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A Travessia De Símbolos
A Travessia De Símbolos
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E-book174 páginas2 horas

A Travessia De Símbolos

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Sobre este e-book

No último conto de Sagarana, A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, “os personagens têm essa condição de metaforizar suas ações práticas com seus nomes, (...) Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas, filho do coronel Afonsão Esteves, assim mesmo com o aumentativo “ão”, seguido da patente de coronel, adquirida para reforçar o poder exercido sobre os demais, todos os nomes mencionados com grandeza como é a própria qualificação de Augusto. No início do conto, o filho do coronel é o homem poderoso, valente, rico e mandante. Sua travessia o converte em Augusto Matraga e, na hora de sua morte, também é referido como o Homem do Jumento, lembrando a imagem de Jesus Cristo, na condição de Salvador.” Este livro é um estudo de Guimarães Rosa, um dos maiores escritores de todos os tempos! A simbologia cuidadosamente inserida na Saga é fantástica e o autor captou essas veredas para explicitá-las para você, leitor. Prosa inédita, vale o prazer da (re)leitura roseana.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de fev. de 2023
A Travessia De Símbolos

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    A Travessia De Símbolos - Marcos Freitas

    A travessia de símbolos

    A travessia de símbolos

    Marcos Freitas

    Copyright © 2021 by Bookpop®. Todos os direitos reservados.

    ficha-travessia

    Pesquisa científica literária.

    Título fundamental: A travessia mística em ‘A hora e vez de Augusto Matraga’, de Guimarães Rosa.

    Título original: A travessia de símbolos em ‘A hora e vez de Augusto Matraga’, de Guimarães Rosa.

    Título atual: A travessia de símbolos

    Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida em qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e recuperação de informações, sem a permissão por escrito da BOOKPOP®, exceto para o uso de breves citações em uma resenha de livro.

    O pássaro é livre

    Na prisão do ar.

    O espírito é livre

    Na prisão do corpo.

    Mas livre, bem livre,

    É mesmo estar morto.

    (Carlos Drummond de Andrade. In: Farewell)

    No último conto de Sagarana, A Hora e Vez de Augusto Matraga, "os personagens têm essa condição de metaforizar suas ações práticas com seus nomes, (...) Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas, filho do coronel Afonsão Esteves, assim mesmo com o aumentativo ão, seguido da patente de coronel, adquirida para reforçar o poder exercido sobre os demais, todos os nomes mencionados com grandeza como é a própria qualificação de Augusto. No início do conto, o filho do coronel é o homem poderoso, valente, rico e mandante. Sua travessia o converte em Augusto Matraga e, na hora de sua morte, também é referido como o Homem do Jumento, lembrando a imagem de Jesus Cristo, na condição de Salvador."

    O elemento numinoso tem significação bastante ampla, mas se refere a sentimentos de deslumbramento, pavor e morte, justamente três elementos primordiais por que passou Augusto em sua travessia. Após a dor pavorosa, pelo corpo e pela humilhação sofrida, o personagem inicia sua conversão, deslumbrando-se com a natureza e as coisas de Deus. O extremo acontecimento para Augusto Matraga é perecer, mas ao mesmo tempo em que salva o próximo também o faz a si mesmo.

    ...no meio do Redemoinho. 1984. Xilogravura. Tiragem especial P.A. II. 15x17,5cm. (DAIBERT, 1998: 137)

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    1. OS SIMBOLISMOS DA VEZ

    2. OS NÚMEROS DO ETERNO

    3. A TRAVESSIA MÍSTICA

    CONCLUSÃO

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    Notas

    INTRODUÇÃO

    Quando existe apenas a imagem ela equivale a uma descrição de pouca conseqüência. Mas quando carregada de emoção a imagem ganha numinosidade (ou energia psíquica) e torna-se dinâmica, acarretando conseqüências várias. ¹

    Carl Gustav Jung

    O homem sempre necessitou de símbolos para expressar-se. Antes do advento da escrita, a comunicação verbal era composta de desenhos diversos, os hieróglifos, simbolizando os múltiplos desejos, aflições e predições do primata. Os símbolos não deixaram de existir no decurso de milênios da História, cada vez mais eles estão presentes na sociedade através da mídia, das religiões em geral, da linguagem, do cinema e da literatura. Essas insígnias representavam, e continuam concebendo, expressões e anseios da humanidade.

