Vol 3.3
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Vol 3.3
PROFISIO SESCAD
INDICADORES NA ÁREA DE
FISIOTERAPIA NO AMBIENTE
HOSPITALAR: PROCESSOS E
RESULTADOS
FERNANDO MAURO MUNIZ FERREIRA
JÚNIA MOREIRA MACEDO
MARCELO MARCOS MUNIZ FERREIRA
n INTRODUÇÃO
Os indicadores de saúde são utilizados para representar ou medir aspectos não sujeitos à observação
direta e têm o propósito de mudar uma situação existente julgada insatisfatória ou simplesmente
guiar os próximos passos, sendo esta a premissa básica inerente ao ato de intervir na assistência
à saúde da população.
n mortalidade/sobrevivência;
n morbidade/gravidade/incapacidade funcional;
n nutrição/crescimento e desenvolvimento;
n aspectos demográficos;
n condições socioeconômicas;
n saúde ambiental;
n serviços de saúde.
É consenso da nova ciência que aborda a fisioterapia atual que o seu olhar terapêutico não direciona
o foco para a doença propriamente dita, mas sim para as implicações funcionais decorrentes
do processo saúde-doença – desde a promoção até a cura terapêutica de um distúrbio da saúde
funcional. Assim, os critérios epidemiológicos convencionalmente utilizados para o estabelecimento
dos principais indicadores de saúde1 talvez precisem ser readequados na área da fisioterapia,
principalmente na especialidade da fisioterapia em terapia intensiva, desenvolvida no ambiente
hospitalar – foco desta discussão.
88
O que se sabe, de forma incontestável, é que a fisioterapia em terapia intensiva é essencial no
INDICADORES NA ÁREA DE FISIOTERAPIA NO AMBIENTE HOSPITALAR: PROCESSOS E RESULTADOS
âmbito interdisciplinar do ambiente hospitalar por demonstrar uma expressiva resolubilidade prática
nos cuidados aos pacientes críticos. O que se precisa saber é como retratar cientificamente esse
fato, utilizando um modelo epidemiológico que tenha o poder de validação, de confiabilidade e de
representatividade científica, além de obedecer aos preceitos éticos e poder subsidiar as questões
técnico-administrativas da assistência fisioterapêutica.1
Por exemplo, em grande parte dos estudos, são utilizados os indicadores tempo de ventilação
mecânica e tempo de internação hospitalar para validação do efeito da fisioterapia neste ambiente.
As pesquisas a esse respeito necessitam, segundo o modelo epidemiológico consensual, de um
grupo que não receba nenhum tipo de atenção de uma rotina fisioterapêutica especializada – “grupo
controle” – e outro grupo que receba esse tipo de acompanhamento – “grupo de intervenção” –,
em estudos controlados randomizados ou pareados ou randomizados em momentos diferentes
(avaliando os momentos sem e após a inclusão do serviço de fisioterapia). Esses procedimentos,
considerados modelos epidemiológicos ideais para a busca da evidência científica, agregam
questões indutoras de vieses epidemiológicos – no caso dos estudos pareados e randomizados em
dois momentos e de problemas éticos – pela impossibilidade de cercear o atendimento no grupo
controle em estudos randomizados.2,3
Neste artigo, será feita uma contextualização dos estudos que se propuseram a medir a efetividade da
fisioterapia em terapia intensiva, caracterizados pelos indicadores na área de fisioterapia no ambiente
hospitalar utilizados para demonstrar os processos e resultados preconizados na literatura atual.
n OBJETIVOS
Após a leitura deste artigo, o leitor deverá ser capaz de:
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n ESQUEMA CONCEITUAL
Processo de avaliação fisioterapêutica
no paciente crítico
Caso clínico 1
Casos clínicos
Caso clínico 2
Discussão e conclusão
clinicofuncional do momento em que o usuário de saúde está sendo avaliado pelo fisioterapeuta.
Assim, o diagnóstico fisioterapêutico, definido também como diagnóstico cinesiológico-
funcional, não é estático e é pré-requisito para a conduta fisioterapêutica, impondo ao profissional
a necessidade de avaliação contínua no processo de condução de um caso clínico, reforçando a
noção de que o fisioterapeuta não direciona o seu foco terapêutico para a doença propriamente dita,
e sim para os eventos semiológicos oriundos dessa situação. Nesse contexto, o efetivo é avaliar
os resultados para que se possa atestar a validade dos processos diagnósticos e terapêuticos a
fim de conduzi-los com maior propriedade científica.
