J. Direitos Humanos em Conflito Armado: Direito Internacional Humanitário: Até As Guerras Têm Limites
J. Direitos Humanos em Conflito Armado: Direito Internacional Humanitário: Até As Guerras Têm Limites
J. Direitos Humanos em Conflito Armado: Direito Internacional Humanitário: Até As Guerras Têm Limites
DIREITOS HUMANOS
EM CONFLITO ARMADO
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Outrora um Rei Guerreiro: Memórias de Veio-me à memória o treino, a programação
um Militar no Vietname para matar, e comecei a matar.
Varnado Simpson, veterano americano da
Eu tinha 19 anos quando fui para o Vie- guerra do Vietname, relatando eventos
tname. Era atirador especial de 4ª cate- que ocorreram em 1968.
goria. Fui treinado para matar, mas a (Fonte: adaptado de: Donovan, David.
realidade de matar alguém é diferente de 2001. Once a warrior king: memories of an
treinar e puxar o gatilho. Não sabia que ia Officer in Viet Nam.)
fazer isso. Eu sabia que as mulheres e as
crianças estavam lá, mas para mim, dizer Questões para debate
que as ia matar, não sabia que o ia fazer 1. Por que é que este soldado decidiu dis-
até o ter feito. Eu não sabia que ia matar parar, apesar de saber que mulheres e
alguém. Eu não queria matar ninguém. crianças não são alvos legítimos?
Não fui educado para matar. 2. Por que é que as mulheres e as crianças
Ela estava a correr de costas na direção de são pessoas protegidas durante um con-
uma linha de árvores mas carregava algo. Eu flito armado?
não sabia se seria uma arma ou outra coisa. 3. Acha que a obediência é importante
Eu sabia que era uma mulher e não queria quando se trava uma guerra? Os solda-
disparar sobre uma mulher, mas recebi or- dos devem sempre obedecer às ordens?
dem para disparar. Na altura, pensei que ela 4. Quem acha que determina o que é uma
estava a correr com uma arma e, então, dis- conduta legal e ilegal, numa guerra?
parei. Quando a virei, era um bebé. Disparei 5. Quão importante é para os soldados
sobre ela cerca de 4 vezes, as balas atravessa- aprender o que é ilegal? Qual o propósi-
ram-na e mataram também o bebé. Quando to de ter regras?
a virei, vi que metade do rosto do bebé tinha 6. Como é que se pode evitar tragédias
desaparecido. Nesse momento, apaguei-me. como a descrita supra?
A SABER
do indivíduo. Os direitos humanos nunca
1. ATÉ AS GUERRAS TÊM LIMITES cessam de ser relevantes mas o surto de
violência sistemática e organizada, que
Poucas são as situações que ameaçam são as verdadeiras caraterísticas de um
tão drasticamente a segurança humana, conflito armado, constitui uma afronta
como a guerra. Nas circunstâncias extre- precisamente aos princípios constituti-
mas de conflito armado, os governos dão vos daqueles direitos. Como tal, as situa-
por si a ter de tomar decisões difíceis, ções de conflito armado requerem um
entre as necessidades da sociedade e as conjunto complementar, mas separado,
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 331
de normas com base numa ideia muito mais, limitar o sofrimento que a guerra
simples, a de que até as guerras têm pode causar. No esforço de preservação
limites. Estas regras são comummente da dignidade humana, poder-se-á dizer
designadas por Direito Internacional que o DIH contribui para uma paz even-
Humanitário (DIH) ou Direito dos Con- tual através do aumento das possibilida-
flitos Armados. O DIH pode ser sinte- des de reconciliação.
tizado como o conjunto de princípios e
regras que estabelecem limites ao uso de
violência durante os conflitos armados, “A guerra deve ser sempre travada com vis-
de modo a: ta à paz.”
x Salvar aquelas pessoas (“civis”) não Hugo de Groot (Grócio).
diretamente envolvidas nas hostilida-
des; As Origens do DIH
x Limitar os efeitos da violência (até para Embora os académicos estejam de acordo,
os “combatentes”) ao nível necessário de um modo geral, que o nascimento do
para os propósitos da guerra. DIH moderno foi em 1864, com a adoção
da Primeira Convenção de Genebra, tam-
DIH e Segurança Humana bém é claro que as regras contidas nessa
Convenção não eram inteiramente novas.
