Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre conjuntos habitacionais populares verticais construídos em São Paulo desde 1960. Analisa a forma urbana e os espaços livres desses conjuntos em comparação com a cidade convencional, identificando deficiências e a falta de critérios de qualidade. Busca avaliar mudanças no processo de implantação desses conjuntos entre 1970 e 2010 e comparar a produção pública versus privada.
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Conjuntos Habitacionais, Espaços Livres e Paisagem
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre conjuntos habitacionais populares verticais construídos em São Paulo desde 1960. Analisa a forma urbana e os espaços livres desses conjuntos em comparação com a cidade convencional, identificando deficiências e a falta de critérios de qualidade. Busca avaliar mudanças no processo de implantação desses conjuntos entre 1970 e 2010 e comparar a produção pública versus privada.
Título original
Conjuntos Habitacionais, Espaços livres e Paisagem
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre conjuntos habitacionais populares verticais construídos em São Paulo desde 1960. Analisa a forma urbana e os espaços livres desses conjuntos em comparação com a cidade convencional, identificando deficiências e a falta de critérios de qualidade. Busca avaliar mudanças no processo de implantação desses conjuntos entre 1970 e 2010 e comparar a produção pública versus privada.
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Conjuntos Habitacionais, Espaços Livres e Paisagem
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre conjuntos habitacionais populares verticais construídos em São Paulo desde 1960. Analisa a forma urbana e os espaços livres desses conjuntos em comparação com a cidade convencional, identificando deficiências e a falta de critérios de qualidade. Busca avaliar mudanças no processo de implantação desses conjuntos entre 1970 e 2010 e comparar a produção pública versus privada.
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CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM
APRESENTANDO O PROCESSO DE IMPLANTAO, USO E DE AVALIAO DE ESPAOS LIVRES URBANOS
. Universidade de So Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo MESTRADO Paisagem e Ambiente Dissertao de Mestrado CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM APRESENTANDO O PROCESSO DE IMPLANTAO, USO E AVALIAO DE ESPAOS LIVRES URBANOS Habitational Complexes, open spaces and urban landscape Presenting the implantation process, use and evaluations of the open urban spaces Mestranda: Arq. Bruna Maria de Medeiros Benvenga Orientador: Prof. Dr. Silvio Soares Macedo SO PAULO FEVEREIRO 2011 Dissertao de Mestrado apresentada ao Curso de Ps-Graduao na rea de concentrao da Paisagem e Ambiente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, como requisito para obteno do grau de Mestre. . AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. email: [email protected]
BENVENGA, Bruna M de Medeiros Conjuntos habitacionais, espaos livres e paisagem: apresentando o processo de implantao, uso e avaliao de espaos livres urbanos / Bruna Benvenga So Paulo, 2011 251 p.:Il.
Dissertao (Mestrado rea de Concentrao: Paisagem e Ambiente) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo Orientador: Silvio Soares Macedo
. Agradecimentos A concluso desse trabalho contou com esforo pessoal e o apoio e colaborao de muitas pessoas queridas que me rodeiam. minha famlia - Maria, Vicente e Natlia - pela formao, pela pacincia e apoio a mim dedicados. Ao Fernando, por ter me acompanhado e me esperado por tanto tempo. Aos meus amigos arquitetos e colaboradores de ideias, palpites e desenhos, Denis e Hepner. Ao Alex e Ulisses, pela organizao e elaborao das imagens. Aos meus gestores Dorival e Sergio - do Departamento de Desenvolvimento da Arcos Dourados Brasil, por nem terem notado as minhas ausncias. Ao Silvio, por todo incentivo, pela efetiva orientao e por no ter me deixado desistir. A ele tambm dedico esta dissertao. A todas elas, fca meu agradecimento, Bruna Benvenga
. Resumo Os conjuntos habitacionais verticais populares, implanta- dos na metrpole paulistana, a partir da dcada de 1960 at a atualidade, por rgos pblicos como a Cohab-SP Companhia Metropolitana de Habitao de So Paulo e a CDHU Com- panhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano e pelo Mercado Imobilirio, constituem em geral um espao urbano diferenciado do restante da cidade. Idealizados com base nos princpios modernistas de pa- dronizao das edifcaes, repetio de tipos, abundncia de espaos livres, setorizao funcional e acessibilidade total, es- ses espaos se contrapem de forma abrupta ao entorno de casas geminadas, densas com espaos livres reduzidos e frag- mentados, e pela diversidade de usos existente nesses bairros. Apropriando-se equivocadamente do discurso da cidade modernista, apresentada pela Carta de Atenas no incio do s- culo XX, e do projeto concretizado em Braslia, tais conjuntos apresentam defcincias nos espao propostos que so reinci- dentes na produo dos ltimos 50 anos. A ideia inicial de constituio de um sistema de espaos livres contnuos, acessveis e abundantes, nesses conjuntos, enfraquecida pela inadequao dos projetos s caractersticas fsicas das glebas utilizadas, s defcincias do projeto arquite- tnico dos edifcios, inexistncia de projetos paisagsticos e baixa legibilidade urbana desses espaos diante dos padres vernaculares de ocupao que existem no imaginrio popular. Observa-se que, com o passar das dcadas e a mudana dos produtores desses conjuntos, apesar de algumas revises que foram sendo feitas nos seus projetos, h a persistncia de caractersticas espaciais implantadas nos primeiros conjuntos da Cohab-SP, na dcada de 1970, e o reforo de sua ruptura com o espao urbano pr-existente. Observa-se ainda que tal padro, antes exclusivo da produo pblica, aparece de forma atenuada na produo do Mercado Imobilirio. A falta de critrios de qualidade espacial, que guiem essa produo, permeia esses conjuntos que, alm de apresentarem defcincias na proposio de espaos urbanos que suportem o cotidiano de seus moradores, no possibilitam que tais proje- tos sejam integrados ao bairro onde se localizam. O trabalho proposto pretende, apoiando-se em estudos de caso da Regio Metropolitana de So Paulo, produzidos na ltima dcada, identifcar as mudanas absorvidas no processo de implantao dos conjuntos de 1970 at 2010, sua forma ur- bana e sistema de espaos livres dela resultante, apresentando critrios de avaliao de qualidade dos espaos urbanos habi- tacionais e estabelecendo uma comparao entre a produo empreendida pelo Poder Pblico e a produo empreendida pelo Mercado Imobilirio. . Abstract The vertical projects for the lower income families implan- ted in So Paulo city since 1960 until the present day, by public departments such as COHAB SP- Companhia Metropolitana de Habitao de So Paulo and CDHU-Companhia do Desenvolvi- mento Habitacional Urbano and by the Real Estate Developers, are in general an urban space that stands up when looking at the rest of the city. Conceived from the modernist principles of standardizing builds, repetition of architectural types, abundance of open spaces, functional sectors and total accessibility; these spaces oppose themselves in an abrupt manner to the surroundings of dense geminate houses with reduced and fragmented open spaces and by the diversity of uses that exist in those neigh- borhoods. Wrongly using the speech of the modernist city, presented in the Athens Charter at the beginning of the XXth century and of the project that turned real in Brasilia, such urban projects present defciencies space wise that are recurrent in the pro- duction of the last 50 years. The initial idea of constituting a system of continuous, accessible and abundant open spaces, in those urban projects is weakened by the inadequacy of the projects to the physical characteristics of the piece of land used, to the weaknesses of the architectural project of the buildings, to the non-existence of landscape projects, and to the low urban legibility of these spaces opposed to the vernacular standards of occupation exis- ting in the minds of the population. One can notice that as decades go by and the changes of the producers of these urban projects, despite some revisions that were made to their projects, space characteristics that were implanted in the frst urban projects by Cohab-SP in the 70s and the reinforcement of their separation from the pre-existing urban space still persist. It is also evident that such standard, that was exclusive to the public production before, now appe- ars in an attenuated manner in the Real Estate Market. Lack of criteria for space quality to guide this production is all over these urban projects that besides showing defcien- cies in presenting urban spaces that can support the daily lives of the people who live there, and also prevents those urban projects to integrate with the neighborhood where they stand. This paper intends to identify the changes that were ab- sorbed in the process of implantation of the housing complexes projects from 1970 to 2010, their urban form and open spaces system that resulted from it, supported by case studies of the Metropolitan Region of So Paulo from the last decade; presen- ting criteria for the evaluation of quality of the urban projects and establish a comparison between the production in the han- ds of the Public Authority and the production in the hands of the Real Estate Developers. . Sumrio Introduo ............................................................................................................................................................................. 09 Cap. 1 Desenho Urbano, forma urbana, espaos livres e os conjuntos habitacionais ........................................................... 21 1.1 Desenho Urbano: disciplina de trabalho ........................................................................................................................ 23 1.2 A forma urbana dos tecidos habitacionais na cidade convencional e seus espaos livres .............................................. 29 1.2.1 Tecido urbano e os elementos de composio da cidade convencional .......................................................... 30 1.2.2 Agentes confguradores do tecido tradicional .................................................................................................. 36 1.2.3 Espaos livres e o tecido tradicional paulistano ............................................................................................... 37 1.3 A forma urbana dos tecidos habitacionais na cidade modernista e seus espaos livres ................................................. 42 1.3.1 Tecido urbano e o partido modernista: ruptura com a cidade convencional .................................................. 44 1.3.2 Espaos livres no conjunto moderno ............................................................................................................... 47 1.4 Conjuntos habitacionais populares paulistanos: do BNH ao Segmento Econmico ........................................................ 49 1.4.1 Mtodo de Anlise ........................................................................................................................................... 50 1.4.2 Antecedentes: IAPs e a produo europeia do entreguerras ............................................................................ 52 1.4.3 BNH e o paradigma brasileiro do conjunto habitacional popular ................................................................... 54 1.4.4 Modifcaes, distores e permanncias: quatro perodos ............................................................................ 58 O modelo de partida: Superquadra ................................................................................................................ 60 Do projeto modelo da Superquadra para o Cecap Zezinho de Magalhes Prado ........................................... 62 Do Cecap para a produo do BNH Cohabs e CDHU em fase inicial ............................................................. 65 Das Cohabs e da CDHU da dcada de 1990 para a CDHU do ano 2000 ........................................................... 69 Da CDHU para a produo do Mercado Imobilirio ........................................................................................ 72 1.4.5 Principais distores e problemas do modelo paradigmtico ......................................................................... 75 Cap. 2 Critrios para projeto e anlise de reas habitacionais e seus espaos livres ........................................................... 83 2.1 Espaos livres e apropriao ........................................................................................................................................... 89 2.2 Critrios vigentes: Manual tcnico de projetos e paisagismo da CDHU e os parmetros de projetos e localizao do PAC- Minha Casa Minha Vida ........................................................................................... 93 2.3 Conceito e referncia de qualidade e adequao dos espaos urbanos ........................................................................ 105 2.3.1 Dimenses de performance de Lynch ........................................................................................................... 108 . 2.4 Princpios para avaliao e projetos de reas habitacionais e seus espaos livres ........................................................... 112 2.4.1 Princpios Ambientais ....................................................................................................................................... 113 2.4.2 Estrutura Geral - hierarquia, porte, tipos construtivos, orientao no bairro .................................................... 114 2.4.3 Dimenso e localizao dos espaos livres privados e pblicos ........................................................................ 115 2.4.4 Usos .................................................................................................................................................................. 119 2.4.5 Acessos e acessibilidade .................................................................................................................................... 121 2.4.6 Estacionamentos e circulao - via interna e de pedestres ............................................................................... 122 2.4.7 Vegetao ......................................................................................................................................................... 124 2.4.8 Conexo com o entorno e aspectos simblicos ................................................................................................ 125 Cap. 3 Estudos de caso: Espaos livres na produo empreendida pela CDHU x Mercado Imobilirio ................................ 127 3.1 CDHU: retrato da produo contempornea .................................................................................................................... 129 3.1.1 Principais programas e formas de atuao da CDHU ........................................................................................ 135 3.1.2 Caracterizao da produo na RMSP 1995 - 2010 ........................................................................................... 140 3.2 A produo de habitao popular oferecida pelo Mercado Imobilirio ........................................................................... 145 3.2.1 O programa Minha Casa Minha Vida e o fortalecimento do setor imobilirio .................................................. 147 3.2.2 O Mercado Imobilirio voltado para o Segmento Econmico na regio Metropolitana de So Paulo: caracterizao da atuao 2005-2010 ............................................................... 149 3.2.3 Forma de atuao do Mercado Imobilirio: a lgica do estudo de viabilidade ................................................. 153 3.3 Os conjunto habitacionais contemporneos da periferia paulistana Estudos de Caso .................................................. 156 3.3.1 Mtodo de escolha e apresentao dos casos ................................................................................................... 156 3.3.2 CDHU Sacom C ................................................................................................................................................ 159 3.3.3 CDHU Itaquera C5/C7 ........................................................................................................................................ 161 3.3.4 Horto do Ip ..................................................................................................................................................... 163 3.3.5 Reserva Parque So Vicente .............................................................................................................................. 166 3.4 A produo da CDHU x a produo do Mercado e sua ruptura com a paisagem .............................................................. 228 Concluses e consideraes fnais ........................................................................................................................................... 233 . INTRODUO INTRODUO 11 INTRODUO O trabalho uma avaliao sobre a qualidade da forma urbana e dos espaos livres pblicos e privados, propostos em projeto e produzidos nos conjuntos habi- tacionais populares da contemporaneidade, na RMSP Regio Metropolitana de So Paulo. So considerados os conjuntos produzidos de 1995 at 2010, em terrenos desocupados em bairros perifricos do municpio de So Paulo e da RMSP. A demanda por habitao urbana tema abrangen- temente abordado pelo Poder Pblico, pela academia e pela sociedade como um todo. O dfcit habitacional ur- bano brasileiro, segundo a Fundao Joo Pinheiro, era em 2007 da ordem de 5.180.000 unidades habitacionais 1 , sendo que 42% desse dfcit localizavam-se em centros urbanos da Regio Sudeste. dado tambm por essa pes- quisa que a maior concentrao absoluta desse dfcit est na Regio Metropolitana de So Paulo, entre famlias com rendimento mensal de at dez salrios mnimos 2 . Tal carncia por habitao, da ordem de milhes de unidades, justifca a concentrao dos estudos e das discusses em questes voltadas para o suprimento da demanda por meio de polticas pblicas adequadas, me- lhoria das solues tcnicas que possivelmente podem aperfeioar em custo e tempo da construo de novas unidades e linhas de fnanciamento para programas ha- bitacionais. Nesse caso, o fator quantitativo da produo habitacional foco de discusso. Em paralelo, emergente readequar a contingncia de habitaes precrias ou subnormais, localizadas em reas favelizadas, cortios e reas de risco. Em geral, so habitaes ocupadas com as mais altas densidades po- pulacionais, por famlias com renda de at trs salrios mnimos, o que difculta o atendimento dessa demanda por vias comuns de fnanciamento bancrio, mesmo com subsdios pblicos, j que esse grupo no tem condies de endividamento fnanceiro para ser atendido pelos pro- gramas habitacionais mais comuns. Com esse cenrio, observa-se que muitas das pesqui- sas desenvolvidas se focam nas questes de adequao dos programas habitacionais existentes, na soluo e ur- banizao das reas de ocupao precria. 1 Esse nmero refere-se ao dfcit ha- bitacional total brasileiro que inclui, alm dos domiclios rsticos, subnor- mais sem infraestrutura adequada, coabitados, os domiclios depreciados pelo tempo e pela falta de conserva- o e os casos de nus excessivos de aluguel. FUNDAO JOO PINHEIRO, 2009: p.24 2 Para o Estado de So Paulo, 83% das famlias sem moradia tem uma faixa de renda at trs salrios mnimos. Para famlias de zero a dez salrios mnimos h uma concentrao de 98,8 % do dfcit habitacional. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 12 A proposta deste trabalho tratar o tema da habita- o pelo enfoque morfolgico, baseando-se na produo voltada para as famlias de rendas populares, de at dez salrios mnimos. Considera-se habitao popular a pro- duo voltada para a faixa de renda citada, podendo ser ela de interesse social atendimento s situaes de pre- cariedade ou moradia subnormal e com rendas abaixo dos trs salrios mnimos ou no. Discute-se a qualidade da forma urbana proposta e realizada pelos projetos habitacionais por meio do de- senho dos espaos livres urbanos tanto pblicos quanto privados. Sabendo que necessrio atender demanda por habitao, deve-se saber, contudo, qual o tipo e a qua- lidade da cidade que se confgura com esse atendimento. Embora, muitas vezes se confunda uma discusso de cunho formal com um discurso formalista que tem ape- nas um enfoque esttico e no qualitativo, entende-se que urgente a necessidade de se tratar de questes es- paciais e de projetos que garantam melhor qualidade dos espaos residenciais, estimulando seu uso e conservao. A discusso sobre a forma habitacional no recente nem exclusiva da situao brasileira. As formas de morar foram largamente discutidas nos meios europeus, durante os perodos de entreguerras e ps-guerras, na primeira metade do sculo XX. Nos 2 e 3 CIAM 3 , o objeto de discusso era a habitao mnima e a habitao como um conjunto, agrupamento das unidades com infraestruturas e equipamentos urbanos, respectivamente. A ideia de habitao para as massas populares foi encampada pelo Movimento Moderno Europeu como conjunto de edifcaes, de racionalizao dos projetos e de coletivizao total dos espaos livres. Acima de tudo, o projeto modernista pelo seu desenho pretendia impor populao um novo modo de vida, um conjunto de hbitos e costumes oposto ao modo de vida burgus, do- minante nas Sociedades Capitalistas Industriais 4 . A forma das reas habitacionais deveria, ento, tambm romper com a forma da habitao tradicionalmente burguesa, e representar uma melhoria de qualidade perante a habita- o proletria ps-industrial to precarizada. Tais conceitos foram apropriados pelos arquitetos e pelo Estado em diversas partes do mundo. No Brasil, o modelo urbanstico modernista aplicado na produo ha- bitacional em massa foi importado como soluo logo no incio da dcada de 1930. Cronologicamente, citamse, como exemplos ali- nhados ao modelo urbanstico modernista, os conjuntos construdos pelos IAPs Institutos de Aposentadoria e Penses, na dcada de 1930, o Conjunto Habitacional Pedregulho, em 1947 e as Superquadras do Plano Pilo- to de Braslia em 1960. Estas ltimas so a verso mais bem acabada da aplicao dos conceitos modernistas de 3 CIAM a sigla do Congresso Inter- nacional da Arquitetura Moderna. Esses congressos ocorreram de 1928 a 1936 em cinco edies. O surgimento dos CIAM resultado da busca pela difuso dos ideais modernos lidera- dos pelos franceses que se aliam a suos e alemes. Os CIAMs deveriam ser anuais com temas que iam ser ampliados da habitao mnima at a cidade de forma global KOPP,1990: cap. 7. 4 In KOPP,1990: p.84. 13 INTRODUO cidade, em uma proposta habitacional de grande escala executada por arquitetos e bancada pelo Estado. O binmio edifcios isolados e espaos livres gene- rosos foi, portanto, validado no Brasil como sinnimo de soluo para o atendimento das demandas habitacionais nos centros urbanos. Esse foi o partido urbanstico adota- do em grande escala na produo brasileira da dcada de 1960 em diante, fnanciada majoritariamente pelo BNH 5 . Tal modelo urbanstico, derivado de padres moder- nistas, mostrou-se bastante incompetente, na maior parte dos casos, para atender s demandas cotidianas de seus moradores. Para sua aplicao em programas populares, houve adaptaes nos projetos que muito se distancia- ram de verso da Superquadra de Braslia e dos primeiros conjuntos produzidos pelos IAPs, citados anteriormente. Conjuntos monofuncionais, distantes das zonas cen- trais das cidades, com edifcios padronizados; reas livres totalmente acessveis ao pblico, no hierarquizadas e no tratadas, e apartamentos de dimenses reduzidas foram as principais caractersticas presentes nesses con- juntos rejeitadas ou incompreendidas pela populao residente. A abundncia de espaos livres pblicos ou priva- dos, porm totalmente acessveis, e as dimenses pouco satisfatrias das unidades habitacionais difcultaram a apropriao destes espaos na forma em que eles foram propostos. Para poderem ser apropriados, tais espaos foram modifcados pela populao com a construo de novas estruturas privativas, com a hierarquizao e fecha- mento das reas livres, ganhando signifcados diferentes por meio de mudanas estruturais e simblicas produzi- das pelos usurios. A populao promove, com essas modifcaes, a aproximao da confgurao dos conjuntos ao desenho dos tecidos urbanos residenciais mais convencionais, uti- lizando-se de padres vernaculares de construo, que foram negados pelo partido modernista. Isto , tecidos produzidos por processos tradicionais baseados na unida- de do lote e na valorizao da propriedade privada, que se contrapem produo dos conjuntos populares que fruto de um projeto nico e centralizador, implantado, geralmente, tambm de forma centralizada pelo Poder Pblico ou por outra instituio. Tais tecidos tambm me- lhor se enquadram em uma organizao social capitalista na qual se valoriza o direito privado e individual apoiado na organizao familiar nucleada, ntima e privada. Alm disso, as modifcaes implementadas nos con- juntos modernistas visam buscar, em forma e funo, a complexidade e diversidade urbana existente dentro do conceito de bairro, negando a simplifcao formal e funcional que a produo dos conjuntos impe aos tre- chos da cidade por eles confgurados. 5 O BNH, Banco Nacional de Habitao, foi o Banco Federal responsvel pelo fnanciamento de programas habita- cionais de 1964 at 1986. Os projetos por ele fnanciados eram caracteri- zados como conjuntos modernistas populares. Essa caracterstica fcou to marcada na produo do Banco que at hoje esses conjuntos so cha- mados pela sigla do Banco - BNH. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 14 Jardins e reas de estar implantadas pela populao residente do Conjunto Habitacional Cecap Zezinho de Magalhes Prado em Guarulhos SP. Foto Acervo Quap, 2005 O processo de modifcao dos espaos dos conjun- tos habitacionais, no Brasil, fagrou-se desde a poca de sua implantao, na dcada de 1970, e vem sendo estu- dado por diversos autores como Comas 6 e Rigatti 7 . Esse processo de readequao dos espaos foi nota- do pelos produtores ofciais desses conjuntos, e analisado pela academia, e apesar disso, observa-se que os projetos no sofreram alteraes em larga escala ao longo dos l- timos 30 anos com objetivo de se resolver as defcincias apontadas pela populao, no perodo de ps-ocupao de tais conjuntos. Ou seja, a produo do fnal do sculo XX e incio do sculo XXI de habitaes populares, com raras excees de projetos especiais 8 , ainda se baseia na frmula dos conjuntos de prdios com tipos padroniza- dos isolados e dispostos pelo espao livre. Gradis, bancos, brinquedos e pavimentao implantada pelos moradores do Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima, em So Paulo SP. Foto Acervo Quap, 2004 Vista area do Conjunto Habitacional Presidente Castelo Branco e as construes e ampliaes executadas pelos moradores. Foto Acervo Quap, 1999 6 COMAS, 1986. 7 Sugere-se a leitura de RIGATTI, 1997; sobre o processo de modifcao e apropriao dos espaos livres do Conjunto Rubem Berta, em Porto Alegre. 8 Existiram, em So Paulo, alguns proje- tos diferenciados de conjuntos habi- tacionais produzidos com o apoio de governos municipais mais ligados ao tema da habitao. Como exemplos, existem o Conjunto Habitacional do Parque do Gato em 2005 e o Copromo Piratininga implantado em Osasco. Eles, porm, no representam a maior parte da produo popular. 15 INTRODUO Revises do modelo foram feitas ao longo do tempo, porm, com o objetivo de adequar os empreendimentos a novas realidades econmicas e/ou urbanas, sem que houvesse no geral preocupao em solucionar as defci- ncias da estruturao espacial desses conjuntos. A persistncia do padro dos projetos, com correes de escala e aproximaes aos padres aplicados pelo Mer- cado Imobilirio, o novo direcionamento da produo. Devido a diversos motivos, como indisponibilidade de grandes glebas vazias, determinaes legislativas e nor- mativas, a dimenso dos conjuntos produzidos, a partir da dcada de 1990, foi reduzida, fato que pode ser conside- rado uma melhoria ou correo do padro anteriormente adotado, quando os conjuntos tinham milhares de unida- des e eram de difcil apreenso por parte dos moradores, e de difcil possibilidade de melhoria pelo Poder Pblico. Outra correo implementada foi a adoo do con- domnio como forma de gesto dos conjuntos, desde sua entrega populao residente. Essa forma de gesto dos conjuntos era impensvel na dcada de 1980, quando os empreendimentos eram entregues populao sem que houvesse nenhum direcionamento de como geri-los. Nota-se tambm a introduo de novos programas dentro do seu projeto, como reas de convivncia co- munitria e reas de lazer, alm do crescimento da rea disponibilizada para o estacionamento de veculos. Alm disso, observa-se que, desde 2005, h uma crescente participao do Mercado Imobilirio, na produo desses conjuntos de habitao popular, im- pulsionado pela maior facilidade de acesso ao crdito e por incentivos federais como, por exemplo, o programa Minha Casa Minha Vida 9 . Formalmente, a produo do Mercado Imobilirio apresenta semelhanas produo empreendida pelo Poder Pblico: tipos edilcios padroni- zados e implantados de forma repetitiva, predominncia de produo de apartamentos, espaos livres abundantes e organizao em pequenos condomnios fechados. Dessa forma, existem dois grandes produtores de habitao popular em larga escala: o Poder Pblico e as Incorporadoras. Por isso, acredita-se que necessrio retomar a dis- cusso morfolgica do espao habitacional popular, pelo vis do espao livre de edifcaes, a fm de compreender como a evoluo dessa produo, formalmente inicia- da na dcada de 1970 e se estendeu at o ano de 2010, atentando para as mudanas absorvidas de experincias anteriores. Para este trabalho, defne-se como escopo de estu- do a produo empreendida pela CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo, e pelas construtoras e incorporadoras Tenda Construtora S/A e MRV Engenharia S/A, que so lderes do 9 O programa Minha Casa Minha Vida um programa federal inserido no PAC- Programa de Acelerao de Crescimen- to lanado no segundo mandato do Governo Lula (2006-2010). No decorrer do estudo, ser observada especifca- mente a produo apoiada por esse programa. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 16 mercado popular na Regio Metropolitana de So Paulo e, particularmente, dentro do municpio de So Paulo. A CDHU tornou-se a maior produtora pblica da ha- bitao de interesse social a atuar na RMSP e tambm especifcamente no municpio de So Paulo, desde o fnal da dcada de 1980, logo aps o encerramento das ativi- dades do BNH, em 1986. Somente no municpio de So Paulo, so quase 100 mil unidades habitacionais produzidas em diversos programas de atendimento demanda, voltados para a populao de renda popular de at dez salrios mnimos. J a produo promovida pelo Mercado Imobilirio que, at meados da dcada de 2000, costumava ser pul- verizada em pequenas construtoras, vem passando por um processo de concentrao com a fuso de incorpora- doras e construtoras. Nesse cenrio, as incorporadoras e construtoras Tenda e MRV vm se destacando como lde- res do processo. Somente em 2009, ambas tinham juntas 78 empreendimentos lanados na RMSP, 34 deles no mu- nicpio de So Paulo. Agrupamento de conjuntos habitacionais empreendidos pelo Mercado Imobilirio, pela Cury Construtora, localizado na Zona Leste de So Paulo. Conhecido como Parque dos Sonhos composto por vrios pequenos conjuntos que conformam o agrupamento de grande porte. Imagem obtida no site da construtora em 2010: www.curyconstrutora.com.br Conjunto Habitacional Raposo Tavares C, empreendido pela CDHU na dcada de 2000, localizado na Zona Oeste de So Paulo. Imagem obtida no site: www.habitacao.sp.gov.br 17 INTRODUO Como mtodo de estudo, estruturou-se este trabalho em trs partes: 1. Conceituao sobre desenho urbano, forma ur- bana e espaos livres. 2. Critrios de anlise de qualidade de espaos li- vres e urbanos em reas residenciais. 3. Estudos de caso baseados nos conjuntos da CDHU e na produo do Mercado Imobilirio. A primeira parte aborda a fundamentao terica da forma urbana residencial, suas caractersticas e seus elementos compositivos; os tecidos urbanos residenciais existentes em So Paulo com foco na apresentao da forma habitacional proposta pelo modelo urbanstico modernista e adotada como partido na produo habita- cional popular na forma de conjuntos. A relevncia de anlise dos tecidos tradicionais de So Paulo feita pela comparao com a forma urbana produzida nos conjuntos habitacionais. A identifcao das principais caractersticas morfolgicas desse tecido fundamental para estabelecer a relao de continuidade da forma ou ruptura proposta pelo partido urbanstico modernista. Convencionalmente, tal tecido encontrado no entorno dos conjuntos produzidos tanto pela CDHU quanto pelo Mercado Imobilirio, e a referncia formal e simblica de cidade considerada muitas vezes pela po- pulao usuria de tais espaos. As referncias bibliogrfcas que se dirigem ao es- tudo do espao urbano convencional paulistano e aos elementos de composio urbana so os trabalhos de La- mas 10 , Patapas 11 , Macedo 12 e Santos 13 . Paralelamente, na primeira parte, analisa-se tam- bm o modelo urbanstico moderno, suas adaptaes para a produo habitacional, a inverso da lgica espa- cial da produo tradicional, as rupturas formais com a cidade existente e sua confgurao especfca de espaos livres. Esse modelo apresenta caractersticas formais mar- cantes, como a setorizao funcional, a desvinculao da implantao do edifcio do traado virio, as escalas monumentais e a padronizao das construes. Tais caractersticas so adaptadas e modifcadas para a produ- o mais popular de habitao. Ento, sero identifcadas quais so essas adaptaes da cidade modernista ideal a Superquadra de Braslia, para a cidade modernista adaptada no conjunto habitacional. Como referncias bi- bliogrfcas, para essa parte do trabalho, so utilizados os textos de Comas 14 e Rigatti 15 . A segunda parte deste trabalho apresenta critrios de projeto e de avaliao qualitativa das reas habita- cionais, que se aplicam forma urbana dos conjuntos habitacionais. 10 LAMAS, Jos M. Ressano Garcia. Mor- fologia Urbana e Desenho da Cidade. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1992. 11 PATAPAS, Naide. Paisagem habita- cional e morfologia urbana: um estu- do de caso em Pirituba. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Arquitetu- ra e Urbanismo da Universidade de So Paulo. So Paulo: 2001. 12 MACEDO, Silvio Soares. Espaos livres. In: Paisagem e Ambiente- En- saios, n7, 1 edio. So Paulo: FAUUSP, 1986. 13 SANTOS, Carlos Nelson F. dos (org). Quando a rua vira casa. 2 edio, Rio de Janeiro: IBAM/FINEP, 1981. 14 COMAS, Carlos Eduardo Dias. O espao da arbitrariedade, in: Revista Projeto, n91. Projeto, pp 127-130, So Paulo, ed. Arcoweb, set. 1986. 15 RIGATTI, Dcio. Do espao projetado ao espao vivido: modelos de mor- fologia urbana no conjunto Rubem Berta. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanis- mo da Universidade de So Paulo. So Paulo, 1997. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 18 Esses critrios so estabelecidos baseados em refe- rncias bibliogrfcas variadas e nas observaes feitas sobre os estudos de caso realizados. Sobre a bibliografa, necessrio ressaltar que as maiores referncias so de origem anglo-saxnica e se baseiam em estudos sobre ca- sos localizados no hemisfrio norte. Essas referncias so Lynch 16 , Gehl 17 , Lang 18 , Hall 19 e Jacobs 20 . Tais autores em pocas distintas desenvolveram estudos sobre a qualida- de dos espaos urbanos, em especial, espaos livres de edifcao e sobre sua apropriao cotidiana feita pelos usurios. Como alguns critrios a serem desenvolvidos podem- -se citar: diversidade de oportunidades e usos, articulao e hierarquizao de espaos livres, integrao com a ma- lha urbana pr-existente, adequao ao suporte natural existente, entre outros, que caracterizam a confgurao espacial tpica de um bairro ou unidade de vizinhana que bem suportam atividades cotidianas da populao. Esse bairro a estrutura urbana que deve ser desejada como padro de qualidade da produo habitacional po- pular contempornea. H uma carncia de estudos desse tipo realizados no Brasil, ou com base em casos brasileiros. Os autores que contriburam para essa discusso, ainda que de maneiras distintas, so: Santos 21 e Del Rio 22 . O primeiro discute a importncia da rua no cotidiano de um bairro popular carioca e o segundo trata de Desenho Urbano em geral, aproximando a questo da situao das cidades brasilei- ras. Por esse motivo, h neste trabalho um processo de seleo e adaptao dos critrios de projeto e avaliao dos espaos para poderem ser aplicados a casos paulis- tanos. A terceira e ltima parte desse trabalho se foca em estudos de casos de conjuntos habitacionais e espaos li- vres urbanos de bairros predominantemente residenciais de baixa e mdia baixa renda de So Paulo. Para isso, fo- ram selecionados conjuntos produzidos no municpio de So Paulo, a partir de 1999 pela CDHU, e empreendimen- tos lanados pelas incorporadoras Tenda e MRV na Regio Metropolitana de So Paulo. Apresentam-se, alm dos projetos dos conjuntos escolhidos, as normas que regeram a produo de tais projetos com a avaliao das suas possibilidades de pro- posio de espaos livres, e suas limitaes. As anlises dos casos se baseiam nos conceitos tra- balhados na primeira parte do trabalho e os critrios de anlise estabelecidos, na segunda parte. So identifcadas as caractersticas morfolgicas de cada conjunto, os tipos construtivos e os tipos de espaos livres, a hierarquizao dos espaos, a forma de circulao e de lazer dos espaos, as densidades demogrfcas propostas e, principalmente, seu relacionamento morfolgico e funcional com o con- texto urbano ou com o bairro que o rodeia. 16 LYNCH, Kevin. Good City Form. Cam- bridge: The MIT Press, 1984. 17 GEHL, Jan. La humanizacin del Es- pacio Urbano- La vida social entre los edifcios. Barcelona: Editorial Revert, 2006. Trad. Maria Teresa Valcarce. 18 LANG, Jon. Urban Design: a typology of procedures and products. Oxford: Architectural Press, 2005; 19 HALL, Edward T. A dimenso oculta. So Paulo: Martins Fontes, 2005. 20 JACOBS, Jane. Morte e Vida das grandes cidades. So Paulo: Martins Fontes, 2002. 21 SANTOS, Carlos Nelson F. dos (org). Quando a rua vira casa. 2 edio, Rio de Janeiro: IBAM/FINEP, 1981. 22 DEL RIO, Vicente. Introduo ao desenho urbano no Processo de Pla- nejamento. So Paulo: Pini, 1990. 19 INTRODUO Adotou-se os seguintes conceitos nessa dissertao: 1. Por conjunto habitacional entende-se um agru- pamento de edifcios horizontais ou verticais, destinados ao uso residencial produzidos com base em um projeto e processo nico que pode ou no ser implantado em etapas. 2. Por habitao popular entende-se a habitao ocupada, produzida e/ou destinada para famlias de classes populares, ou seja, com rendas mais baixas entre trs salrios mnimos e dez salrios mnimos a valor de 2010 23 , que representam a classe conhecida como Classe C, mdia-baixa renda. Adota-se o termo popular por este carac- terizar melhor o conceito de uma maioria o povo na Regio Metropolitana de So Paulo que se encaixa dentro de um grupo com possi- bilidades fnanceiras de consumo, porm no se resumem apenas a um grupo econmico, mas, social. A delimitao geogrfca deste estudo se concen- tra em exemplos de conjuntos habitacionais e espaos urbanos residenciais paulistanos, isto , localizados nos bairros perifricos da capital paulistana e nos municpios vizinhos contnuos a esses bairros que compem a Regio Metropolitana de So Paulo. Para fnalizar, a referncia a espaos urbanos pre- dominantemente residenciais se relaciona aos bairros localizados majoritariamente fora do Centro Expandido de So Paulo, em sua periferia e/ou nas zonas de co- nurbao com os municpios vizinhos. Nesses bairros se localizam ou se aproximam territorialmente os conjuntos habitacionais estudados. A RMSP composta por uma variedade extensa de tipos de bairros residenciais com especifcidades morfolgicas, como o caso dos bairros jardins na Zona Oeste de So Paulo, e das zonas verti- calizadas que se espalham principalmente pelo centro expandido. Esses tipos so exclusos deste trabalho, e quando mencionados sero especifcados, se necessrio. A produo da forma urbana habitacional e seus espaos livres um processo dinmico e continuo nas ci- dades brasileiras. O municpio de So Paulo e sua Regio Metropolitana se destacam pelos nmeros absolutos de unidades habitacionais produzidas pelo Poder Pblico anualmente e pela agressividade do Mercado Imobilirio nos lanamentos de novos empreendimentos. Alm disso, existe uma srie de outras intervenes no espao pro- movidas por agentes pulverizados: usurios, pequenos construtores, invasores de terras, loteadores de menor porte, entre outros, que transformam e reconfguram dia- riamente a paisagem das cidades. Nem sempre, porm, esses espaos so vistos como objetos de anlise. Os nmeros superlativos da demanda 23 O salrio mnimo vigente em 2010 tinha o valor de R$510,00. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 20 por habitao, muitas vezes, induzem discusso para questes de quantidade de demanda por novas unidades e velocidade de atendimento. Deve-se, contudo, garantir que esse atendimento demanda crie espaos urbanos de qualidade, que melhorem a condio de desenvolvi- mento da vida cotidiana de seus usurios e estabeleam melhores solues de Desenho Urbano.