DIAGNÓSTICO
Organização dos resultados dos exames, em que o
fisioterapeuta organiza agrupamentos definidos, síndromes
ou categorias com o objetivo de determinar o prognóstico,
o plano de tratamento e as estratégias de intervenção mais
apropriadas.
AVALIAÇÃO PROGNÓSTICO
Processo dinâmico no qual o Determinação do nível de melhora que pode ser atingida
fisioterapeuta realiza análise pela intervenção e quantidade de tempo necessária para
clínica baseada em dados alcançar esse nível. O plano de tratamento especifica as
adquiridos durante o exame intervenções a serem utilizadas.
EXAME INTERVENÇÃO
Processo de obtenção de informações a Interação qualificada do fisioterapeuta com
respeito da queixa do paciente/cliente. o paciente/cliente utilizando vários recursos,
Seleção e realização de testes e exames, métodos e técnicas. O profissional realiza
cujos resultados serão acrescidos aos reavaliações com objetivo de identificar
dados sobre o paciente/cliente. mudanças no estado do paciente/cliente e,
assim, modificar ou redirecionar a intervenção.
RESULTADOS
Ao término de cada atendimento ou de um tratamento, o profissional
analisa ou quantifica o impacto das intervenções da fisioterapia
para o paciente/cliente, considerando os seguintes aspectos:
patologia, limitações funcionais e inaptidões, diminuição dos riscos/
prevenção, bem-estar e satisfação do paciente/cliente.
Figura 1: Descrição do processo fisioterapêutico desde os meios diagnósticos até a intervenção terapêutica, segundo a APTA.
Fonte: Rothstein (2001).4
91
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PROCESSO DE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NO PACIENTE CRÍTICO
O processo de avaliação, tal qual descrito anteriormente, é dinâmico e busca informações
necessárias a fim de subsidiar o diagnóstico e conduzir o processo de tomada de decisão
para a conduta fisioterapêutica. Além disso, na primeira avaliação de um paciente criticamente
enfermo, constituem-se as possibilidades prognósticas para a situação clínica em questão.
LEMBRAR
O diagnóstico fisioterapêutico modifica-se conforme as alterações apresentadas em
cada episódio de avaliação; já o prognóstico, que agrega as possibilidades terapêuticas
quanto aos resultados esperados, pode ser definido no primeiro momento avaliativo.
n anamnese – busca informações gerais, como idade, sexo, raça, procedência, etc., e sobre
a história clínica atual e pregressa, que pode ser colhida do próprio paciente e/ou familiar
responsável e/ou profissionais de saúde e/ou do prontuário hospitalar. Além de identificar
o motivo da internação, faz-se necessário conhecer as informações precedentes ao
comprometimento atual – como era antes? Grau de dependência, atividades de vida diária
(AVD), condições respiratórias (dispneia de repouso, tosse), etc;
n exame físico – verifica condições gerais, nível de consciência, sinais vitais, saturação
periférica de oxigênio, inspeção (expansibilidade torácica, drive e padrão respiratório),
sinais e sintomas de desconforto respiratório, palpação, percussão, ausculta pulmonar e
avaliação motora;
n exames complementares – incluem exames de imagem (raio X, tomografia, ressonância
magnética e ultrassonografia), medidas de variáveis respiratórias (força muscular e volumes
pulmonares) e exames laboratoriais (gasometria arterial).
A indicação fisioterapêutica não é direcionada para o tipo de patologia, e sim para o distúrbio funcional
decorrente ou não da enfermidade em questão, pois é possível deparar com um comprometimento
funcional decorrente da idade, do estilo de vida ou de outra situação não específica à doença que
gerou a internação.5
92
A adequada interpretação semiológica da situação clínica será fundamental para o
INDICADORES NA ÁREA DE FISIOTERAPIA NO AMBIENTE HOSPITALAR: PROCESSOS E RESULTADOS
Indicar uma técnica ou um recurso para um quadro de obstrução brônquica depende da interpretação
da ausculta pulmonar – por exemplo, a ocorrência de roncos é um sinal semiológico da ausculta
pulmonar que caracteriza a presença de secreção em vias aéreas de grande calibre (até a quinta
geração brônquica), tendo por indicação as técnicas que imprimem um fluxo expiratório rápido,
como a tosse assistida, entre outras – e das condições clinicofuncionais do paciente, como
estabilidade hemodinâmica, grau de colaboração, capacidade vital, etc.
