindos de válvulas de ar em


sistemas adutores e duas soluções eficazes
testadas computacionalmente
Data de entrada:
The perils of air valves in water mains and two effective 03/08/2017

solutions tested computationally Data de aprovação:


05/12/2017

Elias Sebastião Amaral Tasca*/Edevar Luvizotto Junior/José Gilberto Dalfré Filho


DOI: 10.4322/dae.2019.001

Resumo
Neste trabalho, mostrou-se a importância do controle da expulsão de ar por meio de válvulas ventosas. Como
pano de fundo, fez-se breve exposição sobre válvulas ventosas e sobre transitórios hidráulicos. A adutora do es-
tudo de caso é composta por tubos de PVC DN 200 mm e tem 1570,0 m de extensão. Simulou-se, computacio-
nalmente, o transitório hidráulico nesta adutora devido ao desligamento repentino do sistema de bombeamen-
to. Esse transitório gerou sobrepressões demasiadamente elevadas. Nesse contexto, o uso de válvulas ventosas
sem controle de expulsão de ar acarretou em pressões máximas até 80,8 mH2O (44,8 mH2O na média) maiores
do que na situação sem instalação de válvulas ventosas. Duas maneiras para controlar a expulsão de ar foram
sugeridas. Para uma dessas maneiras, propõe-se um dispositivo com placa de orifício. Com o controle da expul-
são de ar, conseguiu-se obter pressões máximas abaixo dos limites definidos pelas características da adutora.
Palavras-chave: Válvulas de ar. Transitórios hidráulicos. Adutoras. Simulação.

Abstract
In the present paper, the importance of controlled air expulsion through air valves is substantiated. A brief expo-
sition about air valves and about hydraulic transients is presented. The water main of the case study is composed
of PVC DN 200 mm and has a length of 1570.0 m. It was simulated, computationally, the hydraulic transient
that comes from the abrupt turning off of the pumping system. This transient generated overpressures great-
er than the permitted ones. In this context, the use of air valves without air expulsion control generated maxi-
mum pressures even 80.8 mH2O (44.8 mH2O on average) greater than in the situation without any air valves. Two
ways to control air expulsion were presented. For one of these ways, a device with an orifice plate was proposed.
With air expulsion control, it was possible to obtain maximum pressures bellow the maximum allowed pressure.
Keywords: Air valves. Hydraulic transients. Water mains. Simulation.

Elias Sebastião Amaral Tasca – Mestre em engenharia civil pela Unicamp e doutorando na FEC-Unicamp.
Edevar Luvizotto Junior – Doutor em engenharia civil pela USP. Pós-doutorado na Universidade Politécnica de Valência. Docente da FEC-Unicamp.
José Gilberto Dalfré Filho – Doutor em engenharia civil pela Unicamp. Pós-doutorados na Universidade Politécnica de Milão e na Universidade de
Toronto. Docente da FEC-Unicamp.
*Endereço para correspondência: Rua Saturnino de Brito, 224, Cidade Universitária Zeferino Vaz, CEP: 13083-889. Campinas – São Paulo. E-mail:
[email protected].

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1 INTRODUÇÃO luna líquida e a válvula ventosa, gera uma onda de


