Artigo Canto Coral

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Canto Coral: Uma estratégia para musicalizar

Aldinéa Alcântara da Paixão


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Resumo: O artigo tem como objetivo analisar o desenvolvimento da prática de musicalização


através do projeto Musicanto na Escola Municipal de ensino fundamental Ana Paula dos
Santos e Santos, situada no município de Castanhal - Pará; refletir sobre a relevância do ensino
da música no aprendizado da criança; identificar a importância de um trabalho pedagógico
direcionado para o processo do desenvolvimento da aprendizagem da música. Diferente das
escolas especializadas em músicas, conservatórios, por exemplo, a Escola Ana Paula não
oferecia suporte razoável para a prática das atividades musicais, visto a falta de instrumento
para acompanhamento, espaço adequado, etc. Os sujeitos da pesquisa foram os alunos do 6º
ano da disciplina de Arte. A presente pesquisa é qualitativa, com base revisão bibliográfica,
bem como pesquisa de campo com experiências vivenciadas em sala de aula com registros de
imagem; e a resultante de um trabalho árduo culminado em um recital denominado de “Um
Natal de Paz” o qual alcançou um resultado satisfatório no contexto de aprendizagem,
mostrando que o empenho e desejo de produzir algo significativo pode superar as
dificuldades.
Palavras-chave: Música. Canto. Musicalização.

Introdução

A música é mais que conteúdo obrigatório, ela é essencial à vida humana, ao


desenvolvimento cognitivo e emocional. Nesse sentido, a prática musical colabora para a
ampliação da concentração, bem como a capacidade de socialização, oportuniza, desenvolve
a criatividade, ou seja, mostra-se benéfica aos indivíduos, por isso há várias razões para que
ela se configure como uma prática importante e fundamental no contexto escolar.
A obrigatoriedade do ensino da música como componente curricular nas escolas de
educação básica não deveria ser apenas em decorrência de uma lei sancionada e sim, pelos
seus benefícios, pela contribuição incontestável no desenvolvimento da criança.
A oportunidade de desenvolver um trabalho musical, diante do contexto social e
econômico da escola pública Ana Paula dos Santos e Santos no município Castanhal no Pará,
nos possibilita uma análise sobre a relevância de um trabalho de musicalização com crianças
do 6ª ano do ensino fundamental.

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O artigo tem como objetivo compreender a importância do ensino musical no
desenvolvimento da criança, identificar a importância de um trabalho de musicalização
direcionado e analisar as práticas musicais realizadas no projeto Musicanto.
O trabalho foi desenvolvido baseado em revisões bibliográficas, pesquisa de campo
com experiências vivenciadas em sala de aula com registros de imagem (áudio visual) e análise
das atividades desenvolvidas na execução do projeto.

Fundamentação teórica

A música tem sido alvo de discussões a respeito de sua relevância na vida das pessoas.
Vários especialistas como educadores, músicos, psicólogos, estudam o desenvolvimento
cognitivo, psicomotor, emocional e social na vida daqueles que vivenciam uma atividade
musical (BASTIAN, 2009, p.7).
Há mais de dois mil anos Sócrates comentou que "[...] a educação mediante a música
é a mais primorosa, pois o ritmo e a harmonia penetram o mais profundamente possível no
íntimo da alma e lhe conferem elegância e encanto" (BASTIAN, 2009, p. 28). Os pensadores e
educadores da antiguidade deram à música uma posição especial, pois, promovia a educação,
enobrecia o ser humano e suavizava a sua existência.

A música faz vibrar completamente a "pessoa"; é nossa oportunidade de


personalização humana de um "eu definido". Por conseguinte, a música é
mais do que um luxo ou adorno. E a música é precisamente mais do que
“cobertura de bolo" no dia a dia; ela é elixir vital indispensável (BASTIAN,
2009, p. 34).

