Cidade Mais Verde
Cidade Mais Verde
Cidade Mais Verde
LABVERDE
Junho 2013 | Nº 6 | ISSN 2179-2275
cidade
mais verde
REVISTA LABVERDE
V. I – Nº 6
Junho 2013
ISSN: 2179-2275
Ficha Catalográica
Semestral
v.: cm.
ISSN: 2179-2275
e-mail: [email protected]
Revista LABVERDE
Junho – 2013
ISSN: 2179-2275
3
Revista LABVERDE n°6 – Sumário Junho de 2013
SUMÁRIO
1. EDITORIAL
008 Maria de Assunção Ribeiro Franco
2. ARTIGOS
014 Artigo 1
PAISAGEM COMO INFRAESTRUTURA DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS URBANAS
LANDSCAPE AS INFRASTRUCTURE FOR URBAN WATER TREATMENT
BONZI, Ramón Stock
039 Artigo 2
ARQUITETURA E ENERGIA SOLAR: HÁ ALGO DE NOVO?
ARCHITECTURE AND SOLAR ENERGY: IS THERE SOMETHING NEW?
FRETIN, Dominique
058 Artigo 3
FORMA E FLUXO: A NATUREZA NA CIDADE EM DUAS TENDÊNCIAS
SHAPE AND FLOW : NATURE IN THE CITY ON TWO TRENDS
LOTUFO, José Otávio
084 Artigo 4
ESPAÇOS CEMITERIAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A PAISAGEM E MEIO
AMBIENTE URBANOS
CEMETERIAL SPACES AND THEIR CONTRIBUTIONS TO THE LANDSCAPE AND
URBAN ENVIRONMENT
SANTOS, Aline Silva
106 Artigo 5
REFLEXÃO SOBRE A NATUREZA DO PROJETO
REFLECTION ON THE PROJECT NATURE
LIMA, Patrícia Helen
123 Artigo 6
VEGETAÇÃO EM ÁREAS URBANAS: BENEFÍCIOS E CUSTOS ASSOCIADOS
VEGETATION IN URBAN AREAS: BENEFITS AND ASSOCIATED COSTS
FERREIRA, Luciana Schwandner
4
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Sumário
144 Artigo 7
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO DE FUTUROS LABORA-
TÓRIOS EXPERIMENTAIS COMO CÉLULAS DE CO-MANEJO NOS PONTOS DE
CULTURA DO MUNCÍPIO DE SANTOS -SP.
EVALUATION OF POTENTIAL FUTURE DEVELOPMENT OF EXPERIMENTAL LA-
BORATORY HOW CELLS CO-MANAGEMENT IN POINTS OF CULTURE MUNICI-
PIO SANTOS-SP
BEGALLI, Maira; RAMIRES, Milena; CLAUZET, Mariana.
159 Artigo 8
REPENSANDO AS ANISTIAS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM SÃO PAULO
RETHINkING AMNESTIES OF USE AND OCCUPATION OF LAND IN SãO PAULO
KEPPKE, Rosane Segantin
172 Artigo 9
PARQUES URBANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – SP (BRASIL): ESPACIA-
LIZAÇÃO E DEMANDA SOCIAL.
URBAN PARkS IN THE CITY OF SãO PAULO-SP (BRAZIL): SPATIALIZATION AND
SOCIAL DEMAND
LIMNIOS, Giorgia; FURLAN, Sueli Ângelo
190 Artigo 10
DIRETRIZES DE INFRAESTRUTURA VERDE PARA O DESENHO URBANO: UM
EXERCÍCIO DE PLANEJAMENTO PAISAGÍSTICO NA ÁREA DA LUZ, SÃO PAULO
GUIDELINES OF GREEN INFRASTRUCTURE FOR URBAN DESIGN: AN EXER-
CISE OF LANDSCAPE PLANNING AT LUZ DISTRICT,SãO PAULO
FERREIRA, Luciana Schwandner; SANCHES, Patricia Mara; SHINZATO, Paula;
GONÇALVES, Joana Carla S.
219 Artigo 11
INFRAESTRUTURA VERDE PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO C40
GREEN INFRASTRUCTURE FOR CLIMATE CHANGES IN THE C40
FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro; OSSE, Vera Cristina; MINKS, Volker
3. ENTREVISTAS
“A NOVA PRAÇA ROOSEVELT”
5
Revista LABVERDE n°6 – Sumário Junho de 2013
4. DEPOIMENTO
261 PLANO DIRETOR DO PARQUE ESTADUAL TIZO:
UM TRABALHO MULTIDISCIPLINAR E COLABORATIVO
Ana Lúcia P. de Faria Burjato e Patrícia Akinaga
5. EVENTOS
266 Lançamento do Livro: CIDADES PARA TODOS: (RE)APRENDENDO A CONVIVER
COM A NATUREZA
Cecília Polacow Herzog
6. COMUNICADOS
268 Normas da Revista LABVERDE
6
1. EDITORIAL
Revista LABVERDE n°6 – Editorial Junho de 2013
EDITORIAL
Neste número, dedicado à “CIDADE MAIS VERDE” foram selecionados 11 artigos que
mais se aproximaram do tema, tanto do ponto de vista teórico e ilosóico quanto nos
aspectos práticos e aplicativos.
8
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Editorial
área da Luz em São Paulo, analisando o potencial populacional construtivo sob a pers-
pectiva do desempenho ambiental (pesquisa desenvolvida no LABAUT da FAUUSP).
FRANCO et al., no artigo 11, trata de uma relexão sobre o evento C40 em São Paulo,
que reuniu cerca de 40 cidades do mundo todo, em meados de 2011, para discutir
ações de sustentabilidade e resiliência urbana diante do fenômeno das mudanças
climáticas, destacando a sessão que tratou do papel da arborização urbana e loresta
urbana para o resfriamento das “ilhas de calor” nas cidades. O artigo também apre-
senta recomendações de ações ligadas à criação de uma infraestrutura verde, mais
eicaz no enfrentamento desses fenômenos, para a metrópole paulistana.
Por im, apresentam-se alguns trabalhos que se ligam ao tema desta Revista de forma
mais indireta, mas que tratam de aspectos polêmicos de sustentabilidade, tornando a lei-
tura do periódico mais instigante, como são os casos dos artigos 2, 4 e 7, conforme segue.
FRETIN, no artigo 2, discute a energia solar incorporada a edifícios por meio de novas
tecnologias, com a inalidade de geração de energia elétrica, trazendo conseqüências
na forma dos mesmos e na forma urbana, possibilitando o surgimento de paisagens
tecnológicas inusitadas para o futuro das cidades.
Já o artigo 4, de SANTOS, traz a discussão dos espaços cemiteriais nas áreas urbanas
e suas possibilidades de uso pela população, mas também mostrando problemas sérios
provocados por seus impactos de contaminação ambiental, levando a autora a propor
novas tecnologias que tornem aqueles espaços mais sustentáveis no meio urbano.
O artigo 7 destaca-se dos demais por sua abordagem em cultura e cidadania, aplicada
aos “pontos de cultura” na cidade de Santos, e que se prende à temática da Revista
LABVERDE por seu empenho em pesquisa de ecologia humana, trazendo resultados
interessantes em resiliência cultural.
9
Revista LABVERDE n°6 – Editorial Junho de 2013
Junho de 2013.
EDITORIAL
GREENER CITY
For this edition, dedicated to the theme “GREENER CITY”, it was selected 11 articles
that came closer to the subject, both from the theoretical and philosophical point of
view, as well as practical aspects and applications.
From the theoretical point of view are highlighted the articles 3, 5 and 8. The irst,
by LOTUFO, focuses the discussion of the future of cities, trying to overcome the di-
chotomy between development and preservation of nature and to integrate these two
aspects in urban planning. The second, by LIMA, proposes a territorial inventory using
as ilter the landscape reading, which enables the creation of a green infrastructure
that guides a sustainable urban development. The third, by kEPPkE, reports histori-
cally the amnesties of land use and occupation in the city of São Paulo. It also pro-
poses principles of urban-environmental compensation for the new amnesties, aiming
to achieve a greener and more sustainable city.
Within the practical and applicative point of view, it is aligned subsequently the articles
1, 6, 9, 10 and 11. All of them focus urban greenery as landscape transforming element
and green infrastructure former in urban fabric.
10
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Editorial
Article 1, by BONZI, focuses the use of vegetation for treatment of waste water and
urban sewage, providing environmental services and creating multifunctional land-
scapes, sheltering leisure functions, environmental education and income generation.
FERREIRA, in article 6, focuses the vegetation in urban daily life, bringing sometimes
beneits, sometimes problems and associated costs.
LIMNIOS and FURLAN, in article 9, write a report of the urban parks history in gen-
eral, starting in the 19th century, and present a typological analysis of municipal
and state urban parks existing in the city of São Paulo, classifying them as catego-
ries of open spaces, according to the dimensions of the units and radius of service
to the population.
In article 10, FERREIRA et al., set up guidelines for green infrastructure for urban de-
sign with the creation of new green public and semi-public areas in the district area of
Luz in São Paulo, analyzing the population constructive potential under the perspec-
tive of environmental performance (research developed in LABAUT of FAUUSP).
FRANCO et al., in article 11, make an analysis on the event C40 in São Paulo, which
brought together about 40 cities around the world in mid-2011, to discuss actions on
urban sustainability and resilience before the phenomenon of climate change, high-
lighting the session that focused the role of urban afforestation and urban forest for
the cooling of the “urban heat islands”. The article also presents recommendations for
actions related to the creation of a green infrastructure, more effective to face these
phenomena, for the metropolis of São Paulo.
It is presented some works which are linked to the theme of this magazine in an indi-
rect way, but dealing with controversial aspects of sustainability, making the reading of
this magazine more exciting, as the cases of articles 2, 4 and 7.
FRETIN, in article 2, discusses solar energy incorporated into buildings through new
technologies, with the purpose of generating electricity, bringing consequences in the
buildings and urban forms, and causing the appearance of unusual technologic land-
scapes for the future of cities.
In article 4, SANTOS brings the discussion of cemeterial spaces in urban areas and
possibilities of their use by the population, but showing also serious problems caused
by the impacts of environmental contamination, leading the author to propose new
technologies to make those areas more sustainable in the urban environment.
11
Revista LABVERDE n°6 – Editorial Junho de 2013
Article 7 stands out from the rest due to its approach to culture and citizenship, ap-
plied to the “culture points” in the city of Santos. This subject is linked to the theme
of LABVERDE Magazine due to its commitment to research human ecology, bringing
interesting results in cultural resilience.
In the section “Interviews”, LABVERDE Magazine brings the discussion on the “New
Roosevelt Square”, applying ten questions to the interviewed people. Stand out there
the interviews with the architect RUBENS REIS, with representatives of company
BORELLI & MERIGO and with the landscape architect FABRÍCIO SBRUZZI.
In the section “Testimony”, the architects ANA LUCIA BURJATO and PATRICIA AkINAGA
present the Project to the “State Park Tizo” developed by various teams of professionals
from different ields of knowledge, which are aligned with sustainability issues.
The section “Events” presents the launch of the book “City for All: (re)learning to live
with Nature” wrote by the urban landscape architect CECÍLIA POLACOW HERZOG,
president of INVERDE, during the night of book signing in “Livraria da Vila” at Alameda
Lorena, São Paulo, on June 10, 2013.
June 2013
12
2. ARTIGOS
ARTIGO Nº1
RESUMO
ABSTRACT
This paper investigates the vegetation use for treatment of sewage, efluents and wa-
stewater. It shows the status of our water bodies and reveals how the natural ecosys-
tems of wetlands collaborate with maintaining its quality. It is observed the main me-
chanisms that enable systems of treatment and polishing of water, through the use of
vegetation, provide important ecosystem services for human settlements. Finally, it is
pointed out how the use of vegetation in water treatment is capable to create multifunc-
tional landscapes that perform functions related to recreation, environmental educa-
tion and income generation.
15
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
INTRODUÇÃO
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Figura 1 – Quadro de serviços ecossistêmicos desempenhados pela natureza. (Aqui produção é si-
nônimo de abastecimento e suporte de apoio.) Fonte: Millennium Ecosystem Assessment – Avaliação
Portuguesa. Disponível em: <http://ecossistemas.org/icheiros/Folheto-Port.pdf>. Acessado em 04 de
abril de 2013.
1
Comumente negligencia-se o fato de que nem tudo que é cultura ”só pode fazer o bem além de fazer bem”,
como explica COELHO (2008, p. 11)
17
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Segundo o estudo,
A Pegada Ecológica média do estado de São Paulo é de 3,52 hectares globais per
capita e de sua capital, a cidade de São Paulo, 4,38 gha/cap. Isso signiica que,
se todas as pessoas do planeta consumissem de forma semelhante aos paulistas,
seriam necessários quase dois planetas para sustentar esse estilo de vida. Se
vivessem como os paulistanos, quase dois planetas e meio. (2012, p. 18)
Para se ter uma ideia da pressão que a cidade de São Paulo3 exerce sobre os ecos-
sistemas é necessário contextualizar que a “média mundial da Pegada Ecológica é de
2,7 hectares globais por pessoa, enquanto que a biocapacidade disponível para cada
ser humano é de apenas 1,8 hectare global”. (Idem, p. 50)
2
“A Pegada Ecológica mede a quantidade de terra biologicamente produtiva e de área aquática necessárias
para produzir os recursos que um indivíduo, população ou atividade consome para absorver os resíduos que
gera, considerando a tecnologia e o gerenciamento de recursos prevalecentes”. (WWF, 2012, p. 100)
3
São Paulo, a maior cidade da América Latina, possui uma população de 10,8 milhões de habitantes (p.
11) e sua região metropolitana, embora ocupe um milésimo do território brasileiro, abriga 10% da população
(p.13). (WWF, 2012)
18
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Segundo REBOUÇAS (2006, p. 7), embora mais de ¾ da superfície da Terra seja coberta
por água, apenas 2,5% do volume total da água do planeta é doce. Deste volume, cerca
de 68,9 % da água doce encontra-se congelada, 29,9% está sob o solo e 0.9% sob a for-
ma de umidade do solo. Rios e lagos representam apenas 0,3% da água doce do planeta.
Esse pequeníssimo percentual torna fácil acatar sem maiores questionamentos o
“mito” de que “40% da população mundial sofre com escassez aguda de água” (dado
mal interpretado de um estudo do Banco Mundial de 1995)5 ou a profecia de que “se
as guerras deste século se deram em torno do petróleo, as do próximo século serão
lutas pela água”, proferida pelo vice-presidente do BIRD (Banco Interamericano de
Desenvolvimento), Ismail Serageldin, em 1995.
4
A Infraestrutura Verde pode ser entendida com uma “rede de áreas naturais e áreas abertas (open spaces)
fundamentais para o funcionamento ecológico do território, contribuindo para a preservação dos ecossiste-
mas naturais, da vida selvagem, para a qualidade do ar e da água e para a qualidade de vida dos cidadãos.”
(FERREIRA; MACHADO, 2010, p. 69).
5
Tal problema, na verdade, acometeria 4% da população mundial. Para mais detalhes ver Lomborg (2002,
p. 25, 186,187).
19
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
No entanto, tal como acontece com a iminente (e jamais concretizada) falta mundial
de alimentos anunciada há 200 anos por Thomas Malthus, confunde-se distribuição
com escassez. A distribuição de água doce, de fato, parece ter aumentado: Rebouças
avalia que no ano 2000, cada habitante da Terra teria disponível de seis a setes vezes
a quantidade mínima estimada como razoável pela ONU (Idem, p. 14)6.
Ainda assim, é preciso cuidado. Para a ONU, se não melhorarmos o manuseio das
águas a proporção de pessoas em países com tensão hídrica aumentará de 3,7%, em
2000, para 8,6%, em 2025, e 17,8%, em 2050.
A boa notícia é que ao contrário de muitos problemas ambientais que parecem inso-
lúveis, a reversão da tendência acima pode ser bastante simples, com medidas de
combate ao desperdício.
O abastecimento de água
O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade de água potável que pos-
sui à sua disposição. Ainda que ocupe 5,7% das terras do planeta, tem em seu território
nada menos do que 12% de toda a água potável do mundo (VAN KAICK, 2002, p. 35). E
53% da produção de água doce do continente sul-americano (REBOUÇAS, 2006, p. 27).
6
Tentou-se confrontar esses dados com o conceito de pegada hídrica, desenvolvido pela WWF, mas o documen-
to aqui referenciado não apresenta dados concretos sobre a pegada hídrica de São Paulo. No entanto, o estudo
conirma a diiculdade de se trabalhar com a questão da disponibilidade de água doce: “A Pegada Hídrica acom-
panha somente a demanda humana por água doce e não a demanda de ecossistemas como um todo. Depende
de dados locais frequentemente indisponíveis ou de difícil coleta. Sofre de possíveis erros de truncamento. Não
existem estudos sobre incertezas de dados, embora as incertezas sejam signiicantes”. (WWF, 2012, p. 43,44)
20
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
O estudo aponta que o estado de São Paulo destaca-se com 99,3% da população
atendida por rede de abastecimento de água, o que se reverte em melhoria das con-
dições de saúde e higiene, e, portanto, melhor qualidade de vida, um dos principais
indicadores para se aferir o desenvolvimento sustentável.
O esgotamento sanitário
21
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Pode-se observar, portanto, que o nosso país possui um grande degrau entre os ser-
viços de abastecimento e de tratamento de esgoto.
O tratamento de esgoto
No ano de 1995, no conjunto dos municípios com mais de 100 000 habitantes,apenas
8,7% do total do esgoto coletado foi tratado. No ano de 2005, esta razão passou a
ser de 61,6%. Nos anos de 2006 a 2008, a partir da mudança na metodologia da
coleta dos dados, os percentuais foram, respectivamente, 60,7%, 62,9% e 66,2%.
Em relação às Grandes Regiões, no ano de 1995, a Região Sudeste apresentava
somente 1,5% do esgoto coletado tratado, abaixo do percentual no Brasil (8,7%).
Por outro lado, as Regiões Nordeste e Centro-Oeste possuíam os maiores per-
centuais tratados (44,8% e 33,4%, respectivamente), superiores à média do País
como um todo. Já em 2005, o percentual no Brasil é de 61,6% e as Regiões Norte
e Sudeste apresentam percentuais inferiores (50,7% e 51,8%, respectivamente).
As Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul apresentam os maiores percentuais
(90,1%, 79,6% e 77,8%, respectivamente). No ano de 2008, as Regiões Centro-
Oeste (88,9%), Nordeste (86,4%) e Sul (78,8%) apresentam os maiores percentu-
ais de tratamento do esgoto coletado. (Idem, p. 126)
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Figura 2 – Índice de Qualidade das Águas – Valor Médio em 2010. Fonte: Agência Nacional de Águas,
2012.
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Segundo o estudo, esse quadro de degradação das águas urbanas pode ser explica-
do como relexo de uma combinação entre alta taxa de urbanização e baixos níveis de
coleta e tratamento de esgotos domésticos.
Por outro lado, a falta do saneamento básico universal também pode ser explicada
como fruto de um embate entre duas visões de mundo bastante diferentes sobre o
mesmo assunto: a do conservadorismo tecnicista da engenharia civil, que calcada no
sanitarismo7 do século XX, vê com desconiança tudo o que é relacionado à água,
e a do romantismo ecológico daqueles que propõe sistemas de tratamento de água
baseados no uso de vegetação, geralmente orientados por uma romântica visão de
natureza como a morada de todas as virtudes em declarada oposição ao que é tocado
pela mão do homem - notadamente a ciência, a economia e a cidade.
Quem perde com tal embate, evidentemente são as pessoas e os ecossistemas, que
permanecem sem tratamento de esgoto por uma suposta inexistência de alternativas
viáveis. (E de vontade política, pode-se acrescentar).
7
Franco (1997, p. 78) explica que “o movimento higienista desde suas origens (ins do séc. XVIII), valeu-se
da ‘teoria dos meios’. Esta insistia em que os males eram advindos da estagnação de todo o tipo – água, lixo
e homens. Dessa forma a circulação transformou-se na palavra de ordem da engenharia sanitária”. Isso per-
mite entender porque, aparentemente, todo o sistema de drenagem de São Paulo parece ter sido pensado
de modo a fazer a água ‘sumir’ o mais rapidamente possível de nossa vista.
24
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
As plantas também são capazes de realizar um segundo “milagre”, este bem menos
reverenciado: o de transformar matéria orgânica em inorgânica. E vice-versa.
áreas de terra consistindo em solo saturado com água e que sustentam uma
vegetação especiicamente adaptada a estas condições. Os alagados incluem
pântanos, brejos e lamaçal quando derivam de água doce, e brejos salgados e
manguezais quando associados a ambientes marinhos. (2011, p. 95)
25
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
O relatório Ecossistemas e bem-estar humano: estrutura para uma avaliação, das Nações
Unidas, ressalta os benefícios obtidos com a regulação dos processos dos ecossistemas,
entre eles, a puriicação da água e o tratamento de refugos: “Os ecossistemas podem ser
uma fonte de impurezas na água doce, mas também podem ajudar a iltrar e decompor re-
fugos orgânicos introduzidos em águas interiores e ecossistemas litorâneos e marinhos”.
(CONSELHO DE AVALIAÇÃO ECOSSISTÊMICA DO MILÊNIO, 2005, p. 107).
26
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Cada uma dessas tipologias construtivas possuem particularidades (ver Figuras 3, 4 e 5).
Em comum, valem-se de propriedades, ciclos e mecanismos naturais para efetuar a lim-
peza da água que estão, resumidamente, elencados a seguir. Van Kaick (2002), Izembart;
Le Boudec (2003), France (2003), Zanella (2008) e Horn (2011) e explicam que:
28
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Figura 6 – Baima Canal. Antes e depois. Fonte: John Todd Ecological Design.
A vegetação a ser usada no tratamento de água por vegetação devem ter algumas
características:
O uso de exóticas deve ser criterioso, já que muitas delas podem se tornar uma praga.
29
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
A variação no nível da água contribui com a ciclagem de nutrientes. Por isso, as tipo-
logias valem-se, em maior ou em menor grau, de diferentes arranjos quanto ao nível
da água em relação ao leito, o grau de submersão das plantas e a existência de zonas
de transição entre as duas situações anteriores, conforme ilustrado na igura 7.
Figura 7 –
Representação
esquemática
de um wetland
natural. Fonte:
Zanella, 2008.
Uma determinada combinação entre os componentes solo, planta e água pode ser
mais eiciente no que diz respeito à decomposição de matéria orgânica, enquanto
outra pode priorizar a erradicação de patógenos. Para esta inalidade, exige-se menor
quantidade de vegetação a im de possibilitar maior exposição à radiação solar, que
tem a capacidade de controlar a população de organismos patogênicos.
A profundidade da água e o seu luxo também determinam outros serviços dos siste-
mas naturais de tratamento de água. Em lâminas de água de até 0,50m de profundi-
dade há a tendência a predominar os processos aeróbicos de decomposição de ma-
téria orgânica. Para profundidades maiores, predominarão os processos anaeróbicos
e anóxicos de decomposição de matéria orgânica.