Em sistemas de adução de água, os bolsões de ar sobrepressão que pode resultar em pressões além
podem ser responsáveis por transitórios hidráuli- dos limites de resistência da adutora.
cos perigosos (RAMEZANI et al., 2015). O ar desses
No processo de enchimento de uma adutora, se-
bolsões tem duas origens principais: ar que sai da
gundo AWWA (2016), a velocidade do escoamento
solução com a água transportada e ar externo que
adentra na adutora. deve ser de no máximo 0,3 m/s, para que o golpe
de aríete resultante não seja excessivo. De manei-
O ar sai da solução com a água devido à queda de ra análoga, deve-se limitar a velocidade de expul-
pressão a jusante de válvulas semiabertas, escoa- são de bolsões de ar. Dessa forma, diminui-se a
mento em cascata em tubos não completamente velocidade de aproximação das colunas líquidas
cheios, variação da velocidade do escoamento por na fase final da expulsão e, em consequência, a
causa de mudança de diâmetro ou de declividade, intensidade do golpe de aríete associado.
alterações no perfil da linha, variação de tempera-
tura ou pressão (AWWA, 2016).
2 VÁLVULAS VENTOSAS
Quando, por causa de um transitório hidráulico, 2.1 Tipos de válvulas ventosas
a pressão interna fica abaixo da pressão atmos- As válvulas ventosas podem ser instaladas em
férica, de acordo com Azevedo Netto (1971), o ar
sistemas hidráulicos para permitir a expulsão ou
pode entrar das seguintes maneiras: por meio do
a admissão de ar. Existem três tipos principais de
poço de sucção, de reservatórios, quando houver
válvulas ventosas (RAMEZANI et al., 2015):
bastante agitação ou nível baixo na tomada de
água, de juntas de válvulas, de juntas de tubos. • Válvulas para remoção de ar: essas válvulas ven-
tosas também são chamadas de válvulas ventosas
Com o intuito de expulsar o ar, faz-se uso de vál-
de efeito automático ou de alta pressão, pois ex-
vulas ventosas. Segundo Koelle (2000), porém,
pulsam automaticamente pequenas bolsas de ar
válvulas de tríplice função sem controle de ex-
que vão se acumulando em pontos elevados do
pulsão de ar não devem ser usadas para prote-
perfil da adutora, na câmara da válvula ventosa,
ção do sistema contra transitórios hidráulicos. É
na situação de operação normal, ou seja, situação
comum que o rompimento de adutoras aconteça
pressurizada. Os diâmetros dos orifícios variam de
nas vizinhanças de válvulas ventosas sem con-
trole de expulsão. 1,0 mm até 5,0 mm.

Tubos com grandes diâmetros merecem atenção • Válvulas anti-ar/vácuo: essas válvulas ventosas
especial, pois podem sofrer colapso se a pressão são também chamadas de válvulas ventosas de
interna ficar muito reduzida. Para evitar pressões efeito cinético ou de baixa pressão. Essa desig-
muito baixas, válvulas ventosas anti-ar/vácuo ou nação se deve ao fato de essas válvulas ventosas
de tríplice função podem ser usadas. Dessa for- operarem somente quando a adutora não está
ma, admite-se ar para impedir o vácuo interno, pressurizada. Não servem, portanto, para remover
formando, em consequência, um bolsão de ar que pequenas quantidades de ar acumulado na câma-
separa duas colunas líquidas. Assim que a pressão ra da ventosa durante a operação normal. Servem
interna se restabelece, ultrapassando a pressão para a expulsão e para a admissão de grandes va-
atmosférica, inicia-se a expulsão do ar, que termi- zões de ar durante as operações de enchimento e
na quando as colunas líquidas se reencontram. A esvaziamento. Os diâmetros dos orifícios variam
colisão entre as colunas líquidas, ou entre uma co- de 50,0 mm até 200,0 mm.

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• Válvulas de tríplice função: essas válvulas ventosas • Em subidas longas, válvulas de tríplice função ou
combinam as funções dos dois tipos anteriormente válvulas anti-ar/vácuo devem ser usadas, distan-
descritos. Um modelo comum desse tipo de válvula ciadas de 400,0 m até 800,0 m.
ventosa possui dois flutuadores: o flutuador maior
• Em trechos horizontais longos, é necessário ins-
atua na função da válvula ventosa anti-ar/vácuo e o
talar válvulas de tríplice função nas extremidades
flutuador menor atua na função de válvula para re- e válvulas para remoção de ar ou válvulas de trí-
moção de ar. Essas válvulas ventosas agem em três plice função na região intermediária com certo
momentos distintos: expulsão de ar no enchimento, espaçamento. O espaçamento deve estar na faixa
entrada de ar na drenagem e eliminação de peque- de 400,0 m até 800,0 m.
nas quantidades de ar durante a operação normal.
• Deve-se instalar válvula de remoção de ar a
montante de medidores de vazão do tipo Venturi.