LEMBRAR
Os princípios que norteiam o processo fisioterapêutico em pacientes críticos adultos
devem obedecer a três tipos de objetivos da fisioterapia em unidade de terapia
intensiva (UTI):6
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Caso se busque o melhor resultado final no tratamento ou nos cuidados dos pacientes, depende-se
de uma ação conjunta dos profissionais envolvidos. Assim, os conceitos normativos do trabalho
em equipe apresentam as características descritas a seguir:7
Pressupostos funcionais:
n autonomia relativa de cada tipo de profissional, assegurada pela legitimidade do conjunto
pacientes.
Resultados pressupostos:
n o cuidado em saúde, quando exercido com as devidas características de multiprofissionalismo
n buscar identificar e incorporar à rotina certas demandas antevistas pelos membros da equipe.
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2. O que é necessário para que se estabeleça um alto grau de validade para a fisioterapia
INDICADORES NA ÁREA DE FISIOTERAPIA NO AMBIENTE HOSPITALAR: PROCESSOS E RESULTADOS
em terapia intensiva?
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3. Complete o quadro com a descrição dos exames que integram o processo de avaliação
fisioterapêutica de pacientes críticos.
EXAMES DESCRIÇÃO
Anamnese
Físico
Complementares
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norteiam o processo fisioterapêutico em pacientes críticos adultos devem obedecer.
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Doente crítico
espécie reativa
de oxigênio ← Repouso no leito → de citocinas inflamatórias Malnutrição
Anormalidades neuromusculares
Fraqueza muscular
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Admissão na UTI
Paciente inconsciente
não
Paciente
consciente?
não
MRC > 4
MMSS
não
MRC > 4
MMII
Capaz de ficar
em pé sem
assistência
n minimizar o descondicionamento;
n desobstruir as vias aéreas;
n reverter atelectasias;
n evitar a intubação endotraqueal;
n evitar a falha do desmame.
A permanência prolongada na UTI está associada à disfunção muscular, que pode contribuir para
um déficit funcional até um ano após a alta hospitalar.
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LEMBRAR
Convencionalmente, o processo fisioterapêutico na UTI envolve a fisioterapia
respiratória – técnicas, recursos e monitoração – associada à fisioterapia motora –
movimentos passivos, ativo-assistidos e ativos em membros superiores e inferiores.
Outros indicadores já bem definidos na fisioterapia em terapia intensiva são o tempo de dependência
da ventilação mecânica invasiva e o tempo de permanência na UTI. Esses indicadores foram
confirmados em um estudo randomizado e controlado que envolveu uma amostra de 510 pacientes,
demonstrando, de forma significativa, o efeito benéfico de uma rotina fisioterapêutica na redução do
tempo de dependência da ventilação mecânica e na diminuição do tempo de permanência na UTI.12
Em uma revisão de um estudo australiano, foi recomendado que a investigação das intervenções da
fisioterapia na UTI esteja relacionada ao tempo de ventilação mecânica, ao tempo de permanência
na UTI e readmissão na UTI, juntamente com a qualidade de vida e medidas de função física.13
Estudos multicêntricos seriam o ideal para avaliar a eficácia da fisioterapia, sob a forma de ensaios
clínicos controlados e randomizados, sendo, contudo, extremamente dispendiosos e de difícil
implementação, em razão das diferenças das práticas clínicas da fisioterapia e sua disparidade de
papéis e autonomia nos diversos serviços de UTI. Assim, os estudos selecionados dessas revisões
apontam para a necessidade de padronização dos recursos para o processo de decisão clínica
e educação, bem como a definição mais detalhada do perfil do profissional fisioterapeuta na UTI.
Os pacientes na UTI têm múltiplos problemas que mudam rapidamente em resposta ao curso da
enfermidade e à condução médica. Portanto, extrai-se a hipótese de que, em vez do tratamento
padronizado, abordagens em condições variadas podem ser advindas de princípios da prática,
que podem orientar a avaliação do fisioterapeuta, a prescrição das intervenções e suas frequentes
modificações para cada situação clínica na UTI.13
No que se refere ao descondicionamento físico gerado pela internação prolongada na UTI, vários
estudos identificaram importantes benefícios na relação custo-efetividade quando utilizado um
modelo de assistência respiratória com a inclusão da mobilização precoce em pacientes submetidos
à ventilação mecânica.8,9,14
100
A monitoração e o gerenciamento da assistência de VPM invasiva, que tem sido parte
INDICADORES NA ÁREA DE FISIOTERAPIA NO AMBIENTE HOSPITALAR: PROCESSOS E RESULTADOS
Art. 8 - A unidade deve dispor de registro das normas institucionais e das rotinas dos procedimentos assistenciais e
administrativos realizados na unidade, as quais devem ser:
II - aprovadas e assinadas pelo Responsável Técnico e pelos coordenadores de enfermagem e de fisioterapia.