A arte musical amplia o conhecimento do indivíduo a respeito do mundo e de seu


próprio meio, torna-o mais participativo de sua cidadania, levando-o a experienciar a vida
cultural, a explorar o meio circundante e a compreender o processo de transformação vivido
pelo meio. De acordo com Iavelberg “Quem conhece arte amplia sua participação como
cidadão, pois pode compartilhar de um modo de interação único no meio cultural”
(IAVELBERG, 2003, p.9). O indivíduo que experimenta uma prática musical, que leva em
consideração sua vivência sonora, tem a oportunidade de firma-se como pessoa atuante em

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seu contexto cultural. A música é forma de comunicação não verbal, agrega valor simbólico, e
constitui um elo entre o eu e o mundo.
A arte é uma atividade essencialmente humana, e é através dela que o homem cria
significações em sua relação com o meio. Penna afirma que “[...] o fazer é uma atividade
intencional, uma atividade criativa, uma construção - construção de formas significativas [...]"
(PENNA, 2008, p. 18). O fazer musical é uma criação humana, com a utilização de técnicas, a
construção de variados instrumentos musicais, a organização dos sons, variando e
diferenciando conforme o contexto histórico e social.
Para Penna a música não é uma linguagem universal e sim um fenômeno universal,
tendo em vista que cada cultura constrói um fazer musical com sua peculiaridade. A música
como linguagem é construída com significação por uma cultura. "[...] a música é uma
linguagem artística culturalmente construída [...]" (PENNA, 2008, p.22).
A música também é fundamentada no ponto de vista pedagógico-cultural. O homem
é um ser cultural; é criador e criatura da cultura; não há na história uma cultura sem música.
As linguagens artísticas acontecem em um tempo/espaço; com a linguagem musical não é
diferente. Segundo Martins, falar de uma obra de arte sem falar de tempo/espaço é como
desconsiderar todo um contexto histórico existente em cada produção artística. Se a obra de
arte é uma produção humana, devemos considerar que o artista é um indivíduo que viveu em
um tempo/espaço com todas as suas peculiaridades (MARTINS, 2009, p 54).
O artista é um ser atuante em seu tempo que expressa em sua obra à influência
absorvida do contexto histórico vigente. "A arte nasce em alguma circunstância de
tempo/espaço histórico do homem e desse contexto se nutre, se alimenta, daí sua
temporalidade." (MARTINS, 2009, p. 54). Através da educação musical, o aluno torna-se
criador de cultura, expressando as influências vivenciadas em seu tempo/espaço,
caracterizando o momento da criação.
Na fundamentação teórico-didática, observa-se a etimologia da palavra escola que
no grego scholae significa - palavra, descanso, lazer erudito. No entanto, "viu-se a escola
decair sempre mais para a condição de instituição de ensino (escola didática)." (BASTIAN 2009,
p. 37).

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A integralização do indivíduo na cultura é um fator decisivo para o processo de
internalização de conceitos pré-estabelecidos culturalmente. A escola tem o papel de fazer a
criança avançar em sua compreensão de mundo a partir de seu desenvolvimento já
consolidado e tendo como meta etapas posteriores, ainda não alcançadas.
O papel da escola é dirigir o ensino para estágios de desenvolvimento ainda não
vivenciados pelos alunos; ela deve funcionar como um motor de novas conquistas
psicológicas. O aluno não alcançaria com êxito o aprendizado sem a instrução, o
direcionamento e a assistência fornecida pelo educador. “[...] A criança não tem condições de
percorrer, sozinha, o caminho do aprendizado [...]” (OLIVEIRA, 1997, p. 62).
Para que haja desenvolvimento e aprendizado é necessário um trabalho de
musicalização direcionado tendo sempre a convicção de seus objetivos a serem alcançados.
Um trabalho que leve em consideração a experiência vivida pelo aluno e etapas coerentes que
indiquem um caminho e um destino a chegar.