INTRODUO CAPTULO 1 Desenho urbano, forma urbana, espaos livres e os conjuntos habitacionais 23 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS 1.1 Desenho Urbano: disciplina de trabalho Por Desenho Urbano, entende-se o campo de estudo multidisciplinar capaz de abarcar todos os fatores envolvi- dos na produo do espao urbano, nesse caso, do espao habitacional. Para sua defnio foram escolhidos como referncia os trabalhos de Del Rio 24 , Lynch 25 e Lang 26 . Como disciplina encontra-se inserido na rea de atuao do Urbanismo, juntamente com o Planejamen- to Urbano. A origem do termo remete ao ingls Urban Design que foi traduzido de forma simplifcada para De- senho Urbano, fato que limita a correta interpretao do termo. Tal traduo faz confundir muitas vezes a palavra desenho com forma, por isso encontram-se muitos textos que ao se referirem ao desenho urbano esto pretenden- do dizer forma urbana. A palavra design na lngua inglesa permite uma srie de outros signifcados capazes de am- pliar o conceito em geral. Nesse caso, Urban Design, alm de se referir forma da cidade, refere-se tambm ao de- sgnio urbano, inteno urbana e/ou soluo urbana. Entende-se por Desenho Urbano no apenas a con- fgurao formal dos conjuntos urbanos ou das cidades, mas tambm o campo disciplinar que engloba os pro- cessos de produo e modifcao dos seus espaos livres e edifcados, sua gesto e sua apropriao por parte dos usurios. Por isso, o estudo dos conjuntos habitacionais e seus espaos livres se enquadram nesse campo discipli- nar, j que a sua confgurao resultado de um processo de produo especfco e de um partido arquitetnico ou desgnio urbanstico caracterstico. Ele tambm o ins- trumento em que se pode estabelecer diretrizes para a qualifcao dos espaos habitacionais produzidos, atu- ando diretamente na melhoria dos espaos livres por meio de projetos urbansticos mais adequados aos usos cotidianos e na melhoria dos processos de concepo e gesto desses espaos. Sua escala de trabalho objetivamente intermedi- ria ao projeto das edifcaes, no caso dos blocos de apartamentos, e ao planejamento urbano e polticas pblicas habitacionais, sendo a ponte que interliga es- sas outras duas escalas de trabalho. Lynch esclarece essa interligao afrmando que o Desenho Urbano no lida exclusivamente com coisas grandes, mas tambm com polticas para coisas menores como bancos, rvores, ou sentar em prticos e entradas quaisquer aspectos que afe- tem a performance do assentamento 27 . Portanto, nessa disciplina trata-se a relao dos edifcios com a confgurao dos espaos livres, suas di- menses e formas, sua hierarquizao, a relao entre os acessos s unidades e as vias de circulao, a posio e o 24 DEL RIO, Vicente. Introduo ao desenho urbano no Processo de Pla- nejamento. So Paulo: Pini, 1990. 25 LYNCH, Kevin. Good City Form. Cam- bridge: The MIT Press, 1984. 26 LANG, Jon. Urban Design: a typology of procedures and products. Oxford: Architectural Press, 2005. 27 In: LYNCH, 1984: p.290. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 24 dimensionamento das caladas, seu sombreamento pelas massas vegetais, enfm, todas as variveis que confguram o espao livre e coletivo dos conjuntos habitacionais. Tais variveis, se combinadas com funes urbanas diversif- cadas, criam o que deve ser almejado e buscado nesses conjuntos, que o projeto de vizinhanas ou bairros po- pulares. No Brasil, nota-se que esse conceito do Desenho Ur- bano ainda mal defnido e tantas vezes se confunde com outras escalas de trabalho. Autores usam o termo para se referir forma urbana, ou ao projeto de paisagis- mo de praas e caladas, em outras vezes, confundido com o planejamento urbano, referindo-se s diretrizes de planejamento, zoneamento e restries urbansticas. Por esse motivo, nem sempre o processo de proje- to e planejamento dos conjuntos habitacionais inclui no seu escopo as discusses referentes ao campo do Dese- nho Urbano; sendo ele apenas consequncia das decises tcnicas assumidas pelo projeto de infraestrutura e movi- mentao do solo, ou pela necessidade de preenchimento dos pr-requisitos das polticas e programas habitacionais vigentes. Para Del Rio, tal disciplina apresenta duas carac- tersticas principais que deveriam fazer parte em todo processo de produo de espao urbano, incluindo o habitacional: a interdisciplinaridade nas categorias de anlise e o seu carter fsico ambiental. A primeira ca- racterstica determina que nesse campo multidisciplinar, alm do arquiteto urbanista, atuam tambm o planeja- dor, o paisagista, o economista e o socilogo. A segunda caracterstica determina o aspecto espacial desse con- ceito, agindo diretamente sobre o projeto das cidades, no podendo se limitar apenas s regulamentaes e ao zoneamento macros, do planejamento urbano. Outra faceta dessa disciplina a abordagem do carter processual do Desenho Urbano, isto , sua depen- dncia das aes humanas, das interpretaes do usurio e seu constante estado de reviso e modifcao. Para Del Rio um campo disciplinar que trata a dimenso fsico ambiental da cidade, enquanto conjunto de sistemas de atividades que interagem com a populao atravs de suas vivncias, percepes e aes cotidianas 28 . no campo do Desenho Urbano que so tratados os projetos e polticas de defnio dos espaos onde suce- de a vida cotidiana, que fundamentalmente ligada ao espao de habitar, objeto de estudo deste trabalho. Sua distino como disciplina, justifca-se pela existncia do espao urbano e das aes cotidianas constantes, bem como da atuao de agentes como o Poder Pblico, a populao e o Mercado Imobilirio. Toda ao sobre o espao urbano ou com refexos no espao urbano uma ao de Desenho Urbano, seja ela fruto de um planeja- mento declarado, seja ela espontnea e indiretamente infuenciada pelo Planejamento. 28 In: DEL RIO, 1990: p.54. 25 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Todas as cidades tem um desenho. Esse desenho criado por milhares de decises de desenhos individuais, dentro de um enquadramento das decises do mercado imobilirio e dentro do cdigo legal. 29
Acrescenta-se a esse raciocnio a atuao do Mer- cado, do Poder Pblico e de uma srie de outras aes individuais sobre o espao urbano, empreendidas pela populao usuria as quais nem sempre seguem s regras e cdigos existentes, mas que promove constantemente a transformao do espao proposto inicialmente pelos projetos implantados. Sobre os processos de Desenho Urbano, Lang esta- belece quatro tipos, considerados por ele, bsicos: Total Urban Design, All of a piece Urban Design, Piece by Piece Urban Design, Plug in Urban Design. 30 Tais tipos caracteri- zam as formas mais comuns de produo dos espaos das cidades, podendo tambm ser aplicados no estudo da produo do espao cotidiano e do espao da habitao. Por Total Urban Design 31 , entendem-se os proces- sos que envolvem projetos de arquitetura e paisagismo em grande escala, conduzidos de forma centralizada por apenas um agente promotor. Este, alm de estabelecer os planos e projetos, responsvel pela sua implantao e muitas vezes sua gesto. Como exemplo, existe o projeto do Plano Piloto de Braslia, que se baseia em um projeto total de cidade implantado de forma centralizada pelo Poder Pblico Federal, na dcada de 1950. All of a Piece Urban Design 32 se refere ao processo que tem seu plano desenvolvido de forma centralizada, porm, a implantao dos espaos e edifcios feita em tempos diversos e por agentes diversos que se submetem s regras determinadas inicialmente. O projeto de urba- nizao da Barra da Tijuca, na cidade do Rio de janeiro, um exemplo desse tipo de processo. Inicialmente existia um plano desenvolvido pelo Arquiteto Lucio Costa, que, ao longo de dcadas, foi sendo ocupado por empreendi- mentos do Mercado Imobilirio, os quais deveriam seguir as regras e parmetros estabelecidos no Plano Original. 29 In: LANG, 2005: p.32. 30 Opta-se pelo termo em ingls devido impossibilidade de traduo sem perda de signifcado dos termos para o portugus. 31 Traduo possvel: Desenho Urbano Totalitrio ou Total. 32 Traduo possvel: Desenho Urbano no qual as partes so pensa- das como um todo. Vista area da Barra da Tijuca, exemplo de processo que se enquadram no modelo All of a piece Urban Design, no qual a ocupao feita em momentos distintos, seguindo diretrizes comuns e pr-estabelecidas. Acervo Quap, 2007 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 26 Piece by Piece Urban Design 33 o processo relacio- nado com o planejamento das cidades, baseado em uma regulamentao urbanstica com cdigos e zoneamentos. a forma que a cidade convencional e formal se confgu- ra pautada por restries urbansticas que determinam a ocupao lote a lote do espao urbano. Vista area da cidade de So Paulo. Um exemplo de cidade conformada semelhana do processo Piece by piece. Acervo Quap, 2008 33 Traduo possvel: Desenho Urbano Parte por Parte. 34 Traduo possvel: Desenho Urbano por Justaposio. Plug In Urban Design 34 o processo que se refere criao de uma estrutura urbana projetada especialmen- te para determinado objetivo, possibilitando que seu crescimento seja feito pela justaposio de novas estrutu- ras. So exemplos os condomnios fechados de subrbio que se estabelecem fora da malha urbana existente e so anexados a ela, por uma via, como o caso de alguns condomnios na Granja Viana e em Alphaville. No tarefa simples a distino dos limites en- tre um tipo de processo de desenho e outro, porque as cidades so conformadas com base na mescla e sobre- posio de diferentes espaos produzidos em momentos distintos, por processos distintos. Os prprios conjuntos habitacionais produzidos pela Cohab-SP Companhia Metropolitana de Habitao, nas dcadas de 1970, so exemplo da sobreposio desses processos ao longo do tempo. Em um primeiro momento, na ocasio de sua im- plantao, foram resultado do Total Urban Design, devido sua forma de produo centralizada, com um nico pro- jeto implantado de uma nica vez. Posteriormente, novos edifcios foram construdos na mesma implantao, ocupando terrenos deixados para reserva, exemplo de All of a Piece, pois dentro de uma mesma lgica so adicionados elementos em momentos distintos. Outro momento, diz respeito s modifcaes introduzidas pelos moradores nos lotes dos blocos de apartamentos e das casas, podendo ser consideradas 27 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS como um desenho Piece by Piece. Essa apenas uma li- nha de raciocnio que identifca o processo de Desenho Urbano, descrito por Lang, ao processo de construo e modifcao de reas habitacionais. Outras tantas linhas podem ser traadas com base em pontos de observao e recortes temporais diferentes. Importante , contudo, identifcar o processo pelo qual determinado espao da cidade foi produzido, j que a forma adquirida por esse espao muito diz respeito ao seu processo de produo. Produes centralizadas e totais tendem a gerar conjuntos urbanos com uma arqui- tetura mais padronizada ou mais comprometida com o resultado total. Esse fato no signifca que o espao pro- duzido mais qualifcado ou mais bem apropriado pela populao usuria. Espaos produzidos no processo Piece by Piece fcam, em geral, submetidos a restries urbansticas de recu- os e a coefcientes de aproveitamento, que limitam as formas construdas, porm no geram necessariamente espaos coerentes entre si, podendo confgurar espaos livres fragmentados e residuais com pouca probabilida- de de variedade de usos e integrao com a cidade. So os espaos produzidos convencionalmente nos bairros paulistanos que seguem em sua formao os parme- tros urbansticos determinados por um cdigo de obras e uma lei de zoneamento. Vista area de conjuntos habitacionais em So Paulo, e a sobreposio de processos de Desenho de Urbano na dinmica de confgurao da cidade. Acervo Quap, 2006 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 28 O que se observa, porm, que outras variveis, alm do processo de Desenho Urbano, que originou tal espao, atuam diretamente nas suas caractersticas for- mais e na sua capacidade de apropriao e aceitao dos usurios, promovendo um assentamento habitacional ou um espao urbano capaz de suportar as mais variadas atividades cotidianas. Independentemente do processo em que determi- nado espao urbano produzido, entende-se que para os empreendimentos estudados, tal disciplina a ferramen- ta em que possvel trabalhar as propostas na escala do bairro, prevendo toda a complexidade de forma e espao edifcaes, ruas, praas, largos, quintais e de usos residenciais, comerciais, institucionais e recreativos que tais empreendimentos devem oferecer e suportar. Os quatro tipos de processos de Desenho Urbano, identifcados por Lang, so fundamentais para anlise e interpretao da origem da confgurao dos espaos urbanos, e espacialmente, das reas habitacionais. No en- tanto, tais processos incluem dinmicas que infuenciam sua confgurao e extrapolam esses quatro modelos apresentados. No caso das reas habitacionais populares estudadas, sobressai a dicotomia entre duas formas pre- dominantes de Desenho Urbano: 1. A cidade convencional, confgurada por unidades do lote e, consequentemente, de aes parciais, num processo que se aproxima do modelo Piece by Piece Urban Design. 2. A cidade modernista, confgurada pela produo dos conjuntos habitacionais de mdio e grande porte, de forma centralizada em poucos agentes, Poder Pblico e grandes Incorporadoras, num processo mais totalitrio de Desenho Urbano. Esses dois tipos de confgurao se mesclam em bairros perifricos e ocupados por famlias de rendas po- pulares na Regio Metropolitana de So Paulo, e criam uma paisagem urbana particular, marcada pela ruptura entre tecido convencional formado por um mosaico de casario e o tecido dos conjuntos habitacionais modernis- tas. Paisagem urbana habitacional perifrica na Zona Sul de So Paulo: dicotomia entre conjuntos modernistas e mosaico do casario da cidade convencional. Acervo Quap, 2006 29 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS 1.2 A forma urbana dos tecidos habitacionais na cidade convencional e seus espaos livres Por cidade convencional, neste trabalho, entende-se o espao urbano produzido pelo resultado do processo que predomina na RMSP, pela ocupao, criao e trans- formao de lotes urbanos sob os parmetros e limitaes de uma legislao pr-existente. 35 Foca-se ainda no espa- o urbano predominantemente habitacional localizado no entorno dos conjuntos habitacionais populares estu- dados ou em bairros residenciais. Alm dos parmetros validados pelos cdigos le- gais, esse processo de produo do espao apresenta uma dinmica de transformao constante valendo-se de intervenes empreendidas por agentes diversos, indivi- duais, institucionais ou pelo Mercado Imobilirio que se apropriam desses lotes, nem sempre observam a legisla- o que sobre eles incide. Comas 36 ainda se refere a esse tipo de espao urbano como cidade fgurativa. Por cidade fgurativa entende-se essa cidade convencional, ou mais tradicional, histrica, aquele tipo de cidade que conhecido e identifcado pe- los usurios e que se contrape cidade nova e nesse momento j antiga, funcional e moderna preconizada pela Carta de Atenas 37 e edifcada no Plano Piloto de Bra- slia. Essa cidade tradicional, e mais especifcamente, os tecidos de predominncia habitacional que nela so produzidos seguem um processo fragmentado de con- fgurao do espao, marcado por intervenes e aes pontuais que se unem para estruturar tecidos urbanos. Essa dinmica muito se aproxima do Piece by Piece Urban Design, descrito por Lang 38 . Tais tecidos predominantemente habitacionais so marcados pela fragmentao do espao e de sua esttica, e pela variedade de padres construtivos, simblicos e referenciais. Apesar de a funo habitacional prevalecer nesses tecidos estudados, nota-se a diversidade de usos e funes urbanas neles presentes e a dinmica constante de transformao do espao urbano e reviso dos seus usos. 35 Lei de Zoneamento Municipal, Cdigo de Obras Municipal, Lei de Parcelamento do Solo, entre outras. 36 COMAS, 1986: p.66. 37 CORBUSIER, Le, publicado em 1993. 38 LANG, 2005: p.32. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 30 1.2.1 Tecido urbano e os elementos de composio da cidade convencional Magnoli defne tecido urbano como organizao de elementos urbanos cujo conjunto constitui uma zona urbanizada. 39 Tal conjunto pode ser defnido como a re- produo de um padro de ocupao e uso do solo em trechos delimitados de uma cidade ou rea urbanizada. Convencionalmente, esse padro determinado pelo traado virio, pelo parcelamento do solo, pela forma das edifcaes e ritmo de sua ausncia, isto , seus espaos livres que, combinados entre si, conformam arranjos da trama urbana, similares ou repetitivos. As relaes de interdependncia entre tais elementos, sua complementaridade, articulao e ou contraposio, e as funes produzem o que chamado de confgurao de um tecido urbano. Os tecidos urbanos convencionais notadamente residenciais, em So Paulo, so caracterizados pela sua confgurao espacial condicionada por elementos mor- folgicos, que foram identifcados por Lamas 40 , e por funes urbanas diversifcadas entre habitao, comrcio, servios, instituies, e outros. Tais elementos so: o solo, os edifcios e suas facha- das, o lote, o quarteiro ou parcelamento, os espaos livres privados, o traado das vias, a praa e/ou o espao livre pblico de lazer, os monumentos 41 e as massas vege- tais de grande porte. O solo urbano o elemento que referencia as condi- es topogrfcas ao desenho da cidade. Ele est sujeito a contnuas mudanas estruturais, resultantes das dispu- tas territoriais entre os interesses pblicos e privados. a comear de suas condies que estruturado o parcela- mento do terreno, com a defnio das vias de circulao, dos quarteires e dos lotes. Esses ltimos, os lotes, so, na cidade convencional, a unidade bsica para a defnio da massa construda. As dimenses do lote so os fatores limitantes das formas dos edifcios, que combinadas com as regras de legislao, infuenciam nas volumetrias construdas e estabelecem os tipos urbanos. o princpio fundamental da relao dos edifcios com o terreno que tradicionalmente defne a separao entre domnio pblico e privado. Dentro da lgica de subdiviso por loteamento do territrio, pode- -se defnir uma relao entre os processos conformadores do espao residencial, a com base na fgura do lote; pois este, apesar de ser uma unidade cadastral, muitas ve- zes a matriz geradora da confgurao dos elementos construdos. Com recuos, alinhamentos e coefciente de 39 MAGNOLI, 2006: p.188. 40 LAMAS, 1992: P.11. 41 Esse elemento se aplica s cidades europeias por sua caracterstica his- trica. No caso brasileiro, porm ele pouco frequente e por isso no ser considerado. 31 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Conforme confrma Macedo: O lote urbano no def- ne por si o desenho da cidade, mas hoje, sem dvida, possui uma importncia fundamental na composio da paisa- gem das cidades. Como unidade... pouca importncia tem no conjunto urbano. 42
As massas vegetais de grande porte podem ser reas verdes de preservao com acessos restritos ou no aos ci- dados, ou ento grandes parques recreativos. Apesar de no ter sido citado por Lamas, no caso brasileiro, deve-se tambm considerar outros elementos naturais, como os corpos dgua - rios, nascentes e crregos que so con- dicionantes e confguradores dos espaos urbanos, com papel semelhante ao das massas vegetais. 43
Esses elementos naturais e o solo formam o suporte fsico que caracterizam o espao urbano. So elementos referenciais que estruturam e delimitam pores de ma- lha urbana. Esquema da sequncia de parcelamento do solo comum cidade convencional, formando a base para a implantao das edifcaes. 42 MACEDO, 1988: p. 49. 43 MACEDO, Silvio Soares. So Paulo, paisagem e habitao verticalizada: espaos livres como elementos de desenho urbano. Tese (Doutorado) -- Faculdade de Arquitetura e Urbanis- mo da Universidade de So Paulo. So Paulo : s.n., 1988. Elementos naturais vegetao - e seu papel estruturador, delimitador do espao urbano convencional. Acervo Quap 2005 aproveitamento, sempre relacionados aos seus limites e dimenses, na cidade convencional, a massa construda passa a existir em funo da forma dessa unidade cadas- tral. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 32 Os edifcios e os espaos livres pblicos e privados tm sua confgurao baseada nas condies impostas pelo seu parcelamento e pelo suporte natural disponvel; so, igualmente aos primeiros elementos morfolgicos apresentados, estruturadores do espao urbano. As edifcaes so consideradas como elementos m- nimos da composio urbana convencional. A volumetria de cada edifcio corresponde a um tipo construtivo urba- no que atende a determinadas condies de localizao e uso. No caso dos tecidos predominantemente residenciais convencionais estudados, os tipos que prevalecem so: o casario assobradado, trreo e/ou geminado, edifcios de apartamentos e construes comerciais que se alinham ou se encontram prximas s caladas e nas esquinas, e que absorvem em sua forma os padres culturais dos usurios e suas demandas particulares de uso do espao habitado. O espao urbano depende dos tipos edifcados e do modo como se agrupam. Existe uma relao dialtica entre a forma urbana e seus tipos, na qual, tipo edifcado determina a forma do tecido urbano e este condiciona os tipos predominantes. Gehl 44 ressalta que alm de sua volumetria principal, os tipos colaboram na caracterizao do espao urbano por suas bordas, suas fachadas, seus jardins e quintais que so parte da transio entre o espao privado e p- blico na cidade convencional. Exemplo de tecido urbano predominantemente residencial da RSMP e vertical. Acervo Quap 2004 Exemplo comum de mescla de tipos horizontais o casario e lotes ocupados por tipos verticais no tecido urbano convencional habitacional paulistano. Acervo Quap 2008 44 GEHL, Jan. La humanizacin del Espacio Urbano- La vida social entre los edifcios. Barcelona: Editorial Revert, 2006. Trad. Maria Teresa Valcarce. 33 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Por fm, h os elementos morfolgicos caracteriza- dos como espaos livres pblicos: o sistema virio ruas e caladas, as praas, largos, ptios, entre outros. O primeiro responsvel por assentar o tecido urba- no no suporte geogrfco pr-existente, determinando o desenho de quarteires e regulando a disposio de lotes e edifcios. Sua principal funo a de circulao urba- na e de conexo entre os diversos espaos da cidade. um elemento de permanncia que resiste maioria das transformaes urbanas. As caladas nesse tipo de tecido so muito utilizadas tanto para circulao de pedestres, quanto para ativida- des de convivncia dos usurios. Apesar de nem sempre apresentarem boas condies de uso, so em muitas re- as habitacionais, a nica opo de espao livre para uso do pedestre existente. J as praas so delimitadas pelo parcelamento do solo e do traado virio. Seu dimensionamento comu- mente ocorre em funo da legislao de parcelamento vigente que estabelece porcentagens de terreno do lotea- mento que devem ser destinados a espaos livres pblicos. Por defnio, so espaos livres pblicos urbanos desti- nados ao lazer e ao convvio da populao, acessveis aos cidados e livres de veculo 45 , porm, comum nesses te- cidos que tais espaos se estabeleam em reas residuais do parcelamento do solo e, por esse motivo, no apresen- tem condies espaciais de suportar o convvio social. Assim como as ruas, as praas podem ser defnidas pelas edifcaes como espaos vazios e pblicos. Em uma anlise fundo-fgura 46 do tecido convencio- nal em que prevalece o uso habitacional em So Paulo, possvel identifcar suas principais caractersticas formais determinadas pela relao de seus elementos morfolgi- cos: 45 ROBBA e MACEDO, 2002: prefcio. 46 Um esquema fundo-fgura um grfco gerado a partir de uma vista superior de determinado trecho da cidade, no qual todas as reas edifca- das so hachuradas na cor preta e os espaos livres de edifcao no so preenchidos. Nesse tipo de esquema possvel determinar a relao entre espaos construdos e espaos livres. Esquema comum aos parcelamentos urbanos tradicionais, com quarteires estreitos e compridos e as praas centrais. O espao livre residual da implantao do sistema virio. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 34 1. Predominncia dos espaos construdos sobre os espaos livres altas taxas de ocupao do terreno. 2. Fragmentao das construes lote a lote e dos espaos livres privados quintais, recuos, entre outros. 3. Predominncia do sistema virio como espao livre pblico. 4. Alinhamento das edifcaes com a rua pelos recuos mnimos exigidos; 5. Delimitao clara dos quarteires. 6. Delimitao clara de praas, rotatrias e largos. 7. Lotes pontuais com baixas taxas de ocupao do solo escolas, hospitais, clubes, ou outras insti- tuies. No caso do tecido tradicional, h a percepo que a ocupao do espao edifcado predomina em relao ao espao livre pblico e privado. Ocorre que as tipologias geradas baseadas nos regulamentos vigentes estabele- cem taxas de ocupao as quais permitem em geral que pelo menos 50% do terreno sejam edifcados ou ento co- bertos para usos de garagem. Alm desse fato, os recuos obrigatrios frontais, laterais e posteriores obrigatrios, induzem produo de espaos livres privados extrema- mente fragmentados e de difcil percepo por parte dos usurios. Pelo uso e remodelao desses espaos, torna-se pos- svel a evoluo do tecido urbano, por meio de pequenas transformaes ocorridas nos espaos livres e nas mas- sas edifcadas. A ocupao e o adensamento com novas construes de antigas reas livres privadas redesenham a paisagem constantemente e aumentam a ocupao da superfcie dos lotes, por vezes de forma irregular. Fundo-Figura do bairro de Itaquera, zona leste de So Paulo. Observa-se a clara delimitao de quadras e dos espaos livres da rua nos trechos ocupados pela cidade convencional, em contraposio ao espao do conjunto habitacional modernista tambm presente nesse esquema. Org. Alexander Villaln, 2010 35 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Uma caracterstica do tecido tradicional a clara hie- rarquizao dos espaos urbanos. A forma de composio do tecido tomando-se por base os elementos lotes, edif- cao, espaos livres e sistema virio colaboram para que limites, domnios e acessos sejam estabelecidos. O volu- me da edifcao e a marcao do alinhamento do lote com muros e gradis delimitam o que espao privado e o que espao pblico, defnindo para os usurios quais espaos so de domnio pblico e coletivo e quais so res- tritos a determinados grupos da populao. Suas virtudes salientam-se: a clara caracterizao de domnios pblicos e privados urbanos mediante a adoo normativa da edifcao contnua alinhada ao longo da rua e da praa, a versatilidade do plano de fachada que ao mesmo tempo em que ordena e estabiliza a paisagem pblica, admite a coexistncia de ritmos diversos de evolu- o funcional e estilstica no domnio privado, a disciplina geomtrica de um sistema razovel de regras morfolgicas simples. 47 Alm da questo de defnio de domnios no es- pao urbano e sua hierarquizao, Comas ressalta outro aspecto relevante do tecido convencional, aqui j citado que sua capacidade de transformao com o tempo, sua dinmica que permite absorver revises espaciais e de assumir usos diversos. Essa capacidade, que se traduz na paisagem como ampliaes, reformas e mudanas de programa nas edifcaes existentes, tendo como base, muitas vezes, iniciativas individuais e pulverizadas, im- prime a identidade e base sociocultural de seus usurios no espao, diferencia ruas e bairros entre si e pode criar referncias de orientao urbana. 47 COMAS, 1986: p.16. Rua tpica do tecido residencial convencional perifrico paulistano, no bairro de Itaquera. Casas com quintais, gradis e acabamento variados. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 36 1.2.2 Agentes confguradores do tecido tradicional Os agentes confguradores da paisagem urbana so indivduos ou instituies que produzem e modifcam a pai- sagem urbana e nela interferem ininterruptamente atravs do uso, da ocupao e da apropriao dos espaos livres e construes. 48 A produo do tecido tradicional resultado da atu- ao de agentes urbanos que confguram a paisagem habitacional por meio de intervenes no espao ou por aes indiretas. Patapas divide esses agentes em Socieda- de Civil e o Poder Pblico. Dentre os agentes da Sociedade Civil, existem os pro- prietrios fundirios, os loteadores, os incorporadores, os rentistas, os compradores de terrenos ou de habitaes, os responsveis por autoconstruo e at a populao in- vasora de terras. Cada um desses agentes produz o espao guiado por interesses especfcos, podendo atuar de for- ma legal ou clandestina. As atuaes legalizadas seguem em comum apenas as restries impostas pela legislao urbanstica de cada ncleo. No caso desses espaos, verifca-se que a atuao de tais agentes pulverizada, com a predominncia de loteadores, de rentistas e dos responsveis pela autocons- truo. A autoconstruo e/ou produo domstica, so as mais usuais nesses espaos devido s condies de ren- da da populao, a qual determina formas de construo que demandam um fuxo de investimento fragmentado e que tem investimentos iniciais baixos lotes com reas mnimas e pouco valorizadas. Santos 49 aponta dentro dos agentes da produo de baixo custo, classifcados como Sociedade Civil por Patapas, a distino entre dois agentes: as Empresas e a Populao. As primeiras so responsveis por investi- mento de maior vulto em setores tercirios e secundrios, alm da movimentao do Mercado Imobilirio, repre- sentadas pelas construtoras, incorporadoras supracitadas. J a Populao abrange como agente o restante da Socie- dade Civil organizada ou no em grupos. O Poder Pblico se responsabiliza pelas questes de gesto e normatizao da cidade por meio da elaborao de cdigos de edifcao e de leis que regulam o uso e a ocupao do solo. Diretamente, ele atua no provimento de infraestrutura urbana e na construo e manuteno de edifcios e espaos livres pblicos. O Estado tambm atuante como prestador de servios de transporte, sanea- mento, de sade e educao. Essas reas residenciais perifricas so caracteriza- das tradicionalmente pela fraca atuao desse agente no mbito dos espaos livres urbanos e pblicos, j que possuem pouca visibilidade no contexto da cidade e dos 48 PATAPAS, 2001. 49 SANTOS, 1986: p.28. 37 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS interesses envolvidos em sua produo, alm de apresen- tarem problemticas urbanas que necessitam de grandes investimentos para sua soluo. 1.2.3 Espaos livres e o tecido tradicional paulistano Por espao livre urbano, adota-se a defnio de Magnoli como espao que livre de edifcao, localizado dentro da mancha urbana. Patapas 50 identifca os espaos livres como um dos elementos conformadores do espao urbano e, conse- quentemente, do tecido urbano predominantemente residencial. Tal tecido caracterizado pela interdependn- cia formal entre os elementos do espao, principalmente na relao entre espaos edifcados e espaos livres de edifcao. No tecido urbano (tradicional), portanto, todo o es- pao livre vinculado a edifcaes ou a outros elementos morfolgicos com volumetria defnida. As caractersticas formais[...] dependem das relaes que ele mantm com os outros elementos morfolgicos 51 , isto , comumente tais espaos livres se apresentam como consequncia do parcelamento urbano e da ocupao do lote com a edi- fcao, o que o torna dependente e resultante da forma desses primeiros elementos. Tal interdependncia formal associada estrutura do parcelamento em vias, quarteires, praas e lotes oca- siona e/ou propicia a hierarquizao dos espaos livres de forma defnida entre: espaos livres pblicos e espaos livres privados. Santos ainda identifca um quarto agente que ora se enquadra dentro do grupo do Poder Pblico, ora se enquadra dentro da Sociedade Civil,cujo trabalho pode infuenciar diretamente sobre a confgurao do espao urbano e que, no caso do tecido tradicional, muitas ve- zes, trabalha de forma pulverizada e pouco valorizada: os Tcnicos. Arquitetos, engenheiros, agrnomos, entre ou- tros, que so responsveis pelos projetos e implantao da construo de parte da cidade, ou pela formulao de regras e cdigos que a regulam. Vista area de bairro tpico paulistano com ocupaes promovidas por agentes diversos: Mercado Imobilirio torres de apartamentos, Sociedade Civil casas, Poder Pblico sistema virio, prdios institucionais e outro. Acervo Quap 2005 50 Em sua dissertao, Patapas, 2001, estuda como caso o tecido urbano e os espaos livres do bairro do Parque So Domingos, em Pirituba, So Paulo. 51 PATAPAS, 2001:p.21. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 38 Outro fator que favorece e condiciona o apareci- mento dos espaos livres no tecido convencional so as regulamentaes que determinam as formas de ocupao do solo por recuos obrigatrios da edifcao em relao ao alinhamento do lote, dos ndices e taxas de ocupao e permeabilidade urbana que obrigam que parte do solo privado seja destinado s reas livres. Alm das regras de parcelamento do solo que determinam reas mnimas a serem destinadas como praas, e sistema virio, como aponta Macedo. Os espaos livres acontecem, surgem em decorrncia: da criao de sistema virio[...]de recuos obrigatrios nos lote[s...], da exigncia de reas para recreao e estar. 52
Dessa forma, estabeleceu-se que o espao livre ur- bano pode ser privado e intralote, ou pblico e fora do lote. Alm dessas divises de propriedade do espao, as reas livres da cidade convencional so ainda marcadas por diferentes formas de domnio e apropriao por parte da populao usuria. Os espaos livres intralote mais comuns encontrados em tecidos horizontais so: quintais, garagens e jardins; que so em geral resultado da implantao da edifcao no lote, respeitando recuos mnimos e taxas de ocupao determinadas pelo zoneamento vigente. Esses espaos so privados e de domnio privado tambm, j que cos- tumam ser acessveis somente aos seus moradores ou s pessoas por eles autorizadas. 52 MACEDO, 1986 : p.105. 53 Entende-se por condies intrnsecas ao tecido tradicional a infuncia do Mercado Imobilirio, a organizao da cidade em lotes cadastrais, e as estruturas urbanas preexistentes, que em teoria no infuenciam a produ- o de espao da cidade moderna. J no caso dos tecidos e dos lotes ocupados de for- ma vertical, observa-se que o espao livre, infuenciado pelo zoneamento paulistano de 1972 e 2002, que previa taxas de ocupao de 50%, uma adaptao do princpio modernista do edifcio isolado no terreno s condies intrnsecas 53 do parcelamento do solo do tecido tradicio- nal. Os espaos que derivam desse modelo modernista so espaos compartimentados e re-hierarquizados para se aproximarem da confgurao de espaos livres usual do tecido tradicional, cingido pela diviso dos lotes e de- terminado pelos recuos impostos pela legislao. Quintais e jardins que ocupam os recuos frontais dos lotes privados, confgurando espaos livres privados da habitao horizontal. Acervo Quap 2008 39 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Os exemplos mais encontrados no caso vertical so: jardins, reas de lazer e convivncia (churrasqueiras, pis- cinas e playgrounds) e estacionamentos. Apesar de serem privados, em geral esses espaos so de domnio coletivo. Esse tipo de ocupao vertical, entretanto, ainda em 2010 pouco presente no entorno dos conjuntos habitacionais estudados, sendo eles as reas de verticalizao desses bairros mais perifricos. A combinao dessas hierarquias e de diferentes ti- pos de espao livres conforma um sistema de espaos que encontrado em bairros residenciais tradicionais de So Paulo, e mais especifcamente, nos bairros residenciais perifricos. Os espaos pblicos que compem tal sistema so: as vias, largos, praas, parques, reservas forestais e espa- os livres residuais. Nos bairros estudados, esse sistema caracteriza-se pela sua defcincia em espaos livres pblicos dedicados ao lazer e convivncia de seus moradores, sendo o siste- ma virio as ruas a principal, quando no nica, forma de espao livre pblico existente. As caladas so, com raras excees, muito estreitas ou inexistentes, e as pra- as so espaos residuais do desenho do sistema virio, caracterizando-se pelo difcil acesso e pelas dimenses reduzidas. Espaos livres privados das torres de apartamentos comuns em So Paulo, resultado de baixas taxas de ocupao, recebem usos de lazer. Acervo Quap 2004 Em tecidos habitacionais perifricos paulistanos, os espaos livres pblicos, muitas vezes, resumem- se em ruas com caladas mal dimensionadas. No caso de reas favelizadas, esses espaos so exguos. Acervo Quap, 2001 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 40 Nesse cenrio, as ruas se destacam com o espao li- vre urbano pblico da periferia paulistana, assumindo a funo de espao de circulao de automveis, nibus, caminhes e pedestres; alm de espao de lazer e encon- tro de vizinhos. J os espaos privados caracterizam-se pela sua distribuio fragmentada e residual nos recuos dos lo- tes alternando-se em suas partes frontais, laterais e posteriores. Muitos desses espaos so ocupados e imper- meabilizados ao longo do processo de consolidao do tecido urbano para assumirem usos complementares ao da habitao reas de servios, reas de lazer ou at pequenos comrcios. Nos esquemas fundo-fgura, feitos sobre a foto area dos bairros de Itaquera e Campo Limpo, pode-se bem ob- servar a forma e disposio dos espaos livres pblicos, com destaque para o leito das ruas, e dos espaos livres privados, com destaque para os pequenos quintais. Identifcam-se ento os principais tipos desses es- paos encontrados nos tecidos residenciais perifricos paulistanos. Rua tpica de bairro perifrico e popular de So Paulo, Guaianazes nesse exemplo. Os espaos livres intralote so ocupados com outros usos alm do habitacional: ofcinas, bares e sales de beleza, entre vrios. 2009 Fundo-fgura do bairro do Campo Limpo. Em verde claro esto os espaos livres. Destaque para os espaos livres pblicos: ruas e poucas praas. Org. Bruna Benvenga Fundo-fgura do bairro de Itaquera. Destaque para lotes desocupados e quintais nos recuos posteriores das residncias. Org. Alexander Villaln 41 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Os tipos de espaos livres privados so: 1. Lotes totalmente desocupados. 2. Recuos frontais predominantes. 3. Recuos laterais predominantes. 4. Recuos posteriores predominantes. 5. Recuos posteriores e frontais. 6. Recuos posteriores e laterais. 7. Recuos frontais e laterais. A combinao desses tipos de espaos livres confgu- ra os trs principais tipos de quarteiro presentes nesse tecido urbano: 1. Totalmente ocupado. 2. Espaos livres fragmentados e variveis. 3. Espaos livres fragmentados com lotes vazios. Dessa forma, caracteriza-se o tecido urbano pre- dominante dos bairros perifricos onde se inserem os conjuntos habitacionais produzidos desde a dcada de 1970 na RMSP. A esse espao, contrape-se o espao pro- duzido em tais conjuntos que se baseiam nos princpios urbanos e arquitetnicos modernistas. Quadra modelo com predominncia de ocupao da massa edifcada e espaos livres intraquadra quase inexistentes. Org. Ulisses Sardo Quadra modelo com espaos livres privados fragmentados e variados obedecendo recuos. Org. Ulisses Sardo Quadra modelo com predominncia de espaos livres intraquadra. Recuos e lotes desocupados. Org. Ulisses Sardo CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 42 1.3 A forma dos tecidos habitacionais da cidade modernista e seus espaos livres A cidade ideal moderna a etapa fnal de um pro- cesso de duas dcadas. Nela, a vanguarda arquitetnica europeia do entreguerras afrma a necessidade imperiosa de rejeitar as especifcaes quantitativas e qualitativas de um urbanismo de rua, praa, quadra, lote, fachada, alinhamento, ptio e quintal. Proclama e celebra incisiva- mente sua substituio por uma paisagem de autopistas, caminhos, parques e edifcaes isoladas em superquadras, partindo da percepo de confitos e lacunas na cidade bur- guesa desenvolvida de ento. 54 Por cidade moderna, entende-se, neste trabalho, o espao urbano idealizado e produzido por meio dos pre- ceitos pregados pelo Movimento Moderno no incio do sculo XX. Essa cidade e seus espaos urbanos, principal- mente aqueles destinados habitao, contrapem-se cidade convencional em seu contedo formal, na sua dis- tribuio programtica e no seu processo de produo. Tal modelo de espao est vinculado aos conceitos formulados na Carta de Atenas 55 para a cidade moder- nista. Segundo esse documento, a cidade deveria ser setorizada em reas que atenderiam a quatro funes bsicas urbanas: morar, trabalhar, circular e se divertir. Por princpio, essas funes deveriam ser distribudas em setores da cidade, confgurando um espao de organiza- o pouco fexvel. A Carta previa tambm o fm da ideia de propriedade do solo urbano, sendo ele todo pblico administrado de forma centralizada por rgos estatais. A implantao da cidade modernista tinha como pressuposto a produo centralizada do espao urbano, baseando-se em um projeto nico de cidade; da elimina- o da diferenciao das classes sociais e do seu acesso ao solo urbano; da valorizao da indstria na produo arquitetnica e do automvel como mquina de circular urbana. Pressupostos que sugerem espaos urbanos mais simplifcados que aqueles existentes na cidade convencio- nal. 54 COMAS, 1986:p.127 . 55 A Carta de Atenas um documento escrito por Le Corbusier e outros arquitetos que participaram do CIAM Congresso Internacional de Arqui- tetura Moderna, realizado em 1933, em um Navio Patris II que se dirigia da Frana para a Grcia. Nessa carta estabeleceram-se os parmetros que deveriam guiar a cidade moderna. Imagem do Plan de Voisin idealizada por Le Corbusier para Paris dentro dos princpios modernistas. Edifcios isolados no parque, verticalizao e separao de funes urbanas. Fonte: Google images - utopies.skynetblogs.be 43 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Segundo Huet, o espao derivado da aplicao de tais preceitos o lugar ideal para a aplicao industrial de elementos isolados iguais uns aos outros, como tambm lugar de fracionamento indiferenciado, da separao fun- cional, da segregao. 56 Alm desses fatores, a produo de cidade moder- nista necessitava de uma organizao social e cultural diferente daquela existente, com a valorizao do homem coletivo em detrimento da valorizao do indivduo. Os homens eram vistos como uma soma de constantes bio-psicolgicas, ignorando-se tanto as diferenas presentes nas diversas culturas quanto as diferenas de classe no inte- rior das sociedades. Consequentemente, propunha-se para o espao um tratamento homogneo que no incorpora- va a anlise das diferenas de classe, j que essas eram vistas apenas como diferentes e no como estruturalmente antagnicas, deixando-se de lado as diversas condies de apropriao do espao presentes a nvel intraurbano. 57 Uma nova sociedade ocuparia a cidade funcional/ modernista, usufruindo de espaos urbanos coletivos, formados nos setores habitacionais por conjuntos de ha- bitao proletria. Outra imagem do Plan de Voisin. Repetio dos tipos edilcios, padronizao e racionalizao do espaos urbano. Fonte: Google images - brianmicklethwait.com 56 HUET, 1986: p.84. 57 SCHERER, 1984: p. 12, apresentao da publicao da Carta de Atenas. Esse modelo bem serviu ao perodo de reconstruo europeia do entreguerras e ps-guerras, pois permitiu, com a estandardizao da produo arquitetnica e a simplifcao do espao urbano, a implantao de gran- des conjuntos habitacionais a baixos custos e com relativa rapidez de construo, para o rpido atendimento de- manda existente. Bairro Siemensstadt em Berlim, projeto de conjunto habitacional de Walter Gropius de 1930. Um dos exemplos de aplicao do modernismo na habitao proletria europeia. BENEVOLO, 1994: p.497 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 44 Um exemplo de aplicao desses conceitos em um espao habitacional no Brasil so as superquadras de Bra- slia, compostas por agrupamentos de edifcios laminares sobre pilotis que constituem uma rede de espaos livres pblicos ininterruptos. 1.3.1 Tecido urbano e o partido modernista: ruptura com a cidade convencional. A cidade moderna e o tecido urbano habitacional produzido sob seus princpios rejeitam ou excluem a forma do espao urbano produzido com os elementos compositivos da cidade convencional: a rua, praa, qua- dra, lote, fachada, alinhamento, ptio e quintal, como frisou Comas. Alguns desses elementos, alis, desapare- cem do vocabulrio formal da cidade modernista, como o caso do lote. A unidade do lote extinta no padro urbanstico moderno, pois ela representa a diviso da propriedade do solo, e nesse tipo de cidade, o solo invariavelmente de propriedade pblica. Os outros elementos no deixam de existir ruas, edifcios, espaos livres, massas vegetais porm adqui- rem signifcados, funes e hierarquias diferentes da composio urbana convencional. A interdependncia formal entre edifcios, espaos livres, os lotes e o sistema virio deixa de ser primordial na confgurao do espao urbano. Sua confgurao, pelo contrrio, deriva da justapo- sio de edifcios-objetos que se encontram isolados uns dos outros, organizados em grandes superfcies livres no delimitadas fsicamente; criando a polarizao entre es- Edifcio na Superquadra Residencial do Plano Piloto de Braslia. Eliminao da propriedade do solo e acesso irrestrito aos espaos livres. Acervo Quap, 2002 A forma de produo desse tecido se aproxima do Total Urban Design, descrito por Lang. No qual, todo o processo de projeto, produo e ocupao desse espao conduzido de forma centralizada por um nico agen- te e seguindo um plano predefnido e totalizador, em contraposio forma de produo do espao urbano convencional. 45 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS pao construdo e espao livre, caracterstica do espao modernista. Esse tipo de espao urbano escolhe como cenrio o bloco do edifcio isolado no terreno, envolto por uma massa verde contnua. o ideal do edifcio inserido no parque que prevalece, juntamente com a desvinculao da massa edifcada com as limitaes do alinhamento do lote. Os espaos livres so totalmente pblicos e acessveis, e os espaos privados as edifcaes so implantados sobre o solo livremente, sem nenhuma vinculao de suas fachadas ou acessos ao alinhamento da rua. Esse ltimo elemento, que na cidade tradicional um espao de circulao e de convvio e encontro entre vizi- nhos, torna-se apenas uma via destinada exclusivamente circulao de veculos. Como no h uma defnio vo- lumtrica do leito da rua pelas empenas das edifcaes, outros elementos urbanos so tambm diludos, sendo exemplifcados pelas esquinas, pelos largos e pelas cala- das. Sem caladas que margeiam as ruas, os caminhos de pedestres passeiam de forma livre e aleatria pelo grande parque urbano. A hierarquizao dos espaos reduzida a apenas duas categorias: o espao privado representado pelo inte- rior do edifcio e o espao pblico que tudo aquilo que resta a massa verde. Por ser aquilo que resta, o Cidade inserida no parque. Predominncia dos espaos livres em Braslia que norteou o partido adotado nos conjuntos habitacionais mais populares. Quap, 2008 Unidade Habitacional de Marselha, projeto de Le Corbusier, exemplo de aplicao dos conceitos de unidade habitacional mnima, servios e equipamentos sociais concentrados em um s edifcio. BENEVOLO, Leonardo. Histria da cidade. 2edio. Ed. Perspectiva, 1993: p.646 Rua de circulao local na Superquadra 308 Sul no Plano Piloto de Braslia. Exemplo de desvinculao entre edifcaes, percursos de pedestres e as ruas. Acervos Quap 2008 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 46 espao livre morfologicamente indefnido, homogneo e fragmentvel. No momento em que o tecido urbano no ser mais regulado por uma relao especfca entre morfologia urba- na e tipologia dos edifcios, a Arquitetura se explicar por uma simples justaposio de objetos isolados, estanques, carregada por uma superexpressividade de valores ausen- tes... 58 cIdadc IuncIona| cIdadc IIguraIIva llqura - edlllcao lsolada em allura llqura - espaos aberlos dlscrelos enlre rua e praas lundo - espao aberlo conllnuo, acesslbllldade no conlrolada, lolalmenle colellvo a escala da cldade lundo - lecldo conslruldo conllnuo superquadra- edlllcaes especlalmenle lunclonallzadas quadra/lole zonas especlalmenle lunclonallzadas balrro - mlcrocosmo de cldade seqreqao espaclal enlre dllerenles llpos de allvldades e lluxos no lerrllorlo urbana em escala qrande especlallzaao lunclonal das eslruluras llslcas e do lerrllorlo aproxlmar allvldades e lluxos complemenlares, no lnlbe a mullllunclonalldade de edlllcaes e espaos aberlos prlvlleqla o aumenlo da superllcle do lerrllorlo edlllcavel e a abollao de subdlvlses em seu lnlerlor oporlunlzao da lraqmenlao lerrllorlal lavoreclmenlo a balxa ocupao do solo ocupao mals lnlenslva do solo para a edlllcao desconllnuldade das edlllcaes na superquadra conllnuldade da edlllcao no quarlelro lralamenlo lndependenle do projelo vlarlo, edlllcavel, espaos aberlos lnlerdependncla enlre projelo da rua, edlllcao e espao aberlo no lnlerlor do quarlelro colellvlzao lolal dos espaos aberlos dlversldade de eslalulos do espao aberlo prlvado = lnlerlor da edlllcao mosalco - prlvado = quarlelro composlo de edlllcaes publlco = espao aberlo na escala da cldade publlco = ruas e praas Quadro comparaIIvo. cIdadc IuncIona| x cIdadc IIguraIIva Comas traa um quadro comparativo entre a cidade convencional ou fgurativa e a cidade modernista identif- cando as principais caracterstica e rupturas propostas no espao urbano modernista. Nesse contexto, de simplifcao espacial e de destituio da propriedade privada do solo e de seu parcelamento, anulado outro trao do tecido conven- cional que a capacidade dinmica de se modifcar o in COMAS, Carlos Eduardo Dias. A partir do bairro: a cidade funcional versus fgurativa. In: Arquitetura e Urbanismo, dez. 86 / jan. 87, p.66 , Ed. PINI, 1986. 58 HUET, 1986:p.83. 47 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS espao urbano com o passar do tempo, das geraes e das necessidades da vida cotidiana. A ideia de conjunto arquitetnico e urbano unitrio, que norteia o tecido mo- dernista, acaba ainda por difcultar que em um processo dinmico de evoluo do tecido urbano sejam impressas sobre ele interferncias culturais e pessoais de seus mora- dores e usurios. 1.3.2 Espaos livres no conjunto moderno Os espaos livres urbanos da cidade modernista so predominantes em relao aos espaos construdos. Como no h o parcelamento da cidade em lotes, esses espaos so invariavelmente pblicos, contnuos e com limites indefnidos. So espaos sem hierarquizao entre espaos livres pblicos e espaos livres privados, ou entre espaos de domnio coletivo e espaos de domnio privativo. Todo o espao acessvel por todos os usurios sem restries, impossibilitando qualquer tipo de categorizao desse es- pao. A apropriao privada do espao livre moderno no possvel, pois o status do solo anulado e toda a rea livre do terreno passa a ser rea pblica de uso coletivo. No h diviso funcional clara entre os espaos des- tinados ao lazer e os espaos destinados circulao; em teoria, todo e qualquer tipo de atividade pode acontecer nessa rea. Alguns equipamentos urbanos, como quadras poliesportivas, playgrounds, podem ser implantados pelo parque contnuo, porm no h uma defnio formal de fguras urbanas da praa, largos e quintais. 59 MACEDO, 1988: p.180. Implantao das superquadras do Plano Piloto de Braslia. Usos de lazer e equipamentos sociais si posicionados soltos em meio ao parque urbano. In: WISNIK, Guilherme. Lucio Costa entre o empenho e a reserva. So Paulo, Ed. Cosac & Naify: p.104, 2001. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 48 Em todas as situaes, o espao livre de edifcaes (no tecido modernista) tratado como o grande campo gra- mado ou o bosque e, as antigas estruturas espaciais, que possibilitam o encontro entre as pessoas, os ptios, praci- nhas e esquinas, so substitudos pelos caminhos sinuosos ou retilneos em meio a gramados e conjuntos de equi- pamentos de jogos infantis e de adultos centralizados em pontos nicos. 59 A implantao das reas livres abundantes, o parque urbano, originalmente no discurso modernista, pressupu- nha a implantao de massas de vegetao de porte que colaboram para inserir os edifcios no cenrio do parque. pressuposto tambm na concepo desses espaos a im- plantao de equipamentos sociais como clubes, escolas, creches, entre outros, soltos no parque. Assim, atravs de extensas redes de caminhos pavimentados, os usurios circulariam pelo verde no seu cotidiano. So tais espaos livres que fariam a conexo visual e funcional entre os diversos setores da cidade, conferindo a imagem de conjunto urbano a esses setores e integran- do-os. O partido modernista com seus espaos livres abun- dantes foi adotado como partido ofcial da produo em grande escala de habitao no Brasil e no mundo. No caso brasileiro, tal produo se instalou em contextos urbanos e sociais diversos daqueles descritos pela Carta de Atenas e previsto por Kopp. 60 Essa condio gerou releituras e adaptaes desse modelo original para viabilizar sua pro- duo no Brasil, e mais especifcamente em So Paulo. Vegetao de porte e caminhos pavimentados de pedestres marcam originalmente os espaos livres idealizados pelo Modernismo. Acervo Quap 2004 Espaos livres contnuos foram escolhidos para o projeto dos conjuntos habitacionais brasileiros. Na imagem, exemplo da implantao do Conjunto Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos So Paulo. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 60 KOPP, 1990. 49 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Entretanto h, ao longo das ltimas cinco dcadas, um carter evolutivo dentre as propostas urbanas dos projetos habitacionais produzidos para famlias de ren- das mais baixas. Os diferentes agentes produtores no suceder de programas e projetos habitacionais introduzi- ram modifcaes no partido urbano modernista adotado originalmente pelo BNH provocando distores ou me- lhorias nos espaos propostos. Apresenta-se assim, o trajeto traado por essas modi- fcaes na produo paulistana, com origem no partido original adotado pelo BNH por intermdio da Cohab- SP at 2010 com a produo da CDHU e do Mercado Imobi- lirio. 1.4 Conjuntos habitacionais populares paulistanos: do BNH ao Segmento Econmico 61 Os conjuntos habitacionais produzidos majorita- riamente pelo Poder Pblico, destacam-se na paisagem urbana pelo seu padro de ocupao do solo diferencia- do. Essa diferenciao se apresenta formalmente tanto na arquitetura das edifcaes que, em geral, so blocos de apartamentos similares com poucos pavimentos com volu- metrias extremamente simplifcadas ou casas geminadas tipo trreas e assobradadas; quanto na sua implantao, baseada na repetio das edifcaes padro e nos espa- os livres abundantes 62 . Alm disso, diferenciam-se do entorno pela sua monofuncionalidade j que abrigam predominantemente em suas propostas apenas o uso ha- bitacional; e pelo seu porte avantajado de centenas de unidades habitacionais por cada empreendimento. Tal padro de ocupao se consolidou com a atuao do BNH Banco Nacional da Habitao a partir da dcada de 1960- por meio de produo das Cohabs e Inocoops 63 , e vem sendo adotado em So Paulo com traos modifca- tivos pela produo atual, de 2010, empreendida tanto pelo Poder Pblico, por intermdio da CDHU, quanto pelo Mercado Imobilirio. 61 BNH Banco Nacional de Habita- o, agente fnanciador das polticas habitacionais no Regime Militar Brasileiro de 1964-1986. Segmento Econmico, termo utilizado para se referir ao segmento do Mercado Imobilirio Residencial, estruturado a partir de 2000, para atendimento ao mercado de famlias com rendas mais populares entre cinco e dez salrios mnimos. 62 Os espaos livres dos conjuntos habitacionais chegam a representar 75% da rea total do terreno, tanto na produo da dcada de 1970, quanto na produo de 2010. 63 Os Inocoops Institutos de Orien- tao s Cooperativas Habitacio- nais- atuaram com o fnanciamento do BNH na proviso e construo de conjuntos habitacionais direcionados para o pblico sindicalizado nas d- cadas de 1970 e 1980. Sua produo menos abrangente em nmeros que a produo da Cohab Companhia Metropolitana de Habitao de So Paulo para a mesma poca. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 50 1.4.1 Mtodo de anlise Como mtodo de anlise dessa trajetria e sua evoluo no campo do Desenho Urbano tratam-se das principais caractersticas formais da produo de habita- o popular paulistana ao longo das dcadas de 1960 a 2010 atravs dos principais agentes produtores pblicos e privados: 1. Cecap Caixa Estadual de Casas para o Povo, re- presentante estadual da produo da dcada de 1960. 2. Cohab-SP Companhia Metropolitana de Habita- o de So Paulo, representante da produo de 1970 a 1980. 3. CDHU Companhia de Desenvolvimento Ha- bitacional e Urbano do Estado de So Paulo, representante estadual da produo pblica das dcadas de 1990, 2000 e 2010. 4. Mercado Imobilirio Construtoras Tenda e MRV, representantes de produo privada na dcada de 2000 a 2010. A comparao dos modelos urbanos feita entre ca- ractersticas de implantao no terreno, das tipologias das edifcaes e de sua conexo com a cidade pr-existente, de cada exemplo, por meio de esquemas temticos: Fundo fgura como forma de anlise de pro- poro de espaos livres de edifcaes e espaos edifcados. Diviso entre espaos livres pblicos e espaos livres privados e identifcao das massas vege- tais signifcativas como forma de compreender a relao de domnio e propriedade dos espaos livres e suas estruturas predominantes. Setorizao das funes urbanas habitao, co- mrcio e institucional ou equipamentos sociais como forma de compreender a distribuio das funes urbanas e a possibilidade de diversifca- o de usos do espao. Distribuio de Usos propostos para os espaos livres de domnio coletivo como forma de iden- tifcar a evoluo do programa das reas livres nesses conjuntos. Acessos aos espaos privados e percursos de pe- destres. Hierarquizao do sistema virio proposto e exis- tente no entorno como forma de identifcar conexes virias com a cidade existente e a aces- sibilidade ao interior dos conjuntos. 51 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Para o desenvolvimento desses esquemas so esco- lhidos casos exemplares de projetos de assentamentos predominantemente habitacionais infuenciados pelo partido moderno 64 . Sublinha-se que so considerados os projetos desses espaos, seu conceito de implantao e no o espao realmente implantado. Essa postura se jus- tifca pelo interesse em traar um panorama comparativo de evoluo dos projetos habitacionais modernistas, ao longo das ltimas cinco dcadas, com revises imple- mentadas no processo de concepo e idealizao dos projetos, ao invs daquelas implementadas posterior- mente durante a construo dos empreendimentos ou no seu ps-ocupao. Com fns metodolgicos, acrescenta-se ainda, na comparao, mais um exemplo, o caso da Superquadra SQS 308 do Plano Piloto de Braslia que representa o caso modelo de validao do modernismo como partido de implantao adotado em grande escala na produo ha- bitacional brasileira, pelos Governos Militares, a partir de 1964. Nesse caso, no projeto do Plano Piloto, foram utili- zados todos os princpios pregados pela Carta de Atenas para a Cidade Modernista. A escolha pela Superquadra Sul 308 se justifca por ser essa implantada, seguindo todos os princpios moder- nistas que guiaram o Plano Piloto de Braslia, incluindo a implantao das lminas de apartamentos, seu projeto de arquitetura assinado por Lcio Costa e os jardins com o plantio de Burle Marx. Ressalta-se que dentro do prprio Plano Piloto, ou- tras Superquadras Residenciais foram implantadas em situaes diversas e momentos posteriores, agregando re- vises que modifcaram o modelo original de SQS 308. 65