Art. 13 - Deve ser formalmente designado um Responsável Técnico médico, um enfermeiro coordenador da equipe de
enfermagem e um fisioterapeuta coordenador da equipe de fisioterapia, assim como os seus respectivos substitutos.
§ 2º - Os coordenadores de enfermagem e de fisioterapia devem ser especialistas em terapia intensiva ou em
outra especialidade relacionada à assistência ao paciente grave, específica para a modalidade de atuação (adulto,
pediátrica e neonatal).
Art. 14 - Além do disposto no Artigo 13 desta RDC, deve ser designada uma equipe multiprofissional, legalmente
habilitada, a qual deve ser dimensionada, quantitativa e qualitativamente, de acordo com o perfil assistencial, a demanda
da unidade e legislação vigente, contendo, para atuação exclusiva na unidade, no mínimo, os seguintes profissionais:
IV - Fisioterapeutas: no mínimo 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração, nos turnos matutino, vespertino e noturno,
perfazendo um total de 18 horas diárias de atuação.
Art. 15 - Médicos plantonistas, enfermeiro assistenciais, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem devem estar
disponíveis em tempo integral para assistência aos pacientes internados na UTI, durante o horário em que estão
escalados para a atuação na UTI.
Ainda, assim como a RDC-Nº7, como forma de reconhecimento da fisioterapia em terapia intensiva,
foi constituída, em 2009, a 2ª Edição do Referencial Nacional de Honorários Fisioterapêuticos
(RNHF), por meio da Comissão Nacional de Honorários do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (COFFITO), sendo que, dentre as alterações introduzidas nessa edição,
foi incluída, no capítulo V, referente à assistência fisioterapêutica nas disfunções decorrentes de
alterações no sistema respiratório, um nível de complexidade que contempla, de forma compatível
com a realidade brasileira, o processo fisioterapêutico em pacientes críticos, estabelecendo a
remuneração desse profissional com base em uma rotina de plantão de 12 horas por paciente, e
não mais por atendimento ou procedimento realizado.14 Esse referencial culminou na Resolução Nº
367 do COFFITO, que o adota como padrão mínimo remuneratório-deontológico para o exercício
profissional do fisioterapeuta.18
101
PROFISIO SESCAD
9. Na tomada de decisão em fisioterapia no paciente criticamente enfermo, que
depende do processo avaliativo e da interpretação diagnóstica, as condutas
elegíveis podem ser
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13. Quais foram as principais medidas que a legislação brasileira, por meio da Resolução-
RDC Nº 7 do MS/ANVISA, estabeleceu em relação à fisioterapia em terapia intensiva?
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n CASOS CLÍNICOS
CASO CLÍNICO 1
Ao exame da via aérea superior (VAS), foi observado que a língua estava retroposicionada
(queda posterior pela ação da gravidade) e ocluindo a entrada de ar para as vias aéreas
inferiores.
A partir do que foi visto neste artigo e das informações descritas no caso clínico 1, responda às
questões a seguir.
103
PROFISIO SESCAD
14. Caracterize as possibilidades diagnósticas deste caso.
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Respostas no final do artigo
CASO CLÍNICO 2
Paciente internado na UTI com quadro de insuficiência respiratória aguda, em VPM
invasiva. Trata-se de um indivíduo idoso (78 anos), do sexo masculino, hipertenso
controlado, não diabético, sem limitações funcionais prévias. Há 10 dias, iniciou um
quadro gripal, evoluindo com febre, tosse produtiva, indisposição, acamamento e piora
progressiva do desconforto respiratório nos últimos três dias, sem resposta à terapêutica
medicamentosa prescrita pelo seu médico também há três dias.
O diagnóstico médico revelou infecção respiratória com pneumonia e prognóstico de risco para a
síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Foram prescritas, após análise semiológica,
antibioticoterapia, sedação e medicamentos vasoativos em doses baixas, dentre outros.