Muitos já questionaram e muitos negam Na verdade, uma grande parte da Primei-
que a lei possa regular o comportamen- ra Convenção de Genebra teve a sua fonte
to na realidade excecional, anárquica e em direito consuetudinário já existente. De
violenta dos conflitos armados. Como se facto, já existiam regras que protegiam de-
pode esperar que, onde a sobrevivência terminadas categorias de vítimas de confli-
do indivíduo ou da sociedade estão em tos armados e costumes relacionados com
jogo, considerações legais restringirão o os meios e métodos de combate, autoriza-
comportamento humano? Embora possa dos e proibidos, durante as hostilidades,
parecer surpreendente à primeira vista, que remontam a 1000 a.C.
existem várias razões preponderantes Até meados do século XIX, os códigos e
para que, tanto agressores, como defen- os costumes que constituíam o DIH eram
sores sigam as regras de conduta estabe- limitados geograficamente e não expres-
lecidas pelo DIH. Enquanto a explosão savam um consenso universal. O ímpeto
da violência nega a própria ideia de se- para o primeiro Tratado de Direito Huma-
gurança, é, todavia, importante perceber nitário resultou, em grande parte, de um
que o DIH contribui para a segurança empresário suíço chamado Henry Dunant.
humana ao defender a ideia de que até Tendo testemunhado a carnificina que
as guerras têm limites. O DIH reconhece ocorreu em Solferino, em 1859, durante a
a realidade dos conflitos armados e res- batalha em que as forças francesas e aus-
ponde a esta, de forma pragmática, com tríacas se debateram, no norte de Itália,
regras práticas e detalhadas dirigidas aos Dunant decidiu escrever um livro no qual
indivíduos. Este ramo de direito não ten- relatou os horrores da batalha e tentou su-
ta estabelecer se um Estado ou um grupo gerir e publicitar medidas possíveis para
rebelde têm, ou não, o direito a recorrer melhorar o destino das vítimas da guerra.
ao conflito armado. Pretende, antes de A adoção da Convenção de Genebra, de
332 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
1864, para Melhorar a Situação dos Fe- mais abrangente: as regras e os princípios
ridos e Doentes das Forças Armadas em que regulam a coordenação e a coopera-
Campanha resultou num tratado interna- ção entre os membros da comunidade in-
cional, aberto a ratificação universal, pelo ternacional, isto é, o Direito Internacional
qual os Estados concordaram, voluntaria- Público.
mente, limitar o seu próprio poder em prol
do indivíduo. Pela primeira vez, os confli- DIH e Direitos Humanos
tos armados foram regulados por uma lei Pode dizer-se que o DIH protege o “núcleo
escrita e geral. duro” dos direitos humanos em tempo de
conflito armado, uma vez que se esforça
“Quando o sol nasceu a vinte e cinco de por limitar o sofrimento e os danos causa-
junho de 1859, desvendou os mais terríveis dos por este. Aquele núcleo duro inclui o
cenários imagináveis. Corpos de homens e direito à vida, a proibição de escravidão,
cavalos cobriam o campo de batalha: cadá- a proibição de tortura e tratamento desu-
veres estavam espalhados pelas estradas, mano e a proibição de qualquer aplicação
valetas, ravinas, matagais e campos […]. retroativa da lei. Ao contrário de outros di-
Os pobres homens feridos que foram reco- reitos (tais como a liberdade de expressão,
lhidos, durante todo o dia, encontravam-se de circulação e de associação) que podem
extremamente pálidos e exaustos. Alguns, ser circunscritos em tempos de emergên-
os feridos mais graves, tinham um ar estu- cias nacionais, a proteção essencial con-
pidificado como se não percebessem o que cedida pelo DIH nunca pode ser suspensa.