2.2 Localizações de válvulas ventosas • Deve-se instalar válvula de remoção de ar ou válvula


anti-ar/vácuo, com válvula de retenção para impedir
A distribuição adequada das válvulas ventosas ao
a admissão, no ponto mais elevado de um sifão.
longo do perfil é essencial para o funcionamento
eficiente e seguro de uma adutora. Tem-se a seguir • Indica-se que válvulas anti-ar/vácuo devem ser
uma lista dos pontos onde as válvulas ventosas de- instaladas na região de descarga de poços pro-
vem ser instaladas de acordo com AWWA (2016): fundos e bombas de eixo vertical para permitir a
saída do ar durante a partida da bomba e a entra-
• Válvulas ventosas de tríplice função devem ser da de ar quando a bomba for desligada.
instaladas em todos os pontos altos do perfil da
adutora. Azevedo Netto (1971) faz as seguintes recomen-
dações adicionais:
• Válvulas ventosas de tríplice função devem ser
instaladas em pontos em que há um aumento do • Recomenda-se o uso de válvulas ventosas a
módulo da declividade negativa em um trecho de montante e a jusante de válvulas de parada.

descida. Válvulas ventosas nesses pontos servem • Recomenda-se o uso de válvulas ventosas a
para evitar formação de vácuo e separação de co- montante de reduções de diâmetro.
lunas de água.
Para Aquino (2013), deve-se instalar uma válvula
• Válvulas ventosas devem ser instaladas em pon- anti-ar/vácuo a jusante de uma bomba e após a
tos de redução de declividade de trechos ascen- sua válvula de retenção. Servirá para expulsar ar
dentes. Deve-se usar válvula anti-ar/vácuo ou durante o processo de partida da bomba e para
válvula de tríplice função nesse caso. admitir ar quando a bomba for desligada.

• Durante o esvaziamento, a ação de uma válvu-


la anti-ar/vácuo ou válvula de tríplice função ao
2.3 Golpe de aríete e expulsão de ar por
lado de uma válvula de drenagem pode ser essen-
válvulas ventosas
cial para evitar pressões muito baixas.
A intensidade do golpe de aríete, quando a vál-
• Em descidas longas, válvulas para remoção de ar vula ventosa é atingida por uma coluna líquida, é
ou válvulas de tríplice função devem ser usadas, função da Equação de Joukowsky, indicada pela
distanciadas de 400,0 m até 800,0 m. Equação 1 (TULLIS, 1989).

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ΔH. Uma maneira de reduzir ΔV é por meio da expul-


são controlada (mais lenta) do ar pela válvula ventosa.
 (1)

Na Equação 1, ΔH é a variação da carga hidráulica


em mH2O, a é a celeridade de propagação da onda 3 METODOLOGIA
de pressão em m/s, ΔV é a variação da velocidade 3.1 Dispositivo proposto para controle da
da água ao chegar na ventosa em m/s e g é a ace- expulsão de ar
leração da gravidade em m/s². Propõe-se, neste trabalho, um dispositivo para o
A celeridade de propagação da onda de pressão controle da expulsão de ar por válvulas ventosas,
pode ser calculada pela Equação 2, sendo fun- mostrado na Figura 1. O dispositivo deve ser co-
ção das características da tubulação e do fluido nectado ao orifício de saída da válvula ventosa.
(TULLIS, 1989). Apesar da norma C512-07 da AWWA recomendar
uso de ferro dúctil para dispositivos desta natu-
reza (AWWA, 2008), indica-se aqui o uso de PVC,
(2) uma vez que o dispositivo estará exposto a pres-
sões moderadas.