Assim, nem mesmo dentro do Plano Piloto foi possvel as- segurar todas as caractersticas morfolgicas e funcionais empregadas na Superquadra Original. Com esse mtodo, objetiva-se identifcar a evoluo e as mudanas adotadas na produo popular de habita- o, suas distores desde a escolha do partido moderno, e as caractersticas que permanecem desse modelo. Alm de identifcar as respostas formais a problemas e equvo- cos encontrados nos grandes conjuntos produzidos pelo BNH por intermdio da Cohab-SP e revisitadas nos proje- tos posteriores da CDHU e do Mercado Imobilirio. 64 Foram escolhidos os projetos: Cecap Zezinho de Magalhes Prado 1960/1970; Cohab Jos Bonifcio 1980; CDHU Sacom 1990/2000; Reserva Parque So Vicente 2010. 65 Salviati, em seu artigo, explora essas modifcaes ao comparar a Super- quadra original com a implantao posterior de Superquadras SQN na Asa Norte de Braslia. Recomenda-se a leitura. SALVIATI, 1988: PP. 15-27. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 52 1.4.2 Antecedentes: IAPs e a produo europeia do entreguerras 66 A vinculao do projeto de habitao popular brasilei- ro ao modelo urbanstico moderno remete aos primeiros conjuntos habitacionais produzidos pelos IAPs, no incio da dcada de 1940, inspirados nos grandes conjuntos eu- ropeus produzidos no perodo de entreguerras. Os IAPs atuaram na produo de habitao no Brasil numa escala mais comedida que a atuao do BNH, porm, foram os responsveis pela construo de uma srie de conjuntos habitacionais nas principais cidades do pas, So Paulo e Rio de Janeiro, utilizando-se do partido modernista. Os IAPs se tornaram os protagonistas no cenrio da produo de habitao a partir da dcada de 1940, sendo responsveis pela produo de mais de 47 mil unida- des entre 1937 e 1964. Sua atuao se dava por meio de trs programas habitacionais distintos responsveis, pela construo e comercializao de unidades habitacionais, pelo fnanciamento de imveis cedido aos seus associa- dos e por ceder emprstimos hipotecrios a terceiros. 67 Sua produo foi guiada por um documento re- digido pelo arquiteto Rubens Porto que ditava as diretrizes projetuais que deviam ser seguidas nos conjun- tos, demonstrando a clara inclinao pelos parmetros modernistas de desenho da habitao popular. Tais dire- trizes, publicadas em 1937, defendiam a estandardizao dos blocos de apartamentos e dos elementos construti- vos utilizados, o uso de pilotis, o isolamento do conjunto em relao ao tecido urbano tradicional, entre outros, seguindo o esprito modernista que dcadas depois seria adotado na Superquadra de Braslia. Apesar de tantas re- gras, os conjuntos construdos no decorrer das dcadas de 1930 a 1940 pelos IAPs mostraram uma fexibilidade nos modelos de implantao pela mescla entre solues hori- zontais ligadas ao projeto da cidade-jardim e solues verticais variadas. Os conjuntos verticais, com prdios de apartamen- tos de poucos andares muito se aproximam ao modelo europeu empregado nas dcadas de 1920 a 1950, no pe- rodo de reconstruo das cidades destrudas durante as guerras mundiais. um modelo baseado na repetio de blocos padro, com trs ou quatro andares, em formato laminar ocupados por apartamentos de dimenses re- duzidas, baixas taxas de ocupao do solo e abundantes superfcies livres. A peculiaridade da produo dos IAPs foi o desenvolvimento de projetos especfcos para cada em- preendimento a ser implantado, o que possibilitou o surgimento de solues diferenciadas tanto na arquite- tura das edifcaes quanto na sua implantao. Postura 66 IAPs eram os Institutos de Aposen- tadoria e Penso ,criados a partir de 1933, durante o governo de Getlio Vargas, vinculados a categorias profssionais agrupadas em todo o territrio nacional. Agregaram em sua atuao tambm programas de pro- viso de habitao para as categorias por eles representadas. 67 BONDUKI,1998: p.128-129. 53 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS que resultou no incentivo busca de solues inovadoras para o atendimento da demanda habitacional, inspirado no modernismo europeu do entreguerra e das discusses empreendidas nos CIAMs. Destacam-se nessa produo dois casos representa- tivos: O Conjunto do Pedregulho, Rio de Janeiro, 1945 projeto de Eduardo Affonso Reidy represen- ta uma soluo diferenciada para implantao numa situao topogrfca especfca: a encosta. Faz parte de uma das experincias tipolgicas que se aproxima ao modelo da Unidade Ha- bitacional de Marselha de Le Corbusier, com a proposio de um bloco laminar com uma rua suspensa que determina sua circulao interna. Apesar de sua signifcncia, constituiu-se em um modelo de difcil reproduo em outros projetos, pois sua soluo era especfca para sua situao topogrfca especial; Vila Guiomar, Santo Andr, 1937 -45 projeto de Carlos Frederico Ferreira representa o exemplo de projeto que mais se aproxima do modelo dos conjuntos europeus do entreguerras, como blo- cos de apartamentos laminares pensados para a reproduo em larga escala. Vista area da implantao do Conjunto Pedregulho edifcios com projetos diferenciados e funes distintas, formando um conjunto urbano. In: BONDUKI, 1998. Edifcio habitacional do Pedregulho, tipologia diferenciada adaptada topografa da gleba. In: BRUAND, Yves. Arquitetura contempornea no Brasil. So Paulo, Ed. Perspectiva: p.231, 2003. Conjunto Vila Guiomar em Santo Andr. Espao modernista com lminas de apartamentos sobre pilotis. Uma das experincias dos IAPs em So Paulo.In: Bonduki, 1998. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 54 A atuao dos IAPs, apesar de relevante para poca, no atingiu a escala de centenas de milhares de unida- des a serem atingidas dcadas depois na atuao do BNH. Pode ser considerada, como uma fase experimental de aproximao de produo brasileira do modelo urba- nstico moderno na busca pela soluo e atendimento demanda habitacional para famlias de baixa renda. Entretanto, a validao ideolgica e poltica dos prin- cpios modernistas como soluo para o desenvolvimento habitacional nacional, remete construo de Braslia e de seu ideal, a aplicao e difuso de tais princpios para criao do paradigma espacial da habitao social em forma de grandes conjuntos remete atuao do BNH Banco Nacional da Habitao a partir da dcada de 1960. 1.4.3 BNH e o paradigma brasileiro do conjunto habitacional popular O Banco Nacional da Habitao (BNH) foi criado em 1964, logo aps o Golpe Militar, juntamente com o Sis- tema Financeiro da Habitao (SFH) e o Servio Federal de Habitao e Urbanismo (Serfhau) que possuam a fun- o de estruturar o desenvolvimento de polticas pblicas para habitao em nvel federal, bem como acompanhar e viabilizar sua implementao. Tal Sistema concentrou no BNH, que era um agente fnanceiro, poderes normativos e executivos das polticas habitacionais de mbito federal s quais se submetiam as municipalidades e que por ele eram fnanceiramente viabilizadas. Em 23 anos de atuao, de 1964 a 1986, foi responsvel pelo fnanciamento e produo de mais de 400 milhares de unidades habitacionais distribudas pelo pas. A produo dessas unidades era empreendida pelas Cohabs, e por algumas outras instituies como o Inoco- op. Sua atuao como regulador da produo empreen- dida pelas Cohabs, acabou por estabelecer a adoo de um padro nico espacial dessa produo largamente difundido pelo pas, criando um paradigma do conjunto habitacional modernista com soluo nica para a ques- to habitacional brasileira. O modelo-padro formador desse paradigma base- ado no projeto da cidade modernista proposto na Carta de Atenas e aplicado nas superquadras de Braslia, e tam- bm dos conjuntos europeus do entreguerras. Esses todos sofreram revises e distores como forma de solucionar o problema das altas demandas por habitao que devem ser atendidas com baixos custos construtivos e com rapi- dez de implantao. 55 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Com a construo em larga escala de conjuntos habi- tacionais padronizados pelo pas, o termo BNH, ao longo do tempo adquiriu outra conotao, remetendo a uma soluo tipolgica pr-defnida que se encontra enraiza- da no imaginrio popular. Quatro fatores, em especial, encontram-se subentendidos nessa sigla: 1. Empreendimentos imobilirios de grande porte, com no mnimo 500 unidades habitacionais. 2. Localizao perifrica, distante do centro ou em antigos vazios urbanos com porte avantajado. 3. Uso de frmulas limitadas de projeto tanto ur- bansticas quanto arquitetnicas. 4. Monofuncionalidade urbana predominncia habitacional. As frmulas limitadas de projeto se reduzem a dois tipos: os projetos verticais, com blocos de apartamentos, e os projetos horizontais, com casas unifamiliares. A tipologia vertical pr-defnida conta com blocos de apartamentos de volumetria semelhantes em h ou lminas - com quatro a cinco pavimentos cada um e sem elevador, implantados repetitivamente no terreno. As portas de ingresso para cada edifcio no se relaciona- vam diretamente com as ruas, encontrando-se voltadas para espaos internos s superquadras do conjunto. Os apartamentos apresentavam reas teis extremamente reduzidas com tipos de dois ou trs dormitrios. Os espaos livres desses conjuntos verticais eram sempre espaos coletivos, no compartimentados e no distintos, isto , espaos livres abundantes de domnio pblico, no hierarquizados e residuais da implantao dos edifcios. Outra caracterstica desses espaos livres era a falta de defnio e proposio de usos e de tratamento paisagstico especfco. Vista area do complexo de Conjuntos fnanciados pelo BNH nas dcadas de 1970 e de 1980 em Itaquera, So Paulo. Exemplo de implantao massiva do partido modernista. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 56 A segunda frmula que se tornou caracterstica da produo do BNH era baseada em unidades habita- cionais unifamiliares: as casas. O tipo de implantao predominante apresenta uma srie de casas geminadas com recuos frontais dispostas dentro de lotes individuais que conformam quarteires estreitos e compridos. Esse modelo remete a um padro de loteamento comum ci- dade tradicional que pode ser visualmente identifcado pela repetio infnita das guas dos telhados das unida- des. Se os quarteires longos e compridos de lotes pro- curam as solues mais bvias de projeto, as quadras que resultam de projetos habitacionais (verticais) revelam rea livre na poca de implantao do conjunto de Itaquera I em So Paulo. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 Espaos livres sem domnio defnido resultado da implantao repetitiva das lminas, em 2006, no Conjunto Jos Bonifcio Itaquera II, So Paulo. 2006 Tipologia unifamiliar comum da Cohab-SP na dcada de 1970, implantada no Conjunto Brigadeiro Faria Lima, na Zona Sul de So Paulo. Repetio de casas assobradadas geminadas. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 57 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS caractersticas padronizadas e com espaos condominiais muito pobres como reas de convvio. 68 Como afrma Amaral, ambas as tipologias apresen- tam defcincias na proposio de espaos urbanos. Os tipos verticais falharam na reproduo e adaptao de vantagens urbanas apresentadas pelo Modernismo em Braslia e nos conjuntos dos IAPs com a valorizao dos espaos livres coletivos, a implantao de equipamentos sociais e os avanos arquitetnicos e construtivos empre- gados nos projetos das unidades. J os tipos horizontais conseguiram reproduzir a forma de parcelamento padro de baixa qualidade da cidade tradicional brasileira, base- ada em lotes estreitos e compridos, com pouca variao das possibilidades de ocupao e espaos livres fragmen- tados, privados e residuais. Em ambos os casos, verticais e horizontais, verifca-se que o paradigma formal e funcional do conjunto do BNH promoveu o esvaziamento do projeto do bairro popular brasileiro, negando aos complexos habitacionais, por ele produzidos, o Desenho Urbano em toda sua complexi- dade e reduzindo tais espaos a um projeto de blocos, taludes e ruas de acesso. Na Regio Metropolitana de So Paulo, observou-se a predominncia de implantao da primeira frmula, a vertical, como modelo e paradigma da habitao popular que vem se arrastando nas ltimas cinco dcadas. Em estudos de caso, anteriormente citados, foi pos- svel traar quatro perodos distintos de implantao de conjuntos habitacionais balizados por esse modelo. 68 AMARAL, 1999. Principais esquemas espaciais dos conjuntos implantados pelo BNH em So Paulo. Espaos livres abundantes, tipologias repetitivas e monofuncionalidade. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 58 1.4.4 Modifcaes, distores e permanncias: quatro perodos Na histria da produo em grande escala dos con- juntos habitacionais, voltados para famlias de baixa renda na RMSP, pode-se observar a introduo de sutis modifcaes e/ou revises de cunho projetual/espacial no suceder dos planos habitacionais, projetos e governos. Dentro da trajetria de atuao de cada rgo Produtor Cecap 69 , Cohab e CDHU 70 - e at mesmo do Mercado Imobilirio, possvel se identifcar uma srie de momentos de introduo de mudanas no padro de ocupao. No caso da Cohab SP rgo responsvel por implantar programas habitacionais em So Paulo, desde a criao do BNH, em 1964, at a atualidade, em 2010 por exemplo, pode-se pontuar pelos menos trs mo- mentos ou situaes que diferenciam espacialmente sua produo de novas unidades habitacionais: 1. 1977-1988: BNH como agente fnanciador. De- vido ao estoque de grandes glebas estruturado nesse perodo, marcado pela produo de grandes conjuntos com milhares de unidades pa- dronizadas, localizados na periferia de So Paulo, ou em cidades vizinhas na RMSP, como so os casos dos conjuntos de Itaquera- Jos Bonifcio, Pe. Anchieta, e de Carapicuba Presidente Cas- telo Branco. 2. 1988-1992: Governo Luiza Erundina em So Pau- lo, quando os projetos assumem carter mais investigativo e experimental, com reduo do porte dos conjuntos e a criao de tipologias es- peciais. 3. 1990-2010: Atuao em parceria com a CDHU- SP na reurbanizao de favelas, regularizao e erradicao de cortios entre outros programas especfcos. O que representa a modifcao do escopo do trabalho, com produo de menor es- cala de unidades, pontual e com especifcidades de terreno e de tipologias edilcias. Acima so apenas exemplos dos diversos momen- tos da trajetria da Cohab-SP, ao longo de sua histria ,em que mudanas polticas infuenciaram no padro de ocu- pao dos conjuntos por ela produzidos. Tantos outros momentos podem ser identifcados para esse mesmo r- go, dependendo da referncia a ser utilizada. O mesmo ocorre para a produo dos outros rgos pro- motores CDHU, por exemplo e para a produo do Mercado Imobilirio. O objetivo neste trabalho no pontuar todos os movimentos de mudana e reviso do partido formal 69 Cecap - Caixa Estadual de Casas para o Povo, predecessora da CDHU no Estado de So Paulo 70 Tais rgos representam os prin- cipais Agentes produtores que se sucederam atuando no Estado de So Paulo e/ou municpio de So Paulo no decorrer de 1960 at 2010. 59 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS adotado na produo de grande escala dos conjuntos ha- bitacionais, mas sim identifcar os principais momentos, em que revises fundamentais foram introduzidas acar- retando numa melhoria ou numa piora signifcativa no padro dos projetos e da implantao efetiva dos conjun- tos. Dessa forma, identifcaram-se quatro momentos especfcos que representam movimentos de introduo e aplicao de modifcaes que provocaram revises qualitativas ou distores na forma de implantao dos conjuntos, ao longo das ltimas cinco dcadas de 1960 a 2010, englobando a atuao dos principais agentes pro- dutores no setor: 1. Do projeto modelo da Superquadra de SQS 308, no Plano Piloto de Braslia, para o Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos. 2. Do Cecap para a produo do BNH por inter- mdio da Cohab-SP e da CDHU at o incio de dcada de 1990. 71 3. Das Cohabs e da CDHU da dcada de 1990 para CDHU do ano 2000. 4. Da CDHU, da dcada de 1990, para a CDHU de 2000 e a produo do Mercado Imobilirio. Tais modifcaes podem ser de carter evolutivo, isto , revises no projeto introduzidas para melhorar ou resolver a soluo espacial de implantao dos conjuntos. Como, por exemplo, uma resposta formal aos problemas encontrados em conjuntos j existentes. Um caso tpico a diretriz implementada pela CDHU no fnal da dcada de 1990 72 que limita o nmero de unidades de cada em- preendimento para provocar um controle de porte dos conjuntos. Outras vezes, tais modifcaes acarretaram em distores do modelo, isto , modifcaes que resultaram na perda de qualidade ou piora dos projetos habitacio- nais, pela simplifcao do desenho arquitetnico e/ou paisagstico, visando ao empobrecimento e ao baratea- mento do custo de implantao desses conjuntos. 71 A passagem do projeto do Cecap Zezinho de Magalhes Prado para a produo da Cohab SP no obedece a uma ordem cronolgica linear. Na poca de implantao do Cecap, na dcada de 1970, a Cohab j apresen- tava alguns conjuntos em fase de projeto e implantao na RMSP. Essa passagem se justifca por seu carter de transio de proposta urbanstica e arquitetnica. 72 O Manual Tcnico de Projetos, lana- do pela CDHU em 1998, implementa a diretriz de limitao do nmero de unidades por conjuntos em 160 unidades habitacionais, nos Parme- tros e Diretrizes para Parcelamento, captulo 2.2 . CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 60 O modelo de partida: Superquadra Como modelo urbanstico original da produo habitacional modernista, que originaram as bases do partido adotado e difun- dido pelo BNH e por outros rgos de atuao posterior, adota-se a Superquadra SQS 308 do Plano Piloto de Braslia. So identifcadas as seguintes caractersticas fsico-espaciais e programticas aplicadas nesses espaos: Tipos arquitetnicos laminares blocos de apartamentos, com elevador, sobre pilotis e com estacionamento no sub- solo. Abundncia e predominncia dos espaos livres pblicos. Hierarquizao do sistema virio com ruas de trnsito local. Circulao de pedestres desvinculada do sistema virio, livre pelo solo pblico. Acessos mltiplos e individualizados aos espaos constru- dos e privados. Organizao das unidades habitacionais em Superquadras ou Unidades de Vizinhana com porte delimitado. Implantao de equipamentos sociais, servios e reas co- merciais de mbito local para cada Unidade de Vizinhana. Massas de vegetao de grande porte como estrutura deli- mitadora do espao das Superquadras. Edifcio laminar padro: pilotis, seis pavimentos com elevador e panos iluminados na fachada. 2004 61 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Esquemas referentes implantao da Superquadra original SQS 308 no Plano Piloto de Braslia. Org. Alexander Vilalln, 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 62 Do projeto modelo da Superquadra para o Cecap Zezinho de Magalhes Prado Esse primeiro momento de transio marcou a tra- duo fsico-programtica do partido modernista de empregado na Superquadra Modelo SQS 308 e valida- do como sinnimo de modernidade e desenvolvimento para o pas, para a frmula adotada como soluo de ha- bitao popular produzida em larga escala no Brasil, e particularmente, na RMSP. Tal transio caracterizada por muitos fatores de permanncia do partido original adotado, e algumas pou- cas revises e distores em decorrncia da adaptao para o empreendimento de baixo custo. Dentre as permanncias, encontram-se: a) Organizao do conjunto em unidades de vizinhanas, agrupamentos de unidades habita- cionais com dimenses predefnidas. b) Predominncia dos espaos livres sobre os espa- os edifcados. c) Totalidade dos espaos livres de domnio e aces- so pblico. d) Ocupao vertical, em lminas de apartamentos sobre pilotis. e) Previso e prvia distribuio entre unidades de vizinhana de equipamentos sociais e de lazer e reas comerciais. f) Previso de equipamentos sociais e de lazer para todo o assentamento; g) Espaos livres abundantes, penetrveis. h) Algumas reas livres com usos pr-defnidos es- portivos e de lazer, e restante das reas de uso indefnido. i) Percurso livre de pedestre entre quadras e lmi- nas de apartamentos. j) Acesso aos espaos privados das edifcaes, pon- tuais e variados, distribudos bloco a bloco. k) Sistema virio hierarquizado entre ruas estreitas de trnsito local entre unidades de vizinhana e intraunidades de vizinhana ruas de interli- gao interna do conjunto, e vias de maior porte de interligao entre o conjunto e o restante da cidade existente. 63 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Esquemas referentes implantao do Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos, So Paulo. Org. Alexander Vilalln, 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 64 Poucas so as revises introduzidas nessa transi- o que podem ser consideradas revises adotadas para permitir a transposio do modelo para a produo de habitao popular: a) Limitao de projeto arquitetnico das lminas de apartamentos em um projeto nico para via- bilizar a otimizao construtiva utilizando-se da pr-fabricao de peas de concreto. b) Reduo do nmero de pavimentos dos blocos de apartamentos de seis andares para trs anda- res, com a supresso do elevador para circulao vertical. Outras modifcaes podem ser consideradas como distores do partido original adotado na Superquadra do Plano Piloto. Apesar de serem modifcaes menos drsti- cas do modelo do que as modifcaes a serem apontadas nos momentos posteriores, essas distores j indicam o incio da trajetria de perda de qualidade e simplifcao do partido modernista na produo popular de grande escala. Essas distores so: a) Localizao perifrica dos empreendimentos e desconectada com a cidade pr-existente. b) Excluso do projeto de paisagismo, para trata- mento das reas livres, e a excluso das massas vegetais de grande porte, para estruturao e de- limitao espacial do conjunto. c) Excluso de reas de estacionamento privado ou destinado populao existente, alm da excluso desse uso de forma generalizada no as- sentamento. Distribuio interna da unidade habitacional padro do Cecap. 64m. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 Lmina de apartamentos padro. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 65 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Do Cecap para a produo do BNH - Cohab e CDHU em sua fase incial 73 A conexo do projeto do conjunto do Cecap Zezi- nho de Magalhes Prado, para os projetos da Cohab e da CDHU, na sua primeira fase de atuao fnal da d- cada de 1980, marca o momento de maior modifcao e distoro do partido original do projeto modernista para reas habitacionais. Comas 74 defne essa distoro em uma comparao entre as principais caractersticas fsico-programticas no projeto do Plano Piloto versus o projeto padro, implantado pelo BNH com a atuao das Cohabs. Por razes de mtodo, inseriu-se o Cecap como elo dessa transposio entre Braslia e BNH, pois tal projeto demarca a adaptao e passagem do projeto modernis- ta para o projeto voltado produo em larga escala de moradia popular. No entanto, o momento de maior modifcao e simplifcao do partido original se d jus- tamente com o incio da atuao do BNH por intermdio da Cohab-SP na RMSP. 73 Como primeira fase de atuao da CDHU, entende-se sua produo inicial no fnal da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990, caracteriza- da pela extenso e continuidade da produo da Cohab SP. 74 COMAS, 1986: pp.127-130. "caracIcrIsIIcas manIIdas pc|o BNH" "caracIcrIsIIcas modIIIcadas pc|o BNH" dlvlso proqramallca dos espaos blocos com um menor numero de andares - no lol adolado o uso do elevador selorlzao lunclonal dlsposlo da edlllcao lsolada no lerreno edlllclos apresenlam aparlamenlos lerreos e no eslo sobre pllolls dlssoclao da edlllcao com o desenho da rua o eslaclonamenlo de velculos se enconlra no nlvel dos aparlamenlos - em Brasllla, na malorla dos blocos, o eslaclonamenlo e no subsolo polarlzao enlre espao llvre publlco e espao conslruldo prlvado o espao llvre nao e lralado palsaqlsllcamenle espao llvre conllnuo, colellvo e lndllerenclado Quadro dc caracIcrIsIIcas manIIdas ou modIIIcadas a parIIr do dcscnho dc uma supcrquadra dc BrasI|Ia Imagem de um bloco de apartamentos padro da Cohab-SP na dcada de 1970 e de 1980. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 In: COMAS, 1986: p. 127-130 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 66 Entre o Cecap, localizado no municpio de Guarulhos, e a Cohab Itaquera II, localizada em So Paulo e adotada como exemplo, apontam-se as seguintes caractersticas fsico-programticas de permanncia: a) Localizao perifrica dos empreendimentos e desconectada com a cidade pr-existente. b) Excluso do projeto de paisagismo para trata- mento das reas livres, a excluso das massas vegetais de grande porte para estruturao e de- limitao espacial do conjunto. c) Predominncia dos espaos livres sobre os espa- os edifcados. d) Acesso livre de pedestre entre quadras e lminas de apartamentos. e) Acesso aos espaos privados edifcaes pon- tuais e variados bloco a bloco. f) Sistema virio hierarquizado entre ruas estreitas de trnsito local entre unidades de vizinhana e intraunidades de vizinhana ruas de interli- gao interna do conjunto, e vias de maior porte de interligao entre o conjunto e o restante da cidade existente. No projeto das Cohabs, e mais especifcamente da Cohab Itaquera II Jos Bonifcio , pode se identifcar caractersticas morfolgicas de funcionais que diferem da proposta do Cecap, mas no so consideradas distor- es do seu modelos por no induzirem a uma perda de qualifcao especial. Podem ser consideradas apenas caractersticas de reviso e adaptao do modelo a situa- es urbanas e polticas diferentes daquelas encontradas pela Cecap: a) Introduo de tipos arquitetnicos horizontais casas geminadas confgurando conjuntos de tipos mistos horizontais e verticais. b) Adoo de mais de um tipo arquitetnico vertical com a articulao pela caixa de escada das lmi- nas de apartamentos. c) Diviso do terreno em lotes privados para cada bloco de apartamentos ou casa, com defnio dos espaos livres entre pblico e privados. d) Introduo do uso de estacionamento para as reas livres, com o estabelecimento de bolses pblicos de vagas para automveis. 67 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Esquemas referentes implantao da Cohab Itaquera II Conjunto Jos Bonifcio, em Itaquera, zona leste de So Paulo. Org. Alexander Vilalln, 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 68 Das modifcaes consideradas distores ou simpli- fcaes do modelo modernista, apontam-se: a) No h o conceito de unidade de vizinhan- a agrupamento de nmero determinado de unidades habitacionais, comrcio e servios na lgica de implantao dos blocos de apar- tamentos e casas que passam a ser dispostos aleatoriamente pelo terreno. b) As glebas utilizadas apresentam relevo acidenta- do ou outras fragilidades naturais. c) Equipamentos sociais e comrcio so previstos em projeto, porm distribudos de forma alea- tria entre as unidades habitacionais em reas residuais do terreno. d) Edifcaes passam a ter o trreo ocupado por apartamentos, com a excluso das reas sombre- adas sob pilotis. e) H a diviso do terreno em lotes privados, que defnem o limite entre espao pblico e espao privado, apenas na forma cadastral, pois no existem ainda barreiras fsicas entre tais espaos. Esse o momento notadamente reconhecido pela perda de qualidade do espao urbano nos conjuntos habitacionais. A perda do conceito urbanstico de agrupa- mento dos prdios, em unidades de vizinhana com porte delimitado, equipamentos de lazer e comrcio destinado a um grupo especifco de moradores e outras simplifca- es, como a inexistncia do espao dos pilotis, sob os blocos, teve consequncias negativas na percepo do espao pelos moradores e sua apropriao, como espao urbano de qualidade, que ser exposto adiante. Na primeira dcada de atuao da CDHU, nota- -se o prolongamento do padro de ocupao da Cohab-SP com a implantao dos grandes conjuntos em reas perifricas da RMSP, enquadrando-se nesse perodo de transio do modelo modernista. 69 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Das Cohabs e da CDHU da dcada de 1990 para a CDHU do ano 2000 75 Outro momento de passagem e modifcao do mo- delo marcado pela transio interna e revises ocorridas dentro da prpria CDHU. Os primeiros conjuntos produzi- dos por esse rgo, em concomitncia com a produo da Cohab-SP, no fnal da dcada de 1980, ainda apresen- tavam caractersticas formais muito semelhantes entre si. Conjuntos de grande porte, com mais de 500 unidades, implantados em glebas distantes do centro da cidade que aproximavam morfologicamente o resultado da produo dessas duas Instituies. Com o encerramento das atividades do BNH em 1986, e o enfraquecimento da atuao das Cohabs nos anos consecutivos, observa-se que a CDHU desponta em todo o Estado de So Paulo e principalmente na RMSP como a maior produtora pblica de habitao popular urbana. Inicialmente, a produo em escala de CDHU apresentou caractersticas semelhantes s da produo da Cohab, quando ocorreram, nas dcadas de 1990 a 2000, modifcaes fsico-programticas e tambm no processo de gesto do espao dos conjuntos que foram signifcati- vas para a reestruturao espacial dos projetos. Tais modifcaes foram consequncia de uma revi- so da postura da CDHU, como uma tentativa de reviso do processo de projeto e implantao dos conjuntos, que culminou na publicao do Manual Tcnico de Projetos em 1998, como diretrizes e parmetros para o projeto dos empreendimentos. 75 Vale relembrar que a Cohab- SP uma Autarquia, ligada ao municpio de So Paulo, e a CDHU a Institui- o responsvel pela produo das polticas de habitao popular da Secretaria de Habitao do Estado de So Paulo. Tipo vertical padro da CDHU a partir de 1998. Caderno de Tipologias- Secretaria de Habitao do Estado de So Paulo, 1998. Tipo vertical padro da CDHU a partir de 1998. Caderno de Tipologias- Secretaria de Habitao do Estado de So Paulo, 1998. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 70 Em relao produo anterior, identifca como ca- ractersticas de permanncia: a) As glebas utilizadas apresentam relevo acidenta- do ou outras fragilidades naturais. b) Predominncia dos espaos livres sobre os espa- os edifcados. c) Diviso do terreno em lotes privados para cada bloco de apartamentos ou casa, com defnio dos espaos livres entre pblico e privados. d) Ocupao do trreo com unidades habitacionais. Como revises, em funo da mudana de postura dentro da CDHU, identifcaram-se: a) Reduo da dimenso dos terrenos dos empreen- dimentos. b) Reduo do porte dos conjuntos, com menor n- mero de unidades por empreendimento. c) Variaes dos tipos arquitetnicos verticais, alm dos blocos e lminas sem elevador e com poucos andares, surgem blocos de oito a 12 andares com elevador. d) Supresso do uso de tipos horizontais casas nas unidades habitacionais. e) Introduo de usos diversifcados para os espaos livres privados, como estacionamentos privativos e centros comunitrios; f) Excluso do sistema virio interno. Algumas modifcaes, infuenciadas tambm pelo processo de reviso da prpria CDHU, surgiram nos proje- tos da dcada de 2000, entre elas: a) Fechamento dos lotes privados com muros e gra- des. b) Predominncia dos estacionamentos privados so- bre toda a rea livre intralote. c) Limitao do nmero de acessos para um por agrupamento de blocos condomnio. d) Reduo e excluso da circulao de pedestres en- tre blocos de apartamentos. e) Monofuncionalidade de funes urbanas, somen- te habitacional, com a excluso de usos institucionais e comerciais. 71 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Esquemas referentes implantao da CDHU Sacom C, no Sacom, zona sul de So Paulo. Org. Alexander Vilalln, 2010 0 20m 60m CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 72 Da CDHU para a produo do Mercado Imobilirio A produo e os projetos de empreendimentos, vol- tados para as famlias com rendas populares feitos pelo Mercado Imobilirio, apesar de apresentar fns lucrativos, portanto, divergentes daqueles empreendidos pelo Poder Pblico, apresentam uma convergncia nos seus aspectos fsicos e espaciais. Por isso, a validade de comparao e de identifcao do partido adotado por esses projetos, com vis modernista em seus aspectos urbansticos. Entre a produo contempornea da CDHU, em 2010, e a produo do Mercado Imobilirio, identifcaram-se como caractersticas de permanncia: a) Reduo da dimenso dos terrenos dos empreen- dimentos. b) Reduo do porte dos conjuntos, com menor n- mero de unidades por empreendimento de 500 unidades ou mais para em mdia 160 unidades por agrupamento. c) Introduo de usos diversifcados para os espaos livres privados, como estacionamentos privati- vos, centros comunitrios e reas recreativas, tambm conhecidas como playgrounds. d) No h sistema virio interno. e) Fechamento das glebas e lotes privados com mu- ros e grades. f) Predominncia dos estacionamentos privados so- bre toda a rea livre intralote. g) Limitao do nmero de acessos para um aces- so por agrupamento de blocos, organizados em condomnios cercados. h) Reduo e excluso da circulao de pedestres entre blocos de apartamentos. i) As glebas utilizadas apresentam relevo acidenta- do ou outras fragilidades naturais. j) Predominncia dos espaos livres sobre os espa- os edifcados. k) Ocupao do trreo com unidades habitacionais. l) Unidades habitacionais com reas teis extrema- mente reduzidas, aproximadamente 48 m2 cada apartamento; m) Monofuncionalidade, uso exclusivamente habi- tacional, com a excluso de usos institucionais e comerciais; 73 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS Esquemas referentes implantao da Reserva Parque So Vicente, em Mau, So Paulo. Org. Alexander Vilalln, 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 74 As modifcaes espaciais, introduzidas nesses empreendimentos que podem ser consideradas como re- vises, so justamente caractersticas que se relacionam ao apelo de venda que esses empreendimentos devem ter. Tais caractersticas representam a releitura da produ- o da CDHU: a) Ampliao do programa de uso dos espaos livres privados com a introduo de reas especializa- das de lazer: churrasqueiras, piscinas, praas, dentre outras. b) Adoo de tratamento de fachada dos prdios de apartamentos com pinturas que se assemelham ao estilo neoclssico empregado usualmente pelo Mercado Imobilirio, aproximando sua identida- de com a da cidade cotidiana. c) Aumento considervel da rea de estacionamen- to que predomina sobre os usos dos espaos livres privados. Tipo vertical de cinco pavimentos padro da produo de Mercado empreendida pela MRV Engenharia S/A. www.mrv.com.br Tipo vertical padro da produo de Mercado empreendida pela ConstrutoraTenda S/A. www.tenda.com.br 75 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS 1.4.5 Principais distores e problemas do modelo paradigmtico O padro atual (2010) de ocupao, implantao e a produo de conjuntos habitacionais para famlias de rendas populares, derivados da trajetria de modifcaes do modelo urbanstico modernista, apresentam caracte- rsticas fsico-programticas que resultam em problemas e obstculos para a adequada apropriao desses espaos urbanos como espaos de moradia satisfatrios. Muitas dessas caractersticas foram herdadas como permanncias do modelo paradigmtico imposto pelo BNH em 1980, outras foram sendo agregadas ao longo dos perodos indicados anteriormente, resultando em distores e desqualifcaes do partido originalmente adotado pelo Cecap na dcada de 1970. Tais caractersticas desqualifcadoras podem ser or- ganizadas em grupos: 1) Caractersticas ambientais: Terrenos com fragilidades naturais, relevos des- favorveis e presena de reservas vegetais ou corpos dgua a serem preservados. Solos fragilizados ou facilmente erodveis. Orientao solar das edifcaes prejudicada pela casualidade ou incompetncia da implantao das edifcaes e pela proximidade entre prdios. 2) Caractersticas estruturais: As vagas de estacionamento localizadas prximo s janelas das unidades trreas tiram a privacidade de seus moradores, CDHU - Itaquera. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 76 Tipos arquitetnicos repetitivos e desvinculados do contexto de cada conjunto. Implantao de apartamentos trreos com jane- las e acessos voltados para os estacionamentos e passagens com perda da privacidade dessas uni- dades. Proximidade entre edifcaes, resultando em es- paos confnados, pouco visveis e prejudicando a privacidade dos apartamentos. Cercamento com muros e gradis de toda a rea do conjunto com desvinculao do espao inter- no com o espao pblico da rua. 3) Caractersticas dos espaos livres: No hierarquizados, residuais e fragmentados com poucas oportunidades efetivas de uso e apropriao pelo seu formato e dimenso. Espaos de passagem e circulao se encontram muito prximo dos blocos de apartamentos. Predominncia das grandes reas livres dedica- das s vagas de estacionamento. Cercamento com muros isolam as caladas e confnam e fragmentam os espaos livres privados. Tenda, 2009 Espaos livres pblicos residuais, abundantes, mal localizados e de difcil utilizao pelo estado de abandono caracterstica que persiste na Cohab Itaquera. 2006 77 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS 4) Funes urbanas: Espaos monofuncionais habitacionais. No so implantados espaos para usos institu- cionais, sociais e/ou comerciais. 5) Caractersticas de acessibilidade: Reduo das possibilidades de acesso do espao pblico para o privado, com controle de acesso por muros e guaritas concentrando em apenas um local a movimentao de pessoas. Acesso aos blocos de apartamentos desprotegi- dos de intempries. Espaos livres residuais com baixa visibilidade e nenhum uso defnido, destinados invaso privada ou ao abandono caracterstica que persiste na Cohab Brig. Faria Lima, 2004 Grandes estacionamentos ocupam a maior parte dos espaos livres privados contemporneos, com poucas possibilidades de apropriao por outros usos. Reserva Parque So Vicente, 2010. Fechamento executado por moradores para controle do acesso de pessoas s unidades. Pouca visibilidade da rua deixa inseguro que l habita caracterstica que persiste. Acervo Quap 2005 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 78 Acessos com pouca visibilidade, sendo considera- dos pouco seguros. Impossibilidade de atender acessibilidade universal pelo tipo arquitetnico sem elevador, corredores estreitos e circulaes com altas decli- vidades no espao livre. 6) Circulao e estacionamentos: reas de circulao de pedestres so confnadas e ocupam espaos residuais, pouco privilegiados e prximos s habitaes trreas. No h sistema de circulao de veculos hierar- quizado. Estacionamentos ocupam maior parte das gle- bas, resultando em espaos livres pavimentos e ridos. Reduo das possibilidades de acesso aos espaos privados, fechamento na organizao condominial, em Mau, 2010. Circulao de pedestre confnada, pouco visvel e de largura inadequada, na Reserva Parque So Vicente. 2010 79 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS 7) Conexo com o entorno e aspectos simblicos: Conjuntos representam barreiras de integrao com o entorno por causa dos seus muros e sua desvinculao do espao pblico com o fecha- mento dos espaos privados. Rompem com a paisagem existente com sua mo- notonia e repetio de tipos desfamiliarizados com a populao. O modelo original difundido pelo BNH propunha que a cidade fosse implantada dentro de um parque, porm as distores assumidas na sua produo, para viabilizar economicamente os empreendimentos, ocasionaram a perda de qualidade espacial desses conjuntos e o distan- ciaram do modelo modernista almejado. A predominncia de espaos livres urbanos e pbli- cos, apresentados em Braslia e defendidos na Carta de Atenas como espaos de sociabilizao, que promovem a redeno da cidade tradicional, capitalista, cindida em lotes privados, mostrou-se pouco efciente como elemen- to qualifcador do espao urbano proposto nos conjuntos habitacionais populares, devido ao seu processo de ba- rateamento, simplifcao e distoro, aqui apresentado. Uma composio desejvel de reas livres requer um repertrio mais complexo e hierarquizado de espaos que no se limitam ao cenrio do parque indefnido. Este, para ser um espao de convvio bem-sucedido, necessita- ria de uma srie de outras caractersticas morfolgicas e funcionais que no so agregadas aos projetos habitacio- nais populares. O suporte natural das glebas utilizadas outro ele- mento que difculta a implantao desses conjuntos, provocando distores no modelo moderno. Esse ltimo, para ser plenamente implantado presumia um terreno plano, ou quase plano como o de Braslia, e o de Gua- Desconexo e ruptura entre os conjuntos e o entorno caracterstica que persiste. Parque do Gato, So Paulo. Acervo Quap 2005 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 80 rulhos, onde est o Cecap Zezinho de Magalhes com predisposio para modifcaes estruturais, como se fos- se uma tela em branco. A realidade que so terrenos com relevos diversos e em geral acidentados que necessi- tam de grandes movimentaes de terra para a formao de plats que abrigam os blocos de apartamento padro e impossibilitam a implantao de espaos livres cont- nuos. Alm do relevo, as caractersticas naturais das glebas, com seus corpos dgua crregos e nascentes e suas reas de preservao delimitam e difcultam a implan- tao do projeto como um todo, que por sua totalidade impossibilitado de se adaptar e respeitar tais recursos naturais. 76 Em conjunto com as distores do modelo urbans- tico, encontram-se as limitaes na proposio de tipos arquitetnicos que so os elementos de composio do espao dos conjuntos que mais persistem, desde o ini- cio de sua produo em escala, na dcada de 1970, que engessam as solues de implantao e condenam a populao a habitar em unidades de dimenses extrema- mente reduzidas. Segundo Comas 77 , o conjunto de apartamentos do BNH no passa da verso abastardada, por injunes eco- nmicas especulativas, do tipo ideal de moradia que sua formao (da intelligentsia arquitetnica brasileira) e que a superquadra de Braslia materializa. 76 As glebas destinadas implantao dos conjuntos populares, tanto na dcada de 1970 quanto em 2010, so em geral os terrenos mais desvalori- zados da mancha urbana, em geral perifricos. Por isso, apresentam caractersticas fsicas mais frgeis, que difcultam a implantao de qualquer espao urbano e por isso se apresen- tam com baixo valor de troca para o Mercado Imobilirio. 77 COMAS, 1986 . Planta padro do apartamento do Inocoop da dcada de 1970. Acervo Quap, 1974 Planta apartamento padro da CDHU. Caderno de Tipologias, 1998 Planta apartamento padro da Construtora Tenda. www.tenda.com.br 81 DESENHO URBANO, FORMA URBANA, ESPAOS LIVRES E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS A distoro do modelo modernista e seu discurso sublinhada no somente por Comas, mas tambm por uma srie de outros autores que se dedicaram ao estudo do modernismo, entre os quais se destacam Kopp 78 . Ao tratar de justifcar a crtica ao modernismo e sua aplica- o no perodo ps-guerra, Kopp frisa que tais crticas no se aplicam aos conjuntos e projetos originais e fis aos princpios pregados durante os CIAMs. A crtica aos espa- os urbanos estreis, vazios, indiferenciados, arquitetura hostil e repetitiva se aplica justamente aos projetos que se desviaram do modelo original que defendia o avano tc- nico e a racionalizao da arquitetura e a sociabilizaao dos espaos livres urbanos. Verso abastardada, termo utilizado por Comas para se referir aos conjuntos do BNH, tambm signifca a verso ilegtima do modelo, aquela que fugiu de todos seus preceitos. Portanto, o espao herda caractersticas do modelo modernista sem conseguir reproduzir seu contex- to tanto de produo do espao urbano total referenciado por Lang 79 caso de Braslia quanto no seu contexto histrico e social referenciado por Kopp. A desfgurao do modelo se deu na passagem da Superquadra para a produo em escala do BNH, e vem sendo aprofundada at 2010, com uma sucesso de revi- ses que o distorcem e o modifcam em uma tentativa de adequ-lo realidade imposta pela cidade existente. Parte da inconformidade desse tipo de produo ocorre em funo da implantao de um empreendi- mento concebido sob os preceitos modernistas em uma cidade regulada pelo Capitalismo em que toda e qualquer movimentao, sobre o solo urbano, deve ser feita pelo parcelamento do solo em lotes. Existe, ento, um padro cultural arraigado da forma fragmentada do espao urba- no e sua diviso em lotes, com valorizao da propriedade privada e da expresso individual. Ao contrrio da cidade convencional, onde esta a unidade geradora de forma urbana construda, nos con- juntos habitacionais, o lote delimitado, na maioria das vezes, aps a implantao das edifcaes no terreno, como forma apenas de adaptar esse tipo de produo regulamentao da cidade existente. a sobreposio entre uma forma de produzir o espao urbano por um desenho total, e a cidade que produzida e gerida em fragmentos. Tal sobreposio combinada com o pro- cesso de desfgurao e empobrecimento do modelo urbanstico modernista original que ocasionam a forma de ocupao atual dos conjuntos produzidos tanto pelo Poder Pblico quanto pelo Mercado Imobilirio. Em 1986, Comas 80 antecipa: Quando, por impossi- bilidade de um controle completo do projeto urbano, os princpios modernistas forem institucionalizados em regras matemticas 81 aplicadas a um tecido urbano existente[...] a construo do espigo se tornar inevitvel e os espaos 78 KOPP, 1990:captulo 1. 79 LANG, 2005. 80 COMAS, 1986: p. 16. 81 Padres de ocupao do solo impos- tos pelo zoneamento e pelos cdigos de obra. Interpretao da autora. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 82 abertos residuais junta trama viria urbana um fenme- no banal. A cidade tender a transformar-se numa coleo de intervenes singulares aleatoriamente justapostas. A reduo da paisagem urbana harmonia monocrdia que no admite desvio (a cidade modernista) ser substituda pela cacofonia desorientadora da mais desbragada permis- sividade. Esse cenrio exige maior preciso dos projetos para que seja possvel na escala do Desenho Urbano resolver e/ ou amenizar a contradio espacial criada pela sobreposi- o desses dois modelos de produo do espao urbano. Para isso, entende-se que seja necessrio o estabeleci- mento de critrios de qualidade para desenho do espao urbano habitacional que incluam, desde a escala de im- plantao dos conjuntos na cidade, at solues na escala do pedestre, como a posio dos acessos s edifcaes. Tais critrios deveriam ser conhecidos pelo corpo tcnico que tem como objeto de trabalho a cidade e seus conjun- tos habitacionais arquitetos e engenheiros, planejadores e paisagistas e devem ser cobrados e implementados pelas entidades reguladoras que representam o Poder P- blico.