lhes era dito […]. Outros estavam ansiosos Uma vez que o DIH se aplica precisamente
e excitados pela tensão nervosa e abalados às situações excecionais que constituem
por tremores espasmódicos. Alguns, que ti- os conflitos armados, o conteúdo desse
nham feridas abertas já mostrando sinais “núcleo duro” de direitos humanos tende
de infeção, quase endoideciam com a dor. a convergir com as garantias jurídicas fun-
Imploravam para lhes acabarem com o seu damentais fornecidas pelo Direito Huma-
sofrimento e retorciam-se, com as faces dis- nitário. Enquanto o DIH, como lex specia-
torcidas, na sua luta contra a morte.” lis, regula as situações de conflito armado,
Henry Dunant. A Memory of Solferino. e os direitos humanos visam os tempos de
paz, o direito internacional dos direitos
DIH enquanto Direito Internacional humanos continua a ser aplicável durante
As regras e princípios do DIH são dispo- os conflitos armados. O DIH e o direito dos
sições jurídicas universalmente reconhe- direitos humanos complementam-se na
cidas, não sendo apenas preceitos morais proteção da vida e da dignidade daqueles
ou filosóficos ou costumes sociais. O co- que são apanhados em conflitos armados.
rolário da natureza jurídica destas regras
é a existência de um regime detalhado de Infra, surgem algumas das formas, se-
direitos e obrigações impostas às diversas gundo as quais o DIH protege os direitos
partes de um conflito armado. Os indiví- humanos em conflitos armados:
duos que não respeitam as regras do DIH
serão levados à justiça. x a proteção concedida a vítimas de
O DIH tem de ser entendido e analisado guerra tem de ser conferida sem qual-
como uma parte distinta de um quadro quer discriminação;
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 333
Protocolo Adicional II relativo à proteção Tal até acontece quando outro Estado está
de vítimas de conflitos não internacionais, indiretamente envolvido nos incidentes.
tem 165 Estados-parte. Aceitar que está a suceder uma situação
de conflito armado significa aceitar que
3. PERSPETIVAS os responsáveis pela execução da violên-
INTERCULTURAIS E cia podem ser dignos de proteção à luz do
QUESTÕES CONTROVERSAS DIH, para além da proteção básica conce-
dida pelo direito dos direitos humanos. De
A Importância da Sensibilização Cul- forma não surpreendente, as autoridades
tural governamentais têm mais tendência para
Os esforços da humanidade no sentido de qualificar estes perpetradores como cri-
limitar a brutalidade da guerra são univer- minosos, bandidos ou terroristas do que
sais. Muitas culturas, ao longo da História, como combatentes evitando, assim, as re-
tentaram restringir o uso da violência de gras do DIH.
modo a reduzir o sofrimento desnecessá- Uma das formas de tornar o DIH aceitável
rio e a limitar a destruição. Ainda que as para os Estados, em tais situações, é ga-
Convenções iniciais de Genebra e de Haia rantir que a aplicabilidade das regras não
não fossem universais na sua conceção, confere nenhuma legitimação aos grupos
uma vez que foram redigidas e adotadas envolvidos nas hostilidades. A abordagem
por juristas e diplomatas pertencentes à realista e pragmática do DIH é utilizada
cultura Cristã Europeia, os princípios que para proteger as vítimas dos conflitos, in-
lhe são subjacentes são universais. Esta di- dependentemente dos lados envolvidos.
mensão universal do DIH não deve ser ja- É importante sublinhar que o DIH é um
mais subestimada ou esquecida: frequen- equilíbrio entre conceitos conflituantes:
temente, o respeito e a implementação das por um lado, a necessidade militar e, por
regras dependerá, de facto, do estabeleci- outro lado, preocupações humanitárias.
mento de uma correspondência clara en-
tre os tratados aplicáveis e as tradições ou
“Sabemos como uma pessoa, independen-
costumes locais.