    Segundo Carl Gustav Jung, os símbolos estão presentes em nosso inconsciente desde a mais distante época e, por vezes, são imagens inerentes ao nosso inconsciente coletivo, responsáveis, ainda, por determinados arquétipos dos sonhos. Essa noção é de importância crucial na psicologia moderna:

    [...] a mente inconsciente do homem moderno conserva a faculdade de fazer símbolos, antes expressos através das crenças e dos rituais do homem primitivo. E esta capacidade ainda continua a ter uma importância psíquica vital. Dependemos, muito mais do que imaginamos, das mensagens trazidas por estes símbolos, e tanto as nossas atitudes quanto o nosso comportamento são profundamente influenciados por elas. (JUNG, 2002: 17)

    Os emblemas referentes a hieróglifos egípcios ganharam fortes conotações nos séculos XVI e XVII, segundo Walnice Nogueira Galvão (1978: 41-42), momento próprio e sensível às imagens e, logo, uma tendência geral para o figurativo e sensitivo, pois as palavras pareciam não ser suficientes para expressar os anseios daquela época: A então recente descoberta e reavaliação de documentos da Antigüidade Clássica, por via helenística e arábica, despertou o interesse por antigas interpretações fantasiosas dos hieróglifos egípcios [...]

    É por isso que a Literatura também é simbólica, expressando-se através da palavra, seu símbolo maior, por ser um grande mundo repleto de saberes, aliás, onde se aglomeram os saberes todos do ser humano, seja de maneira fictícia ou não. Além disso, tem a capacidade, através de sua arte, de ensinar e fazer o sujeito transcender suas ideias, seu espírito, seu intelecto.

    Um escritor nacional que muito trabalhou seus livros numa perspectiva emblemática e sobre o qual há inúmeros estudos foi Guimarães Rosa. Ler sua obra significa mergulhar no mundo místico e alegórico das sociedades antigas e secretas, pois a margem para esse tipo de leitura é deixada pelo próprio escritor em suas entrevistas com seus tradutores alemão e italiano. Assim também: a filha do escritor Wilma Guimarães, a professora Walnice Nogueira Galvão, a escritora Ana Maria Machado e tantos outros estudiosos, além das pinturas de Arlindo Daibert (1998), as quais utilizamos neste trabalho, demonstram o lado transcendente e místico do narrador rosiano.

    Dados os aspectos ora citados, é imprescindível nos atermos aos símbolos e tradições místicas para entendermos mais sobriamente os signos literários rosianos, senão seria impossível compreender o mestre Guimarães, uma vez que ele mesmo admitiu a existência desses símbolos, utilizando o vasto conhecimento adquirido, em experiência pessoal e profissional, mormente com leituras e estudos clássicos. A propósito, um fato acontecido na vida de Guimarães parece tê-lo feito ainda mais observador do ocultismo em geral. Segundo ele mesmo, em determinado dia saiu para comprar cigarros e ao retornar encontrou a casa completamente destruída por um bombardeio. Na linguagem popular, e ele bem sabia, diz-se que o sujeito nasceu de novo, uma vez que deixou de morrer quase certamente.

    A obra Sagarana, cuja perspectiva simbólica será aqui estudada, foi publicada em abril do ano de 1946 quando seu autor, um mineiro formado em medicina e posteriormente diplomata, naquele momento com 38 anos de idade, revolucionou a cena literária da época. A obra foi publicada pela Editora Universal, do amigo do autor, Caio Pinheiro (ROSA, 1984). Constituída inicialmente de doze contos, posteriormente passaria a nove; iremos abordar apenas o último deles, A Hora e vez de Augusto Matraga, o qual inspirou o romance Grande Sertão: Veredas (1956), do mesmo autor. O conto é o fechamento de ouro, ou a súmula da obra da qual faz parte, conforme veremos nas palavras de Rosa, em carta ao amigo João Condé, ocasião em que dava algumas pistas acerca de cada um dos doze contos:

    XII) – A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA – História mais séria, de certo modo síntese e chave de tôdas ² as outras, não falarei sôbre o seu conteúdo. Quanto à forma, representa para mim vitória íntima, pois, desde o comêço do livro, o seu estilo era o que eu procurava descobrir. [O destaque é do autor] (ROSA, 1984: 11)

    Sagarana surgiu num momento histórico-literário brasileiro conhecido como Geração de 45, a qual foi proclamada pela crítica como neomodernista ou pós-modernista. A princípio, a obra foi caracterizada como regionalista. Era esse o momento de pós-guerra: o homem dividido entre local, regional e universal. Em instante posterior à guerra, houve a busca ao mito. Nessa procura mitológica do eu, encontrou-se o outro (contrário do eu) e os mitos começaram a ser revelados, então algumas questões tidas como locais ou regionais ganharam conotações universais.

    Dessa forma, logo foi o sucesso da obra, pois tocando em assuntos regionais, a originalidade da linguagem remete a temas universais do homem, numa dimensão metafísica e mística, alavancando a literatura aos problemas do ser, entre fronteiras, dividido, múltiplo, como diz o narrador em Grande Sertão: Veredas: o sertão está em toda parte.

    É dessa forma que simbolismos e misticismos são elementos essenciais em Sagarana, principalmente quando o último de seus contos, A hora e vez de Augusto Matraga, história anedótica, folclórica, simbólica e mística, passada ao norte do sertão mineiro do início do século passado, que mostra o homem simples em busca do Si-mesmo ³, ocasião em que esse sertanejo (representação do homem universal) realiza travessias diversas como provas de sobrevivência, amor e honra, para auscultar a vida (ser-tão; ser-tao), culminando em seu convertimento espiritual.

    Por isso é que delimitamos como o tema para estudar a travessia de símbolos, em riqueza alegórica, já que as imagens embutidas no conto são inúmeras e bastante significativas, conforme veremos no decorrer da pesquisa.

    Dividimos este trabalho em três capítulos básicos, os quais são subdivididos também em três partes, sendo essa uma secção apenas simbólica, uma vez que as divisões são profundamente ligadas umas às outras, como o é logo no primeiro capítulo: OS SIMBOLISMOS DA VEZ; quando são abordadas questões de significações possíveis dos nomes dos personagens, as figuras dos lugares por onde eles passam e, finalmente, outras figurações, as quais abordam representações que não constam nos itens anteriores.

    No capítulo seguinte, OS NÚMEROS DO ETERNO, enfatizamos a alegoria numérica de variadas formas e interpretações, em toda a narrativa, mais especificamente nos acontecimentos pertinentes aos personagens principais. Assim foi que elegemos a numérica do três, quatro e cinco como básicos e elementares na constituição dos fatos narrados.

    Finalmente, a hora e vez, A TRAVESSIA MÍSTICA que é o terceiro e último capítulo da pesquisa propriamente dita. Essa parte é direcionada através de uma Iniciação espiritual, contida na Travessia de Augusto Matraga, o que propicia a Conversão numinosa deste.

    Não obstante, a finalidade desta pesquisa é mostrar o percurso místico dos personagens principais do conto, suas condições enquanto seres humanos aprendizes, suas vivências simples, para, empós, buscar a conversão mística em sua plenitude, ou seja, o aperfeiçoamento espiritual, pois é essa a conversão numinosa que norteia a obra de Guimarães Rosa e em especial a do conto em análise.

    Nesse percurso investigativo, descobrimos a obra de Jung acerca de sua psicologia inovadora e profunda do Si-mesmo, do homem e seus símbolos psicológicos, das representações figurativas de Deus e da natureza. Nessa perspectiva, a obra desse psicanalista tem espaço determinante neste estudo, pois dá embasamento científico ao que reportamos de importante nos símbolos destacados na travessia em que Augusto Matraga, personagem principal, é compelido a participar de sua via crucis até à conversão espiritual.

    Extensa é a bibliografia acerca da obra de Guimarães

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