INTRODUO CAPTULO 2 Critrios para projeto e anlise de reas habitacionais e seus espaos livres 85 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES Revalorizando-se um urbanismo de rua, praa, qua- dra, bairro, ptio e quintal, prope-se que o projeto da habitao de baixa renda passe a ser encarado como o pro- jeto do bairro popular, positivamente integrado cidade em cujo territrio se assenta. 82 A defnio de critrios para projeto e anlise de reas habitacionais por meio do Desenho da Paisagem Urbana, justifca-se pelo entendimento da necessidade de bem distribuir os espaos livres urbanos qualifcados, infra-estruturas e equipamentos de forma que todos os usurios possam deles usufruir. Dessa forma, benefcios ambientais e espaciais so distribudos pela populao de maneira socialmente justa. Estabelece-se assim um princpio fundamental de equilbrio qualitativo entre os espaos urbanos distribudos nos mais variados setores da cidade, independentemente de sua localizao ou do grupo populacional que deles usufruem, que deve guiar a produo do espao urbano das cidades. As reas habitacionais ocupadas por famlias com rendas populares so, em So Paulo, notadamente reconhecidas pela precariedade de seus espaos livres ur- banos ruas, praas, largos e quintais que muitas vezes so inexistentes ou so inadequados nas suas dimenses formais, funcionais, estticas e ambientais. Ou seja, ob- serva-se a predominncia de ruas e caladas estreitas, em ms condies de conservao, e poucas praas e parques, sendo que os exemplos existentes nem sempre so bem projetados, alm de altas taxas de ocupao do lote e bai- xas taxas de permeabilidade que acabam por caracterizar parte dessa precariedade no espao privado da moradia. 82 COMAS, 1986: p.10. Via principal em Itaquera, prxima a empreendimentos da Tenda e da CDHU. Espaos livres do bairros so as ruas e suas caladas estreitas. 2010 Os agentes que atuam diretamente sobre tais reas habitacionais so, em 2010, o Poder Pblico e o Merca- do Imobilirio. Sua atuao assume vrias formas, como legislao e normatizao por parte do Poder Pblico, e CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 86 comercializao de imveis, especulao imobiliria por parte do Mercado Imobilirio. Identifca-se, porm, que a forma mais corrente de interferncia desses Agentes nos bairros perifricos habitacionais descritos por meio da produo dos conjuntos habitacionais verticais que ocu- pam os terrenos ainda vagos que ali existem. nessas vizinhanas como uma forma de habitao mais qualifcada, oferecendo maior quantidade de espaos de convivncia adequados para seus moradores. Contudo, observa-se que a implantao desses em- preendimentos no tem contribudo para a melhora desses bairros predominantemente residenciais, apre- sentando defcincias espaos livres amorfos de difcil apropriao, unidades habitacionais de dimenses muito reduzidas, entre outros - dentro do seu limite espacial, a fronteira do lote, e na sua relao com o entorno existen- te. Em vermelho, muro que delimita rea de lanamento do mais um empreendimento do Mercado Imobilirio Construtora Tenda prximo a conjuntos da CDHU, em Itaquera.2010 Esses conjuntos, pelo seu porte avantajado que to- mam grandes lotes e pela sua baixa taxa de ocupao do solo que resulta numa maior disponibilidade de reas livres, poderiam promover a requalifcao dos espaos urbanos dessas reas habitacionais tendo como base sua integrao com o entorno costurada pelo espao livre. Alm disso, tais conjuntos poderiam ser estabelecidos Ruptura morfolgica na disponibilidade de espaos livres na comparao entre conjuntos habitacionais empreendidos pela CDHU, empreendimentos do Segmento Econmico, representado pela Tenda, e o restante da ocupao da cidade produzida de forma convencional casario no Campo Limpo. 2010 87 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES Parte dessa defcincia, em produzir espaos habita- cionais de qualidade, reside no prprio contexto em que se insere a produo habitacional popular brasileira e os fatores determinantes que ele impe. O atendimento demanda por habitao popular 83 induz a ocupao de alta densidade populacio- nal dos terrenos disponveis na cidade, se comparados coma densidade mdia de ocupao de outros bairros, tambm predominantemente residenciais da cidade, ou at mesmo de seu prprio entorno, em busca de melhor aproveitamento quantitativo desses terrenos e de uma re- duo de custo da unidade habitacional. 84
Para atingir essas densidades mais altas, prximas de 550 habitantes por hectare 85 , os tipos construtivos adotados tanto pelo Poder Pblico valendo-se da CDHU quanto pelo Mercado Imobilirio se concentram nos blocos de apartamentos de cinco andares sem elevador, e solues construtivas padronizadas que permitem a sua repetio nos mais diversos terrenos e desoneram os em- preendimentos de custos com projetos de arquitetura, estrutura e instalaes prediais. Outro fator determinante comum a indispo- nibilidade de glebas bem localizadas com dimenses sufcientes para implantar esses empreendimentos. Ge- ralmente, as glebas disponveis se localizam em regies muito distantes das reas mais bem equipadas da cida- de, o que ocasiona o aumento do custo e do trabalho de extenso de redes de infra-estruturas e de implantao de equipamentos urbanos; ou em stios com muitas fra- gilidades naturais reas de crregos e nascentes, reas de preservao, ou relevo muito acidentado - que exigem ou exigiriam o maior cuidado na implantao das edifca- es. Tantos limitadores acabam por desviar o foco des- sa produo da qualifcao dos espaos livres urbanos de tais empreendimentos para focar o atendimento s exi- gncias econmicas da implantao dos conjuntos e sua viabilidade sobre terrenos pouco receptivos. Contudo, existem critrios de qualidade espacial que deveriam ser atendidos na produo habitacional popular e/ou de inte- resse social, e deveriam se sobrepor aos fatores limitantes mais urgentes, para focar-se na produo de espaos ur- banos habitacionais de qualidade, tendo em vista que o ato de morar vai muito alm das atividades exercidas dentro de um apartamento. O conceito de habitar, alm de hbitos vitais que cos- tumam ocorrer dentro do abrigo - dormir, alimentar-se, lavar-se, engloba hbitos de socializao que ocorrem em geral nos espaos que o circundam, no caso, os espaos livres. Esses hbitos so: a convivncia entre pessoas, o lazer, a circulao diria e outras atividades essenciais li- gadas ao cotidiano, como o trabalho, ir s compras, entre outros 86 . 83 O termo habitao popular se refere habitao produzida para as famlias com renda populares de zero a dez salrios mnimos, que inclui desde o atendimento s famlias com renda de zero a trs salrios mnimos (produo de Interesse Social), at aquelas que possuem uma renda considervel de dez salrios mnimos mas que no fazem parte da classe mdia, por isso, o termo popular. 84 As densidades mdias populacionais encontradas no entorno horizontal dos Conjuntos Habitacionais estuda- dos, varia de 100 a 250 habitantes por hectare, enquanto que nas reas ocupadas predominantemente por conjuntos verticais, atingem-se densidades que variam de 450 a 650 habitantes por hectare. 85 A densidade mdia de conjuntos na Zona Leste de So Paulo, como o caso dos conjuntos Itaquera I e II, gira em torno dos 550 habitantes por hectare. 86 SANTOS, em seu estudo de caso do Catumbi, Rio de Janeiro, refor- a a ideia de que habitar engloba mltiplas funes alm das ativida- des bsicas de sobrevivncia que se passam no espao ntimo e interno da moradia, 1986. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 88 As economias adotadas, no momento de implanta- o dos conjuntos, muito distorcem o padro urbanstico modernista usado nas Superquadras de Braslia, e refor- am o distanciamento entre espao urbano oferecido nos conjuntos habitacionais e aqueles espaos conhecidos pela populao e encontrados na cidade pr-existente. A aquisio de glebas de baixo custo, a simplifcao ou ausncia dos projetos de arquitetura e paisagismo e a inadequao dos tipos padro aos terrenos disponveis, acarretam em custos mais elevados de terraplanagem e extenso das redes de infra-estrutura ou de manuteno e integrao desses espaos na cidade, em momentos posteriores, alm de prejudicar a qualidade dos espaos livres resultantes dessa implantao. Nesse contexto, entende-se que seja necessrio esta- belecer critrios de projeto, que podem tambm auxiliar na anlise dos empreendimentos existentes, e que dire- cionem a produo em vista de superar as distores e as inefcincias desses espaos anteriormente indicadas. Espao proposto na Superquadra habitacional do Plano Piloto de Braslia. Aplicao de conceitos modernos na sua integridade.In: WISNIK, Guilherme. Lucio Costa entre o empenho e a reserva. So Paulo, Ed. Cosac & Naify: p.104, 2001. Espaos proposto na Cohab Itaquera I em So Paulo. Repetio de tipos, simplifcao formal e funcional. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1989. 89 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.1 Espaos livres e apropriao Projetar espaos habitacionais idealizar os espaos do cotidiano. Como atividades cotidianas mais comuns que se do nesses espaos citam-se: os percursos dirios entre casa e trabalho ou casa e escola; conversar com os vizinhos; brincar e jogar; passear com o animal de esti- mao; caminhar ou praticar esportes; lavar o quintal, o carro, ou varrer a calada; ir s compras, esperar pelo ni- bus, entre tantas outras atividades que se repetem com mais ou menos frequncia na vida diria. Gehl 87 defne trs tipos de atividades que acontecem nos espaos livres e que devem ser atendidas: atividades necessrias, atividades opcionais e atividades sociais ou resultantes. Por estas entende-se: 1. Atividades necessrias: so as tarefas e afazeres cotidianos obrigatrios que geralmente so aes baseadas em percursos e caminhadas, como ir escola ou ao trabalho, fazer compras, esperar pelo nibus e varrer o quintal. Essas atividades ocorrem com grande frequncia independente- mente da qualidade dos espaos das caladas e das ruas existentes. 2. Atividades opcionais: so atividades ...em que se participa quando se h vontade ou se o tempo e o lugar permitem... 88 Isto , so aes que podem ou no ocorrer no cotidiano ,sendo diretamente infuenciadas pela qualidade dos espaos exte- riores. Esses ltimos tm o poder de estimular sua ocorrncia ou de repelir essas atividades. Das atividades listadas so opcionais: passear, tomar sol, descansar ou ler ao ar livre, contemplar, cor- rer, entre outras. Tais atividades so cotidianas, mas no so obriga- trias e podem ocorrer com menor frequncia que as atividades necessrias. Elas podem ser desempenhadas individualmente, independentemente da existncia de outras pessoas ou vizinhos no mesmo espao externo. 3. Atividades sociais ou resultantes: depende da presena de um grupo de usurios para ocorrer. tambm chamada de resultante, j que exis- tem muitas vezes em decorrncia das atividades necessrias ou opcionais em situaes de au- mento de seu tempo normal de durao. Essas atividades mais usuais, ao se prolongarem, per- mitem o encontro de pessoas que resultam em uma atividade social. O aumento do tempo de permanncia no espao exterior est diretamen- te vinculado qualifcao desses espaos; assim, espaos livres de boa qualidade propiciam as ati- vidades sociais, como conversar com os vizinhos, brincar, jogar. 87 GEHL, 2006:pp. 17-22. 88 GEHL, 2006:p. 17. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 90 As atividades sociais se produzem de maneira espontnea, como consequncia direta das pessoas que pe- rambulam e ocupam os mesmos espaos. Isso implica que as atividades sociais se reforcem indiretamente quando se proporciona melhores condies nos espaos pblicos para as atividades necessrias e opcionais. 89 Esse ltimo tipo de atividade o mais desejado para se desenvolver nos espaos livres dos conjuntos habitacio- nais e nos espaos livres dos tecidos urbanos residenciais como um todo, por ser capaz de promover a apropriao dos espaos livres coletivos pela comunidade que ali vive. Os espaos livres mais comumente encontrados em So Paulo que suportam tais atividades, foram elencados por Macedo e Queiroga como espaos de prticas sociais pblicos 90 : praas, parques, calades, campos de fute- bol, caladas, ruas, avenidas, vielas, alamedas, escadarias e becos, canteiros centrais e rotatrias, taludes e terrenos baldios; alm dos espaos privados com ou sem uso cole- tivo: quintais, jardins e ptios. Os espaos livres ligados ao uso habitacional so espaos que podem servir de suporte vida cotidiana fa- miliar e privada ou vida cotidiana da esfera pblica e coletiva. Por espaos de esfera pblica, adota-se o concei- to formulado pelo Quap SEL 91 referenciado em Arendt 92
e Habermas 93 , no qual se incluem na esfera pblica os espaos livres onde ocorrem atividades e vivncias de cunho coletivo, sendo esses espaos de propriedade pri- vada ou no. O espao livre pblico por excelncia o espao da vida cotidiana urbana, principalmente, aquele que se entremeia e conforma os tecidos urbanos predominante- mente residenciais. So esses espaos livres que conferem qualidade urbana ao espao dos tecidos urbanos resi- denciais em geral e, mais especifcamente, dos conjuntos habitacionais que inicialmente so grandes ocupaes monofuncionais. Dessa forma, evitando que esses lugares sejam simples assentamentos humanos e lhe conferindo a situao de espao urbano qualifcado. Por qualidade urbana, entende-se a dotao dos espaos livres para su- portar atividades e situaes ligadas vida nas cidades. So situaes de circulao pelo bairro e entre bairros, de encontros sociais, de percurso at o trabalho ou escola. Resumindo: funes notadamente citadinas que acon- tecem em espaos livres. Eles so em parte responsveis pela criao do contexto urbano, onde os conjuntos se inserem, caso contrrio, na ausncia de sua qualifcao desliza-se o conceito de urbano para a ideia de assentado em lugar prximo ou no muito com cara de urbano. 94 Muitas vezes, os espaos livres pblicos e coletivos so reas com funes complementares aos espaos edi- fcados e privados e, por isso, devem ser adequados para esses usos complementares. No caso da habitao popu- lar, com suas unidades habitacionais de dimenses to reduzidas 95 , espera-se que os espaos livres pblicos e privados complementem ou permitam outros usos que no podem se dar dentro dos apartamentos. A relao 89 GEHL, 2006:p. 20. 90 MACEDO, 2009:pp. 75-76. 91 Laboratrio da Paisagem do Depar- tamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo: Quadro do Paisagismo no Brasil Sistema de Espaos Livres Quap SEL. 92 ARENDT, Hannah. A condio huma- na (1958). 5 Edio. Rio de Janeiro: Forense Univesitria; In: QUEIROGA, 2009:84-99; 93 HABERMAS, Jrgen. Mudana Estru- tural da esfera pblica: investigaes quanto a uma categoria da socieda- de burguesa (1962). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984; In: QUEIRO- GA, 2009:84-99; 94 MAGNOLI, 2006: p. 160. 95 A produo habitacional de inte- resse social fnanciada pelo Poder Pblico por intermdio da Caixa Econmica Federal ou de qualquer outra instituio que utiliza sua linha de crdito tem, em geral, delimitada a dimenso mxima que as unidades habitacionais podem ter. No caso do Programa Minha Casa Minha Vida, as unidades de interesse social produ- zida para famlias com rendas de at trs salrios mnimos devem ter no mximo 32 ou 37m , dependendo do tipo. J os tipos verticais apresentados pela CDHU, a rea mxima encontra- da de 51,77m. 91 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES de complementaridade tambm deve ocorrer em funo dos espaos livres existentes no entorno. A oferta de no- vos espaos na implantao dos conjuntos habitacionais pode tanto se apoiar em espaos j existentes no entorno, quanto melhorar a oferta de espaos livres com funes mais especfcas de lazer, por exemplo. Ressalta-se que comumente o entorno dos conjuntos habitacionais loca- lizados em reas mais perifricas de So Paulo, apresenta poucos espaos livres coletivos qualifcados. Nesse caso, exigir-se-ia da implantao de novos empreendimentos uma maior participao na complementao desses es- paos. Deve-se tambm considerar o pblico a que se des- tinam certos espaos livres para determinar seus critrios de avaliao e/ou projeto. Bairros ou trechos de bairros com populaes residentes compostas por jovens fam- lias com flhos, assim como por famlias com rendas mais populares, podem demandar mais espaos destinados recreao e convivncia ao ar livre do que bairros onde reside uma populao mais idosa. Nesses casos possvel que a demanda por espaos de caminhadas e contem- plao seja maior, assim como em reas ocupadas por famlias de maior renda, as quais podem e costumam gastar seu tempo livre com atividades pagas ou fora da cidade. Nesses ltimos casos, o espao livre urbano pode assumir uma funo mais contemplativa, ou pode abrigar atividades de percursos menos densas de usurios. Espaos livres prximos s unidades habitacionais podem assumir usos complementares queles possveis dentro dos apartamentos. Varal construdo pelos moradores do Itaquera II, em So Paulo. 2005 Crianas e jovens demandam espaos para recreao e encontro de amigos. Escadas, guarda corpos so apropriados para o encontro dos jovens. Itaquera II, So Paulo, 2005 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 92 No h frmulas para espaos de sucesso, mas sim, critrios que conduzam tal espao para seu uso ou apro- priao. H tipos de espaos livres mais utilizados e mais facilmente apropriados pelos seus usurios que outros ti- pos que so completamente esquecidos pela populao. H ainda espaos livres que passam por profundas modi- fcaes empreendidas pela populao para que possam ser fnalmente utilizados. Por apropriao dos espaos, entende-se o ato de tornar prprio ou sentir-se responsvel pelo espao livre coletivo. Quando os usurios se apropriam de determina- dos espaos coletivo, signifca que h uma identifcao e uma proximidade com tais espaos, o que justifca publi- camente sua existncia e propicia seu uso, fazendo com que esse se torne parte do cotidiano da populao. Tal processo pode ocorrer em espaos qualifcados paisagisti- camente ou no. Muitas vezes, espaos livres so atrativos para apropriao, no porque sejam qualifcados, mas porque h uma falta geral de espaos livres de qualidade, tornando-os a nica opo disponvel. Nem todo processo de apropriao deve, porm, ser interpretado de forma positiva. Existem comportamentos e exemplos concretos de invaso de espaos livres pblicos e sua anexao ao espao privado, ou mesmo de ocupao de certas reas por grupos de pessoas mal intencionadas e excludentes. Obviamente que o processo de apropriao aqui descrito e almejado no se trata dessas verses, mas sim da apro- priao que estimula o uso coletivo, e no a privatizao do pblico. O principal objetivo em estabelecer critrios para o projeto dos espaos livres urbanos e coletivos nos conjuntos habitacionais populares e seu entorno , ento, permitir que a populao usuria se aproprie desses es- paos, dotando-os de caractersticas que incentivem sua apropriao e seu bom uso. 96
reas ocupadas por grupo de adultos e idosos demandam espaos para caminhadas e encontros de vizinhos para conversas. Conjunto Natingui, em So Paulo. 2004 96 Lynch elenca as formas de apropria- o ou controle pouco desejveis dos espaos urbanos em Good City Form. Para mais referencias sobre o caso especifco de conjuntos habitacionais ver Benvenga, 2006 In Paisagem e Ambiente: ensaios. 93 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.2 Critrios vigentes: Manual de Projetos e Paisagismo da CDHU e os Parmetros de projeto e localizao do PAC 97 - Minha Casa Minha Vida Os critrios de projetos vigentes em 2010, sobre a produo dos conjuntos habitacionais populares para famlias com at dez salrios mnimos de renda, so estipulados e enumerados pelos rgos promotores e fnanciadores dessa produo, que neste estudo se con- centram na CDHU e na Caixa Econmica Federal por meio do PAC Minha Casa Minha Vida. Ambas as instituies estabelecem critrios mnimos de projeto e recomen- daes que os empreendimentos fnanciados por eles devem seguir. A CDHU publicou, em 1998, um Manual de Projetos que rene tais recomendaes. Esse mesmo manual so- freu uma reviso em 2008, quando se anexou o Manual de Paisagismo. 98 Sua aplicao direcionada para todos os empreendimentos padro desenvolvidos ou promovidos por tal rgo, a partir de 1998. Entende-se por empreen- dimento padro todos aqueles conjuntos e/ou unidades habitacionais produzidas com novas unidades em terre- nos antes desocupados, em geral baseados no sistema de Empreitada Global, Parcial ou Chamamento Empresa- rial; excluindo-se os projetos especiais desenvolvidos em urbanizao de favelas, cortios ou reas de riscos que requerem condies diferenciadas para sua produo. Este manual[...]visa orientar a elaborao de proje- tos para a CDHU, reunindo as informaes relacionadas produo de projetos habitacionais, estabelecendo pro- cedimentos, diretrizes tcnicas e normas de apresentao, de forma a oferecer o maior nmero de insumos a todos os profssionais envolvidos. As diretrizes, normas e padres neles estabelecidos so exigncias mnimas extradas das legislaes, da prtica de projetos desenvolvidos ao longo dos anos da existncia dessa Companhia e de estudos rela- cionados ao bom desempenho dos espaos construdos. O Manual de projetos no pretende substituir a responsabili- dade profssional nem o compromisso social dos projetistas com seus projetos e com a produo habitacional de inte- resse social. 99 Esse documento abrange, alm das diretrizes e par- metros de projeto, todo o processo de padronizao dos desenhos e tabelas que devem ser apresentados para a CDHU no momento de sua aprovao. Aplicam-se ao estudo de Desenho Urbano e espaos livres de reas habitacionais as recomendaes feitas nos captulos: 1. Programa de Projeto de Urbanismo. 2. Projeto de Urbanismo e Terraplenagem. 3. Projeto de Paisagismo. 97 Programa de Acelerao do Cresci- mento programa federal inciado em 2007 para promover por meio de inje- o macia de investimentos pblicos a acelerao da economia. 98 Nessa reviso publicada, em 2008, foram tambm revisadas recomenda- es para os projetos complementares de hidrulica, eltrica e gs, alm de serem revisadas normas de apresenta- o de plantas. 99 Manual Tcnico de Projetos, 2008: p.6. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 94 O captulo Programa de Projeto de Urbanismo trata de sistematizao de necessidades funcionais e sociais 100 que devem ser contempladas nos proje- tos. Recomenda-se a anlise diagnstica da rea a ser ocupada com o levantamento de dados histricos e socioeconmicos do municpio onde se insere; a in- sero urbana do terreno, incluindo a disponibilidade de equipamentos urbanos, rede viria e de transpor- tes existentes; e as caractersticas geomorfolgicas da gleba relevo, corpos dgua e vegetao. Com esse levantamento, considerando o perfl socioeconmi- co da populao, alvo do empreendimento, a CDHU recomenda que se escolha a tipologia da habitao que dever ser adotada 101 que deve se adequar ao suporte fsico existente e aos custos das unidades ha- bitacionais pretendidos no empreendimento. Devem tambm defnir-se quais equipamentos pblicos devem ser implantados nesse conjunto e seu dimensionamento em rea e quantidade. Nota- -se que no h nenhuma recomendao de como devem ser escolhidas as tipologias das edifcaes, dentro daquelas apresentadas pelo Caderno de Ti- pologias da CDHU. Existem opes de edifcios mais altos, conjugados, sobre pilotis ou com apartamentos trreos, porm no dado nenhum direcionamen- to de como escolh-los em funo do suporte fsico existentes, ou da densidade populacional almejada, por exemplo. 100 Manual Tcnico de Projetos, 2008: p.3. 101 Tal tipologia dever se escolhi- da dentro das opes dadas no Caderno de Tipologias da CDHU disponvel no site: www.habitacao.gov.sp.br Imagem da fachada de um dos edifcios padro do Caderno de Tipologias de CDHU. Secretaria de Habitao 1998 Imagem da fachada de um dos edifcios padro do Caderno de Tipologias de CDHU. Secretaria de Habitao 1998 95 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES O captulo de Projeto de Urbanismo e Terraplana- gem expe o princpio de que: A urbanizao de uma gleba um processo de inter- veno no espao, que cria reas de mltiplos usos, tanto pblicas como privadas, tais como reas de sistema virio, de lazer, de uso institucional, de comrcio e de habitao. O projeto de urbanismo deve prever uma distribuio equi- librada desses espaos, um adequado relacionamento com a realidade do entorno da gleba e com as caractersticas socioeconmicas e culturais dos moradores da regio. 102 A maior parte dos parmetros que confguram a implantao do conjunto e seus espaos livres consta nes- se captulo nos subitens de: a) Parcelamento do solo Adota como referncia a lei de parcelamento n 6766. Nesse item, refora- -se a estrutura do lote como unidade bsica de implantao do conjunto. Cada lote habitacional deve ser tratado como uma rea condominial e deve possuir no mximo 160 unidades habitacio- nais e 15 mil metros quadrados. b) reas Institucionais e Equipamentos O manual estabelece a declividade mxima de implantao dessas reas em 15%, recomendando que este- jam localizadas prximas a vias de acesso e que sejam distribudas pela gleba, conforme a de- manda. c) Espaos livres de uso pblico (reas verdes / siste- mas de lazer) As reas verdes so consideradas reas de restrio de uso e de manuteno de vegetao. J as reas de lazer devem atender a razo de 4m por unidade habitacional, devendo ser pblicas e com declividades que permitam a circulao de pessoas. d) Sistema Virio Recomenda-se que esse esteja integrado com o entorno, seja hierarquizado, e que se privilegiem as ruas de lazer em detrimento das vias de circulao dos veculos. So determi- nadas larguras mnimas de vias e caladas, sendo que nas vias de circulao local considera-se 1,5 102 Manual de Projetos, 2008: p.10. Vista area de conjuntos habitacionais empreendidos pela CDHU em Itaquera So Paulo. O projeto dividido em dois agrupamentos menores com portarias distintas para obedecer o critrio de limite de nmero de unidades. Google Earth 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 96 metros de largura para a calada e nas vias mis- tas e de pedestres permitida sua omisso. e) Implantao- Alm de se recomendar que a lei de zoneamento deva ser seguida no que diz respei- to aos parmetros de ocupao do solo recuos, coefcientes de aproveitamento, entre outros, es- tabelece-se parmetros para a implantao das casas e dos prdios no lote com recuos variados para evitar a monotonia 103 , para o distancia- mento entre vias de circulao de pedestres e apartamentos trreos (trs metros), para a quan- tifcao do estacionamento (uma vaga para cada duas unidades) sua localizao (at 50 metros da entrada do edifcio) e suas dimenses de vagas. So tambm estabelecidos parmetros quantita- tivos para as reas livres condominiais, com seis metros quadrados por unidade reservados para lazer de crianas e idosos, sendo que uma dessas reas por condomnio deve ter um raio de pelo menos cinco metros 104 , e a destinao de um espao para o Centro de Apoio Comunitrio do condomnio. Tais recomendaes apresentadas nesse captulo in- dicam uma modifcao fundamental na postura do Poder Pblico, por intermdio da CDHU, perante a estruturao dos conjuntos: a eleio da organizao condominial como forma de gesto do conjunto, e o estabelecimen- to de um nmero mximo de unidades habitacionais por unidade condominial. Modifcao essa que interfere na estrutura fsica dos conjuntos, j que cria uma nova forma de hierarquizar os espaos livres e compartimenta esses espaos em conjuntos menores. Tal fato representa uma releitura crtica dos grandes conjuntos habitacionais das dcadas de 1970 a 1980, que no tinham nenhum tipo de hierarquizao dos espaos livres preestabelecida, e se apresentavam sempre em grupos de grande porte. Entretanto, dentre todas as recomendaes que versam sobre solues de forma urbana, apenas as reco- mendaes voltadas para dimensionamento de espaos livres apresentam diretrizes diretas e objetivas e circulao de pedestres. De resto, nota-se a generalizao de dire- trizes e conceitos que permitem interpretaes diversas como recomenda-se que o sistema virio esteja integrado ao entorno, sendo de difcil verifcao na realidade dos conjuntos projetados. O ltimo captulo desse Manual, que versa direta- mente sobre a forma urbana do conjunto, o Projeto de Paisagismo que traa diretrizes para o projeto de plantio das reas livres pblicas e de traado de caminhos para pedestres, tendo como objetivo a melhoria da qualida- de ambiental e visual do conjunto, alm da valorizao e organizao dos espaos livres de recreao e zonas de preservao, incluindo a recuperao de reas degradadas eventualmente existentes no conjunto. 105 103 Manual Tcnico de Projetos, 2008: p.17. 104 uma recomendao que visa a evitar que as reas livres sejam resi- duais e fragmentadas. 105 Manual Tcnico de Projetos, 2008: p.53. 97 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES Suas recomendaes so concentradas na escolha de espcies para plantio com exemplares nativos, com bai- xo custo e periodicidade de manuteno e com porte de plantio mais resistente e concentrado em forraes e ar- bustos e rvores de maior altura. Estabelecem-se tambm parmetros para os tipos de pisos a serem adotados nas caladas e caminhos, privilegiando pisos drenantes e de baixo custo de manuteno. O tema de reas livres tratado com maior abran- gncia no Manual de Paisagismo, publicado em 2008, na reviso do Manual Tcnico de Projetos, onde so tratadas as diretrizes bsicas do projeto de Paisagismo dos Empre- endimentos, dos Elementos Paisagstico a serem utilizados e dos parmetros e critrios tcnicos de sua implantao. Esse Manual apresenta-se mais completo que o captulo de Projeto de Paisagismo e representa uma evoluo da abordagem do tema pela CDHU, com seu discurso voltado para a criao de espaos de sociabilidade e convivncia dos moradores. O objetivo do Projeto de Paisagismo para a Habitao de Interesse Social compreende a elaborao de projetos que melhorem suas condies de conforto ambiental, pro- tejam o solo contra a eroso, organizem e estruturem os espaos livres projetados, com a fnalidade de criar condi- es para a sua apropriao pelos moradores, por meio do lazer e da sua socializao. 106 Na sentena acima, identifca-se que o que deve ser considerado um projeto de paisagismo para a Habita- o de Interesse Social, ou seja, no um projeto para uma rea comercial, institucional ou at mesmo para o Mercado Imobilirio. um projeto com demandas espec- fcas, sociais e ligadas ao ato de morar. Os objetos do projeto de paisagismo enumerados pelo Manual so os espaos pblicos livres praas, sistema virio e as APPs 107 ; e os espaos privados livres de edifcaes reas internas aos condomnios. Tais espaos so concebidos em conjunto com o projeto de Urbanismo que defne o traado urbano, os volumes edi- fcados, os usos, a localizao dos lotes, as reas pblicas e institucionais. Sua concepo deve considerar os elementos fsicos do terreno (relevo, vegetao, reas de preservao, crregos, nascentes, clima, etc.) e ser integrada aos outros projetos. 108
O programa desse projeto, segundo a CDHU, deve ser estabelecido junto ao projeto de urbanismo e ser contextualizado a cada rea. O manual identifca al- gumas questes a serem consideradas na elaborao e quantifcao desse programa: necessidade e cultura dos usurios, levantamento das reas livres verdes e de lazer pr-existentes no local ou no entorno, legislao, usos e equipamentos urbanos existentes no entorno. Apresenta tambm recomendaes para Projeto de Paisagismo do Sistema Virio, Praas, Condomnios e APPs. 106 Manual de Paisagismo, 2008: p.3. 107 rea de Preservao Permanente. 108 Manual de Paisagismo, 2008: p.3. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 98 Recomendaes apresentadas para o projeto de pai- sagismo do Sistema Virio: a) As faces mais adequadas para a arborizao so a norte e a oeste, com copas frondosas para fltrar o Sol. b) Em caladas estreitas devem ser usadas rvo- res de pequeno porte, em caladas mais largas podem ser portes maiores para preservar a pavi- mentao e a fao area. Recomendaes apresentadas para o projeto de pai- sagismo das Praas: a) Deve-se oferecer lazer ativo e passivo para todas as faixas etrias e deve-se atender ao programa predefnido no projeto de urbanismo. b) Devem estar localizadas em pontos estratgicos com grande fuxo de pessoas. c) Deve-se evitar reas verdes em cantos das quadras de pequenas dimenses, para evitar invases. Sobre as reas condominiais, pela primeira vez no Manual, essas so tratadas como resultado da implanta- o dos volumes edifcados. Os espaos livres, defnidos pelos volumes, cores e im- plantao das edifcaes, devem ser objeto de cuidados projetuais com qualidade esttica e preocupao ambien- tal visando atender s necessidades dos usurios. 109 As recomendaes apresentadas pelo Manual para o projeto de Paisagismo das reas condominiais, porm, se detm em orientaes mais voltadas para o plantio e a implantao de equipamentos: a) Recomenda-se que reas de convvio e lazer, e tambm reas de estacionamento sejam som- breadas, utilizando rvores adequadas para cada situao; b) Sugere-se a implantao de equipamentos, com preferncia para playgrounds, mesas de jogos e bancos. Sobre APPs reas de Preservao Permanente, o Manual dedica uma srie de diretrizes e recomendaes que so apoiadas nas Leis Federais, estaduais e Munici- pais vigentes. As recomendaes feitas variam de acordo com o estado de consolidao dessas reas: a) reas degradadas no se autorrecuperam de- ve-se recuperar o solo para depois proceder ao plantio. b) reas perturbadas sofreram interveno hu- mana, mas tem condies de voltar ao estado original deve-se fazer plantio complementar. c) reas onde j se verifcam sinais de recuperao natural. pouca interveno do homem deve- -se proteger tais reas com seu cercamento. 109 Manual de Paisagismo, 2008: p.8. 99 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES No geral, o Manual Tcnico de Projetos e o Manual de Paisagismo da CDHU apresentam avanos conceituais nas intenes apresentadas em sua introduo, entendendo e expondo a necessidade de integrao dos conjuntos ha- bitacionais, produzidos e seu entorno, e na preocupao em criar espaos urbanos que possam ser utilizados pela comunidade de seus moradores. Entretanto, nota-se que h um descolamento entre o discurso apresentado na introduo dos manuais e as recomendaes efetivamente enumeradas. Essas ltimas se baseiam sempre em situaes mnimas, prerrequisitos que devem ser seguidos, ao invs de serem apresentadas tambm as situaes ideais para cada projeto. Ou seja, alm de apresentar qual a dimenso mnima de calada para uma rua de alto movimento, dever-se-ia apresentar as dimenses ideais dessa calada ou pelo menos uma forma de dimension-la. Faltam desenhos, detalhes de projeto, esquemas gr- fcos e at mesmo imagens de espaos j existentes que exemplifquem essas recomendaes. Ressalta-se tambm que a quantifcao dos espaos praas, reas condominiais, estacionamentos - focada nos manuais, e pouco se discute sobre seu posiciona- mento no terreno e suas vrias formas de relao com o entorno. O Programa Minha Casa Minha Vida, responsvel pelo fnanciamento das unidades produzidas e comer- cializadas pelo Segmento Econmico com valores de at 130 mil reais, e tambm por alguns empreendimentos realizados por promotores pblicos, lanou em 2009 um Caderno em que constam 33 diretrizes a serem contem- pladas na produo dos conjuntos. Muito mais sucinto e incompleto que o Manual da CDHU, esse caderno expe apenas algumas diretrizes que condicionam o projeto dos conjuntos. Essas diretri- zes so chamadas de itens de projeto e localizao e so verifcadas pela Caixa Econmica Federal, no momento de aprovao da linha de crdito para determinado em- preendimento. Tais itens subdividem-se nos seguintes grupos: 1. Porte do Empreendimento 2. Terreno e localizao 3. Cota de implantao 4. Taludes, desnveis e contenes 5. P-direito 6. Acessibilidade 7. Privacidade 8. Impermeabilidade 9. Cobertura 10. Sustentabilidade 11. Estacionamento 12. Segurana CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 100 Dessa lista, os itens P Direito, Privacidade, Imperme- abilidade, Cobertura e Sustentabilidade so direcionados para o projeto de arquitetura das edifcaes sem infu- ncia da confgurao dos espaos urbanos e livres dos conjuntos e reas habitacionais produzidas. Das recomen- daes sugeridas, so direcionadas para a implantao, localizao e confgurao de espaos livres do conjun- to: 110
1. Nmero de unidades do empreendimento: m- dulos de at 500 unidades. 2. Prever soluo de atendimento por equipa- mentos e servios comunitrios usuais para empreendimentos habitacionais. 3. Ocorrncia de rea de proteo permanente (am- biental) ou de proteo do patrimnio histrico: Deve haver licena para a interveno. 4. Ocorrncia de rea com risco de eroso, recalque por adensamento de solo ou desmoronamento: Deve ser apresentada soluo tcnica. 5. Ocorrncia de terreno alagadio, sujeito a inunda- o ou variao de mars: Deve ser apresentada soluo tcnica considerando perodo de recor- rncia superior a 50 anos. 6. Implantao da edifcao: Deve estar em cota favorvel em relao ao logradouro e s redes de drenagem e esgoto sanitrio. 7. Deve haver conteno de aterro para proteo de terreno contguo. 8. Deve haver conteno de terreno contguo em cota superior ao empreendimento. 9. Ocorrncia de talude superior a 1,00m: Prever conteno ou proteo vegetal, quando a situa- o permitir. 10. Ocorrncia de talude com inclinao maior que 45 para aterro e 60 para corte: Deve ser apre- sentada comprovao de estabilidade. 11. Ocorrncia de talude com desnvel maior que 3,00m: Deve ser apresentada soluo tcnica com bermas, canaletas para drenagem e demais estruturas de estabilizao. 12. Proximidade de talude: Observar distncia da edifcao ao p ou crista do talude maior que o desnvel e no inferior a 1,50m. 13. Desnveis superiores a 1,50m prximos a circu- laes: Prever guarda-corpo. 14. Observar condies de acessibilidade a todas as reas pblicas e de uso comum. 15. Disponibilizar unidades adaptveis ao uso por pessoas com defcincia, com mobilidade reduzi- da e idosos, de acordo com a demanda. 110 Caderno Minha Casa Minha Vida, 2009: p.27-28. 101 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 16. Declividade em reas de estacionamento: Deve ser inferior a 8%. 17. Prever vias e acessos internos pavimentados para veculos e pedestres. 18. Previso de cobertura do solo: Utilizar brita para vagas de estacionamento descoberto em reas planas e outra soluo adequada para terrenos com declividade. 19. Fechamento de divisas: Deve ser com muro ou alambrado com altura mnima de 1,80m. 20. Iluminao de reas comuns: Deve compor o projeto das reas comuns. Em geral, as diretrizes apresentadas pelo Caderno do Programa Minha Casa Minha Vida pouco infuenciam na estruturao espacial dos conjuntos que so produzidos por esse programa. So exigncias mnimas que determi- nam e viabilidade tcnica e a otimizao construtiva das edifcaes, garantindo um mnimo grau de urbanizao para as reas habitacionais fnanciadas. Um exemplo des- sa postura a exigncia de implantar as edifcaes acima do nvel da rua ou em cota favorvel, para facilitar o aces- so s redes de esgoto e guas pluviais pblicas. Dos poucos itens que interferem na estruturao es- pacial do conjunto, destacam-se dois: a determinao do porte do conjunto, em no mximo 500 unidades habita- Para atendimento do critrio 14 do Caderno do Programa Minha Casa Minha Vida, nesse conjunto implantado pela Tenda, no Horto do Ip em So Paulo, so implantadas extensas rampas para circulao entre edifcios. www.tenda.com.br Atendimento ao princpio 19, do caderno Minha Casa Minha Vida, com o fechamento dos condomnios com muros de altura mnima no conjunto empreendido pela MRV Engenharia. 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 102 cionais, e a obrigatoriedade de seu fechamento na divisa do lote. A determinao de um nmero mximo de unida- des habitacionais determina diretamente um controle no porte do conjunto, que nesse caso pode ser maior que os conjuntos produzidos pela CDHU, que permite apenas 160 unidades habitacionais por agrupamento ou condo- mnio. Esse controle do porte acaba limitando o nmero de blocos de apartamentos a serem implantados e a rea do terreno. Ressalta-se que o controle do porte do conjunto, por nmero de unidades habitacionais, pode provocar respostas diversas de projeto e no representam a me- lhor forma de determinar a dimenso dos conjuntos. O Mercado Imobilirio produz para famlias de classe m- dia conjuntos de torres de apartamentos com mais de 20 pavimentos cada que conformam condomnios fechados com esse mesmo nmero de unidades, porm ocupando lotes de menor dimenso. A obrigatoriedade de fechamento das divisas por muros ou gradis acaba por criar condomnios populares fechados que confnam o espao da rua pblica entre seus muros e isolam o espao da habitao dos espaos livres pblicos do bairro onde se insere. Avalia-se que os critrios e recomendaes apresenta- dos por esses Manuais e pelo Caderno no so sufcientes para determinar a forma urbana do conjunto, de maneira que essa sirva de suporte de qualidade para as atividades cotidianas da populao. So, na sua maioria, normatiza- es que, apesar de estarem corretas, e serem vlidas e desejveis, deixam uma srie de questes de qualifcao dos espaos a serem respondidas pelo prprio projetista ou empreendedor. Faltam critrios que balizem as propostas dos con- juntos quanto ao posicionamento das edifcaes e dos espaos livres, seu relacionamento com os espaos livres pblicos e a integrao com o entorno. Tendo em vista a afrmao da CDHU que: A urbanizao de uma gleba um processo de inter- veno no espao, que cria reas de mltiplos usos, tanto pblicas como privadas, tais como reas de sistema virio, de lazer, de uso institucional, de comrcio e de habitao. O projeto de urbanismo deve prever uma distribuio equi- librada desses espaos, um adequado relacionamento com a realidade do entorno da gleba e com as caractersticas socioeconmicas e culturais dos moradores da regio. 111
Sublinha-se a falta de critrios que preparam esses espaos para mltiplos usos, para sua integrao com o entorno e para o suporte de atividades cotidianas, de forma que esses sejam bem apropriados pela populao usuria. 111 Manual Tcnico de Projetos, 2008: p.10. 103 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES Tendo em vista a abundncia de oferta dos espa- os livres nesses conjuntos, conclui-se que a adequao dos espaos livres urbanos ao meio habitacional no uma questo quantitativa, mas sim vinculada a outras questes formais, referenciais, funcionais e simblicas, que servem de suporte ao cotidiano da populao ca- racterstica que neles vive, e que no so tratadas nesses documentos. A personalizao dos jardins de entrada dos edifcios e o uso de cores e materiais que diferenciem as fachadas dos blocos entre si so caractersticas percebi- das como fundamentais pelos usurios de tais espaos, independentemente da quantidade de espao livre dispo- nvel. A localizao das reas livres de lazer e convivncia, em pores visveis do terreno e interligadas com percur- sos de pedestres tambm so condies desejveis que estimulam o uso desses espaos. Pode-se observar que dentro da produo de conjun- tos habitacionais de 1970 at 2010 h espaos livres que desempenham melhor seu papel de suporte e qualifca- o urbana e outros que alm de no atender demanda geral nessas atividades acabam por inibi-la. Observa- -se que pequenas praas implantadas prximas a sadas de escolas ou ao acesso aos apartamentos so mais de- mandadas que grandes espaos livres que se encontram desvinculados de outros usos. Dessa forma, entende-se que apenas os parmetros apresentados tanto pela CDHU, quanto pelo Caderno do Programa Minha Casa Minha Vida, considerando-se a si- tuao real de implantao e ocupao desses conjuntos, no so sufcientes para garantir a qualidade dos espaos urbanos propostos, porque so generalizaes de reco- mendaes. No caso dos espaos livres dos conjuntos habita- cionais produzidos nas dcadas de 1970 a 1980, em So Paulo, dentro dos moldes do BNH, nota-se que tiveram seus espaos livres modifcados estruturalmente, com a construo de novas edifcaes, com seu cercamento por muros e gradis, com a defnio de acessos e hierarqui- zao das reas prximas aos edifcios de apartamentos, entre outras intervenes que redefniram os espaos e criaram possibilidades de uso diferentes daquelas pro- postas inicialmente. Eram espaos abundantes que foram reduzidos e redefnidos para poderem ser mais bem uti- lizados e, assim, propiciar a maior habitabilidade dessas reas as quais, num primeiro momento, mostraram-se hostis vida cotidiana coletiva e urbana. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 104 Nas reas estudadas, nos conjuntos habitacionais onde vivem famlias com at dez salrios mnimos de ren- da, observa-se que o pblico composto em sua maioria por jovens famlias com crianas e adolescentes. Segundo dados do IBGE 112 , em 2007, 47,6% das famlias com flhos que ocupam domiclios particulares na RMSP, possuem todos os flhos com menos de 16 anos de idade. Esse per- fl de populao de jovens famlias com mais de um flho, muitas vezes ainda criana, demanda com mais intensi- dade espaos livres urbanos qualifcados para suportarem as mais diversas atividades de lazer e convivncia. Assim, seria necessrio que tais espaos livres urba- nos fossem adequados aos usos cotidianos e apropriaes por ele promovidas. Espaos modifcados pela populao no Conjunto Brigadeiro Faria Lima, em So Paulo. Ampliao das unidades unifamiliares e redefnio dos espaos livres prximos aos blocos de apartamentos. 2005 Espao livre modifcado pelos moradores no Cecap Zezinho de Magalhes Prado. Equipamentos de recreao ocupam os espaos livres indefnidos pelo projeto original. 2005 112 IBGE, 2007: p. 102. 105 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.3 Conceito e referncias de qualidade e adequao dos espaos urbanos A avaliao da qualidade dos espaos livres das re- as habitacionais populares e sua adequao aos usos habitacionais e cotidianos devem ser feitas mediante o estabelecimento de critrios. Tais critrios servem no so- mente avaliao dos espaos j produzidos mas tambm criao de diretrizes para concepo desses espaos ou para a reformulao de espaos existentes. Sua aplicao abrange todos os espaos livres de edifcao vinculados moradia, sendo eles pblicos ou privados, coletivos ou no. Uma srie de autores se dedicaram identifcao de princpios e critrios de qualidade para espaos urbanos valendo-se do Desenho Urbano, com foco nas reas livres e permitam a implementao de melhorias nas reas ha- bitacionais e na cidade em geral. Observa-se que h uma concentrao desses estudos no Hemisfrio Norte com au- tores norte-americanos Lynch, Marcus e o grupo PPS 113 , e europeus Gehl 114 . Tais autores se valem de estudos de caso em lugares localizados em sua regio de origem. Apesar de ser necessria uma aproximao desses estu- dos ao caso brasileiro e, mais especifcamente paulistano, nota-se que boa parte dos princpios por ele estabelecidos podem ser utilizados nas mais diferentes situaes regio- nais e sociais. H, de maneira mais reduzida, bibliografa produzi- da por autores brasileiros que tambm se voltam tarefa de estabelecer princpios, parmetros e diretrizes para a criao de espaos urbanos de qualidade, o caso de Del Rio, Romero e Mascar. 115 Os princpios apresentados por todos esses autores podem ser divididos em trs grupos: 1. Aspectos tcnicos de urbanizao e conforto am- biental 2. Aspectos morfolgicos e funcionais 3. Aspectos simblicos, percepo e orientao es- pacial Os aspectos mais tcnicos voltados para urbaniza- o e conforto ambiental so apresentados por Romero e Mascar. Tais autores se detm em questes voltadas para a viabilidade tcnica a serem observadas na forma dos conjuntos urbanos e, no caso, dos conjuntos habi- tacionais. Romero 116 , em Princpios Bioclimticos para o Desenho Urbano, versa sobre questes ambientais em pa- rmetros que devem ser seguidos para garantir o conforto ambiental das edifcaes, principalmente, dos espaos li- vres. So apresentados os elementos do clima que devem ser controlados: temperatura, ventos, umidade, radiao e chuvas e os princpios gerais que possibilitam seu con- trole no espao urbano. 113 Respectivamente: Lynch, 1984; Marcus, 1986 e www.pps.org 114 GEHL, 2006. 115 Respectivamente: DEL RIO, 1990; ROMERO, 1988; MASCAR, 1994. 116 ROMERO, 1988. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 106 Mascar 117 apresenta parmetros para a urbaniza- o de loteamentos, contemplando desde o desenho do parcelamento do solo com a delimitao dos lotes, at o dimensionamento das vias e caladas e sua arborizao. Tais aspectos so pr-requisitos para qualquer pro- jeto urbano, porque organizam os parmetros mnimos que garantem segurana e conforto ambiental e viabili- zam a implantao dos empreendimentos nos terrenos. No so os nicos requisitos qualifcadores, pois eles por si s no garantem a qualidade espacial dos espaos livres urbanos, mas sua ausncia pode produzir espaos prec- rios e inaceitveis para o uso habitacional. Dentro do segundo tipo de abordagem encontra- da, por meio de aspectos morfolgicos e funcionais, Del Rio 118 apresenta em seu texto, Implementando o Desenho Urbano, grupos de trabalho, ou temticas, que so consi- derados pelo autor como critrios de qualidades setoriais. Tais critrios so: I. uso do solo ou programa; II. confgurao espacial; III. circulao viria e estacionamentos; IV. espaos livres; V. percursos de pedestres; VI. atividades de apoio; VII. mobilirio urbano. Gehl 119 e Marcus adotam uma abordagem ampla em seus estudos que abrangem critrios que se enquadram tanto na questo morfolgica e funcional, quanto na questo simblica e referencial da produo dos espaos urbanos. Dentro dos aspectos morfolgicos e funcionais, Gehl 120 sugere, como Del Rio, fatores que devem ser con- templados na produo dos espaos abertos: I. adequao dos espaos para caminhar; II. adequao dos espaos para sentar ou permane- cer de p; III. adequao de espaos para conversar e contem- plar, e ; IV. a criao de zonas de transio entre os espaos privados e fechados e os espaos livres abertos e coletivos. Gehl ainda indica em seu estudo, sobre a vida social entre os edifcios, as qualidades necessrias que os espa- os urbanos exterior devem apresentar para melhorar ou estimular a convivncia social, coletiva. Essas qualida- des so capacidades que os espaos possuem de atrair, integrar, e abrir os lugares para outros lugares, as pesso- as e suas atividades, e podem tambm ser consideradas dimenses de desempenho dos espaos livres urbanos as ruas, caladas, praas e parques, quintais, ptios, es- 117 MASCAR, 1994. 118 DEL RIO, 1990: Cap. 6 pp. 107-109. 119 GEHL, 2006: pp. 93-142. 120 GEHL, 2006: pp. 143-212. 107 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES cadarias entre outros. Enquadram-se no terceiro tipo de aspectos identifcados como aspectos simblicos, aqueles que envolvem a percepo do usurio e o comportamen- to social. J Marcus apresenta diretrizes diretamente aplicveis ao espao urbano habitacional, em conjuntos habitacio- nais que defnem como conjuntos de mdia densidade para famlias de baixa renda. Tais diretrizes so traadas com base em experincia acumulada pelos moradores que habitam os conjuntos por ela estudados. 121 Tais dire- trizes so agrupadas em 12 grupos temticos nos quais se apresentam os critrios de projeto que podem ser aplica- das em conjuntos habitacionais de mdia densidade e de edifcios baixos ou mdio/baixos. Esses grupos so: I. Programa; II. Imagem, forma do edifco e orientao III. Personalizao IV. Acesso aos agrupamentos de edifcios V. Espaos livres privado VI. Espaos livres coletivos e a demanda do pblico infantil VII. Espaos de recreao dedicados ao pblico in- fantil VIII. Facilidades locais servios para o pblico adulto IX. Estacionamentos X. Jardins, caminhos e mobilirio urbano XI. Segurana e vandalismo XII. Gesto, manuteno, e destinao do lixo So critrios estabelecidos com a observao da apropriao dos espaos livres de conjuntos habitacionais produzidos na Gr-Bretanha e nos Estados Unidos que, apesar da particularidade de seu contexto, podem ser aplicados com adaptaes ao exemplos de conjuntos bra- sileiros estudados. Lynch apresenta outra forma de avaliao dos es- paos urbanos valendo-se do Desenho Urbano. Essa forma no se apoia no estabelecimento de princpios ou diretrizes, mas sim na determinao de dimenses da performance de um assentamento. Por performance entende-se o bom desempenho dos espaos nas fun- es para que foram projetados e/ou idealizados; isto , alm de se poder avaliar se os espaos livres das reas residenciais so facilmente utilizados pelos seus usurios, deve-se analisar se esse uso corresponde quele uso a que os espaos foram produzidos, ou se uma adaptao pro- movida pela populao. A organizao PPS Project for Public Spaces 122