temente da nacionalidade, pode, facilmen-
te, ser apanhada pela psicologia da bru-
Perspetivas Conflituantes quanto à Apli-
talidade quando esteja envolvida numa
cação do DIH
guerra. Tal brutalidade é, muitas vezes,
Apesar dos princípios do DIH terem obti-
causada pelo ódio de outros, como clara-
do uma aprovação quasi-universal, podem
mente ilustrado pelos atos de racismo. O
ocorrer dificuldades na sua implementa-
problema fundamental que deve ser abor-
ção devido a ideias concorrentes no mo-
dado ao lidar com qualquer crime de guer-
mento em que manifestações de violência
ra, é o profundo medo da morte que expe-
se tornam num conflito armado. A quali-
rimentam os soldados. Para ultrapassar o
ficação de um conflito como armado é de
medo durante a guerra, as pessoas tendem
importância primordial já que é o requisito
a apoiar-se na violência que, por sua vez,
básico para o DIH se aplicar. Quando os
esbate a sua ética e se manifesta como um
Estados se confrontam com atos de vio-
surto de brutalidade.”
lência no seu território, costumam preferir
Yuki Tanaka, académico japonês.
lidar internamente com estas ocorrências.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 337
CONVÉM SABER
O Movimento Internacional da Cruz Ver- “A desintegração das famílias, em tempos de
melha e do Crescente Vermelho é compos- guerra, deixa mulheres e meninas especial-
to pelo Comité Internacional da Cruz Ver- mente vulneráveis à violência. Atualmen-
melha (CICV), pelas Sociedades Nacionais te, quase 80% dos 53 milhões de pessoas
da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho deslocadas devido a guerras, são mulheres
de 186 países e pela Federação Internacio- e crianças. Quando pais, maridos, irmãos e
nal de Sociedades da Cruz Vermelha e do filhos são levados para o combate, deixam
Crescente Vermelho. As Sociedades Nacio- mulheres, os mais novos e os mais velhos à
nais agem na qualidade de auxiliares das sua própria defesa. As famílias refugiadas
autoridades públicas dos seus próprios pa- apontam a violação ou o medo da violação
íses na esfera humanitária e fornecem uma como um fator preponderante nas suas de-
variedade de serviços, incluindo assistência cisões de procura de refúgio.”
a desastres e programas de saúde e sociais. UNICEF. The State of the World’s Children. 1996.
A Federação é a organização que promove
a cooperação entre as Sociedades Nacionais É conferida uma atenção especial às mu-
e promove a sua capacidade. lheres e às crianças, uma vez que o DIH
Enquanto guardião e promotor do DIH, lhes confere uma proteção específica.
o CICV desempenha o papel principal na As mulheres vivem os conflitos armados
busca da preservação de uma dimensão de múltiplas formas – desde participarem
humanitária em pleno conflito armado. ativamente enquanto combatentes, até
serem consideradas alvos enquanto mem-
1. BOAS PRÁTICAS bros da população civil ou porque são mu-
lheres. A experiência de guerra das mulhe-
Proteção de Civis res é multifacetada – significa separação,
O direito humanitário funda-se no princí- a perda de membros da sua família e do
pio da imunidade da população civil. As sustento, e um risco acrescido de violência
pessoas que não participam nas hostilida- sexual, ferimentos, privações e morte. A
des não podem ser atacadas, em qualquer resposta a esta realidade implica:
circunstância; têm de ser poupadas e pro- x Ensinar os direitos das mulheres aos de-
tegidas. Nos conflitos de hoje, porém, os tentores de armas.
civis, frequentemente, têm de enfrentar x Fornecer assistência a saúde ginecológi-
uma violência horrível, sendo, por vezes, ca e reprodutiva nas instalações médi-
alvos diretos. Massacres, tomada de re- cas e nos centros de saúde que auxiliam
féns, violência sexual, assédio, expulsão, as vítimas das hostilidades.