A música e sua importância para a educação

Muito se fala a respeito dos efeitos da música e da prática musical para a educação.
E para compreender tais efeitos, todas as informações a respeito dos benefícios da música na
educação, serão baseadas na utilização dos resultados de uma pesquisa feita pelo professor
doutor Hans Günther Bastian.
Nessa pesquisa científica realizada entre 1992 a 1998, um grupo de pesquisadores
realizou um estudo de longo prazo com sete escolas do ensino fundamental de Berlim com o
objetivo de analisar "[...] a influência de uma educação musical ampliada sobre o
desenvolvimento geral e individual das crianças" (BASTIAN, 2009, p. 126).
O público escolhido por Bastian e seus colaboradores foram crianças do ensino
fundamental, essas, dividas em dois grupos: grupo modelo e grupo de controle. As crianças
do grupo modelo recebiam uma educação musical expandida com duas horas semanais de
aula de música e o grupo de controle não recebeu nenhum tratamento musical especial.
Depois de um período com uma prática musical constante, Bastian percebeu a
influência social que a música exerceu nos alunos que praticaram música, eles apresentaram

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maior capacidade de comunicação e eram atuantes nas relações sociais; percebeu também,
um aumento significativo da inteligência cognitiva em comparação com as crianças do grupo
de controle (sem educação musical). Uma prática musical nas escolas pode ser uma
ferramenta utilizada para atuar no desenvolvimento integral das crianças, desenvolvendo o
indivíduo como um todo. (BASTIAN, 2009)

Relato de experiência

A importância do ensino da música para o desenvolvimento das crianças já está mais que
justificado, de acordo com o resultado da pesquisa do professor Hans Günther Bastian.
No entanto, ministrar aula de música em uma escola de ensino fundamental sem um
espaço adequado é tarefa que para muitos parece impossível. Nós, professores de música,
muitas vezes nos sentimos coagidos a ministrar aulas de outras áreas no âmbito da arte, por
não termos espaço, material e boa vontade da parte da gestão escolar. Quando temos a
oportunidade e o apoio de gestores e coordenadores, contamos apenas com salas de aula
lotadas, escassez de material, e uma imensa vontade de fazer alguma coisa para que aquelas
crianças tenham a chance mínima de ter contato com a música.

Corpo: o início de tudo

Cada indivíduo tem uma experiência sonora pessoal, baseada em sua vivência
distinta das demais, seu contexto social é influenciador na construção de sua preferência
musical. Diante de realidades tão distintas, recursos mínimos e de uma estrutura inadequada
- salas abertas sem tratamento sonoro, falta de instrumentos musicais, salas com trinta e cinco
ou quarenta alunos - partiu-se do corpo, como um instrumento original que deve ser
explorado a ponto de conhecer cada som extraído dele. Todo o corpo pode e deve ser
sonoramente conhecido, cada parte com um timbre diferente: pé, coxa, dedo, mão, etc.
Cauduro (1989) aborda a respeito de uma educação musical de maneira lúdica; para ela a
educação musical vai além de aulas teóricas onde se aprende a simbologia musical por meio
de memorização sem qualquer relação com a vivência do fato musical, não se resume na
aprendizagem técnica de um instrumento, tampouco, se exaure no simples ato de cantar por

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cantar. A iniciação musical tem como objetivo emergir a criança em um universo musical
através de uma vivência viva e constante. A autora oportuniza experiências e aprendizagens
mediante as estratégias lúdico-musicais, que devem ser inseridas de forma natural e
progressiva na vida das crianças.
Com atividades rítmicas envolvendo movimentos corporais, o aluno consegue captar
a representação gráfica das durações das figuras musicais, ainda que, sem contato direto com
a teoria e escrita musical tradicional.

Atividade proposta

Nessa atividade foi utilizada a rima da parlenda "VIVA EU, VIVA TU, VIVA O RABO DO
TATU” (cultura popular). Enquanto cantam a rítmica, as crianças acompanham o ritmo no
corpo, explorando os possíveis sons corporais - pé, mão, coxa, etc. Além do ritmo, também foi
trabalhado o parâmetro do som (intensidade), como mostra as figuras abaixo.

Figura 1 - Abaixo representação gráfica do ritmo da parlenda.

Fonte: Schreiber

Figura 2 - Combinação do ritmo da parlenda com os sons do corpo.