O sentido do luxo (de baixo para cima ou vice-versa) inluencia na capacidade de sedimen-
tação dos sistemas construídos, bem como na aeração da água que está sendo tratada.
30
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
Embora sejam relativamente comuns na Europa e nos Estados Unidos, ainda são
raros no Brasil os sistemas de tratamento de água com uso de vegetação fora de
ambientes de pesquisa.
Na Praça Victor Civita, em São Paulo, a água da chuva e o esgoto do prédio do Mu-
seu são transportados por canaletas para o sistema de alagados, passando por uma
camada iltrante de cascalho e plantas aquáticas. (Figuras 8, 9,10 e 11)
8
Os wetlands construídos costumam ser classiicados em sistemas de escoamento supericial ou subsuperi-
cial e subdivididos quanto ao luxo de eluentes, que pode ser horizontal ou vertical. Neste, o luxo pode ser as-
cendente ou descendente. A vegetação pode ser submersa, lutuante, emergente ou ixa de folhas lutuantes.
31
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
De fato, pode-se veriicar que quando essas tipologias construtivas recebem trata-
mento paisagístico adequado, a função de tratamento de eluentes muitas vezes pas-
sa despercebida pela população do entorno e pelos usuários desses espaços. Esse
fenômeno foi observado em visita técnica ao Parque da Juventude (Luis Latorre) loca-
lizado em Itatiba, município que faz parte da região metropolitana de Campinas.
Figura 12 – Planta de Paisagismo da gleba Águas do Mundo, no Parque da Juventude (Pq. Municipal
Luis Latorre), em Itatiba, SP. Fonte: Eng. André Bailone, da Itubanaiá (empresa responsável pelo projeto).
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Uma de suas áreas, a gleba Águas do Mundo (Figura 12), faz o tratamento da água
poluída que chega de uma encosta vizinha9, como pode ser visto nas iguras 13, 14 e
15. O sistema de wetlands recebeu um tratamento paisagístico (iguras 16 e 17) que
compatibilizou o tratamento de águas com o lazer dos usuários do parque (iguras
18, 19 e 20), oferecendo ainda um estimulante ambiente para a educação ambiental
(igura 21) e refúgio para biodiversidade (iguras 22, 23 e 24).
Figura 15 –
A encosta, fonte da
água suja que é tra-
tada no sistema.
9
A proposta inicial era tratar a água do poluído reibeirão Jacaré, vizinho ao parque. No entanto a morosidade
do licenciamento ambiental e pressões para a inauguração do parque em ano eleitoral forçaram a mudança
do projeto.
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Figura 16 e 17 – Tratamento paisagístico do Parque. Fonte da igura 17: Eng. André Bailone, da Ituba-
naiá (empresa responsável pelo projeto).’
Figuras 18 e 19 – Alguns equipamentos de lazer e paisagens que não se espera encontrar em uma
estação de tratamento.
Figura 20 – A inusitada possibilidade de contem- Figura 21 – Painel junto à passarela na área bre-
plar um sistema de tratamento de águas sujas. josa serve de apoio para a educação ambiental.
Fonte: Eng. André Bailone, da Itubanaiá (empresa
responsável pelo projeto).
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
Figuras 22, 23 e 24 – Wetlands construídos são ambientes de refúgio da biodiversidade, como ocorre
no Parque da Juventude (Luis Latorre).
Conversas informais com usuários do parque revelaram que nenhum deles sabia da
função de tratamento de água desempenhada pelo parque. Nenhum dos entrevista-
dos relatou já ter sentido odores desagradáveis no local. Questionados sobre a beleza
do lugar, a avaliação foi positiva. Cerca de metade era frequentadora assídua, utilizan-
do o parque para atividades de caminhada e cooper.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossos estudos de caso, no entanto, evidenciam que tais sistemas são capazes
de oferecer outros usos e serviços relacionados ao lazer, ao fomento da biodiver-
sidade e à educação ambiental. No que tange ao planejamento urbano e regional,
esses espaços podem ser vistos como zonas de amortecimento entre unidades de
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01 Junho de 2013
Apesar dos muitos estudos e sistemas construídos em todo o mundo, parece haver
uma dimensão inexplorada, que é a desses espaços serem desenhados como uni-
dades produtivas já que é possível utilizar espécies vegetais que produzem materiais
com valor econômico, tais como lores de corte (‘copo de leite’ – Zantedeschia aethio-
pica e helicônias-Heliconia spp, por exemplo), ibras para confecção de cestos e arte-
sanato (taboa – Typha spp e junco – Juncus spp), papel (papiro – Cyperus papyrus)
e até mesmo material de construção (bambu – Guadua augustifolia, Guadua chaco-
ensis e Dendrocalamus giganteus, entre outros). Mediante certo cuidado, a biomassa
produzida nesses sistemas pode, provavelmente, ser utilizada como ração para ani-
mais e também como material para compostagem.
36
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°01
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO, Teixeira. A Cultura e o seu contrário. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2008.
JOHN TODD ECOLOGICAL DESIGN. Client & Case Study List: City of Fuzhou,
Fujian Province, China – Urban Municipal Canal Restorer Fuzhou, China. Dispo-
nível em: < http://toddecological.com/PDFs/100623.casestudy.baima.pdf>. Acessado
em 18 de março de 2013.
38
ARTIGO Nº2
Dominique Fretin*
*Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1974), mestrado(2002) e
doutorado (2009) em Arquitetura e Urbanismo, ambos pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atu-
almente é pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie e professor assistente na faculdade de
Arquitetura e Urbanismo desta mesma Universidade. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo,
com ênfase em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo, atuando e lecionando principalmente nos seguin-
tes temas: arquitetura, energia solar, sustentabilidade, projeto de arquitetura, qualidade de vida, eiciência
energética e conforto ambiental (Térmica, acústica, insolação, ventilação, iluminação natural).
Endereço para acessar CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/6612511393884906
e-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
There is no doubt as to the evolution of the solar energy yield and the accelerated
progress of techniques able to exploit this type of energy. The novelty lies in the trans-
formation of solar radiation into electricity, which mankind cannot disregard anymore,
but other ways to use such energy, light and heat, which are as old as the recorded
40
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
in the architecture history and constructions. Even so, the assimilation of such possi-
bilities in the constructing art still looks going on slowly. The question that guides this
article seeks to ask if the adoption of this form of energy will bring changes in the form
of buildings and urban design, transforming the landscape of the cities. A brief survey
of the “state of the art” attempts to clarify these issues.
1
VITRUVIUS, Marcus P. – The ten Books on Architecture. Translated by Morris H. Morgan. Dover Publica-
tions, re-edição (original de 1914), New York. ISBN: 486-20645-9.
A orientação em relação ao sol é mencionada com ênfase em dois livros, ou capítulos, da obra de Vitruvius.
No Livro I (cap. IV, p.17), aparecem as diretrizes gerais para a escolha do sítio de uma cidade e como as
trajetórias do sol devem ser levadas em conta. No Livro IV (cap. V, p.116), discorre sobre a orientação dos
templos. No livro VI (cap. I, p.170) deine as diretrizes para o projeto de ediicações com mais detalhes,
trazendo conselhos para os mais diversos tipos de cômodos. Há inclusive a descrição detalhada da casa
grega. O livro IX (cap. VII, p.270-272). trata de astronomia em geral e geometria solar, demonstrando alto
grau de conhecimento técnico.
41
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
Para responder a estas questões que envolvem a adoção da energia solar como fonte
de energia e o aproveitamento da energia solar na arquitetura, ou pela arquitetura, o
assunto deve ser abordado num contexto mais amplo, tentando identiicar e englobar
um grande número de aspectos que a envolvem. Ao lado das questões técnicas e
construtivas que remetem a exeqüibilidade de uma ediicação, arquitetos e urbanistas
devem lidar com outras realidades, outras circunstâncias que estabelecem um rol de
aspectos, variáveis e parâmetros em contextos diferentes, porém inter-relacionados.
O primeiro aspecto, talvez o mais imediato é aquele que expõe o potencial energé-
tico solar disponível num determinado local e diz respeito à posição geográica e às
características físicas do entorno. A latitude do local deine o ângulo de inclinação
da eclíptica solar em relação ao plano horizontal e os ângulos dos raios solares em
relação á vertical do lugar em cada momento do dia e do ano. Junto com as con-
dições macro e micro climáticas locais, como a nebulosidade, o número de horas
de insolação direta, o estado e composição da atmosfera, determina-se o potencial
de energia solar disponível. Nota-se que as condições climáticas são afetadas pela
42
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
Numa escala menor, ou seja, de referência ao local das ediicações, o micro clima
inluenciado pela topograia e pela existência de obstáculos naturais ou construí-
dos, pela proximidade de vegetação de grande porte, que possam sombrear em
determinados horários do dia, ajudam a reinar as estimativas do potencial solar no
lugar especíico estudado. Nestes casos, ações dependem das decisões no âmbito
do projeto de arquitetura. Os conhecimentos dos contextos regionais e locais são
essenciais no início de qualquer projeto de arquitetura, pois irão auxiliar o estabe-
lecimento das diretrizes gerais e fornecer algumas respostas preliminares sobre o
aproveitamento da energia solar e de que maneira, passiva ou ativa. A decisão air-
mativa permite estabelecer estratégias quanto à implantação de uma ediicação no
terreno, a orientação das fachadas e o dimensionamento das aberturas, a necessi-
dade de proteções ou sombreamentos, a produção de energia elétrica a partir do sol
43
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
Os avanços nas pesquisas sobre o efeito fotovoltaico têm acenado com possibilida-
des novas para a produção de energia e provocado arquitetos e construtores quanto
à sua incorporação na arquitetura. Um problema técnico, evidentemente, mas, sobre-
tudo epistemológico.
2
CALDANA JR, Valter Luis – Projeto de arquitetura: caminhos. Tese de doutoramento apresentada na Fa-
culdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Documento digitalizado em Pdf, São
Paulo, 2005.
44
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
3. PARADIGMAS DA ARQUITETURA
3
Cf. MONEO, Rafael – Inquietud teórica y estratégia proyectual en la obra de ocho arquitectos contemporá-
neos. Actar, EU, 2004. ISBN: 84-39551-68-1.
45
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
espalhou a uma velocidade crescente nas últimas décadas do século XX. Inicialmen-
te louvado por Le Corbusier, em seu livro “Quand les cathédrales étaient blanches”
(1937) após sua visita a Nova Iorque, em 1928, porque este invento prometia liberar
arquitetos e projetistas das limitações até então impostas pelas condições climáticas
locais. De fato, as regiões de climas extremos obrigavam a adotar soluções cons-
trutivas que, por si só, mitigassem os efeitos negativos das condições ambientais
extremas. Mas, os progressos da tecnologia paralela à arquitetura permitiram o desa-
brochar de um molde internacional, que pode ser encontrado em profusão em todos
os rincões do planeta e que são totalmente independentes dos contextos ambientais
locais. Torres de vidro, autênticos coletores solares, absorvem e armazenam quanti-
dades, as vezes absurdas de calor, e demandam o aporte de grandes quantidades
de energia elétrica, para retirar este calor excessivo. Em regiões de clima tropical
estas soluções se mostram incoerentes e, em muitos casos, absurdas. É certo que
a tecnologia dos equipamentos de ar condicionado conheceu uma evolução ímpar
nestas últimas décadas e demonstram a capacidade em desenvolver equipamentos
eicientes e econômicos em termos de consumo de energia. O mesmo é verdade para
indústria ligada à iluminação artiicial, assim com àquela dos materiais e componentes
da construção civil. As recentes certiicações e selos “verdes” aceleram a busca de so-
luções técnicas que busquem a eiciência energética das ediicações, principalmente
as comerciais, consumidoras vorazes de energia.
Timidamente, no inal do século XIX, experimentos com energia solar acabaram sobre-
pujados pela existência e exploração de energias altamente eicientes – e rentáveis –
provenientes de fontes de alto rendimento, baratas e abundantes que se acreditavam
mais do que suicientes para as necessidades da época. Este pensar, alimentado por
um espírito de otimismo herdado do positivismo, fez acreditar no domínio total da natu-
reza e no controle absoluto do homem sobre o seu meio, originando uma situação para
a arquitetura do século XX que se tornaria um problema no inal do período quando as
energias convencionais começaram a ser questionadas quanto à sua sustentabilidade.
De qualquer maneira, enquanto as energias foram baratas e abundantes, os arquite-
tos souberam tirar partido destas fontes poderosas. A eletricidade foi incorporada com
sucesso na produção e no uso dos espaços ediicados transformando-os em micro
climas absolutamente controláveis, independentes do clima externo e da hora do dia,
pois a iluminação, doravante podia ser constante. O “Estilo Internacional” tornava-se
uma realidade global e podia se construir qualquer coisa em qualquer lugar desde que
houvesse energia elétrica que pudesse acionar os condicionadores de ar (aquecimento
e/ou refrigeração) e restabelecer o conforto.
46
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
Do outro lado do Atlântico, os projetos das casas solares de George Fred Keck coin-
cidem exatamente com períodos de diiculdades energéticas: depressão dos anos
1930 e guerra mundial. O maior mérito dos projetos de Keck é o de acomodar princí-
pios solares antigos as técnicas construtivas de seu tempo e adaptá-las à linguagem
da arquitetura moderna. Profundo conhecedor dos princípios construtivos gregos e
4
LE CORBUSIER – La Carte d’Athènes – Paris : Points, 1957 . s/ ISBN .P. 82
5
Cf, FRETIN, Dominique – De Helii Architecturis - Capítulo III – Le Corbusier e o sol.
47
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
romanos, que ele mesmo cita, e dos movimentos aparentes do sol, Keck consegue
demonstrar a compatibilidade entre o uso de técnicas passivas para aproveitamento
da energia solar e a aparência moderna de suas casas. Poderia se dizer que suas es-
tufas características são para a arquitetura moderna das regiões frias o que o quebra-
sol representa para a arquitetura moderna tropical.
A arquitetura de Frank Lloyd Wright tem um caráter distinto no sentido que o sol, com
sua luz e calor, por assim dizer, são elementos integrantes da sua arquitetura, obede-
cendo à deinição mesmo da arquitetura orgânica “na qual as formas devem ter o rigor
necessário de um organismo natural e apresentar a mesma unidade” (HATJE, 1964)6.
Dois exemplos marcantes, analisados no capítulo III, são: a casa da Cascata (1936) e a
segunda casa Jacob (1944) e, cujas plantas, em última análise, são uma transposição
iel de um gráico das trajetórias aparentes do sol para suas latitudes. Conigurações,
formas e implantações obedecem rigorosamente à geometria solar, enquanto materiais
e elementos construtivos buscam graças a suas características térmicas (judiciosamen-
te escolhidas) o melhor aproveitamento da energia solar. São exemplos primorosos do
que hoje é classiicado como arquitetura bioclimática. A prioridade dada ao sol é eviden-
te nos dois casos e inluencia e justiica toda a composição formal.
No Brasil, o exemplo de Rino Levi revela uma postura airmada do arquiteto no que
diz respeito aos seus projetos e à sua obra em relação ao sol. A questão energética
emerge nem tanto como fruto de preocupações em economia de energia7, mas em
decorrência de um racionalismo extremo na sua forma de projetar, com elegância e
uso correto dos materiais. Rino Levi se serve das soluções da arquitetura para provi-
denciar conforto interno da maneira mais natural possível. Esta atitude se nota na im-
plantação do edifício do Banco Sul Americano, na Avenida Paulista, que não obedece
a uma lógica esperada de mercado: o fato de virar o prédio para a Rua Frei Caneca,
(rua secundária), pode ser explicada por uma questão de ângulos (uma reminiscên-
cias do antigo código Sabóia que determinava a altura máxima de um edifício em
6
HATJE, Gerd (org.) – Dictionaire de l’architecture moderne. Fernand Hazan, Dijon 1964. Pp, 220-221.
7
A cidade de São Paulo, onde se encontra a maioria da produção de Rino Levi, enfrentou (e ainda enfrenta)
crises cíclicas de energia, em parte porque os investimentos em energia elétrica, sempre estiveram aquém
do crescimento industrial e urbano acelerado e, portanto de uma demanda insaciável. O fornecimento de
energia elétrica da cidade depende dos reservatórios das cercanias e, portanto, das chuvas,situação pericli-
tante nas épocas de secas prolongadas.
48
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
função da largura da rua), ou por uma razão acústica para evitar o ruído da avenida
Paulista (carros e bondes) ou ainda, por uma lógica associada à geometria solar: o
prédio virado para a rua Frei Caneca teria uma orientação mais adequada para prote-
ções (mais eicientes e mais econômicas), evitando o sobreaquecimento dos ambien-
tes e das estruturas.
A escolha do alumínio para os quebrassóis pode ser questionada: muito caro para
a época e o alumínio consome muita energia para sua produção. Foram usados por
motivos de durabilidade e facilidade de manutenção, mesmo porque, na época, estas
questões não eram prioritárias, e não havia escassez de energia.
4. O EXEMPLO DE FREIBURG
49
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
aproveitamento total desta energia, por meio de soluções passivas e ativas, completa-
mente integradas (e não disfarçadas) no desenho dos edifícios. Nos prédios do Solasie-
dlung (Bairro solar), por exemplo, os painéis fotovoltaicos são a cobertura das unidades
habitacionais e não sobrepostos sobre um telhado convencional (Figura 1). O desenho
dos edifícios acompanha os princípios fundamentais de uma arquitetura bioclimática
com soluções solares passivas, criando edifícios sui generis. Mas, além do desenho de
cada unidade, há um desenho urbano que rege a disposição dos edifícios, derivado da
decisão de aproveitamento máximo da energia solar, obediente à geometria das traje-
tórias do sol para a latitude local. A exposição ao sol é garantida a todas as unidades,
tanto para o correto funcionamento das soluções arquitetônicas passivas, como para
a produção de eletricidade pelos painéis fotovoltaicos. A realização deste projeto evi-
dencia também a importância do apoio de legislação especíica sobre o uso da energia
solar como resultado de uma vontade político-econômica clara neste aspecto.
50
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
51
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
Figura 5 – Cidade de Shibam Hadhramaut, Iemen. Alta densidade e edifícios agrupados para som-
breamento durante o dia. Material de base pesado para amortecer a amplitude térmica.
Desenho do autor. Fonte: http://www.boston.com/bigpicture/2008/10/stormbattered_yemen.html
52
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
O próprio desenho de Masdar City (Figura 2) proposto pelo escritório Foster & Partners,
como da cidade ecológica de Ras Al-khaimah (Figura 6), projetada por Rem Koolhaas,
ambas nos Emirados Árabes Unidos (EAU), de planta quadrada, com edifícios aglutina-
dos formando de longe uma massa compacta, para se proteger do sol e das tempesta-
des de areia, se assemelha às cidades mais antigas implantadas em desertos.
Nota-se uma diferença brutal, por exemplo,l com o desenho da cidade de Dubai, cal-
cado em modelos à americana, com eixos de circulação monumentais (para carros)
ladeados de edifícios isolados, também monumentais, esculturais, porém com suas
fachadas envidraçadas totalmente expostas ao sol, portanto inabitáveis sem o uso de ar
condicionado (o que implica no consumo enorme de energia para seu funcionamento).
Segundo Adam Smidt, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto vencedor de con-
curso para a sede da companhia Masdar (Masdar Headquarters), “não é a forma que
53
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
Os projetos da cidade de Masdar, assim como do Masdar Headquarter abrem uma nova
visão sobre o papel e o signiicado da forma na arquitetura. Principalmente sobre como
o ambiente construído reage e interage com o clima, neste caso, em pleno deserto, com
o sol. O aspecto plástico, formal dos edifícios e da cidade, mesmo se abordados sob
um ponto de vista funcionalista, energético, ostenta uma aparência agradável. Seus
espaços internos convidam ao usufruto. Ao identiicar o potencial formal de projetos am-
bientalmente sustentáveis, HAGAN (2001) argumenta que “o prazer estético se tornou
tão necessário quanto ético na formação de uma sociedade que busca o bem estar do
maior número de pessoas” 8 . Tal airmação em reiterar a idéia de que o aproveitamento
da energia solar na arquitetura não signiica apenas a justaposição de equipamentos
que provêm energia ou a substituem, mas que integrados ao processo de projeto tra-
zem um signiicado novo aos espaços e, inalmente, à arquitetura.
Quanto aos sistemas fotovoltaicos, seus altos custos eram justiicados até pouco tem-
po atrás, pois os processos de produção do silício utilizado nas células fotovoltaicas
8
HAGAN, Susanah. Taking Shape, a new contract between architecture and nature. Architectural Press,
Oxford, 2001.
54
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
9
Cf, FRETIN, Dominique – De Helii Architecturis. Tese de doutorado, Universidade Mackenzie, 2009. Capítulo I.
10
Idem.
55
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02 Junho de 2013
É também apontada como uma energia “limpa”, verde, o que é sensato em termos de
energia. Porém, a produção de materiais e componentes para equipamentos solares
depende de processos de extração e transformação de matérias primas, assim como
de processos industriais que, estes, causam impactos negativos no meio ambiente.
Extensas superfícies de coletores solares podem ocasionar o aquecimento local, cau-
sando efeito “ilha de calor”. Basta imaginar uma cidade inteira captando energia solar
por meio de coletores de aquecimento e painéis fotovoltaicos.
56
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°02
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYRES NETTO, Gabriel – Código de obras “Arthur Saboya”. Edições Lep, São Paulo,
1947. S/ ISBN.
HAGAN, Susanah. Taking Shape, a new contract between architecture and nature.
Architectural Press, Oxford, 2001.
HATJE, Gerd (org.) – Dictionaire de l’architecture moderne. Fernad Hazan, Dijon 1964.
57
ARTIGO Nº3
FORMA E FLUXO
A NATUREZA NA CIDADE EM DUAS TENDÊNCIAS
SHAPE AND FLOW: NATURE IN THE CITY ON TWO TRENDS
José Otávio Lotufo
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03
FORMA E FLUXO
A NATUREZA NA CIDADE EM DUAS TENDÊNCIAS
RESUMO
ABSTRACT
Discussions about the future of cities propose two contemporary trends as develop-
ment paths. One focuses the past and the other the future. The way how construction
and nature are related has great importance in the integration of cities and ecosyste-
ms. This paper proposes to assimilate the qualities and overcome the contradictions
of each, introducing a sensible dimension able to integrate them.
59
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
INTRODUÇÂO
Estas tendências estão bem representadas pelo New Urbanism e pelo Landscape
Urbanism. Apesar de não se encerrarem nelas ambas servirão para nós como refe-
rências. Ainda que formulados originalmente em um contexto norte-americano, estes
modelos já evoluíram para além daquelas fronteiras através de aplicações teóricas,
práticas, contribuições mútuas e um debate produtivo.
Este trabalho propõe integrá-los como dois braços que cooperam numa ação conjun-
ta, partindo da hipótese de que qualquer opção unilateral entre tradição e inovação
deixará de fora algo importante. Um destes, na retaguarda, busca na cidade tradicio-
nal o resgate de características apagadas pelas grandes transformações urbanas do
último século. O outro, na vanguarda, busca integrar o espaço natural e o construído
em cenários futuros inéditos.