deslocações forçadas e pilhagens, bem x Recordar às autoridades dos centros de
como o impedimento deliberado no aces- detenção que as detidas devem estar
so à água, alimentos e cuidados de saúde, sob a supervisão imediata de mulheres
são algumas das práticas que espalham o e que as suas instalações para dormir e
terror e o sofrimento, na população civil. sanitárias têm de estar adequadamente
O CICV mantém uma presença constante separadas das dos homens.
em áreas onde os civis enfrentam riscos x Trabalhar sobre o reatamento de conta-
acrescidos. tos entre membros de famílias que fo-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 339
x Restabelecer os laços familiares nos ca- ser repatriados ou reinstalados num país
sos em que estes foram quebrados. terceiro.
x Apoiar organizações de direitos huma- x Informar e apoiar as famílias dos desa-
nos, tais como a Amnistia Internacional parecidos.
e a Human Rights Watch ou organiza-
ções de direitos humanos locais que de-
Uma Palavra acerca do Emblema
nunciem o que sabem sobre o abuso de
prisioneiros pelos seus carcereiros. As Convenções de Genebra mencio-
nam três emblemas: a Cruz Vermelha,
Restabelecimento o Crescente Vermelho e o Cristal Verme-
dos Laços Familiares lho (desde 2006). O DIH regula o uso, o
Em quase todas as emergências – conflitos tamanho, o propósito e a colocação do
armados, deslocação em massa da popula- emblema, as pessoas e a propriedade
ção e outras situações de crise – as crianças que protege, quem o pode usar, o que
acabam separadas dos seus pais, famílias e significa respeitar o emblema e quais as
de outros adultos responsáveis. Dado que, sanções em caso do seu uso indevido.
raramente, o seu estatuto é imediatamente Em tempo de conflito armado, o emble-
claro, as crianças são mais frequentemente ma pode ser usado como proteção so-
designadas de ‘crianças separadas ou não mente por:
acompanhadas’ do que de ‘órfãs’. Outros,
1. Serviços médicos de uma força armada;
tais como os idosos ou as pessoas com de-
ficiências, também podem ficar sujeitos a 2. Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha
uma situação difícil durante um conflito. e do Crescente Vermelho devidamente
Podem ficar para trás, isolados e separados reconhecidas e autorizadas pelos seus
dos seus parentes e incapazes de cuidar de governos para prestar assistência aos
si mesmos. Devido à sua particular vulne- serviços médicos das forças armadas;
rabilidade, o CICV toma, quando necessá- 3. Hospitais civis e outras instalações
rio, medidas específicas direcionadas à sua médicas reconhecidas enquanto tal
proteção e reunificação familiar. Algumas pelo governo;
destas medidas envolvem: 4. Outras agências voluntárias de ajuda
x Transmitir notícias da família através de sujeitas às mesmas condições das So-
mensagens da Cruz Vermelha, emissões ciedades Nacionais.
de rádio, telefone e internet, via Movi-
mento Internacional da Cruz Vermelha Três tipos de uso indevido do emblema:
e do Crescente Vermelho. 1. Imitação: uma organização humanitá-
x Organizar repatriações e reunificações ria usa uma cruz vermelha, geradora
familiares. de confusão, para se identificar.
x Facilitar visitas familiares a parentes de- 2. Usurpação: um farmacêutico anuncia
tidos ou que se encontrem para lá das o seu negócio com uma bandeira da
linhas da frente de batalha. Cruz Vermelha.
x Emitir documentos de viagem do CICV
para os que, pertencendo a um conflito, 3. Perfídia: as forças armadas usam uma
não tenham ou já não tenham documen- ambulância com uma cruz vermelha
tos de identificação e estejam prestes a para transportar armas.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 341
Os Estados têm de tomar todas as medi- Unidade – só pode existir uma Socieda-
das para prevenir e reprimir o uso inde- de da Cruz Vermelha ou do Crescente
vido do emblema. Os casos mais sérios Vermelho em cada país.
de uso indevido do emblema são consi- Universalidade – organização mundial.
derados crimes de guerra.