Fonte: Autor da pesquisa

Nessa atividade as crianças tiveram a oportunidade de desenvolver a capacidade de


criação rítmica. Elas foram estimuladas a compor em grupo, extraindo do próprio corpo os
ritmos que acompanhariam a rima, desenvolvendo, assim, a percepção rítmica e autonomia
no ato da criação e execução.

Explorando os sons

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É importante esclarecer que musicalização é um momento da educação musical; é o
processo que antecede a notação musical enquanto representação convencionada. Penna
(1990) aborda a importância da musicalização como um momento imprescindível para a
sensibilização musical, é nesse momento que a criança aprende a ouvir, a sentir e a expressar-
se musicalmente.
O caminho percorrido até a sensibilização musical do aluno pode ser longo e penoso
se tomada como base uma realidade distante e desconhecida da criança. Respeitar a
experiência já vivenciada pelo aluno torna o caminho sem muitos tropeços, já que sua vivência
está sendo valorizada como um conhecimento prévio e pode ser utilizada como auxílio para
sensibilizar e conscientizar a criança quanto ao material sonoro/musical e seu significado, pois,
trazer para a sala de aula a vivência musical do aluno torna a experiência muito mais
interessante, pois, segundo Penna “[...] nada é significativo no vazio, mas apenas quando
relacionado e articulado no quadro das experiências acumuladas [...]” (PENNA, 1990, p. 22).
Musicalizar é tornar o outro sensível, mas para viabilizar essa musicalização de forma
consciente é preciso uma reflexão que nos forneça um direcionamento da ação sabendo
aonde se quer chegar, aprendendo com prática, avaliando e selecionando as experiências,
traçando nortes para não agirmos a esmo.

Atividade proposta

Nessa atividade, a criança desenvolve a percepção sonora, levando em consideração


a observação auditiva no ambiente familiar; partindo da observação, a criança deveria então
escrever todos os sons possíveis percebidos por ela. Na aula seguinte selecionamos alguns
sons e escrevemos uma pequena composição, onde os mesmos executaram os sons
escolhidos. Na execução da atividade, os parâmetros sonoros (intensidade e timbre) foram
desenvolvidos. O quadro a seguir exemplifica a atividade:

Quadro 1: Atividades de percepção sonora


Escuta 1 Escuta 2 Escuta 3 Escuta 4

Gritos Televisão Música Ônibus

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Carro Ventilador Condic. de ar Portão

Pan. de pressão Bicicleta Moto Maq. de lavar

Liquidificador Água Cachorro Pássaros

Gato Choro de bebê Mosquito Buzina

Essa sequência foi ditada e organizada pelos próprios alunos. A sequência foi
executada por todos, onde deveriam imitar com sons da boca os sons observados. Cada som
foi padronizado com a duração de quatro tempos, e cada tempo correspondia a
aproximadamente 60 bpm (batida por minuto).

Quadro 2: Agregando elementos


Gritos Televisão Música

Carro Ventilador Portão

Pan. de pressão Bicicleta Moto

Liquidificador Cachorro Pássaros

Gato Choro de bebê Buzina

Nessa sequência, foi agregado um novo elemento. O fato da não utilização de uma
escrita tradicional - partitura musical convencional - suprimiu-se um som e se agregou um
símbolo representativo no momento de silêncio. Dessa forma, exigiu-se mais atenção dos
alunos para que não se perdessem na contagem do tempo.

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Quadro 3: Grupos

1 Gritos Televisão Música

2 Carro Ventilador Portão

3 Pan. De pressão Bicicleta Moto

4 Liquidificador Cachorro Pássaros

5 Gato Choro de bebê Buzina


A composição agora está dividida em cinco partes, e os alunos foram da mesma
maneira agrupados em grupos. Cada grupo executava a sua parte quando assim solicitado,
observando os tempos suprimidos.
Nessa mesma sequência trabalhou-se a alternância de execução dos grupos
aumentando ainda mais a exigência dos alunos, cujos mesmos deveriam executar a sua parte
na hora que fosse solicitado independentemente se o grupo que estivesse executando havia
acabado ou não. Quando um grupo estava executando sua parte os demais estavam atentos
para entrar quando solicitado pelo regente.