1
Revista Labverde n.o 4, Natureza e Sociedade: Novos Urbanismos e um Velho Dilema, J. O. Lotufo
60
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03
O Landscape Urbanism, por sua vez, será apresentado como um paradigma novo, com
seus prós e contras. O ponto de inlexão será a questão levantada frente à forma e o
luxo. Sua principal oposição ao New Urbanism se dá em relação a um “formalismo”
excessivo que estaria engessando processos sociais e ecológicos. O Landscape Urba-
nism propõe que o luxo ou processo, substitua a forma na concepção do desenho. Este
preceito, já presente no Pitoresco, assumiu com o Landscape Urbanism dimensões me-
nos empíricas, e sua desmaterialização será alvo de importante crítica. A maior contri-
buição do Landscape Urbanism foi trazer informações que escapam do tradicionalismo,
fazendo referência a um mundo que difere daquele do passado: um mundo de mudan-
ças climáticas, escassez de recursos, novas tecnologias, incertezas e complexidades.
Existe uma ordenação complexa na natureza que extrapola o entendimento mais con-
sensual sobre “ordem”. No contexto de uma crise ambiental sem precedentes deverí-
amos reletir o quanto a falta de uma consideração mais cuidadosa desta complexida-
de poderia estar na raiz da crise.
Não obstante ao fato de nos parecer caótica, esta ordenação rege o universo que nos
cerca. Na prática, nossa visão mecanicista do universo ainda se traduz numa técnica
rudimentar, uma simpliicação artiiciosa e pouco eiciente quando comparada ao fun-
cionamento dos sistemas e organismos naturais.
Nosso modelo de produção e consumo não está em simbiose com o meio ambiente
como estão as espécies que constituem um ecossistema. Em nosso atual estágio
tecnológico agimos mais como parasitas. Em nossa arrogância, nos impomos como a
espécie que reina sobre todo o resto, nos supondo ordenadores de um suposto caos.
Tentamos imitar a natureza ediicando nossa técnica sobre suas leis, mas ao fazer isso,
a usurpamos de forma grosseira. Nós que sempre estivemos sob o domínio de suas leis,
61
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
Hoje sabemos que ao insistir nesta postura estamos destruindo a base de nossa pró-
pria existência. A situação de nossas cidades, enquanto artefatos, relete este modelo
insustentável de pensamento e atuação. Se as cidades não assimilarem uma lógica de
funcionamento mais atrelada àquele dos ecossistemas estaremos rumo a um desastre.
2
Ver tese de Luciana Schenk, Arquitetura da paisagem, entre o pinturesco, Olmsted e o Moderno.
3
CULLEN, G. Paisagem Urbana. SãoPaulo: Martins Fontes, 1983.
62
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03
Pevsner produziu uma série de textos nos anos 40 e 50, no contexto da crítica à produ-
ção urbanística da primeira metade do século XX. Mais tarde estes textos seriam reu-
nidos e publicados por Mathew Aitchison no livro Visual Planning and the Picturesque.
Esta visão mais sensível à natureza se opunha à de caráter mais racional. Cada um
destes partidos estéticos se alinhava ao viés intelectual de dois importantes países pro-
tagonistas do pensamento urbanístico. Na Inglaterra, terra de Francis Bacon, a estética
é empírica, ligada ao corpo, à natureza e às idéias liberais. Na França, terra de Des-
cartes, a estética é racional, ligada à mente, à técnica e ao controle sobre a natureza e
sociedade. Estas duas vertentes deram forma, inicialmente, ao jardim inglês e francês,
mais tarde estariam no âmago do organicismo e do racionalismo na arquitetura e urba-
nismo modernos. Como nunca foram estanques, estas correntes se alimentaram reci-
procamente, porém uma predominância tecnicista veio a gerar um afastamento gradual
do Pitoresco, mesmo nas propostas que deram continuidade à corrente orgânica.
O caminho do Pitoresco à Inglaterra passa pela visita de seus teóricos aos jardins re-
nascentistas da Itália que, já envelhecidos pela ação do tempo, apresentavam trans-
formações, algumas ruinosas, onde heras e musgos cobriam parcialmente as constru-
ções. Esta permissão à espontaneidade da vegetação e da ação do tempo sobre as
construções suscitaria questões que inspiraram a idealização do Pitoresco. 5
4
PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publications 2010.
5
SCHENK, Luciana B. M.. Arquitetura da paisagem, entre o pinturesco, Olmsted e o Moderno. Tese de dou-
torado. Escola de Eng. de São Carlos, USP, 2008.
63
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
A defesa do Pitoresco é a daquela ordem natural, tão próxima de nós, que se expres-
sa numa ainidade perceptiva, emocional e estética que sentimos no contato com a
natureza. O Pitoresco é a expressão desta ainidade como necessidade vivida num
mundo que tem sofrido há tempos as consequências deste afastamento. Inerente a
esta estética há uma lógica orgânica capaz de integrar os processos ecossistêmicos,
diminuindo ou eliminando os conlitos que a lógica tecnicista tem gerado.
O movimento New Urbanism se inicia no im dos anos 70 e início dos 80 nos EUA,
com a falência dos subúrbios jardins como ideal espelhado no “sonho americano”, e
na esteira de importantes abordagens críticas do debate pós-moderno, como o livro
de Janes Jacobs, The Death and Life of Great American Cities, e nas propostas urba-
nísticas de Leon Krier.
Na Inglaterra o movimento das cidades jardins surgira como continuidade a uma linha
de pensamento cujas origens podem ser traçadas ao jardim inglês. Recebera também
a inluência de Camillo Sitte que alertara para o apagamento das características posi-
tivas da cidade tradicional pela modernização das cidades industriais.
Diferente das cidades jardins inglesas o subúrbio jardim norte americano parece não
ter assimilado estas características. Estruturado pela construção de autoestradas, o
automóvel foi um fator determinante deste ideal. Se no início do século XX o automó-
vel promovera a dispersão e o desenvolvimento dos subúrbios como resposta aos
problemas da aglomeração nos centros urbanos, se tornaria mais tarde um dos princi-
pais fatores da decadência, tanto dos subúrbios quanto dos centros urbanos.
64
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03
6
KATZ, P. (org). The New Urbanism. Toward an architecture of community. Nova Iorque, Mc Graw-Jill,
Inc.,1994
7
KATZ, P. (org). The New Urbanism. Toward an architecture of community. Nova Iorque, Mc Graw-Jill,
Inc.,1994
65
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
Esta noção tomada como ponto de partida para o projeto o condiciona por um viés
ecologicamente ineicaz. Ao reairmar a cisão entre natureza e civilização, reproduz
um distanciamento teórico e sensível. Ainda que a intenção seja a preservação das
terras agrícolas e naturais através da contenção da expansão urbana, a eiciência
desta técnica tem sido contestada. Alex Krieger em sua crítica ao New Urbanism9
airma que a mera reposição de edifícios tradicionais na paisagem é insuiciente para
impedir a expansão.
Há algo de essencial no que Camillo Sitte propôs em seu clássico, A Construção das
Cidades Segundo seus Princípios Artísticos, que difere fundamentalmente do New
Urbanism. A espontaneidade, a irregularidade das ruas, a assimetria das praças e
de suas relações com edifícios é uma crítica direta ao plano de Haussmann para a
reforma de Paris, que apagara grande porção da cidade medieval. O New Urbanism
adapta à escala humana os preceitos da tradição francesa ,da qual Haussmann é
um grande expoente. Esta tradição encontrou continuidade nos EUA através do
movimento City Beaultiful, e ressurge no New Urbanism através do traçado retilíneo
das ruas, da regularidade das construções e da padronização paisagística e arquite-
tônica. Através deste raciocínio o desenho da paisagem submete o verde ao espaço
8
KATZ, P. (org). The New Urbanism. Toward an architecture of community. Nova Iorque, Mc Graw-Jill,
Inc.,1994
9
Citado em, The Landscape Urbanism: Sprawl in a Pretty Green Dress?, por Michael Mehaffy
66
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03
Para o ideário Pitoresco, trazer a natureza para o desenho requer que antes olhemos
para a própria natureza como um jardim. Horace Walpole comentou sobre Bridgman
and Kent: “Ele saltou a cerca e viu que toda a natureza era um jardim”. Stephen Swit-
zer Por sua vez airmou: “O jardineiro natural fará seu desenho se submeter à nature-
za e não a natureza ao seu desenho10.
Figura 4 – Esquema de plantio regular de árvo- Figura 5 – Vegetação em Oxford College Park
res para South Brentwood, Calthorpe Associates (fonte: Google Earth)
(fonte: The New Urbanism. Toward an architec-
ture of community)
10
PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publications 2010.
67
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
cos, sistemas frágeis não são coniáveis em termo do oferecimento constante des-
tes serviços, sistemas resilientes, sim. Michael Hough apontou em seu livro Cities
and Natural Process como nestes espaços a natureza retoma seu lugar sem a ajuda
do homem. A esta natureza subversiva deveríamos dedicar maior atenção, pois ela
nos oferece lições valiosas. Se para nosso olhar doutrinado esta expressão natural
é “erva daninha” e “mato”, é notável como supera as diiculdades e sua capacidade
de adaptação. E mais importante, sua biodiversidade é bem maior e o seu grau de
entropia bem menor que nos jardins cultivados. Os jardins naturalistas são mais
sustentáveis e abrem caminho para uma revolução estética mais alinhada às neces-
sidades ecológicas.
A ESCALA HUMANA
11
PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publications 2010.
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DIVERSIDADE E IRREGULARIDADE
O New Urbanism não nega o preceito de diversidade, mas o reduz ao uso do solo
e ao social. Mesmo este último, defendido na teoria, foi objeto de crítica por David
Harvey 12 que apontou seus perigos de segregação social e gentriicação13. Quais os
meios para garantir a diversidade sociocultural frente à tendência contemporânea, e
ao fechamento em comunidades autocentradas por sentimentos étnicos e nacionalis-
tas, torna-se uma questão importante. Aprender com a natureza pode ser, talvez, uma
forma de reletir sobre como a diversidade é positiva também em outras instâncias,
como uma metáfora para a coexistência harmônica e pacíica entre as diferenças.
Mas vamos nos ater, no entanto, naquilo que diz respeito ao desenho urbano e ques-
tões ecossistêmicas.
O New Urbanism, por sua vez, determina uma uniformidade excessiva na arquite-
tura, traçado viário, arborização e desenho da paisagem. Mais do que a deinição
de recuos e densidade construtiva, determina através de manuais detalhados o es-
tilo arquitetônico, elementos de fachada, mobiliário urbano, largura e materiais das
calçadas e até quais espécies de árvores devem ser plantadas em espaçamentos
regulares nas calçadas.
Até certo ponto a regularização pode ser positiva, porém em excesso torna artiiciosos
os lugares da cidade. O estilo tradicional temperado com a estética industrial, como
propõe o New Urbanism, recai com frequência no artiicioso, nos remetendo ao par-
que temático e a cenograia. Mas o habitante da cidade contemporânea se tornou tão
12
HARVEY, David. The New Urbanism and the Communitarian Trap
13
Expulsão de população de menor renda pela valorização do solo urbano
14
Hough, Michael. The Cities and the Natural Process
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Castle Combe, uma cidade pitoresca inglesa, parece brotar do sítio, enquanto Seasi-
de, um ícone do New Urbanism, parece ter sido montada com peças produzidas em
alguma indústria distante. Algo essencial as diferencia, tanto pelas construções como
no modo como a natureza se integra. (ig.2).
Para uma compreensão do espaço a partir de quem nele vive e circula, o Pitoresco
sugere que se foque a pequena escala ao invés de grandes planos. Sugere uma com-
preensão menos técnica e mais sensível da cidade. O que está em jogo não é tanto
a função utilitária, que por si parece fria e torna o homem mecânico. O Pitoresco não
sugere máquinas, mas organismos, não a repetição industrial seriada, mas a diver-
sidade e irregularidade inerentes aos organismos vivos e ecossistemas. As pessoas
11
PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publications 2010.
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O New Urbanism parece querer impor um censo comum a criar regras excessivas e
restrições formais à cidade e construções. Neste ponto deveria existir um maior equi-
líbrio entre o planejamento global e a liberdade criativa do arquiteto. Ao impor referên-
cias culturais e regionais o faz de modo artiicioso, nada que se assemelhe às vilas e
cidades tradicionais. Falta-lhe certa espontaneidade que possa trazer à vida aquele
caráter que torna cada lugar único e irreproduzível. Aqui que entra outro conceito im-
portante ao Pitoresco, o que os romanos identiicavam como genius loci.
O “ESPÍRITO” DO LUGAR
O poeta inglês Alexander Pope recuperou o conceito de genius loci como um princípio
para a paisagem. Ele disse: “Ao esboçar um jardim a primeira coisa a ser considerada
é o genius do lugar”. Este conceito na Roma antiga tinha um caráter mítico, em cada
lugar reinaria um espírito que lhe conferiria características próprias. Hoje, como noção
para uma abordagem sensível do lugar, esse conceito airma que nenhum terreno se
iguala a outro, guardando cada um suas características peculiares, sejam materiais,
energéticas, biológicas, culturais, psicológicas ou históricas.
Por sua subjetividade o genius loci não é só observado, mas interpretado. Thomas
Whately, escritor e jardineiro, usava a expressão “caráter do lugar” airmando que de-
veríamos observar pacientemente a natureza antes de tentar imitá-la, considerando a
importância da água e da variedade de espécies de árvores e arbustos como caracte-
rísticas únicas de cada lugar 16. Willian Gilpin trouxe sua dimensão cultural ao enfatizar
as associações sentimentais com ruínas e construções antigas. Ao despertar asso-
ciações psicológicas e sentimentais somos conectados com a história do lugar, o que
fortalece os laços afetivos. Este “espírito” do lugar consiste do elemento psicológico,
ou conjunto de informações subjetivas que liga o ser humano à história cultural e na-
tural do lugar. A negação do passado, a tabula rasa sobre elementos de valor histórico
16
PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publications 2010.
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Segundo Tzoni e Lefaivre18 esta deinição de lugar deve ir além de questões étnicas e
se opor ao “germe da insularidade nacionalista”. Para isto o regionalismo é obtido atra-
vés do recurso da “desfamiliarização”, quando os “elementos deinidores do lugar” são
incorporados por “estranhamento”, através da recomposição num contexto contemporâ-
neo dos elementos regionais ligados historicamente à formação do genius loci. O efeito
deve ser o contrário da narcotização causada pela rotina, pelo familiar, pelo que é obvio
e repetitivo. Este “estranhamento” deve levar o “observador a um estado metacognitivo,
uma democracia da experiência”. Não destrói o genius loci, nem força sua permanência,
e sim reconhece que ele evolui, participando na reconstituição do lugar.
Segundo ele, dois fatores a partir dos anos 60 tiveram grande impacto sobre a quali-
dade de vida nas cidades: a necessidade de se construir rapidamente para atender à
demanda do crescimento e a invasão do automóvel.
17
From Theory to Resistence: Landscape Urbanism in Europe , em Landscape Urbanism Reader
18
Alexander Tzonis e Liane Lefaivre, em Porque regionalismo Crítico?, em Uma Nova Agenda Para a Arquitetura.
19
GEHL, Jan. Cities for people.
72
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Jan Gehl aborda a vida enquanto vida humana. Se ampliarmos esta visão para onde
a própria vida humana se apoia, acrescentaremos à visão antropocêntrica, a biocên-
trica. Ellis20 propôs que atualmente, quase todo “bioma” é na verdade, um “antroma”
porque já sofreu algum grau de modiicação pelo ser humano. Assim, as cidades em
todas as suas relações, desde as escalas setoriais até as regionais e planetárias,
passam a ser encaradas como constituintes de uma grande rede de antromas e áreas
naturais. Esta visão é mais bem abordada pelo Landscape Urbanism.
O LANDSCAPE URBANISM
20
Anthropogenic transformation of the biomes, 1700 to 2000
73
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°03 Junho de 2013
mento surge na trilha de teóricos como Patrick Geddes, Lewis Munford e Ian McHarg,
que compreenderam a cidade em seu contexto regional, em suas relações com a
geograia, geologia, hidrograia, ecologia, agricultura e todo o conjunto de atividades
humanas. Mas o Landscape Urbanism reconhece neles a persistência da dicotomia
entre natureza e civilização: para seus teóricos as concepções tradicional e a moder-
na teriam falhado neste ponto.
TEMPO E PROCESSO
21
The emergence of landscape urbanism, Grahame Shane, em Landcape Urbanism Reader.
22
Richard Weller, em Landscape Urbanism Readers.
74
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Koolhaas propusera a “irrigação dos territórios com potencial”. Seu projeto para o
concurso do Parc de La Vilette, em Paris, assim como o do vencedor, Bernard Tschu-
mi, constituem um marco conceitual para o Landscape Urbanism ao representarem
estratégias de ordenar as mudanças programáticas e sociais no decorrer do tempo 23.
Ao mesmo tempo em que abriram caminho para uma lógica inerente aos processos
ecossistêmicos criaram bases de uma planiicação que corresponde a condições eco-
nômicas e culturais determinadas pela não localidade, descentralização, mobilidade
de capital, bens e pessoas. Em vez de ser lida em termos espaciais formais a cidade
deveria ser lida como um sistema de luxos espaço temporais.
Julgar que, do ponto de vista ecológico, qualquer processo é melhor que uma for-
ma ixa, é uma falácia. A ecologia não consiste somente de processos, mas também
de estruturas relativamente ixas, como as geológicas e topográicas; na natureza,
forma e processo coexistem. Por outro lado pragas e epidemias, por exemplo, são
processos patológicos, assim como podem ser certos processos econômicos. Se-
gundo Spencer, na China, nos 20 anos que se seguiram às reformas econômicas, a
transformação territorial produziu cerca de quatrocentas novas cidades. Uma cres-
cente disparidade de renda entre população urbana e rural gerou setenta milhões de
23
Carles Waldhein, em Landscape Urbanism Readers
24
The Obdurate Form of Lanscape Urbanism: Neoliberalism, Designs and Critical Agency
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Douglas Spencer também parece propor uma integração entre forma e luxo quando
deseja ir além dos interesses neoliberais. Sua vertente do Landscape Urbanism se
dirige às especiicidades concretas de cada território. Sem renunciar à forma, ele a
toma como veículo através do qual contempla cenários urbanos possíveis, evitando
tanto as armadilhas do determinismo inlexível quanto as de uma soltura radical. Atra-
vés da criação de topograias artiiciais, o solo se torna um instrumento estruturador
de relações entre fatores ambientais, sociais, econômicos e culturais.
76
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Grande porção dos problemas ambientais urbanos se dera pelo impacto de grandes
infraestruturas tecnológicas. Para que estas possam superar o seu protagonismo num
cenário de devastação, torna-se necessário ir além de seu monofuncionalismo e in-
cluir todo o potencial social, cultural e ecológico dos espaços que ocupam.
25
Landscape Urbanism Reader
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A questão das infraestruturas, como tratada pelo Landscape Urbanism, abrange uma
área normalmente tratada como meramente técnica, desconsiderando seu impacto no
contexto urbano e dos ambientes naturais sob sua inluência. Neste sentido a paisa-
gem adquire novo signiicado.
A imagem da cidade que desejamos está, até certo ponto, condicionado por nossa
experiência prévia. Se pretendemos avançar na idealização de uma cidade mais sau-
dável torna-se necessário quebrar condicionamentos perceptíveis e conceituais. Para
26
Mark A. Benedict e Edward T. McMahon. Green Infrastructure, Linking Landscapes and Communities.
27
Infra-estrutura Verde: uma estratégia paisagística para a água urbana.
78
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isso a experiência direta da cidade, tanto de seus aspectos positivos como negativos
pode ser de grande ajuda, e isto deve ser experimentado coletivamente.
A iniciativa Árvores Vivas 29 é outra que surgiu e cresceu em associação com o mo-
vimento Rios e Ruas, devido à ainidade de seus criadores e à estreita relação entre
28
http://rioseruas.wordpress.com/
29
http://www.arvoresvivas.com.br/
79
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Por contraste, duas imagens vão se informando mutuamente, a da cidade que temos
e a da cidade que desejamos, realimentando nossa ideia de “cidade boa”. Esse desejo
pode funcionar como a mola propulsora de um movimento participativo, cultural e eco-
lógico por uma cidade mais verde e acolhedora para todos.
Ainda que Cristophe Girot aponte o Pitoresco como antecipação de uma compreen-
são estática da paisagem, o estudo de Pevsner parece sugerir justamente o contrário.
Sua visão antecipa o uso do movimento na representação da paisagem. Através da
fotograia sequencial ele antecipa o uso do vídeo e da animação digital. A insuiciência
dos métodos tradicionais de representação já havia sido apontada por ele nos meados
do século XX. Consideradas as limitações tecnológicas da época, Pevsner introduziu
a fotograia em série, que associada com um texto, descreve um percurso, uma di-
mensão além do espaço estático. Posteriormente, suas ideias serão incorporadas por
Gordon Cullen no movimento Townscape, através da representação de sequências de
perspectivas, nos remetendo ao recurso do storyboard cinematográico.
Cristophe Girot propõe a integração de diferentes leituras num método que: reconhe-
ça as qualidades do passado, clariique as opacidades do presente e compreen-
da os potenciais futuros. O lugar e o ponto de vista são dois conceitos que surgem
como elementos a serem compreendidos. O lugar dentro de uma “moldura auto-re-
ferenciada que qualiique e fortaleça o potencial natural de uma cidade no tempo”; e
o ponto de vista como um parâmetro subjetivo que deve se tornar parte integral do
processo de desenho. Como na mecânica quântica, o fenômeno observado depende
da posição do observador.
80
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Superar a prancheta, como sugere Corner, signiica avançar nos métodos de repre-
sentação e operacional do projeto. Novas formas como vídeo e computação gráica,
superposição de camadas, colagem e outras, visam introduzir outros dados sensíveis
e temporais. Mas devemos ir além, é necessário reairmar o equilíbrio entre o teórico
e o empírico na investigação da paisagem urbana 30.
CONCLUSÃO
30
Cristopher Girot; em Landscape Urbanism Reader.
81
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arquitetura, design e também por um trabalho cultural e educativo que informe e esti-
mule a população a expressar seus sonhos e necessidades.
31
Grahame Shane
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REFERÊNCIAS
ELLIS, E.C., Goldewijk, K.K., Siebert, S.; Lightman, D & Ramankutty, N. 2010. Anthropo-
genic transformation of the biomes, 1700 to 2000. Global Ecology and Biogeography,
19: 589-606
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que, Mc Graw-Jill, Inc, 1994.
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PEVSNER, Nikolaus. Visual Planning and the Picturesque. Los Angeles, Getty Publi-
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TZONIS, Alexander; LEFAIVRE,Liane. Por que regionalismo Crítico? em, Uma Nova
Agenda Para a Arquitetura.São Paulo, Cosac Naify, 2006.