O trecho horizontal do dispositivo, que tem uma de


Na Equação 2, K é o módulo volumétrico do líquido
suas extremidades conectada à válvula ventosa, é
em Pa, que para a água vale 2,2×109 Pa; E é o mó-
responsável pela expulsão de ar. Ligado ao trecho
dulo de Young do tubo em Pa; D é o diâmetro do
horizontal, tem-se um trecho vertical que é respon-
tubo em m; C depende das condições de ancora-
sável pela admissão. No trecho vertical, tem-se uma
gem; ρ é a massa específica do líquido em kg/m³; e
válvula de retenção de ar, permitindo o escoamento
e é a espessura da parede do tubo em m.
somente como indicado pela seta adjacente.
A Equação 1 pode ser reescrita por meio da Equa-
No trecho horizontal, tem-se uma placa de orifí-
ção 3 (TULLIS, 1989).
cio. A medição da vazão de ar na expulsão pode
ser feita com base nos valores de queda de pres-
são por causa da presença da placa de orifício. Os
(3) valores mínimos de XD e YD devem ser estabeleci-
A Equação 3 é válida quando os incrementos de dos de modo a permitir medições precisas. O tap
variação de velocidade acontecerem dentro do de pressão a montante da placa deve ficar a uma
período da tubulação, que é dado pela Equação 4 distância D da placa. Já o tap de pressão a jusante
(TULLIS, 1989). deve ficar a uma distância D/2, conforme reco-
mendado por Fox et al. (2006).
 (4)
Li et al. (2009) mencionam que a simples instala-
ção de um elemento com orifício reduzido na saí-
da da válvula ventosa pode ser capaz de mitigar
Na Equação 4, T é o período da tubulação em s, L
sobrepressões transitórias através do controle da
é o comprimento da tubulação em m e a é celeri-
expulsão de ar. Porém, um ponto negativo desta
dade de propagação da onda de pressão em m/s.
abordagem é a consequente diminuição da capa-
Por meio das Equações 1 e 3, pode-se concluir que a cidade de admissão de ar. Esta inconveniência não
diminuição de ΔV implicará na desejável redução de ocorre com a aplicação do dispositivo da Figura 1.

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Figura 1: Dispositivo proposto para controle da expulsão de ar por válvulas ventosas.

3.2 Adutora do Estudo de Caso Tabela 1: Comprimentos dos trechos da adutora.

O estudo de caso deste trabalho refere-se a Trecho Comprimento (m) Trecho Comprimento (m)
1-2 42 7-8 210
uma adutora real. A Tabela 1 mostra os com- 2-3 158 8-9 170
primentos dos trechos da adutora, sendo que 3-4 140 9-10 545
4-5 64 10-11 99
o comprimento total vale 1570,0 m. As per-
5-6 76 11-12 26
das localizadas serão desprezadas, visto que o 6-7 40
comprimento da adutora é superior a 5000×D =
5000×0,2 = 1000,0 m. Esse critério é indicado
A Figura 2 apresenta o posicionamento altimétri-
por Luvizotto Junior (2010).
co da tubulação, sendo que o desnível geométrico
total é 70,8 m. A cota mínima do reservatório de
sucção é 671,8 m e a cota máxima do reservatório
de chegada é 742,5 m.

Figura 2: Perfil da adutora estudada.