tambm refora e ideia de concepo e revitalizao de espaos livres pblicos baseados em dimenses que por 121 MARCUS, 1986: p.1. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 108 eles so chamados de atributos-chave que servem de diretrizes para lugares bem sucedidos. Os atributos por eles elencados so quatro: acessos e conexes, conforto e imagem, usos e atividades, e sociabilidade. Nota-se que esses atributos dos espaos pblicos, que podem e de- vem ser aplicados a espaos coletivos, mesmo que sejam de propriedade privada, so equivalentes s dimenses apresentadas por Lynch. 2.3.1 Dimenses de performance de Lynch sobre o Desenho Urbano O conceito de performance e de dimenses para seu atingimento muito se enquadra na avaliao de reas habitacionais, pois elas bem expressam o carter dinmi- co de espao, em constante adaptao, e a importncia da percepo que seu usurio constri, mediante sua vi- vncia cotidiana. Apesar de no apresentarem princpios ou diretrizes para qualifcao de espaos, so adotados neste estudo como conceito geral a ser alcanado pela produo dos espaos livres coletivos e urbanos nos con- juntos habitacionais ocupados por famlias de rendas populares em So Paulo. So ao todo, seis dimenses de performance do espao urbano que devem ser contempladas em sua con- cepo: 1. Vitalidade 123 Um ambiente um bom habitat se suportar o funcio- namento adequado biolgico e de sade de um indivduo e a sobrevivncia das espcies. 124 A vitalidade a dimenso de performance do espao livre que se refere adequao dos espaos ide- alizados e produzidos sobre as caractersticas naturais do terreno ocupado e ao controle dos aspectos climticos que incidem sobre a rea. Esse conceito apresenta trs aspectos principais que devem ser atendidos para que de- terminado espao urbano seja vital. O primeiro aspecto a subsistncia, sustenance, que se refere disponibilidade de recursos naturais e suprimentos como alimento, gua, ar e energia os quais permitem que os organismos vivos se mantenham. Isto , que no falte iluminao, gua e ar para as massas vege- tais, para a populao usuria e para a fauna que pode habitar a rea de estudo. O segundo aspecto a segurana, safety, do meio am- biente. Diz respeito estabilidade das estruturas urbanas propostas e sua desvinculao de ambientes contamina- dos e poludos. So seguros os conjuntos que no esto suscetveis a enchentes, deslizamentos de terra e soter- ramentos e que no ocupam terrenos contaminados ou que no provocam a poluio do seu entorno, com redes 122 Retirado do artigo: What makes a successful place? Publicao on-line no site www.pps.org/grplacefeat. 123 Do ingls Vitality. 124 LYNCH, 1984: p.21. 109 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES de esgotos no tratadas ou com acmulo de lixo em locais no apropriados. O ltimo aspecto a ser atendido a harmonia ou conformidade. Esse aspecto se refere adequao entre o suporte natural existente e s estruturas espaciais propos- tas. Abrange desde aspectos ergonmicos de adequao dessas estruturas escala humana at aspectos de confor- midade entre os espaos propostos e o relevo, as massas vegetais e os corpos dgua pr-existentes. a dimenso de performance do espao que versa sobre o arranjo dos elementos urbanos para criar uma paisagem com microclima agradvel e saudvel para seus usurios. 2. Sentido 125 Por sentido de um assentamento, (Lynch) quer dizer a clareza com que esse pode ser percebido e identifcado, e a facilidade com que seus elementos podem ser conectados com outros eventos e outros lugares em uma representao mental coerente de tempo e espao e, como essa repre- sentao pode ser conectada com conceitos e valores no espaciais. Essa a juno entre a forma do ambiente e os processos humanos de percepo e cognio. 126 Lynch trata o conceito de sentido como a juno entre aspectos formais do assentamento, no caso dos con- juntos habitacionais e seu entorno, a aspectos humanos e seus processos de vivncia e compreenso do espao urbano. A assimilao ou compreenso de determinado espao possvel considerando um conjunto de valores culturais e sociais que norteiam a percepo do observa- dor/usurio, e por esse motivo no h um modelo formal nico de cidade que atenda totalmente ao conceito de senso. A ideia de sentido ou percepo dos espaos de um assentamento, principalmente quando esse de uso habi- tacional, pode adquirir diferentes signifcados e intenes. O tcnico arquiteto, o Mercado Imobilirio, a populao residente, o pequeno construtor, cada um pode desenvol- ver uma forma de percepo dos valores dos espaos com base em suas vivncias e interesses. Assim, esse conceito ter tantas interpretaes quanto variadas forem as per- cepes dos usurios. O que se observa, porm, uma constncia em caractersticas formais qualifcadoras dos espaos urbanos que so reconhecidas em diferentes si- tuaes e por diferentes usurios. 3. Adequao 127 A dimenso da coerncia ou adequao na performance dos espaos livres coletivos dos conjuntos habitacionais se refere sua capacidade de abrigar fun- cionalmente determinadas atividades cotidianas sua adequao programtica e ao modo de vida da popula- o residente. 125 Do ingls Sense. 126 Lynch, 1984: p. 131. 127 Do ingls Fit. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 110 Ela se resume nos programas dos espaos propostos e na forma com que esses espaos se adaptam s aes e atividades necessrias, opcionais e sociais exercidas pela populao usuria em seu dia a dia. Assim como vitalidade, a adequao mais fcil de ser identifcada na sua ausncia. Inadequao relativa- mente fcil de se identifcar. 128 A inadequao pode residir no s nos programas propostos como na quantifcao dos espaos livres para determinados usos. Facilmente se percebe quando h falta de reas para lazer, com a superlotao de quadras e playgrounds, ou quando uma calada est mal dimen- sionada e os pedestres passam a se arriscar andando nas ruas entre os automveis e o meio fo. Uma ideia apresentada por Lynch, que deve ser perseguida, a multifuncionalidade dos espaos com a sucesso de atividades, ao longo do dia. Assim, evita-se o superdimensionamento para alguns usos, e permite-se a variao de formas de apropriao dos espaos ao longo do dia. 4. Acessibilidade 129 Como acessibilidade entende-se a dimenso de performance que rege as possibilidades de circulao e de alcance dos mais diversos pontos de determinado espao urbano e desse para o restante da cidade. Obviamente, o conceito de acessibilidade extravasa a dimenso do mo- vimento, assumindo tambm a conotao de acesso informao, por exemplo. Pode-se tambm incluir em tal dimenso critrios de circulao motorizada, em trans- porte pblico e individual, e o acesso dos mais diferentes grupos sociais a esses meios. No que diz respeito a sua aplicao na paisagem habitacional e no desenho dos conjuntos e seus espaos livres, por acessibilidade, adota-se as conexes com a cidade do entorno, o movimento de alcanar todos os es- paos livres coletivos do conjunto ou prximos a ele e as formas de circulao entre eles, focando o trnsito local de veculos e os trajetos de bicicletas e pedestres e, princi- palmente, os pontos de acesso s reas livres internas de cada condomnio ou agrupamento de edifcios. 5. Controle 130 Controle pode ser explcito e codifcado, ou implcito, informal, e at ilegtimo[...]Pode ser efcaz ou inefcaz, con- tnuo, temporrio ou recorrente. 131 A dimenso do controle, control, remete necessida- de humana de defnir territrios prprios, escolher quem adentra esses territrios e identifcar quando se invade o territrio do prximo. Refere-se ao processo de hierarqui- zao dos espaos livres com a defnio dos domnios privados, coletivos e pblicos 132 e sua apropriao por parte dos moradores. 128 LYNCH, 1990: p.152. 129 Do ingls Access. 130 Do ingls Control. 131 LYNCH, 1984: p.207. 132 HALL, em seu livro A Dimenso Oculta, explica, baseando-se em experincias e observaes sobre o comportamento humano e animal, os mecanismos biolgicos e culturais que estabelecem os limites espaciais de cada individuo ou grupo. 111 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES Sob o ponto de vista dos princpios modernistas que tornam pblicos todos os espaos livres urbanos ligados habitao, uma quebra de paradigma admitir que a defnio de domnios seja necessria e vital para a apro- priao dos espaos habitacionais. Como se observa em tantos conjuntos produzidos na dcada de 1970, seguin- do a risca a receita modernista de espaos livres pblicos contnuos e totalmente acessveis, a modifcao e o fe- chamento desses espaos foram necessrios para garantir seu uso por parte dos moradores. Alm do controle de propriedade que dado pelos cdigos legais ao proprietrio de um imvel, h outros tipos de controle que existem sobre espaos muitas vezes pblicos, um deles o de apropriao. Esse controle pode ter conotaes positivas, com a comunidade se aproprian- do de seus espaos livres para deles cuidar, ou conotaes negativas em que o sentido de propriedade exclui os usurios e tem fns apenas individuais. O objetivo de se adotar critrios que promovam o controle e a hierarqui- zao dos espaos livres se apoia na primeira conotao. 6. Efcincia e Justia; 133 Essa derradeira dimenso de performance do Dese- nho Urbano apresentada por Lynch no se conecta neste trabalho a nenhum grupo de critrios de avaliao espe- cifcamente, mas se aplica de forma abrangente sobre todos. Efcincia e Justia trata-se de estabelecer priorida- des entre todas as outras dimenses e todos os parmetros que com elas existem. Efcincia o critrio de equilbrio: relaciona o grau de atingimento de uma dimenso com a perda em outra. 134 Nesse conceito que se insere a relao de custo- -benefcio das decises tomadas na produo dos espaos urbanos. Idealmente se almeja a produo de espaos li- vres da melhor qualidade possvel, que atendam a todos os critrios aqui mencionados e estabeleam parmetros ainda mais exigentes que os apresentados. No entanto, as vrias exigncias e limitaes, que a realidade impe a cada espao, tornam indispensvel a busca pelo equil- brio de aplicao dos critrios em geral. Um exemplo se aplica em casos de conjuntos implantados em reas, ou prximo a eles, de interesse ambiental e paisagstico a represas, matas e outros. Nes- se caso, o princpio de vitalidade deve prevalecer sobre os demais para garantir a preservao desses recursos ou propiciar seu bom uso. Pelo conceito de Justia se entende a premissa deste trabalho que o direito ao acesso e ao uso de espaos ur- banos de qualidade por todos os grupos sociais, nos mais variados trechos da cidade. A qualifcao dos espaos li- vres de um bairro no deve suprimir a qualifcao dos espaos dos outros bairros, ou regies menos favorecidas. 133 Do ingls Effciency and Justice. 134 Lynch, 1984: p.221. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 112 2.4 Princpios para avaliao e projetos de reas habitacionais e seus espaos livres So estabelecidos princpios e critrios que norteiam a avaliao dos conjuntos habitacionais onde vivem fa- mlias com rendas populares pautados nas referncias apresentadas. A escolha desses autores se justifca pela abordagem ampla das diretrizes e critrios por eles apre- sentados, abrangendo aspectos que permitem a anlise dos espaos livres desses conjuntos e de seu entorno, tendo em vista os usurios e suas intervenes, as ativida- des cotidianas que neles sucedem, e a carncia por reas livres qualifcadas que caracterizam o entorno desses em- preendimentos. Ressalta-se que so apresentados os princpios que norteiam cada aspecto a ser considerado e alguns exem- plos de critrios que podem e devem ser utilizados na anlise dos empreendimentos. Alguns desses critrios advm da bibliografa consultada, outros foram identifca- dos empiricamente nos estudos de caso, que se adquam ao caso brasileiro e da regio de So Paulo por questes de adaptao ao clima local e realidade socioecon- mica existente. Parte dessa bibliografa de referncia foi produzida no hemisfrio norte que apresenta condies climticas e demogrfcas um tanto diferentes das que so encontradas nos conjuntos habitacionais estudados. Alm disso, tendo como base os prprios estudos de casos, possvel identifcar solues espaciais mais bem sucedidas ou completamente inefcientes que so revertidas em cri- trios de projetos a serem respeitados. Os critrios aqui estabelecidos e seus princpios nor- teadores partem muitas vezes de solues espaciais que se aplicam em uma escala considerada micro, se compa- rada escala da produo habitacional e sua insero na RMSP. Entretanto, justamente nessa escala aproxima- da que as atividades mais cotidianas acontecem, sendo tambm, nessa escala, que os confitos gerados da m implantao desses conjuntos so resolvidos pela popu- lao. Tais critrios acabam por exigir dos projetos maior complexidade de solues apresentadas nos projetos paisagsticos, arquitetnicos e urbansticos, para assim poderem suportar a complexidade de atividades e usos pertinentes e corriqueiros do espao da habitao. So oito os princpios a serem avaliados e levados em considerao na produo de reas habitacionais, de seus espaos livres e de seu entorno: 113 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.4.1 Princpios ambientais: Os critrios ambientais versam sobre a forma de tratamento do solo ocupado e de seus recursos naturais pr-existentes crregos, matas e sobre as condies de conforto ambiental das unidades habitacionais e dos espaos livres. Os critrios que se referem diretamente aos recursos naturais devem seguir o princpio bsico de menor movimentao e modifcaes necessrias, com a valorizao do suporte paisagstico existente. J os critrios que se aplicam sobre o tema de con- forto ambiental dos espaos, devem ser norteados pelo princpio de favorecer a iluminao e ventilao natural dos cmodos de longa permanncia quartos e salas e contribuir para que as reas livres sejam iluminadas e sombreadas para favorecer seu uso, evitando condies extremas. Exemplos: a) Compensao entre cortes e aterros no terreno; b) Manter ou reforar massas vegetais de grande porte existentes; c) Em terrenos de altas declividades, maior de 30%, no promover a ocupao ou desenvolver tipos construtivos especiais; d) Correta orientao das edifcaes com fachadas principais para duas faces ensolaradas, evitando- -se a predominncia da face sul; CONTRA EXEMPLO: Movimentaes de terras necessrias para a implantao dos conjuntos habitacionais da dcada de 1970. Desconfgurao do suporte natural pr-existente, na zona sul de So Paulo, Conjunto Brig. Faria Lima. Acervo pessoal Silvio Macedo. 1974 CONTRA EXEMPLO:A padronizao dos tipos edilcios fora a movimentao de terra para criar patamares onde aqueles se implantam. Conjunto Brigadeiro Faria Lima, na zona sul de So Paulo. Acervo pessoal Silvio Macedo 1974 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 114 2.4.2 Estrutura geral hierarquia, porte, tipos construtivos, orientao no bairro Os critrios de estrutura geral se aplicam sobre os diferentes aspectos que infuenciam na composio dos elementos construdos dos empreendimentos os blocos de apartamentos e das suas caractersticas de implanta- o. Os princpios em que devem se basear esses critrios so o de compartimentao dos espaos e porte dos con- juntos, de insero e aproximao do entorno urbano e de complexidade e variedade de solues espaciais dos espaos livres e tipolgicas das edifcaes. Exemplos: a) Zonas de transio entre espaos abertos e co- letivos, e espaos das habitaes e privados pequenos quintais, ptios e jardins frontais com elementos que favoream a permanncia e delimitem a entrada dos prdios, e guardem a privacidade de apartamentos trreos. FOTO 89 b) Porte controlado dos conjuntos, prevendo a compartimentao em conjuntos menores com identidades de fachadas e acabamentos especf- cos. c) Tipos construtivos variados verticais e horizon- tais - com partes da edifcao sobre pilotis e com apartamentos trreos com nvel acima do espao externo e sada para as reas de circulao, para permitir apartamentos acessveis e continuida- des e reas sombreadas sob pilotis. d) Aproximao das janelas das unidades do espao pblico da rua, com conexo visual entre espaos privados e espaos pblicos. EXEMPLO: A volumetria diferenciada do prdio de apartamentos cria varanda coletivas que so espaos de transio entre pblico e privado, coletivo e individual. Conjunto COPROMO Piratininga, em Osasco, So Paulo. 2005 EXEMPLO: Tipos sobre pilotis conformam espaos de estar sombreados e outras possibilidades de uso. Conjunto Res. Parque do Gato, no centro de So Paulo. 2005 115 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.4.3 Dimenso e localizao dos espaos livres privados e pblicos Os critrios que se aplicam aos espaos livres de- vem seguir os mesmos princpios de compartimentao espacial e de hierarquizao de domnios, visibilidade e dimenses entre espaos privados e pblicos, ntimos e coletivos. O conceito que deve nortear suas dimenses e localizao, a possibilidade de se abrigar diversas ativi- dades cotidianas ao longo do dia, praticadas por grupos de usurios variados. Devem tambm ser os espaos livres os elementos de integrao formal e visual dos conjuntos com o espao urbano da cidade existente. CONTRA EXEMPLO: A falta das zonas de transio entre espaos pblicos e privados, a proximidade das circulaes de pedestres com as janelas dos apartamentos trreos, a falta de iluminao adequada, entre outros, provocam insegurana e o fechamento com grades. Conjunto Estrela Guia, zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2006 EXEMPLO: Prdios parcialmente sobre pilotis, desnveis entre blocos e circulaes, iluminao direta determinam um espao hierarquizado, de fcil compreenso pelos usurios e resguardam a privacidade dos moradores. Desenho: Ulisses Sardo 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 116 Exemplos: a) Hierarquizao dos espaos livres entre pbli- cos e coletivos, privados e coletivos, ntimos e de acesso restrito bem defnido por volumes edifca- dos, vegetais ou delimitaes fsicas como gradis e muretas. b) Espaos livres de estar coletivo, circulao e vias de passagem devem estar mais distantes ou se- parados por barreiras vegetais das janelas dos apartamentos trreos. c) reas de estar e de lazer para as crianas devem se localizar nos espaos livres mais ntimos, pr- ximo da viso dos adultos, nas zonas de transio entre espaos internos e externos. d) reas de lazer ativo podem ser mais prximas de espaos convergentes do conjunto, de fcil aces- so e expostas, tais reas devem ser as maiores reas livres disponveis e devem ser ntegras para permitir a participao de mais moradores. e) Pequenas reas de estar e encontro devem se lo- calizar prximas s vias de passagem e ao acesso dos edifcios. EXEMPLO: reas livres verdes de maior porte localizadas em espaos centrais e de boa visibilidade. Conjunto Natingui, na zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2004 EXEMPLO: Praas e outros espaos livres destinados para convivncia devem ser de fcil acesso, visveis e centrais para estimular seu uso. Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos. Acervo Quap, 2005. 117 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES f) Os espaos livres de transio entre o espao li- vre interno do conjunto e da rea pblica devem apresentar continuidade visual entre interior e exterior, caladas mais largas dimensionadas para um maior nmero de usurios. g) A implantao de parques lineares ao longo de reas de preservao ou infraestruturas existen- tes, ou de praas pblicas podem compor espaos de integrao com outras reas da cidade. EXEMPLO: Vias de passagem ruas e caminhos de pedestres devem ser combinadas com espaos de encontro com elementos que propiciem a permanncia bancos, muretas onde se apoiar. Conjunto Natingui, na zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2004 EXEMPLO: Mobilirios, como mesas de jogos, bancos podem estimular o uso do espao para atividades sociais. Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos. Acervo Quap, 2005. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 118 CONTRA EXEMPLO: Caladas estreitas, pouco distanciamento entre espaos privados e espaos livres pblicos e pouca vegetao expem s habitaes ao pblico e difcultam a apropriao do espaos livre. Conjunto Estrela Guia, zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2006 EXEMPLO: Caladas mais largas e jardins na frente da edifcao so espaos livres de passagem entre pblico e privado. reas de estar e encontro podem estar localizadas adjacentes s circulaes de pedestres. Arbustos de mdio porte e rvores resguardam a entradas das edifcaes sem interromper a continuidade visual da rua. Conjunto Estrela Guia, zona oeste de So Paulo. Desenho: Ulisses Sardo 2011 119 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.4.4 Usos Os critrios que se relacionam determinao de programas e usos a assentamentos habitacionais, con- juntos urbanos ou empreendimentos habitacionais, de maior porte, devem ser balizados por princpios de com- plementaridade entre usos propostos e usos existentes. Os espaos coletivos e privados dos conjuntos de- vem permitir atividades complementares e diferenciadas dos espaos ntimos e privados da habitao. J os espa- os pblicos e coletivos existentes ou propostos para o entorno dos empreendimentos devem ser complementa- res aos espaos coletivos e privados desses conjuntos. Outro princpio a ser perseguido o de favore- cimento da multifuncionalidade, ou seja, maior gama de usos propostos e presentes nas reas habitacionais. Usos de lazer, comrcio e servios devem ser previstos e implantados, reproduzindo nos assentamentos o micro- cosmo de cidade. Exemplos: a) Espaos livres pblicos devem ser complementa- res aos espaos existentes no entorno. b) O programa dos espaos livres de lazer deve ser variado para atingir diversos grupos de usurios. c) Alguns espaos, principalmente os dedicados para atividades infantis, devem ser equipados com playgrounds, bancos e mesas de jogos. EXEMPLO: Em reas populares equipamentos de lazer so bem vindos como complemento ao uso da habitao de dimenses exguas. Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos. Acervo Quap, 2005. d) As reas comuns, entre conjuntos e o bairro existente, devem abrigar outros usos alm do ha- bitacional, tais como comrcio local e servios. e) Equipamentos sociais, como escolas, postos de sade, entre outros, devem se localizar em lotes de fcil acesso nas proximidades das habitaes e devem ser projetados e implantados conjunta- mente com o conjunto habitacional. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 120 f) Usos confitantes devem ser separados, como reas de lazer infantil e estacionamentos, ou vias de trfego. g) Estimulo aos usos coletivos de reas livres para otimizar o espao exguo das unidades habita- cionais, com varais coletivos, jardins ou hortas coletivas. CONTRA EXEMPLO: reas de estar ou qualquer outro uso coletivo devem ser localizadas distantes das janelas dos apartamentos trreos para garantir a privacidade dos moradores e permitir seu uso efetivo. Conjunto Spazio Ip Amarelo, na zona sula de So Paulo. 2010 CONTRA EXEMPLO: Condomnio com apenas um acesso, monofuncional e cercado por muros isola o espao pblico do seu entorno, segregando espaos privados e espaos pblicos e sociais. Conjunto Spazio Ip Branco, na zona sul de So Paulo. 2010 EXEMPLO: Mais acessos de veculos e pedestres voltados para rua, usos diversifcados implantados nas proximidades do conjunto, alargamento de caladas e arborizao qualifcam os espaos urbanos do entorno. Desenho: Ulisses Sardo 2011 121 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES 2.4.5 Acessos e acessibilidade Acessos so por excelncia pontos de encontro e movimentao de pessoas. Para transmitirem segurana, devem ser visveis distncia, iluminados e facilmente identifcados. Devem tambm ser posicionados em locais estratgicos do assentamento tanto os acessos s cons- trues, quanto o acesso aos conjuntos para provocar maior movimentao de usurios em espaos pblicos. Por esses motivos, os princpios que norteiam os critrios que regem os acessos so: visibilidade, identifca- o, multiplicidade para multiplicar pontos de encontro, alm o de acessibilidade universal e facilitada a todos os espaos livres de uso comum da rea habitacional. a) Os acessos pblicos aos conjuntos ou agrupamen- to de prdios devem ter boa visibilidade tanto do espao interno para o externo, quanto do espao externo para o interno. b) Os acessos aos edifcios devem ser tambm de boa visibilidade de dentro do conjunto e se po- sicionarem diretamente conectados com as reas coletivas. c) Em conjuntos de maior porte e com permetros longos de alinhamentos murados, o acesso de moradores deve se localizar em mais de um pon- to, garantindo focos de movimentao nas ruas. CONTRA EXEMPLO: Acessos ao interior das edifcaes quando escondidos ou localizados em locais de baixa visibilidade passam insegurana aos moradores. Conjunto COPROMO Piratininga, em Osasco. Acervo Quap 2005. CONTRA EXEMPLO: Todas as ruas devem servir de acesso para uma ou mais edifcaes ou unidades habitacionais. Ruas que no acessam nada so espaos de ningum. Conjunto Brig. Faria Lima, na zona sul de So Paulo. Acervo Quap 2005. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 122 d) Espaos livres coletivos devem ter boa acessibili- dade por todos os usurios em reas convergentes, ou prximas s reas de entrada do conjunto. e) Esses acessos devem ser indicados por diferen- ciaes nos elementos arquitetnicos como coberturas, prticos, entre outros. f) reas coletivas devem obedecer aos critrios de acessibilidade universal, com larguras de pas- sagem apropriadas para cadeirantes, pisos de superfcie homognea, indicaes de mudana de nvel de superfcie com pisos tteis, entre ou- tros apontados pela NBR 9050 135 . 2.4.6 Estacionamentos e circulao viria interna e de pedestres Os estacionamentos e a circulao devem obe- decer a critrios aplicveis tanto a reas internas aos empreendimentos habitacionais quanto s reas externas e pblicas. Em 2010, essas reas ocupam a maior parte dos espaos condominiais, tornando-se os protagonistas em reas que poderiam ser dedicadas a outros usos de lazer e convivo coletivo. Por isso, os princpios que guiam os critrios para localizao e dimensionamento de esta- cionamento so: fragmentao, distribuio, descrio e atendimento demanda por vagas. J no caso da circulao, defende-se o favore- cimento e a valorizao dos fuxos de pedestres em detrimento do fuxo de automveis; e a hierarquizao e conexo do sistema virio proposto no conjunto com o sistema virio do entorno existente. Exemplos: a) A circulao de pedestres deve ser separada das reas de estacionamento. b) Os bolses de estacionamentos devem estar di- vididos em pequenos agrupamentos de vagas distribudos pelo terreno e prximos das uni- dades habitacionais, em pontos perifricos do terreno. c) Nos espaos pblicos, externos e nas ruas pode se prever reas de estacionamento para visitantes com alargamento das vias. 135 NBR 9050 a Norma Brasileira que estabelece os parmetros para acessibilidade universal. CONTRA EXEMPLO: Ptios de estacionamento que ocupam reas livres centrais de um conjunto interferem na sua escala, criam vazios ridos e prejudicam a circulao de pedestres. Conjunto COPROMO Piratininga, em Osasco. Acervo Quap 2005. 123 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES d) Implantao dos caminhos pavimentados de pe- destres nos percursos previstos de maior trfego, mais diretos e curtos entre habitaes e acessos, ou entre habitaes e equipamentos. e) Em espaos pblicos, as caladas devem acom- panhar o percurso das ruas para garantir sua visibilidade. f) As ruas e vias de circulao de veculos devem ser hierarquizadas entre vias de trnsito local e vias de conexo com o entorno; g) As vias de trnsito local devem ser mais estreitas para reduzir a velocidade de circulao dos au- tomveis, o alargamento das caladas e curvas podem facilitar essa reduo. EXEMPLO: reas de estacionamentos devem ser compartimentadas em pequenos espaos e devem estar prximas aos acessos s unidades. Conjunto Estrela Guia, zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2006 CONTRA EXEMPLO: Espaos livres sem domnio defnido, percursos de pedestres desvinculados das ruas e edifcios que no se relacionam diretamente com as vias de circulao foram caractersticas rejeitadas pela populao e provocaram modifcaes na estrutura dos conjuntos. Conjunto P.e Anchieta, na zona leste de So Paulo. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974. EXEMPLO: Caladas que acompanham as ruas e concentram o movimento de pessoas, defnio de domnios pblicos e privados, arborizao, entre outros, aproximam a escala do conjunto ao pedestre e melhoram sua legibilidade. Desenho: Ulisses Sardo, 2011
CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 124 2.4.7 Vegetao Os princpios que devem nortear os critrios a serem aplicados nesse item so: a facilidade de manu- teno e alta durabilidade das espcies, sua adaptao ao local, o equilbrio do sistema existente e a possibilidade de amenizar o clima, os rudos e a monotonia do assenta- mento. Alm disso, deve-se considerar as massas vegetais de maior porte como estruturas espaciais capazes de con- formar ou modifcar a percepo dos espaos. Exemplos: a) Existncia de vegetao para sombreamento de reas de circulao caladas e percursos, e para reas de estar com rvores de mdio e grande porte. b) Escolha de espcies locais ou adaptadas ao local. c) Privilegiar espcies de manuteno baixa e alta resistncia. d) Arbustos e rvores de pequeno porte podem ser plantados prximos aos apartamentos trre- os para servir de barreira verde e proporcionar maior privacidade a essas unidades. e) As forraes localizadas prximas s reas de maior trfego de pedestres, ou de uso infantil para lazer, devem ser resistentes ao pisoteio. f) Massas vegetais de porte podem aproximar a escala visual de espaos livres muito amplos escala do pedestre, e a arborizao ameniza a aparncia repetitiva de conjuntos que adotam apenas um tipo construtivo. EXEMPLO: A vegetao de porte em praas e espaos de estar servem para criar reas sombreadas. A contraposio entre esses espaos e espaos diretamente expostos aos sol criam situaes de espaos livres diferenciadas. Cecap Zezinho de Magalhes Prado, em Guarulhos. Acervo Quap, 2005. EXEMPLO: rvores implantadas ao longo das ruas e prximas s edifcaes colaboram para interromper a monotonia de implantao de tipos repetitivos e aproximam o grande conjunto escala do usurio. Conjunto Natingui, na zona oeste de So Paulo. Acervo Quap 2004 125 CRITRIOS PARA PROJETO E ANLISE DE REAS HABITACIONAIS E SEUS ESPAOS LIVRES CONTRA EXEMPLO: Estacionamento prximo s edifcaes, nenhuma vegetao e caladas estreitas prejudicam os apartamentos trreos e passam a sensao de insegurana e falta de privacidade para seus moradores. Conjunto Brig. Faria Lima, na zona sul de So Paulo. Acervo Quap 2005. EXEMPLO: reas de transio entre espaos pblicos e privados, ocupadas por jardins, reas de estar distanciam a vida pblica da vida ntima. Desenho: Ulisses Sardo 2011
8. Conexo com o entorno e aspectos simblicos: Os princpios em que devem se basear os critrios aplicados a este item so: legibilidade urbana, conexo com o bairro do entorno, integrao entre os espaos livres pblicos existentes, e espaos livres pblicos propos- tos, adequao da infraestrutura urbana e equipamentos sociais do bairro. a lgica que deve aproximar os empreendimen- tos da cidade existente, respeitar a memria espacial dos moradores, permitir a identifcao do espao proposto com o bairro do entorno, evitando-se a sensao de se estar em um gueto segregado, ou pior, negar aos usu- rios do bairro as possibilidades de qualifcao que esses grandes empreendimentos podem trazer. Alguns exem- plos desses critrios so: a) Numerao e determinao de endereo do con- junto e suas unidades devem obedecer ao padro comum do entorno para facilitar a localizao e a identidade dos empreendimentos. b) As vias pblicas do conjunto devem seguir hierar- quia do sistema virio do entorno e conectar-se com ele. c) Devem ser implantados espaos livres pblicos de transio entre as reas dos conjuntos e o en- torno de usos mltiplos sociais, que possam ser CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 126 apropriados pela populao local calades, praas. d) As densidades populacionais propostas nos con- juntos no devem ser confitante, muito maior ou muito menor, com a densidade populacional do entorno, adequando-se ao suporte urbano existente. e) Caso a implantao do conjunto represente um aumento considervel na densidade do bairro do entorno, novos equipamentos urbanos e espaos livres pblicos devem ser implantados, alm dos exigidos pela legislao vigente. O estabelecimento desses critrios, divididos em oito grupos temticos, visa ao direcionamento da avaliao dos estudos de caso propostos. Tais critrios devem tam- bm ser considerados na concepo de projeto de novas reas habitacionais. Muitos outros pontos que interferem na performance do espao urbano, podem ser identifca- dos nos estudos de caso especfcos. Acredita-se, porm, que, se os critrios aqui elencados forem considerados na avaliao de reas habitacionais, ser possvel aproximar a discusso sobre o espao proposto nos conjuntos de ha- bitao popular disciplina do Desenho Urbano. CONTRA EXEMPLO: O conjunto se isola de seu entorno por possuir uma confgurao diferenciada muitos espaos livres e repetio de lminas de apartamentos e pela via expressa que difculta a passagem de pedestres do conjunto para o restante do bairro. Conjunto Res. Parque do Gato, no centro de So Paulo. 2005 CONTRA EXEMPLO: Construo de conjunto de grande porte em um bairro pouco ocupado. H um aumento na densidade populacional que no absorvido imediatamente por equipamentos sociais, comrcio e servios, demandando aes do Estado. Conjunto da CDHU na zona leste de So Paulo. Google Earth, 2010. INTRODUO CAPTULO 3 Estudos de caso: Espaos livres na produo empreendida pela CDHU x Mercado imobilirio 129 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.1 CDHU: retrato da produo contempornea 136 136 Como base deste captulo, alm das bibliografas de referncia, foram utilizadas transcries de entrevistas com profssionais que j trabalharam na CDHU Prof Dr Marli Namur, concedida em junho de 2005, ou que desenvolveram projetos para tal rgo Arq. Luiz Mauro, concedida em setembro de 2009. Localizao dos empreendimentos da CDHU construdos entre 1999 e 2010 na RMSP. Predominncia de conjuntos distantes do centro de So Paulo S. Em azul esto o Rio Tiet e o Rio Pinheiros que cortam So Paulo. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 130 A CDHU Companhia de Desenvolvimento Ha- bitacional e Urbano do Estado de So Paulo o rgo responsvel por atender demanda estadual por habi- tao, em 2010. Na Regio Metropolitana de So Paulo, a maior responsvel por promover, isoladamente ou em parcerias com as Prefeituras e o Governo Federal, a construo de novas unidades habitacionais de interesse social voltadas para as classes populares. A formao de uma Companhia Estadual dedicada para o desenvolvimento habitacional remete ao fnal da dcada de 1940, quando, em 1949, foi criada a Cecap Caixa Estadual de Casas para o Povo, que era, ento, uma autarquia subordinada Secretaria do Trabalho, Indstria e Comrcio do Estado de So Paulo. Apesar de sua regulamentao, tal rgo apenas comea a operar efetivamente a partir de 1967, durante o Governo Mili- tar brasileiro. Seu incio de operao estava vinculado atuao e criao do BNH, a partir de 1965, como Banco Federal de concesso de fnanciamento para habitao e regulamentao dos programas habitacionais no Brasil. No ano de 1967, encomendado para os arquitetos Joo Vilanova Artigas, Fbio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, o projeto do Cecap Zezinho de Magalhes Pra- do, em Guarulhos no Estado de So Paulo, o que defne cronologicamente o inicio de sua atuao como rgo promotor de polticas pblicas habitacionais. Cecap Zezinho de Magalhes Prado na dcada de 1970, ocasio de entrega de suas unidades. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 Maquete de implantao do Zezinho de Magalhes com suas freguesias e lminas duplas de apartamentos. Acervo pessoal Silvio Macedo, 1974 Sua histria marcada por diversas mudanas de nome, que foram acompanhadas por mudanas de ges- to no Governo do Estado de So Paulo, e por mudanas e ajustes em seus programas e formas de atuao. Em 1975, a Cecap Caixa Estadual de Casas para o Povo - passa a se denominar Cecap Caixa Estadual de Casas Populares. 131 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Em 1980, passa a ser chamada de Codespaulo, durante o Governo Paulo Maluf. Na fase de 1975 a 1984, tal r- go operava com recursos provenientes do SFH Sistema Federal de Habitao, apoiando-se nos fnanciamentos concedidos pelo BNH. Em 1984, aps a criao da Secretaria Executiva da Habitao 137 , houve novamente a alterao no nome da Companhia que passa a se chamar CDH Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado de So Pau- lo. Nesse perodo, ocorrem mudanas fundamentais no funcionamento do rgo que se torna dependente de recursos provenientes na sua maior parte do Tesouro do Estado, desvinculando-se do BNH, que se encontrava em crise. 138 No fnal da dcada de 1980, observamos as ltimas transformaes no que diz respeito denominao da Companhia. Em 1987, cria-se a Secretaria de Estado da Habitao, que extinta logo um ano depois, juntamente com a Secretaria dos Negcios Metropolitanos, para for- mar a Secretaria da Habitao e Desenvolvimento Urbano do Estado de So Paulo. Nesse momento, ento, a CDH recebe mais uma fun- o de promover tambm desenvolvimento urbano por meio de programas habitacionais e passa a se chamar CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo, englobando ativida- des de proviso de infraestrutura urbana, regularizao fundiria, implantao de equipamentos urbanos e me- lhorias em geral, alm da proviso de moradias. Sua atuao na Regio Metropolitana de So Paulo, mais especifcamente no municpio de So Paulo, ocorre tanto em parceria com a Cohab-SP e/ou com a Sehab Secretaria de Habitao do Municpio de So Paulo, em projetos comuns ou em programas empreendidos dire- tamente pela prpria CDHU, quanto em parcerias com rgos federais e internacionais. Tais parcerias so responsveis, muitas vezes, pela doao de terrenos para os novos empreendimentos, fornecimento e implantao de infraestrutura urbana ou disponibilizao de recursos e linhas de fnanciamento para as obras. Atravs dessas parcerias, principalmente com a Cohab-SP, a CDHU representou em 2010 a maior produtora pblica de habitao atuante na RMSP. At o incio da dcada de 1990, a atuao da CDHU era bem concentrada na RMSP, que representava em torno de 60% do total de sua produo. Observa-se a in- verso dessa relao de predominncia, nas ltimas duas dcadas, com o aumento signifcativo da atuao em mu- nicpios do interior do Estado, representando em 2008 68% do total de unidades produzidas. De qualquer forma, houve um aumento absoluto signifcativo na produo de unidades da CDHU dentro da RMSP. So desde 1986 mais 137 Tal Secretaria foi criada em 1983. 138 O BNH encerra suas atividades no ano e 1986, aps perodo de crise f- nanceira e institucional que acompa- nhou a situao conjuntural do pas. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 132 Essa proporo no representa em nenhum momento a diviso proporcional da demanda por habi- tao tanto na proviso de novas unidades, quanto na regularizao e melhorias das unidades existentes entre Regio Metropolitana e Interior do Estado. A demanda por habitao est proporcionalmente e absolutamente concentrada na RMSP. Ocorre, porm que nos municpios do Interior do Estado, a parceria entre CDHU e Prefeituras mostrou-se mais gil na obteno de terrenos, aprovao de projetos e viabilizao de infraestrutura urbana que suportassem a implantao dos conjuntos habitacionais, ampliando suas possibilidades de receber em seus muni- cpios os programas da CDHU. Nmcro dc unIdadcs n. unIdadcs % n. unIdadcs % n. unIdadcs % n. unIdadcs % RMSP ,228 64,0 63,10 26,0 07,08 27,0 130,00 32,0 InIcrIor 2,063 36,0 243,114 74,0 27,847 73,0 207,326 68,0 1oIa| 8,101 100,0 180,000 100,0 3,3 100,0 437,316 100,0 UnIdadcs HabIIacIonaIs 0IcrIadas pc|a C0HU no FsIado dc So Pau|o ^1FN0IMFN10 1086 1000 2uu4 2uu8 de 130 mil unidades habitacionais construdas e/ou fnanciadas por esse rgo pelos seus diversos programas, somente nos municpios que compem a Regio Metropolitana. Conforme o quadro a seguir: Quadro de distribuio da produo da CDHU de 1986 encerramento das atividades do BNH at 2008 separado por regio de atuao. CDHU/ Gerncia de Gesto de Informao, dez./2008 Mapa com municpios atendidos pela CDHU at o ano de 1986. CDHU/ Gerncia de Gesto de Informao, dez./2008 Mapa com municpios atendidos pela CDHU at o ano de 1999. Maior atuao em municpios do interior do Estado. CDHU/ Gerncia de Gesto de Informao, dez./2008 Mapa com municpios atendidos pela CDHU at o ano de 2004. Atuao se espalha por todo o Estado e a RMSP tem sua participao reduzida. CDHU/ Gerncia de Gesto de Informao, dez./2008 133 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO , sem dvida, uma distoro do processo de atendi- mento demanda habitacional paulista que, ao invs de concentrar esforos nos municpios de maior demanda, concentrou naqueles de maior facilidade de implemen- tao dos programas, desvirtuando o prprio objeto de trabalho do rgo que atender demanda estadual por habitao. Outro fator que propiciou o maior crescimento da oferta da CDHU, no interior do Estado, a quantidade de municpios atendidos. Em 1986, a Companhia havia atendido 15 municpios do interior do Estado, em 1999 o nmero de atendimentos saltou para 495 municpios, acelerando tambm de forma exponencial a oferta da CDHU nessa regio. 139 De qualquer forma, nota-se que de 2004 a 2008, uma tendncia a reverso dessa proporo com a ate- nuao da diferena de participao dos municpios e o crescimento em nmero absoluto da oferta de unidades da ordem de 40 mil na RMSP, representada por 35 muni- cpios atendidos. Os recursos utilizados para a viabilidade de seus programas, em todo o Estado, so provenientes de repas- ses do ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios, destinao do oramento base do Estado de So Paulo, via Poder Executivo, linhas de crdito federais, como o Programa Minha Casa Minha Vida 140 , alm de re- cursos capitalizados pela prpria carteira de muturios da CDHU. Tais fontes so os principais meios de arrecada- o de capitais para investimento e linhas de crdito que viabilizam os projetos da Companhia. possvel, porm, como dispor de outras fontes, conforme indicado em seu Estatuto. Em 2010, tal documento 141 apresenta, em seu se- gundo artigo, o objeto da Companhia, que explicita suas atribuies e seus possveis campos de atuao e obten- o de recursos para os programas habitacionais por ela disponibilizados: I. Elaborar ou contratar a elaborao de projetos e suas implantaes e promover medidas de apoio realiza- o de planos e Programas Estaduais e/ou Municipais de habitao prioritrios para o atendimento populao de baixa renda, em conformidade com as diretrizes estabele- cidas pela Secretaria da Habitao do Estado de So Paulo mediante: a) aquisio, urbanizao e parcelamento de reas para fns habitacionais; b) comercializao de lotes urbanizados; c) implantao de equipamentos comunitrios; d) comercializao de habitaes; e) locao social de habitaes; f) ampliao e/ou melhoria de habitaes existentes; ...(entre outros) 139 Dados retirados de http://www. habitacao.sp.gov.br/saiba-como-fun- ciona-a-cdhu/distribuicao-territorial- -cdhu.asp ,em dez./2010. 140 Tal programa ser explanado do prximo subcaptulo. 141 http://www.habitacao.sp.gov.br/ download/estatuto/estatuto-cdhu.pdf CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 134 II. Acompanhar, fscalizar e controlar o cumprimento de obrigaes contratuais pelos adquirentes de lotes e habi- taes fnanciadas pela companhia. III. Celebrar convnios e contratar servios junto a instituies fnanceiras e no fnanceiras, bem como com entidades internacionais, tendo em vista a obteno de recursos e suporte tcnico para gerir os crditos de fnan- ciamentos concedidos aos benefcirios dos programas habitacionais promovidos pela Companhia. IV. Atuar junto aos rgos do governo e concession- rios de servios pblicos visando a urbanizao de reas destinadas a programas habitacionais, de acordo com as orientaes e regulamentos municipais para o desenvolvi- mento urbano local. [...] IX. Promover a elaborao de projetos visando construo e a ampliao de equipamentos urbanos e/ou comunitrios e outras edifcaes destinadas prestao de servios pblicos, includas nos programas de ao de rgos da Administrao Estadual e Municipal, mediante convnios celebrados com as Secretarias de Estado, en- tidades centralizadas e descentralizadas, devidamente autorizados pelo Governo do Estado. X. Elaborar ou promover a elaborao de projetos de empreendimentos habitacionais para serem implantados em sistema de parceria pblico privada (PPP). [...] XII. Atuar como agente operador do Fundo Garantidor do Estado de So Paulo, nos termos da Legislao Estadual especfca e seus regulamentos. So apresentadas como objeto de atuao da Companhia uma srie de outras funes de promoo de desenvolvimento urbano alm da proviso de novas mo- radias. A CDHU est habilitada a implantar programas de infraestrutura urbana 142 , e melhorias em geral, alm de celebrar convnios para obteno de linhas de fnancia- mento e recursos com os mais diferentes rgos pblicos e privados, nacionais e internacionais. Essas disposies acabam por conceder CDHU uma ampla possibilidade de atuao nos municpios do Estado, propiciando a di- versifcao de seus programas. 142 Como sua participao do projeto de implantao do Rodoanel Mrio Covas na RMSP. 135 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.1.1 Principais programas e formas de atuao da CDHU A CDHU opera em 2010 mediante um leque de pro- gramas que atuam com diferentes frentes no campo da habitao, que so indicadas no Plano Plurianual 2008 - 2011 da Companhia: 143 Proviso habitacional Requalifcao de moradias Urbanizao de favelas e assentamentos prec- rios Saneamento Ambiental Regularizao fundiria de interesse social Alm de programas que contam com a produo de novas unidades, sua atuao em 2010, juntamente com a Secretaria de Habitao do Estado ampliada para programas de interveno urbana para regularizao fun- diria, urbanizao de favelas, regularizao e melhoria de reas encortiadas, entre outros. Tais programas so continuao de uma tendncia de descentralizao da atuao da CDHU, iniciada na dcada de 1990, quando foram criados programas de atendimen- to especfcos alm da construo de moradias, como o caso dos programas Pr- Lar 144 que se especializavam na atuao em autoconstruo, em cortios, em urbanizao de favelas, em reas de risco, entre outros. A criao desse tipo de programa possibilitou o aten- dimento a famlias com rendas mais baixas, abaixo de trs salrios mnimos, residentes na RMSP que no poderiam ser atendidas pelos programas de compra de novas uni- dades. Houve uma pulverizao da atuao da CDHU, na Grande So Paulo, em funo de tais programas, reduzin- do em nmeros absolutos sua oferta, porm ampliando e incluindo famlias que at ento no tinham como ser atendidas. O que se deve ao fato de que os custos de im- plantao de tais programas, por famlia atendida, eram mais baixos que os custos de construo de novas unida- des. Entretanto, nesse trabalho, foca-se em estudos de caso de conjuntos produzidos mediante de programas de proviso de moradias, que confguram e constroem o es- pao urbano dos conjuntos habitacionais estudados. Ou seja, construo e comercializao de unidades habitacio- nais localizadas na RMSP, que acabam atendendo famlias com rendas um pouco mais elevadas com at dez salrios mnimos. 143 Extrado de http://www.habitacao. sp.gov.br/download/plano-plurianual. pdf 144 Pr-Lar foi o nome dado a um agrupamento de programas lanados pela CDHU no incio da dcada de 1990. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 136 Dos programas de proviso habitacional que se en- carregam de construir novas moradias urbanas em So Paulo, destacam-se no Plano Plurianual de 2008-2011 da CDHU: Parceria com municpios Parceria com Associaes e Cooperativas Assim como os programas de melhorias urbanas, esses programas voltados para a construo de novas mo- radias em conjuntos habitacionais tambm descendem de programas anteriormente disponveis na CDHU, em dcadas anteriores. Os programas SH1, SH2, SH3 e SH4, responsveis pela oferta de mais de 180 mil unidades ha- bitacionais no Estado de So Paulo 145 , durante a dcada de 1980 at 2002, foram os precursores da produo em escala de unidades habitacionais organizadas em grandes conjuntos pela Companhia. No modelo por eles adotados com a contratao das obras e projetos por meio de empreiteiras gerenciadas pela equipe da CDHU, j se pressupunha uma parceria en- tre as prefeituras e o rgo estadual, na qual as primeiras deveriam ser responsveis pela disponibilizao do banco de terras municipal e pela dotao de infraestrutura ur- bana bsica para os conjuntos. 146 Outros programas ainda derivaram do modelo SH1, SH2, SH3, e SH4 at a formulao dos programas atuais de oferta de novas unidades, inseridos dentro da lgica do Pr-Lar. Eram o Pr-Lar Ncleo por Empreitada Glo- bal e Integral e o Chamamento Empresarial, entre outros, que tambm operavam por contrapartida das prefeituras, oferecendo o suporte urbano para a implantao dos em- preendimentos. Em 2010, destacam-se os programas de parceria como os maiores responsveis pela oferta de moradia construdas em conjunto para o atendimento da de- manda habitacional estadual, alm da atuao direta da CDHU. O programa Parceria com Municpios consiste na construo de novas moradias em conjuntos habitacio- nais horizontais ou verticais promovidos pela CDHU, com o apoio das prefeituras municipais na viabilizao do em- preendimento, como j citado anteriormente. O perodo de 1995 a 2010 representou aproximada- mente 25 mil unidades novas comercializadas em todo o Estado, oferecidas para famlias com rendas entre um e dez salrios mnimos. Sua operao tambm base- ada em um sistema de contrapartida e parceria com as prefeituras e suas secretarias de habitao, sendo essas responsveis pela doao de terrenos, de infraestrutura urbana bsica redes de guas, esgoto, energia, guias e sarjetas e pela aprovao dos projetos nos rgos com- petentes. 145 Dado retirado do Placar da Habi- tao publicado pela prpria CDHU em http://www.habitacao.sp.gov.br/ aplicacoes/internauta/perfl/produ- cao/ProgramaHabitacional.asp 146 ARRETCHE, 1996: p.21. 137 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO A CDHU, por sua vez, se responsabiliza pela contrata- o da obra das unidades habitacionais pelo sistema de empreitada ou administrao direta ou mutiro, pela co- mercializao das unidades, cadastramentos e sorteio das unidades entre as famlias interessadas. O programa Parceria com Associaes focado em atender s Associaes e Cooperativas organizadas na RMSP, que devem participar de todo o processo de concepo indicao de terreno e implantao do conjunto. As famlias a serem atendidas devem possuir renda de dois a dez salrios mnimos e serem participan- tes da Associao representada. A CDHU responsvel por executar parcialmente a obra, a as associaes por fnali- z-las na etapa de acabamentos pelo sistema de mutiro. Esse programa j atendeu mais de 8400 famlias desde 2003. 147 Os programas de parceria visam a atender famlias com rendas mais baixas do que aquelas que so atendi- das pelo Mercado Imobilirio, com preferncia a famlias de renda de at cinco salrios mnimos. Por isso necessi- tam de custos de construo mais baixos do que aqueles custos dos empreendimentos voltados para famlias com rendas de at dez salrios mnimos. Dessa forma, as ti- pologias arquitetnicas adotadas seguem o caderno de tipologias da CDHU, com a predominncia de prdios verticais sem elevador, tendendo padronizao das solues arquitetnicas e construtivas como forma de ba- rateamento da unidade. Em ambos os programas, a contrapartida da prefei- tura terreno e infraestrutura so considerados como doaes e no entram no custo total da unidade a ser fnanciada pela CDHU. Dessa forma, garante-se um valor de unidade habitacional mais baixo que aquele praticado pelo mercado, j que o custo da terra lote e infraestru- tura subsidiado pelo Poder Pblico. Outro programa comum na RMSP implementado pela CDHU o PHAI Programa Habitacional de Integra- o que tem por objetivo atender aos servidores pblicos estaduais ativos, fnanciando imveis novos ou usados atra- vs de cartas de crdito pelo Banco do Brasil, com subsdios da SH/CDHU. 148 Nesse programa, a CDHU oferece aos servidores da rede pblica apartamentos construdos em conjuntos habitacionais na Grande So Paulo, localizados prximos de seus locais de trabalho, mediante condies de fnan- ciamento com taxas de juros reduzidas, possibilidade de fnanciamento do valor total do imvel, subsdios par- ciais, entre outros benefcios que no so oferecidos por linhas de crdito em Bancos comerciais. Foram produzidos na RMSP alguns conjuntos com caractersticas formais e de localizao prprias e diferen- ciadas daquelas produzidas nos conjuntos dos programas 147 Dado retirado do placar da Habita- o disponibilizado pela CDHU. 148 Em http://www.habitacao.sp.gov.br/ programas-habitacionais/phai.asp CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 138 de parceria com as prefeituras e com as associaes que constituem o padro de produo mais conhecido da CDHU, contemplando famlias com rendas aproximadas de trs a dez salrios mnimos dependendo do valor do apartamento a ser comercializado. Em funo do perfl das famlias atendidas com ren- das mais altas de at dez salrios mnimos, possvel viabilizar prdios de apartamentos com terrenos localiza- dos em zonas mais centrais da RMSP e tipologias de mais de cinco pavimentos com elevador. Alguns exemplos de conjuntos produzidos e destina- dos para o PHAI, pela CDHU so: Raposos Tavares C/D, no bairro do Butant, Ipiranga A, no bairro do Ipiranga, e o Sacom A/C, no bairro do Sacom, todos em So Paulo. Em todos os programas, a CDHU responsvel por aprovar a localizao e as condies dos terrenos ofer- tados pelas municipalidades, bem como os custos fnais de cada unidade aps estudos de viabilidade tcnica e fnanceira nos quais so considerados o aproveitamento do terreno com o maior nmero de unidades possvel, os custos de movimentao de relevo do solo, de pavi- mentao, entre outros, versus o custo fnal da unidade habitacional e seu valor mximo de fnanciamento para famlias de renda limitada, no mximo dez salrio mni- mos. 149 Imagem veiculada pela CDHU do Conjunto Raposo Tavares C/D produzido pelo programa PHAI, na zona oeste de So Paulo. www.habitacao.sp.gov.br Imagem veiculada pela CDHU do Conjunto Sacom C, na zona sul de So Paulo. www.habitacao.sp.gov.br 149 PETRELLA, 2009:P.205. 