WALDHEIN, Charles (organização). The landscape Urbanism Reader. New York. Prin-
ceton Architectural Press, 2006.
Internet
http://landscapeurbanism.aaschool.ac.uk/
http://aa-landscape-urbanism.blogspot.com.br/
http://wsm.wsu.edu/stories/2008/Spring/1harvey.pdf
83
ARTIGO Nº4
RESUMO
ABSTRACT
As an element of the open space system of cities, the cemeteries are justiied as a
research topic. It is currently noted that although they occupy large areas of the ur-
ban fabric, there is no relationship between them, composing spaces disconnected
and without appropriation. Environmental concern is also urgent because those sites
are subject to serious contamination. This article intends to analyze the major com-
positions of Brazilian cemetery spaces, possible methods for disposal of bodies and
new technologies available, showing, in this way, that cemeteries may have signiicant
collaboration in building more sustainable cities and positive urban landscapes.
85
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INTRODUÇÃO
De acordo com Michael Hough(1998), os cemitérios estão entre os espaços livres mais va-
liosos das cidades. Sendo locais de silêncio e tranquilidade, podem se prestar a atividades
como caminhadas, meditação e estudo da natureza. Têm também potencial de desem-
penhar um papel signiicativo na conservação da fauna, pois se encontram apartados da
intensa atividade urbana, oferecendo meio ambientes que favorecem animais e pássaros.
Anne Spirn (1995) cita a cidade de Boston onde, na década de 1970, os cemitérios
representavam 35% dos espaços livres da cidade e constituíam-se como redutos de
vida selvagem no meio urbano. Destes, se destaca o cemitério de Mount Auburn, local
muito procurado por observadores de pássaros.
Assim, este artigo, pretende discutir alguns espaços cemiteriais e suas formas de des-
tinação dos corpos, num recorte mais especiicamente brasileiro, apontando algumas
iniciativas que possam ensejar uma integração positiva com o meio urbano e criar
situações sustentáveis colaborando para cidades mais verdes.
Pode-se dizer que as formas como os mortos são tratados e seus locais e formas de
disposição inal são relexos de concepções culturais. De maneira geral, no Brasil, de
acordo com o que acontecia na Europa desde a Idade Média, os cemitérios inicial-
86
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1
Igreja católica, devido à hegemonia da religião à época.
2
No Brasil, não há grandes separações tipológicas entre os tipos de cemitérios, sendo também utilizada a
nomenclatura “cemitério parque” como sinônimo de “cemitério jardim”.
3
Lucio Costa não se utiliza da nomenclatura “cemitério jardim” ou “cemitério parque”, contudo, pode-se dizer
que se refere a este tipo, devido à descrição: “Os cemitérios localizados nos extremos do eixo rodiviário-residen-
cial, evitam aos cortejos a travessia do centro urbano. Terão chão e grama e serão convenientemente arboriza-
dos, com sepulturas rasas e lápides singelas, à maneira inglesa, tudo desprovido de qualquer ostentação.” In:
COSTA, Lúcio. Relatório do Plano Piloto de Brasília. GDF, Brasília: ArPDF/ CODEPLAN/ DePHA, 1991, item 19.
87
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Imagem 02 – Cemitério da
Paz em São Paulo,SP: au-
tointitulado primeiro cemi-
tério jardim do Brasil. Foto:
Aline Silva Santos, 2011.
Pode-se dizer que a origem deste tipo se encontra nos lawn green cemetery britâni-
cos, que se caracterizavam pelo predomínio de grandes campos relvados onde se
dispunham as pedras sepulcrais (PACHECO, 2012), e também, principalmente, nos
“cemitérios rurais” dos EUA, datados do século XIX. Estes últimos surgem dentro das
primeiras experiências de cemitérios fora das cidades, inluenciados pelos dogmas
do Romantismo, onde se acreditava que o cenário natural teria impacto positivo na
mente do homem. Neles, procurava-se trabalhar a paisagem de forma a se manter
um aspecto de “natureza” e apresentava alguns túmulos de personagens ilustres na
forma de monumentos. Como possuíam paisagens aprazíveis, se tornavam locais
88
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Retornando o foco para os cemitérios jardins, pode-se dizer também que estes ame-
nizam as características marcantes de poluição visual dos cemitérios tradicionais que
possuem túmulos cujos tamanhos competem entre si e onde há um emaranhado de
ornamentos de simbolismos fúnebres.
4
Cemetery Mount Auburn. Wedding Ceremonies. Disponível em: <http://www.mountauburn.org/privat e-
events/wedding -ceremonies/> Acesso em: 02.abril.2013.
5
SERVIÇO FUNERÁRIO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. 100 anos de Serviço Funerário. Imprensa Oicial;
São Paulo, 1977.
89
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túmulos construídos acima do nível do solo, como é o exemplo do Cemitério São Pedro,
localizado na zona leste de São Paulo. Ainda assim, neste caso, ele se mostra mais
agradável ao estar do que cemitérios densamente ediicados (imagem 03). Quando há
manutenção insuiciente, as áreas tumulares gramadas se tornam extensões de terra
batida, oferecendo um ambiente de baixa qualidade paisagística.
6
A opção de visita a este local encontra-se indicada em roteiros sugeridos pela Secretaria Municipal de
Turismo de Santos. Fonte: Turismo Santos. Disponível em: <http://www.turismosantos.com.br /categoria/
categorias-do-guia/roteiros> Acesso em 02 Abril 2013.
90
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Prática que remonta à Antiguidade, icou por muito tempo fora dos costumes ociden-
tais por conta principalmente da rejeição religiosa cristã, que a associava a costumes
pagãos (PROTHERO, 2001). O seu retorno ao meio urbano se dá primeiramente na
Inglaterra em ins do século XIX onde surge a Sociedade de Cremação da Inglaterra8,
formada por literatos, artistas e médicos que investem na difusão deste método e
batalham para que seja instalado o primeiro forno crematório no país. O discurso dos
mesmos se apoiava não só no avanço sanitário – como método de prevenção à pro-
pagação de doenças –, mas também em argumentos como redução de despesas com
funerais, segurança contra vandalismo pela possibilidade de manutenção das cinzas
em urnas, e até mesmo a utilização das cinzas como adubo. Apesar de ter sofrido
certa resistência no início, hoje é o método preferencial de destinação dos mortos na
Inglaterra, tendo um índice de escolha de 70% entre a população.
7
Na verdade esta é uma expressão igurada, pois o material resultante dos processos atuais de cremação é
o pó formado pelos ossos processados em micropedaços.
8
No original: “The Cremation Society of England”.Esta sociedade existe até hoje, agora sob o nome de “The
Cremation Society of Great Britain”
92
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dos corpos. Para se ter ideia, a igreja Católica Apostólica Romana passou a permitir o
procedimento aos seus iéis apenas em 1963 9.
Com o passar do tempo, com a lexibilização por parte das religiões e ainda a laiciza-
ção crescente, é uma prática que vem ganhando adeptos. Atualmente, existem mais
de 34 crematórios registrados no país 10 e em Porto Alegre o índice de escolha pelo
serviço é de mais de 8%; na cidade de São Paulo, a procura dobrou no crematório
municipal entre 1998 e 2008 e já existe promulgada uma lei que institui programa per-
manente de esclarecimentos e incentivos (lei no 15.452/setembro de 2011), que con-
siste na produção de campanhas e distribuição de cartilhas explicativas. De acordo
com o vereador autor do projeto de lei, a prática seria uma alternativa econômica aos
túmulos, pois estes possuem manutenção dispendiosa e podem sofrer vandalismo 11.
9
A disciplina da Igreja Católica Apostólica Romana quanto à cremação foi modiicada pela Congregação do
Santo Ofício (Instrução Piam et constantem, de 5 de julho de 1963 – AAS 56, 1964, p.822-823)
10
No site da Associação Cemitérios e Crematórios do Brasil (ACEMBRA) e Sindicato dos Cemitérios Particu-
lares do Brasil (SINCEP) encontra-se lista com 34 crematórios cadastrados no Brasil. SINCEP-ACEMBRA.
Disponível em: <http://www.sincep.com.br/?Crematorios> Acesso em: 01 Abril 2013.
11
PORTAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Projeto quer incentivar a cremação no município. Dis-
ponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/servicos/servico_ funerario/noticias/index.
php?p=3913> Acesso em: 25.julho.2012.
93
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Estes usos podem ser uma clara evidência de falta de espaços livres públicos ade-
quados às variadas atividades de lazer da população. No entanto, é um exemplo que
mostra como estes locais têm potencialidade de ser mais “amigáveis” com o seu en-
torno, com a cidade e com as pessoas, sem suscitar medos ou angústias.
Imagens 06 e 07 – Crematório Municipal “Dr. Jayme Augusto Lopes”: cinzas esparzidas no jardim e
marcos de identiicação. O esparzimento das cinzas é permitido no local e as demarcações são proibi-
das, o que, no entanto, não impede este tipo de ação. Foto: Aline Silva Santos, 2012.
94
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Imagens 09, 10, 11 e 12 – Atividades diversas que ocorrem nos espaços livres do Crematório Municipal
“Dr. Jayme Augusto Lopes”. Foto: Aline Silva Santos, 2012.
95
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Após a cessão das atividades vitais, os corpos passam por um processo de putrefa-
ção onde há a decomposição da matéria orgânica, e possui uma série de etapas das
quais se destaca a coliquativa, onde incorrem maiores perigos ao meio ambiente
pela liberação do necrochorume que pode chegar a contaminar os aquíferos freáti-
cos (PACHECO, 2012). O necrochorume consiste em uma “solução aquosa rica em
sais minerais e substâncias orgânicas degradáveis, de cor castanho-acinzentada,
mais viscosa que a água, polimerizável, de odor forte e pronunciado, com grau va-
riado de toxicidade e patogenicidade” (CETESB, 1999). Dentre suas substâncias
componentes estão a putrescina e a cadaverina, que são altamente tóxicas e podem
transmitir doenças como hepatite e poliomielite (ROMANÓ; MESSIAS, 2007). Se-
gundo o geólogo Leziro Marques Silva (LEZIRO apud ROMANÓ; MESSIAS, 2007),
foi observada também a presença de radiotividade em um raio de 200 metros das
sepulturas de cadáveres que em vida foram submetidos à radioterapia ou tinham
marca-passos cardiológicos.
O solo tem papel fundamental na retenção do necrochorume, para que seja eliminada a
carga contaminante através da retenção de vírus e bactérias e se evite a contaminação
das águas subterrâneas (PACHECO, 2012). Há registros históricos deste tipo contami-
nação de águas que, ao acabar sendo destinadas ao consumo humano, provocaram
doenças, como ocorreu em Berlin, com um surto de febre tifoide ainda no século XIX
96
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04
O tipo de sepultamento também colabora para maior ou menor poluição. Podemos dizer
que há dois tipos de sepultamento: por inumação e por entumulação. O primeiro consis-
te no enterro diretamente no solo, e o segundo no enterro em construção tumular.
É interessante frisar que ainda existem outros elementos poluentes emitidos pelos tú-
mulos além dos decorrentes da putrefação. Vernizes e adornos que compõe as urnas
funerárias podem conter metais pesados.
12
Depoimento dado por Elma Nery Romanó, durante o “Curso para engenharia de cemitérios”, ministrado
pela mesma e promovido pela associação de Engenheiros e Arquitetos de Ponta Grossa, em Ponta Grossa,
entre 31 de maio e 01 de junho de 2007.
97
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Há alguns produtos que neutralizam ou retêm o necrochorume, podendo ser métodos au-
xiliares na minimização de impactos ambientais causados por antigos cemitérios instala-
dos incorretamente: existem pastilhas que contém bactérias consumidoras dos materiais
orgânicos presentes no líquido da putrefação, e mantas absorventes que, colocadas no
caixão embaixo do cadáver, seguram o material liberado e se transformam em embala-
gens para o acondicionamento dos ossos quando na exumação. Entretanto esses são
artigos pouco difundidos e de alto custo para que sejam adotados de maneira expressiva.
98
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Outra observação, é que em países onde a cremação é escolhida pela grande maio-
ria populacional, o excesso da disposição de cinzas em locais comuns pode causar
incômodo, como é o caso da cidade de Paris, onde agora é proibido o lançamento de
cinzas no rio Sena (PACHECO, 2012).
Sendo assim, tais fatores devem ser levados em consideração na escolha pela insta-
lação deste método.
13
KAMENEV, Marina. Aquamation: A Greener Alternative to Cremation? TIME, Sydney, 28 Sep. 2010. Dis-
ponível em: <http://www.time.com/time/health/article/0,8599,2022206,00.html>. Acesso em: 02 Abril 2013.
99
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04 Junho de 2013
Esta proposta não teve recepção unânime: sofreu resistência por parte de um sindi-
cato da cidade, que alegava ser “doentia” e “insultante” esta atitude de se utilizar de
um processo relacionado à morte para uma atividade de lazer. No entanto, a iniciativa
teve o apoio da maioria da população e seguiu-se o projeto14.
Desta forma, ressalta-se que tais iniciativas demandam certa sensibilidade e esforço
no esclarecimento de informações para a comunidade em que serão instaladas.
Resomation / Bio-cremação
14
EDITORIAL DEPARTMENT BBC NEWS. Reddict crematorium pool-heating wins green award. BBC News
Hereford & Worcester, Inglaterra. 07 Feb. 2011. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/uk-england-he-
reford-worcester-13372702>. Acesso em: 02 Abril 2013.
100
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04
Neste processo, apenas o corpo sofre a reação química, não havendo destruição da
urna funerária. Assim, deve ser utilizada urna especíica que comporte em seu interior
uma cesta de aço inoxidável que manterá o corpo na câmara durante o ciclo. O faleci-
do também deve vestir apenas um macacão de seda biodegradável que é dissolvido
na reação. Os eluentes resultantes são estéreis e, após o ciclo têm o pH balanceado
e são descartados livremente sem problemas para o ecossistema; há ainda a possibi-
lidade de reciclagem ou reaproveitamento de eventuais próteses pois as mesmas não
se destroem no processo.
No Brasil ainda não há legislação especíica para este tipo de método e os equipa-
mentos para este procedimento ainda possuem custos muito elevados frente aos da
15
Todas essas informações sobre a biocremação foram fornecidas por Fernando Schilling, representante
no Brasil e América Latina da empresa Matthews Cremation (atual detentora da licença para produção em
escala industrial da tecnologia Resomation), através de entrevista feita pela pesquisadora em abril de 2013.
A empresa também mantém o site BIOCREMATION (http://www.biocremationinfo.com) que disponibiliza in-
formações sobre o procedimento e equipamentos necessários para o mesmo.
101
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04 Junho de 2013
cremação comum16, o que pode se tornar uma barreira para o interesse nesta técnica.
A necessidade de algumas especiicidades como vestimentas padronizadas para os
mortos e urnas funerárias adaptadas para o processo podem incorrer em estranha-
mento e barreira cultural, já que incidiria em uma mudança nos ritos funerários: não
haveria a escolha da “última veste” do falecido e nem escolha de tipos diferentes de
urnas funerárias, nem lores que acompanhariam os corpos, entre outros.
Desde o inal da década de 1990 já existem empresas que realizam este serviço, sendo a
primeira surgida na Holanda, país cujo índice de cremação é de 57% entre a população17.
É interessante frisar que, antes de haver este processo, deve existir o consentimento
dos parentes da pessoa falecida, que assinam um termo autorizando o procedimento.
16
Para se ter um grau comparativo, o custo de dois novos fornos para o crematório municipal de São Paulo,
comprado por meio de licitação em 2010, foi de US$ 720.000,00. Já o custo de apenas um equipamento
de Bio-Cremação é por volta de 600.000,00. Fontes: Fernando Schilling a SÃO PAULO. Processo nº 2009-
0.275.948-1 – Concorrência internacional nº 01/SFMSP/09. Diário Oicial da Cidade de São Paulo. São
Paulo, 30 Nov. 2010. Disponível em: <http://www.docidadesp. imprensaoicial.com.br/NavegaEdicao.aspx?
ClipId=B5JIHJQ3KRD1Ne8QO2Q59LB0LG0> Acesso em : 12 Abril 2013.
17
BOYD, Clark; HUGH-JONES, Rob. Empresa holandesa retira implantes de metal retirados de corpos cre-
mados. BBC. 22 Feb. 2012. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/ 2012/02/120221_im-
plantes_cremacao_mv_rs.shtml>. Acesso em: 02 Abril 2013.
102
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04
Existem casos em que os lucros gerados por este tipo de iniciativa ainda retornam em
prol de instituições sociais. A empresa holandesa OrthoMetals, por exemplo, retorna
parte do lucro que obtém para o crematório com a inalidade que o mesmo invista em
projetos beneicentes.18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enim, para muitos a morte pode soar como algo incômodo, um tabu, mas, no entanto,
as atitudes perante a mesma e seus respectivos lugares impactam diretamente na
paisagem e meio ambiente urbanos, sendo, portanto, um tema que deve ser colocado
em pauta quando da discussão para a construção de cidades mais sustentáveis.
18
ORTHOMETALS. Disponível em: <http://www.orthometals.com > Acesso em: 17 Abril 2013.
103
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04 Junho de 2013
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SCHUYLER, David. The New Urban Landscape. London: The Johns Hopkins Press
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104
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°04
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Reddict crematorium pool-heating plan wins green award. BBC Hereford & Worces-
ter, Inglaterra. 07 Feb. 2011. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news /uk-england-
hereford-worcester-133727 02> Acesso em: 02 abril 2013.
105
ARTIGO Nº5
RESUMO
107
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
ABSTRACT
knowing, Understanding and Protecting nature that gives us life, understanding its
limits and interrelationships as well as recognizing that projects manifest the human
intention, interfering, consequently, with nature by modifying the environment, is the
irst step to think about the construction projects with responsibility above the punc-
tual vision of an action and will allow itself to bring identity with the place, sharing the
qualities and condition of nature inluencing urban form and giving better conditions
aesthetic, functional and environmental quality.
The infrastructure must work without causing damage and in communion with nature
to ensure quality of life. We have the challenge of facing the transformations by the re-
silience to the climate change induced by the land usage as well as demonstrate how
architecture plays a leadership role to deal with great environmental issues and survival.
108
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
INTRODUÇÃO
É necessário lembrar a inluência do uso do solo nas mudanças climáticas, que acarretam
importantes modiicações nas variáveis meteorológicas como a temperatura que se eleva
resultando em um fenômeno chamado Ilhas de calor, reletindo em má qualidade para a vida.
UNIDADE DE PAISAGEM
109
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
Grande parte das cidades passou pelo processo de grande adensamento urbano que
acarretou consequências, como a perda de ventilação natural, aumento da tempera-
tura, concentração de poluição, menos sombreamento, menos habitat para a fauna
e poucos vazios que representam oportunidades de preservação e lazer. As áreas
construídas são extensas e os projetos cada vez menos compatíveis com a natureza
dos sítios em que se instalam, acarretando perda de qualidade de vida.
Os espaços livres, tanto urbanos quanto rurais, na grande maioria estão isolados,
diicultando a criação de redes que permita maior biodiversidade nas cidades, que
componham um sistema interligado e que permeie a matriz urbana desempenhando
papel ecológico, integrando diferentes espaços. O enfoque estético perde a propor-
ção na medida da destruição do equilíbrio de cheios e vazios para a harmonia das
intervenções de projeto.
Os corredores naturais, que possibilitam a integração dos espaços por sua função
legítima, deixam nas áreas urbanas de cumprir este papel em função das mudanças
de sua drenagem natural.
110
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
observou uma porção da paisagem modiicada em uma matriz natural sem impacto
humano signiicativo e uma paisagem urbana consolidada e deiniu diferentes padrões
de desenvolvimento para agrupar áreas com mesma característica:
PAISAGEM MANEJADA – Matriz permanece ampla, embora seja dominada por uma
ou poucas espécies que são manejadas para produção. A matriz é afetada primor-
dialmente pela colheita de produtos. Pequenos conjuntos de casas são presentes,
corredores de comunicação e colheitas em abundância, cortando abundantemente a
conectividade da matriz. Espécies de animais desaparecem;
Outra inluência humana sobre a paisagem que deve ser considerada é a desertiica-
ção, desmatamento e erosão, para entender como as pessoas afetam a paisagem,
através de políticas, economia e decisões sociais. Assim, na composição das diretri-
zes são relacionados junto às Unidades de Paisagem as formas do relevo (geomorfo-
logia) e as bacias hidrográicas, o que deinirão as ações do homem determinadas nas
Unidades da Paisagem e a condição natural, para que seja possível a transformação
da paisagem com critérios e argumentos que lhe dão suporte.
111
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
Figura 1 – Unidades de Paisagem em diferentes escalas. Fonte: Atlas de Uso e Ocupação do Solo da RMSP,
2003/ Modiicado por Patricia Helen Lima (2013)
A análise formulada neste contexto objetiva deinir diretrizes ambientais que permi-
tam ações concretas sobre o território e desta forma, interferir na paisagem por meio
112
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
As diretrizes ambientais reletirão onde os parâmetros físicos (Fig. 3), sem alteração
signiicativa das características originais e as restrições legais indicarão áreas de pro-
teção para preservação (prioritárias para controle por iscalização, licenciamento e
avaliação ambiental), áreas de proteção para conservação (onde pode ser exercido
uso em harmonia com a natureza) e áreas que necessitam de recuperação (áreas
prioritárias para intervenção por projetos ambientais).
113
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
Figura 3 – Restrições legais. Fonte Atlas de Uso e Ocupação do Solo da RMSP, Emplasa, 2003.
Figura 4 – Espaços livres. Fonte: Atlas de Uso e Ocupação do Solo da RMSP, Emplasa,2003
Entender a rede de infraestrutura verde ajuda a compreender quais princípios devem estar
por trás de projetos e da implantação destes e permite trabalhar em direção a estratégias
1
Sistema de espaços livres: Conjunto de espaços ao ar livre, destinados às pessoas, para o descanso, o pas-
seio, a prática de esportes e em geral, ao recreio e entretenimento de suas horas de ócio LLARDENT (1982);
114
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
ILHAS DE CALOR
Especial atenção deve ser dada à ilhas de calor (Fig. 5). A urbanização impacta nega-
tivamente o ambiente principalmente pela produção da poluição, pela modiicação das
propriedades físicas e químicas da atmosfera, e pela impermeabilização do solo. Con-
siderando o efeito cumulativo de todos estes impactos é o que se denomina de “ilhas
de calor”, deinido como o aumento da temperatura de áreas urbanizadas, em relação
à temperatura mais baixa da paisagem natural. Embora o aumento do calor pode se
dar em área rural ou urbana, e em toda a escala espacial, as cidades são mais propí-
cias em função de suas superfícies liberarem quantidades grandes de calor. De toda
forma, as ilhas de calor impactam negativamente não somente os residentes do am-
biente relacionado, mas também a outros ambientes e seus ecossistemas associados
(http://www.urbanheatislands.com/).
Figura 5 – Temperatura aparente da superfície. Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo.