Devido à natureza politicamente sensível
Princípios de Funcionamento da Ação do trabalho desenvolvido pelo CICV, que
Humanitária inclui visitas a prisioneiros ou a interme-
De modo a poder ser qualificada como hu- diação entre as partes em conflito, queren-
manitária, uma organização tem de obe- do estar presente e ser tolerado por todos
decer a certos princípios fundamentais. Os os lados, a confidencialidade ocupa uma
mais importantes destes princípios de fun- posição importante no trabalho da organi-
cionamento são a neutralidade e a imparcia- zação. Este princípio, juntamente com os
lidade. A neutralidade significa não tomar da neutralidade e imparcialidade, levanta
partido. Este princípio permite aos agentes alguns dilemas éticos para os agentes hu-
humanitários obter e manter a confiança de manitários que não podem denunciar abu-
todos os envolvidos no conflito. A imparcia- sos, pois fazê-lo pode colocar em perigo as
lidade significa que será concedida priorida- vidas das vítimas ou impedir a capacidade
de tendo em consideração as necessidades. de acesso aos que necessitam da sua as-
Na verdade, os agentes humanitários não sistência.
fazem distinção em razão da nacionalidade,
etnia, crenças religiosas, estatuto social ou 2. TENDÊNCIAS
opiniões políticas. São orientados, apenas,
pelas necessidades dos indivíduos e têm de
dar prioridade aos casos mais urgentes.
Tendências relativas a Conflitos Arma- “conflitos que envolvem o uso de força ar-
dos com base nos Estados, por Tipo: mada entre dois grupos organizados – sen-
1946-2008 do que nenhum dos mesmos é o governo
Os conflitos armados com base nos Estados de um Estado – que resultam em pelo me-
são definidos pelo Projeto de Relatório sobre nos 25 mortes em batalha num ano”. Pode
Segurança Humana (HSRP) como “conflitos ser feita uma distinção entre dois grupos
nos quais pelo menos uma das partes é o go- relativamente aos conflitos armados não
verno de um Estado e que resultam em 25 ou estatais: a primeira categoria inclui os
mais mortes em batalha declaradas num de- conflitos travados entre diferentes grupos
terminado ano do calendário”. Seguindo esta de rebeldes; a segunda categoria inclui os
definição, os conflitos com base no Estado, conflitos entre grupos étnicos, religiosos
incluem, por conseguinte, conflitos interesta- ou outros. Contrariamente aos conflitos
tais, conflitos intraestatais ou civis, conflitos armados com base no Estado, os conflitos
interestatais internacionalizados e conflitos armados não estatais têm uma duração
extraestatais. Durante as últimas décadas, mais curta e também são menos mortais.
têm-se tornado visíveis mudanças nos con- Embora, segundo o Relatório, o número de
flitos com base nos Estados. Atualmente, a conflitos tenha diminuído 52% entre 2002
grande maioria dos conflitos armados ocorre e 2007, o número total de conflitos atin-
no seio dos Estados: enquanto nos finais dos giu um recorde máximo em 2008. A única
anos 40, metade de todos os conflitos decor- região sem nenhum conflito armado não
ria nos seio dos Estados, no início dos anos estatal é a Europa, contrariamente à África
90, o número chegava já aos 90%. As formas Subsaariana que apresenta o número mais
mais mortais de conflitos foram sempre os elevado de conflitos.
conflitos entre Estados, mas estes tornaram- (Fonte: Human Security Report Project.
se muito raros. Em 2007, atingiu-se o mais 2011. Human Security Report 2009/10: The
baixo número de conflitos registado desde Causes of Peace and the Shrinking Costs of
1957. Não só diminuiu o número de guerras War.)
efetivas, como também o número de pessoas
mortas nesses conflitos tem vindo a diminuir. Terrorismo
De acordo com o HSRP, 20.000 pessoas eram Um assunto de relevo que surgiu da dis-
mortas por ano durante as guerras dos anos cussão sobre terrorismo em relação ao
50, comparado com 4.000 no novo milénio. DIH refere-se ao desafio à segurança co-
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a locado pelo terrorismo, assegurando a
guerra tem vindo a tornar-se menos mortal. proteção dos direitos dos suspeitos. Um
(Fonte: Human Security Report Project. exemplo das dificuldades surgidas quan-
2011. Human Security Report 2009/2010: do confrontados com este desafio, é a
The Causes of Peace and the Shrinking situação dos detidos pelos EUA, em con-
Costs of War.) flitos armados e na “Guerra ao Terror”.