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O material das tubulações é PVC do tipo de DE- 3.4 Software para simulação
FoFo. Os tubos da adutora principal têm diâmetro
A análise computacional de transitórios hidráu-
interno de 204,2 mm, com espessura de parede de
licos é essencial para a verificação da segurança
8,9 mm. Os demais tubos têm diâmetro interno de
de instalações que têm válvulas ventosas instala-
108,4 mm, com espessura de 4,8 mm. A tubula-
das (AWWA, 2016). Usou-se para as simulações o
ção de sucção tem um diâmetro comercial acima
software HAMMER, da Bentley Systems.
da tubulação de recalque, segundo o que é reco-
mendado por Porto (2006). Os tipos de válvulas ventosas oferecidos por este
software são os seguintes: anti-ar/vácuo (double ac-
Considerando o material dos tubos e valores de
ting), fechamento lento (slow closing), tríplice função
diâmetro e espessura, temos as seguintes pressões
(triple action) e quebra-vácuo (vacuum breaker).
de projeto para a adutora principal: pressão máxi-
ma em regime permanente de 100,0 mH2O e pres- No caso da válvula ventosa anti-ar/vácuo, deve-se
são máxima em regime transitório de 120,0 mH2O. definir o diâmetro do orifício de expulsão de ar e o
diâmetro do orifício de admissão. Para a válvula de trí-
A bomba tem as seguintes características: bomba
plice função, deve-se estabelecer a maneira pela qual
afogada com válvula de retenção do tipo portinhola
será feita a troca do orifício de expulsão, que pode ser
dupla; bomba seccionada KSB ETA 100-50/2; rotor
com base em um volume ou pressão de transição. De-
de 340,0 mm; rotação de 1760,0 rpm; rendimento
ve-se, então, definir os diâmetros dos dois orifícios de
de 70,0%; potência de 60,0 HP; inércia do conjunto
expulsão e do orifício de admissão de ar.
motor-bomba de 2,5 kg×m²; vazão de projeto de
38,9 L/s; altura manométrica de 89,0 mH2O; e dis-
tância de 10 m do reservatório inferior. 3.5 Simulação de desligamento do conjunto
motor-bomba

3.3 Definição dos pontos de instalação das A manobra simulada neste trabalho é referente ao
válvulas ventosas desligamento repentino do conjunto motor-bomba.
Nessa situação, uma onda de pressão negativa parte
Será instalada uma válvula ventosa anti-ar/vácuo
do conjunto motor-bomba para o restante da adutora.
no ponto P2 a jusante da bomba e de sua respectiva
válvula de retenção, conforme indicado por Aquino Nesse contexto, as válvulas ventosas vão admitir
(2013). Nos pontos P7 e P10, tem-se diminuição da ar para evitar o vácuo. Quando a pressão for res-
declividade do trecho ascendente e, portanto, em tabelecida, o ar admitido será expulso, resultan-
cada um desses pontos será instalada uma válvula do na colisão entre colunas líquidas, gerando-se,
de tríplice função, como indicado por AWWA (2016). assim, grandes surtos de pressões positivas. As
Com a configuração descrita até agora, ter-se-ia um estratégias serão testadas quanto à eficácia na
trecho demasiadamente longo de subida entre os mitigação das ondas de sobrepressão.
pontos P7 e P10 sem presença de válvula ventosa.
A válvula ventosa com dispositivo com placa de
Por esse motivo, uma válvula ventosa anti-ar/vácuo
orifício acoplado foi simulada como sendo uma
será instalada no ponto P9.
válvula anti-ar/vácuo com diâmetro de entrada
Conforme também recomendado por AWWA (2016), de 3 cm e diâmetro de saída de 1 cm. A solução
o tubo que liga a válvula ventosa à adutora deve ter com válvula gaveta a montante da ventosa foi
declividade ascendente na direção da válvula ventosa. simulada usando-se tubos longos o bastante de
Neste estudo de caso, optou-se por tubos de ligação modo a evitar que o software precisa-se ajustar
com 6,0 m de comprimento e declividade de 25,0%. estes comprimentos excessivamente.