115
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
116
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
A Vegetação intercepta a radiação e produz sombra que também contribui para re-
duzir a liberação de calor urbano. A redução e fragmentação de grandes áreas de
vegetação, não só reduz os benefícios para a qualidade de vida, mas também inibe o
resfriamento atmosférico devido à circulação de ar gerado pela temperatura entre as
áreas vegetadas e urbanizadas. Outros fatores, tais como a produção de calor a partir
de ar condicionado, assim como, a partir de processos industriais e de tráfego de ve-
ículos motorizados e a obstrução do luxo do ar por razão das superfícies ediicadas,
têm sido reconhecidos como causas adicionais do efeito de ilhas de calor (http://www.
urbanheatislands.com/).
A promoção de estratégias para mitigar o efeito de ilha de calor é uma grande preocu-
pação. Existem estratégias de redução de ilhas de calor: em primeiro lugar aumentar
a reletividade de superfície, a im de reduzir a absorção de radiação de superfícies
urbanas e segundo, aumentar a cobertura de vegetação, a im de maximizar os bene-
fícios da vegetação em controlar o aumento da temperatura.
O PROJETO E A INTENÇÃO
Nos dias de hoje, todo espaço vazio é alvo fácil para um frenesi
de preencher, tapar. Mas, a meu ver, dois motivos concorrem
para fazer dos espaços urbanos vazios, no mínimo, uma linha
importante de combate, se não a única, para as pessoas que
se preocupam com a cidade.
Rem Koolhaas, 1989
Hoje, para projetar é preciso descobrir elementos com os quais se possam criar no-
vas formas para a condição urbana, preocupando-se com a análise da situação do
local, para determinar a condição ambiental do território em receber uma intervenção.
Controlar o sistema de espaços vazios, entendendo a paisagem surgirá uma nova
117
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
concepção de cidade, deinida por seus espaços vazios ou espaços verdes, trazendo
ao projeto a essência do contexto ambiental.
Tadao Ando (1991) reconhece que a arquitetura cria uma nova paisagem e por isso
tem a responsabilidade de ressaltar as características particulares de um determinado
lugar e airma que a inalidade da arquitetura é basicamente a construção do lugar.
Essa leitura entre a paisagem e a construção leva a uma relexão sobre a possibilida-
de de trabalhar diferentes escalas enquanto deinição de projeto.
Perceber a natureza em uma arquitetura construída com lógica deriva da relexão dos
elementos naturais – água, vento, luz sem se opor à sua geograia, buscando uma
associação íntima entre a construção e a natureza num contexto de inter-relação do
homem com a natureza. Não há uma demarcação clara entre interior e exterior, mas
uma permeabilidade recíproca.
118
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
CONSIDERAÇÕES FINAIS
119
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
Kongjian Yu (2006) argumenta que a era atual é marcada pela globalização e a pro-
pagação do materialismo e que isso traz grandes desaios e oportunidades para a
arquitetura e faz uma série de questionamentos: Podemos sobreviver a rápida dete-
rioração do ambiente e da ecologia? O que isso pode signiicar para a proissão de
arquitetura, como posicionar-se para enfrentar estes desaios sem precedentes, como
a arquitetura pode assumir o papel de proteger e reconstruir conexões espirituais
através do projeto do nosso ambiente físico? Esta talvez seja a mais desaiadora de
todas as perguntas.
A Arquitetura é possivelmente a mais legítima proissão entre aquelas que lidam com
nosso ambiente físico, possibilitando recuperar a nossa identidade cultural e recons-
truir a ligação espiritual entre pessoas e suas terras. A força da arquitetura reside na
sua intrínseca associação com os sistemas naturais através da evolução.
120
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05
BIBLIOGRAFIA
ANDO, Tadao. Por novos horizontes na arquitetura (1991), in NESBIT, Kate (Org.).
Uma nova agenda para a arquitetura: uma antologia teórica 1965-1995. São Paulo:
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SANTOS, Rozely Ferreira dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo:
Oicina de Textos, 2004.
121
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°05 Junho de 2013
122
ARTIGO Nº6
RESUMO
ABSTRACT
The need of greener cities seems to be consensual but it is necessary a deeper unders-
tanding of the role vegetation in the cities and the impact of its presence in everyday
life of the inhabitants.
By raising the main beneits and associated costs with the presence of vegetation
in the cities this article aims to contribute to the urban green areas planning and the
enhancement of green in the cities.
124
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
INTRODUÇÃO
Distinção necessária é aquela a ser feita entre os efeitos ambientais de áreas verdes
em geral e plantas em particular. Grandes áreas verdes, como parques, geralmente
desempenham importante papel no estabelecimento da imagem da cidade e na pro-
visão de área para atividades sociais. Porém, sua inluência nos aspectos climáticos
não vai muito além dos limites da área vegetada (GIVONI, 1998). Outra distinção
necessária é aquela entre os efeitos das plantas no clima global da área urbana e os
efeitos das áreas verdes nas condições microclimáticas do entorno dos edifícios e no
desempenho térmico das construções (GIVONI, 1998).
A seguir serão apresentados alguns dos mais citados aspectos inluenciados pela
vegetação em áreas urbanas e os custos diretos e indiretos associados à sua pre-
sença nas cidades.
125
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
1
Estudo apresentado pela Profa. Dra. Maria Regina Alves Cardoso no Seminário Metrópoles: Políticas, Pla-
nejamento e Gestão em Saúde e Ambiente, realizado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo em 31/05/2011.
126
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
Por esse motivo, na cidade de São Paulo é comum que as estações de monitoramen-
to do ar localizadas no Parque do Ibirapuera e na Cidade Universitária, locais densa-
mente vegetados, registrem altos níveis de concentração de ozônio.
2
De acordo com Schirmer e Quadros (2010) compostos orgânicos compreendem todos os compostos que,
à exceção do metano, possuam carbono e hidrogênio, sendo os COV aqueles facilmente vaporizados às
condições de temperatura e pressão ambientes.
127
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
De acordo com Morinaga (2007), em áreas urbanas o solo é o meio mais afetado pela
contaminação, superando o nível de contaminantes das águas dos rios e córregos.
Sua poluição apresenta baixa mobilidade de contaminantes (ainda que estes possam
passar para as águas subterrâneas) e está relacionada principalmente às regiões in-
dustrializadas e aos locais de disposição de resíduos.
Por meio da absorção dos contaminantes pelas raízes e/ou concentração em sua bio-
massa, a vegetação pode atuar na remoção ou imobilização desses contaminantes.
As plantas são capazes de remover metais pesados, pesticidas e outros contaminan-
tes do ambiente. Trata-se da itorremediação, técnica caracterizada pela utilização de
processos naturais das plantas para a remoção de poluentes do solo, de lodos, de se-
dimentos e das águas. De baixo custo e fácil implementação, esta técnica é indicada
para grandes áreas com pequeno nível de contaminação e que não apresentem riso
iminente à saúde (MORINAGA, 2007).
TEMPERATURA E UMIDADE
128
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
Algumas características das estruturas urbanas, como a relação entre a largura das
ruas e a altura dos edifícios, os tipos de materiais construtivos utilizados e a quantidade
e localização das áreas verdes afetam a intensidade da ilha de calor (GIVONI, 1998;
LOMBARDO, 1985).
Em seu estudo sobre a região metropolitana de São Paulo, Lombardo (1985) veriicou
diferenças de até 10°C entre o centro e as áreas rurais, sendo que as temperatu-
ras mais altas foram medidas nas áreas mais densamente construídas e com pouca
quantidade de vegetação e as temperaturas mais amenas nas regiões com maior
concentração de espaços livres vegetados e junto aos reservatórios de água.
No ambiente urbano, a vegetação barra a radiação solar, evitando que ela incida so-
bre o solo e as construções, diminuindo assim o acúmulo e a irradiação de calor por
essas superfícies. A radiação absorvida pela vegetação é utilizada para a fotossíntese
129
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
Spangenberg (2009) alerta para o fato de que a deinição das frações de absorção,
transmissão e relexão dos dosséis vegetais é mais complexa do que a dos materiais
de construção devido à arquitetura da copa das árvores, à distribuição heterogênea
de folhas, à diferença entre as espécies etc.
130
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
VENTILAÇÃO
Além do efeito de obstrução mencionado acima, a barreira vegetal possui outros três
efeitos básicos: iltragem, delexão e condução.
131
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
DRENAGEM
132
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
Llardent (1982) alerta para o fato de que a grama fornece porosidade ao solo apenas
até 10cm de profundidade e com o tempo as raízes podem se entrecruzar de tal ma-
neira que deixam o solo compactado. Assim, uma superfície gramada pode não ser
tão permeável quanto se imagina, evidenciando que a análise do tipo de solo e do tipo
de vegetação a ser implantada é importante para determinar a contribuição da vege-
tação à drenagem urbana.
ESTABILIDADE DO SOLO
133
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
Segundo Falcón (2007), a vegetação mais indicada para a ixação do solo são as
gramíneas e os arbustos, pois suas raízes são pouco profundas e bastante densas.
Já a vegetação arbórea é indicada para diminuir o impacto da força da chuva no solo.
RUÍDO
Figura 6 – Trilha da Pedra Grande. Parque Estadual da Cantareira. Imagem da autora, mai. 2011.
Um dos principais aspectos associados às áreas verdes em meio urbano é seu uso
recreacional e esportivo. A promoção de áreas de convívio social e de áreas contem-
plativas está relacionada ao bem-estar e saúde da população, diminuindo o estresse,
a ansiedade e a depressão, e contribuindo no tratamento de pacientes hospitalizados
(GIVONI, 1998; ULRICH, 1984; ULRICH, et al., 1991).
134
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
BIODIVERSIDADE3
3
De acordo com a Lei Federal n° 9.985/2000 biodiversidade, ou diversidade biológica é: “a variabilidade de
organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos
e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a
diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (Art. 2° da Lei Federal n° 9.985/2000).
135
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
Porém, o mosaico de ambientes encontrados em São Paulo ainda oferece locais ade-
quados ao abrigo, à alimentação e à reprodução da fauna, sendo signiicativo o núme-
ro de espécies cadastradas na cidade (SÃO PAULO (CIDADE), SVMA, 2004).
A urbanização não afeta somente a diversidade biológica pela diminuição das áreas
vegetadas e alteração dos habitat naturais, mas também pela criação de novos habi-
tats que proporcionam o aparecimento de espécies indesejáveis ao convívio humano,
como insetos e ratos (SÃO PAULO (CIDADE), 2008).
4
Disponível em: http://biodiversidade.prefeitura.sp.gov.br/FormsPublic/p04Flora.aspx
136
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
Abordar o papel da vegetação na cidade a partir dos benefícios fornecidos aos seres
humanos pode ser considerado uma visão antropocêntrica caso uma perspectiva mais
abrangente na gestão dos recursos não seja analisada. De acordo com Lima (1996), a
nossa relação com a natureza necessita mudanças. Não apenas o bem-estar humano
é importante, mas igualmente a utilização dos recursos em ritmos e escalas nas quais
se propiciem condições temporais e espaciais para uma regeneração da própria na-
tureza (LIMA, 1996).
Como aponta Spirn (1995), a vegetação urbana tem que conviver com enormes pres-
sões biológicas, físicas e químicas que diicultam sua sobrevivência no ambiente ur-
bano, fazendo com que as árvores na cidade vivam menos. Estudos desenvolvidos
nos Estados Unidos pela American Forest Association concluíram que a sobrevida
média de uma árvore urbana (plantada em regiões centrais) é de apenas 13 anos,
tempo insuiciente para que atinja um porte capaz de desempenhar de forma plena os
benefícios citados nos itens anteriores. (ROTERMUND, MOTTA e ALMEIDA, 2012).
Essa diminuição da sobrevida das árvores em meio urbano deve-se à sua conlituosa
convivência com a massa ediicada da cidade e seus habitantes.
As árvores das ruas [...] levam uma vida marginal, suas raízes presas entre
as fundações das ediicações e das ruas, enroscadas entre as linhas de
telefones, eletricidade, gás e água, e envoltas por um solo tão compacto e
infértil como o concreto. Seus troncos são entalhados pelos pára-choques
dos automóveis, correntes de bicicletas e até pelas grades instaladas para
protegê-las. Seus galhos são podados pelos ônibus. Folhas e cascas são
137
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
Parte dos custos associados à presença de vegetação nas cidades advém justamente
dos conlitos mencionados por Spirn (1995).
CUSTOS DIRETOS
CUSTOS INDIRETOS
138
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
diminuição da intensidade dos ventos, a diminuição dos níveis de luz natural provo-
cada pelo sombreamento da vegetação, o desconforto térmico no inverno, o possível
aumento da umidade nos edifícios e as questões ligadas à segurança, que, como
mencionado no item Saúde e Bem-Estar Humano, podem estar associadas à falta de
manutenção e uso das áreas vegetadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Spangenberg (2009) cita a área de cobertura vegetal e a área foliar como parâme-
tros-chave para a avaliação dos benefícios da loresta urbana. De acordo com No-
wak (1994), a maioria dos benefícios da vegetação urbana cresce com o aumento
da área foliar.
De acordo com Givoni (1998) o efeito da vegetação no clima das áreas urbanas de-
pende da relação entre área vegetada (pública ou privada) e área construída, sendo
mais intenso na área vegetada e em seu entorno imediato. Dessa forma, é mais sig-
niicativo para o clima das áreas urbanas um maior número de áreas com dimensões
reduzidas do que poucas áreas verdes de grandes dimensões.
139
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
Como mencionado por Lima (1996), faz-se necessária uma visão mais abrangente
da questão da vegetação urbana, que contemple aspectos ecológicos, paisagísticos,
culturais e sociais, aliando as necessidades da vegetação para um desenvolvimento
pleno e a diversidade de espaços urbanos e suas diferentes apropriações.
140
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIVONI, B. Climate Considerations in Building and Urban Design. New York: John
Wiley & Sons, 1998.
141
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06 Junho de 2013
O ESTADO DE SÃO PAULO. Metade das falhas é provocada por queda de árvo-
res. São Paulo, 14 abr. 2011. Cidade, Metrópole, P.C3.
142
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°06
______ Ações Locais para a Biodiversidade da Cidade de São Paulo. São Paulo. 2008.
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arch Shows. ScienceDaily, 24 novembro 2003. Disponível em: <http://www.science-
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ronments. Journal of Environmental Psychology, v. 11, p. 201-230, 1991.
143
ARTIGO Nº7
Maira Begalli*
*Pesquisa experimentações tecnológicas e ecológicas colaborativas. Mestranda do programa de
pós-graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Universidade Santa Cecília
(ECOMAR/ UNISANTA). [email protected] (autora para correspondência)
Milena Ramires**
**Doutora pelo programa Interdisciplinar em Ambiente e Sociedade pela UNICAMP (2008), docente do
programa de pós-graduação ECOMAR/ UNISANTA . [email protected]
Mariana Clauzet***
***Doutora pelo programa Interdisciplinar em Ambiente e Sociedade pela UNICAMP (2008), docente do
programa de pós-graduação ECOMAR/ UNISANTA . [email protected]
RESUMO
145
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
ABSTRACT
This paper identiies and evaluates the Points of Culture in the city of Santos, São
Paulo State, aiming to detect possibilities for future developments of experimental la-
boratories as nuclei for co-management. The survey, which used as source the Ne-
twork Catalog of Culture Points of São Paulo State to identify points (BRAZIL 2012),
was carried out between June and July 2012. It was identiied two Points of Culture:
the “Project Parcel”, located in the continental area, and the “Station of Citizenship and
Culture”, in the insular area of Santos. Both have potential to develop experimental
activities related to the theme and could subsidize activities of co-management.
INTRODUÇÃO
146
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1
Mais informações em http://ubalab.org/sobre
2
Mais informações em http://nuvem.tk/?espa%C3%A7o-conceito
147
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Catálogo da Rede dos Pontos de Cultura do Estado de São Paulo indicou 4 Pontos
de Cultura na cidade de Santos, porém, um deles foi desconsiderado: o Azimuth –
Ponto de Cultura e Sustentabilidade3, classiicado como integrante da cidade de San-
tos porém encontrava-se geograicamente localizado no município de Ilhabela. Deste
modo, restaram o Projeto Parcel4, localizado na área continental de Santos, o Vozes
da Senzala5 e a Estação da Cidadania e Cultura6, ambos localizados na área insular
de Santos (BRASIL, 2012).
3
http://www.azimuth.org.br/
4
http://www.parcel.org.br/
5
http://vozesdesenzalapontod.wix.com/vozesdesenzalapontodecultura#!ecoam-as-vozes
6
http://pontoestacaodacidadania.wordpress.com/
148
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07
A visita inicial à Estação da Cidadania e Cultura foi agendada para o dia 10 de julho
de 2012 (terça-feira), às 19 horas. No Vozes da Senzala foi agendado um encontro na
região central de Santos, no dia 11 de julho (quarta-feira), às 17 horas, pois a gestora
do Ponto, informou que estavam sem uma sede ixa. No Projeto Parcel a data agen-
dada foi o dia 12 de julho de 2012 (quinta-feira), às 14 horas. Contudo, a pesquisa
não foi realizada com o Vozes da Senzala, pois o encontro agendado para o dia 11 de
julho de 2012, no centro de Santos, foi cancelado pela própria gestora. Posteriormen-
te, tentou-se um contato via skype, sem retorno. Deste modo, optou-se por invalidar a
possibilidade de realizar a pesquisa neste Ponto de Cultura.
1. Receptividade da proposta 3 3
3. Disponibilidade para a
3 3
realização da proposta
4. Infraestrutura 3 3
5. Uso de software livre e
3 1
formatos abertos
6. Aderência com os interesses dos
participantes do Ponto 3 3
de Cultura
7. Possibilidade de apropriação/
3 3
continuidade
TOTAL 19 19
149
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
Figura 1 – Localização do Ponto Estação da Cidadania e Cultura (OPEN STREET MAP7, 2012).
7
OpenStreetMap é uma iniciativa aberta para criar e fornecer dados e mapas geográicos. Mais informações
em http://blog.osmfoundation.org/faq/
150
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07
O Ponto de Cultura Projeto Parcel localiza-se na área continental de Santos (igura 2),
longe do perímetro urbano, próximo ao canal de Bertioga, e é constituído juridicamen-
te como uma Associação, fundada em 2005.
151
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
A ocupação e o aproveitamento em
Zona de Uso Especial Parque Estadual
conformidade com o Plano de Manejo
ZUE da Serra do Mar
elaborado pelo Governo do Estado.
(Santos, 1999).
152
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07
Zona Portuária Áreas potenciais para instalações rodovi- Quilombo, Sítio das
e Retroportuária árias, ferroviárias, portuárias, retroportuá- Neves Ilha Barnabé
ZPR rias e ligadas às atividades náuticas. (oeste e leste)
(Santos, 1999).
153
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
A construção da sede do Projeto Parcel foi patrocinada pela Petrobras (igura 4), em
2008, quando a área foi concedida pelo prefeito em exercício João Paulo Tavares
Papa (2005 - 2008), quando considerou positiva a proposta da ONG realizar projetos
socioambientais para a área continental. Atualmente aguarda o resultando do pedido
de posse deinitiva da área. Encontra-se fora do perímetro urbano, mas possui fácil
acesso a transporte público (ponto de ônibus intermunicipal na frente da sede). Seu
entorno agrega bairros de comunidades tradicionais, como Quilombo e Ilha Diana.
154
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07
O Projeto Parcel agrega boa infraestrutura, com internet, sanitários, água e luz.
Como a Estação da Cidadania e Cultura, na época da pesquisa contava com um
convênio semelhante ao da SEC, recebendo o valor de R$ 60 mil aunais, entre os
anos de 2009 e 2012. Também recebe auxílio mensal da Prefeitura Municipal de
Santos, com subsídios para água, energia elétrica e internet. Foi contemplado no
edital “Sala Verde” (igura 6), na gestão da Ministra do Meio Ambiente Marina Sil-
va (2003-2008), recebendo amplo acervo bibliográico sobre temáticas ambientais.
Atualmente trabalha com projetos de artesanato, educação ambiental e gastronomia
regional. Não possui oicinas ou ações direcionadas à apropriação crítica de tecno-
logias, seja para o uso de ferramentas audiovisuais (como edição de áudio, vídeos
e imagens), redes sociais (blogs, plataformas de publicação de conteúdo), assim
como aplicações em hardware e softwares livres.
Figura 5 – Instalações
da Estação da Cidada-
nia (Fonte: Maira Begalli
em 10/07/2012).
155
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
CONSIDERAÇÕES FINAIS
156
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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157
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°07 Junho de 2013
TURINO, Célio. 2009. Ponto de Cultura - O Brasil de Baixo para Cima. São Paulo:
Editora Anita Garibaldi, 256p.
158
ARTIGO Nº8
RESUMO
ABSTRACT
The urban regularization is one of the main points of the City Statute. In São Paulo this
is a centennial practice of management, derived from the phenomenon of “unplanned
urbanization”. This article exposes the history of amnesties and proposes models that
incorporate the principle of urban-environmental compensation, so that the city is able
to regulate its liabilities without omitting sustainability, becoming greener.
Keywords: Use and land cover; land and ediicial regularization; liabilities urban-envi-
ronment sustainability, socio-environmental responsibility
160
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
O maior desaio das cidades brasileiras, hoje, é construir o futuro a partir dos seus
passivos urbano-ambientais, para além da prática da simples regularização. Neste
sentido, o Estatuto da Cidade ainda é uma resposta insuiciente, cabendo ao Poder
Executivo e ao Parlamento de todas as instâncias de governo prospectar instrumen-
tos de reparação de danos, mitigação e compensação de impactos da “urbanização
desordenada” que as desqualiica.
Neste contexto cabe colocar o emblemático caso da cidade de São Paulo, no que diz
respeito ao seu histórico de anistias às infrações de parcelamento, uso e ocupação do
solo. O tema ganha proeminência com a lei municipal nº 15.499, de 7 de dezembro
de 2011, que institui o Auto de Licença de Funcionamento Condicionado de ativida-
des instaladas em ediicações irregulares, de vigência provisória, que está gerando
pressões por uma nova anistia a im de torná-las regulares sem ônus adicionais ou
sanções pelas infrações cometidas, a exemplo de anistias passadas.
2. “DÉJÀ VU”
São Paulo adotou a regularização como modelo de gestão urbana. Desde as primeiras
leis urbanísticas, criadas na virada dos séculos XIX e XX, o poder público tem recorrido à
prática de “legislar por um lado e anistiar por outro” (GROSTEIN, 1987, p. 121).
161
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08 Junho de 2013
A primeira lei de arruamentos (lei municipal n. 1666 de 26 de março de 1913) logo foi
sucedida por uma sequência de oicialização (regularização) de vias em massa que
ocorreram nos anos de 1914, 1916, 1934, 1953, 1955, 1962, 1963, 1972, 1973, 1974.