De acordo com os princípios do conflito
Tendências em Conflitos Armados Não armado, para que um conflito possa ser
Estatais, por Região: 2002-2008 qualificado como conflito armado, tem de
De acordo com o Relatório de Segurança envolver ou a força entre dois ou mais Es-
Humana de 2009/2010, os conflitos arma- tados ou um certo nível de violência entre
dos não estatais podem ser definidos como um Estado e um grupo armado. A inter-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 343
pretação desta regra diverge de país para tentes e não combatentes, sendo que ape-
país, especialmente quando confrontados nas aos combatentes pode ser concedido
com os desafios colocados pelo terroris- o estatuto de “prisioneiro de guerra”. Os
mo. Os EUA têm uma opinião vincada combatentes podem lutar pelas forças ar-
sobre o facto de a “Guerra ao Terror” de- madas, enquanto que os não combatentes
ver ser qualificada como conflito armado, podem ser processados por lutarem uma
conflito esse que terminará apenas quan- vez que tal se qualifica como crime de
do o terrorismo for apaziguado. Susten- guerra. O artigo 5º da Convenção III de
tam também que as regras sobre a guerra Genebra declara que em caso de dúvida
se aplicam, uma vez que o terrorismo é sobre o estatuto de pessoas que tenham
um desafio global, em todo o mundo, o praticado um ato de beligerância e tenham
que inclui a ideia de que até um certo caído nas mãos do inimigo, “estas pesso-
ponto o homicídio de suspeitos de terro- as beneficiarão da proteção da presente
rismo é justificado. Convenção, aguardando que o seu estatuto
Para uma análise da situação dos detidos seja fixado por um tribunal competente”. A
na Baía de Guantánamo, deve ser feita aplicação desta regra à situação de Guan-
uma distinção entre os detidos capturados tánamo faz presumir que os detidos cujo
nos campos de batalha e os outros. Por estatuto não fosse claro aquando da cap-
conseguinte, deve também determinar-se tura deveriam ter o mesmo tratamento dos
se havia um conflito armado aquando da prisioneiros de guerra. A decisão de um
captura. Os EUA consideraram, como ato executivo ou de outra entidade militar não
de agressão, os ataques terroristas do 11 é qualificável como decisão por um tribu-
de setembro de 2001, o que lhes conferiria nal competente.
o direito à autodefesa, que aplicaram num (Fontes: CICV. 2012. Persons detained by
contra-ataque no Afeganistão. Os EUA the US in relation to armed conflict and
não consideraram o Afeganistão como o the fight against terrorism – the role of the
responsável pelos ataques de 2001, mas ICRC.; CICV.2011. The relevance of IHL in
o Afeganistão dava abrigo a campos de the context of terrorism.; CICV. 2010. Chal-
treino terrorista. O conflito no Afeganistão lenges for IHL – terrorism: overview.)