139 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Existe ainda a atuao direta da CDHU sem contar com a parceria dos Municpios ou Associaes. O rgo responsvel tanto pela prospeco, compra e desa- propriao dos terrenos, quanto pelo desenvolvimento, implantao e comercializao das unidades. A lgica de produo de novas moradias pela atuao direta da CDHU segue tambm um estudo de viabilidade de cada terreno, conforme o descrito anteriormente, no qual so levados em conta os fatores de localizao desses terrenos, sua possibilidade de utilizao e aproveitamento, nmero de unidades habitacionais a serem acomodadas e os custos fnais de cada unidade. Alm disso, a Companhia responsvel por aprovar os projetos desenvolvidos pelos escritrios, ou assessorias tcnicas contratados, verifcando se tais projetos seguem as recomendaes apresentadas no Manual Tcnico de Projetos, publicado em 1998 e reeditado em 2008. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 140 3.1.2 Caracterizao da produo na RMSP 1995 - 2010 A produo de novos conjuntos habitacionais, em- preendidos e/ou fnanciados pela CDHU, nas ltimas duas dcadas na Regio Metropolitana de So Paulo, incluindo a Capital, pode ser caracterizada de forma geral pela sua localizao, por suas caractersticas morfolgicas, pelo seu porte em nmero de unidades e rea de ocupao, alm da sua forma de produo. Isto , suas caractersti- cas de Desenho Urbano. Em 2010, a CDHU tem em atendimento pelo progra- mas aqui detalhados PHAI, Parceria com municpios, parceria com associaes e sua produo direta mais de 2.900 unidades, sendo produzidas na Capital e mais de 2100 unidades, sendo produzidas nos municpios que compem a RMSP. Dessa produo, destaca-se a concen- trao no programa da parceria com Associaes e na produo por Mutiro com mais de 2.800 unidades, sen- do construdas em toda a RMSP incluindo a Capital. 150 Os conjuntos aqui considerados so aqueles produ- zidos com a construo de novas unidades em So Paulo, na sua periferia e na conurbao com outros municpios da RMSP. Ressalta-se que devido dimenso da metr- pole e da sua heterogeneidade socioeconmica e at mesmo urbana, so possveis de se imaginar inmeras ca- racterizaes morfolgicas dos conjuntos. Caracterizaes Vista do corte de um dos tipos de edifcao frequentemente implantados pela CDHU na RMSP. PI22 F, um tipo de 4 pavimento sobre pilotis. Cadernos de tipologias, p.11, 1998 Perspectiva do tipo P!22-F. Cadernos de tipologias, p.11, 1998 150 http://www.habitacao.sp.gov.br/ download/producao/atendimentos- -em-andamento.pdf 141 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO e situaes to variadas quanto seu contexto urbano e sua insero na cidade, o que pode limitar as generaliza- es a respeito da produo da CDHU na RMSP. Dentre todas as situaes em que se enquadra a pro- duo da CDHU de 1995 at 2010, possvel encontrar conjuntos que se localizam nas franjas do permetro ur- bano da capital, em municpios mais afastados do centro de So Paulo, ou ento, conjuntos que se inserem nas zonas mais centrais das cidades em processos de urbani- zao de favelas ou de ocupao de vazios urbanos. O que se pretende caracterizar a produo que se enquadra no campo de estudo deste trabalho que so os conjuntos localizados nos bairros perifricos do munic- pio de So Paulo, construdos em terrenos nunca antes ocupados, prximos ou em reas vizinhas de outros con- juntos habitacionais edifcados em momentos anteriores. No geral, toda a produo de novos empreendimen- tos da CDHU baseada em tipos arquitetnicos verticais. No se observa a produo de tipos horizontais nas reas estudadas, nos ltimos quinze anos, por esses demanda- rem maiores reas e encarecerem o custo de implantao dos conjuntos. Dos tipos verticais adotados, observa-se a predominncia dos tipos-padro disponibilizados pelo Caderno de Tipologias da CDHU, publicado em 1998, e variaes desses tipos. Vista em corte do tipo VI22- F, o mais comum nos conjuntos habitacionais empreendidos pela CDHU na RMSP. Cadernos de tipologias, p.10, 1998 Perspectiva do tipo VI22, com apartamentos trreos. Cadernos de tipologias, p.9, 1998 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 142 So prdios de apartamentos com cinco pavimentos cada trreo mais quatro andares que poucas vezes so implantados sobre pilotis. Tais blocos apresentam lmi- nas articuladas por caixas de escadas centrais e podem ser implantado em patamares desnivelados, isolados uns dos outros ou justapostos entre si. Essa tipologia adotada nos conjuntos produzidos por mutiro ou por empreitada em conjuntos localizados nos bairros mais afastados do centro de So Paulo. So utilizados em duas situaes distintas de conjuntos: 1. Implantaes de mdio e grande porte, com mais de 160 unidades habitacionais. Ocupam terrenos de mdio e grande porte em reas no consoli- dadas nos limites da periferia paulistana, muitas vezes adjacentes aos conjuntos habitacionais da dcada de 1970. 2. Implantaes de pequeno porte com at 160 unidades habitacionais. Ocupam reas menores e lotes remanescentes internos aos conjuntos habitacionais mais antigos, sendo assim prdios isolados ou agrupados dois a dois. Esses dois tipos de implantao prevalecem na atua- o contempornea da Companhia, representado o maior nmero das unidades comercializadas. Vista area do Conjunto Jardim So Luiz, zona sul de So Paulo. Implantao de grande porte datada da dcada de 1990, com mais de 160 unidades. Google Earth, 2011 Entrada do Condomnio Califrnia, em Itaquera, So Paulo. Exemplo de conjunto implantado pela CDHU com limitao do nmero de unidades. 2010. 143 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Um terceiro tipo de implantao baseado na ado- o do tipo vertical de oito pavimentos com elevador, em lminas justapostas duas a duas ou isoladas. Ocupam terrenos de mdio porte, prximos aos conjuntos mais antigos e mais inseridos em bairros afastados com urba- nizao consolidada. Nesse caso, se enquadram parte dos conjuntos produzidos para o PHAI, que se conformam muitas vezes com torres mais altas, ocupando terrenos de menor porte em bairros consolidados da metrpole. Conforme Manual da CDHU, publicado em 1998, em todos os trs tipos de implantao identifcados em 2010, so conjuntos compartimentados em pequenos condom- nios de 160 unidades cada, independente do nmero de unidades produzidas. Assim, conjuntos projetados com mais unidades so subdividos por grades e muros que fragmentam sua implantao em compartimentos me- nores, limitados a 160 unidades. comum encontrar-se condomnios menores agrupados em outros condomnios maiores os conjuntos - com portarias e grades duplas. Quanto aos equipamentos que costumam ser con- templados no projeto de urbanizao dos conjuntos, invariavelmente, encontram-se os centros comunitrios que nem sempre so entregues ao mesmo tempo que os apartamentos. Por isso, comum encontrar-se lotes va- zios dentro dos conjuntos recm-entregues, esperando a implantao de edifcios para atividades coletivas. Outra caracterstica dessa produo so as reas li- vres destinadas aos estacionamentos, que conformam a maior parte da superfcie dos lotes ocupados. So previs- tas invariavelmente, seguindo a orientao do Manual Tcnico, uma vaga para cada duas unidades habitacio- nais, dentro das grades de todos os condomnios. Os conjuntos se caracterizam tambm pela coe- xistncia nos bairros perifricos com lanamentos de empreendimentos e conjuntos habitacionais recm- -entregues pelo Mercado Imobilirio. Lado a lado, eles vm sendo produzidos e ocupam os terrenos residuais da implantao dos conjuntos habitacionais da Cohab, na dcada de 1980, e da CDHU, nas dcadas seguintes. So exemplares de empreendimentos incorporados e cons- trudos por empresas como a Tenda Construtora e a MRV Engenharia, especializadas na produo voltada para as famlias com renda at dez salrios mnimos, que divi- dem o territrio perifrico com os empreendimentos da CDHU, e o tecido urbano habitacional pr-existente. A atuao do Mercado Imobilirio, na construo de conjuntos habitacionais para famlias de renda popular na periferia paulistana, no fenmeno recente. Pode se observar uma srie de conjuntos localizados em bairros como Itaquera, Jaragu, Sacom, Brasilndia, entre ou- tros que no so fruto da atuao do Poder Pblico, mas sim empreendimentos privados edifcados nas dcadas de 1980 e 1990, nesses bairros. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 144 Ocorre que, aproximadamente a partir de 2005, h uma intensifcao da atuao do Mercado nessas regies com o lanamento de um nmero expressivo de empreen- dimentos habitacionais em forma de conjuntos verticais, vizinhos aos conjuntos da CDHU e Cohab, e com a con- centrao desses lanamentos em alguns poucos agentes. Julga-se necessrio entender a dinmica de atuao do Mercado Imobilirio nesses espaos urbano, seu processo de produo de empreendimentos e a conjuntura socioe- conmica que propiciou tal intensifcao. 145 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.2 A produo de habitao popular oferecida pelo Mercado Imobilirio Localizao dos empreendimentos da Tenda e MRV lanados entre 2009 e 2010 na RMSP. Predominncia de conjuntos distantes do centro de So Paulo S. Em azul esto o Rio Tiet e o Rio Pinheiros que cortam So Paulo. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 146 Os terrenos vazios de regies perifricas habitadas pela populao de baixa renda vm sendo ocupados por novos empreendimentos residenciais produzidos pela iniciativa privada. Incorporadoras e construtoras se volta- ram, a partir aproximadamente de 2005, para o mercado popular, com renda de at dez salrios mnimos, que re- presenta a base da pirmide do mercado como um todo, ou seja, apesar de ser popular apresenta a possibilidade de um grande volume de negcios. Grandes incorporadoras, como a Cyrela e a Gafsa , conhecidas por sua atuao no mercado voltado para fa- mlias de renda mdia e alta, criaram subdivises para atender ao mercado com renda familiar de trs a dez sa- lrios mnimos. Outras incorporadoras desde sua criao foram direcionadas para o objetivo de trabalhar para essa fatia do mercado, como o caso da Tenda e da MRV, todas essas atuando em nvel nacional. Tal fatia conhecida como Segmento Econmico. Essas duas incorporadoras passaram pelo processo da abertura de capital na Bolsa de Valores de So Paulo, em 2007, com a fnalidade de arrecadao de capital para fortalecimento da expanso de seus negcios empreen- dimentos habitacionais. Essa abertura de capital permitiu que fosse estruturado um banco de terras estoque de terrenos que viabilizassem essa expanso. Nota-se o aumento da oferta de lanamentos des- ses empreendimentos nas grandes capitais do pas So Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, e em cidades vizinhas que fazem parte de sua Regio Metropolitana, principalmente aps o lanamento de um programa federal de incentivo construo civil voltada para a habitao. Esses empreendimentos de apartamentos, casas e sobrados esto sendo construdos lado a lado aos con- juntos de habitao de interesse social produzidos pelo Estado. Eles atendem a uma faixa de renda semelhante ao programas pblicos responsveis por tais conjuntos, esto localizados nas mesmas reas das cidades, porm, funcionam por uma lgica diferente, a lgica de mercado. Por isso, tornam-se objetos de estudo essenciais para a formao de um panorama completo sobre a produo voltada para a baixa renda do Brasil. Este trabalho foca-se sobre alguns exemplos desses empreendimentos incorpo- rados e construdos pelas empresas Tenda e MRV, lderes de mercado para esse segmento, localizados na Regio Metropolitana de So Paulo. Analisa-se a atuao desse grupo do Segmento Eco- nmico, sua lgica empreendedora e o estmulo dado a esse segmento de mercado pelo programa federal Minha Casa Minha Vida. 147 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.2.1 O Programa Minha Casa Minha Vida e o fortalecimento do setor imobilirio Em abril de 2009, o Governo Federal brasileiro lanou dentro do PAC Programa de Acelerao de Crescimen- to, o programa de incentivo produo habitacional e o incentivo casa prpria chamado de Minha Casa Minha Vida. O objetivo desse programa foi viabilizar a constru- o de um milho de novas moradias com o investimento do Governo Federal de 34 bilhes de reais no perodo de 2007 a 2010. Essas moradias so destinadas a famlias com renda de zero a dez salrios mnimos, em todo o ter- ritrio nacional. Para a faixa de renda de at trs salrios mnimos, a produo deve ser gerenciada pelo Estado por intermdio de rgos estaduais e municipais, como por exemplo, as Cohabs e a CDHU. Para as faixas de renda acima de trs salrios mnimos essa produo pode existir por meio do Estado governos federal, estaduais e muni- cipais, ou pela Iniciativa Privada. A faixa de renda familiar entre trs a dez salrios mnimos representou, em 2009, 9,1% do total do df- cit habitacional, estimado pelo Governo Federal em 7,2 milhes de residncias. Numericamente, essa demanda estimada da ordem de 650 mil unidades habitacionais, distribudas pelas cinco regies do pas, conforme o grf- co dado. Das unidades totais a serem construdas, 600 mil esto destinadas para tal faixa de renda, portanto, se esse programa for concludo, ser possvel atender a maior parte desse dfcit, ou 90% do total demandado. Com esse cenrio, pode-se inferir que o setor imobi- lirio, voltado para a construo residencial do Segmento Distribuio por regio de governo dos investimentos do PAC da habitao, concentrao na Regio Sudeste e Nordeste, at 2010. www.minhacasaminhavida.org.br Distribuio por faixa de renda familiar dos investimentos do PAC da habitao. Originalmente concentrou-se nas rendas mais baixas de zero a trs salrios mnimos. www.minhacasaminhavida.org.br CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 148 Econmico, recebeu um impulso para sua atuao, valen- do-se dos facilitadores e do investimento desse programa. So seis centenas de milhares de unidades habitacionais a serem construdas e comercializadas pela iniciativa p- blica ou privada. So disponibilizados estmulos com o subsdio inte- gral ou parcial da parcela de entrada do imvel, reduo das taxas de juros de fnanciamento, fundo garantidor das prestaes e reduo da taxa de seguro do fnanciamento, iseno parcial dos custos cartoriais, possibilidade de ref- nanciamento em caso de perda de renda, dependendo da faixa de renda da famlia. Um aspecto relevante desse programa a existncia de um caderno, preparado pela Caixa Econmica Federal com diretrizes para a produo voltada faixa mais baixa de renda familiar de zero a trs salrios mnimos que determina algumas diretrizes e restries como a rea mnima das unidades e seu nmero de compartimentos mnimos a serem construdos, pelas instituies respon- sveis, alm da limitao dos conjuntos a um mximo de 500 unidades habitacionais. So, porm, diretrizes pouco especfcas que no determinam necessariamente um pa- dro mnimo de qualidade para os projetos. Por serem apresentadas em forma de texto e por serem pouco es- pecfcas, do margem a variadas interpretaes que, em alguns casos, podem desfavorecer o projeto como um todo. J o atendimento s faixas de renda mais elevadas no recebe predefnies quanto s tipologias a serem adotadas, estando apenas limitado o porte dos mdulos dos empreendimentos em 500 unidades. Existem apenas 33 diretrizes bsicas 151 a serem seguidas, que garantem o mnimo de habitabilidade a esses empreendimen- tos. Dessa forma, essa produo se submete a regras de RcgIcs R5 aIua| novo aIua| novo aIua| novo aIua| novo RMs dc SP, R!, 0F 6384,00 23,00 28000,00 16000,00 0000,00 2000,00 CIdadcs com maIs dc 1uu mI| hab., capIIaIs c RMs 016,00 17000,00 2200,00 10000,00 3000,00 2000,00 CIdadcs dc 5u mI| a 1uu mI| habIIanIcs 4104,00 13000,00 1800,00 6000,00 2000,00 2000,00 2 sm 4 sm 5 sm 6 sm 151 Ver essas diretrizes no captulo 2 Critrios para avaliao e projeto de reas habitacionais populares. Tabela de subsdios concedidos aos muturios na compra do imvel distribudo por renda familiar e localizao de residncia. Comparao entre subsdios prvios e queles propostos pelo Programa Federal, at 2010. www.minhacasaminhavida.com.br 149 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO rgos municipais e estaduais, s diretrizes das Compa- nhias de Desenvolvimento Habitacional locais e, no caso da iniciativa privada, aos padres estabelecidos indireta- mente pela oferta do mercado. Devido a esse fato, observa-se a expanso de em- preendimentos incorporados e construdos pelo Mercado Imobilirio nas principais capitais do pas, com foco para So Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, e em cidades vizinhas Suzano, na RMSP, e Jaboato dos Guararapes, na Regio Metropolitana de Recife, por exemplo. 152 3.2.2 O Mercado Imobilirio voltado para o Segmento Econmico na regio Metropolitana de So Paulo. Caracterizao da atuao 2005-2010 Em 2009, encontravam-se atuando para o Segmen- to Econmico na Regio Metropolitana de So Paulo as seguintes incorporadoras e construtoras: Tenda, MRV, Goldfarb, Rodobens- Camargo Correa, Living, Open e Rossi Ideal 153 , alm de outras de menor porte. Segundo a pesquisa anual, veiculada pela Embraesp 154 , sobre a produo imobiliria na RMSP, no ano de 2009, foram lanados por essas incorporadoras aproximadamente 55 novos empreendimentos direcio- nados ao mercado popular. Esse nmero representa 11% do total de 494 empreendimentos lanados na RMSP, nos quais se incluem lanamentos de mdio e alto padro. Em 2008, haviam sido lanados 49 novos empreendimentos para esse segmento, que representavam 9% do nmero total de lanamentos na RMSP. Alm de um ranking de nmero de lanamentos, a pesquisa da Embraesp tambm fornece dados relativos ao nmero de blocos de apartamentos edifcios isolados lanados, nmero de unidades lanadas, rea total dos lanamentos e produto total lanado. 152 Dados levantados pela prpria autora valendo-se de pesquisa feita pela internet no site das construtoras voltadas para Segmento Econmico, sobre os lanamentos 2009/2010. 153 Essas so incorporadoras e cons- trutoras que atuam em territrio nacional, concentradas, porm na RMSP. Living, Open e Rossi Ideal so extenses das construtoras Cyrela Brazil Realty, Even Construtora, e Rossi Residencial S.A., respectivamen- te, criados para atuar no Segmento Econmico. 154 Empresa Brasileira de Estudos de Patrimnio. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 150 Observando-se o ranking, considerando o nmero de blocos de apartamentos lanados, verifca-se que a pro- duo voltada para o segmento econmico incorporado por essas empresas, representa fatia maior do nmero total se comparado com os dados anteriores. De 901 blo- cos de apartamentos lanados, pelo menos 159 foram lanados para esse segmento, ou seja, 17% do nmero total. No ranking que se refere ao nmero de unidades lanadas, observa-se tambm a participao signifcativa do segmento, de 59 mil unidades lanadas, 11 mil cor- respondem ao mercado conhecido como popular, o que corresponde a quase 19% do total de unidades. Com base nesses dados possvel caracterizar a ti- pologia mais comum de empreendimentos populares, produzidos pelo Mercado Imobilirio: conjuntos de apar- tamentos, com edifcios baixos. Observa-se a padronizao dos tipos de edifcaes, que so lanadas por essas incorporadoras, com projetos arquitetnicos desenvolvidos internamente pela equipe de arquitetos e engenheiros da prpria construtora. So alguns modelos de plantas de apartamentos com um, dois ou trs dormitrios e alguns poucos modelos de ca- sas com dois ou trs dormitrios, que podem ser trreas, assobradadas ou sobrepostas, sendo sempre geminadas. A construtora Tenda, por exemplo, em 2009, contou com aproximadamente oito tipos diferentes de plantas que so aplicadas em terrenos por todo o Brasil. Tipo padro de bloco de quatro pavimentos da MRV Engenharia, comumente utilizado nos conjuntos paulistanos. www.mrv.com.br Tipo padro de 12 pavimentos da MRV Engenharia. www.mrv.com.br 151 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO As unidades apresentam reas extremamente re- duzidas que so viabilizadas pelas simplifcaes da distribuio interna com a eliminao de corredores, anteparos e a reduo das reas de servio, muito se apro- ximando da plantas padro da CDHU. Busca-se o maior aproveitamento do terreno com a implantao dos proje- tos padronizados que, na maioria das vezes, apresentam unidades ocupando o trreo dos edifcios. Os blocos de apartamentos podem ser em geral de cinco pavimentos sem elevador, oito pavimentos com um elevador, ou 12 pavimentos com dois elevadores. Apesar do restrito leque de solues arquitetnicas, para se criar uma identidade a cada empreendimento, so adotados acabamentos de fachadas distintos. Cada novo lanamento recebe novas cores de pintura e revestimen- tos diversifcados que diferenciam um empreendimento do outro, apesar da volumetria ser exatamente igual. Outra caracterstica dos empreendimentos a implantao das edifcaes de forma a aproveitar ao m- ximo sua rea para unidades habitacionais. Os prdios so dispostos no terreno, paralelos entre si, com distncias mnimas entre os blocos para garantir ventilao e ilumi- nao dos cmodos, respeitando os recuos determinados pelo zoneamento. Os espaos livres de construo desses empreendimentos so espaos residuais da implantao dos edifcios e do estacionamento de automveis, sen- do esse o protagonista no desenho das reas livres. o Tipo padro de bloco de apartamentos com quatro pavimentos da Construtora Tenda. www.tenda.com.br Tipo padro de bloco de apartamentos com quatro pavimentos da Construtora Tenda. www.tenda.com.br CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 152 programa que juntamente com as edifcaes determina a implantao geral do empreendimento. Cada unidade habitacional deve ter pelo menos uma vaga de estaciona- mento e por esse motivo, ocupa a maior parte do terreno. O restante da rea ocupado por alguns equipamen- tos de lazer que variam de acordo com a disponibilidade de espao. comum a instalao de playgrounds, quios- ques com churrasqueira, quadras de esportes e, s vezes, piscinas. Esses equipamentos so dispostos pelo terreno, conforme a limitao de rea existente, no existindo uma relao direta entre nmero de unidades e a sua quantifcao. Ressalta-se a infuncia dos padres da produo do Mercado Imobilirio, voltado para a classe mdia alta que se tornam atrativos nos projetos do Segmento Econ- mico. Tais padres de desenho com espaos especfcos o espao zen, a praa kids e outros so adaptados e simplifcados para serem implantados nesses empreendi- mentos. No existem, dentro das incorporadoras e cons- trutoras critrios predeterminados para o projeto dos espaos de lazer, como existe na CDHU o Manual Tcnico de Projetos. O dimensionamento e a quantifcao no correspondem quantidade de unidades habitacionais projetadas em cada empreendimento, mas sim disponi- bilidade de terreno. Dessa forma, empreendimentos com 200 unidades habitacionais podem apresentar a mesma quantidade de equipamentos de lazer de dimenses iguais que um em- preendimento ocupado por 400 unidades habitacionais. Os tipos de projetos com maior aceitao pelo p- blico-alvo consumidor so aqueles de casas trreas ou assobradadas. Piscinas e playgrounds tambm so valori- zados pelos consumidores. Tal produo, voltada para o Segmento Econmi- co vem atingindo nmeros expressivos, se comparados produo empreendida pelo Poder Pblico, voltada para o Mercado Popular. Em apenas um ano, o Mercado Imo- bilirio lanou mais de 9 mil unidades habitacionais que atendem a famlias com renda de at dez salrios mni- mos, na Regio Metropolitana de So Paulo. A CDHU, ao longo de sua histria, entregou nessa mesma Regio 154 mil unidades, em mais de 50 anos de histria. 155 Essa pro- duo ainda inclui outros programas habitacionais que no so comparveis produo do Mercado Imobilirio, como o caso de urbanizao de favelas e regularizao de cortios, o que torna ainda mais expressivo a abran- gncia quantitativa da atuao do Segmento Econmico, em apenas um ano. um tipo de produo que apresenta peculiaridades quanto sua forma e programa. Se por um lado distan- cia-se da produo caracterstica do mercado de mdia 155 Os dados fornecidos pela CDHU remontam sua primeira fase de atuao ainda como Cecap, no fnal da dcada de 1940. http://www.habi- tacao.sp.gov.br/saiba-como-funciona- -a-cdhu/producao/index.asp 153 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO e alta renda, por outro lado, diferencia-se tambm da produo pblica de interesse social, j que segue outra lgica produtiva, comandada pelo mercado e por relaes de investimento e retorno fnanceiro deste ltimo agente. 3.2.3 Forma de atuao do Mercado Imobilirio: a lgica do estudo de viabilidade 156
Existe uma lgica por trs de cada lanamento imo- bilirio que orienta as principais caractersticas de seu produto: o conjunto habitacional. Tal lgica pautada em um estudo de viabilidade fsico e fnanceiro, no qual so considerados os custos de implantao de um empre- endimento e sua possibilidade de gerao de receita para o empreendedor. Tal estudo de viabilidade acaba por balizar os cri- trios de escolha dos terrenos, dos tipos arquitetnicos a serem implantados, do projeto de paisagismo e equi- pamentos de lazer a serem disponibilizados, nmero de unidades por condomnio, entre outros fatores morfol- gicos desses produtos, que determinam o seu custo de produo. O primeiro passo de um estudo de viabilidade a anlise dos terrenos disponveis, vagos na regio da ci- dade onde se determinou um lanamento. 157 Dentre as opes de reas vagas na cidade localizadas em zonas que permitem esse tipo de empreendimento, escolhem- -se terrenos pouco valorizados. Tais terrenos podem estar muito distantes do centro da cidade, em reas urbanas de consolidao recente ou 156 Para entendimento do processo de lanamento e defnio de um empreendimento, foi utilizado como base a entrevista cedida por Mrcio Kawashima Gerente de Prospeco da Tenda ,em outubro de 2009. 157 Devido demanda habitacional existente de ordem de centena de milhares de unidades, no h regies do municpio mais cobiadas pelos lanamentos. H demanda por novas unidades em absolutamente todas as zonas da cidade, o que exclui deste estudo o processo ,em 2009, de iden- tifcao de demanda. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 154 em fase de consolidao, desde que haja, em tais reas, ruas de comrcio local e acesso a linhas de transporte pblico, que possam conectar esses terrenos com outros pontos da cidade mais centrais. Alm disso, necessrio que esses terrenos apresen- tem boa condies fsicas e geolgicas, isto , terrenos que demandem pouca movimentao de terra e que no necessitem de fundaes especiais, de forma a reduzir os custos de implantao dos conjuntos habitacionais. D- -se tambm preferncia a terrenos nunca ocupados e que no necessitem de remembramento para evitar-se custos de demolio e de obteno de licenas extras. No h um parmetro fxo de terreno a ser compra- do ou incorporado. A viabilidade econmica da aquisio de determinada gleba feita por um clculo de custo de urbanizao, ocupao e construo dessa gleba, compa- rado com as possibilidades de gerao de valor de venda das unidades habitacionais que podero ser comercializa- das. O segundo passo a elaborao de um layout bsi- co da implantao do empreendimento para a escolha dos tipos arquitetnicos padro a serem utilizados. Essa escolha feita tendo em vista a possibilidade de maior explorao da gleba, produzindo o maior nmero de uni- dades permitido pelo zoneamento, isto , sempre que possvel esses empreendimentos sero ocupados por tipos econmicos prdios baixos sem elevador e densos 158 . No municpio de So Paulo e na RMSP, h a predomi- nncia de empreendimentos de apartamentos com blocos de poucos pavimentos, devido pouca disponibilidade de terrenos com baixo custo de aquisio. Em outros Esta- dos, ou cidades distantes de regies metropolitanas, onde o custo da terra no to signifcativo na composio de custo dos empreendimentos, comum viabilizar-se em- preendimentos de casas geminadas trreas e assobradas. Com essas defnies, possvel se estimar o cus- to geral do empreendimento e o custo unitrio de cada apartamento/casa a ser comercializado, verifcando se os nmeros atingidos so atrativos para o mercado e se podem ser encaixados nos programas de fnanciamento federal, no caso, o Programa Minha Casa Minha Vida. Se os valores estimados de custo e de venda das unidades permitem o retorno do investimento, o empreendimento aprovado. O ltimo passo do processo de lanamento e pro- duo desses conjuntos que caracteriza a atuao do Mercado Imobilirio para o Segmento Econmico, a co- mercializao das unidades habitacionais. Esse processo , em geral, diverso do processo de comercializao das unidades produzidas pela CDHU e pelo Mercado Imobi- 158 No caso dos conjuntos fnanciados pelo Programa Minha Casa Minha Vida, a densidade de ocupao dos terrenos determinada pela limita- o tambm do nmero de unidades por condomnio em 500 unidades. 155 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO lirio, nos lanamentos voltados para a classe mdia e mdia-alta. As unidades nesse caso so comercializadas em lojas ou estandes de venda que centralizam a oferta em em- preendimentos diversos, localizados em pontos da cidade igualmente diversos, isto , o comprador ou interessado pela compra dos apartamentos e casas produzidos pelo Segmento Econmico, deve se dirigir a uma dessas lojas da Incorporadora de interesse para conhecer as opes disponveis de unidades. A Construtora Tenda, por exem- plo, possui seis lojas de imveis distribudas nas principais centralidades de comrcio popular de So Paulo. J a MRV Engenharia possui estandes de vendas centrais, conheci- dos tambm como lojas, onde se concentram a oferta de unidades habitacionais e vrios empreendimentos de um mesmo bairro. Conhecer o local onde se vai morar e o seu respectivo bairro secundrio no processo de tomada de deciso. O interesse maior inicialmente buscar opes que se enquadrem no tipo de fnanciamento acessvel pelas fa- mlias de at dez salrios mnimos de renda, com longos prazos e baixas taxas de juros. A insero urbana da mo- radia, seu bairro e seus vizinhos aparecem como questes posteriores possibilidade de pagamento da casa prpria. O que traz tona uma faceta negativa e questionvel da atuao do Mercado Imobilirio na produo de habi- tao popular com patrocnio subsdios pblicos, j que essa produo est apenas reproduzindo a lgica especu- lativa imobiliria da metrpole que empurra as classes menos favorecidas para as periferias mais distantes e mais carentes, que nem mesmo devem ser apresentadas no momento da oferta do imvel. Reproduz tambm a forma to criticada de comercializao de algumas uni- dades da CDHU, na qual as famlias se inscrevem para a compra de um apartamento em qualquer local da cidade, no necessariamente prximo sua famlia e seu empre- go. O resultado morfolgico dessa produo mais bem analisados por meio de estudos de caso que inserem tanto na produo da CDHU, quanto na produo do Mer- cado Imobilirio. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 156 3.3 Os conjuntos habitacionais contemporneos da periferia paulistana Estudos de caso 3.3.1 Mtodo de escolha e apresentao dos casos Localizao dos estudos de caso na imagem de satlite de So Paulo. Google Earth 2011. 157 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO A insero dos conjuntos habitacionais no contex- to da cidade pode ser explicada ao se analisar estudos de caso, isto , com base no conhecimento de alguns exemplos de conjuntos habitacionais j existentes, que se inserem dentro do escopo deste trabalho. Assim, possvel estabelecer uma viso crtica das difculdades e oportunidades criadas nos espaos urbanos dos bairros, onde se localizam tais empreendimentos. Para tal, foram selecionadas quatro situaes de conjuntos habitacionais que exemplifcam o modelo de espao urbano aqui descrito: conjuntos modernistas, des- fgurados pelas limitaes tcnicas, econmicas e sociais que permeiam sua produo, localizados na periferia da RMSP e produzidos para o pblico de famlias de renda popular. Alm dessas semelhanas, os conjuntos escolhidos como caso tem localizao adjacente, ou muito prxima, a grandes conjuntos habitacionais produzidos dentro da lgica do BNH, nas dcadas de 1970 e de 1980, e a outros conjuntos habitacionais empreendidos tanto pelo Poder Pblico, quanto pela iniciativa privada em fase de cons- truo, lanamento e/ou entrega das unidades em 2010. Os exemplos escolhidos foram divididos em dois ca- sos exemplares de conjuntos empreendidos pela CDHU, e dois casos exemplares empreendidos pelo Mercado Imo- bilirio construtoras Tenda e MRV. Como representativos da produo da CDHU, nas d- cadas de 2000 e de 2010, apresentam-se os conjuntos do Sacom C, e de Itaquera C, que representam juntos os tipos de conjuntos verticais usualmente implantados na RMSP: os blocos de apartamentos com oito pavimentos, e com quatro pavimentos, respectivamente. Os casos representativos da atuao do Mercado Imobilirio escolhidos foram o Horto do Ip e o Parque So Vicente, ambos localizados na RMSP. H um risco em se comparar de maneira generali- zada a produo habitacional empreendida pelo Poder Pblico, portanto, de interesse social, e a produo em- preendida pelo Mercado Imobilirio. Esse risco reside na diferena de objetivos e interesses desses dois agentes que no podem ser igualados em suas atuaes e em seu pro- cesso produo. Enquanto o Poder Pblico, representado neste estudo pela CDHU, tem como funo social aten- der demanda estadual por habitao, principalmente aquela composta por famlias com rendas limitas a trs salrios mnimos, e promover o desenvolvimento urbano dessas reas habitacionais; o Mercado Imobilirio justifca a sua atuao no com fns sociais, mas com o retorno de capitais. Para esse agente, a produo habitacional um negcio, um investimento sem qualquer outro propsito que o de gerar margens de lucro desejadas da explorao do solo urbano. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 158 Estando claro que o motivador da ao do Estado e do Mercado diferente e at contraditrio, necessrio estabelecer que a comparao dessas produes deve se dar no mbito morfolgico de analise dos espaos pro- postos e de sua insero na cidade existente. importante frisar que a escolha desses casos foi feita de forma a mostrar e analisar caractersticas re- presentativas e recorrentes desse tipo de produo de espaos urbano habitacional, propiciando a comparao entre a produo do Poder Pblico e a produo do Mer- cado Imobilirio. No objetivo deste trabalho identifcar especifcidades presentes em cada conjunto existente e produzido nos ltimos 20 anos na RMSP, mas sim iden- tifcar os principais traos formais dessa produo, sua insero no contexto urbano existente e suas defcincias enquanto propostas de novos espaos urbanos. So apresentados e analisados quatro estudos de caso considerando os critrios adotados anteriormente, no Captulo 2. So eles: 1. Aspectos e critrios ambientais 2. Estrutura geral hierarquia, porte, tipos constru- tivos, orientao no bairro 3. Dimenso e localizao dos espaos livres e dos espaos do entorno 4. Funes urbanas, e programas de uso propostos 5. Acessos e acessibilidade 6. Estacionamentos e circulao 7. Vegetao 8. Conexo com o entorno e aspectos simblicos Esses oito aspectos guiam a comparao entre os exemplos escolhidos, baseando-se em esquemas grfcos e documentao fotogrfca para tal. 159 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.3.2 CDHU Sacom C Localizao do conjunto Sacom C e seu entorno ocupado por outros conjuntos e o casario do bairro do Jardim Clmax. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 160 O Sacom C localiza-se na Zona Sul de So Paulo, no bairro do Sacom em uma regio conhecida como Jardim Clmax. So trs condomnios distintos, empreendidos pela CDHU, que compem esse conjunto e possuem seu endereo na Av. Padre Arlindo Vieira. Seu projeto teve incio nos anos 2000 e a entrega parcial dos 384 apartamentos data de 2005/6, ocupando aproximadamente uma rea total de 9.000 metros qua- drados. 159 Esse conjunto foi produzido pelo programa PHAI da CDHU, cujos apartamentos so comercializados com condies fnanceiras especiais para servidores p- blicos estaduais, com renda de at dez salrios mnimos. Seu entorno marcado por outros conjuntos habi- tacionais verticais produzidos pelo Mercado Imobilirio, um lanamento de um condomnio clube de prdios de apartamentos tambm voltado para a baixa renda, incorporado pela EZTEC Construtora. Existem ainda no seu entorno alguns terrenos vazios ou em fase de ocupa- o pela prpria CDHU, com conjuntos habitacionais de blocos verticais baixos, e o tecido de casario horizontal, baseado em autoconstruo, que conforma um padro de ocupao denso no entorno. H um crrego que passa no terreno vizinho, e uma grande massa vegetal localizada em lote privado que ser incorporada pelo empreendimento da EZTEC. Quanto infraestrutura existente, no entorno do Sa- com, encontram-se a Avenida Padre Arlindo Vieira, onde passam as linhas de nibus que servem a regio e onde tambm se localizam o comrcio local com mercado, padaria, lotrica, posto de gasolina e outros servios. por essa avenida tambm que possvel se conectar com outras regies da cidade, com o Jardim Zoolgico, Av. Cur- sino e a Rodovia Anchieta. Vista da regio do Sacom C e outros conjuntos verticais que o cercam em meio ao mosaico de sobrados. 2010. 159 Apesar de o conjunto estar pronto desde 2006, a sndica de um dos con- domnios, Sra. Alessandra, informou que parte dos apartamentos ainda no foi comercializada e/ou entre- gue aos futuros moradores. No caso do condomnio que ela administra, aproximadamente 40% do total de unidades ainda no est ocupado. 161 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.3.3 CDHU Itaquera C5/C7 Localizao do conjunto Itaquera C5/C7 e seu entorno ocupado pela Cohab Jos Bonifcio, outros conjuntos da CDHU e o casario de Itaquera. 2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 162 Localizada na Zona Leste de So Paulo um exem- plo dos conjuntos construdos nas bordas dos antigos conjuntos habitacionais da Cohab SP, nesse caso o Jos Bo- nifcio Cohab Itaquera II, ocupando uma rea de cinco hectares. Seu projeto data tambm do incio dos anos 2000 e sua construo foi feita em duas fases. A primeira fase, quando foram entregues 280 unidades, terminou em 2006. A segunda fase, que contempla 120 unidades ha- bitacionais, foi concluda em dezembro de 2010 e ainda no foi entregue aos futuros moradores. 160 Tal conjunto se insere no programa de Parceria com Associaes da CDHU, sendo vinculado Associao Bene- fcente Bom Pastor, e por isso foi construdo parcialmente pelo sistema de mutiro e conformado por sete condo- mnios distintos. O seu entorno marcado pela presena de outros conjuntos habitacionais produzidos em pocas anteriores pela prpria CDHU na dcada de 1990 e pela Cohab-SP, nas dcadas de 1970 e de 1980. H ainda o casario horizon- tal, semelhante ao caso do Sacom, densamente ocupado e com caractersticas de autoconstruo conformam o entorno e derivam das casas geminadas entregues pela Cohab no Conjunto Jos Bonifcio na dcada de 1970. No h nenhuma rea de concentrao de comr- cio e servios prxima, apenas algumas garagens de residncias ocupadas com quitandas, lojas, padarias, cabeleireiros. A infraestrutura urbana de porte mais pr- xima a Avenida Jacu Pssego e a estao de trem da CPTM Dom Bosco. Casario de Itaquera e um conjunto da Construtora Tenda ao fundo, tecidos adjacentes ao Itaquera C5/C7. 2011 Conjunto Habitacional Jos Bonifcio Cohab Itaquera II, implantando no incio da dcada e 1980. Vizinho ao conjunto da CDHU Itaquera C5/C7. 2011. 160 Em dezembro de 2010. 163 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3.3.4 Horto do Ip Localizao do conjunto do Horto do Ip, as ocupaes do seu entorno e a infraestrutura existente no bairro. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 164 O Horto do Ip localiza-se na Zona Sul do municpio de So Paulo, no bairro Jardim Umuarama, Campo Lim- po. O Horto do Ip um loteamento fechado no qual se inserem outros condomnios fechados de casas e aparta- mentos. conhecido pelos moradores e imobilirias da regio como um condomnio dentro de outro condom- nio. 161 Dentre os condomnios que se instalaram desde sua criao, na dcada de 1990, nesse loteamento, identif- ca-se a presena de condomnios ocupados por casas assobradas isoladas no lote e de casas geminadas, de me- nor rea til. So quatro empreendimentos do Segmento Econ- mico em fase de entrega das unidades que ocupam cerca de quatro hectares do loteamento. O entorno do Horto do Ip marcado por trs tipos predominantes de tecidos urbanos: favela, conjunto habi- tacional e tecido tradicional horizontal de casas. A favela vizinha ocupa densamente parte da rea de preservao s margens do crrego que o circunda com altas taxas de ocupao . Ao norte do Horto do Ip, h um conjunto habitacional popular vertical da dcada de 1970, construdo pelo Inocoop Instituto de Orientao a Cooperativas Habitacionais de So Paulo, conhecido no bairro como Inocoop Campo Limpo. 161 Referncia encontrada em anncios imobilirios de apartamentos venda no Horto do Ip. Ocupao precria favelizada vizinha ao Horto do Ip vista de dentro de um dos seus condomnios. 2010. Inocoop Campo Limpo, conjunto vizinho ao Horto Ip. 2011. 165 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO J o tecido tradicional formado por casas e so- brados e caracterizado pela presena de outras funes urbanas, com comrcio e servios locais. A MRV Engenharia S/A responsvel pelo lanamento e construo de trs empreendimentos: Spazio Ip Roxo, Spazio Ip Branco e Spazio Ip Amarelo que localizam-se lado a lado na Rua Antonio Ambuaba, no fm do lotea- mento, prximo ocupao favelizada. A Construtora Tenda S/A responsvel por um dos empreendimentos tambm localizado na Rua Antonio Ambuaba: o Horto do Ip Life. Todos foram, ou deveriam ter sido entregues em 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 166 3.3.5 Reserva Parque So Vicente Localizao do conjunto Reserva Parque So Vicente em Mau, e as formas de ocupaa de seu entorno. 2011. 167 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO O Reserva Parque So Vicente exemplifca o caso de produo do Mercado Imobilirio em uma cidade da RMSP: Mau. , como nos outros casos, um agrupamento de vrios condomnios e um conjunto urbano de maior porte. Nesse caso em especfco, todos os condomnios so empreendidos pela MRV Engenharia. So mais de 14 condomnios distintos que ocupam uma rea de aproximadamente dez hectares, em um lo- teamento pr-existente vizinho ao Parque So Vicente. Cada empreendimento ou condomnio est em uma fase diferente de construo. Existem condomnios que foram entregues no segundo semestre de 2010 para seus mora- dores, outros que esto em fase de construo, e alguns que esto em fase de lanamento. Todos so empreendi- mentos verticais com tipologias semelhantes e recebem nomes de reservas indgenas: Reserva do Tucum, Reserva do Canto, Reserva do Corumbiara, Reserva da Cantarei- ra, Reserva do Mirador, Reserva Itanas, Reserva Olhos Dgua, Reserva Itacolomi, Reserva do Lajeado, Reserva do Guariba, Reserva do Taquari, Reserva Mata das Flores, Reserva Guarani e Reserva dos Pirineus. O entorno desse conjunto marcado pela presena de outros conjuntos habitacionais de produo privada, por um casario geminado e pela presena de grandes in- fraestruturas virias e alguns equipamentos urbanos, que so a extenso do Rodoanel no limite leste do conjunto e o Parque So Vicente e seus equipamentos esportivos, Casario assobradado que ocupa o bairro do entorno da Reser va Parque So Vicente, com alguns terrenos ainda desocupados. 2010 Conjunto habitacional construdo pelo Mercado Imobilirio anteriormente, vizinho ao conjunto da Reserva Parque So Vicente. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 168 como o Estdio Municipal de Mau, na poro noroeste do mesmo. A Extenso do Rodoanel representa, alis, uma fron- teira urbana para esse conjunto j que difculta o acesso de seus moradores para o outro lado da rodovia, onde se encontram comrcios e servios que deveriam servir ao bairro. 1. Aspectos e critrios ambientais: Estruturas naturais existentes: Sacom C No existe dentro desse conjunto nenhuma estrutura natural pr-existente, sendo seu terreno original total- mente modifcado para a implantao das edifcaes. No entanto, no seu entorno, identifca-se a existn- cia de um crrego ao norte, que apresenta suas margens parcialmente preservadas e com ocupaes muito prxi- mas, a menos de 30 metros do eixo do seu leito. Existe tambm um bosque preservado leste, localizado dentro do lote do empreendimento Reserva do Bosque em fase de construo da Construtora Eztec. Esse bosque, segundo o projeto do empreendimento, ser mantido e utilizado como rea de lazer privada do condomnio. Itaquera C5/C7 Tanto o terreno ocupado por esse conjunto, quanto seu entorno no apresentam nenhuma estrutura natural existente. Horto do Ip Com uma rea verde municipal no seu entorno, que se confgura como um cinturo verde do loteamento, esse condomnio est isolado do restante do bairro. No plano regional de Subprefeitura do Campo Limpo, a rea considerada como uma Zona Mista de Proteo Ambiental ZMP01, devido s suas caractersticas de fragilidade do meio fsico 162 onde se insere, que so: a presena de vegetao de porte que compe o cinturo verde e do crrego que o circunda, e o relevo acidentado do local que conforma um dispersor de guas. Implantao do empreendimento Reserva do Bosque da Construtora e Incorporadora EZTEC, vizinho ao Sacom C, que incorpora em sua implantao o bosque existente no bairro. Esse empreendimento tambm voltado para o Segmento Econmico. www.eztec.com.br, 2010 162 Plano Regional Estratgico da Subprefeitura Campo Limpo, p.7. 169 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO O Plano Regional da Subprefeitura do Campo Limpo, juntamente com o Depave Departamento de reas Verdes preveem um projeto de ocupao dessa rea e de restabelecimento e reforo de sua massa vegetal. Plano de massas de ocupao do Horto do Ip cedido pelo Depave SP, contendo o zoneamento do parque. DEPAVE 1, 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 170 Reserva Parque So Vicente No entorno desse conjunto, encontra-se o parque So Vicente, noroeste, uma rea verde de preserva- o de mais de 25 hectares de rea. Apesar de no estar contido nos lotes ocupados pelos empreendimentos, os condomnios: Reserva do Lajeado, Reserva do Canto e Reserva do Mirador so adjacentes ao parque. uma APP onde se encontra uma nascente. Um trecho do parque, composto por um bosque, no protegido pela legislao de APPs, e segundo a Secreta- ria do Meio Ambiente de Mau, receber no futuro uma unidade da Universidade Federal do ABC. No h, porm nenhuma conexo formal entre essas duas estruturas: parque e conjunto, sendo o parque inacessvel na rea vizinha aos lotes. Relevo/ movimentaes de terreno Sacom C O relevo do lote onde foi implantado o conjunto acidentado com aproximadamente 20 metros de desnvel entre a conta mais alta inicial, no fundo do lote sudes- te, e a cota mais baixa na esquina da Avenida P e Arlindo Vieira noroeste, numa inclinao de quase 20%. Para possibilitar a implantao da edifcaes, foram necess- rios realizar cortes que resultaram em patamares variados onde se localizam as vagas de estacionamento e em um muro de arrimo de quase dez metros na divisa com as casas vizinhas. Ao fundo, empreendimento sendo construdo na Reserva Parque So Vicente e a massa vegetal de porte do Parque So Vicente. 2010 Muro de arrimo construdo nos limites do terreno do Sacom C para permitir a construo de um patamar para a implantao das edifcaes. 2010. 171 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 O relevo da rea onde foi implantado o conjunto pouco acidentado, com inclinao mdia de 10% e desn- veis vencidos por rampas e taludes, no sendo necessria a execuo de nenhum muro de arrimo. Horto do Ip Ressalta-se na paisagem do bairro por se localizar no topo de uma elevao do terreno de mais de 50 metros em relao Avenida Carlos Caldeira Filho. O terreno des- se loteamento marcado por variadas inclinaes o que resultou em um sistema virio sinuoso, para permitir ruas com inclinaes mximas de 30%. Desnvel do terreno vencido com rampas, taludes e patamares onde foi implantado parte do estacionamento no Sacom C. 2010 Taludes gramados que vencem desnvel do terreno do Itaquera C5/ C7 entre os blocos assentados em patamares. 2011. Relevo caracterstico do Horto do Ip topo de morro ao fundo visto de fora do loteamento. 2010. Os quarteires e os lotes desse loteamento so de porte avantajado, devido ao relevo acidentado. Os lotes ocupados pelos conjuntos habitacionais apresentam de- clividade que variam entre 10 e 20%, o que exigiu cortes de terra na sua implantao. As reas de pior declividade de tais lotes foram em geral destinadas com reas livres e estacionamentos, evitando-se, assim, a necessidade de execuo de muros de arrimo, ou aterros de grande porte. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 172 Dentro dos conjuntos do Horto do Ip o desnvel de terreno foi vencido com taludes. 2010. Na Reserva Parque So Vicente tambm foi necessria a remodelao do terreno. Muitos dos empreendimentos apresentam taludes inclinados mais de 20%v para vencer o desnvel. 2010. Reserva Parque So Vicente Apresenta tambm gleba com relevo acidentado e declividades prximas 20%. Cada lote ou quarteiro apresentam inclinaes prprias, porm, todas as im- plantaes foram baseadas em cortes e aterros, criando patamares onde se assentam as edifcaes. O relevo ori- ginal no foi mantido. 173 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 As edifcaes so todas orientadas com suas jane- las voltadas para nordeste/sudoeste, sendo que 50% dos apartamentos apresentam insolao privilegiada pela manh Nordeste, e outros 50% so menos ensolarados no inverno Sudoeste. A distribuio interna dos apartamentos- tipo da CDHU - apresentam a vantagem de possuir vo voltados para duas empenas opostas, propiciando duas orienta- es solares tambm opostas, porm, um dos quartos e a cozinha de todos os apartamentos so voltados para a parte interna dos blocos e, devido ao pequeno distan- ciamento entre construes, apenas cinco metros, so prejudicados quanto a sua insolao e ventilao. Trajetria do sol no conjunto de Sacom C. H apartamentos voltados para a poro sul do terreno que possuem insolao prejudicada. 2011. Esquema de disposio de apartamentos e seus cmodos do edifcio-tipo do Sacom C, cada unidade tem suas janelas voltadas para apenas uma orientao solar. 2011. Orientao solar das edifcaes Sacom C H a predominncia das janelas e vos orientados leste / oeste o que garante ao menos um perodo de in- solao direta por dia em todas as edifcaes. Alguns apartamentos, localizados no condomnio mais ao sul do conjunto, tm insolao prejudicada pelo pequeno dis- tanciamento, de 12 metros, entre os prdios. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 174 Horto do Ip Sobre a orientao solar das edifcaes, nota-se que ela consequncia das limitaes de implantao im- postas pelo relevo. Por isso, observa-se que a orientao dos edifcios, em relao insolao, no segue nenhum critrio especfco, sendo resultado do melhor aproveita- mento quantitativo de unidades habitacionais do terreno original. Trajetria do sol no conjunto de Itaquera. Os apartamentos voltados para a poro sul do terreno no so ensolarados em todas as pocas do ano. 2011. Esquema de disposio de apartamentos e seus cmodos do edifcio- tipo do Itaquera C5/C7. Apesar de cada unidade apresentar duas orientaes diferentes os cmodos voltados para o interior dos edifcios sofrem com a pouca distncia entre as construes - local hachurado no esquema. 