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Apenas como dimensionamento preliminar, para 3.6 Estratégias para controle da expulsão de ar
efeito deste trabalho, considera-se a recomenda-
Koelle (2000) sugere o uso de válvula de retenção
ção de Koelle (2000), que indica um diâmetro de
com furos e mola de ação logo a montante da vál-
orifício da ordem de 10,0% do valor do diâmetro
vula ventosa como estratégia para controlar a ex-
da adutora principal. Para a adutora deste estudo
pulsão de ar. Quando o ar entra pela válvula ven-
de caso, teríamos um valor de 2,0 cm para o orifí-
tosa, a válvula de retenção com furos não interfere
cio da válvula ventosa. O valor adotado nas simu-
na passagem do ar, e este escoa livremente. Li et
lações é de 3,0 cm, que deve ser suficiente para as
al. (2009) também indicam essa solução. Quando
operações quase-estáticas na adutora.
ocorre expulsão, a válvula de retenção com furos
Como referência para dimensionamento das vál- se fecha com a chegada da água, dificultando o
vulas ventosas, para as situações quase-estáticas escoamento devido à diminuição da área aberta
de enchimento, drenagem e operação normal, da seção transversal do tubo.
tem-se o manual M51 da AWWA (AWWA, 2016).
De acordo com Koelle (2000), pode-se também
Azevedo Netto (1971) cita também as formu-
controlar a expulsão de ar com a aplicação de
lações de Parmakian e de Sweeten. Mais recen-
tubo de imersão. Nesse caso, quando a abertura
temente, Bianchi et al. (2007) desenvolveram
inferior do tubo de imersão ficar submersa, have-
fórmulas práticas para o dimensionamento de
rá ar preso no domo de acumulação, que só po-
válvulas ventosas. Duas condições foram conside-
derá sair pelo pequeno orifício do furo de alívio.
radas: máxima sobrepressão permissível e máxi-
Supostamente haverá amortecimento do golpe
ma velocidade de enchimento.
devido ao bolsão de ar acumulado no domo. Esse
O tempo de simulação adotado foi de 40 s, bas- sistema, que é apresentado na Figura 3, tem o in-
tante superior ao período da adutora, que é de conveniente de gerar obstrução na seção trans-
apenas 7,6 s. versal do tubo.

Figura 3: Tubo de imersão para válvula ventosa, adaptado de Koelle (2000).

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As estratégias usadas neste trabalho para o con- 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO


trole da expulsão de ar são as seguintes: Em uma primeira etapa, comparou-se o com-
portamento das seguintes configurações: au-
• A tubulação que liga a válvula ventosa à adutora
sência de válvulas ventosas ao longo da aduto-
tem uma válvula de retenção que só permite o es-
ra; válvulas ventosas sem controle de expulsão
coamento da válvula ventosa para a adutora. Em
de ar; válvulas ventosas com controle de expul-
paralelo com essa tubulação, existe uma válvula
gaveta aberta com 1,0 cm de diâmetro. Essa con- são de ar por meio de válvulas do tipo gaveta,
figuração está apresentada na Figura 4. conforme a Figura 4; e válvulas ventosas com
dispositivos de controle acoplados, conforme
a Figura 1. Os resultados dessa primeira etapa
estão nas Figuras 5 e 6.

Pela Figura 5, observa-se que a pressão de va-


por da água é atingida quando não são usadas
válvulas ventosas ou quando estas são usadas
sem controle de expulsão. A aplicação do dis-
positivo proposto, assim como a aplicação da
válvula gaveta, impediu que a pressão atingisse
a pressão de vapor.

Em relação às pressões máximas, Figura 6, ob-


serva-se que a situação em que não há nenhuma
válvula ventosa resulta em pressões máximas me-
nores (na média 44,8 mH2O menores, desconside-
rando-se os reservatórios) do que na situação em
Figura 4: Válvula gaveta em paralelo ao tubo de que há válvulas ventosas sem controle de expul-
ligação para controle da expulsão de ar.
são de ar. No ponto onde a bomba está instalada,
a pressão máxima com as válvulas ventosas sem
• O dispositivo proposto neste trabalho é conectado controle de expulsão é 80,8 mH2O maior do que
ao orifício de saída da válvula ventosa conforme Figu- quando não se tem ventosas instaladas. Isso mos-
ra 1. O diâmetro da sua placa de orifício é de 1,0 cm. tra que o controle da expulsão é essencial.