O Código Arthur Saboya (lei municipal n. 3.427 de 19 de novembro de 1929) foi o pri-
meiro a juntar num único instituto legal as posturas, o arruamento, o parcelamento, as
ediicações e até mesmo o instrumento de regularização de infrações passadas bem
como aquelas que porventura viessem a ocorrer. Já em 1931, o urbanista Anhaia Mello
lamentava que a “cidade clandestina era maior do que a oicial” (apud op. cit., p. 154).
Sobre o esteio do plano diretor de 1971, a cidade expandiu-se até o atual plano di-
retor (lei municipal n. 13.430 de 13 de setembro de 2002), perpetuando, contudo, a
recorrência sistemática de anistias edilícias e fundiárias, a saber, pelas leis munici-
pais n. 10.199 de 3 de dezembro de 1986, lei n. 11.522 de 3 de maio de 1994 (edilí-
cia), lei n. 11.775 de 29 de maio de 1995 (fundiária), lei n. 13.428 de 10 de setembro
de 2002 (fundiária), lei n. 13.558 de 14 de abril de 2003 (edilícia), as duas últimas
acompanhando o plano diretor vigente.
A propósito, para as anistias de 1994 e 2003, o Ministério Público impetrou ação civil
pública contra as irregularidades de parcelamento do solo e aos casos de não confor-
midade às zonas de uso, sinalizando que, dali em diante, as anistias já não poderiam
ser amplas, gerais e irrestritas como as ocorridas no passado.
162
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
163
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08 Junho de 2013
dezembro de 1979). Contudo, o preço do solo urbano não se tornou acessível, nem
mesmo na periferia. Aos excluídos restou ocupar ilegalmente as áreas públicas do sis-
tema de áreas verdes e áreas institucionais dos loteamentos, sob as “vistas grossas”
do poder público.
Fiscalização, ou a falta dela foi a questão central da proliferação das irregularidades. Se-
gundo Keppke (op. cit.), Keppke e Silva (2012), a omissão iscal foi um fenômeno cres-
cente no tempo (gráico 1) e no espaço, disseminada em todo território paulistano, porém
tanto maior nos distritos e subprefeituras caracterizadas pela exclusão social (mapa 1).
164
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
gestões. Tal apatia é uma evidência de que a Fiscalização não é pauta prioritária na
agenda pública (KINGDON, 1994), pelo contrário, sua impopularidade e vulnerabi-
lidade a distorções e corrupção tornaram-na objeto de ordens de serviço pontuais
ou temáticas vinculadas às demandas do Ministério Público, da Ouvidoria Geral, do
Sistema de Atendimento ao Cidadão e da alta direção, esta última pressionada pela
mídia e pela sociedade organizada (KEPPKE, 2007).
Mapa 1 – Indicador Geral de Controle de Uso e Ocupação do Solo. Fonte: KEPPKE, 2007, p. 194
165
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08 Junho de 2013
O Mapa 1 aponta que o controle é mais frágil na franja periférica, justamente onde a
presença do poder público é menor e as vulnerabilidades socioambientais são maio-
res. Atualmente, os territórios de exclusão correspondem a 48% da área do município
e as respectivas subprefeituras detêm somente 19% dos técnicos municipais (PEREI-
RA, 2010). Nas entrevistas fechadas aplicadas aos técnicos municipais, 74% concor-
daram que “se faz pouca ação iscal nos territórios de exclusão, apenas nos casos de
denúncia” (KEPPKE, 2007, p. 316).
166
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
Assim sendo, modelos para uma anistia com responsabilidade socioambiental deveriam:
1
Imposto predial e territorial urbano
167
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08 Junho de 2013
nadamente, porém, a lei vigente diminuiu drasticamente o valor das sanções pecuni-
árias em relação à legislação anterior. Além disso, ainda há casos omissos de regula-
mentação iscalizatória, por exemplo, para os usos residenciais e as incomodidades
urbanas (odor, vibração, carga e descarga, emissão de radiação).
Um segundo ato de responsabilidade iscal e social seria cobrar pelo impacto urba-
no-ambiental gerado. Em sendo possível associar os impactos aos seus agentes
causadores, seria cabível tomar emprestado o princípio do poluidor pagador (BEN-
JAMIN, 1993). Infrações relevantes tais como impermeabilização excessiva do solo,
prejuízo à iluminação e ventilação natural própria e dos vizinhos são causados por
excessos construtivos que poderiam ser individualmente mensurados e internaliza-
dos aos seus responsáveis.
168
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
169
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08 Junho de 2013
REFERÊNCIAS
170
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°08
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171
ARTIGO Nº9
RESUMO
O parque urbano é um produto da cidade da era industrial. Nasceu a partir do século XIX,
da necessidade de dotar as cidades de espaços adequados para atender a uma nova
demanda social: o lazer, o tempo do ócio e para contrapor-se ao ambiente urbano ediica-
do (MACEDO, 2003). O município de São Paulo possui parques em todos os setores da
cidade e para entender se existe proporcionalidade desses espaços com os outros tipos
de uso da terra, deiniu-se o limite municipal como área de estudo. Os parques urbanos
municipais e estaduais existentes foram classiicados segundo as seguintes categorias
de espaços livres: parques de vizinhança, parques de bairro, parques setoriais e parques
regionais, conforme o dimensionamento das unidades e raio de atendimento à população
(CAVALHEIRO, 1992; KLIASS, 1993).
ABSTRACT
The urban park has its origin in the cities during the industrial era. It started in the 19th
century, due to the need to provide cities with adequate spaces to satisfy a new social
demand: leisure, idle time and to counteract the urban built environment (Macedo, 2003).
There are parks in all regions of the city in São Paulo and to understand if there is propor-
173
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
tionality of these spaces with other types of land use, it was deined the municipal bounda-
ry as the area to be analyzed. The existing urban municipal and state parks were classiied
according to the following categories of open spaces: neighborhood parks, district parks,
sector parks and regional parks, according to the size of the units and the serving radius
to the population (CAVALHEIRO, 1992; kliass, 1993).
Keywords: urban park; social demand; area of inluence; territorial planning; environmen-
tal planning.
O potencial paisagístico da cidade de São Paulo, caracterizado por sua estrutura física,
correspondente às colinas e várzeas, densa rede hidrográica e cobertura vegetal lorestal
e campestre foram elementos pouquíssimos considerados no desenvolvimento urbano
quando a questão se refere à criação de parques. O rápido crescimento da área urbana
de São Paulo, notadamente a partir do início do século XX, não foi acompanhado por um
plano de áreas verdes que atendesse à demanda social por espaços de recreação, lazer
e descanso, além das funções culturais, ambientais e sociais intrínsecas das áreas ver-
des urbanas. “A cidade se expandiu transformando signiicativamente as características
geoecológicas do seu sitio urbano e, vários estudos sobre a expansão urbana demons-
tram o espalhamento da cidade por todos os tipos de terrenos (FURLAN, 2004).
Poucos são os parques urbanos de São Paulo que foram criados a partir das potencialida-
des naturais da cidade. A cobertura vegetal existente nas colinas paulistanas, no divisor de
águas entre os vales dos rios Tietê e Pinheiros, hoje muito bem marcado pelo eixo viário da
avenida Paulista, foi o elemento natural considerado na criação do atual Parque Tenente Si-
queira Campos (1892). Nessa região de São Paulo “Araucárias, isoladas ou em bosquetes,
emergiam acima do dossel das matas tropicais atlânticas de Planalto”.(Ab’ SABER, 2004).
174
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
ica compensada pelo panorama do extenso território que oferece toda a variedade possí-
vel de campinas verdejantes e frondosas matas, colinas alternantes com bonitos vales”.
Outro importante naturalista que muito escreveu sobre São Paulo foi o botânico Auguste de
Saint- Hilaire. Em viagem pela província de São Paulo no início do século XIX, por volta de
1816, vindo do Rio de Janeiro ele descreve as formações itogeogáicas dessa região. As-
sim como outros pesquisadores do assunto, Saint-Hilaire observou que a cobertura vegetal
se caracterizava como um mosaico de duas cores verdes bem recortadas onde o tom
mais suave se espalhava pela planície coberta por campos e o tom mais forte das matas
estava distribuído em pontos próximos uns dos outros localizados nas colinas. Havia tantos
fragmentos de matas quanto áreas cobertas por campos e para esse pesquisador era difícil
determinar qual formação predominava nos arredores de São Paulo (LIMNIOS, 2006).
Os rios e suas várzeas e alagadiços eram muitos utilizados como vias de deslocamento,
assim como o lazer da população e prática de esportes. A coniguração morfológica de
São Paulo e seu clima favoreceu a existência desse recurso natural, que era muito abun-
dante, conforme fora mapeado nas antigas plantas da cidade (Figura 2). Foi nesse cenário
que se implantou a Ilha dos Amores, entre a atual rua 25 de março e o Rio Tamanduateí,
em meados na segunda metade do século XIX, na tentativa de sanear e dar uso de parque
urbano a esse setor da cidade. Porém, mesmo antes das obras de retiicação e canaliza-
ção do rio até sua foz, a ilha luvial foi abandonada por volta de 1888. Após essa tentativa
frustrada de destinação da várzea, que já apresentava alguns problemas ambientais, prin-
cipalmente pela poluição das águas e, sociais, como as enchentes, tem-se novos esfor-
ços na gestão de Raimundo Duprat, quando o prefeito convidou o engenheiro-paisagista
francês Joseph Antoine Bouvard a avaliar os planos de melhoramentos urbanos e viários
elaborados para a cidade. Entre as recomendações do engenheiro estava a criação de
um grande parque na Várzea do Carmo e em relatório datado de 15/05/1911 descreve:
“Finalmente no que respeita ao augmento da cidade, ao desenvolvimento inevitável, certo
e rápido, já indiquei o systema que considero o melhor, direi quase o único aceitável no es-
tado actual de coisas. Em todas essas disposições cumpre não esquecer a conservação e
criação de espaços livres, de centros de vegetação, de reservatórios de ar. Mais a popu-
lação augmentará, maior será a densidade de agglomeração, mais crescerá o numero de
construcções, mais alto subirão os edifícios, maior se imporá a urgência de espaços livres,
de praças públicas, de squares, de jardins, de parques, se impõe....”(apud KLIASS, 1993).
Figura 2 e 3 – Da esquerda para a direita: Mapa da Capital da Província de São Paulo, 1877. Planta da
Capital do Estado de São Paulo, 1890.
176
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
177
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
O Jardim Botânico de São Paulo, por exemplo, transforma-se, não muitos anos após
sua inauguração, em parque público (1825), e no decorrer do século é totalmente
adaptado a essa função, tornando-se ponto de encontro dos barões de café e seus
associados. Posteriormente denominado Jardim da Luz, constituiu um parque urbano
de alta qualidade projetual, estruturado em grandes eixos clássicos e com vegetação
composta por espécies temperadas européias (MACEDO, 2003).
Por im, o movimento atual traz a real necessidade de proporcionar a criação de novas
áreas, em especial nas periferias da cidade, onde ela continua a crescer a altas taxas
demográicas. É neste ponto que detectamos o surgimento de parques muitas vezes
pequenos em extensão, no entanto profundamente necessários para proporcionar
melhor qualidade de vida aos paulistanos. Esta realidade vem desde a década de
1970 e se estende aos dias de hoje, quando há um grande esforço das políticas pú-
blicas em ampliar o número de parques na cidade. Momento em que o poder público
municipal investe na criação, inclusive, dos chamados Parques Lineares, buscando
ao mesmo tempo ampliar a área verde municipal, melhorar a qualidade de vida da po-
pulação e evitar problemas com o escoamento da água em época de chuvas e conter
o risco socioambiental da ocupação das margens de córregos urbanos (ISA, 2008).
Recuperar fundos de vales dos rios e córregos da cidade por meio da implantação
de áreas de lazer, saneamento e limpeza dos rios. Este é o objetivo primeiro dos
chamados Parques Lineares. Sua implantação, determinada pelo Plano Diretor da
Cidade (2004), propiciará a conservação das Áreas de Proteção Permanente (APPs)
178
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
instituídas pelo Novo Código Florestal (Lei Federal nº 12.651/2012 ) que margeiam
os cursos d’água e minimizará os efeitos negativos das enchentes que assolam São
Paulo (ISA, 2008).
O programa 100 parques é uma política que priorizou essencialmente o potencial pai-
sagístico e isto foi uma inovação na visão das funções ecológicas, de lazer e estética
das áreas verdes no município de São Paulo. No entanto, quais são as atribuições e
os atributos de um parque urbano? Os principais elementos para um parque urbano
são a sua geograia física, a sua função urbana e o relacionamento com seu entorno,
segundo Kliass (1993). Atualmente essa visão de contexto deve ter como referencia
estudos urbanísticos, paisagísticos e da ecologia de paisagens. Um tripé novo no pla-
nejamento da criação de parques e unidades de conservação urbanas.
METODOLOGIA DO ESTUDO
179
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
d’ água e estar localizados em qualquer parte da cidade. Esses valores devem ser en-
tendidos como indicativos à capacidade de suporte para visitação dos espaços rela-
cionados, o quanto de equipamentos podem conter e a maximização de sua manuten-
ção (CAVALHEIRO, 1992). Com o auxílio de ferramentas de Sistemas de Informações
Geográicas, por meio do software ArcGIS 9.3, foi possível estabelecer as áreas de
inluência dos parques existentes e veriicar a necessidade de implantação de novos
espaços livres destinados ao uso de uma parcela da população não atendida; a partir
de dados demográicos dos 96 distritos existentes no município de São Paulo elabo-
rado pelo Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística no ano de 2000. O uso dessa
ferramenta também possibilitou visualizar essas informações em todos os setores da
urbe e planejar os espaços com maior eiciência.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
O município de São Paulo (capital do Estado de mesmo nome) apresenta uma área de
1523 km2. Desses, aproximadamente 870 km corresponde à área urbanizada, onde
vivem cerca de 65% da população, estimada atualmente em cerca de 10.659.386
habitantes (IBGE, 2010) .
180
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
Para análise a área de inluência dos parques urbanos municipais e sua relação
com os remanescentes da cobertura vegetal foram gerados três produtos carto-
gráicos representando:
181
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
Mapa 1 – Áreas de inluência dos parques urbanos e densidade demográica por distritos no muni-
cípio de São Paulo
182
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
Atualmente tem havido diversos esforços por parte do poder público municipal
para implementação de um sistema signiicativo de parques e jardins. No ano de
2005 a cidade possuía 34 parques municipais totalizando 15 milhões de m² de
áreas protegidas municipais. Em 2009 esses números subiram para um total de 60
parques e uma soma de áreas correspondente a 24 milhões de m², e a meta para
2012 era atingir 100 parques somando uma área corresponde a 50 milhões de m²
(Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, Programa 100 Parques, 2012). Meta
não atingida conforme dados oiciais.
Tabela 1 – Número e área (ha) das áreas protegidas públicas do município de São
Paulo, divididos por zonas (fonte: SVMA, org. por Lara C. C. Costa, 2012).
Res.
Zona Pqs. Urbanos APAS UCs Estaduais Área (ha)
Ecológicas
Norte 16 0 0 3 5.893,5
Sul 21 2 6 2 48.502,9
Centro 3 0 0 0 26,4
Leste 25 1 2 1 4.922,8
Oeste 21 1 1 0 134,3
Total 86 4 9 6 63.189,3
183
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
Segundo dados da Fundação Seade do ano de 2004, a Zona Leste é a região que apre-
senta mais bairros atingindo a máxima densidade demográica superior a 15.000 hab/km².
A única área da zona leste que apresenta os menores dados de densidade demográica,
de até 4.500 hab/km², corresponde à área de Reserva Ecológica da Fazenda do Carmo,
a maior área de proteção da região.
Já nas regiões norte e sul, além de um número elevado de áreas verdes, apresentam um
total em área superior às demais regiões do município, devido à presença dos grandes
contínuos lorestais da Serra da Cantareira na Zona Norte, e da Serra do Mar na Zona Sul.
A Zona Sul possui seis reservas ecológicas e duas áreas de proteção ambiental, as maio-
res do município, Capivivari-Monos com 25.100 ha e Bororé-Colônia com 9.000 ha. É
também a região que apresenta as menores taxas de densidade demográica, tendo pou-
cos distritos que apresentam densidade demográica superior a 15.000 hab/km², enquan-
to os demais distritos apresentam uma média de 8.000 hab/km². Nesta região a tipologia
e área de inluência dos parques urbanos é menor.
A Zona Norte não apresenta um número alto em relação à quantidade de unidades, porém
em relação á área é uma das maiores do município. Quanto à densidade demográica a
região não apresenta nenhum distrito com população superior a 15 mil hab/km², icando
na media entre 8.000 e 11.000 hab/km².
Em relação à zona oeste, se comparada as demais zonas da cidade, esta apresenta uma bai-
xa concentração tanto em relação a quantidade de unidades quanto em área total, mas apre-
senta também menores dados de densidade demográica, icando na média de 8.000 hab/km².
Já a área central da cidade por apresentar a urbanização mais consolidada, tem uma
carência grande de áreas verdes, apresentando apenas três parques de áreas relativa-
mente pequenas. Em relação a sua densidade demográica apresenta áreas mais densa-
mente povoadas com população superior a 15.000 hab/km², mas também áreas menos
densamente ocupadas icando na média de 11.000 hab/km².
A partir desses dados é possível observar que a maior concentração de parques, APAs, e
Reservas Ecológicas estão concentradas na zona sul do município, apresentando assim
consequentemente a maior cobertura vegetal, enquanto em regiões como o centro e a
zona leste apresentam as menores porcentagens de áreas protegidas e parques urbanos
184
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
mo baseado em plantas exóticas. Podemos dizer que alguns parques de bairro na zona
oeste, leste e norte do município representam a dimensão ecológica dos parques urbanos
conservando em seu perímetro fragmentos remanescentes da Mata Atlântica
Mapa 2 – Áreas de inluência dos parques urbanos e cobertura vegetal do município de São Paulo
185
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
Há muito que caminhar na visão dos planejadores quanto a deinir as dimensões ecológi-
cas também aos parques urbanos, compatibilizando o uso social com funções ecológicas
dos parques, particularmente nos parques regionais, de bairro e setoriais.
No mapa 3 percebe um eixo principal de área de inluência dos parques urbanos existen-
tes no sentido Oeste-Leste. Há ainda um corredor ao norte. Na região sul, no entanto
percebe-se que não há qualquer inluência dos parques urbanos uma vez que pratica-
mente não existem parques em área suiciente em nenhuma das tipologias. Situação
curiosa é a área de inluência dos parques no entorno do reservatório Guarapiranga. Os
dados sugerem que estes parques poderiam cumprir uma função ecológica importante
nesta região de mananciais.
Existem parques que estão em obras e, outros planejados pelo governo municipal, os
quais necessitam de ações para a implantação. Caso sejam concretizados, teremos uma
situação melhor para a cidade de São Paulo, porém com algumas áreas sem inluência
de alguma tipologia de parque. Assim, sugerimos criar parques em todas as regiões da
cidade para equilibrar a demanda social por áreas verdes.
O que pudemos observar através desse estudo é uma distribuição irregular das tipologias
de parques e suas áreas de inluencia no município de São Paulo, tendo uma concentra-
ção de unidades nas zonas oeste, centro e centro-sul do município respectivamente, em
detrimento das demais áreas da cidade. O distrito de Parelheiros com um alto índice de
186
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
Mapa 3 – Parques urbanos, áreas de inluência e situação pretendida para o município de São Paulo.
187
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09 Junho de 2013
Assim a análise espacial relete uma política territorial caótica onde a funcionalidade
das tipologias de parque vem sendo pouco considerada na criação de parques ur-
banos. Vemos também que as áreas onde ainda o potencial ecológico é importante
como na zona leste, norte e sul as políticas não tem priorizado a criação de parques
urbanos tirando partido dos remanescentes da cobertura vegetal original que ainda é
possível observar nestas regiões.
Concluindo, é necessário que haja mais estudos sobre a distribuição das áreas verdes
na cidade, para que esses possam servir de subsídios ás políticas publicas, podendo
assim sugerir áreas prioritárias para a conservação e restauração, visando à conexão
dessas áreas e a diminuição da fragmentação da paisagem, para assim garantir a
efetividade e aumentar os benefícios que a vegetação pode trazer em relação à qua-
lidade de vida dos habitantes dos grandes centros urbanos.
188
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°09
BIBLIOGRAFIA
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do Estado de São Paulo, 2004.
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ias de São Paulo: a metrópole do século XXI. São Paulo: CONTEXTO, 2004.
Whately, M (Org). Parques urbanos municipais de São Paulo : subsídios para a gestão/
organização. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008.
KLIASS, R.G. Parques urbanos de São Paulo e sua evolução na cidade. São Paulo:
PINI, 1993.
MACEDO, S.S; SAKATA, F.G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo: EDUSP:
Imprensa Oicial do Estado de São Paulo, 2003.
SAINT-HILAIRE, A. de. Viagem à Província de São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, São
Paulo: EDUSP, 1976.
189
ARTIGO Nº10
Paula Shinzato***
***Doutoranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo
e-mail: [email protected]
RESUMO
191
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
ABSTRACT
This research presents projective guidelines for the planning and design of new public
and semi-public green areas, which functions and distribution were deined based on
the concepts of green infrastructure and applied at the area of Luz District, in São Paulo.
This research is part of a multidisciplinary project developed by Laboratory of Environ-
mental Comfort and Energy Eficiency (LABAUT), of the Faculty of Architecture and
Urbanism, University of São Paulo, and propose an intervention in the built environment
aiming the population and constructive densiication under the perspective of environ-
mental performance. The working method consisted primarily in the characterization of
the following issues: existing green areas within the analyzed area and surroundings;
low of pedestrians; and, cyclists and insolation dynamic of that area. The intersection
of results allowed conducting the vocation of green areas and setting targets, guidelines
and strategies. The four main objectives were deined to increase the offer of open spa-
ces, provide an environmental quality for pedestrians, improve drainage and increase lo-
cal biodiversity. As a result there was an increase of 1,200% in the amount of green open
spaces in the focused area, rising from 5.033sqm to 60.450sqm. The research includes
concepts still little used in common practice of landscape projects in urban scale at Bra-
zilian cities, starting from the premise that the green areas take part of a infrastructural
system that perform various functions in the city.
192
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
1. INTRODUÇÃO
1
O fenômeno climático conhecido como ilha de calor caracteriza-se pela maior temperatura noturna em
áreas densamente construídas em comparação com seu entorno rural. Algumas características das es-
truturas urbanas, como a relação entre a largura das ruas e a altura dos edifícios, os tipos de materiais
construtivos utilizados e a quantidade e localização das áreas verdes afetam a intensidade da ilha de calor
(GIVONI, 1998; LOMBARDO, 1985).
2
JOHNSTON, J. Nature areas for city people. Ecology Handbook n.14 London Ecology Unit. 1990.
193
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
194
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Além da ausência de uma visão multifuncional das áreas verdes urbanas, outra dii-
culdade para sua implementação pelas atuais administrações municipais brasileiras
é a falta de metodologias, critérios e diretrizes para compor programas e políticas
públicas. A este cenário, soma-se a inexistência ou as fracas articulações e parcerias
entre os diferentes órgãos públicos responsáveis pela gestão da cidade, assim como,
entre o poder público e as instituições de pesquisa, ONG’s, sociedade civil e iniciativa
privadas, desperdiçando oportunidades valiosas de se colocarem em prática novas
teorias urbanísticas e paisagísticas, de trocar experiências e obter maior participação
e envolvimento da comunidade nas decisões políticas e rumos das cidades.