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Respostas no final do artigo
n DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Não há dúvidas quanto à validade científica da fisioterapia para pacientes críticos em UTI. A grande
discussão é estabelecer, na forma documental, a sua evidência científica. Assim, o bom senso deve
prevalecer na conduta do profissional dessa área, baseado em evidência científica – da prática
clínica e de estudos factíveis –, propondo que essa atividade profissional deva ser padronizada
na formação do especialista, que envolve a sua conduta no contexto do conhecimento científico
especializado e da interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade.
105
PROFISIO SESCAD
LEMBRAR
Todos os estudos que avaliaram o efeito da fisioterapia em pacientes críticos na UTI
identificaram um alto nível de significância científica, verificando-se evidência A –
ensaios clínicos controlados e randomizados – para diminuir o tempo de ventilação
e os dias de permanência na UTI.2,15,19-21
Assim, é possível determinar, quanto aos processos e resultados na área da fisioterapia hospitalar,
os indicadores de qualidade e prognóstico que devem nortear a prática dessa especialidade.
Com base na realidade que cerca a prática clínica do processo fisioterapêutico em UTI, parece
indutivo o entendimento de que só há espaço nesse ambiente para o profissional especialista –
efetivamente hábil para a complexidade da atividade –, que seja capaz de conduzir o processo de
tratamento baseado em evidência científica, utilizando-se de indicadores de resultados e índices
prognósticos como norteadores da prática dessa especialidade.
Resposta: C
Comentário: Na análise semiológica, a presença de roncos na ausculta pulmonar caracteriza
comprometimento obstrutivo de vias aéreas de grande calibre (até a quinta geração brônquica). A
observação da necessidade de PIP elevadas em pacientes obstrutivos ventilados mecanicamente
decorre do processo obstrutivo por hipersecreção brônquica. O baixo nível de consciência induzida
pela sedação reduz a capacidade vital forçada e, consequentemente, a capacidade de gerar volume
inspiratório e fluxo expiratório para a TRS brônquica. Essas observações semiológicas justificam
as técnicas de hiperinsuflação, compressão torácica e tosse assistida.
Atividade 7
Resposta: D
Comentário: Quanto ao prognóstico específico do processo fisioterapêutico em pacientes críticos,
faz-se necessário antever o que se espera da conduta indicada e o tempo previsto para atingir
essa expectativa, que pode ser em um único atendimento ou mais, dependendo do diagnóstico
estabelecido na avaliação inicial, sem deixar de lado as condições inerentes à prática de outros
profissionais da equipe. Nesse sentido, visando a identificar índices prognósticos preditores de
efetividade da fisioterapia hospitalar, recomenda-se pontuar elementos avaliativos da capacidade
funcional – respiratória e neuropsicomotora – prévia e atual, ou seja, a obstrução das vias aéreas,
o colapso de vias aéreas, o trabalho respiratório, a mobilidade voluntária, as AVD pregressas, a
capacidade de autocuidado e a gravidade da situação clínica.
Atividade 8
Resposta: C
Comentário: O cuidado em saúde, quando exercido com as devidas características de
multiprofissionalismo e interdisciplinaridade, obtém melhores resultados em termos de qualidade
técnica e humana do que as formas usuais de organização do cuidado que estão centradas no
monoprofissionalismo do médico ou na plenipotência de seu saber e de suas técnicas. Assim,
na atualidade, a assistência ao paciente crítico não é centrada no profissional médico, e sim no
processo interdisciplinar, valorizando a autonomia e integrando os conhecimentos, que possuem
ações interdependentes para a busca do resultado final.
Atividade 9
Resposta: C
Comentário: TEP, TRS, posicionamento, mobilização, TMR, exercícios ergométricos e monitoração
são, na atualidade, as possibilidades de condutas fisioterapêuticas desenvolvidas em pacientes
críticos, conforme a literatura atual e a realidade da maior parte dos serviços de fisioterapia no
Brasil. Prescrição de medicamentos, intubação endotraqueal e correção de distúrbios metabólicos
não fazem parte do processo de formação do fisioterapeuta, além de serem caracterizados como
atos específicos do profissional médico.
Atividade 11
Resposta: A
Comentário: A força-tarefa possibilitou a identificação, baseada em evidência, das seguintes metas
para a fisioterapia em terapia intensiva: prevenir o descondicionamento, realizar desobstrução das
vias aéreas, reverter atelectasia, evitar intubação endotraqueal e falha do desmame, que podem
ser recomendados como indicadores na avaliação dos resultados decorrentes dos processos
diagnósticos e terapêuticos em fisioterapia para pacientes críticos.