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Figura 5: Pressões mínimas no desligamento da bomba para diversas configurações de adutora.

As pressões, porém, para o caso sem válvulas ven- Usando-se o dispositivo proposto, encontram-se,
tosas, estão além do valor máximo aceitável de na média, pressões máximas 11,9 mH2O menores
120,0 mH2O. Com o uso do dispositivo acoplado do que no caso em que não há presença de vál-
às válvulas ventosas, conseguiu-se pressões má- vulas ventosas. O ponto em que ocorreu maior re-
ximas abaixo do limite, exceto para o ponto onde dução da pressão máxima transitória foi P2, com
está a bomba, com pressão máxima de 123,3 uma redução de 25,3 mH2O.
mH2O. A diferença de 3,3 mH2O, porém, não deve Usando-se a válvula gaveta em paralelo, encon-
ser problemática. A configuração com válvulas do tram-se, na média, pressões máximas 19,7 mH2O
tipo gaveta a montante das ventosas mostrou pe- menores do que no caso em que não há válvulas
quena vantagem em relação à configuração com ventosas. O ponto em que ocorreu maior redução
o dispositivo proposto, sendo todas as pressões da pressão máxima transitória foi na bomba, com
máximas inferiores ao limite. uma redução de 28,1 mH2O.

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Figura 6: Pressões máximas no desligamento da bomba para diversas configurações de adutora.

Na segunda etapa, tendo em vista a eficácia das Testou-se o uso de controle de expulsão com válvu-
duas maneiras de controlar a expulsão de ar, foi la gaveta a montante da válvula ventosa em pontos
verificada a possibilidade de reduzir a quantidade únicos da adutora, mantendo-se os outros pontos
de pontos de controle da expulsão, sem prejudicar com válvulas ventosas sem controle de expulsão.
a adutora em relação aos transitórios. Os resultados destes testes estão na Figura 7.

Figura 7: Comparação de diversas configurações usando válvula gaveta a montante de válvula ventosa.

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Observa-se que há uma tendência de ter resulta- se conseguir um resultado equivalente àquele de
dos melhores para pontos de aplicação do contro- quando se faz controle da expulsão em todos os
le de expulsão que estão em cotas mais elevadas, pontos com válvula ventosa, pois excede em ape-
com exceção do ponto P7, que se revela mais im- nas 6,3 mH2O o valor limite no ponto da bomba.
portante do que o ponto P9. Isso se deve, talvez, Tem-se assim uma economia de recursos.
ao fato de que o ponto P7 é um ponto em que há
grande diminuição da declividade ascendente, ao Na figura 8, têm-se os resultados dos testes rea-
passo que o ponto P9 é apenas um ponto interme- lizados com controle de expulsão por meio do
diário. A sequência de localização do controle de dispositivo proposto, análogo ao que foi feito
expulsão por meio da válvula gaveta, indo da pior no caso da Figura 7. A sequência de localização
situação para a melhor, é a seguinte: P2, P9, P7, do controle de expulsão por meio do dispositivo
sem válvulas ventosas, P10, e P7 junto com P10.
proposto, indo da pior situação para a melhor, é a
Além disso, conclui-se que o uso de controle da seguinte: P2, P9, P7, P10, sem válvulas ventosas,
expulsão nos pontos P7 e P10 é suficiente para e P7 junto com P10.

Figura 8: Comparação de diversas configurações usando dispositivo proposto acoplado à válvula ventosa.