Música e movimento

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Edgar Willems expressou grande interesse sobre o movimento corporal como parte
do processo de aprendizagem musical. A movimentação corporal por meio da música gera na
criança um aprendizado musical mais significativo, pois, estimula a expressão criativa musical,
e leva o indivíduo a participar do processo de aprendizagem. "O elemento principal da melodia
é o intervalo melódico, o qual representa um movimento de um som ao outro. Esse
movimento, que acontece no tempo, pode sentir-se como realizado no espaço." Willems
(apud Kebach 2013, p. 51).
O movimento corporal em uma melodia traz à criança maior clareza quanto aos
elementos explícitos em um trecho musical ouvido ou executado. Vejamos, então, um
exemplo abaixo:

Atividade proposta1

As crianças ouviram, aprenderam e executaram uma composição de Thelma Chan


"Altura”, onde canta-se e realiza-se os movimentos conforme a melodia cantada. Quando os
alunos cantavam "som agudo” erguiam-se os braços; na execução do "som grave" as crianças
agachavam-se com os braços para baixo. Nessa atividade foi trabalhado o parâmetro sonoro
(altura).

Som agudo (braços para cima)


Som grave (agachados)
Agudo (braços para cima)
Grave (agachados)
O som médio está no meio, nem é belo, nem é feio (toca-se com as mãos na direção do tórax)
Nem agudo (braços para cima)
Nem grave (agachados)...

É hora de cantar

Todos podem cantar, todos devem cantar! O cantar é uma atividade musical primária
do ser humano. Segundo Karl Adamek (apud BASTIAN 2009, p.41) o cantar tem funções

1
Atividade proposta por Thelma Chan

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psíquicas em três campos: o controle de situações de sentimentos negativos; a energização e
domínio de sentimentos positivos e como função reflexiva.
"A música soa em cada criança, quer ela saiba, quer queira, quer não" (BASTIAN 2009,
p. 40). Oportunizar a criança na prática musical é fazer vir à tona a sua natureza. Observa-se
que não é o ato de cantar por cantar. Nessa etapa já foi trabalhado na em sala com as crianças
os sons e seus parâmetros, ritmo, pulsação, etc. Não podemos cair no erro de estereotipar
uma criança quando não alcança uma nota, ou não consegue executar um trecho de uma
música. Tudo que ela precisa para cantar, a natureza já lhe deu, precisa, no entanto, de um
trabalho direcionado que proporcione a ela uma execução musical consciente. Para dar
continuidade ao processo de musicalização, o canto foi trabalhado com alguns recursos
técnicos.

Atividades propostas

Manossolfa é um recurso desenvolvido por Zoltán Kodály, nascido na Hungria no ano


de 1882. Essa técnica corresponde a um conjunto de sinais feito com as mãos representando
a escala musical. Kodály usou o Dó móvel, possibilitando o ajuste da nota em qualquer altura.
(SCHEREIBER, 2014, p.88)
Utilizou-se essa técnica durante as aulas como ferramenta para o aprimoramento da
percepção auditiva, bem como melodias simples para colaborar com o processo de
concentração, afinação, etc. Além disso, o monossolfa foi um instrumento fundamental para
a realização do aquecimento vocal das crianças, haja vista que a escola não possuía
instrumentos musicais para ajudar nas atividades, além de ser empregado para trabalhar
altura, intervalos melódicos e concentração, quando se trabalhava cânones simples
estimulando o desenvolvimento da audição.
Na apresentação de repertório as canções eram inseridas de maneira gradativa. As
crianças aprendiam primeiramente a letra - verbalizava a letra, incorporando-a ao ritmo da
canção - Após isso, acrescentava-se a melodia. Essa conexão entre as duas partes contribui
para que ampliassem o grau de desempenho nas atividades musicais. Desse modo, o
repertório foi desenvolvido, tendo como pilar o Dó móvel, pois ajudava a ajustar as canções à
voz das crianças, permitindo melhor resultado, preservando a extensão vocal do grupo.