As funções das novas áreas verdes e sua distribuição espacial foram deinidas a partir
dos conceitos de infraestrutura verde e aplicadas aos novos espaços livres resultantes
de uma proposta de adensamento urbano com qualidade ambiental com foco na área
da Luz, no bairro de Santa Eigenia, em São Paulo, da qual esta pesquisa fez parte. –.
Esta proposta insere-se em um projeto de pesquisa piloto desenvolvido pelo Laborató-
rio de Conforto Ambiental e Eiciência Energética (Labaut) da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, Universidade de São Paulo e apresentado na conferência internacional
Urban Age-São Paulo 20083, ocorrida em dezembro do mesmo ano, na cidade de São
Paulo, com o apoio da Prefeitura e de uma serie de instituições de pesquisa.
3
Urban Age: http://lsecities.net/ua/conferences/2008-sao-paulo/
195
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
De acordo com os dados do Atlas Ambiental de São Paulo (SMVA, 2000), 48% do
território do município de São Paulo são carentes em arborização e áreas verdes. As
áreas mais deicitárias, segundo SVMA4, situam-se nas Administrações Regionais de
Aricanduva/Vila Formosa, Itaim Paulista e Vila Prudente (Zona Leste); Cidade Ademar
e Jabaquara (Zona Sul); Casa Verde, Vila Maria/Vila Guilherme (Zona Norte); e Sé e
Mooca (Zona Central).
É importante destacar que os distritos que compõem a Zona Central de São Paulo
apresentam as menores quantidades de cobertura vegetal por habitante, na Sé,
distrito onde se localiza a área da Luz, tem-se 0,21 m2/hab, na República 0,24 m2/
hab, na Bela Vista 0,11 m2/hab, sendo que no distrito de Santa Cecília e do Brás tal
índice é de 0m²/hab.
A redução das áreas verdes em São Paulo é causada não apenas pelas ocupações
ilegais e assentamentos irregulares, mas também pelo crescente processo de imper-
meabilização do solo por meio da construção de edifícios e novas vias públicas.
A alta densidade construída na área da Luz contrasta com a baixa densidade demo-
gráica. Apesar da elevada taxa de ocupação do solo (aproximadamente 80%) e do
aglomerado de edifícios que podem ser considerados altos no contexto local (alguns
com mais de vinte pavimentos), atualmente, a densidade média do Distrito da Sé –
ao qual pertence a área de estudo – é de 11.262 hab/km², valor baixo se comparado
com cidades como Paris, com 20.980 hab/km² ou Barcelona, com 17.451hab/km², que
conseguem aliar alta densidade com elevada qualidade de vida.
4
Disponível em: <http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/conteudo/socioambiental/socioamb_05_tab.htm >.
Acesso em agosto de 2011.
196
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Para viabilizar a realização do projeto Nova Luz, foram aprovadas legislações especí-
icas, estabelecendo incentivos iscais para a instalação de empresas de tecnologia e
outros serviços na região e declarando de utilidade pública algumas áreas passíveis
de desapropriação.
197
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
198
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
199
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
5
Entende-se por “escala da quadra”, trabalhar com o desenho urbano em dimensões mínimas de quadra,
tendo esta como unidade de planejamento.
200
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Figura 5 – Vista da tipologia de implantação desenho urbano escolhido por essa pesquisa.
201
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
A vegetação pode contribuir com diversos aspectos ambientais nas cidades, inter-
ferindo na temperatura e na umidade, na drenagem, na estabilização do solo, na
ixação de partículas suspensas na atmosfera, etc. Porém, vale ressaltar que não
é qualquer tipo vegetação plantada em qualquer local que contribui com os itens
citados. Além disso, os aspectos ambientais devem ser pensados conjuntamente
com os sociais, para que os benefícios climáticos da vegetação não se convertam
em problemas para a população.
202
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
urbanas contemplem tais questões para que não contribuam com o agravamento
do problema a jusante.
6
Segundo Conselho Nacional Reserva da Biosfera da Mata Atlântica , trampolins ecologicos são “áreas
estratégicas que funcionam como “ilhas” e podem tanto facilitar o luxo gênico de espécies que transitam
por uma matriz não lorestal quanto ajudar no planejamento e implementação de corredores biológicos. Em
alguns casos, ajudam a aumentar a representatividade de algumas unidades de paisagem. Disponivel em :
http://www.rbma.org.br/anuario/mata_06_fap_capitulo_5_pag3.asp. Acesso em : junho/2012.
203
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
5. MÉTODO
A deinição das estratégias de infraestrutura verde a serem aplicadas nos espaços li-
vres resultantes da tipologia de ocupação perimetral descrita no item anterior, baseou-
se na caracterização dessas áreas quanto à sua localização,dimensão, uso do solo,
luxo de pedestres e ciclistas; e de sua insolação. O cruzamento dessas informações
permitiu deinir a vocação das áreas livres como áreas verdes de passagem ou per-
manência. Essa avaliação foi dividida em 4 etapas descritas a seguir:
204
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Etapa 3: Avaliação da insolação do conjunto, inclusive nos espaços livres, por meio
de simulações computacionais (com o uso do software Ecotect7) nos solstícios de
inverno e de verão, das 8h às 18h. As áreas que apresentaram 5 ou mais horas de
insolação no verão ou no inverno, ou em ambas as épocas do ano, foram classiica-
das como áreas ensolaradas. O resultado do estudo da insolação foi um importante
critério para deinição de diretrizes de especiicação e caracterização da vegetação,
inclusive quanto seu porte e densidade.
Os resultados são obtidos a partir do cruzamento dos dados de uso do solo e luxo de
pedestres com os resultados de insolação, a im de propor novos espaços livres de
acordo com sua vocação como locais de passagem ou de permanência e quanto à
vocação para potencializar o aumento da biodiversidade local.
Para a implantação dos corredores verdes foram escolhidas avenidas e ruas que
comportassem um adensamento de plantio arbóreo signiicativo, capaz de coni-
gurar o corredor. Assim, pelo fato de a maioria das calçadas da região ser muito
estreita, optou-se por avenidas que apresentassem canteiros centrais, de forma que
o adensamento da vegetação não comprometesse a circulação de pedestres. Os
corredores das avenidas Cásper Líbero e Duque de Caxias – Rua Mauá foram os
escolhidos, ligando importantes áreas verdes, como a Praça Princesa Isabel, Largo
do Arouche e Praça da República ao Parque da Luz, como pode-ser visto na ima-
gem esquemática a seguir.
7
MARSH and RAINES,2004.
205
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
Figura 7 – Canteiro central Av. Cásper Líbero que pode ser enriquecido com espécies arbóreas nativas,
constituindo um corredor verde. Fonte: Google
206
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
8h 9h 10h 11h
Figura 9 – Exemplo da análise de insolação realizada. Solstício de inverno (21 de junho) das 8 às 11h.
207
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
Todas as áreas livres foram analisadas nos solstícios de inverno e de verão, das 8h
às 18h, sendo classiicadas como ensolaradas no verão, no inverno, ou em ambas as
épocas do ano quando apresentaram 5 ou mais horas de incidência de radiação solar
direta nos dias estudados.
208
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
6. RESULTADOS
Figura 11 – Ilustração de
um local de permanência
ensolarado no inverno com
predominância de vegeta-
ção arbustiva e herbácea.
209
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
Nas áreas ensolaradas no verão foi proposta uma combinação entre vegetação her-
bácea, arbustiva e arbórea.
Nas áreas ensolaradas tanto no inverno quanto no verão foi proposta a mesma com-
binação, porém, com espécies arbóreas caducifólias, permitindo sombreamento no
verão e insolação direta no inverno.
O anexo 1 sugere algumas espécies adequadas a cada situação. Por im, o estudo
aqui apresentado evidencia a possibilidade de aliança entre o aumento de densidade
populacional e o incremento quantitativo e qualitativo das áreas verdes na área da Luz.
210
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Além dos corredores verdes sugeridos em locais estratégicos em virtude das áreas verdes
existentes, a partir na nova morfologia e desenho urbano de áreas construídas e livres, fo-
ram propostos os bolsões de diversidade, entendidos, sob a ótica da Ecologia da Paisagem,
como trampolins ecológicos, auxiliando no luxo de espécies e genes entre as manchas de
vegetação existentes. Eles foram determinados, a partir das novas áreas verdes propostas,
na qual a intensidade dos luxos foi uma variável mais signiicativa do que a insolação. Con-
siderando-se que esses espaços foram conceituados como áreas de vegetação densa (com
bosque e sub-bosque), por questões de segurança, sua implantação seria mais adequada
em áreas de acesso restrito, conigurando, por exemplo, espaços de lazer condominiais.
Figura 14 – Proposta
para a vegetação. Coni-
guração perímetro.
8
De acordo com o previsto na Resolução SMA n°47 que trata sobre o relorestamento heterogeneo para
áreas de até 1 hectare.
211
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
Figura 15 – Ilustração síntese dos espaços verdes propostos nas áreas internas das quadras.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro passo para a viabilização deste objetivo foi considerar a quadra, e não o
lote, como unidade mínima de planejamento e projeto urbano, oferecendo, assim,
uma gama maior de possibilidades de desenho e interação das áreas livres com os
ambientes construídos.
212
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Assim, a pesquisa estimula a visão crítica, visando alterar ideias ou conceito precon-
cebidos de que a alta densidade está vinculada a qualidade urbanística ruim, destitu-
ídas de áreas verdes.
213
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GONÇALVES, Joana C. S.; MULFARTH, Roberta K.; MONTEIRO, Leonardo M.; MOU-
RA, Norberto C.; PRATA, Alessandra R.; MIANNA, Anna C., CAVALCANTE, Rodrigo.
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JOHNSTON, J. Nature areas for city people. Ecology Handbook n.14 London Ecology
Unit. 1990
MARSH, A.; RAINES, C..Ecotect v.5.20. Square One; Joondalup: Austrália, 2004.
214
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
9. AGRADECIMENTOS
215
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
ANEXO 1
Estagio
Local de utilização Nome cientíico Nome popular
sucessional
216
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10
Jacarandá Pau-
BD, CV, PV Machaerium villosum P
lista
BD, CA, CV, PV, PI Eugenia dysenterica Cagaita NP
BD, CA, CV, PV, PI Matayba eleagnoides Camboatã P
BD, CA, CV, PV, PI Qualea multilora Pau Tucano P
BD, PV Qualea jundiahy Pau Terra P
BD Solanum lycocarpum Lobeiro P
BD, CA, CV, PV Solanum paniculatum Jurubeba P
BD, CA, PV Trema micrantha Crindiúva P
BD,CV.PV,PI Vitex montevidensis Tarumã P
BD,PV,PI Ficus glabrata Figueira P
BD, CA, CV, PV Rapanea ferruginea Capororoca P
BD, CA, CV, PV Eugenia leitonni Goiabão NP
BD, CV, PI, PV Schizolobium parahyba Guapuruvu NP
BD, CV, PI, PV Cedrela issilis Cedro NP
BD, CA, CV, PI, PV Tabebuia ssp Ipê roxo NP
BD, CA. CV, PI, PV Tabebuia ssp Ipê amarelo NP
Aspidosperma Cylindrocar-
BD, CA, CV, PI, PV Peroba - Poca NP
pon
BD,PV Aspidosperma polyneuron Peroba - Rosa NP
BD, CV, PV, PI Aspidosperma ramilorum Guatambú NP
BD, CA, CV, PV Albizia polycephala Angico Branco NP
Amendoim-
BD, CV, PV Pterogyne nitens p
- Bravo
BD, CV, PV, PI Andira inermis Angelim NP
BD, CV, PV Andira fraxinifolia Angelim-doce NP
Angelim - amar-
BD, CV, PV Andira anthelmia NP
goso
BD, CV, PV, PI Centrolobium tomentosum Araribá NP
Jacarandá bico-
BD, CV, PV Machaerium nyctitans NP
de pato
BD, CV, PV, PI Machaerium scleroxylon Caviúna NP
BD, CV, PV Ficus guaranitica Figueira branca NP
BD, PV, Gallesia integrifolia Pau d´alho NP
Pessegueiro
BD, PV Prunus myrtifolia NP
Bravo
217
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°10 Junho de 2013
218
ARTIGO Nº11
Volker Minks***
***É engenheiro agrônomo e urbanista pela Universidade de Humboldt de Berlim. Tem trabalhado em diver-
sos projetos de design verde, com aplicação de novas tecnologias em paredes e tetos verdes na Alema-
nha, Cuba, Estados Unidos e Brasil.
[email protected]
RESUMO
220
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
nos parques, praças, nos espaços verdes das vias e na criação e recuperação de lo-
restas. Além dessas, outras treze cidades têm planos semelhantes, referentes à criação
ou expansão de cinturões e áreas verdes. Tendo como exemplo as medidas adotadas
por essas quatro cidades do C40, e após uma discussão e relexão pós-encontro, esta
equipe faz, no inal deste relato, uma conclusão e algumas recomendações, visando a
consolidação de uma infraestrutura verde para a cidade de São Paulo, para promover
sua resiliência urbana às mudanças climáticas.
ABSTRACT
Currently, worldwide, cities are preparing themselves for climate changes. This article
deals with the experience of the meeting C40, held in São Paulo by mid-2011 and pro-
moted by the City Authorities. The meeting brought together dozens of cities around
the world to discuss strategies to face the problem with several approaches such as
the use of renewable energy, waste management, urban mobility and urban afforesta-
tion among others. The authors of this article have been invited to attend that event as
consultants and reporters of Session 3 - Tree Planting and Urban Forest. This work re-
sulted in a text on the subject, which led to this article. In the session and Urban Forest
and Tree Planting it was proposed initiatives to increase the green areas adopted by
cities in four different countries – Russia, Chile, Nigeria and Ethiopia – which were at-
tended by representatives of the cities Moscow, Santiago, Lagos and Addis Ababa, all
together with the same main target: adapting cities to climate changes. At that meeting,
it became evident that planting trees is among the main adaptation actions at the cities,
with the aim to improve the green infrastructure and face the problem of “urban heat
islands” and “global warming”. Planting takes place mainly in parks, squares, green
areas of pathways and with creation and restoration of forests. Besides these, thirteen
other cities have similar plans concerning the creation or expansion of green belts and
areas. Having as an example the measures adopted by these four cities at C40 and
after discussion and relection after-meeting, this team makes, at the end of this report,
221
Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
A sessão foi moderada pelo Sr. Almaz Mekonnen, Diretor de Relações Públicas e Inter-
nacionais de Adis Abeba. Vinte e um dos 40 membros, do Large Cities Climate Summit,
implementaram iniciativas de arborização e programas de Florestas Urbanas como ini-
ciativas de adaptação climática das cidades e investem, particularmente, em parques,
espaços verdes, vias urbanas, e lorestas. Treze cidades têm planos para expandir seus
programas atuais de plantio de árvores.
222
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
Moscou
Moscou é a capital da Federação Russa, que tem cerca de 10.32 milhões de habitan-
tes na cidade; trata-se da maior aglomeração européia e uma das sete maiores do
mundo. É o centro político, econômico e cultural do país. Moscou ocupa 1081 km2, dos
quais 323,3 km2 são áreas verdes, ou cerca de 30% da área total da cidade, a qual
conta com: 120 parques com 2,4 mil ha; 272 vias arborizadas com cerca de 1,3 mil ha;
392 praças, ocupando 700 ha; e 236 reservas naturais (áreas protegidas) de 17.000 ha.3
1
Rishi Desai - Assessor da Presidência do C40, Relatório Base de Cidades C40 – Arborização Urbana e
Floresta Urbana, Junho de 2011.
2
www.c40cities.org/cities, 01/06/ 2011
3
Apresentação do C40 Large Cities Climate Summit, Apresentação da Sessão 3 – Arborização Urbana e
Floresta Urbana pelo Sr. Anton Kulbachevskiy, diretor do Departamento de Recursos Naturais e Proteção
Ambiental de Moscou, Sao Paulo, Junho 2011
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
Lagos
Lagos é a maior cidade da Nigéria, e foi sua capital até 1991.4 Com 9,7 milhões de
habitantes5 é a mais populosa da África, e o centro inanceiro, bancário, econômico
e cultural do país, além de ser o pólo mais importante de transportes. Apresenta uma
taxa de crescimento notável da população, de 6% ao ano e prevê-se que em 2015,
abrigará cerca de 25 milhões de pessoas. Em Lagos situam-se mais de 10.000 em-
presas industriais e comerciais e uma considerável concentração de veículos. A cida-
de ica na costa do Golfo da Guiné, numa média de cinco metros acima do nível do
mar, e se estende bordejando uma lagoa, onde se pratica aquicultura extensiva, por
entre ilhas e manguezais, cercada por coqueiros e loresta tropical.
A região metropolitana de Lagos tem uma área de 14.144 km2 e se estende por todo
o estado de Lagos, e grande parte do estado de Ogun e vem lutando, como muitas
outras grandes cidades, contra estradas desastrosas, a superlotação e as péssimas
condições de tráfego. Esta situação foi reconhecida pelo estado e pela população,
que iniciou um processo de discussão.
Em 1960, ano da independência da Nigéria, e por alguns anos depois, Lagos – pri-
meiro como território da capital federal e, posteriormente, como Lagos Estado – foi
uma cidade de jardins, hipódromos, parques, campos de lores e fauna. Na verdade,
Lagos icou famosa por sua participação na série de competições de lores locais e
4
Desde 1991, Abuja é a nova capital da Nigéria
5
www.c40cities.org/cities, 01/06/ 2011
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nacionais. Tudo isso foi perdido com o advento do “boom” do petróleo, na década de
1970, que testemunhou um frenesi de construção, dando atenção insuiciente para
a vegetação.
Figura 03 – O antes e depois de uma ação de arborização urbana em uma avenida na cidade de La-
gos, Nigéria. Fonte: Apresentação do C40 Large Cities Climate Summit São Paulo: The Case of Lagos,
01/06/ 2011
Figura 04 – Adoção de máquinas e de novas tecnologias adotadas pelo governo para o programa de
plantio de milhares de árvores na cidade de Lagos, Nigéria.
Fonte: Apresentação do C40 Large Cities Climate Summit São Paulo: The Case of Lagos, 01/06/ 2011
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
Santiago do Chile
Santiago do Chile estende sua região Metropolitana numa área de 15.403,2 km2, equi-
valente a 2% da superfície do país. A população regional é de 6 milhões, ou 40% da
população total, com uma densidade de 393hab/km2. Essa região vem sofrendo uma
serie de alterações climáticas, principalmente quanto à aridez e o aumento de tempe-
ratura (1 a 2 graus) em todas as estações. Situa-se geograicamente numa depressão
junto à cordilheira dos Andes, como se observa em foto abaixo (ig.05).
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
É provável que a Região Metropolitana no futuro ique mais quente e árida, com as pre-
cipitações concentradas no mês de inverno e altas temperaturas no verão, todavia ainda
há muitas incertezas, pois os modelos climáticos ainda podem sofrer inúmeras alterações.
Addis Abeba
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
Estas metas em Addis Abeba foram de suma importância, tanto para a absorção de
carbono e redução de poluição, como para criar uma oportunidade de emprego na
criação de bosques, para consumo da madeira como recurso energético. Mais de
500 famílias dependem desse recurso para sua existência. A Etiópia foi reconhecida
pela UNEP(Programa de Meio Ambiente da Nações meta Unidas) no seu esforço pelo
plantio de árvores, 700 milhões em 2008.
Atualmente, a vegetação que cobre a cidade equivale a 16% desse número, sendo
que a meta do Plano Diretor é 41%.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
Município de São Paulo, através da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, vem fazendo
inúmeros esforços no sentido de ampliação do verde na Cidade6, haja vista a criação
de novas áreas verdes e a implementação de parques lineares em fundos de vale, em
consonância com o Plano Diretor Estratégico de 2002, que previu uma estruturação
urbana através de rios e córregos7. Porém diante da dimensão de sua área urbana, que
se pode chamar aqui de “infraestrutura cinza”, as ações verdes tornam-se insuicientes.
Para minimizar as quase 16 milhões de toneladas de CO2, que foram lançadas na at-
mosfera de São Paulo em 2003, o poder público, por meio da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente, trouxe para São Paulo o conceito de cidade compacta, enfatizando a
ocupação dos vazios urbanos centrais, minimizando a expansão dos assentamentos
em áreas periféricas. A Prefeitura criou em 2005 o Programa de Relorestamento e entre
2006 e 2009 foram plantadas mais de 600.000 novas árvores na cidade. Paralelamente
a esse programa de relorestamento, o Plano Diretor Estratégico introduziu duas “fren-
tes de Ação” o “Programa 100 Parques para São Paulo”, lançado em janeiro de 2008,
o qual levantou e reservou áreas para serem transformadas em parques em diversas
regiões da cidade associado ao Programa de Recuperação Ambiental de cursos d´água
e fundos de vale, com o objetivo de considerar a rede hídrica como elemento estrutura-
dor da urbanização. Os Parques Lineares, que acompanham os fundos de vale, vieram
a constituir o principal eixo de ação desse programa, no intuito de resgatar a lógica am-
biental da bacia hidrográica. Esses Parques Lineares são, portanto, uma nova diretriz
infra-estrutural, que passam a deinir faixas de utilidade pública ao longo dos cursos
d´água com o objetivo de implantação de uma infra-estrutura verde de recuperação am-
biental e lazer, é o inicio de uma estruturação de infraestrutura verde. Temos um exem-
plo concreto e muito bem sucedido desta ação na descanalização de um dos córregos
formadores do ribeirão do Ipiranga, dentro do Jardim Botânico de São Paulo, conforme
mostra a igura abaixo. Neste caso, havia um passeio pavimentado que constituía o eixo
de entrada daquela área verde. Por baixo do enorme piso de mosaico português que co-
bria o antigo eixo de acesso, corria o córrego tubulado, que carregava consigo as águas
das nascentes preservadas do ribeirão histórico, hoje descanalizado e com margens
revegetadas, e contando com um passeio em deck de madeira que atrai os visitantes à
observação do curso d’água, que ora corre a céu aberto, e a lora e fauna locais.
6
Vale lembrar que em 2005 a cidade possuía somente 34 parques municipais – 15 mil metros quadrados de
area protegida; em 2008 esse número aumentou para 48 parques – 24 mil metros quadrados – e o objetivo
atual é de alçancar 50 mil metros quadrados até 2012 – Sao Paulo and the Climate Change. Prefeitura
Municipal de São Paulo, encontro: Climate Summit C40, junho de 2011.
7
“Programa 100 Parques para São Paulo”, lançado em janeiro de 2008.