2011. Trajetria do sol no conjunto do Horto do Ip. A variao das posies de implantao dos edifcios gera situaes mais e menos favorveis ao sol. 2011. No Spazio Ip Amarelo, as empenas com maior n- mero de janelas dos edifcios esto orientadas de duas formas: edifcios com fachadas alinhadas leste e oeste, recebendo sol diretamente, ou pela manh, ou na parte da tarde e edifcios com as fachadas mais longas, voltadas 175 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO para o sudeste/ noroeste. No Spazio Ip Branco, todos os trs blocos possuem a mesma orientao, com fachadas predominantes voltadas para nordeste ou sudoeste, o que implica em metade das unidades que so voltadas para o sudeste sendo prejudicadas por no receberem ilumina- o e calor direto principalmente nos meses de inverno. No Spazio Ip Roxo, parte dos apartamentos tm suas janelas totalmente orientadas para o Sul, o que possibili- ta uma insolao defcitria. Tal situao agravada em todos os casos da MRV pela disposio interna das unida- des que limita as faces de insolao dos apartamentos a apenas uma. J no Horto do Ip Life, a orientao em funo do Sol favorvel e propicia a iluminao de boa parte dos apartamentos durante todo o ano, em pelo menos um momento do dia. Os blocos de apartamentos esto po- sicionados com sua diagonal no Eixo Norte-Sul. Dessa forma, as quatro fachadas so orientadas para nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste. A planta dos apartamentos tem janelas sempre para duas fachadas distintas e per- pendiculares entre si, fazendo com que esses se voltem para duas orientaes diferentes, ampliando as possibili- dades de iluminao dos cmodos. Reserva Parque So Vicente A orientao das edifcaes desse conjunto tambm aleatria, como no caso dos empreendimentos da MRV no Horto do Ip apresentando diferentes possibilidades justifcadas pelo melhor e maior aproveitamento do ter- reno do que pela correo na orientao solar. Plantas tipo dos apartamentos empreendidos pela Tenda no Horto do Ip com janelas voltadas para mais de uma fachada, por isso, com mais de uma possibilidade de orientao solar. www.tenda.com.br CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 176 Em seis de dez condomnios, as fachadas principais so alinhadas e voltadas para o leste/oeste, o que garante iluminao direta em parte do dia. Trs dos condomnios apresentam fachadas predominantes mais inclinadas, noroeste/sudeste, ou sudoeste/nordeste, prejudicando metade dos apartamentos que se voltam para a face mais ao sul. Dois condomnios, Reserva Itacolomi e Reserva Co- rumbiara, apresentam fachadas predominantes voltadas para o norte e o sul, e assim sendo, metade dos apar- tamentos se encontram totalmente voltados para a pior face de insolao possvel. A planta das unidades da MRV prev apenas janelas voltadas para uma face da edifcao, o que intensifca ainda mais o problema dos apartamentos mal ilumina- dos. Trajetria do sol no conjunto do Reserva do Parque So Vicente. A variao das posies de implantao dos edifcios gera situaes mais e menos favorveis ao sol. 2011. Plantas tipo dos apartamentos empreendidos pela MRV no Horto do Ip e na Reserva do Parque So Vicente. H a concentrao da maioria das janelas de uma unidade em apenas uma orientao solar. 2011. Outro ponto que prejudica a iluminao e ventilao de algumas unidades a proximidade entre os blocos de apartamentos que chega a ser de menos de cinco metros. Como por exemplo, nos condomnios Reserva da Canta- reira e Reserva Olhos Dgua. 177 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 2. Estrutura geral hierarquia, porte, tipos construtivos, orientao no bairro: Sacom C O Sacom C estruturado na compartimentao do conjunto em trs condomnios distintos, independentes entre si com acesso direto da Av. P e Arlindo Vieira. Foi adotado apenas um tipo arquitetnico, a torre de 12 pa- vimentos, em oito blocos que so agrupados de maneiras distintas em cada condomnio. A estrutura morfolgica geral desse conjunto est baseada: a) Torres paralelas entre si, ou alinhas em grupos de dois ou trs blocos. b) Trreos ocupados com espaos de convvio. c) Espao livre central de estacionamento. d) Acesso aos condomnios independentes entre si. e) reas residuais de circulao e jardins. f) Diviso espacial e segregao dos condomnios entre si com gradis. g) Segregao dos espaos privados dos condom- nios com os espaos pblicos da Avenida com muros e gradis. Esquema fundo-fgura do conjunto do Sacom C, explicitando a relao de predominncia de espaos livres em relao aos espaos construdos e a desvinculao da implantao dos bloco do espao da rua e do limite do lote. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 178 Itaquera C5/C7 Os espaos livres privado do Sacom e sua segregao por muros e gradis dos espaos pblicos do bairro. 2010. Sacom C com sua estrutura de blocos de apartamentos padro e grande espao livre central. 2010. A estrutura morfolgica e hierarquizao do con- junto de Itaquera baseada na repetio de dois tipos bsicos da CDHU de cinco pavimentos trreo, mais qua- tro andares V052F e VI22F, articulados em forma de lminas paralelas em H, ou articulados em forma de Z. O conjunto subdividido em sete condomnios de portes variados com dois, trs ou cinco blocos que par- tilham entre si a rea livre privada e o estacionamento. Como elementos de estrutura geral, identifcam-se: Esquema fundo-fgura do conjunto Itaquera C5/C7 com destaque para a repetio de tipos, o paralelismo de implantao e os espaos livres centrais e entre blocos. 2011. 179 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO a) Blocos paralelos entre si implantados em pata- mares. b) Trreos ocupados com apartamentos. c) Praa central coletiva aos condomnios. d) Sistema virio interno ao conjunto. e) Estacionamentos privados compartilhados inter- namente aos condomnios. f) Quadra de esportes coletiva ao conjunto. g) Gradis de segregao entre condomnios. h) Gradis de segregao entre conjunto e entorno. Tipo padro do Caderno de Tipologias da CDHU VI22F adotado parcialmente no Itaquera C5/C7. Caderno de Tipologias, 1998. Segregao entre conjunto e bairro do entorno por grades que circundam o conjunto de Itaquera. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 180 Horto do Ip A soluo arquitetnica adotada pela MRV se baseia em trs tipos de edifcios de apartamentos baixos cinco pavimentos, sem elevador e com apartamentos trreos, que so muito semelhantes volumetricamente entre si. De um empreendimento para o outro h apenas a varia- o das cores de pintura da fachada. A Tenda adotou um tipo de oito pavimentos, sem elevador que possibilitou o melhor aproveitamento do terreno com o acesso s edifcaes localizado no quarto andar, com uma passarela em nvel. Tais tipos so padro dessas construtoras e so adotados de forma repetitiva em vrios empreendimentos pelo pas. A estrutura geral desses empreendimentos se baseia: a) Blocos de apartamentos implantados paralelos entre si em patamares. b) Grandes reas de estacionamento localizadas prximas aos alinhamentos dos lotes. c) Espaos de lazer e convivncia pouco concentra- dos e dispersos pelo terreno. d) reas residuais, ajardinadas e de circulao. e) Acesso nico de pedestres e veculos. f) Muros que delimitam o espao e isolam tais em- preendimentos da rua. Esquema fundo-fgura do Horto do Ip, com destaque para a orientao de implantao das edifcaes variada para o melhor aproveitamento dos terrenos, e para a proximidade entre blocos. 2010. 181 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO So empreendimentos facilmente identifcveis na paisagem pela sua localizao no topo do Horto do Ip, e pela repetio dos prdios com espaamentos contnuos entre si. Planta de implantao dos empreendimentos Spazio do Ip Branco, Spazio do Ip Roxo e Spazio do Ip Amarelo; e Horto do Ip Life. www.mrv.com.br e www.tenda.com.br Condomnios segregados entre si e dos espaos da rua com muros e acesso independentes, no Horto do Ip. esquerda, empreendimento da MRV, direita, empreendimento da Tenda. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 182 Reserva Parque So Vicente Esse conjunto se insere em um loteamento pr-exis- tente, ento seu parcelamento obedece ao loteamento que subdividido em quarteires retangulares, estreitos e compridos. Cada quarteiro ocupado por apenas um ou dois empreendimentos da MRV, com prdios de apar- tamentos com nmero de pavimentos variados. Os elementos que compem a estrutura morfolgica desse conjunto so: a) Blocos planta padro com quatro, oito e 12 pa- vimentos implantados paralelos entre si ou em linha. b) Grandes reas de estacionamento localizadas prximas aos alinhamentos dos lotes. c) Espaos de lazer e convivncia pouco concentra- dos e dispersos pelo terreno. d) reas residuais, ajardinadas e de circulao. e) Acesso nico de pedestres e veculos. f) Muros que delimitam o espao e isolam tais em- preendimentos da rua. Esquema fundo fgura do Reserva Parque So Vicente na qual se observa a adaptao dos conjuntos de partido modernista ao traado original e convencional do loteamento. 2011 183 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 3. Dimenso e localizao dos espaos livres e dos espaos do entorno: Sacom C Estrutura espacial tpica do Parque So Vicente, blocos paralelos de 12 pavimentos, grandes reas livres e cercamentos. 2010. Separao forma entre espaos privados e espaos pblicos por muros interrompendo os espaos livres dos conjuntos e sua integrao com o entorno, em Mau. 2010. Esquema de separao entre espaos livres pblicos, verde claro, e espaos livres privados, verde escuro, do Sacom. Explicitando a predominncia de espaos livres privados e a diviso do conjunto em trs condomnios distintos. 2010. Os espaos livres do entorno do Sacom C limitam- -se ao sistema virio existente Avenida P e Arlindo Vieira e suas caladas, alm de uma rea de preservao que acompanha o crrego que corta o bairro. Tal rea no CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 184 apresenta condies de apropriao de atividades sociais, mas que mantem livre de edifcao uma faixa de terreno prximo ao conjunto. Esse conjunto possui em seu projeto e implantao apenas espaos livres privados. Tais espaos podem ser identifcados como trs tipos distintos: a) Estacionamentos e circulao de veculos b) Espaos residuais c) Espaos de convvio e lazer coletivo As reas de estacionamento representam a maior porcentagem de espaos livres por taxa de ocupao 163
- com ndices que variam de 64% a 80% da ocupao dos espaos livres em geral. Essa porcentagem de ocupao refete a condio de relevo do terreno que necessita de uma circulao de automveis em rampa com declivi- dades de at 20% que acabam por ocupar boa parte do terreno. Deve-se lembrar que uma diretriz do Manual Tc- nico de CDHU, existente nesse conjunto a quantidade de vagas por apartamento na razo de uma vaga para cada duas unidades. As melhores localizaes dentro do conjunto so ocupadas por essas vagas, como reas centrais entre os blocos e a rea de entrada dos condomnios, todas muito visveis e prximas aos maiores fuxos de pedestres nos acessos aos condomnios e aos blocos de apartamentos. 163 A taxa de ocupao dos espaos livres por seus diferente usos foi calculada: rea de uso/ rea total dos espaos livres. Os espaos residuais representam a segunda maior porcentagem de ocupao dos espaos livres. So reas localizadas, em geral, nos recuos obrigatrios do lote ou entre as edifcaes, com baixa visibilidade e poucas pos- sibilidades de uso. Alguns desses espaos so utilizados como reas de circulao de pedestre para acesso aos blo- cos. Por ltimo, existem os espaos livres destinados para o convvio de moradores que aparecem em apenas um dos condomnios em que esse conjunto subdividido. Ele se localiza entre dois blocos de apartamentos, em uma rea de boa visibilidade por parte dos usurios e de fcil acesso dentro do conjunto. um playground implantado pelos prprios moradores aps a entrega do conjunto. Espao livre de grande dimenso e central utilizado como ptio de estacionamento no Sacom C. 2010. 185 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 Espao livre residual da implantao das edifcaes no Sacom C, com poucas possibilidades de uso. 2010. Espao destinado atividade de lazer, nico no Sacom C inserido dentro de um dos condomnios que compe o conjunto. Os outros dois condomnios no apresentam nenhum espao desse tipo. 2010. Esquema de separao entre espaos livres pblicos e privados no Itaquera C5/C7 com destaque para a praa central ao conjunto, e a diviso desse conjunto em sete condomnios distintos- linha preta. 2011 De forma diversa do Sacom, a organizao dos espaos livres e sua hierarquizao no Itaquera C5/C7 mais complexa apresentando espaos livres pblicos e co- letivos (apesar de estarem cercados) e, espaos privados e coletivos dentro das reas dos condomnios. Esses espaos podem ser categorizados: CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 186 a) Espaos livres pblicos de circulao - ruas e cal- adas b) Espaos livres pblicos de convvio c) Estacionamento privados d) Espaos residuais privados Os espaos de circulao desse conjunto so os es- paos pblicos da rua que corta o conjunto e as caladas. Tais espaos so apropriados como reas de circulao de veculos, pedestres e rea de encontro dos vizinhos. Dentro do conjunto, em posio central a todos as edifcaes e aos acessos dos condomnios est a praa pblica. Essa praa remete ao modelo de praa que reside no imaginrio popular, com sua forma regular arredonda- da, circundada por uma calada. muito utilizada pelas crianas para jogos e brincadeiras e um ponto de encon- tro entre vizinhos. Bem localizada, no apresenta, porm um projeto de paisagismo mais complexo que poderia vir a permitir a intensifcao do seu uso. Alm da praa, existe um campo de futebol locali- zado em um canto ao fundo do conjunto que tem acesso pblico. Tal campo apresenta dimenses adequadas para jogos de futebol e , sem dvida, o espao livre mais apro- priado pelo grupo de moradores. Rua principal do conjunto, espaos de circulao de veculos e pedestres que acessa todos os condomnios que compe Itaquera C5/C7. 2011. Praa central ao conjunto de Itaquera. Pblica utilizada como rea de estar e encontro de moradores. 2011. 187 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Dentre os espaos privados, predominam em rea e porcentagem de ocupao dos espaos livres os estacio- namentos, em torno de 40% do total de reas livres. Cada condomnio apresenta um ptio com vagas com locali- zao centralizada aos blocos. Assim como no Sacom, existe uma vaga para cada duas unidades habitacionais. Identifcam-se tambm a existncia dos espaos livres residuais da implantao das edifcaes e dos esta- cionamentos, localizados nos recuos dos lotes e entre os blocos. Tais espaos no apresentam nenhuma forma de apropriao pelos usurios. O uso para estacionamento ocupando espaos livres privados e pblicos do conjunto Itaquera C5/C7 preponderante. 2011. Boa parte dos espaos livres de Itaquera residual da implantao das edifcaes e ocupado por jardins. No apresentam possibilidades de uso. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 188 Horto do Ip Os espaos livres pblicos do Horto do Ip se resu- mem ao seu sistema virio, com duas praas rotatrias, alm da rea de preservao j mencionada. A apropriao desses espaos coletivos de acesso p- blico do loteamento praticamente inexistente, j que so espaos hostis permanncia de pedestres, cercados pelos muros dos condomnios existentes. A nica forma de apropriao observada, alm do trnsito de veculos, a presena de crianas residentes de uma favela vizinha que se utilizam de alguns trechos das ruas asfaltadas do Horto do Ip para jogar peladas e andar de skate e bici- cleta. Todos os quatro empreendimentos estudados apre- sentam baixas taxas de ocupao que resultam em grandes reas livres. Nos empreendimentos da MRV, Esquema de separao entre espaos livres pblicos e privados no Horto do Ip. Tal conjunto est dividido em quatro condomnios distintos marcados pela linhas. 2011 Espao livre pblico do Horto do Ip que conecta o loteamento com a favela vizinha. Tal espao serve muitas vezes como rea para jogos infantis e como passagem entre os assentamentos. 2010. 189 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO identifca-se o agrupamento desses espaos livres em trs tipos predominantes: Grandes estacionamentos e circulaes de veculos reas de lazer e convivncia reas residuais ajardinadas e de circulao de pe- destres As reas de estacionamentos representam a maior fatia dos espaos livres, aproximadamente 50% de seu to- tal. Devido sua dimenso, so concentradas em uma ou duas grandes reas localizadas na periferia dos lotes. Algumas pequenas reas ao longo das vias de circulao interna tambm so ocupadas por vagas, de forma a exis- tir uma predominncia do uso do estacionamento no projeto de implantao desse empreendimento. J os espaos de lazer em convivncia so implanta- dos com o critrio de disponibilidade de espao aps a implantao dos estacionamentos. So ocupadas as reas de maior porte, residuais da implantao dos estaciona- mentos. Por isso, muitas vezes, tais reas no apresentam as melhores condies para o uso que se destinam. Grande parte das reas de piscinas e recreao esto lo- calizadas em pores sul do lote e so sombreadas pelos edifcios que esto sua volta. Localizam-se tambm em reas desprivilegiadas do terreno a quadra gramada, e as praas de convivncia que constam no programa dos em- preendimentos. Estacionamento do Spazio do Ip Amarelo localizado na poro frontal da gleba. 2010. Espao livre de lazer no Spazio do Ip Amarelo, ocupado por uma piscina, localizado em um espao residual da implantao em situao desfavorvel de insolao e dimenses. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 190 Em visita ao Spazio Ip Amarelo, observou-se que muitos desses equipamentos de playgrounds e reas de estar foram retirados pelos moradores devido sua ina- dequao de localizao, muito prximos s janelas dos apartamentos trreos ou em locais sem segurana de uso. O terceiro tipo de espao livre encontrado nesses empreendimentos so espaos residuais que circundam os estacionamentos e as edifcaes. Tais espaos so aproveitados como reas de circulao de pedestres entre prdios, como jardins, ou ainda recebem alguns equipa- mentos do programa de lazer dos empreendimentos. No caso do Horto do Ip Life, do total dos espaos livres 45%, so utilizados com estacionamento que se rea de estar implantada ao lado do estacionamento de forma a desestimular seu uso, no Horto do Ip. 2010. rea onde foi implantado um playground na ocasio de entrega do condomnio Spazio do Ip Amarelo, e que foi retirado pelos moradores por incomodar os apartamentos trreos. 2010. Espao livre residual da implantao do ptio de estacionamento e das edifcaes que suporta a rede de caminhos para pedestres no Horto do Ip. 2010. dividem em dois bolses, cada um prximo de um dos acessos do em- preendimento. Esses espaos so os nicos espaos livres com dimenses considerveis e relevo mais ameno, o que poderia permitir outros usos de lazer. Contudo, a demanda por vagas de garagem se sobrepe de- manda por reas de lazer e convivncia internas ao conjunto. Todo o restante dos espaos livres so caminhos estreitos para pe- destres e rampas, alm de taludes com formas residuais da implantao dos edifcios. Eles representam a maior parte dos espaos livres e no podem ser utilizados como espaos de convivncia. 191 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Reserva Parque So Vicente Como esse conjunto implantado dentro de quartei- res de um loteamento pr-existente, no contemplado em seu projeto nenhum tipo de espaos livre pblico. No seu entorno, os espaos livres pblicos existentes se re- sumem ao sistema virio e ao Parque So Vicente, que uma APP sem acesso pblico. Alm disso, existe o espao institucional do Estdio Municipal de Mau e o conjunto de quadras e campos de futebol que o circunda. Dentre os espaos privados, identifcam-se as catego- rias predominantes: a) Estacionamentos e circulao de veculos b) reas de lazer e convivncia c) reas residuais ajardinadas e de circulao de pe- destres Os estacionamentos, como em todos os outros ca- sos, apresentam as maiores reas ocupadas dos espaos livres e se localizam em pontos nobres dos condomnios. Como nesse conjunto h muitos condomnios com pro- jetos diferentes entre si, h tambm maior variedade de porcentagem de ocupao de 65% a 83% - dos espaos livres e de localizao dos estacionamentos. Entretanto, so destinadas a esses usos as reas mais nobres de cada lote, para facilitar a implantao de todas as vagas reque- ridas, uma vaga por unidade habitacional. 1 Reserva da Cantareira 2 Reserva do Tucum 3 Reserva Olhos Dgua 4 Reserva dos Pirineus 5 Reserva de Itanas 6 Reserva do Taquari 7 Reserva Corumbiara 8 Reserva do Mirador 9 Reserva do Canto 10 Reserva do Lajeado Esquema de separao de espaos livres pblicos e espaos livres privados, que so predominantes dos empreendimentos de Mau, no Parque So Vicente. Acima, a presena do prprio Parque que confgura o grande espao livre pblico. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 192 No condomnio visitado Reserva Olhos Dgua, o estacionamento um espao ntegro localizado no centro do lote que ocupa 75% da rea total dos espaos livres disponveis. As reas de lazer e convivncia so as reas de menor representao entre os espaos livres existentes. Essas re- as variam assim como os estacionamentos de condomnio para condomnio, apresentando duas situaes distintas: reas fragmentadas de pequenas dimenses localizadas nos recuos dos lotes ou entre os edifcios como o caso da Reserva Olhos Dgua; e reas livres ntegras de maio- res dimenses localizadas em reas mais centrais do lote, ou em pontos de interesse como o caso do condom- nio Reserva da Cantareira. As reas livres residuais representam a segunda maior forma de ocupao dos espaos livres desse con- junto, variando em torno de 20% da rea. Tais espaos so os recuos obrigatrios do lote e entre as edifcaes e na maioria dos casos so taludes construdos para vencer os desnveis de terreno. Dessa forma, em lotes com relevo muito ngreme - como o caso do Reserva de Itanas mais da metade dos espaos livres so representados por essas reas residuais, devido aos grandes taludes existen- tes. Grande ptio de estacionamento que ocupa mais de 70% da rea livre da Reserva Olhos Dgua no Parque So Vicente. 2010. Espao livre destinado ao us0o recreativo em rea residual no Parque So Vicente, que ocupa o recuo entre prdios. 2010. 193 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 4. Funes urbanas e programas de uso: Sacom C No condomnio Reserva da Cantareira, os espaos livres destinados recreao e convivmcia se encontram em pores centrais do lote, apresentando dimenes favorveis implantao de equipamentos. www.mrv.com.br rea residual sem uso possvel na Reserva Olhos Dgua no Parque So Vicente. O relevo ngreme, o os recuos obrigatrios, criam espaos fragmentados sem possibilidade de uso. 2010. Programas para uso do espao livre existentes no conjunto do Sacom. Predominncia de estacionamentos.2011 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 194 O Sacom C um conjunto monofuncional, ou seja, contempla somente o uso habitacional em sua implanta- o. Seu entorno marcado pela predominncia do uso habitacional e pela presena de alguma estrutura comer- cial e de servios diversifcados do bairro lojas, padarias, posto de gasolina. O programa de uso dos espaos livres privados exis- tentes nos trs condomnios, que compem tal conjunto, restrito ao uso de estacionamento e circulao de ve- culos e pedestres. Apenas em um dos condomnios existe um playground como proposta de espao com uso de la- zer. Em todos os condomnios, no trreo das edifcaes, encontram-se outros usos, como salo de festas e salo de jogos. Avenida P e Arlindo Vieira que acessa o conjunto do Sacom e seus imveis ocupados predominantemente por usos habitacionais com comrcio e servios localizados nas garagens das edifcaes. 2010. Os programas de uso para os espaos livres e construdos do Sacom C resumem-se em vagas de estacionamento, habitao e alguns usos recreativos salo de jogos - implantados no trreo dos blocos. 2010. 195 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 Programas para uso do espao livre existentes no conjunto de Itaquera. 2011 Assim como o Sacom, esse conjunto apresenta ape- nas uma funo urbana que a habitacional. Seu entorno tambm ocupado predominantemente por habitaes, como comrcio e servios locais. Dentro do conjunto, observam-se como programas de uso dos espaos coletivos livres e construdos o pro- grama esportivo representado pelo campo de futebol; o programa de lazer um playground reas de estar, esta- cionamentos e um centro comunitrio. Casario assobradado que ocupa os quarteires do entorno de Itaquera, uso predominantemente residencial. 2010. Playground e bancos localizados na praa central do Itaquera C5/ C7 destinados para o lazer e encontro do moradores, apesar do seu estado de conservao. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 196 Horto do Ip O Horto do Ip se insere no bairro como um bolso monofuncional de vocao habitacional. No existe di- versidade de usos do espao urbano. H uma setorizao entre as poucas funes existentes no cotidiano dos espa- os coletivos desse loteamento fechado. Alm do uso habitacional, outro uso disponvel no Horto do Ip um pequeno Centro Comercial que se localiza logo no acesso da Estrada do Campo Limpo. L existem concentrados ,em um pequeno Shopping Center, servios cabeleireiros, lavanderias e outros e comrcio local. Programas para uso do espao livre existentes no conjunto do Horto do Ip. Predominncia de estacionamentos.2011 Centro de compras localizado na entrada do Horto do Ip. nico ponto onde se encontram comrcio e servios de bairro em todo o loteamento. 2010. 197 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Dentro dos empreendimentos estudados existem os seguintes programas instalados: piscina para adulto e in- fantil, espao zen, praa de encontro, praa de descanso, praa de leitura, redrio, quadra gramada, playground, baby place e espao gourmet (churrasqueira), salo de jo- gos, espao ftness, salo de festa. Observa-se que nem sempre todos esses programas so implantados, conforme a planta apresentada no lanamento do empreendimento, tampouco as especi- fcaes dos materiais e equipamentos so seguidas. No Spazio Horto do Ip, verifca-se que o salo de festas e espao gourmet foram entregues sem condies bsicas de uso, como cozinhas de apoio, e sanitrios. Ptio localizado no Spazio do Ip Amarelo que d acesso ao salo de jogos, salo de festas, churrasqueiras, entre outros. 2010. Espao de estar, chamado pela construtora de Espao Zen, de forma como foi apresentado aos compradores na poca de lanamento do empreendimento e o resultado entregue pela MRV aos moradores. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 198 Reserva Parque So Vicente residencial. Estruturas de comrcio e servios fcam exter- nas a essa vizinhana localizadas nos eixos virios que o circundam. Quanto aos programas de uso propostos e implan- tados nos condomnios, observa-se a semelhana com o caso dos condomnios do Horto do Ip: piscina, espao zen, praa de encontro, praa de descanso, praa de lei- tura, redrio, quadra gramada, playground, baby place e espao gourmet (churrasqueira), salo de jogos, espao ftness, salo de festa. A maior incidncia dentre esses programas dos playgrounds, salo de festas, e dos espa- os de ginstica ftness que existem em quase todos os condomnios. Programas de uso para os espaos livres privados com predominncia absoluta dos grandes ptios de estacionamento, no Reserva Parque So Vicente. 2011. reas de estar e playground implantados entre os blocos de estacionamento na Reserva Olhos Dgua no Parque So Vicente. 2010. Esse conjunto exclusivamente de uso residencial e no contempla em seu projeto a insero de mais nenhu- ma funo urbana. O bairro onde se encontra tambm 199 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Tais programas, assim como no caso anterior, no seguem um padro de qualidade de implantao, utilizando-se de mobilirios e equipamentos que nem sempre correspondem s imagens vendidas no seu lana- mento como empreendimento. 5. Acessos e acessibilidade: Sacom C O acesso a esse conjunto feito de forma distinta para cada condomnio por trs guaritas, localizadas na mesma Avenida P e Arlindo Vieira. O acesso de veculos e pedestres compartilha o mesmo controle de portaria. Equipamentos para ginstica localizados em espao livre residual privado do Parque So Vicente. 2010. Controle de acesso a dois dos condomnios que compem o conjunto do Sacom, com guaritas e portes individualizados. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 200 Como existem trs pontos de acesso em um mes- mo trecho de calada, observa-se uma movimentao constante de pessoas e veculos que entram e saem dos condomnios, ao longo do dia. Internamente ao conjunto, o acesso s edifcaes feito individualmente por cada bloco de maneira satisfatria. So reas de fcil acesso e alta visibilidade. Acesso interno aos condomnios para as reas construdos dos blocos de apartamentos do Sacom C. 2010. esquerda rampa de acesso para pedestres ao interior do conjunto do Sacom com inclinao superior aos 8% recomendado pela NBR 9050. 2010. No entanto, observa-se que esse conjunto no est preparado para atender NBR 9050 quanto Acessi- bilidade Universal com a circulao comprometida de cadeirantes e pessoas de mobilidade reduzida, j que existem rampas com inclinaes mais altas que 12% para o acesso de pedestres, e escadas que acessam a entra- da das edifcaes. Como as torres possuem elevadores, uma vez dentro das edifcaes possvel acessar todos os apartamentos. 201 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 Esse conjunto caracterizado pelo seu acesso nico pela Avenida Prof. Leondio. Tal acesso controlado por portes e uma guarita, que no dia da visita permanece- ram abertos os portes e a guarita estava desocupada. outros alinhamentos do conjunto, identifcam-se caladas ermas, isoladas do conjunto pelos muros e gradis que o circundam. Cada condomnio internamente possui acesso nico de veculos e pedestres prprio, controlado por um por- to com porteiro eletrnico. Esses portes permanecem todo o tempo fechados, criando o controle de acesso que no existe na entrada do conjunto. Como so sete condomnios e, portanto, sete pontos internos de aces- so localizados em diferentes reas do conjunto, h uma movimentao constante de pessoas pela rua principal do Itaquera. J externamente, nas ruas que o rodeiam, como no h pontos de entrada e sada de moradores nos Porto de acesso principal ao conjunto de Itaquera que o ponto de conexo entre espaos internos e pblicos do empreendimento e o espao publico do bairro. Permanece aberto todo o tempo. 2010. Porto de controle de acesso de um dos condomnios que compe o Itaquera C5/C7 que permanece fechado e delimita o espaos livre que de acesso controlado e restrito aos moradores. 2011. O acesso aos apartamentos se localiza no interior dos blocos, onde fca a caixa de circulao vertical a escada em locais nem sempre visveis e mal iluminados. Apesar de no haver nenhum obstculo de escadas visvel na circulao dos espaos livres do conjunto, no atende aos parmetros da Acessibilidade Universal: cala- CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 202 das com larguras inadequadas menor que 1,20 m para circulao de pedestres e passagens, e portes estreitos. Os apartamentos so acessveis apenas no pavimento tr- reo. Horto Ip O acesso ao Horto do Ip feito unicamente pela Estrada do Campo Limpo, por uma guarita permanente- mente aberta, tanto para pedestres quanto para veculos. Apesar de ter apenas um acesso formal, atravs da fave- la que se estabelecem outros acessos tanto de pedestres, quanto de veculos, por caminhos improvisados de terra batida que conectam os limites da favela com a Rua Fran- cisco da Cruz Mello, que circunda todo o loteamento. Em alguns casos, em Itaquera, dentro ainda dos condomnios h outro tipo de controle de acesso para as reas construdas e privadas dos blocos, ao fundo. 2011. Ponto de acesso s ruas do Horto do Ip feito aberto na rea de preservao, conectando a favela vizinha e o loteamento. 2010. O acesso aos conjuntos Spazio Ip nico para pe- destres e veculos feitos pela Rua Antonio Ambuaba. Cada condomnio possui uma guarita que controla o acesso de moradores e visitantes. Essas no possuem um espao coberto com dimenses que permitam o abrigo de visi- tantes da chuva, por exemplo. 203 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO No caso do empreendimento da Tenda, h dois aces- sos distintos tanto para pedestres, quanto para veculos. Cada acesso est voltado para as diferentes frentes do lote. Isso se justifca pelo relevo muito ngreme do terre- no que difculta a integrao entre as duas frentes do lote por caminhos internos. J o acesso aos edifcios de apartamentos, em todos os empreendimentos, apresenta inadequaes ao uso devido s distancias entre portarias e entradas dos pr- dios e dessas paras as vagas de estacionamento. No h coberturas que permitam que os moradores acessem os apartamentos sem se expor chuva ou ao sol. Alm disso, em alguns edifcios, tais portas de entra- da so localizadas em passagens de pouco visibilidade, mal iluminadas e estreitas. Apesar de propiciar melhor o controle de quem en- tra e sai no condomnio, o acesso nico, nesses casos, acaba conformando apenas um ponto de movimentao na rua, e relegando ao restante do alinhamento do lote um espao murado e hostil. Guarita que faz o controle de acesso de pessoas e veculos para o Spazio Ip Amarelo. 2010. A limitao da quantidade de acessos por condomnio no Horto do Ip gera espaos murados nas ruas desse loteamento. 2010. Porta de entrada a um dos blocos do Spazio Ip Amarelo com pequeno toldo para proteger da intempries, localizada no espaos residual entre edifcaes. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 204 Reserva Parque So Vicente Cada condomnio apresenta um acesso nico de pe- destres e veculos controlados por portes e uma guarita. Como cada condomnio ocupa um quarteiro inteiro e possui apenas um acesso, trechos de quadras e quadras inteiras so emparedados pelos muros dos empreendi- mentos. Quanto acessibilidade universal, os empreendimentos so preparados para atender parcialmente NBR9050, com a im- plantao de rampas para vencer desnveis, com a reserva de vagas de estacionamentos para portadores de necessidades especiais, entre outros. Dentre os apartamentos, nos empreendimentos com tipos arquitetnicos de quatro pavimentos, apenas as unidades trreas so acessveis. Na Reserva Parque So Vicente, h a repetio do padro do condomnio murado com apenas um acesso a seus espaos privados e o isolamento da rua com muros. 2010. Dentro dos empreendimentos, cada bloco de apar- tamento possui acesso pelo trreo, pelas laterais das edifcaes. A condio de implantao de cada acesso varia entre blocos. H acessos pouco visveis, localizados em reas de afunilamento do lote. Entrada de uma das edifcaes da Reserva Olhos Dgua no Parque So Vicente, com baixa visibilidade e poucas condies de circulao. 2010. Rampas de acesso ao interior de um condomnio do Parque So Vicente que permitem a acessibilidade de usurios com mobilidade reduzida ao seu interior, atendendo nesse caso a NBR 9050. 2010. 205 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 6. Estacionamentos e circulao sistema virio e pedestres: Sacom C Esse conjunto no apresenta sistema virio interno devido ao seu porte reduzido. Existem apenas vias de acesso direto das guaritas at as vagas de estacionamen- tos. Esses, por sua vez, representam a maior rea de ocupao do terreno em todos os trs condomnios, e ocupam reas ntegras e centrais s edifcaes. Em projeto existiam vagas demarcadas de tamanhos diferen- ciados pequenas, mdias, e grandes alm de vagas exclusivas para portadores de necessidades especiais. Na implantao dos empreendimentos, porm, as vagas de estacionamento so coberta por pedriscos e no houve sua efetiva demarcao. Circulao de pedestres e pontos de acesso para o espao privado do Sacom e para o interior das edifcaes. Os percursos de pedestres so limitados. 2011 Vagas de estacionamento localizadas na poro frontal de um dos Condomnios que compem o Sacom C. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 206 A circulao de pedestres muito defciente da en- trada dos condomnios at o acesso aos blocos, por sua largura estreita com menos de 1,20 metros, por no ser coberta e iluminada. Essa situao se aplica em todos os condomnios que compem esse conjunto. Nota-se que os caminhos de pedestres so implantados em reas resi- duais da implantao dos estacionamentos. Ptio de estacionamento central que ocupa os espaos livres de melhor visualizao no Sacom C. 2010. Espaos deixados para a circulao de pedestres no conjunto do Sacom so estreitos e mal iluminados. 2010. 207 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Itaquera C5/C7 jeto inicial, deveria ter seu trajeto conectando a Av Prof. Leondio com a Rua Antnio Fontana. Entretanto, sua circulao interrompida pelo muro que circunda o con- junto. O conjunto de Itaquera tem um sistema virio inter- no, enxuto, estruturado em uma via nica e central ao conjunto que interliga todos os condomnios, a praa e o campo de futebol com a Avenida Prof. Leondio, que a Rua Rafael Albarini. uma via sem sada que no pro- Circulao de pedestres e pontos de acesso para o espao privado do Itaquera C5/C7 e para o interior das edifcaes. A rua central o principal eixo de circulao de pedestres. 2011 Rua pblica interna ao conjunto de Itaquera. 2011. Quanto aos estacionamentos, so previstos apenas os estacionamentos privados, localizados dentro das gra- des dos condomnios, na razo de uma vaga para cada duas unidades habitacionais. Nos espaos pblicos, os ve- culos estacionam alinhados ao meio fo. Dentro de cada condomnio, nota-se que maior a quantidade de ve- culos do que de vagas, muitos deles estacionados sobre reas gramadas que no eram destinadas originalmente a esse uso. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 208 Para a circulao de pedestres, existem as caladas que ladeiam a rua Rafael Albarini que so pouco utili- zadas. Observa-se que os moradores preferem transitar pelo leito da rua a utilizar-se das caladas. Dentro de cada condomnio no h uma rede de caminhos de pedestres prvia, e a circulao dos moradores se faz pelos ptios de estacionamento. Ptio de estacionamento que ocupa boa parte do terreno plano dentro de um dos condomnios que forma o conjunto Itaquera C5/C7. 2011. A ausncia de uma rede de caminhos para o percurso de pedestres faz com que estes dividam o espao da rua e dos estacionamentos com os veculos em Itaquera. 2011. 209 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Horto do Ip A estrutura do sistema virio interno ao Horto do Ip baseada em ruas de largura constante com traado si- nuoso devido ao relevo acidentado do local. Nessas ruas, concentram-se os percursos de pedestres pelas caladas tambm com largura constante de dois metros. Circulao de pedestres e pontos de acesso para o espao privado do Horto do Ip e para o interior das edifcaes. H percursos pavimentados para os pedestres entre a entrada do conjunto e as portas de acesso das edifcaes. 2011 Rua do Horto do Ip que d acesso aos empreendimentos da Tenda e MRV. Caladas estreitas e muitos carros estacionados. 2009. Observa-se que h grande volume dos veculos es- tacionados no meio fo das caladas por todas as ruas do Horto do Ip, at mesmo naquelas que no so utilizadas como vias de acesso ou de passagem. Internamente aos condomnios estudados, os esta- cionamentos representam o maior tipo de ocupao da CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 210 rea do terreno. Cada unidade habitacional tem direito a uma vaga demarcada que foi vendida com sua locali- zao defnida. H algumas poucas vagas cobertas nos empreendimentos da MRV, que em geral so mais distan- tes dos apartamentos. No h, dentro dos limites de cada condomnio, vagas para visitantes. Por serem extensos, conformam grandes reas de permeabilidade parcial com pisos intertravados ou com blocos de concreto instalados no gramado. O sistema virio interno de cada conjunto reduzido a apenas uma via de acesso aos estacionamentos. Para os pedestres, h uma rede de caminhos cimen- tados que permitem a circulao entre edifcios. Esses caminhos podem apresentar rampas, ou escadarias, nem sempre atendendo NBR 9050 de Acessibilidade Univer- sal. 164 No so cobertos, ou iluminados. Essa rede, em todos os empreendimentos respeita os percursos mais curtos ou mais fceis de fazer. 164 Conforme citado anteriormente, a NBR 9050 a norma tcnica bra- sileira que estabelece parmetros para que espaos de uso coletivo e/ou pblico sejam acessveis de forma universal, para rampas recomenda 8% de inclinao mxima, sendo tolervel em casos especiais a inclinao de 12%. Grande ptio de estacionamento localizado na entrada do Cond. Spazio do Ip Amarelo, com pisos semipermeveis para atender parmetros de zoneamento da capital paulista. 2010. Estacionamento semicoberto localizado nos fundo do lote de um dos conjuntos do Horto do Ip. 2010. 211 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Caminho pavimentado de pedestres para circulao interna ao condomnio, no Horto do Ip.2010. reas pavimentadas entre edifcaes para a circulao dos moradores no Spazio do Ip Amarelo. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 212 Reserva Parque So Vicente Pontos de acesso aos espaos condominiais e s reas internas s edifcaes, com limitao de um acesso por condomnios. Os percursos de pedestres so diretos entre portarias e edifcaes respeitando os menores percursos viveis. 2011. 213 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO No projeto desse conjunto no h sistema virio p- blico, e seus condomnios se assentam sobre a rede de vias locais existente no loteamento vias de trnsito lo- cal. Internamente aos condomnios no existe tampouco um sistema de vias, mas apenas conexes diretas entre guaritas e portes de acesso de veculos e os ptios de estacionamento. caracterstica comum a todos os empreendimentos, que compem esse conjunto, ter o bolso de estaciona- mento, ntegro, ocupando a maior parte do lote, muitas vezes reas de alta visibilidade. Devido legislao es- pecifca da Prefeitura de Mau, diversa da Prefeitura de So Paulo, tais vagas no necessitam ser rea permeveis. Por isso, os bolses so cimentados, o que cria grandes espaos ridos e refetivos devido cor e propriedade trmica do concreto, dentro de cada condomnio. So pre- vistas vagas para portadores de necessidades especiais, conforme a recomendao da NBR 9050. 165 Quanto circulao de pedestres dentro dos condo- mnios, ela apresenta situaes variadas conforme cada projeto. No caso da Reserva Olhos Dgua, feita por cal- adas que beira o ptio de estacionamento. Em outros casos, como na Reserva do Lajeado, essa circulao feita por uma rede de caminhos cimentados, descobertos que ligam as guaritas aos acessos de cada bloco de aparta- mentos. Em Mau, as taxas de permeabilidade mnima no exigiram pavimentos permeveis na implantao do ptio de estacionamento dos empreendimentos. 2010. Implantao do Condomnio Reserva do lajeado com um eixo pavimentado de circulao de pedestres para acesso s edifcaes. www.mrv.com.br 165 O nmero de vagas que deve ser acrescentado e reservado para portadores de necessidades especiais de 2% das vagas totais. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 214 7. Vegetao: Sacom C Internamente a esse conjunto, no existem mas- sas vegetais de grande porte. No seu entorno, existe um bosque privado, que ser incorporador em um empre- endimento do Mercado Imobilirio Reserva do Bosque em fase de construo pela Construtora Eztec, em 2011. As reas livres verdes do conjunto do Sacom apre- sentam um plantio inexpressivo com reas gramadas e poucos arbustos ainda jovens e rvores igualmente novas espalhadas de forma aleatria, sem conformar nenhuma estrutura espacial. Itaquera C5/C7 A estrutura vegetal do conjunto de Itaquera se assemelha ao caso do Sacom. Dentro de cada condom- nio existem reas gramadas, especialmente os taludes, e algumas rvores de pequeno porte ainda em fase de cres- cimento e arbustos espalhados casuisticamente. A praa pblica desse conjunto tambm possui canteiros gramados, arbustos e rvores plantadas, essas ltimas de maior porte. Nota-se, no entanto, que um plantio recente, baseado em mudas ainda muito jovens, difcultando que essa vegetao crie reas sombreadas e estabeleam estruturas conformadoras do espao livre. No Sacom C no h projeto de plantio de vegetao. As reas ajardinadas so simplifcadas e receberam arbustos e rvores plantadas pelos prprios moradores. 2010. Plantio no conjunto de Itaquera. Pouco estruturado e com mudas de pequenos portes. 2011. 215 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Horto do Ip As massas vegetais de porte desse loteamento fechado se concentram na APP que o circunda. No h vegetao que sombreie as caladas ao longo das ruas. Observa-se que apesar de ser chamado de Horto do Ip, com exceo da rea do parque municipal que apresenta vegetao de grande porte e caracteriza esse ambiente, no h mais nenhum tipo de tratamento especifco entre os condomnios e dentro deles que reforcem a estrutura vegetal do Horto. Dentro dos conjuntos, ainda no havia sido im- plantado o projeto de paisagismo, no primeiro semestre de 2010, e no h registro de um projeto especfco de paisagismo. Somente o Spazio Ip Amarelo apresentava seus jardins totalmente implantados. Nesse caso, no h rvo- res de grande porte que permitem o sombreamento das reas livres dos conjuntos. Utilizaram-se grandes planos gramados com palmeiras ao longo da passagem de pedes- tres e arbustos baixos, protegendo poucos apartamentos trreos. , porm, um projeto efetivo por utilizar espcies de manuteno simples que foram plantadas em porte adulto, favorecendo sua conservao ao longo do tempo. Os jardins do Spazio Ip Amarelo tm plantio de espcies que necessitam de pouca manuteno. 2010. As espcies plantadas pela MRV no Horto do Ip no so de grande porte nem estruturam espaos, porm colaboram com a cenarizao do conjunto aproximando-o do padro de classe mdia. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 216 Reserva Parque So Vicente O conjunto da Reserva do Parque So Vicente tem em sua paisagem a presena de uma estrutura vegetal de porte que o Parque Pblico So Vicente. Ele no se encontra dentro do conjunto, mas em sua vizinhana. No loteamento em que os condomnios se inserem, ao longo das ruas, foram plantadas palmeiras em todas as caladas que fazem parte dos empreendimentos da MRV. Dentro de cada condomnio em fase de entrega ou pronto, no primeiro semestre de 2010, observa-se o plan- tio de reas gramadas, forraes decorativas, arbustos baixos, agaves e palmeiras que esboam uma espcie de cenarizao para as reas de lazer e os jardins dos empre- endimentos, como o caso da Reserva Olhos Dgua. Esse caso se assemelha ao Horto Ip, j que apesar do plantio estar bem executado com espcies de porte mais adulto, no so conformadas estruturas espaciais de porte. Palmeiras plantadas ao longo das caladas pblica no Reserva Parque So Vicente com apelo de venda dos empreendimentos. 2010. Jardins internos aos condomnios em Mau. 2010. 217 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO 8. Conexo com o entorno e aspectos simblicos: Sacom C O conjunto do Sacom se insere no seu entorno sem causar rupturas formais com o padro de ocupa- o existente. Isso porque a vizinhana onde se localiza apresenta outros condomnios fechados de torres de apar- tamentos com pequeno/mdio porte, isto , com trs torres at sete torres. Tal padro verticalizado se mistura com o casario existente que ocupa as travessas da Avenida P e Arlindo Vieira. As fachadas das torres da CDHU apresentam linhas simplifcadas que se diferem das fachadas Neoclssicas dos condomnios vizinhos, apresentando, no entanto, vo- lumetrias mais complexas que atenuam tal diferenciao. Os empreendimentos verticais produzidos pela CDHU e pelo Mercado aumentaram a densidade habi- tacional da vizinhana, e por consequncia, devem ter provocado a maior demanda por comrcio, servios e a maior utilizao das vias de acesso. Sendo a ruptura na paisagem atenuada, j que esse processo de verticaliza- o se concentra ao longo de tal avenida. Avenida Pe Arlindo Vieira e o padro de ocupao verticalizado na rea onde se encontra o conjunto da CDHU. 2010. Ao fundo, os edifcios empreendidos pela Mercado Imobilirio se diferenciam por suas fachadas com varandas e suas cores, porm no confguram zonas de ruptura com o padro implantado pela CDHU no Sacom C. 2010. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 218 A conexo dos espaos internos do conjunto com as reas livres pblica do entorno existe apenas visual- mente, j que o alinhamento do lote delimitado com muros e gradis. Itaquera C5/C7 Esse conjunto representa na paisagem uma conti- nuidade no padro de ocupao proposto pela Cohab-SP, na dcada de 1970, no seu projeto do Conjunto de Ita- quera II, com o qual faz divisa, pela repetio de blocos de apartamentos com lminas articuladas de cinco pavi- mentos e paralelas entre si. Por outro lado, assim como o Itaquera II, rompem com o padro de ocupao do casario que o rodeia, que ocupa com densidade o solo e apresenta fachadas e volu- metrias variadas. Dessa forma, o Itaquera C5/C7 demarca, na paisagem urbana do bairro, o incio do complexo de Itaquera. Os muros que cercam os trs condomnios no Sacom interrompem a integrao destes com seu entorno. 2010. O bairro de Itaquera e ao fundo o conjunto da CDHU demarcando o limite entre o complexo habitacional de Itaquera com conjuntos da Cohab e da CDHU e o bairro convencional do entorno. 2010. 219 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Por ser cercado por muros, a conexo com o en- torno interrompida no mbito da circulao de pessoas e veculos. So esses mesmo muros que limitam a inte- grao dos seus espaos livres com os espaos livres do entorno. possvel identifcar a passagem do conjunto antigo de Itaquera produzido pela Cohab-SP, para o con- junto novo da CDHU, pela diferenciao de fachada, com cores e materiais distintos, e pela presena dos telhados de duas guas que cobrem os blocos e delimitam, na pe- riferia paulistana, a produo da CDHU como um todo. Conjunto da CDHU com implantao anterior de Itaquera C5/C7 que se diferencia pelas cores e volumetria da fachada. 2010. Gradis e muros que circundam espaos pblicos e privados no Itaquera C5/C7 prejudicando sua integrao com seu entorno. 2011. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 220 Horto do Ip O Horto do Ip apresenta-se isolado do bairro onde se localiza por decises inerentes prpria natureza de sua concepo. um loteamento fechado, um condo- mnio de outros condomnios e por isso se conecta com o bairro por apenas um acesso, apesar de ser circundado por outras formas de ocupao tambm residenciais. aparentemente mais organizada padres do mercado da classe mdia/alta adaptados para famlias de rendas mdias e mdias baixas que buscam o isolamento num bairro planejado. Por isso, destaca-se da paisagem local com seus condomnios de casas e seus blocos de apartamentos com fachadas muitas vezes inspiradas nos modelos Neoclssi- cos lanados pelo Mercado Imobilirio. Os condomnios do Horto Ip no primeiro e segundo planos e ao fundo o bairro do Jardim Umuarama, separados pelo cinturo verde da rea de preservao. 2010. Seu traado virio no se interconecta com o existente, tampouco h uma continuidade dos tipos cons- trutivos. Enquanto o bairro ocupado por um mosaico de casas assobradas, pela favela e por um conjunto mo- dernista do Inocoop, o Horto do Ip reproduz de forma Condomnio fechado de casas vizinho aos empreendimentos da MRV e Tenda que refora a estrutura de segregao de loteamento com seus muros. 2010. 221 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO A conexo entre o entorno desses conjuntos e seus espaos internos inexistente. Os muros altos que os rodeiam e seus acessos nicos no possibilitam nenhum elemento de conexo visual, ou espacial entre os espaos livres coletivos dos empreendimentos e o espao livre da rua. Reserva Parque So Vicente O porte avantajado do conjunto da Reserva Parque So Vicente, composto por mais de 14 empreendimentos que ocupam mais de dez hectares de terrenos, combina- dos com tipos verticais de quatro, oito e 12 pavimentos com volumetrias semelhantes e repetidas, faz com que se destaque na paisagem como elemento de ruptura com o casario assobrado existente na vizinhana e a massa ver- de do Parque So Vicente. Conjuntos de prdios de apartamentos no Horto do Ip e seus cercamentos. 2010. Empreendimento do Parque So Vicente em sua face de integrao com o casario do bairro. Ruptura do padro e densidade populacional de ocupao. 2010. No nvel da circulao urbana, essa ruptura menos caracterstica, j que os empreendimentos se moldaram para o sistema virio pr-existente, seguindo assim a lgi- ca de circulao e conexo do bairro. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 222 Apesar de terem sido projetados em um mesmo momento e por um mesmo agente, a construtora MRV Engenharia, no h continuidade espacial entre os em- preendimentos, sendo cada projeto tratado em seus acessos, e disposio de volumes, como um caso distinto e independente do restante. O que confere a noo de conjunto para essa rea so os tipos arquitetnicos, os materiais de acabamento e as fachadas Neoclssicas neles empregadas.