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Houve a colaboração de um professor de Libras através do uso da linguagem de
sinais, enriquecendo as atividades musicais e mostrando a importância da interdisciplinarida
para o desenvolvimento dos alunos, construção do repertório, dentre outras.
Todo o trabalho empregado nas aulas de musicalização resultou em um recital, o qual
foi apresentado pelas crianças, resumindo todo o processo musical realizado em sala de aula.
A culminância ocorreu através de um recital - "Um Natal de Paz"- e o repertório compreendia
às canções "A paz" de Thelma Chan, "Como é bom ser uma criança" de Marcos Schreiber, e
"Vem chegando o Natal" de Haven Gillespie, exibido na praça da cidade em um projeto
realizado anualmente pela prefeitura.

Considerações finais

A realização de um trabalho de arte que se diferencia das práticas existentes, em uma


escola que nunca havia experiênciado uma prática musical em seu contexto e que não
proporciona estrutura para o desenvolvimento de um trabalho satisfatório, mostrou-se como
uma oportunidade de desafiar o provável, pois, ninguém contava com o improvável.
O entorno social era também outro desafio a enfrentar. A escola onde foi
desenvolvido o projeto estar situada em um bairro extremamente violento, contando com o
tráfico de drogas e saneamento de péssima qualidade. Deparar-se com essa realidade pode
causar medo e vontade de desistir. Contudo, o estímulo para fazer algo, fazer diferente e fazer
a diferença na educação daquelas crianças foi o sentimento mais latente.
A musica é dos caminhos que proporciona um trabalho de desenvolvimento
cognitivo, social, emocional, melhora a auto estima das crianças, dando a elas a chance de
vivenciar uma linguagem que contribui para a sua inserção social; mais da metade daquelas
crianças nunca haviam visitado o cento da cidade, vale ressaltar que não se gasta 20 minutos
para chegar lá.
Através do projeto Musicanto foi desenvolvido um trabalho de musicalização
direcionado, que desenvolveu nas crianças a percepção auditiva, possibilitou a observação da
diversidade de sons e ruídos, levou a identificar as características do som (altura, intensidade,

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duração e timbre), introduziu elementos da linguagem musical (melodia, harmonia e ritmo) e
desenvolveu uma base de técnica vocal.
Nada pode ser maior que o desejo de estender a todos uma educação musical! Nem
o contexto histórico, nem as condições precárias das escolas, nem a falta de materiais podem
ser entraves, laços que prendam e impeçam de levar a música a quem tem direito de usufruir
por lei de uma educação musical. Garantir um ensino que priorize o desenvolvimento total do
indivíduo é dever de todos os educadores.
Em meio a condições precárias - estrutura física das instituições de ensino, falta de
material, salas superlotadas - os professores de música são responsáveis por escrever uma
nova história, mostrando novos rumos na educação musical nas escolas, tendo a consciência
da relevância que o ensino da música tem sobre o desenvolvimento de uma criança, do poder
de transformação intelectual e emocional.

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Referências

BASTIAN, Hans Günther. Música na escola: a contribuição do ensino da música no aprendizado


e no convívio social da criança. São Paulo. Paulinas, 2009.

CAUDURO, Vera Rigina. Iniciação musical na idade pré-escolar. Porto Alegre. Sagra, 1989.

CHAN, Thelma. Música para ser: sensibilização musical através do corpo, da voz e das coisas.
Composto e extraído em fevereiro de 2013.www.estudio-berger.com

IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. -
Porto Alegre: Artmed, 2003.

KEBACH, Patrícia Fernanda Carmem. Expressão musical na educação infantil. 1 ed. Porto
Alegre. Mediação, 2013.

MARTINS, Mirian Celeste. Teoria e prática do ensino de arte: a língua do mundo: volume único:
livro do professor / Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque, M. Terezinha Telles Guerra - 1. ed.
- São Paulo: FTD, 2009.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-


cultural. São Paulo: Scipione, 1997.

PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo. Loyola, 1990.

PENNA, Maura. Música e seu ensino. Porto Alegre. Sulina, 2008.

SCHREIBER, Ana Cristina Rissette. Iniciação musical Mig e Meg - vol. 1. Campo Magro. Arco,
2014.

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