Com o uso do dispositivo proposto nos pontos P7 e Em relação ao uso de válvula gaveta em P7 e P10,
P10, sendo as outras válvulas ventosas sem controle, comparado ao uso do dispositivo proposto nes-
não se obteve uma situação aceitável na bomba. Nes-
tes mesmos pontos, encontrou-se diferença de
se ponto, a pressão máxima excede em 12,3 mH2O o
6,5 mH2O na média. A maior diferença, porém,
valor aceitável, aproximadamente o dobro de excesso
de pressão que ocorre no caso com válvula gaveta. foi de 21,0 mH2O.

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artigos técnicos

5 CONCLUSÕES 6 AGRADECIMENTOS
Por meio deste trabalho, mostrou-se que é es- Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-
sencial para a segurança e eficiência de adutoras tífico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro
para realização desta pesquisa.
o controle da expulsão de ar por meio de válvulas
ventosas. A ausência de controle de expulsão pode
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
acarretar em pressões demasiadamente elevadas, AQUINO, G. A. Caracterização do escoamento de ar em aduto-
muito maiores do que no caso sem instalação de ras e válvulas ventosas. 2013. 138 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
válvulas ventosas.
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, 2013.

A aplicação de válvula gaveta a montante da vál- AWWA. AWWA C512-07 Air-Release, Air/Vacuum, and Combi-
nation Air Valves for Waterworks Service. 2. ed. Denver, 2008.
vula ventosa para controle da expulsão se mos-
AWWA. Manual of water supply practices-M51: Air valves: air-re-
trou bastante eficaz. Pode-se regular o grau de
lease, air/vacuum and combination air valves. 2. ed. Denver, 2016.
abertura da válvula gaveta como desejado. Esse
AZEVEDO NETTO, J. Ventosas. In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE
fato é uma vantagem dessa concepção em re- ENGENHARIA SANITÁRIA. [S.l.: s.n.], 1971.
lação ao uso de válvula de retenção com furos e BIANCHI, A.; MAMBRETTI, S.; PIANTA, P. Practical formulas for the
mola de ação. dimensioning of air valves. J. Hydraul. Eng., v. 133, n. 10, p. 1177-
1180, 2007.
O dispositivo proposto neste trabalho também se FOX, R. W.; MCDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à
mostrou eficaz. Precisa-se, porém, de mais pon- Mecânica dos Fluidos. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

tos com controle de expulsão para se conseguir os KOELLE, E. Análise de válvulas de ar e ventosas. São Paulo: Sa-
besp, 2000.
mesmos resultados obtidos com o uso da válvula
LI, G.; BAGGETT, C. C.; ROSARIO, R. A. Air/vacuum valve breakage
gaveta, apesar dos diâmetros serem iguais.
caused by pressure surges: analysis and solution. In: WORLD EN-
VIRONMENTAL AND WATER RESOURCES CONGRESS 2009: GREAT
O dispositivo proposto possui algumas caracte- RIVERS, 2009, Kansas City. Proceedings… Kansas City: ASCE, 2009.
rísticas positivas que se destacam: simplicidade
LUVIZOTTO JR, E. Sistemas de transporte fluido: bombas e aduto-
e baixo custo; pode ser acoplado a válvulas ven- ras. Campinas: LHC-DRH-Unicamp, 2010.

tosas já instaladas sem a necessidade de grandes PORTO, R. M. Hidráulica Básica. 4. ed. São Carlos: EESC-USP,

alterações nas configurações do sistema; pode- 2006.

-se medir a vazão de ar na expulsão, com uso de RAMEZANI, L.; KARNEY, B.; MALEKPOUR, A. The challenge of air
valves: a selective critical literature review. J. Water Resour. Plann.
transdutor de pressão nos taps de montante e de Manage., v. 141, 2015.
jusante da placa de orifício; não apresenta risco de TULLIS, J. P. Hydraulics of Pipelines: pumps, valves, cavitation,
entupimento; simples manutenção e substituição. transients. New York: John Wiley and Sons, 1989.

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