107
PROFISIO SESCAD
Atividade 12
Resposta: B
Comentário: Os estudos que correlacionaram a eficácia da fisioterapia com índices de falha no
desmame, intubação endotraqueal evitável e readmissão na UTI não podem chegar a essa conclusão
do ponto de vista epidemiológico, exclusivamente para o processo fisioterapêutico, pois o contexto
interdisciplinar tem que ser considerado. Contudo, o processo fisioterapêutico, quando conduzido
com base em evidências científicas e em um serviço de fisioterapia adequadamente gerenciado
e desenvolvido por fisioterapeutas especialistas, interfere de forma positiva e significativa nesses
indicadores, mas não há como independer do contexto multiprofissional.
Atividade 14
Resposta: O diagnóstico fisioterapêutico deste caso é de disfunção respiratória obstrutiva alta –
obstrução mecânica pela queda da língua – das VAS.
Atividade 15
Resposta: O prognóstico esperado para este caso é:
n prognóstico imediato: melhora do quadro agudo da disfunção respiratória e prevenção da
Atividade 16
Resposta: A conduta fisioterapêutica consiste em remover o fator etiológico. Neste caso, foi colocada
uma cânula de Guedel para a anteriorização da língua e a abertura da via aérea, indicado o
posicionamento em decúbito lateral para evitar a queda da língua, orientação aos cuidadores quanto
aos meios de prevenção desta situação (outros posicionamentos) e solicitado encaminhamento
para a fonoaudiologia. Este caso clínico mostra que a fisioterapia respiratória não se resume a
técnicas e recursos, sendo imperiosos a experiência e o conhecimento do especialista, que faz da
complexidade de uma situação clínica a indicação de uma conduta “simples” e resolutiva. A tomada
de decisão, neste caso, foi conduzida com base nas alterações cinesiológicas que desencadearam
o comprometimento funcional, caracterizando o papel do profissional.
Atividade 17
Resposta: O diagnóstico fisioterapêutico deste caso inclui:
n disfunção respiratória obstrutiva (hipersecreção brônquica) e restritiva (infiltrado e *colapso
pulmonar) de etiologia obstrutiva das vias aéreas de grande calibre – hipersecreção brônquica.
(*subdiagnóstico do colapso pulmonar – disfunção respiratória restritiva de etiologia obstrutiva,
por “rolha” de secreção);
n disfunção do condicionamento físico de etiologia do imobilismo decorrente do acamamento;
n risco de acometimento por disfunção pulmonar e neurológica crônica de etiologia por ação da
Atividade 18
Resposta: O prognóstico esperado para este caso é:
n prognóstico imediato: favorável à desobstrução brônquica e à reabertura do colapso pulmonar,
Atividade 19
Resposta: A conduta fisioterapêutica para este caso consiste em:
1) remover o fator etiológico primário, por meio de TRS para vias aéreas proximais (fluxo expiratório
rápido, tosse assistida, aspiração de tubo orotraqueal – TOT – e de VAS);
1.1) quanto ao subdiagnóstico:
a) posicionamento em decúbito lateral esquerdo associado a manobras de TEP e terapia de higiene
brônquica (THB), recomendadas para pacientes cooperativos com baixa capacidade vital, seguido,
caso necessário, de aspiração endotraqueal;
2) iniciar atividade motora – manter decúbito elevado (60º) ou ortostatismo passivo, mobilização
ativa de extremidades, alongamento estático e propriocepção articular;
3) monitoração contínua para controle dos níveis ofertados de oxigênio, pressões positivas e
volumes correntes. Neste caso, com o sucesso das condutas 1 e 2, deverão ser reduzidas a FiO2
e a PEEP (em níveis suficientes para manter a SpO2 entre 90 e 94%), a PIP em um nível suficiente
para manter uma adequada expansibilidade torácica e um volume corrente exalado em torno de
8mL/kg (suficiente para manter a PaCO2 em um nível adequado);
4) identificar, junto com a equipe da UTI, médicos e enfermeiros, o momento certo para início do
processo de desmame e retirada da ventilação mecânica, estabelecendo um protocolo definido e
familiarizado com a equipe, que, de preferência, seja gerenciado pela de fisioterapia.
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