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
Apesar da cidade de São Paulo apresentar diversas áreas verdes, desde lorestas urba-
nas a parques, praças, jardins e outras, a maior parte delas estão desconectadas umas
das outras, e sem interação amigável com a trama urbana. Portanto é recomendável
a adoção de uma nova estratégia de Planejamento Ambiental, na qual o espaço da
cidade deve ser pensado como um ecossistema urbano, articulado ao seu próprio
ecossistema natural, permitindo a sobrevivência da vida selvagem, nas escalas urbana
e regional, com a implementação do conceito de Infraestrutura Verde, que considere o
verde urbano não isoladamente, mas em tipologias de espaços vedes interligados entre
si, e com a malha urbana, num sistema em rede. Somente assim pode-se imaginar a
cidade de São Paulo como uma cidade resiliente às mudanças climáticas.8
8
Newman, Beatley and Boyer, Resilient Cities, 2009.
232
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
8. A infraestrutura verde deve ser criada para a cidade de São Paulo ten-
do em vista o balanço hídrico e climático em escala regional levando em
conta: o seqüestro de carbono, a promoção da biodiversidade no âmbito
urbano, a prevenção de enchentes e a mitigação de suas “ilhas de calor”,
na tentativa de colaborar globalmente para a redução do “efeito estufa” e
o “aquecimento global”.
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Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11 Junho de 2013
10. A criação da infraestrutura verde para a Cidade de São Paulo deve, aci-
ma de tudo, revelar que está embasada numa conscientização ambiental
crescente, por parte do governo, dos empreendedores, dos especialistas
e de todos os seus cidadãos, cujo foco principal é a proteção e conserva-
ção da vida dos homens e das espécies sob uma ética ecológica.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Artigo n°11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DRAMSTAD, Wenche E.; OLSON, James D.; FORMAN, Richard T.T. Landscape Eco-
logy Principles in Landscape Architecture and Land-Use Planning. Harvard University
Graduate School of Design: Island Press and ASLA, MA, U.S.A., 1996.
THE WORLD BANK. Climate Change, Disaster Risk, and the Urban Poor. Wa-
shington DC,The International Bank for Reconstruction and Development/ The World
Bank, 2012.
235
3. ENTREVISTAS
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
1
Entrevista conduzida por Ramón Stock Bonzi.
237
Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
REIS – O espaço que resultou a antiga Praça Roosevelt (anos 60) foi originado de
um longo e lento processo de desapropriações destinadas à abertura de espaço para
a ampliação do sistema viário da cidade de São Paulo (plano elaborado na época de
Prestes Maia). Essas desapropriações se completaram na década de 60 conforman-
do a antiga praça (grande terreno vazio que servia de estacionamento nos dias da
semana e nos domingos na maior feira-livre da cidade na época, como também, na
época das eleições no grande palco para os tradicionais comícios dos políticos).
A antiga Praça Roosevelt pode ser considerada uma área residual, resultado do longo
processo de desapropriações. Praça sem nunca ter sido uma praça esta área é cortada
no inal dos anos 60 para dar passagem ao sistema viário Leste-Oeste. Esta proposta de
ligação viária foi muito discutida dentro dos órgãos responsáveis da municipalidade. Uma
das propostas (anterior ao projeto implantado no inal dos anos 60) previa a passagem por
sistemas elevados com várias alças de acesso – Na verdade, tratava-se de um mini ce-
bolão que envolvia toda a Igreja da Consolação, criando uma grande quantidade de áreas
repletas de baixos de viadutos. Felizmente este projeto foi descartado e optou-se pela
abertura de uma grande trincheira passando bem abaixo da cota média da antiga praça.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
REIS – Muitos estudos e projetos foram propostos pela municipalidade e por espe-
cialistas sem alcançarem sucesso, principalmente pela questão de falta de recursos.
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Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
Os problemas foram se acumulando durante todo esse período como atestam as re-
portagens da imprensa local, chegando ao ponto de a Municipalidade propor a pintura
de verde da praça no intuito de tentar amenizar a aridez do espaço.
A anterior fragmentação do tecido urbano promovida pela intervenção viária não foi
recuperada com a implantação da “Nova Praça”, ao contrário, o novo projeto e obra
concluída, com os seus vários níveis (lajes e patamares), excessos formais, excessos
de massas construídas/ bloqueios visuais e de acessibilidade, junto com os proble-
mas posteriores de gestão/administração da prefeitura acabaram decretando a falên-
cia deste espaço em um espaço de 20 anos.
A complexidade e a pretensão inicial do projeto izeram com que este novo espaço
assumisse uma dimensão desproporcional com o entorno, criando a necessidade da
criação de vários planos para o atendimento do programa que juntamente com o exa-
gero formal das massas construídas acabaram criando vários bloqueios visuais e de
acessibilidade diicultando a articulação com as áreas adjacentes.
Sendo assim, podemos considerar que o programa e o partido adotado no projeto não
foi o mais correto, apesar de ter sido uma experiência que tinha como base conceitos
que estavam em vigor na nossa cidade na época – O urbanismo moderno, onde a
planiicação e a racionalização exacerbada do uso e ocupação do solo prevaleciam.
Experiências como as “New Towns” inglesas e francesas e as megaestruturas ainda
eram referências dos nossos proissionais, apesar dos questionamentos que já se
faziam no exterior, (principalmente nos Estados Unidos) a respeito do urbanismo do
“arrasa quarteirão” e das grandes intervenções.
240
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
REIS – Ainda é cedo para fazermos uma avaliação criteriosa da obra que foi implan-
tada. No meu entendimento, a reurbanização teve êxito no enfrentamento dos proble-
mas relacionados ao rompimento dos obstáculos visuais e de acessibilidade, procu-
rando uma maior articulação com o entorno. Foi positiva também ao resolver de uma
vez por todas os problemas relacionados às constantes e necessárias manutenções
de um espaço que se encontrava impossibilitado de uso e de grande diiculdade de
gestão e administração por parte da prefeitura.
Os estudos desenvolvidos por mim (desde 1989 até 2009) e o projeto executivo avan-
çaram dentro do prazo e das condições possíveis dentro da administração – sempre
truncado e sem continuidade. A obra foi executada dentro de outras condições de
limitações que acabaram, no meu entender, comprometendo o resultado inal, mas
de qualquer forma, acredito que estamos ainda em um processo que poderá se com-
pletar se ocorrer um acompanhamento da obra face às novas demandas e aos novos
problemas surgidos ou que possam surgir.
241
Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
licitação e o início das obras tiveram início, culminando com a inauguração do novo
espaço em 2012.
O programa resultante foi elaborado pelo corpo técnico e de contatos com setores da
comunidade via reuniões, assembleias e encontros. Os planos de massa da nova pra-
ça são decorrentes das condições estruturais do local – três grandes lajes que servem
de apoio ao plano principal da praça e aos dois níveis de estacionamento acima da via
Leste-Oeste. Sendo assim, o plano principal da praça icou deinido pelas condições
estruturais, sendo possível apenas intervir na demolição do antigo pentágono e nos
novos acessos criados na Rua da Consolação (Nova Esplanada Consolação) e Rua
Augusta (Nova Esplanada Augusta).
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
Figura 2 – Croqui do projeto executivo que foi a base para o desenvolvimento da nova praça Roosevelt,
2007. Fonte: Rubens Reis.
REIS – Dependeu de cada administração, considerando que esta proposta vem des-
de a época da Prefeita Erundina, ou até mesmo antes dela, pois a primeira grande
remodelação do espaço ocorreu na gestão do prefeito Mário Covas. Os técnicos sem-
pre estiveram disponíveis para o contato com as pessoas envolvidas com a praça.
Em termos de administração tivemos a oportunidade de apresentar todos os estudos
desenvolvidos para a comunidade local – dependendo da administração com maior
ou menor intensidade. O Programa do projeto (não da obra) pode ser considerado de
consenso entre todos.
243
Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
REIS – Não foi o fato da minha saída da EMURB que o projeto sofreu alterações. Mu-
danças de projetos são naturais nos processos de obras – A questão é: Como mudar
e porque mudar.
O projeto teve continuidade até chegar à licitação e início da obra em 2010. Evidente-
mente uma obra acaba tendo que alterar algumas premissas originais do projeto por
questões técnicas, tempo, novas prioridades e demandas e recursos.
No caso da Roosevelt entendo que a eliminação do Telecentro foi uma grande perda,
pois seria um interessante espaço aglutinador de pessoas em especial jovens e que
junto com o Centro de Informação da Mulher seria um espaço referencial.
Outro ponto refere-se aos acabamentos, os quais foram pensados no projeto original
com materiais de maior durabilidade e que infelizmente não foram considerados.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
Contratamos obras com projetos que na maioria das vezes são deicitários em termos de
maturação e informações, sendo assim é na obra que o projeto acaba se desenvolven-
do, sempre com os riscos de perda de qualidade e aumento de custos.Temos também a
questão relativa ao distanciamento entre o alcance dos ideais de projeto e a realidade de
execução e gestão/administração da prefeitura, que infelizmente é muito limitada e pou-
cos proissionais conseguem desenvolver projetos que se adequem às essas limitações.
REIS – Não concordo, a supressão do edifício do Telecentro se deu por uma visão equi-
vocada de setores da administração e de entidades que consideraram que, se estávamos
demolindo uma área (o Pentágono) não deveríamos mais construir outra ediicação.
245
Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
A questão da gentriicação nunca é uma ação explícita, ela pode ocorrer (pode ser
intencional? – como sabemos pode – mas não foi o caso), infelizmente é uma lógica
do mercado na sociedade da qual vivemos: espaços requaliicados acabam sendo va-
lorizados. O poder público teria que se antecipar a este fenômeno, o que infelizmente
não ocorreu ou não ocorre.
10. LABVERDE – Você icou surpreso com a apropriação do espaço por parte dos
skatistas? Aliás, o skate foi recentemente limitado a um pequeníssimo setor.
REIS – Não iquei surpreso com os skatistas e nem com o sucesso do espaço dentro de
outras comunidades que procuram utilizá-lo neste curto tempo de existência. É natural
que um novo espaço, dentro de uma área carente de áreas abertas, seja um novo ponto
de atração, principalmente na nossa época de comunidades ligadas à internet.
O projeto original não contemplava espaços especíicos para skatistas ou outros grupos,
o projeto tinha como princípio simplesmente a abertura de um novo espaço de convívio
com a menor manutenção possível para a administração. Poderíamos ter desenvolvido
um projeto com apelos estéticos, tecnológicos e até mesmo com as louváveis justiicativas
de sustentabilidade, nos moldes de exemplos estrangeiros, mas conhecendo a fundo as
limitações da administração optamos pela simplicidade, que infelizmente para alguns sig-
niica falta de criatividade. Com relação ao skate ele não foi proibido, mas foi estabelecida
uma forma de gestão do espaço que procure garantir a permanência de outras pessoas
como crianças, velhos entre outros sem que entrem em conlito com a prática do skate e
dos skatistas que acabaram se arvorando como os “donos do espaço”. Temos que lem-
brar que o espaço não foi pensado para um único ou determinado grupo.
11. LABVERDE – O sr. entende que há alguma coisa na atual política da prefei-
tura de São Paulo para Praças que deve mudar ou que pode ser melhorada?
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
principalmente porque a cidade de São Paulo faz parte da maior área metropolitana
do país. As limitações das Subprefeituras (recursos orçamentários, recursos humanos
e conhecimento técnico) são os principais elementos da falta de qualidade do espaço
urbano, que junto com a falta de sintonia das ações acabam gerando essa sensação
negativa em relação aos espaços da nossa cidade.
Acredito que com maiores recursos junto às subprefeituras e ações mais integradas
poderemos melhorar este quadro.
Por im, um aspecto muito importante seria a mudança de foco das subprefeituras. As
subprefeituras precisam mudar a visão de zeladores para gestores das unidades de
sua administração e não icarem a reboque de outras instituições.
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Entrevista conduzida por Ramón Stock Bonzi.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
Figura 1 – Corte longitudinal com a avenida Augusta à esquerda e a Rua da Consolação à direita.
Fonte: Borelli & Merigo.
BORELLI & MERIGO – Em termos programáticos não houve grandes alterações em rela-
ção ao projeto original. A praça abriga loriculturas e espaços comerciais, um batalhão da
guarda civil metropolitana e outro da polícia militar.
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Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
Além disto, existem áreas para um parque infantil e para passeio de cachorros. No come-
ço do ano foi provado pelo Conselho Gestor da Praça Roosevelt - composto por represen-
tantes dos moradores, comerciantes, skatistas e poder público - nosso projeto para uma
área dedicada à prática do skate.
3. LABVERDE – Vocês pegaram o projeto concebido pelo arquiteto Rubens Reis. Pro-
puseram muitas alterações? Como é ‘mexer’ na proposta de outro proissional?
BORELLI & MERIGO – Primeiro é preciso esclarecer esta questão da autoria deste pro-
jeto. De fato havia um projeto inicial concebido dentro da antiga EMURB, que inclusive
chegou a ser detalhado pela Figueiredo Ferraz.
Ocorre que por ocasião da obra, a prefeitura quis modiicar este projeto. As modiica-
ções foram: eliminação do edifício do Telecentro, aumento dos edifícios da guarda civil
metropolitana e da polícia militar, área para o chamado cachorródromo e rotas de fuga
para os dois subsolos. Além disto, havia ajustes e correções necessárias em uma refor-
ma deste porte. Este novo projeto foi concebido pela Borelli & Merigo em acordo com
as exigências da prefeitura.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
BORELLI & MERIGO – Não icamos surpresos com os skatistas na Roosevelt. Ainal eles
ocupam este espaço faz bastante tempo. Durante os anos de maior abandono, foram eles os
principais usuários da praça. Em nosso entendimento não seria justo, agora com o espaço
reformado, expulsá-los. Porém o projeto da EMURB não contemplava áreas para skate. Na
verdade esta foi mais uma modiicação que tentamos fazer, porém a prefeitura, atendendo
à solicitação da vizinhança, não aceitou. Em nossa proposta inicial havia também um teatro
ao ar livre, outra atividade muito ligada historicamente à Roosevelt. Esta também não foi
aprovada. Após a eleição a nova administração resolveu atender aos anseios dos skatistas.
No início do ano travamos frutí-
feras conversas com a Confe-
deração Brasileira de Skate e a
subprefeitura da Sé e consegui-
mos aprovar junto ao conselho
gestor, nosso projeto para uma
praça de skate na Roosevelt.
A implementação deste projeto
em conjunto com a pedestriali-
zação da rua João Guimarães
Rosa, resolverá deinitivamente
a questão do skate e da acessi-
bilidade na Roosevelt.
Figura 3 – A praça Roosevelt: apropriações e a delicada rela-
ção com a vizinhança. Foto: Lilian Dazzi Braga.
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Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
BORELLI & MERIGO – A praça de skate foi aprovada pelo conselho gestor da praça
e está em fase de implementação pela prefeitura.
BORELLI & MERIGO – Ao menos em São Paulo isto não é uma realidade. A própria
ocupação da praça desde a sua inauguração é prova disto. Há uma série de eventos
como a Virada Cultural, a Parada Gay, a reocupação do bairro da Consolação nos ar-
redores da rua Augusta, as ciclofaixas, que demonstram claramente que o paulistano
desfruta cada vez mais dos espaços de sua cidade
8. LABVERDE – A nova praça Roosevelt foi criticada por ter pouca vegetação.
Seria “seca” demais. Como encaram a critica?
BORELLI & MERIGO – O que nós chamamos de praça é, segundo o autor do projeto, o
arquiteto paisagista Roberto Coelho Cardozo, um “edifício-praça”. Na verdade a praça é
a laje de cobertura de um edifício composto pelo túnel viário da ligação leste-oeste e dois
subsolos de estacionamento. Ela se insere dentro do conjunto de obras viárias construí-
das ao longo da segunda metade do século XX e que transformaram São Paulo em uma
cidade dependente do automóvel. Ficaram reduzidas as possibilidades paisagísticas,
por conta das limitações impostas pela estrutura existente. É impossível o plantio de
árvores de grande porte na maior parte da praça. Ainda assim foram projetados cerca
de quatro mil metros quadrados de jardins sobre laje, com diversas árvores de médio
e pequeno porte, além de arbustos e forrações. Para o adequado plantio das árvores
foram abertos os caixões perdidos da estrutura, de modo a garantir um volume de terra
que permitisse a formação de raízes. Deve-se aguardar ainda, a maturidade das mudas
o que ampliará signiicativamente o porte de suas copas. Por im, gostaríamos de defen-
der os amplos espaços de piso de concreto que permitem uma variada gama de ocupa-
ções tais como, shows, manifestações e eventos dos mais variados tipos, fatos que já
se tornaram comuns na Roosevelt reformada e que contribuem para a sua qualiicação.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
BORELLI & MERIGO – Apenas um dos quiosques é ocupado pela GCM, os demais
continuam destinados a áreas comerciais.
BORELLI & MERIGO – Esperamos que seja implementado, com a máxima urgência e
abrangência, um plano de arborização das ruas e espaços públicos em São Paulo. A
cidade é muito carente em relação à qualidade paisagística destes espaços.
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Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
1
Entrevista conduzida por Ramón Stock Bonzi.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
2. LABVERDE – Quais foram os critérios para a escolha das novas espécies arbóreas?
SBRUZZI – A maior área da praça está sobre uma grande laje com canteiros com pouca
profundidade. Escolher exemplares arbóreos que podem desenvolver adequadamente
nestas condições, com sistema radicular não agressivo a impermeabilização e sem com-
prometer a estrutura da laje foi um deles.
Outro critério importante foi a escolha de árvores nativas, algumas delas pouco empregadas
no paisagismo, como o cambuci (Campomanesia phaea (Berg) Landr.), a cabeludinha (Pli-
nia glomerata), o bacupari (Rheedia gardneriana), a grumixama (Eugenia brasiliensis Lam).
Algumas dessas árvores resgatam a identidade da cidade de São Paulo.
255
Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
4. LABVERDE – Boa parte da praça acontece sobre laje. Como foi lidar com isso?
Figura 2 – O uso de espécies rústicas como a ruélia azul (ruellia coerulea) foi critério
importante na escolha da vegetação. Foto: Lilian Dazzi Braga.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
5. LABVERDE – A nova praça Roosevelt foi criticada por ter pouca vegetação.
Seria “seca” demais. Muito construída. Como encara a critica?
SBRUZZI – Talvez neste primeiro instante para alguns ela pareça “seca”. Foram
plantados 232 exemplares de árvores e palmeiras, sendo destes apenas 19 exem-
plares exóticos.
Acredito que em dois anos quando esses espécimes estiverem mais desenvolvidos a
praça seja vista de forma diferente.
Lembrando que a maior parte da praça está sobre uma laje, sendo um fator limitante
do espaço verde.
Já em algumas outras áreas públicas isso procede, principalmente pela falta de segu-
rança e má conservação.
7. LABVERDE – Uma das áreas que mais faz sucesso é o cachorródromo. Muitos
paisagistas acham que cães e jardim são inconsorciáveis. Como foi trabalhar
esse espaço?
A escolha do melhor piso para o lugar foi muito discutida, pois também está em cima
de laje e receberia uma quantidade grande de excrementos desses animais.
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Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas Junho de 2013
Figura 3 – Cachorródro-
mo da Praça Franklin
Roosevelt.
Foto: Lilian Dazzi Braga.
SBRUZZI – Foi também algo que inluenciou na escolha das espécies vegetais. Como
mencionei em resposta anterior, a escolha de espécies vegetais rústicas, adaptadas a
deiciência de água e o uso do “gel de plantio” foi fundamental.
258
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Entrevistas
Acredito que todo projeto, não só paisagístico, quando envolvem mais proissionais e
área multidisciplinar ains tem seu inal mais bem sucedido.
10. LABVERDE – O Sr. entende que há alguma coisa na atual política da prefeitu-
ra de São Paulo para Praças que deve mudar ou que pode ser melhorada?
SBRUZZI – Sim, por parte da prefeitura uma melhor preservação e conservação des-
sas áreas e das árvores e canteiros das vias públicas.
Creio que parte do cuidado e manutenção, não só das praças, mas de todas as áre-
as públicas em geral, é dever também da população. Ela tem um papel importante
de responsabilidade e participação, não transferindo para o poder público toda a
responsabilidade.
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4. DEPOIMENTO
Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Depoimento
DEPOIMENTOS | TESTIMONY
AUTORAS DO DEPOIMENTO
Ana Lúcia P. de Faria Burjato e Patrícia Akinaga
Graças ao entusiasmo do eng. Fábio Barros, que como um catalisador, reuniu prois-
sionais de diversas formações para trabalhar de forma voluntária junto com proissio-
nais do Departamento de Projetos da Paisagem técnicos e pesquisadores de outras
instituições da SMA e representantes das prefeituras dos municípios de Osasco, Ta-
boão da Serra, Cotia e São Paulo, num grande exemplo de sinergia, o Plano Diretor
foi concluído em seis meses.
O Parque Urbano Estadual Tizo tem cerca de 1,3 milhões de m², localiza-se na zona
oeste da Região Metropolitana de São Paulo e abrange as áreas dos Municípios de
São Paulo, Cotia e Osasco, nas proximidades das divisas de Embu e Taboão da Serra.
O Parque, que faz parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo,
servirá como laboratório para a produção de conhecimento técnico e cientíico so-
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Os espaços projetados são: Praça do Encontro, Caminhos das Orquídeas e das Bro-
mélias, decks de observação, Centro de Educação Ambiental com aniteatro ao ar
livre, parque infantil, uma lanchonete com área para piquenique, jardim das borboletas
e Viveiro para visitação e produção de mudas a partir de sementes coletadas na área.
Nas instalações do parque as técnicas para baixo impacto ambiental incluem: ven-
tilação cruzada, brises na face mais ensolarada, estrutura em madeira laminada
pré-moldada, para redução das obras no local, racionalização do uso da água, com
equipamentos de baixo consumo e automação; reuso de água de lavatórios para as
descargas sanitárias, tratamento de esgoto sanitário com fossa, iltros e alagados
construídos e o equacionamento da coleta pluvial ora com garantia de permeabilidade
do solo ora com retenção para uso nos vasos sanitários.
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1. EQUIPE TÉCNICA
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Revista LABVERDE n°6 – Depoimento Junho de 2013
Consultoria ambiental
MGA – Mineração e Geologia Aplicada Ltda.
LUÍS ANTONIO TORRES DA SILVA, engenheiro agrônomo
HÉRCIO AKIMOTO, geólogo
Consultoria jurídica
MANESCO, RAMIRES, PERES, AZEVEDO MARQUES ADVOCACIA
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5. EVENTOS
Revista LABVERDE n°6 – Eventos Junho de 2013
EVENTOS
LANÇAMENTO DE LIVRO
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6. COMUNICADOS
Revista LABVERDE n°6 – Comunicados Junho de 2013
COMUNICADOS
5. Logo após o título, devem constar o nome do autor, sua qualiicação, procedência
e endereço eletrônico.
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Junho de 2013 Revista LABVERDE n°6 – Comunicados
10. Os editores se reservam o direito de não publicar artigos que, mesmo selecio-
nados, não estejam rigorosamente de acordo com estas instruções. São Paulo,
junho de 2013.
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