Condomnios que compem o conjunto do Reserva Parque So Vicente. No h conexo entre espaos livres dos empreendimentos produzidos pela mesma incorporadora. A noo de conjunto existe pela repetio dos tipos. 2010. 223 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO dados abso|utos Lmpreendedor Loca||zao rea tota| terreno (m2) n. de b|ocos n. de un|dades n. de pav|mentos por b|oco Sacom Cond.1 CuPu Av. e Arllndo vlelra 3700 3 144 12 Sacom Cond.2 CuPu Av. e Arllndo vlelra 2200 2 96 12 Sacom Cond. 3 CuPu Av. e Arllndo vlelra 3100 3 144 12 dados qua||tat|vos apartamentos trreos acesso estac|onamento]vagas estac|onamento coberto programa de |azer or|entao so|ar predom|nante Sacom Cond.1 no unlco 1 por cada 2 unldades no playground, salo de fesLas, salo de [ogos lesLe/oesLe Sacom Cond.2 no unlco 2 por cada 2 unldades no salo de fesLas, salo de [ogos noroesLe/sudesLe Sacom Cond. 3 no unlco 3 por cada 2 unldades no salo de fesLas, salo de [ogos lesLe/oesLe re|aes taxa de ocupao taxa de espaos ||vres reas de estac|onamento] e.||vres reas de |azer] e.||vres reas de [ard|ns e c|rcu|aes dens|dade popu|ac|ona| Sacom Cond.1 0,17 0,83 0,8 0,09 0,11 1284 Sacom Cond.2 0,19 0,81 0,64 0 0,36 1440 Sacom Cond. 3 0,2 0,8 0,72 0 0,28 1284 Quadro resumo das caractersticas dos casos estudados divididos por conjuntos e subdividos entre os condomnios que compem cada caso. Todas as informaes foram retiradas do site das incorporadoras MRV e Tenda e dos projetos e do site da CDHU. Clculo de densidade considerou a ocupao mdia de 3,3 hab/unid. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 224 dados abso|utos Lmpreendedor Loca||zao rea tota| terreno (m2) n. de b|ocos n. de un|dades n. de pav|mentos por b|oco lLaquera C3/C7 - 1 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3870 2 100 4 lLaquera C3/C7 - 2 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3100 3 100 4 lLaquera C3/C7 - 3 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 4360 2 120 4 lLaquera C3/C7 - 4 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 7300 3 160 4 lLaquera C3/C7 - 3 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3700 2 100 4 lLaquera C3/C7 - 6 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 7270 4 160 4 lLaquera C3/C7 - 7 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 6700 4 160 4 dados qua||tat|vos apartamentos trreos acesso estac|onamento]vagas estac|onamento coberto programa de |azer or|entao so|ar predom|nante lLaquera C3/C7 - 1 slm unlco 1 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 2 slm unlco 2 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 3 slm unlco 3 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 4 slm unlco 4 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 3 slm unlco 3 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 6 slm unlco 6 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 7 slm unlco 7 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe re|aes taxa de ocupao taxa de espaos ||vres reas de estac|onamento]e.||vres reas de |azer] e.||vres reas de [ard|ns e c|rcu|aes dens|dade popu|ac|ona| lLaquera C3/C7 - 1 0,33 0,67 0,39 0,61 833 lLaquera C3/C7 - 2 0,23 0,73 0,44 0,36 647 lLaquera C3/C7 - 3 0,33 0,67 868 lLaquera C3/C7 - 4 0,28 0,72 0,26 0,74 723 lLaquera C3/C7 - 3 0,34 0,66 0,33 0,67 892 lLaquera C3/C7 - 6 0,28 0,72 0,26 0,74 726 lLaquera C3/C7 - 7 0,31 0,69 0,3 0,3 788 Quadro resumo das caractersticas dos casos estudados divididos por conjuntos e subdividos entre os condomnios que compem cada caso. Todas as informaes foram retiradas do site das incorporadoras MRV e Tenda e dos projetos e do site da CDHU. Clculo de densidade considerou a ocupao mdia de 3,3 hab/unid. 225 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Quadro resumo das caractersticas dos casos estudados divididos por conjuntos e subdividos entre os condomnios que compem cada caso. Todas as informaes foram retiradas do site das incorporadoras MRV e Tenda e dos projetos e do site da CDHU. dados abso|utos Lmpreendedor Loca||zao rea tota| terreno (m2) n. de b|ocos n. de un|dades n. de pav|mentos por b|oco lLaquera C3/C7 - 1 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3870 2 100 4 lLaquera C3/C7 - 2 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3100 3 100 4 lLaquera C3/C7 - 3 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 4360 2 120 4 lLaquera C3/C7 - 4 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 7300 3 160 4 lLaquera C3/C7 - 3 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 3700 2 100 4 lLaquera C3/C7 - 6 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 7270 4 160 4 lLaquera C3/C7 - 7 CuPu Av. rof. Leonldlo AllegreLLl 6700 4 160 4 dados qua||tat|vos apartamentos trreos acesso estac|onamento]vagas estac|onamento coberto programa de |azer or|entao so|ar predom|nante lLaquera C3/C7 - 1 slm unlco 1 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 2 slm unlco 2 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 3 slm unlco 3 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 4 slm unlco 4 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 3 slm unlco 3 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 6 slm unlco 6 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe lLaquera C3/C7 - 7 slm unlco 7 por cada 2 unldades no n/a nordesLe/sudoesLe re|aes taxa de ocupao taxa de espaos ||vres reas de estac|onamento]e.||vres reas de |azer] e.||vres reas de [ard|ns e c|rcu|aes dens|dade popu|ac|ona| lLaquera C3/C7 - 1 0,33 0,67 0,39 0,61 833 lLaquera C3/C7 - 2 0,23 0,73 0,44 0,36 647 lLaquera C3/C7 - 3 0,33 0,67 868 lLaquera C3/C7 - 4 0,28 0,72 0,26 0,74 723 lLaquera C3/C7 - 3 0,34 0,66 0,33 0,67 892 lLaquera C3/C7 - 6 0,28 0,72 0,26 0,74 726 lLaquera C3/C7 - 7 0,31 0,69 0,3 0,3 788 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 226 dados abso|utos Lmpreendedor Loca||zao rea tota| terreno (m2) n. de b|ocos n. de un|dades n. de pav|mentos por b|oco 8eserva do CanLo M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 3100 3 140 4 8eserva do La[eado M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 2300 3 60 4 8eserva do Mlrador M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 10000 6 230 4 8eserva 1ucum M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 6000 2 200 8 8eserva Corumblara M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 8900 3 210 4 8eserva do Cuarlba M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 8 8eserva do 1aquarl M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 6300 2 128 8 8eserva Clhos u`gua M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 11700 3 184 4 8eserva de lLaunas M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 9200 3 192 8 8eserva da CanLarelra M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 7600 2 144 9 8eserva lLacoloml M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 3 8eserva MaLa das llores M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 12 8eserva Cuaranl M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 8eserva dos lrlneus M8v Lngenharla Av. apa !oo xxlll 9300 3 180 4 re|aes taxa de ocupao taxa de espaos ||vres reas de estac|onamento] e.||vres reas de |azer] e.||vres reas de [ard|ns e c|rcu|aes dens|dade popu|ac|ona| 8eserva do CanLo 0,28 0,72 0,79 0 0,21 906 8eserva do La[eado 0,28 0,72 0,33 0,13 0,32 792 8eserva do Mlrador 0,33 0,63 0,86 0,13 0,01 739 8eserva 1ucum 0,21 0,79 0,61 0,08 0,31 1100 8eserva Corumblara 0,28 0,72 0,71 0,1 0,19 779 8eserva do Cuarlba 8eserva do 1aquarl 0,2 0,8 0,63 0,13 0,22 630 8eserva Clhos u`gua 0,23 0,73 0,63 0,06 0,31 319 8eserva de lLaunas 0,19 0,81 0,33 0,13 0,34 689 8eserva da CanLarelra 0,17 0,83 0,63 0,13 0,2 623 8eserva lLacoloml 8eserva MaLa das llores 8eserva Cuaranl 8eserva dos lrlneus 0,28 0,72 0,63 0,11 0,26 623 Quadro resumo das caractersticas dos casos estudados divididos por conjuntos e subdividos entre os condomnios que compem cada caso. Todas as informaes foram retiradas do site das incorporadoras MRV e Tenda e dos projetos e do site da CDHU. Quando no foi possvel obter a informao foi deixado uma lacuna em branco. Clculo de densidade considerou a ocupao mdia de 3,3 hab/unid. 227 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO dados qua||tat|vos apartamentos trreos acesso estac|onamento] vagas estac|onamento coberto programa de |azer or|entao so|ar predom|nante 8eserva do CanLo slm unlco 1 vaga por unldade no playground, flLness nordesLe/sudoesLe 8eserva do La[eado slm unlco 1 vaga por unldade parclal playground, flLness, espao zen, espao gourmeL nordesLe/sudoesLe 8eserva do Mlrador slm parclal unlco 1 vaga por unldade no plsclna, salo de fesLa, salo de [ogos, flLness, baby place, espaos gourmeL, redrlo sudesLe/noroesLe 8eserva 1ucum slm unlco 1 vaga por unldade no playground, flLness, espao gourmeL, espao zen lesLe/oesLe 8eserva Corumblara slm parclal unlco 1 vaga por unldade no playground, churrasquelra, flLness norLe/sul 8eserva do Cuarlba slm parclal unlco 1 vaga por unldade playground, redrlo 8eserva do 1aquarl slm parclal unlco 1 vaga por unldade no plsclna, salo de fesLa, espao gourmeL, flLness, praa lesLe/oesLe 8eserva Clhos u`gua slm parclal unlco 1 vaga por unldade no plsclna, playground, salo de fesLas ,lanhouse, salo [ogos lesLe/oesLe 8eserva de lLaunas slm parclal unlco 1 vaga por unldade parclal plsclna, playground, espao gourmeL, salo de [ogos, espao zen, redrlo lesLe/oesLe 8eserva da CanLarelra no unlco 1 vaga por unldade no quadra pollesporLlva, playground, salo de fesLa, flLness lesLe/oesLe 8eserva lLacoloml slm parclal unlco 1 vaga por unldade playground, redrlo, espao gourmeL, flLness norLe/sul 8eserva MaLa das llores unlco 1 vaga por unldade 8eserva Cuaranl unlco 1 vaga por unldade 8eserva dos lrlneus slm parclal unlco 1 vaga por unldade no plsclna, salo de fesLas, espao flLness lesLe/oesLe Quadro resumo das caractersticas dos casos estudados divididos por conjuntos e subdividos entre os condomnios que compem cada caso. Todas as informaes foram retiradas do site das incorporadoras MRV e Tenda e dos projetos e do site da CDHU. Clculo de densidade considerou a ocupao mdia de 3,3 hab/unid. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 228 3.4 A produo da CDHU x a produo do Mercado e sua ruptura com a paisagem O tecido urbano, produzido pelo agrupamento dos conjuntos habitacionais populares estudados, representa um padro de ocupao do espao urbano que rompe com o padro de ocupao do tecido predominante dos bairros, onde esses conjuntos se inserem. Essa ruptura se d no mbito espacial, porm tambm um refexo da ruptura nos processos de gesto e de produo do espao habitacional peculiares desses trechos da cidade. Tais conjuntos se destacam por romper com a pai- sagem do seu entorno que marcado pela presena, em geral, do casario denso de sobrados geminados, pela pre- sena de corpos vegetais de porte e, no caso do Reserva Parque So Vicente, de estruturas virias que delimitam o bairro. A ruptura nos processos de produo do espao dos conjuntos reside, primeiramente, no agente promotor de seu projeto e construo que centralizado na CDHU no caso da produo do Sacom e do Itaquera, e em grandes incorporadoras Tenda e MRV no caso do Horto do Ip e do Reserva Parque So Vicente, em oposio ao proces- so de produo dessas reas que os circundam, nas quais os agentes so pulverizados moradores, pequenos cons- trutores, entre outros. Casario que conforma o bairro do entorno do conjunto de Itaquera. Sobrados com fachadas variadas e ocupao total da projeo do lote. 2011. Casario que conforma o bairro do entorno do Reserva Parque So Vicente tambm composto por sobrados geminados, em semelhana aos casos produzidos pela CDHU que tambm so inseridos nesse contexto urbano. 2010. 229 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO A forma de produo centralizada e vinculada a questes fnanceiras como limitao de custo da unida- de para viabilidade das linhas de crdito e institucionais, que determinam processos de aprovao de projetos mais longos com estudos de viabilidade, entre outros fatores limitantes, que assolam de maneiras distintas a atuao da CDHU e do Mercado, e acabam por determinar muitas decises e solues espaciais desses conjuntos. Os tipos edilcios padronizados e verticais; a produ- o de estacionamentos nos pavimentos trreos, com a excluso de subsolos dos projetos; a implantao de uni- dades trreas e outras tantas defnies de projeto so ocasionadas muito mais pelas limitaes de oramentos impostos pelas condies de fnanciamentos desses em- preendimentos, do que pela busca de solues espaciais e urbanas desejveis com espaos de mltiplos usos, diversifcados e bem mantidos. Tais solues acabam por determinar a ruptura desse tipo de tecido com o tecido dos bairros em que tais conjuntos se implantam. A proporo entre espaos livres e espaos edifca- dos um dos principais fatores que caracteriza a ruptura formal com o entorno existente. H uma rea maior do terreno destinada aos espaos livres de edifcao, em de- corrncia da escolha por tipos verticais que acabam por estabelecer menores taxas de ocupao do solo, se compa- rados aos tipos horizontais, possibilitando a implantao de maior nmero de unidades por lote e aumentando a explorao do terreno. A grande disponibilidade de reas livres percebida pela desvinculao da edifcao com relao ao alinhamento do lote, que passam a se destacar na paisagem, permitindo maior visibilidade entre edif- cios. A ruptura da paisagem nos casos estudados se d pela contraposio de grandes espaos livres, como esse do Spazio do Ip Roxo, e a ausncia desses espaos no tecido adjacente, nesse caso da favela densamente ocupada. 2009 Outro fator de ruptura formal a repetio e mo- notonia dos blocos de apartamentos implantados nesses empreendimentos. Eles se contrapem diretamente com a fragmentao e variedade de fachadas e volumetrias da cidade que se encontra adjacente, e com a possibilidade de modifcao e evoluo do tecido urbano desses bair- ros, j que a estrutura desses conjuntos pouco fexvel a revises morfolgicas. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 230 O espao urbano tradicional que ocupa o entorno desses conjuntos, mais facilmente reconhecido pela po- pulao, entretanto, isso no quer dizer que de maior qualidade. Faltam espaos livres de lazer pblicos e privados, falta iluminao em muitos cmodos desse ca- sario, faltam caladas bem dimensionas, falta privacidade entre casas, faltam reas permeveis para escoamento das guas, entre outros problemas existentes na periferia de So Paulo. Com essas condies, tais casos se destacam da paisa- gem por introduzirem tecidos mais densos de populao, porm com taxas de ocupaes menores, mais espaos livres e formalidade em um espao urbano muito ocupa- do, com densidades populacionais baixas e marcado por irregularidades construtivas- invases de recuo, imper- meabilizao total do lote, entre outros. Essas diferenas, porm, no se traduzem necessariamente e diretamente em qualifcao dos espaos urbanos propostos nesses conjuntos. Verifca-se a sobreposio de critrios econmicos sobre os critrios de qualidade na adequao da implan- tao dos conjuntos habitacionais e seus espaos livres nesses empreendimentos. A necessidade de otimizar o aproveitamento do terreno, com a implantao do maior nmero de unidades habitacionais possveis, em pr- dios de apartamentos que no necessitem de elevador, a demanda por vagas de garagem e a restrio s movi- mentaes de terra com cortes e aterros que encarecem a obra, faz com que os espaos livres destinados convi- vncia entre os moradores e ao lazer sejam secundrios nas decises tomadas na implantao do conjunto. Observa-se na comparao entre a produo da CDHU e do Mercado Imobilirio aspecto de convergncia e de divergncia dos casos. Entre os aspectos de convergncia, alm da ruptura com a paisagem do entorno, tem-se: A ocupao e escolha de terrenos vazios, nunca antes ocupados. Transformao profunda do suporte natural exis- tente, com modifcaes de relevo para abrigar a implantao dos blocos padro de apartamentos. A valorizao dos espaos privados em detrimen- to dos espaos pblicos, com o cercamento dos conjuntos com muros e gradis. Prevalecimento de tipos arquitetnicos padro. Predominncia do estacionamento sobre todas as reas livres. A desvalorizao dos espaos de lazer e convivn- cia em funo dos estacionamentos. Controles de acesso centralizados em guaritas e portes. 231 ESTUDOS DE CASO: ESPAOS LIVRES NA PRODUO EMPREENDIDA PELA CDHU X MERCADO IMOBILIRIO Falta de integrao formal e continuidade ur- bana entre os empreendimentos e os espaos pblicos do entorno. Entre os aspectos de divergncia, concentram-se questes que versam sobre a diferena de empreendi- mentos produzidos pelo Poder Pblico e pelo Mercado Imobilirio e sua lgica fnanceira. Enquanto os conjuntos da CDHU apresentam solu- es simplifcadas para as fachadas das edifcaes, e um programa reduzido de atividades de lazer para seus empreendimentos, o Mercado Imobilirio implanta edi- fcios com volumetrias semelhantes, mas com fachadas modifcadas por elementos de apelo NeoClssico para di- ferenciar os conjuntos, alm de implantar uma gama de equipamentos e mobilirios para lazer. O objetivo de comercializao dos apartamentos pro- duzidos transforma o carter desses projetos do mercado, que deixam de ser vistos como projetos habitacionais para serem vistos como produtos que, para serem atraentes ao mercado consumidor, devem se destacar de alguma for- ma da oferta existente de outros produtos semelhantes a esse. Por isso, observa-se a tentativa de criao de diferen- ciais de um conjunto para o outro, nas reas de lazer, com a incluso de equipamentos e programas de uso tpicos dos empreendimentos produzidos para o pblico de clas- se mdia alta paulistana. Fachada padro da CDHU tipologia VI22 marcada pela simplicidade volumtrica e o telhado de duas guas. 2011. Fachada padro da MRV com a aplicao de elementos que lembram estilos adotados pelo Mercado Imobilirio voltado para as classes mais abastadas, nesse caso com apelo Neoclssico. 2010 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 232 Esses usos so: espao zen, redrio, praa de leitu- ra, espao baby, gazebo, entre outros; que poderiam ser agrupados em reas de estar com bancos, mesas para jo- gos e jardins, reas de playground e quadras esportivas de maiores dimenses, onde mais crianas poderiam brincar. J a CDHU apresenta maior preocupao, porm no sufciente, na implantao do conjunto com a cor- reta orientao solar das edifcaes nos dois exemplos estudados. Apresenta tambm, no caso do conjunto de Itaquera, uma tentativa de projeto de vizinhana e trecho de bairro com a implantao de uma praa central ao conjunto e um sistema virio pblico. Apesar da produo do Mercado Imobilirio apre- sentar menos limitaes e imposies no seu processo de produo, nota-se que seus empreendimentos tendem a seguir as mesmas limitaes que determinam a localiza- o, a padronizao e a monotonia dos projetos da CDHU. Imagens vendidas pelo Mercado Imobilirio de equipamentos a serem implantados nos conjuntos como diferenciais de mercado. Como verifcou-se a imagem no corresponde a realidade. www.mrv.com.br Principais tipos de implantao dos conjuntos, seus blocos e seus espaos livres. Nos tipos B e C representativos da produo da CDHU observa-se a inteno de reservar espaos centrais para os espaos livres. Mesmo que esses virem reas de estacionamento. No tipo A, representativo do Mercado, h a maior aleatoriedade na implantao. A B C INTRODUO CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS 235 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS A produo habitacional para baixa renda e os agrupamentos de conjuntos produzidos pelo Estado e pelo Mercado na periferia paulistana: limitaes, condies e oportunidades O estudo da produo contempornea de habitao popular em larga escala, na metrpole paulistana, em- preendida pelo Estado e pela Iniciativa Privada, permite traar concluses e consideraes fnais quanto morfo- logia desses conjuntos e sua insero no espao urbano existente, quanto ao seu processo produtivo, condies e limitaes, e quanto atuao dos agentes que dela participam Poder Pblico, Mercado Imobilirio e os Tc- nicos. No que diz respeito forma que essa produo ad- quire, aponta-se a continuidade do padro urbanstico modernista como partido adotado, desde meados do sculo XX na produo dos IAPs 166 at a produo empreendida em 2010. Prdios isolados, agrupados em conjuntos e com espaos livres abundantes, afrmam-se como o que parece ser a nica forma vivel de produo popular de habitao na grande cidade. Como visto no Captulo 1.4, Conjuntos habitacionais populares paulistanos: do BNH ao Segmento Econmico sobre o processo de evoluo e reviso dos conjuntos, a crtica s defcincias do projeto e da forma de ocupao de tais reas no se justifca apenas pelas suas caracte- rsticas morfolgicas tipos arquitetnicos repetitivos e espaos livres abundantes, mas tambm pela ausncia de complexidade urbana que tal produo apresenta e pela sua difculdade de integrao com o entorno existen- te. Afnal, existem espaos modernistas como a SQS 308 e o projeto inicial do Cecap Zezinho de Magalhes Prado que foram concebidos valendo-se de uma viso mais ampla de cidade, contemplando atividades e es- paos em seu projeto complementares aos espaos da habitao, visando produo de unidades de vizinhana complexas e no apenas assentamentos exclusivamente habitacionais. No cabe aqui condenar o modelo urbanstico mo- dernista, mas sim apontar a forma como esse modelo foi massivamente implantado nos conjuntos habitacionais populares, mostrando-se inefciente em promover espa- os urbanos qualifcados para o convvio social princpio inicial do modernismo. Ocorre que tais exemplos mais complexos so ex- cees dentro do universo de conjuntos habitacionais produzidos no Brasil. O que se conclui que houve um esvaziamento e uma simplifcao do partido modernista original para atender a supostas demandas de efcincia fsica e fnanceira- menor custo e menor tempo de produ- 166 Conforme indicado no Capitulo 1.4.2 Antecedentes: IAPs e a produ- o europeia do entreguerras. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 236 o que privou tais projetos mais recentes de qualquer tipo de complexidade espacial e funcional. Edifcios institucionais, equipamentos urbanos, siste- ma virio hierarquizado, rede de percursos de pedestres, arborizao, tipos arquitetnicos sobre pilotis, entre ou- tros elementos morfolgicos de composio urbana, foram sendo aos poucos extintos desse tipo de produo, a qual passou a ser simplifcada em projetos de blocos de apartamentos, taludes e ptios de estacionamento, refor- ando em sua estrutura espacial a condio de bairros dormitrios a esses conjuntos habitacionais perifricos. O binmio edifcios isolados no lote e espaos livres abundantes o padro adotado tambm pelo Mercado Imobilirio que, aproximadamente a partir de 2005, pas- sa a atuar em larga escala nos mesmos bairros onde se encontram os conjuntos produzidos no passado pela Co- hab SP e no presente pela CDHU. Com algumas variaes de acabamentos, tratamento de fachadas e a insero de novos programas de recreao para as reas livres, a pro- duo liderada pela Iniciativa Privada no se preocupou em se distanciar da estrutura formal da produo pblica. Assim, em 2010, pode-se concluir que o padro de blocos de apartamentos baixos, grandes espaos livres, grandes reas de estacionamentos, situao/ localiza- o perifrica, e muros que conformam condomnios fechados, o partido urbanstico adotado pelos diver- sos agentes pblicos/privados para atender/solucionar demanda popular, de famlias com rendas de at dez sa- lrios mnimos. Destaca-se, alis, o papel de protagonista dos ptios de estacionamento dentro dos empreendimentos popu- lares contemporneos. Tais espaos representam mais de 70% de ocupao dos espaos livres condominiais, sendo o uso mais importante dentro dos conjuntos, logo aps a prpria moradia. Outro ponto em comum entre esses empreendimen- tos sua localizao dos conjuntos e sua forma defcitria de integrao com o entorno. Ambos se inserem na cidade como trechos urbanos de ruptura com o tecido conven- cional pr-existente, simbolizando a contraposio entre cidade modernista e a cidade tradicional, cidade formal e a cidade informal e a cidade parque e a cidade rua, respectivamente. Se por um lado a cidade modernista, representa- da pelos conjuntos habitacionais, implanta-se como um espao de difcil legibilidade para seus usurios, distan- ciando-se dos padres formais existente no imaginrio popular e com unidades habitacionais de dimenses n- fmas, por outro lado, tais conjuntos podem representar maior disponibilidade de espaos livres que poderiam ser destinados requalifcao urbana dos bairros perifricos 237 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS e maior densidade populacional capaz de atrair infraes- truturas de comrcio e servios para tais bairros. Apesar de a ocupao convencional frequentemen- te propiciar, dentro de seus lotes, a evoluo das casas para unidades habitacionais de maiores dimenses, con- forme a necessidade de seus moradores, apropriando-se das reas livres dos recuos, quintais e jardins, e propiciar maior familiarizao do espao construdo por meio das diferentes fachadas e padres construtivos aplicados nes- se tecido; h defcincias quanto disponibilidade de reas livres urbanas, como reas de recreao e convvio social, ruas bem dimensionadas e equipamentos sociais. Alm de muitas vezes ocuparem de forma irregular reas importantes de permeabilidade no entorno de crregos, linhas de drenagem, e outras estruturas ambientais, tal forma de ocupao nem sempre apresenta as melhores condies de ventilao e insolao para seus cmodos. Nesse cenrio, os conjuntos habitacionais se con- trapem como espaos extremamente padronizados, com fachadas repetitivas, limitadas possibilidades de aumento das unidades habitacionais e de readequao das construes ao longo do tempo, representando uma conformao nem tanto desejada. Entretanto, a abun- dncia de espaos livres, e a regularidade de sua produo e implantao so caractersticas desses conjuntos, que rompem com o espao convencional dos bairros, podem apresentar oportunidades de requalifcao desses bair- ros perifricos de ocupao precria. Dentro do processo de evoluo do partido modernis- ta, ao longo dos ltimos 50 anos, observa-se a tendncia em se produzir conjuntos de menor porte, se comparados com os conjuntos produzidos pela Cohab-SP, nas dcadas de 1970 e 1980, com milhares de unidades habitacionais, determinada pela refexo sobre a difculdade de insero urbana dos grandes complexos e imposta pelos Manuais que, desde 1998, regem a produo pblica e privada de habitao. Essa tendncia de reduo de porte, alm de seguir critrios dos Manuais de Projetos da CDHU e do Programa Minha Casa Minha Vida indicados no Captulo 2.2, desta dissertao, faz parte tambm de um critrio de projeto aqui exposto de compartimentao dos conjuntos em uma escala de fcil apreenso para seus usurios no Captulo 2.4.2 Estrutura Geral. A limitao de porte, ou compartimentao, enten- dida como critrio de qualidade para os conjuntos, de160 unidades habitacionais, no caso da produo de CDHU e 500 unidades habitacionais para a produo privada do segmento econmico, serviu para resolver a questo de difculdade de gesto dos espaos dos conjuntos, esta- belecendo dimenses adequadas para a administrao condominial. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 238 No entanto, a questo de falta de legibilidade urbana e a difculdade de integrao com a cidade existente nos conjuntos de grande porte, persistem, j que surgiu uma nova forma de ocupao caracterizada pelo agrupamento de pequenos conjuntos da CDHU e do Mercado Imobili- rio, subdivididos administrativamente em condomnios de menor porte, porm espacialmente e funcionalmente conformando os grandes conjuntos. Esses se justapem ao espao perifrico por entre o casario e ao lado dos con- juntos habitacionais de antigamente. Como foi possvel observar com base nos estudos de caso, surge na produo habitacional popular, dos ltimos dez anos, uma nova forma de ocupao dos es- paos perifricos paulistanos, produzidos por agentes distintos Poder Pblico e Iniciativa Privada. Lado a lado esses dois agentes preenchem, com seus empreendimen- tos modernistas, as glebas vazias adjacentes ou muito prximas dos conjuntos habitacionais construdos em dcadas anteriores, misturando-se com o casario caracte- rstico desses bairros. Folder de lanamento de empreendimento da Rossi Construtora e Incorporadora no Segmento Econmico com unidades fnanciadas pelo programa Minha Casa Minha Vida. Tal empreendimento vizinho ao Conjunto Jos Bonifcio de Itaquera. So anunciados como vantagens os itens de lazer, a vaga de estacionamento e as facilidades de servios e comrcio disponveis na regio. 2011, material entregue nas ruas do bairro. 239 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS Alm dos casos do Horto Ip e de Itaquera, apresenta- dos neste trabalho, observa-se esse tipo de agrupamento de conjuntos em outros bairros paulistanos, como no Sa- com, em Guaianazes e no Jaragu. Quatro empreendimentos de incorporadoras e construtoras distintas esto sendo construdos em 2010 ao lado do Jos Bonifcio, Cohab Itaquera II. Um desses empreendimentos o Parque Sugaya de Rossi Ideal. Imagem Google Earth 2011. Em Guaianazes h outro agrupamento de conjuntos habitacionais populares sendo promovidos em 2011 pela Consturtora Cury. So seis empreendimentos implantados lado a lado. Google Earth, 2011. Agrupamento de conjuntos habitacionais no bairro do Sacom. Empreendimentos imobilirios da dcada de 1990 ede 2010 e conjuntos da CDHU se sucedem na paisagem. Google Earth 2011. Diferentemente da produo para classe mdia que, ocupando terrenos mais centrais e bem localizados da cidade, se vale de processos de compra de edifcaes pr-existentes e de remembramento de lotes, condio para a viabilidade fnanceira da construo dos conjuntos habitacionais tanto pelo Estado quanto pelo Mercado a ocupao de lotes vazios. a forma de reduzir o custo para se adquirir terras, levando os conjuntos para bair- ros mais distantes em setores ainda no consolidados da mancha urbana, e, invariavelmente, defcientes em equi- pamentos urbanos, infraestrutura e espaos livres. Com esses conjuntos, chega a tais bairros precrios, um con- tingente populacional nunca antes visto, aumentando a demanda por espaos urbanos qualifcados. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 240 Nesse contexto, se faz urgente o processo de requa- lifcao urbana das reas ocupadas pelos conjuntos habitacionais, para sua integrao com o bairro ou a rea pr-existente de forma a propiciar um espao urbano com equipamentos sociais, espaos livres e infraestrutura disponvel para todos seus usurios. Considera-se que a principal forma de atuao para requalifcar esses bairros, deve ser atuando nos espaos livres elementos abundantes nesses conjuntos. Como espaos urbanos por excelncia, de encontro coleti- vo, recreao, circulao e arborizao, conclui-se que so o ponto de partida, o elemento de transio entre os espaos novos propostos pelos empreendimentos e o tecido pr-existente. As praas, os calades, jardins e largos devem e podem ser os espaos urbanos proje- tados, produzidos nos conjuntos que fariam a interface entre o tecido novo e o existente, entre espaos privados e espaos pblicos, confgurando as zonas de transio indicadas no Capitulo 2 desta dissertao. No se deve negar a necessidade dos espaos priva- dos frequentes e comuns a tais empreendimentos. Esses so os espaos de domnio das crianas, dos idosos, da in- timidade mesmo que coletiva. No entanto, a proposio de grandes superfcies livres dentro das reas privadas deve, de alguma forma, refetir em melhorias no espao pblico, da vida cotidiana e do seu contato em sociedade. As zonas de transio podem ser uma das chaves para a qualifcao desses bairros, elas podem ser entendidas como reas ou espaos que fazem a conexo entre dife- rentes situaes. Quanto mais complexas elas puderem ser, mais diversifcadas, propondo espaos urbanos mais ricos de confguraes e possibilidades de uso, maiores as chances de integrao desses conjuntos com a cidade. A complexidade das propostas deve atender no apenas a sua dimenso formal, mas tambm a dimenso funcional, por projetos que incluam no seu escopo usos diversifcados comrcio, recreao e servios visando a provocar situaes urbanas que se aproximem ou forta- leam a estrutura do bairro e/ou unidade de vizinhana. Dessa forma, tais espaos podero ser qualifcados como espaos que suportam as atividades cotidianas e estimu- lam o convvio social. A melhoria dos projetos dos conjuntos habitacionais e de sua integrao com o entorno prejudicada pelo que parece ser um dos maiores equvocos da produo popular estudada: a falta de complexidade dos projetos e dos espaos propostos. Em todos os casos estudados, que so representativos da produo geral popular da CDHU e do Mercado Imo- bilirio, nota-se a necessidade de se implantar projetos mais complexos, com mais detalhes arquitetnicos, maior variedade de tipos, que contemplem projetos completos 241 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS de paisagismo mobilirios, percursos, pisos, plantio, dentre outros - e urbanizao, e no apenas de projetos de plantio e movimentao de terra. A situao de implantao desses conjuntos em bairros precrios e carentes de infraestrutura e em ter- renos com singularidades de relevo, combinada com a demanda de seus usurios por maior diversidade de usos do cotidiano - torna mandatria a proposio de espa- os urbanos variados, que abriguem atividades e pessoas variadas. Espaos esses que possam tambm abrigar a populao que j residia nesses bairros como sada para atendimento e soluo de sua carncia urbana. O que se conclui que os projetos implantados, pela CDHU e pela Iniciativa Privada, so uma simplifcao de projetos arquitetnicos, paisagsticos e urbansticos em que so contemplados apenas desenhos de estacio- namentos, patamares e taludes; e o posicionamento no terreno dos edifcios padro. Tal simplifcao ocorre em funo de limitaes e condies que determinam o pro- cesso de produo desses conjuntos em seus aspectos fnanceiros e polticos. Fora do Brasil, existem exemplos de projetos de conjuntos urbanos que trabalharam a questo da produ- o em larga escala de habitao com a complexidade desejada, encarando cada empreendimento como um empreendimento de um bairro na sua multiplicidade, isto , tais projetos, alm de contemplarem o desenho das habitaes, contemplam o desenho de praas, reas comerciais, caladas, detalhamento de mobilirio, iden- tidade visual do bairro, entre tantos outros. So esses exemplos os conjuntos de habitao implantados seguin- do os princpios do Greater London Council publicados no livro Introduction to Housing Layout 167 , na dcada de 1980, na Inglaterra; e o projeto de conjuntos urbanos de Madri, apoiados pelo Plano de Ordenao Urbana aprova- do tambm na dcada de 1980. 168 Esquema de defnio espacial de controle de acesso e hierarquizao para projetos habitacionais dado pelo Greater London Council em seu Manual sobre desenho urbano para reas habitacionais. Greater london council, Department of archtecture and civil design. An introduction to housing layout. The architectural press: London, 1980.: p. 55 Esquema para a implantao integrada de novas edifcaes habitacionais em um contexto urbano existente, oferecido pelo Manual do Greater London Council Esse tipo de diretriz pode colaborar para a melhoria das solues urbanas e o aumento das complexidade dos projetos de conjuntos habitacionais. Greater london council, Department of archtecture and civil design. An introduction to housing layout. The architectural press: London, 1980: p.13 167 Greater london council, Department of archtecture and civil design. An introduction to housing layout. The architec- tural press: London, 1980. 168 LUCIO, Ramn Lpex de Lucio e AJA, Agustn Hernndez. Los nuevos ensanches de Madrid. La periferia reciente, 1985- 1993. Gerencia Municipal del ayuntamiento de Madrid 1995 CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 242 A complexidade requerida pelo projeto de bairro es- barra em limitaes institucionais e burocrticas criadas para controlar/preservar o sistema habitacional brasileiro, mas que acabam prejudicando de maneira imensurvel os espaos criados por esse sistema. A CDHU, o Programa Minha Casa Minha Vida e a Cohab-SP no podem fnan- ciar ou comercializar nada que no seja habitao. Como soluo decide-se, ento, excluir os outros usos dos pro- jetos dessas vizinhanas, em um processo que pode ser notado no Captulo 1 do BNH ao Segmento Econmico, ao invs de questionar discutir e repensar esse sistema. Alm do fator de diversidade de usos, a dimenso das unidades habitacionais e de suas glebas, igual- mente determinada por condicionantes fnanceiras, ou seja, a quantidade e o tamanho dos cmodos de cada Conjunto Urbano madrilenho implantado na dcada de 1980 com base no Plano de Ordenao Geral. Alm de edifcios habitacionais, so projetados equipamentos esportivos, reas comerciais e praas. LUCIO, Ramn Lpex de Lucio e AJA, Agustn Hernndez. Los nuevos ensanches de Madrid. La periferia reciente, 1985-1993. Gerencia Municipal del ayuntamiento de Madrid 1995, p.174 Resultado morfolgica da implantao de outro conjunto urbano em Madri com predominncia habitacional, porm de mltiplo uso projetados como um conjunto nico. LUCIO, Ramn Lpex de Lucio e AJA, Agustn Hernndez. Los nuevos ensanches de Madrid. La periferia reciente, 1985-1993. Gerencia Municipal del ayuntamiento de Madrid 1995. P.99 243 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS apartamento, o nmero de vagas de estacionamento, a altura das edifcaes e a quantidade de espaos livres dedicados a usos recreativos, por exemplo, so determi- nados pelo custo fnal de cada unidade e sua viabilidade de fnanciamento, dentro das condies pr-existentes de taxas de juros, montantes de subsdios, parcela mxima em funo da renda mensal familiar, entre outros. Assim, concluiu-se que h uma inverso de va- lores que condiciona a implantao dos conjuntos habitacionais, na qual o espao urbano produzido me- nos importante que as limitaes econmicas, polticas e urbanas que o cercam. Um bom exemplo a exigncia de um nmero mni- mo de vagas de estacionamento para os empreendimentos produzidos tanto pelo Mercado Imobilirio, quanto pela CDHU. Ao invs de se resolver a questo do transporte urbano, a regulamentao que rege a construo des- ses conjuntos Manuais da CDHU e do Programa Minha Casa Minha Vida e a lei de zoneamento exige um n- mero mnimo de vagas que determinam a baixa taxa de ocupao das glebas, para viabilizar grandes ptios de estacionamento, ocupando todo o espao livre dispon- vel que poderia ser direcionado para usos de recreao e convvio. Por fm, fcam as consideraes sobre o papel dos Agentes mais presentes no processo de produo dos conjuntos habitacionais e seus espaos urbanos e suas responsabilidades ou omisses que resultam nos conjun- tos estudados. O Poder Pblico, representado por instituies esta- duais, como a CDHU, federais, como a Caixa Econmica Federal e municipais, como a Cohab-SP, por exemplo, agente direto e indireto na produo dos conjuntos ha- bitacionais e na modifcao de espaos urbanos do seu entorno. Enquanto agente direto, por meio da atuao da CDHU, concluiu-se que o Poder Pblico, ao construir e fnanciar grandes conjuntos habitacionais, monofuncio- nais e perifricos, refora a contradio urbana e social da metrpole em alocar, em reas pouco servidas de infraes- trutura, grandes contingentes populacionais, negando populao com rendas mais baixas a facilidade de acesso a equipamentos sociais, espaos de lazer e infraestrutura de transporte existentes em bairros e reas mais centrais de So Paulo. Como agente indireto, criando e viabilizando linhas de fnanciamento para a comercializao da produo do Mercado Imobilirio, o Estado se omite na sua funo de exigir melhores projetos habitacionais, com reas teis maiores para os apartamentos, espaos de convivncia e de recreao, implantao de reas comerciais e equipa- mentos sociais que suportem as densidades populacionais CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 244 atingidas nessas reas, e que se insiram na paisagem ur- bana de forma mais harmnica. Deve-se considerar que a densidade mdia de um bairro perifrico comum, ocupado pelo casario assobra- dado, raramente ultrapassa os 150 habitantes por hectare. Quando esse bairro recebe a implantao de uma srie de conjuntos, essas reas tm sua densidade elevada para 400 habitantes por hectare, aumentando imediatamente a demanda O Poder Pblico em seu papel de empreendedor deve levar desenvolvimento habitacional e tambm ur- bano nesses bairros perifricos to carentes de melhores situaes. Cada projeto habitacional implantado, pelo seu porte e pela disponibilidade de espaos livres que ele representa, um projeto de requalifcao urbana e deve ser visto como tal. Poucos so os projetos urbanos de grande porte de interveno que so instalados nesses bairros onde se instalam os conjuntos habitacionais. Esses por sua vez so os projetos recorrentes desses espaos e, por isso, eles devem ser os motivadores, a oportunidade de requalifcao desses espaos. A atuao o Estado nos espaos livres pblicos do entorno onde se inserem os conjuntos , frequentemen- te, caracterizada por uma postura de omisso ou atraso. A postura de omisso se explica pela ausncia de reas livres pblicas equipadas para suportar as atividades di- rias da populao residente. comum deparar-se com praas, jardins e caladas abandonados ao acaso dentro e fora dos conjuntos habitacionais. Alguns poucos projetos so implantados nesses conjuntos e no seu entorno, objetivando a recuperao de reas livres pblicas a reboque da situao precria existente. O melhor exemplo conhecido o caso da im- plantao do Programas Centros de Bairro liderado pelo Emurb Empresa Municipal de Urbanizao da Prefeitura de So Paulo, durante a Gesto Marta Suplicy, que im- plementou dezenas de praas em bairros perifricos e populares do Municpio. O Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima, conhecido como Boror, localizado na Zona Sul de So Paulo, recebeu 12 dessas praas entre 2003 e 2004, trinta anos aps sua construo. At ento, seus espao livres no haviam nunca sido qualifcados, o que confgura uma postura de atraso do Estado. Essas praas contavam com equipamentos de lazer, mobilirio, pistas de skate, qua- dras e um projeto de plantio. Apenas um ano aps sua implantao, parte desses espaos j se encontrava em mau estado de conservao, o que representa outro caso de omisso do Poder Pblico na gesto dessas reas livres. A atuao do Mercado Imobilirio pode ser interpre- tada como uma atuao complementar ao Poder Pblico no atendimento demanda habitacional. Com as linhas 245 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS Implantao das praas do programa Centros de Bairro no Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima, Boror, em So Paulo. Acervo Quap, 2005. CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 246 de crdito lanadas pelo Governo Federal, no Programa Minha Casa Minha Vida, Captulo 3.2.1 O programa Minha Casa Minha Vida e o fortalecimento do setor imobilirio, ofereceu-se ao Mercado a possibilidade de atuao para uma faixa da populao que anteriormente era atendida parcialmente por programas pblicos ou pela produo domstica. Diante dos estudos de caso dessa produo, ba- seados nos exemplos do Horto do Ip e do Parque So Vicente, concluiu-se que, apesar do Mercado Imobilirio atuar de maneira diferente do Poder Pblico, com supos- tamente menos entraves institucionais, no houve uma modifcao signifcativa na estrutura espacial dos em- preendimentos lanados, que seguem tipologias muito prximas daquelas implantadas pela CDHU. A produo do Mercado, confgurada igualmente da CDHU em conjuntos habitacionais de mais de um bloco, apresenta qualidades espaciais duvidosas que mes- clam confguraes espaciais dos condomnios fechados de classe mdia com o modelo urbanstico modernista, baseado em blocos de apartamentos baixos, grandes re- as de estacionamentos, adaptao dos equipamentos de lazer distribudos em reas livres residuais. Os apartamentos continuam pequenos, sua localiza- o continua distante, sendo a mesma dos conjuntos da Cohab e CDHU, e os conjuntos ainda seguem o paradigma Praa implantada pelo programa Centros de Bairro um ano aps sua implantao, em ms condies de manuteno. Acervo Quap, 2005. Outra praa implantada no Boror pelo programa Centros de Bairro que no passou pelo processo de manuteno continua e foi desconfgurada. Acervo Quap 2005. 247 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS modernista do conjunto habitacional brasileiro. A essa confgurao acresceu-se apenas alguns acessrios fgura- tivos como fachadas que remetem ao estilo Neoclssico, e equipamentos de lazer de utilidade duvidosa - redrios, espaos zen, e piscinas que tentam justifcar o maior valor dos apartamentos em comparao s unidades da CDHU, e tentam aproximar esses conjuntos do padro de condomnio vendido para a classe mdia brasileira. Por ltimo, destaca-se a atuao do corpo tcnico de arquitetos participantes nos escritrios e rgos que pla- nejam e projetam os conjuntos, e tambm atuantes na Academia que forma novos profssionais, marcada pela submisso s limitaes do processo e pela difculdade de quebrar paradigmas espaciais e estilsticos. As condicionantes fnanceiras que rondam a pro- duo popular e determinam reas mximas dos apartamentos e a localizao dos seus terrenos, as condi- cionantes fsicas do suporte natural das glebas ocupadas e as limitaes institucionais tanto privadas quanto pbli- cas deixam o trabalho dos arquitetos e urbanistas para segundo plano. Alm disso, concluiu-se que h uma persistncia ou uma difculdade de se quebrar o paradigma do conjunto habitacional modernista com seus espaos livres amor- fos como frmula de projeto para o caso popular. Parte dessa persistncia, apia-se na resistncia de arquitetos e urbanistas em deixar a frmula de lado e dedicar-se investigao de outras solues urbanas. Na edio de 17 de janeiro de 2011, o Jornal da USP publica em sua matria de capa, entitulada: Por uma ci- dade para todos, o projeto de Ruy Ohtake do conjunto habitacional de reurbanizao da favela de Helipolis, como exemplo de projeto contemporneo bom o suf- ciente para ser publicado. Pela matria, tal projeto bom porque: Ao contrrio dos conjuntos habitacionais da cidade, estes foram projetados especialmente para os seus morado- res, que opinaram sobre a pintura dos prdios. So edifcios redondos com quatro andares, cada um com quatro apar- tamentos de 52 metros quadrados e dois dormitrios. As salas tero amplas janelas, com largura de 6,50 metros. Esse conjunto exaltado por ser contrrio aos conjuntos habitacionais paulistanos. Entretanto, tal con- trariedade reside na sua forma cilndrica e na variedade de cores da sua fachada. Na essncia, em seu Desenho Urba- no l est o conjunto modernista, com 23 blocos-padro, repetindo-se no espao, seus espaos livres abundantes e amorfos, e sua situao de rompimento com a precarie- dade do mosaico de construes da favela citada. O fato de sua publicao explicita a falta de repert- rio projetual de espaos urbanos que assombra arquitetos e a Universidade que publicou tal matria. Falta inves- CONJUNTOS HABITACIONAIS, ESPAOS LIVRES E PAISAGEM 248 tigao de modelos urbansticos diversos, tentativas de outros projetos que podem comear nas pranchetas da Faculdade. necessrio o rompimento com o preconceito dos arquitetos que fazem parte da intelingentsia arquitetni- ca brasileira e superar o paradigma modernista distorcido dos conjuntos habitacionais. Os arquitetos devem assumir o seu papel e contribuir com projetos mais completos e investigativos. A discusso dos espaos de habitao no deve ser secundria no processo de atendimento demanda por habitao, pois so justamente esses espaos que con- formam a cidade. A cidade no existe sem a habitao e a habitao no deveria existir sem a cidade seus par- ques, praas, ruas comerciais, escolas, hospitais e clubes. Cada projeto habitacional de grande escala deve- ria ser pensado como um projeto urbano, dentro de sua complexidade formal e funcional, idealizando-se a vizi- nhana como o espao de desejo com pessoas variadas, edifcios variados, espaos livres variados. No se deve esquecer a necessidade rpida de aten- dimento demanda habitacional que deve ser trabalhada em grande escala. No se deve, porm deixar de acreditar que possvel pensar e produzir espaos habitacionais melhores, mais justos e integrados com o restante da ci- dade. Imagem do bloco de apartamentos projetado pelo Arquiteto Ruy Ohtake para a reurbanizao da favela de Helipolis. Jornal da USP, 17 de janeiro de 2011. Vista area de implantao do conjunto de Helipolis, So Paulo, projetado pelo Arquiteto Ruy Ohtake. Jornal da USP, 17 de janeiro de 2011. . Bibliografa ASHIHARA, Yoshinobu. Exterior Design in Architecture. Nova Iorque: Van Nostrand Reinhold Company, 1970; AMARAL, Paulo Jos A. Produo da habitao de interesse social na Regio Metropolitana de So Paulo, perodo de 1975-1995. Tese (Mestrado). So Paulo: FAUUSP, 1999; ARRETCHE, Marta T. S. O mito da descentralizao: maior demo- cratizao e ecincia das polticas pblicas? In: Revista Brasileira de Cincia Sociais, n.31, 1996; BENEVOLO, Leonardo. Histria da arquitetura moderna. So Paulo: ed. Perspectiva, 1994; BONDUKI, Nabil G. Origens da habitao social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do Inquilinato e difuso da casa prpria. So Paulo: ed. Estao Liberdade, FAPESP, 1998; CAMPOS FILHO, Cndido Malta. Reinvente seu bairro: caminhos para voc participar do planejamento de sua cidade. So Paulo : Ed. 34, 2003; COMAS, Carlos Eduardo Dias. 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