é qualificado como um conflito armado
internacional, tal como reconhecido pelo A Abolição de Minas Terrestres Antipes-
tribunal distrital dos EUA. A questão co- soais e de Munições de Fragmentação
loca-se em saber se os detidos capturados No decorrer dos anos 90, o movimen-
nos campos de batalha no Afeganistão são to internacional da Cruz Vermelha e do
prisioneiros de guerra, tal como definido Crescente Vermelho, organizações inter-
pelo DIH. Relativamente às pessoas cap- nacionais e uma coligação significativa
turadas não no campo de batalha de um de ONG trabalharam sem descanso, para
conflito armado mas durante a chamada alcançar a proibição de minas terrestres
“Guerra ao Terror”, o DIH não é aplicá- antipessoais e para prestar assistência às
vel. Para a determinação do estatuto de vítimas de minas e às comunidades afe-
um detido como “prisioneiro de guerra” tadas pelas minas. Este trabalho culmi-
são aplicáveis os princípios da Convenção nou, em 1997, com a adoção do Tratado
de Genebra de 1949. No entanto, o DIH de Otava, a Convenção sobre a Proibição
estabelece uma diferença entre os comba- da Utilização, Armazenagem, Produção
344 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: pois acreditam que a própria ideia de
PORQUÊ RESPEITAR O DIH? guerra está em contradição com a noção
de Direito ou de direitos humanos. Mas,
Parte I: Introdução a verdade é que a maioria dos países do
Para muitas pessoas, a ideia de que pode mundo aceita e cumpre as regras do DIH.
haver regras na guerra parece absurda, Porquê? No debate proposto, serão dadas
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 347
Algumas vozes, noutros países, conde- questões devem ser registadas e poderão
nam o sofrimento das vítimas mas ne- constituir a base para uma tarefa.
nhum país estrangeiro demonstra von- Sugestões metodológicas:
tade em intervir, quer no sentido de Esta atividade pode ser frustrante para os
conseguir que os dois países cessem o participantes porque não trará respostas
conflito, quer fazendo pressão de modo claras. O que é importante é que a análise
a que poupem a população civil. “Qual se foque nas perspetivas dos agentes huma-
o significado de tentar prestar assistên- nitários e que os participantes regressem
cia humanitária quando sabemos per- sempre à ideia de proteger e auxiliar os que
feitamente que será apenas uma ‘gota precisam e aos princípios da neutralidade
no oceano’ e que, sem pressão políti- e da imparcialidade. Se o debate se afastar
ca externa ou uma intervenção mili- destes pontos, o formador poderá assinalar
tar, nós as organizações humanitárias, o facto de que há muitos atores envolvidos
apenas apaziguamos a consciência do num conflito armado cujas ações comple-
mundo?”, lamenta um agente humani- mentam as dos agentes humanitários.
tário. Outras sugestões:
• A ação humanitária torna-se um pre- Depois do debate, pedir a alguns participan-
texto para o ‘não envolvimento’ polí- tes que representem a seguinte situação:
tico? Um agente humanitário está à porta de um
D. Para reforçar o controlo sobre uma al- campo de refugiados. É confrontado com
deia, numa zona de combates que os uma família que pretende entrar mas que
rebeldes utilizavam como abrigo, os receia a presença de inimigos no interior
civis foram forçados a instalar-se num do campo. O pai insiste que tem de manter
campo a 30 kms das suas casas. Foi pe- a sua arma para proteger a sua mulher do-
dido às agências de ajuda humanitária ente e o seu bebé. A família também está
que levassem alimentos e assistência apavorada com a possibilidade de serem
médica a esse campo. Fazê-lo, porém, separados.
legitimaria a deslocação forçada de ci- Depois da dramatização, os participan-
vis. tes debatem os princípios que o agente
• Estaremos a legitimar o deslocamen- humanitário tem de ter em consideração
to forçado de civis? e em que medida alguns desses princí-
De forma a auxiliar os participantes a pen- pios são conflituantes com outros, nesta
sar sobre estas situações, o formador deve- situação.
rá perguntar se nada fazer nestes casos é
uma alternativa válida. Parte IV: Acompanhamento
Reações: Outras áreas a explorar:
Deverá dedicar-se 10 minutos, no final da Os ativistas de direitos humanos enfren-
atividade, a receber a opinião do grupo tam dilemas éticos no decurso do seu tra-
sobre o que gostaram e o que não gosta- balho?
ram nesta atividade. Se surgiram questões (Fonte: CICV. 2002. Exploring Humanitar-
relacionadas com o trabalho de organiza- ian Law, Education modules for young
ções específicas, durante o debate, essas people.)
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 351
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